CAMINHABILIDADE O CENTRO URBANO POSTERGADO DA CEILÂNDIA
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CAMINHABILIDADE O CENTRO URBANO POSTERGADO DA CEILÂNDIA
PROJETO DE DIPLOMAÇÃO I MARIANA PEREIRA DA SILVA CARVALHO
ORIENTADORA: VALÉRIA BERTOLINI
AGRADECIMENTO A Deus. Por ter me dado paciência e não força, se não eu batia em todo mundo.
Créditos a ilustração utilizada na capa do presente trabalho ao artista Oberas. Um artista local da Ceilândia que faz desenhos da cidade afim de retratar a vivência do morador local. Seus desenhos podem ser encontrados nos muros e galerias da cidade.
JUSTIFICATIVA A escolha da Ceilândia como objeto de estudo não se dá apenas pelas experiencias pessoas, mas também, pela região ser a mais populosa do Distrito Federal, se expandindo até os limites com o Goiás – Santo Antônio do Descoberto, e, também, ter um potencial econômico dado ao número de moradores e visitantes à região. A intenção é colocar em meio a uma cidade-satélite que foi marginalizada desde o inicio da sua criação a experiencia de um ambiente modificado com planejamento e pensando nos seus usuários. Cresci pelas ruas da Ceilândia, mais precisamente na parte Norte, quase que na divisa com o Centro. Isso me fez acompanhar não apenas o desenvolvimento da região, mas também, criar um laço afetivo com os espaços públicos que foram se formando.
O morador da Ceilândia, em sua maioria, carrega um discurso de defesa, que vem contra a imagem estereotipada de ser a região mais violenta do Distrito Federal e mais ainda, de ser uma região que não tem nada a oferecer aos usuários. Porém, uma caminhada breve pelos marcos da região, se faz perceber o peso cultural que a mesma carrega.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA a cidade planejada a cidade postergada características culturais
O ESPAÇO o papel da cidade o papel do centro o local perfil do usuário análises espaciais
AÇÕES DE PROJETO diretrizes referências projetuais
ANEXOS fichas de avaliação do espaço dona Mariana hoje
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO
O Centro da Ceilândia sempre é visto e lembrado como uma aglomeração de caos, onde carros, pessoas e comércio se juntam de forma desordenada. O mesmo, é sempre buscado pelos conhecedores da região pelo grande leque de opções de compra, mas, além disso, é uma memoria afetiva guardada com carinho pelos moradores mais antigos e esse sentimento passa de geração em geração. Porém, em contrapartida, a região se tornou postergada, ou seja, esquecida quando se trata de investimento na área urbana, fazendo com que se tornasse um grande espaço ocupado pelo comércio irregular e por grandes bolsões de estacionamento. Por onde se caminha, espaços dedicados ao pedestre vão se tornando cada vez mais nulos, sem espaço para calçadas confortáveis, sem mobiliário urbano e sem arborização. De acordo com Monte-Mór (1994), no período Kubistchek, o Brasil semi-industrializado da década de 70 produziu uma expansão territorial que visava priorizar as vias de forma que a idealização de espaço do futuro não olhava para o usuário do espaço, mas sim buscava abraçar as tecnologias da época – no caso a explosão do mercado automobilístico, Além disso, a configuração de uma cidade que nasceu pós Revolução Industrial e que foi tomada pela perspectiva de que a prioridade são os carros não permite que hoje a Ceilândia traga um ambiente caminhável e que faça com que os usuários utilizem o espaço público. O crescimento das cidades e as resultantes problemáticas que surgiram da grande escala de assentamentos urbanos tem comprometido não apenas o usuário que escolhe, -ou não, andar a pé pelas cidades, mas também, implicam no transporte púbico. Gehl (2010) acredita que para estimular a utilização dos espaços públicos urbanos pelas pessoas, deve haver um planejamento com base em premissas que tenha como foco o nível do olhar do usuário, ou seja, espaços desenhados para o usuário que utiliza a cidade a pé, estimulando a utilização do espaço urbano criando a caminhabilidade. O conceito de walkability, ou caminhabilidade, em português, propõe um modelo de cidade mais sustentável: focada nas pessoas e na facilidade para caminhar pelo ambiente urbano. Para que haja melhoria na qualidade ambiental, redução de emissões poluentes e economia de energia, é fundamental que as cidades deixem de ser concebidas para carros e passem a focar nas pessoas e nas necessidades relacionadas à segurança, à mobilidade e ao lazer. Medidas que melhoram a integração do transporte público e o acesso de pedestres aos locais tendem a incentivar a redução do uso de carros.
Partindo do princípio da criação e renovação do espaço voltado para o pedestre de forma confortável e que vise a qualidade de vida, o presente estudo tem como objetivos principais aplicar no Centro da Ceilândia: 1) Espaços públicos que priorizem o usuário a pé – e/ou com objetos de locomoção alternativos; 2) Propor um ambiente mais saudável, do ponto de vista de saúde pública, onde as escolhas urbanas interferem no estilo de vida da população; 3) Indicar espaços corretos para atividades culturais já existentes; 4) Priorizar o dinamismo do uso de equipamento públicos de forma harmoniosa com a comunidade residente. 02
CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA
Inauguração oficial da Feira Central de Ceilândia, 1973.
CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA levantamento histórico Brasília foi inaugurada em 1960 e é considerada como uma das mais importantes experiencias urbanísticas do século XX, materializando o modernismo no espaço urbano, quando as técnicas de construções foram inseridas na prática. Porém, a cidade planejada por Lúcio Costa que se vive no Plano Piloto se difere do que as cidades satélites se tornaram ao ganhar vida: um cidade plural, com nuances e rotinas que levam ao observador a achar que se tornam um caos, mas apenas se desenvolveram longe das amarras da modernidade imposta pelo traçado do Plano Piloto. Marta Sinoi (2005), afirma que Brasília vista e vivida pelos seus moradores ainda não é muito conhecida. Poucos são os trabalhos que abordam os significados da cidade fora da perspectiva de estudo de uma capital desenhada do zero. PAVIANI (2012) afirma, em entrevista, que as cidades satélites, da forma que foram criadas, configurariam uma desvirtuação do plano inicial de manter Brasília fechada , conforme o plano original. No entanto, o “polinucleamento se deu pela segregação da população que morava em acampamentos provisórios, em grandes invasões próximas ao Plano Piloto e foram desconstituídas sem muito critério.” E assim, as cidades satélites começaram a se formar: dentro de um processo de improvisação, não condizente com o processo de uma cidade planejada ou, ao menos, não como os artistas iniciais a imaginaram. A denominação “cidade satélite” foi estabelecida em decreto presidencial de 1960, onde se lê que caberia ao Distrito Federal “zelar pela cidade de Brasília, pelas cidades satélites e comunidades que a envolvem” (LEI Nº 3.751, DE 13 DE ABRIL DE 1960), desse modo sugerindo que Brasília corresponderia ao Plano Piloto e não abarcaria os demais núcleos do território. No entanto, ainda em 1998 um decreto proibiu em documentos oficiais a utilização da expressão ‘satélite’ para designar as cidades situadas no território do Distrito Federal, considerando que as aglomerações urbanas que tomavam forma já assumem características de cidades, cada vez mais independentes social, econômica e culturalmente do Plano Piloto. O decreto refere-se a cidades, quando a denominação oficial correta seria regiões administrativas. De todo modo, o uso ainda corrente da expressão cidade satélite revela o impacto que os discursos, veiculados na época da construção de Brasília, teriam sobre a população que passou o termo de geração em geração o popularizando. O texto original do decreto cita várias melhorias que teriam sido feitas nos núcleos periféricos que tinham se formado pelo governo local, assim justificando a mudança do termo. Cidade-satélite é usado para referenciar-se a cidades construídas nos subúrbios de grandes cidades, geralmente usadas para fins residenciais e direcionadas a trabalhadores que usam as cidades-satélites como moradia enquanto trabalham e desenvolve atividades comerciais fora. Com o tempo essas cidades acabam sendo pouco favorecidas de comércio ou qualquer atividade econômica. (site: educação.cc, acesso em 17 de Outubro de 2019) 05
No projeto vencedor para o Plano Piloto, de Lucio Costa, justifica-se que o desenho tenha se concentrado na concepção urbanística propriamente dita – aquilo “que de fato importa” – considerando-se que a fundação da cidade é que daria ensejo ao posterior desenvolvimento planejado da região. Como se sabe, a cidade desenhada tem origem na criação de dois eixos perpendiculares: o eixo monumental para os principais edifícios político-administrativos e o eixo rodoviário-residencial onde se distribuiriam as superquadras. Nela, todos deveriam ter acesso ao “conforto social” e a “habitações decentes e econômicas”. A ideia de que a expansão do Plano Piloto poderia ser feita por meio de cidades-satélites foi colocada na apreciação do júri do concurso. Entre as suas críticas, apontava-se a “não especificação do tipo de estradas regionais, especialmente com relação a possíveis cidades-satélites”; entre as “vantagens”, o crescimento da cidade após 20 anos poderia ser feito pelas penínsulas do lago e por cidades-satélites. No entender do presidente do júri do concurso, William Holford, as cidades-satélites deveriam ser centros agrícolas e industriais, autossuficientes e ligados por rodovias e ferrovias à cidade-mãe. A ideia de cidade-satélite que se tinha em mente era bem diferente daquilo que já estava em construção nos arredores do sítio do Plano Piloto, como era o caso de Taguatinga, Planaltina e Núcleo Bandeirante.
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CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA a cidade postergada
“Ceilândia, tu foste criada de um erro, Que uniu preconceito e discriminação, Nos fomos expulsos do meio dos ricos, Para dar lugar a prédio e mansão.” Candangocei, Donzílio Luiz de Oliveira
Ceilândia nasceu no dia 27 de março de 1971 e o seu nome vem da sigla CEI – Campanha de Erradicação de Invasões, uma ação criada pela esposa do então governador Hélio Prates, com a preocupação com as ocupações irregulares da capital. Aldo Paviani (1991), na obra A construção injusta do espaço urbano, decorre sobre o assunto:
Ao final da década de 60, o governo do Distrito Federal verificou que inúmeras favelas (as grandes invasões) e acampamentos de construtoras (denominadas localidades provisórias), com cerva de 82 mil habitantes, ocupavam territórios estratégicos, nas proximidades do Plano Piloto. Segundo foi reportado pela imprensa, o então presidente da Republica (general Médici) teria manifestado ao governador geral (coronel Prates da Silveira) seu desagrado por ter em sua trajetória para o Palácio do Planalto e, deste, para o o sitio do Riacho Fundo, numerosas e ‘incomodativas invasões’. Para atender à observação presidencial e tentando coibir a proliferação das favelas o governo do Distrito Federal insistiu a Campanha de Erradicação de Invasões. Que entre os anos de 1971 e 1972, cadastrou todos os barracos existentes nas vilas periféricas ao Núcleo Bandeirante, transferindo posteriormente para a nova localidade de Ceilândia. (PAVIANI. A. A construção injusta do espaço urbano, p. 07. 2011)
O objetivo era afastar a população mais carente, que à época estavam instalados em invasões no centro de Brasília. Apenas em 1989, Ceilândia passou a ser considerada uma Região Administrativa. Hoje é classificada como a cidade mais populosa do Distrito Federal, com 489.351 habitantes (Amostra de Domicílios, PDAD 2015/2016) e conta com a divisão em quatro áreas: Centro, Norte, Sul e Guariroba. Mas, com o tempo novos bairros surgiram e expandiram a área total da cidade, como P Sul, P Norte, Setor O, Setor de Industria, Pôr do Sol, Sol Nascente, dentre outros.
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“Tinha um local onde era pro (projeto) social que atendia a gente, ia lá e fazia a inscrição pra ganhar um lote onde eles falavam que ia ser melhor, mais organizado... Quando vinha o caminhão deles, era por conta deles, já aquelas que queria escolher a quadra pra morar, tinha que pagar pra levar. Arrancava o barraco que tinha, colocava no caminhão, punha no lote que era marcado por umas estacas no chão. Mas só tinha mato, não tinha casa pra ficar, não tinha água, nem luz e nem o banheiro. Tinha que furar um buraco pra fazer a fossa e tampar ao redor com tábua. O barraco valia das coisinhas que a gente levou da Vila (do IAPI). Quando a gente chegou era um frio e chuva que Deus dava. Veio uma chuva tão forte no primeiro dia que o caminhão despejou a mudança que nos escondemos debaixo da mesa com os seis meninos, até que meu marido e o irmão dele levantou um barraco, enfiou os paus e fez de qualquer jeito, só pra gente passar as noites. Só depois que levantou um barraquinho melhor. Ai fomos capinar o lugar pra construir esse barraco porque era só terra e mato pra todo lada. Tempos depois que foi colocar luz e quando o caminhão pipa chegava, o povo faltava se matar pra pegar água. Onde os caminhões iam, a gente ia atrás. Quem dava conta de levar tambor, levava. Eu carregava duas latas de 20 litros (de tinta) com uma tábua atravessando o meio das latas pra carregar. Tudo era muito longe pra comprar, o arroz, feijão, farinha e até o macarrão eram dentro de caixotes, despejavam os sacos nos caixotes e a gente comprava tudo solto. Pesava num saco de papel, igual compra pão hoje. Tinha que se virar com tudo saco, com lata, com tudo. Lavava roupa na bacia pegando água na rua, tinha que dar pra dar banho em 06 filhos. Eu buscava água, quando não era na (quadra) 20, era pros lados de onde é o Guará hoje. Pegava uma lata de 20 litros e punha na cabeça e tinha hora que dois galões pequenos nas mãos. Colocava pra esquentar e temperava a água em uma lata, um menino entrava, do mais velho pro mais novo, passava sabão, eu enxaguava um na água limpa e colocava o outro até completar. Todo dia os 06 tomavam banho, um banhando na água do outro. “ Parte do depoimento de Mariana Silva, 78 anos, antiga moradora da região.
Com os moradores sendo deslocados de forma obrigatória o quanto mais longe do Plano Piloto, pode-se caracterizar a situação como uma exclusão social, como esclarece Haesbaert (2011), a noção dessa exclusão parte direto da palavra pobreza, a mesma partindo de dois tipos de visões: uma ligada apenas a questão econômica e falta de renda e outra pela falha de disponibilidade de recursos. Dessa forma, os primeiros moradores da Ceilândia foram vítimas de um completo de exclusão, tanto pela renda que era mínima e as pessoas sobreviviam do trabalho informal ou de cargos que não exerciam qualificação profissional, como também da falta de recursos básicos, como infraestrutura urbana – água, luz, transporte, dentre outros.
Exclusão aparece mais como um problema essencialmente periférico, existindo no limite da sociedade, do que como uma característica de uma sociedade que tipicamente produz maciças desigualdades coletivas e crônica privação para uma ampla minoria. A solução que este discurso da exclusão social implica é de feição minimalista: uma transição através da fronteira para tornar-se mais um insider [membro] do que um outosier [estar de fora] numa sociedade cujas desigualdades estruturais permanecem amplamente inquestionáveis. (HAESBAERT, 1988, p. 07)
Haesbaert coloca como solução para a exclusão social fazer com que o usuário volte a ser membro da sociedade, invés de o afastar, indo totalmente para o lado contrário do que foi feito com a população carente alocada na Ceilândia. As pessoas que antes viviam perto da “cidade modelo” e não cumpriam os requisitos para a boa imagem da região foi obrigadas a se retirarem, sendo colocadas no espaço mais afastado e recebendo um título que reforça sua exclusão – Erradicação de Invasões. 08
CeilĂŁndia, 1972.
Ceilândia nada mais foi do que a personificação da segregação por meio da renda, produzido pelo mecanismo dos preços do solo que acarretou na divisão social e espacial . Em contrapartida, os moradores não apenas ali residiram, mas também fizeram com que o espaço ganhasse notoriedade, se tornando a cidade mais populosa do Distrito Federal e numa busca pela independência do Plano Piloto. O autor do desenho da Ceilândia foi o arquiteto Ney Gabriel de Souza, que em uma entrevista no ano de 1996 faz a seguinte elaboração: A cidade com 200 mil habitantes, sem ajuda dos políticos, já é forte. Imaginem estes 200 mil votos unidos. Com certeza podem definir o quadro político de Brasília, de Governador a Deputado. (ACERVO CORREIO BRASILIENSE, 1996)
A pergunta que fica é: A periferia seria mesmo periférica? O que acontece não apenas na Ceilândia, mas também em todas as cidades satélites, é que elas garantem toda a vitalidade financeira do estado, engordando o número de habitantes e de arrecadação de tributos. PIMENTEL (2017) afirma que os postos de trabalho se concentram no Plano Piloto, mas que o deslocamento acontece das cidades satélites (Ceilândia, Taguatinga e Samambaia) para o Plano Piloto, delatando que há uma pratica politica de concentração de postos de trabalho que forçam as cidades a serem dependentes e “segura” sua tendência a não depender da cidade planejada. O autor ainda questiona que seria pertinente que os postos de trabalhos e serviços se adequassem dentro do território considerando os locais de moradias das pessoas para impulsionar a região a se desenvolver. No quesito emprego, a análise feita pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) de 2016 indica que a concentração de postos de trabalho no Plano Piloto caiu de 48% para 46,33% — o que aponta uma tendência de descentralização de vagas de trabalho. No entanto, a UPT Central, que inclui ainda Cruzeiro, Candangolândia e Sudoeste/Octogonal, continua responsável por 47,66% dos empregos no DF, ou 555.600 postos de trabalho, sendo 513.800 no Plano Piloto.
Para o presidente da Codeplan, Júlio Miragaya, o desafio é buscar mais racionalidade nas ações das regiões administrativas (RAs), sendo necessário atrair investimentos para essas regiões, criar condições para que elas prosperem e, automaticamente, reduzir a concentração de emprego na região central de Brasília, em particular no Plano Piloto.” Na avaliação de Miragaya, o desenvolvimento econômico do Distrito Federal passa, necessariamente, pela diversificação e descentralização das atividades produtivas. Dessa forma, para que ocorra uma mudança no eixo econômico é necessário que cidades populosas e com demanda, como a Ceilândia, ofereçam condições adequadas a receber investimentos, aumentando o potencial de uso para trabalhos formais e atraindo investimentos. Ceilândia hoje é reconhecida popularmente por ser abrigo dos nordestinos dentro do Distrito Federal e isso por causa da Feira Central da Ceilândia, que conta com comidas e vestuário típicos da região. A mesma é o objeto principal do centro da cidade, chamando 10
um número maior de pessoas para a região no período em que fica aberta – Quarta a Domingo. Todo o comércio encontrado na região do centro surgiu pelo impulsionamento da criação da Feira, trazendo uma variedade de objetos comerciais – lojas com as mais diversas temáticas, sendo possível encontrar de restaurantes a grandes lojas de eletrodomésticos e de equipamentos públicos – hoje a região abriga escolas de caráter público, fórum e cartório. Há também a existência da Caixa d’água, que virou ponto de encontro da população e um marco da região. Apesar de seguir um modelo utilizado em outras cidades, na Ceilândia a mesma possuiu um apego emocional por parte dos moradores mais antigos, que esperaram pela instalação da mesma para conseguirem água de qualidade para suas casas. Por isso, hoje o espaço é um símbolo local, preservado e o espaço ao seu redor aglomera de food trucks impulsionando o uso noturno.
Vista para a Caixa d’água da Ceilândia, fonte acervo Administração da Ceilândia, 1979 11
CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA características culturais
Respeito todas as quebradas becos e vielas, Quebras cabulosas satélites e qualquer favela, Todas se parecem muito, só que a sei é diferente, Na nossa quebrada a parada é mais quente. Mais de 500 mil e pra eles somos lixo, Lutando pra sobreviver, tratados como bichos, Escrotos, ratos de esgotos, vermes rastejantes, Cobras, bichos peçonhentos, monstros repugnantes. Terra sem lei, nova babel, Fim do mundo, baixa da égua. Ceilândia é minha quebra, Movimento aos sábados em frente ao quarteirão, Domingo tem feira, roda de capoeira, Meia lua, queixada, bença armada, Mortal, martelo rodado, "s" dobrado rasteira. Pernas subindo, suor descendo, molhando o asfalto. E o berimbau fala alto. Sou da Ceilândia, eu sou mais eu Falo, faço e aconteço, Por essa terra tenho apreço. Trecho do rap Revanche do Gueto, grupo Câmbio Negro
O marco mais antigo de ponto de encontro em Ceilândia é a Feira Central que já é uma resposta a necessidade dos feirantes e moradores de terem um ponto estratégico para garantir as trocas de mercadorias e relações interpessoais. Essa decisão se deu em 1973, logo após a inauguração do espaço da Feira Central. Antes disso, Ceilândia contava com três feiras: uma onde hoje é a Feira da Guariroba, uma mais antiga na Vila do Pedrosa e um comércio informal onde hoje é a Feira Central da Ceilândia. No início, a organização ainda era precária, com bancas que vendiam confecções, temperos, animais vivos e comidas típicas. Somente em 1984 a feira, como a conhecemos hoje, foi estabelecida pelo governo e inaugurada oficialmente, logo tornando-se um dos principais pontos de referência da cidade. 12
Feira Central de Ceilândia, fonte acervo Administração da Ceilândia, 1982.
[...] Quando dava ali pra sábado, a gente mandava os meninos mais velhos irem na feira, ficavam negociando do jeito que eu ensinava e ai deles se não trouxessem tudo certinho. Ali dava pra encontrar de tudo, o meu mais velho começou a vender minhoca pra quem ia pescar lá pros lado do Guará, bem na frente da Feira. A gente ia, pedia uma dúzia de bananas, vinha tudo enrolado em jornal. Antes de colocarem a Caixa d’água, a gente ensinava pra eles irem seguindo as marcações que tinham nos troncos das árvores pra não se perderem, outra vez um monte de terra que ficava por ali por causa de uma obra virava um ponto de encontro. Mas não mudou muito o caminho de antigamente pra hoje, só que todo mundo vinha levantando a poeira, caminhando ali de onde é a Caixa d’água até nosso barraco. Não tinha nem árvore pra fazer uma sombra no calor e na chuva era pior porque era lama pra todo lado. Vinha todo mundo ali pela (quadra) 01, subindo por aquela rua grande de carros (Hélio Prates) até chegar em casa. A gente viu aquele centro se formando, o que era barraquinhas espalhadas foram virando uns comércios maiores, cada vez mais cheio, cada vez aparecendo mais coisa. Até se tornar o que é hoje. Mas era um tempo bom de se viver, era muita luta, todo dinheiro que entrava em casa era pra pão e leite, mas era todo mundo feliz. Parte do depoimento de Mariana Silva, 78 anos, antiga moradora da região.
A Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Distrito Federal iniciou ações na área do patrimônio imaterial com a execução do Inventário Nacional de Referências Culturais das Feiras Permanentes do Distrito Federal em 2005 por considera-las espaços capazes de reunir significados e serem espaços de grande sociabilidade (INSTITUTO DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL, 2014). A Feira Permanente da Ceilândia tem 463 boxes com aproximadamente 10.000 metros quadrados de área, com funcionamento de quarta a domingo e recebe cerca de 3.000 pessoas em dias de funcionamento, com maior movimento as sextas-feiras e finais de semana. O comércio maior se refere a frutas, verduras e itens relacionados a comida tradicional nordestina e mineira. O surgimento da diversidade de comidas nordestinas começou devido a origem da maioria dos primeiros feirantes, que trouxeram consigo memorias culturais, mas também, havia a necessidade de satisfazer um novo público local que procuravam por sabores da sua terra natal – os imigrantes que fixaram residência após a vinda em busca de trabalho na construção de Brasília.
“Na área externa da Feira se encontrava de tudo. Vendiam preá seca e salgada, caranguejo vivo, camarão, banha de sucuri, apresentação do homem da cobra, apresentação com o peixe-elétrico, jogo da tampinha e todo tipo de produto e coisas inimagináveis. Na época da seca era uma tempestade de poeira e no período chuvoso era com a lama que o povo Ceilandense convivia. Na feira e sua adjacência tinha doidos, mendigos, ciganas lendo mão, meninos de rua, engraxates, vendedores ambulantes, vigia de bicicletas e tantas outras coisas que tornavam aquele lugar lúdico. “ Sidney Pereira, 52 anos, antigo morador da região.
Devido a essa mistura de culturas e a criação da Feira estar ligada a criação da Ceilândia, sua evolução espacial carrega histórias dos moradores locais que viram no comércio informal a oportunidade de conseguir fixar residência em Brasília. Com isso, o espaço hoje é considerado como marco de encontro de culturas, abraçando não apenas 14
Pintura da parede da Feira Central – homenagem aos nordestinos locais Foto da autora
os comerciantes locais, mas também atividades culturais e sociais que ocorrem aos arredores da edificação. Ceilândia é uma cidade que reúne vários patrimônios culturais materiais (tangíveis) e imateriais (intangíveis). A construção da identidade cultural da região passa por um processo continuo em que surgem novas manifestações culturais que ampliam os valores da cidade. Em meio ao preconceito e ainda sob uma visão estereotipada de violência, a cidade possui os “filhos da Ceilândia, ou seja, os nascidos na cidade, que mostram que a cultura ceilandense vai além das raízes nordestinas. O movimento hip-hop chegou à cidade na década de 80 em resposta a exclusão social e na tentativa demostrar as realidades das ruas e a desigualdade social. Na parte caracterizada como Ceilândia Norte, se encontra as expressões multifacetadas dos jovens da região. Exemplo disso é o segmento Jovem de Expressão, um programa voltado para os moradores da região que visa proporcionar oficinas culturais de dança, rima, desenho, discotecagem, contação de história, teatro e audiovisual até ações como terapia comunitária – são coordenados pela Rede Urbana de Ações Socioculturais (RUAS). Em parceria com Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) no Brasil e com a Unesco, o Jovem de Expressão, fundado em 2007, é um dos mais bem-sucedidos modelos de espaços culturais em funcionamento em todo o Distrito Federal e Ceilândia foi a escolha para a sede justamente por trazer um interesse dos jovens moradores locais pelas artes expressas pela dança e música, principalmente o Hip-Hop. O Jornal de Brasília exibe um artigo que abrange como o movimento do Hip Hop se popularizou. A realidade das ruas, a violência policial e a desigualdade social eram citados constantemente nas músicas dos artistas de Ceilândia. Isso fez com que este tipo de rap se consolidasse como uma espécie de guia para os jovens. “Hoje o moleque não ouve mais os pais, nem os professores, mas o rap, sim, ele escuta. Por isso, a preocupação com a conscientização tem que ser tão grande”, cita o DJ Jamaika, famoso na região pelas atividades culturais voltadas para a população. Suas oficinas ocorrem não apenas nas entre quadras da Ceilândia, mas também no Centro, ocupando o espaço de convivência ao redor da Feira Central, levando um número maior de pessoas para a região. Outras atividades culturais também ocorrem no centro da cidade, como a roda de capoeira que se forma nas manhãs de domingo e até mesmo os programas de evangelização das igrejas que ocupam o mesmo espaço na parte da tarde.
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Encontro do grupo de capoeira Sol Nascente na praรงa da Feira Central Foto da autora
O ESPAÇO PÚBLICO
Espaço público de frente à Feira Central Foto da autora
O ESPAÇO PÚBLICO o papel da cidade Viver na cidade é certamente a mudança demográfica mais importante ocorrida nas últimas décadas, neste e no século passado. As cidades contemporâneas representam conexões complexas que se estendem formando o espaço de vivência do homem. Porém, como consequência da urbanização, Jeff Speck (2016) aborda como surgem relevantes implicações em saúde e também, a agudização dos problemas sociais – como violência, acidentes de trânsito e até mesmo a depressão. Assim, conforme o autor, a expansão do desenho urbano é ligada diretamente à saúde pública e se torna papel do urbanista conseguir reunir um leque de diretrizes de projeto que permita ao usuário do espaço conseguir adquirir uma melhor qualidade de vida enquanto caminha pelos espaços públicos. Em relação ao conceito de “saúde púbica”, Waleska Caiaffa do Observatório de Saúde Urbana da UFMG, aborda três pontos que podem ser sistematizados e relevantes: 1. A urbanização pode não apenas produzir “vantagens urbanas”, mas também acarretar danos sociais, econômicos e ambientais de grande impacto; 2. As características físicas da cidade podem afetar a saúde dos indivíduos que a utilizam; 3. A ocorrência regular de eventos ligados a saúde urbana é ligada ao somatório das atividades dos indivíduos. Um centro urbano bem equipado de atividades hoje é reconhecido e valorizado quando reúne num mesmo ambiente atividades de lazer, comércio variado e moradia. Com um espaço público que leve o usuário a caminhar de forma saudável e confortável pelo centro urbano no seu dia-a-dia, não apenas acarreta um uso mais intenso dos espaços, mas também, proporcionam valores de qualidade de vida ao usuário que hoje em dia tendem a fixar residência mais próxima aos centros das cidades. De acordo com Speck (2016), as vantagens econômicas para lugares caminháveis envolvem o fato de que morar no Centro é mais atrativo e prático, cria um setor comercial dominante na região e impulsiona a economia local. Para que o Centro se torne um lugar que chame mais atividades diárias do usuário se fazem necessárias diretrizes de formação de espaço: conectividade, segurança, acessibilidade, diversidade de usos, escala confortável aos pedestres e resiliência climática. Abordando esses tópicos e os explorando da melhor forma projetual, a fração do espaço que será projetada – no nosso caso um centro urbano de atividades comerciais e pessoais variadas, ganha mais qualidade de vida. Entender o que não está funcionando no planejamento e na regulamentação urbana é o ponto de partida para atualizar as políticas públicas de qualquer lugar. Na visão da urbanista Skye Duncan, diretora da Global Designing Cities Initiative, todos são pedestres - alguns durante poucos instantes do dia, outros, por horas, seja por opção ou por 20
necessidade. Mudanças na forma com que a cidade promove a mobilidade são determinantes para a segurança dos cidadãos, mas não apenas em “maquiar” a cidade, com alterações pontuais, mas redesenhando as vias e espaços para que as mesmas tragam proteção para o pedestre. Andar é uma das primeiras ações que se aprende na vida e é um dos direitos humanos básicos, mas se vê pessoas que se recusam a chegar em outro ponto se não for de automóvel. Isso acontece porque as cidades foram se desenhando tendo o carro como prioridade, invertendo o que seria ideal para a confortabilidade da cidade. Ermínia Maricato no seu texto O automóvel e a cidade, cita:
O automóvel conformou as cidades e definiu, ou pelo menos foi o mais forte elemento a influenciar, o modo de vida urbano na era da industrialização. Daquilo que era inicialmente uma opção – para os mais ricos evidentemente – o automóvel passou a ser uma necessidade de todos . E como necessidade que envolve todos os habitantes da cidade ele não matou apenas a cidade mas a si próprio. Sair da cidade, fugir do tráfego, da poluição e do barulho passou a ser um desejo constante. Em outras palavras, o mais desejável modo de transporte, aquele que admite a liberdade individual de ir a qualquer lugar em qualquer momento, desde que haja infra-estrutura rodoviária para essa viagem, funciona apenas quando essa liberdade é restrita a alguns. (MARICATO. E. O automóvel e a cidade, p. 08. 2008)
Segundo a Lei 12.587/2012 proposta pelo Ministério das Cidades, há uma hierarquia dentro do contexto urbano, onde a prioridade deve ser avaliada sobretudo em relação à segurança na via, onde os menos vulneráveis devem “cuidar” dos mais vulneráveis. O esquema de hierarquia desenhado pelo ITDP – Instituto de Políticas de Transportes e Desenvolvimento¹, traz uma proposta ideal para os centros urbanos, onde o pedestre ocupa o topo, seguidos de ciclistas (onde se pode incluir outros novos meios de transporte alternativos como patinete, skate, dentre outros, e transporte público. O transporte de carga se torna importante na proposta visto que o comércio dos centros urbanos precisa ser abastecido de forma ágil para garantir a continuidade das atividades. E por último, a utilização de carros e motos, que se fazem necessários para o modo de vida pública, mas que podem ser transformados em elementos de passagem ou quando há extrema necessidade para a locomoção dos usuários.
¹O Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) é uma organização sem fins lucrativos sediada na cidade de Nova York. A missão é promover o transporte ambientalmente sustentável e equitativo em todo o mundo. Trabalhando com os governos municipais para implementar projetos de transporte e desenvolvimento urbano que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e a poluição, ao mesmo tempo que impulsionam a habitabilidade urbana e as oportunidades econômicas. 21
O crescimento metodológico do urbanismo tendo em vista o seu traço mais distintivo – ser propositivo – só poderá realizar-se se demonstrar capacidade de instituir o seu próprio sistema de investigação e de configurar as suas questões a partir de recortes físicos, espaciais, funcionais e temporais no seu novo objeto – o território urbanizado. Essa ideia é exposta por Marcel Roncayolo (1993), segundo o qual “a cidade é um território que organiza territórios”. Dessa forma, para o autor, o urbanismo precisa tratar um caminho promissor, onde a própria cidade é a chave da organização e com capacidade de entregar os usuários do espaço um estilo de vida com qualidade. Dentre as diversas questões que se colocam para o projeto urbano, Meyer (2006) considera que, a mais importante é a necessidade de trabalhar em novas escalas; uma vez admitido que seu objeto são essas complicadas aglomerações urbanas que o velho conceito de cidade já não logra alcançar. Mais ainda, de conjugar em qualquer projeto as relações presentes em escalas mais amplas e mais restritas. Entende-se por trabalhar em nova escala, a busca de parâmetros que definam os limites físicos, as fronteiras funcionais e as barreiras de todo tipo como algo que contemple não apenas a cidade vista de forma macro, mas também, pontual para o usuário do espaço.
22
Espaรงo de frente com a Feira Central Foto da autora
O ESPAÇO PÚBLICO o papel do centro O centros urbanos das cidades são identificados como o lugar mais dinâmico da vida urbana, animados pelos fluxos de pessoas, veículos e mercadorias decorrentes da marcante presença das atividades terciarias. VARGAS e CASTILHO (2015), colocam de forma sucinta a relação histórica dos centros urbanos com instituições publicas e religiosas, que ocorreram principalmente nas colonizações das cidades e se estenderam, sem mudanças de desenho, no decorrer dos anos. Porém, colocam também como os centros tem sua imagem fortalecida pela somatória de todas as atividades que ali possam ser feitas. Se observa dessa forma que no decorrer da história os centros das cidades têm recebido diversos adjetivos: centro histórico, centro de negócios, centro tradicional, centro de mercado e dentre outros, porém sempre sendo compostos de linhas e ações que convergem para aquele local. A definição de Centro, implica (CARRION, 1998) na presença de uma cidade de diversidade étnica, com processos históricos de formação, não se restringindo apenas ao centro de monumentos históricos e expressivos, mas também a edificações de caráter social, que atendam a comunidade local com seus comércios. Como já citado anteriormente, a importância das áreas urbanas passeia pelo caráter econômico e cultural de onde se inserem. Ricardo Farret, no livro Intervenções em centro urbanos, traz em seu texto algumas colocações de relevância:
[...] além da excelente qualificação de suas infraestruturas, o patrimônio construído constitui um enorme capital imobilizado, sujeito a processo contínuos de valorização e desvalorização – como ele próprio, socialmente produzidos por mecanismo normais de mercado da cidade capitalista. O binômio desvalorização-degradação dessas áreas constitui-se em desperdício inaceitável para cidades, particularmente aquelas em países em desenvolvimento, com notórias carências urbanas. (FARRET, R. Intervenções em Centros Urbanos, p. 15, 2016)
O autor reforça a ideia de que os centros urbanos são uma fonte de economia e possibilidades para os usuários e permitir que esses espaços se tornam postergados seria um erro para o desenvolvimento das cidades. Visto que os centros impulsionam o desenvolvimento dos espaços públicos. Mais a frente em seu texto, o autor continua de forma pertinente: Longe de se ater a um processo simplório de maquiagem, a intervenção nessas áreas urbanas centrais demanda a consideração de importantes instrumentos – econômicos, sociais, jurídicos e institucionais. São esses instrumentos que delineiam os contornos do processo de reconversãorequalificação urbana, ao redor de questões relevantes, como a busca de conciliação entre conceitos dicotômicos, por exemplo o valor de uso e valor de 24
troca, ganhos mobiliários, recuperação de mais valias imobiliárias, parcerias publico-privadas, uso para o saber, lazer, morar e consumo supérfluo. (FARRET, R. Intervenções em Centros Urbanos, p. 16-17, 2016)
Essa fala do autor se torna interessante quando se pensa na área de trabalho do Centro da Ceilândia, pois a mesma hoje necessita não de simples melhorias de piso e sinalização, mas também uma nova reconfiguração do espaço, priorizando a valorização do espaço e dos usos no local, realocando e dando a devida importância aos itens de “consumo supérfluo” – que se caracterizam como o comércio informal e “improvisado” da região. Além disso, uma nova organização de vias que visam priorizar o pedestre e retirar da rotina do usuário o vicio pelo uso do automóvel devido a falta de transporte público de qualidade dentro da organização urbana e espaços confortáveis de caminhada, se faz necessária. Heliana Vargas e Ana Luisa Castilho apontam as motivações que a recuperação das áreas centrais das cidades podem causar para o ambiente. Dentre elas, podemos citar o “perpetuar sua história”, criando um espirito de comunidade e pertencimento ao local, “valorização do patrimônio construído”, que seria a Feira Central e a elevação da sua importância para a comunidade local, “otimizar o uso da infraestrutura estabelecida” e “dinamizar o comércio”, que geraria novos empregos e impulsionaria o uso dos mesmos.
25
Calçadas ocupadas pelo comÊrcio irregular na rua QNM 18 Foto da autora
CEILÂNDIA
27
PLANO PILOTO DE BRASÍLIA
MAPA 01 - localização 0
750m
1,5km
3km
base Google Maps, editado pela autora
28
O ESPAÇO PÚBLICO o local Os dados da Codeplan (2018) mostram uma quantidade populacional da Ceilândia, que, de forma esmagadora passa à frente das regiões administrativas próximas. Juntamente com o Pôr do Sol e Sol Nascente – áreas em processo de regulamentação anexadas a Ceilândia, a cidade contem aproximadamente 583,55 mil habitantes (contando com o Pôr do Sol e Sol Nascente, que ainda passam por processo de regularização).
REGIÕES ADMINISTRATIVAS
POPULAÇÃO TOTAL
RA IX - Ceilândia
489,351
Pôr do Sol e Sol Nascente
94,199
RA XII – Samambaia
254,439
RA XVII – Riacho Fundo
40,098
Taguatinga
222,598
População Distrito Federal 2016 - Codeplan
O espaço que é caracterizado hoje como Centro da Ceilândia é uma grande mancha urbana que fica bem próxima a divisa com Taguatinga e num ponto de acesso tradicional da região, dessa forma, seu movimento é intenso até mesmo nos dias em que a Feira Central não funciona. Nos dias de funcionamento da Feira, o movimento se potencializa, formando a sensação de “caos”, tanto no trânsito – com o número elevado de carros de passeio transitando pelas vias locais, como também de pessoas caminhando pelas calçadas. Porém, é perceptível no desenho da cidade – carinhosamente chamado de “barril” que o mesmo faz uma fração do espaço por meio de áreas que seriam destinadas ao desenvolvimento do comércio local, mas que o mesmo acabou sendo intensificado numa via reta – a Hélio Prates, se tornando linear. Os espaços então formaram lacunas no espaço, sendo marginalizadas e com sensação de insegurança. Até mesmo na parcela onde se encontra a Feira Ceilândia, Fórum e outras construções locais que impulsionam o uso da região, os vazios se intensificam a medida que se afastam da avenida principal, as poucas construções existentes são rodeadas de estacionamentos improvisados utilizados pelos poucos comércios que se encontram espalhados. 29
Taguatinga
Centro da Ceilândia
MAPA 02 – desenho central 0
750m
1,5km
base Google Maps, editado pela autora
3km
Uma avaliação sobre o uso do solo da região, permite que percebamos quatro pontos principais: 1) A alta demanda populacional da região com as residências – marcadas em vermelho, que se tornam a evidência dentro da região; 2) Os espaço para uso institucional – marcados em azul, que, em sua maioria, são escolas públicas que foram posicionadas afim de atender a alta demanda local; 3) Os espaços destinados ao uso comercial – marcados em amarelo, que se encontram num espaço singelo centralizado e ao redor da via principal; 4) O uso misto aparece também ao redor da zona central e se desenvolveu rente a Feira Central. Com isso em mente a visão que se tem do local é de um adensado de residências, que por necessidade pessoal se tornam estabelecimentos improvisados - pequenos salões de beleza, bares, lojas de roupas, dentre outras e que o comércio em si foi se desenvolvendo as margens da avenida principal - Hélio Prates, deixando os espaços “entre-quadras” da cidade vazios e esquecidos. Assim como o surgimento acerelado da cidade e a necessidade de um desenho e planejamento urbano surgiram – na década de 70, a expressão vazio urbano surge paralelamente, Maricato (2002) afirma que os vazios urbanos são resíduos do crescimento acelerado de uma região, frutos de uma região com a malha urbana esquecida pela especulação imobiliária. A expressão “vazios urbanos” não indica necessariamente um vazio de uso, mas também um espaço desvalorizado e que possui um potencial de reutilização. Borde (2006) complementa dizendo que esses vazios que se formam na malha urbana também podem ser espaços que possuem infraestrutura sem uso, ou seja, não desempenham sua real função diante do cenário econômico ou social da cidade. Desse modo, esses vazios encontrados na malha urbana da Ceilândia, não devem ser considerados como um problema para a cidade, mas sim como áreas que buscam uma recuperação e possuem um alto potencial de uso e exploração que possa garantir para a região uma melhor qualidade do espaço.
31
VIA ARTERIAL
VIA COLETORA
MAPA 03 – sistema viário 0
750m
1,5km
base Google Maps, editado pela autora
3km
Ao observar o sistema viário que abrange a região é possível concluir que há um grande número de pontos de ônibus que abraçam a população no núcleo residencial. A região do Centro da Ceilândia possui pontos em todas as suas vias principais – sendo coletoras ou arteriais, garantindo uma ligação por meio do transporte público com outras cidades. O metrô se localiza na via da QNM e conta com 05 (cinco) estações dentro da Ceilândia. Porém, a mais próxima da área de trabalho está a 937 metros. 34
Centro da Ceilândia
Taguatinga
RESIDENCIAL
MAPA 04 – uso do solo
COMERCIAL 0
750m
1,5km
INSTITUCIONAL MISTO
base Google Maps, editado pela autora
3km
PERFIL DE
CEILÂNDIA 2018
EDUCAÇÃO
Ensino médio completo
432.927 habitantes (número estimado) Ensino superior completo
52,1%
Ensino fundamental completo
47,9% Sem escolaridade
ORIGEM DOS MORADORES
58,4% nasceram no Distrito Federal
ECONOMIA ATIVA (+14 ANOS)
POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA
61,0%
41,6% POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE DESATIVA de outros estados
RENDA MÉDIA MENSAL
Domiciliar
3.144,70 Percapita
1.926,84
DADOS CODEPLAN – 2018 – editado pela autora
39,0%
Travessia de pedestres frente ao ponto de Ă´nibus prĂłximo a Feira Central Foto da autora
O ESPAÇO PÚBLICO perfil do usuário O centro da Ceilândia possui uma intensa movimentação nos mais variados horários e dias da semana e isso se dá ao grande e variado comércio local, que vai desde vendedores informais de pequenas mercadorias a antigos estabelecimentos de vende de eletroportáteis, moveis e restaurantes. Com isso, o público encontrado na região é o mais variável possível, sendo possível encontrar de idosos que possuem a tradição de ir ao Centro por reconhecer como um comércio popular e seguro e jovens que encontraram nos mais variados departamentos de vendas a oportunidade no mercado de trabalho formal. Regiões que nasceram fruto do crescimento populacional de Brasília, mas também impulsionadas pelo crescimento da Ceilândia – que tornou-se um lugar de busca de moradia em potencial devido a formação consolidada da região, com isso bairros como Águas Lindas – GO, Santo Antônio do Descoberto – GO, os novos Sol Nascente e Pôr do Sol e até mesmo Samambaia e Taguatinga, geram um movimento intenso rumo a parte de comércio da região central da Ceilândia, sendo possível encontrar trabalhadores dessas regiões que se deslocam por terem encontrado na Ceilândia a oportunidade de fixar serviços e comércios. Foi realizada uma pesquisa por meio de formulário onde as pessoas tinham que responder questões pontuais que auxiliaria na formação da imagem do perfil do usuário do Centro da Ceilândia. No mesmo foi questionado sobre a cidade de morada do usuário, as razões que as levam até a cidade – Ceilândia, e ao Centro e o meio de transporte utilizado para chegar até a mesma. No total foram entrevistadas 116 pessoas, nos dias de sábado (caracterizado como o dia de maior movimento da parte central da cidade) nos horários de 09:00 às 12:00.
CIDADE DE MORADA
Na grande maioria dos usuários do Centro da Ceilândia se encontra os moradores locais e ex-moradores que ainda veem na parte central um comércio de opções mais variadas e agradáveis. As pesquisas indicam que mesmo a população que mudou para outras regiões que também possuem centros comerciais e até mesmo feiras de estrutura semelhantes, preferem se locomover de volta ao centro urbano da Ceilândia pela demanda de opções e até mesmo, o costume e apego pela região.
Ceilândia (48%)
Águas Lindas (10%)
Águas Claras (10%)
Paranoá (03%)
Taguatinga (17%)
Valparaíso (03%)
Vicente Pires (03%)
Riacho Fundo (03%)
39
Foi constatado que a maior parte dos usuários do Centro da Ceilândia moram próximos a região – 48%, com isso, o Centro ainda é um polo comercial que dá apoio ao morador local, ainda mais com a variedade de opções que são encontradas – A própria Feira Central da Ceilândia, restaurantes, lojas populares voltadas para a moda, farmácias, lojas de artigos domésticos e eletrodomésticos, cartórios fóruns, bancos, clinicas medicas em geral e o próprio comércio irregular de “camelôs”. Esses tópicos também foram questionados na pesquisa, afim de levantar dados sobre qual comércio é mais utilizado pelos usuários no dia-a-dia. Algumas outras opções surgiram no decorrer da pesquisa citados pelos entrevistados como cursos, escolas e mercados.
COMÉRCIOS UTILIZADOS
Os resultados mostram que o espaço da Feira Central ainda é o incentivador maior da procura dos usuários (11%), porém, há um equilíbrio na busca, fazendo com que quem esteja no local aproveita para resolver vários questões pendentes em um único espaço, devido a proximidade da variedade dos comércios existentes. As lojas de artigos domésticos, bancos, clínicas médicas e farmácias seguem como os próximos usos mais populares. Foi possível identificar que a busca por educação, mercados e o Restaurante Comunitário foram os menos indicados pelos entrevistados.
Feira Central (12%)
Lojas de artigos domésticos em geral (11%)
Cartório e Fórum (05%)
Restaurante comunitário (01%)
Restaurantes (07%)
Lojas de eletrodomésticos e eletroportáteis (09%)
Bancos (11%)
Educação (01%)
Lojas populares de moda (09%)
Comércio irregular de camelôs (06%)
Clínicas Médicas em geral (10%)
Mercados (01%)
Farmácias (09%)
Comércio irregular de comida de rua (08%)
“Uma região rica em diversidade de produtos, idades, pessoas. Deveria ter uma segurança mais alta e exploração de eventos culturais e ao ar livre para melhorar a qualidade de vida nesses ambientes.” Leticya Lima, 28 anos, usuária frequente da região.
Outro ponto que foi possível identificar na pesquisa realizada é a relação entre os usuários que trabalham no comércio local da região e os seus lugares de morada, sendo possível perceber que a região contribui para o movimento financeiro não apenas dos moradores locais, como também de regiões próximas. 40
PARALELO ENTRE PESSOAS QUE MORAM E TRABALHAM NA REGIÃO
54
TRABALHA NA REGIÃO
62
NÃO TRABALHA
78
MORA NA REGIÃO
NÃO MORAM NA REGIÃO
38
Em dominância, e como era de se esperar, a maioria das pessoas que moram na região da Ceilândia, não trabalham na mesma cidade, porém, os números são relativamente próximos, reafirmando a ideia de que o comércio local impulsiona a renda dos moradores. Das 116 pessoas entrevistadas, 54 trabalham na região do Centro da Ceilândia, um número significativo distribuído na variedade de comércio existente. Conversando com os usuários, a maioria das respostas das pessoas que não moram, porém trabalham na região são de Águas Lindas e Santo Antônio, porém, a grande maioria que trabalha, também reside na Ceilândia.
“Uma região rica em diversidade de produtos, idades, pessoas. Deveria ter uma segurança mais alta e exploração de eventos culturais e ao ar livre para melhorar a qualidade de vida nesses ambientes.” Márcio Silva, 51 anos, usuário frequente da região.
41
ComĂŠrcio informal de comida de rua utilizando da sombra da ĂĄrvore Foto da autora
O ESPAÇO PÚBLICO análises espaciais A área de trabalho escolhida possuí dois contextos: um adensado comercial com informações diversas e que deixam o usuário confuso e um vazio urbano que torna a área marginalizada e sem procura de público. Baseado nas definições expostas por HOGAN (2006), há três fatores determinantes para uma área marginalizada, sendo elas: 1) a exposição a risco; 2) a estrutura de oportunidades para enfrentar os riscos e 3) a capacidade de resposta aos riscos. Assim sendo, é percebível que na área de trabalho, há uma marginalização dos espaços devido aos riscos que o usuário enfrenta – sendo pelo excesso de movimento ou a falta dele, e a baixa resposta a esses riscos, justamente pelos ambientes não proporcionarem escapes e sensações de segurança.
A necessidade de reconstruir o espaço cotidiano surge porque este modelo urbano, esta cidade a pedaços, este espaço isolado não funciona, é como una máquina quebrada. Una máquina ineficaz na qual se inverte cada vez mais tempo e energia e não resolve ou facilita as necessidades básicas de seus habitantes. Necessidades de acessibilidade, sociabilidade e, em definitivo, o que se pode considerar qualidade de vida. (CHOAY, F. L'urbanisme utopies et realités; El urbanismo utopías y realidades, 1970)
43
LEGENDA RESIDENCIAL COMERCIAL
INSTITUCIONAL MISTO
USO COMERCIAL DE ATÉ 04 PAVIMENTOS
USO RESIDENCIAL DE ATÉ 24 PAVIMENTOS
USO MISTO DE ATÉ 06 PAVIMENTOS
A área de estudo é caracterizada por grandes espaços destinados a estacionamento com o contraste do comércio centralizado. É possível perceber que há um adensamento de uso comercial e misto no espaço, porém, há medida que se afasta da avenida principal – Hélio Prates, esse comércio vai se tornando escasso e dando lugar a grandes vazios na malha urbana.
O uso de edificações em altura para residências multifamiliares começam a aparecer em evidência ocupando pequenos pedaços das áreas vazias, devido a procura por moradias mais próximas ao centro da região. SPECK (2016) enfatiza que há vantagem econômica para lugares caminháveis no centro urbano, tais como facilidade de acesso a serviços. Porém, acabam se tornando grandes torres isoladas da cidade, devido aos grandes vazios ao redor. Porém, na percepção visual do usuário o que se torna mais gritante são os grandes espaços que se tornam marginalizados, ou por um a falta de uso ou pelo excesso de movimentação em uma pequena parcela de espaço. As edificações em altura de caráter residencial são grandes torres no espaço, que parecem invasoras do espaço devido ao contraste de tamanho com as demais, já que as edificações de uso comercial e misto possuem no máximo 06 pavimentos – mas a sua grande maioria de 04 pavimentos. 46
BolsĂŁo de estacionamento prĂłximo a Feira Central Foto da autora
Uma das metodologias a ser utilizada no trabalho foi criada e desenvolvida pela equipe de Planejamento da Cidade de Nova York e intitulada de “Active Design: Shaping the Sidewalk Experience” (Desenho Ativo: Fazendo a experiência da calçada, em tradução livre), afim de lidar com a complexidade das politicas urbanas, os usuários e a forma física da configuração da experiência dos pedestres no espaço público. O projeto Cidade Ativa adaptou as colocações originais e produziu uma série de fichas de avaliação, que vão desde representação por meio de desenho urbano a métodos para o desenho da elaboração do mesmo. Dessa forma, garantindo que os pontos principais para a transformação de um espaço em um ambiente que explore a caminhabilidde do local sejam avaliados da melhor forma.
De acordo com o conceito “active design” é o estilo de vida e nível de atividade física que são resultados diretos da forma dos edifícios e do planejamento das cidades. Assim, como parte do programa de prevenção de doenças ligadas a obesidade e sedentarismo, novas diretrizes de desenho, leis e projetos urbanos podem ser criados para fomentar estilos de vida mais ativos. O estudo para a elaboração do “Active Design: Shaping the Sidewalk Experience” foi viabilizado a partir de visitas a mais de trinta calçadas em seis cidades americanas em expedições chamadas “Safáris Urbanos”, que utilizaram metodologia desenvolvida especificamente para a pesquisa da equipe.
O caminhar, feito na escala e dentro da gama de sentidos dos pedestres, acaba por abarcar uma imensidão de condicionantes que geram diversas soluções de desenhos. Dada a variedade de contextos em que podem estar inseridas as calçadas - a cidade, seu clima, o uso do entorno, ou mesmo o horário do dia, somadas a diferenças culturais e a individualidade dos pedestres - suas capacidades e motivações pessoais, pode-se chegar a várias respostas, para as experiências que se deseja criar. Entende-se que as “experiências” possíveis em uma calçada podem ser inúmeras – pode-se configurar um espaço tranquilo e seguro, de uso intenso, extremamente ordenado ou flexível e dinâmico – e que, portanto, não existe uma “fórmula” capaz de resolver todas as situações possíveis. O que se faz necessário, no entanto, é garantir que esta calçada aborde os seguintes quesitos, ainda que através de estratégias distintas, essenciais para ativar estes espaços e incentivar a caminhada:
48
Conectividade
Diversidade
Para uma calçada acessível, ela deve ser bem conectada com o restante da cidade. O seu uso pode ser incentivado, se localizada próxima às estações de metrô, paradas de ônibus, equipamentos urbanos (hospitais, escolas, parques). Além da sinalização para pedestres, indicando caminhos e principais destinos do entorno, e a conexão com ciclovias.
A versatilidade de uma calçada atrai diferentes usuários, que podem somente passear e descansar, usar espaços de uso múltiplos e para encontros, além de estimular atividades complementares que ativam o espaço ao longo das 24 horas do dia, durante diversas épocas do ano.
Acessibilidade Esta estratégia é essencial para que uma calçada possa ser utilizada por diversos tipos de usuários (de diferentes idades e com capacidades diversas para locomoção, visão e audição). Em outras palavras, que ela seja confortável e de fácil acesso para qualquer pessoa.
Segurança A sensação de segurança é outro fator que garante o uso das calçadas. A questão da iluminação está diretamente relacionada a esta estratégia, mas a presença de outras pessoas também é importante para o seu uso. Portanto, mistura dos usos do solo, visibilidade entre escadaria e espaços privados, densidade populacional, limpeza e conservação dos espaços e edificações, são elementos que criam esta sensação de segurança.
Escala Humana/complexidade Quando as calçadas são atrativas, interessantes, desenvolvidas na escala da percepção sensorial do pedestre, o seu uso é incentivado. Os elementos presentes podem ser atrativos e promover experiências inusitadas, ou seja, o design e a disposição do mobiliário urbano podem ser significativos para que a calçada seja um ponto de encontro, conversa e descanso, por exemplo. Além disso, o uso de materiais diversos dão caráter espacial e identidade ao espaço.
Sustentabilidade/resiliê ncia Os espaços devem ser projetados para responder às mudanças climáticas e a ideia de cidades mais sustentáveis e eficientes. Dessa forma, estratégias para gestão de água, energia, resíduos, aliviando as consequências de enchentes, das ilhas de calor e na redução da emissão de poluentes e o do consumo insustentável de recursos.
49
TRAJETO A
MAPA 05 – trajetos
TRAJETO B 0
750m
1,5km
TRAJETO C base Google Maps, editado pela autora
TRAJETO D
3km
O método foi aplicado em 04 (quatro) trajetos pela área de estudo e com isso, foi possível detectar as fraquezas e pontos fortes da região em analise. Os trajetos foram: A) Do início do comércio da Ceilândia pela Avenida Hélio Prates até a Feira Central; B) Da Avenida Hélio Prates indo de acesso a Feira Central pela parte posterior; C) Da altura do bolsão de estacionamento da Feira Central até o núcleo residencial pela via QNM 02; D) Do núcleo residencial até a Hélio Prates pela via QNM 12. Os trajetos foram escolhidos de forma que fosse possível observar do ponto de vista do pedestre como o espaço se comporta e o recebe, principalmente nas vias principais de acesso que possuem paradas de ônibus. De acordo com a maioria dos resultados por trajetos, se pode caracterizar o mesmo por sua potencialidade: baixo, médio ou alto. Em caso de empate, o caráter de escolha se dá pelo item “conectividade” e “acessibilidade”, focos de discussão no presente trabalho A partir dos resultados encontrados pelo método do “desenho ativo”, foram encontrados os seguintes resultados: TRAJETO A CONECTIVIDADE
MÉDIO
ACESSIBILIDADE
MÉDIO
SEGURANÇA
ALTO
DIVERSIDADE
MÉDIO
ESCALA HUM./ COMP.
ALTO
SUSTENTABILIDADE/RES.
BAIXO
MÉDIO
TRAJETO B CONECTIVIDADE
MÉDIO
ACESSIBILIDADE
BAIXO
SEGURANÇA
ALTO
DIVERSIDADE
MÉDIO
ESCALA HUM./ COMP.
ALTO
SUSTENTABILIDADE/RES.
BAIXO
BAIXO/MÉDIO
52
TRAJETO C CONECTIVIDADE
BAIXO
ACESSIBILIDADE
MÉDIO
SEGURANÇA
MÉDIO
DIVERSIDADE
BAIXO
ESCALA HUM./ COMP.
BAIXO
SUSTENTABILIDADE/RES.
BAIXO
BAIXO
TRAJETO D CONECTIVIDADE
MÉDIO
ACESSIBILIDADE
BAIXO
SEGURANÇA
ALTO
DIVERSIDADE
MÉDIO
ESCALA HUM./ COMP.
MÉDIO
SUSTENTABILIDADE/RES.
BAIXO
MÉDIO
53
01
02
08
07
54
TRAJETO A
03
04
06
05
55
A experiencia do pedestre ao caminhar pelo TRAJETO A se dá pela desorganização das informações transmitidas, já que o comércio informal invadiu o espaço livre dos transeuntes , assim como as parcelas destinadas a estacionamento são sobrecarregadas, atingindo até mesmo as ruas residenciais. As calçadas rentes a Avenida Hélio Prates são largas, com potencial para um uso mais organizado , da mesma forma como o espaço utilizando pelos vendedores ambulantes também é amplo – e por isso tenha se tornado o grande ponto de vendas informal da região. 56
01
02
08
07
57
TRAJETO B
03
04
06
05
58
No TRAJETO B é possível perceber a briga constante do pedestre com a confortabilidade do local. Os poucos espaços para descanso e contemplação são improvisados e quando há um projeto, ele não atende de forma satisfatória – como é o caso da praça posterior a Feira Central. O comércio informal é existente nessa parcela do espaço de forma menos tumultuada, mas invadindo as calçadas. 59
01
02
08
07
60
TRAJETO C
03
04
06
05
61
O TRAJETO C mostra a mudança de espaços quando se afasta do Centro da Ceilândia, há um canteiro central com espaço para pedestres e cicloviários, com arborização confortável, amenizando o clima local. É possível perceber os grandes vazios na paisagem causados pelos terrenos utilização que circundam os prédios residenciais da região. 62
01
08
02
07
63
TRAJETO D
03
04
06
05
64
No TRAJETO D é possível perceber que a medida que o usuário entra para a zona residencial há também a diminuição do movimento de carros, pedestres e de construções comerciais. O surgimento de edificações em altura de caráter residencial começa a surgir, mas junto com elas grandes vazios na malha urbana que estão sendo consumidos pela jogada de lixo irregular e um alto gramado. Parte do trecho – virado para a Via QNM 12 possui pista para caminhada e um bom sombreamento com arborização, porém a mesma ainda é estreita e briga por espaço com usuários de bicicletas e/ou outros meios de transportes alternativos. 65
AÇÕES DE PROJETO
AÇÕES DE PROJETO diretrizes Com o resultado da análise do perfil do usuário do local, foi possível averiguar que há uma semelhança de respostas e busca de interesses na área, mas também a potencialidade da região. A maior parte das pessoas que foram abordadas moram próximas ao Centro da Ceilândia – 47%, justificando que o papel do centro comercial da região é importante do dia-a-dia da população, que utiliza do espaço de forma continua e abundante. Porém, também há a procura de pessoas de outras cidades-satélites como Taguatinga, Águas Lindas e Águas Claras. A pesquisa também indicou a relação do usuário com os serviços ofertados pelo Centro. A maioria – 12%, com o foco na Feira Central. Mas os índices de procura por lojas de artigos domésticos em geral (11%), bancos (11%), clínicas médicas (10%), farmácias (09%), lojas populares de moda (09%) e os food trucks – ou quiosques de comida de rua (08%) também possuem uma procura significativa. Essa demanda indica que o usuário do espaço procura a região como um ambiente que se possa resolver várias questões em um só dia, como por exemplo ir a uma consulta médica, almoçar em um food truck, passar o tempo vendo as novidades em uma loja de roupa e passar na farmácia mais próxima antes de ir para casa. É o perfil de um usuário que busca praticidade e opções de comércio próximas no dia-a-dia.
Por isso, um dos pontos a ser explorado será o de preservar a variedade de opções dentro do comércio local e enfatiza-los a fim de suprir as necessidades tanto do morador mais próximo quanto o morador mais afastado da área central da Ceilândia. O apelo cultural da região é bastante presente, seja na fama por ser “a cidade dos nordestinos”, quanto pelos encontros de cunho cultural que ocorrem na região, que, além da lembrança popular, conta com um grande número de projetos voltados aos jovens locais afim de afastá-los dos índices de criminalidade da região. O resultado das análises por trechos utilizando o método “Safari Urbano” revelou as potencialidades e problemas da região, especificando melhor quais pontos precisam de atenção maior do ponto de vista do pedestre que caminha pela área de estudo.
67
Após os diagnósticos da área de estudo foi percebido que para tornar o espaço mais caminhavel para os pedestres, algumas alterações teriam que ser feitas em três níveis: 1) Curto prazo, onde acontecerá mudanças pontuais, pequenas e de caráter rápido; 2) Médio prazo, com alterações que exijam um prazo de entrega maior e a inconveniência de obras no local; 3) Longo prazo, que visa após as alterações uma melhora gradual do espaço e a busca por mudanças que atinjam zonas maiores de intervenção. Dessa forma, o que se espera é que o usuário do espaço busque utilizar a cidade de forma mais responsável e com meios de transportes alternativos ao carro. As intervenções podem ser pensadas em raios de influência, onde o ponto alterado rebata para as mediações. Logo após as propostas em cada prazo, está inserido projetos já colocados em prática que se encaixam em cada objetivo, afim de ilustrar melhor o que se espera para a região de trabalho. 68
CURTO PRAZO
Instalação de mobiliário urbano de qualidade, com materiais que permitam fácil manutenção, mas sem deixar a confortabilidade e beleza do espaço de lado.
Limitação de um espaço destinado aos food trucks e “barracas” de comida de rua, trazendo um ambiente seguro e organizado tanto para o trabalhador, quanto para o usuário do espaço.
Sinalização adequada para garantir a segurança do pedestre, com prioridade para travessias e delimitação do espaço de caminhada.
Instalação de paraciclos próximo ao comércio para incentivar o uso de transportes alternativos.
Instalação de iluminação condizente ao local.
pública
Redução da velocidade das vias coletoras que circundam a região central – hoje de 60KM, para garantir a segurança do pedestre e diminuir a intenção de uso do automóvel.
69
El Campo de Cebada Madrid Espanha, projeto de 2010.
É um desses lugares onde levar os amigos e visitas quando queres ensinar coisas incríveis que acontecem na cidade, que te fazem sentir-se orgulhosa com se fosses parte dele porque El Campo de Cebada é na medida em que os vizinhos o desfrutam, o cuidam e fazem seu. María Carmona, moradora local.
El Campo de Cebada é um rincão especial do centro de Madrid situado na plaza de La Latina. Nasce do vazio urbano gerado pela demolição do poli esportivo de La Latina e foi possível graças a vontade e a iniciativa dos vizinhos que lutam para conservar este espaço para a comunidade. É uma alternativa visionária e pioneira das novas dinâmicas que começam a ocorrer na cidade, segundo as quais os cidadãos se convertem em agentes ativos e propositivos que projetam e constroem seu próprio entorno como resposta as barreiras e a maneira estática como se comportam as instituições atualmente reguladoras do espaço urbano que, paradoxalmente, são as que se encontram mais distantes da verdadeira vida dos bairros, o que inevitavelmente as leva a errar nos processos e projetos destes espaços tão valiosos para os cidadãos. 71
El Campo de Cebada Madrid Espanha, projeto de 2010.
El Campo de Cebada é uma praça compartilhada, um pedacinho de cidade que está desenhando a si mesmo, aproveitando um momento e uma situação muito relevante da história de Madrid, que chegou a converter-se em um dos exemplos mais representativos da nova era que se preparava para a cidade, na qual ao mesmo tempo que as instituições se esvaziam os cidadãos se fazem mais fortes. A quebra, por falta de fundos na prefeitura, do projeto que se planejava para substituir o antigo equipamento era um sintoma da complicada situação a qual se dirigia o país e que na la Cebada, longe de derivar em um novo caso de esquecimento e abandono do solar, os cidadãos souberam fazer frente, negando-se a resignarem-se a perda de seu espaço com uma admirável mostra de tenacidade, esforço e compromisso que os levou inclusive a conseguir a cedência do solar até que o novo poli esportivo seja construído.
73
MÉDIO PRAZO
Transformar o estacionamento da lateral direita da Feira Central em um espaço definitivo para food trucks, garantindo movimentação do uso noturno da área e segurança para o usuário do espaço.
Limitar a um sentido as ruas locais que são ligadas a Avenida Hélio Prates para evitar acidentes de veículos. Aumento das larguras de calçadas – juntamente com pistas para corrida e ciclofaixa/ciclovia para confortabilidade do usuário. Nova proposta de praça para a que se situa na Feira Central, com espaço para atividades culturais. Diminuição do tamanho dos bolsões de estacionamento da região, transformando parte deles em área de lazer – playground criativo. Instalação de arborização responsável em áreas sem sombreamento e/ou objetos que auxiliem o conforto térmico – pergolados.
74
Boulevard White Flowers Kazan, RĂşssia. Projeto de 2018
Boulevard White Flowers é um espaço público em Kazan, localizado na rua Absalyamov e projetado com participação dos moradores do distrito em 2018. O parque foi implantado no local de um antigo estacionamento. O conflito constante entre carros e pedestres era perigoso, pois não havia rota de pedestres entre as casas, pontos de ônibus e a escola. Sua paisagem foi formada: terras férteis foram trazidas e mais de 1000 árvores de grande porte e arbustos perenes foram plantados. Em todas as etapas do projeto, moradores locais, comunidades, professores e alunos da escola participaram ativamente. Os principais eventos do processo participativo foram duas grandes reuniões que atingiram toda a cidade com o objetivo de discutir o foco do projeto e o conceito preliminar. 76
Boulevard White Flowers Kazan, RĂşssia. Projeto de 2018
O projeto deliberadamente não foi feito como uma avenida padrão. Como é um espaço público local para residentes locais, e não um parque da cidade, existem muitos cenários de uso, rotas e locais diferentes: uma praça com um café, uma fonte com uma cobertura, espaços de estar recreativos com, candeeiros de pé e mobiliário. Na área do jardim, a natureza "captura" a avenida e as pessoas podem andar com um carrinho, relaxar em silêncio, brincar no parquinho ou exercitar-se em áreas especiais com equipamentos esportivos e de ginástica, protegidos por toldos. 78
LONGO PRAZO
Intensa campanha para que haja a conscientização da população e participação da mesma nos projetos para que desperte o desejo de zelo e carinho pelo local modificado.
Expansão das vias caminháveis para além da área de trabalho, afim de interligar o máximo de pontos da cidade de forma planejada e satisfatória.
79
Eastside City Park Birmighan, Reino Unido. Projeto de 2013.
O Eastside é um parque linear que proporciona 3.4 hectares de espaço de utilidade pública, uma parte vital do Big City Plan e no centro do distrito de Eastside em Birmingham, que passar por uma grande regeneração. É um espaço onde as pessoas podem parar, relaxar e desfrutar de uma paisagem colorida e aromática, sendo um ponto focal e rota principal para o distrito que vai atrair mais pessoas ao Eastside, incentivando a prosperidade econômica da área e atrair novos investimentos. 81
Eastside City Park Birmighan, Reino Unido. Projeto de 2013.
O projeto tem caráter sustentável: o antigo terreno baldio com atividade industrial e de comércio agora é transformado em um parque público. É bem servido pelo transporte público e sua estrutura proporciona ligações claras para pedestres ao centro da cidade, e acomoda rotas cicláveis e inúmeros bicicletários, reduzindo a dependência dos automóveis. O parque foi projetado para resistir ao tempo, utilizando materiais de alta qualidade e bastante resistentes. Isso proporciona uma referência de qualidade ao distrito de Eastside, e minimiza os custos em pegadas de carbono além dos financeiros para manutenção e substituição.
83
O bolsão de estacionamento será transformado num espaço de lazer destinado a população local
Os espaços vazios serão preenchidos com, na maioria, edificações de uso misto, onde o comércio no térreo traga movimentação a região
A praça será revitalizada com o intuito de criar zonas para atividades culturais
O estacionamento lateral será destinado a food trucks e comida de rua
A ideia de propagação de um projeto caminhável atinge outros espaços fora da área de trabalho
O comércio será preservado e seus acessos melhorados
MAPA 06 – rascunho de alterações 0
750m
1,5km
3km
ALTERAÇÃO A CURTO PRAZO: ACESSEBILIDADE AO COMÉRCIO
ALTERAÇÃO MÉDIO PRAZO: NOVA PRAÇA FRENTE A FEIRA
ALTERAÇÃO A MÉDIO PRAZO: RETIRADA DO BOLSÃO DE ESTACIONAMENTO
ALTERAÇÃO A CURTO PRAZO: LOCAL PARA FOOD TRUCKS
ALTERAÇÃO A CURTOPRAZO: PRESERVAÇÃO DO COMÉRCIO E ACESSO
ALTERAÇÃO LONGO PRAZO: PRAÇAS ENTRE COMÉRCIOS
ALTERAÇÃO MÉDIO PRAZO: MUDANÇA DE SENTIDO DAS VIAS
ALTERAÇÃO A MÉDIO PRAZO: PREENCHER ÁREAS VAZIAS COM EDIFICAÇÕES MISTAS EM ALTURA
ALTERAÇÃO LONGO PRAZO: PREENCHIMENTO DE ÁREAS VAZIAS
INTERLIGAR RUAS PRINCIPAIS DE ACESSO COM CAMINHABILIDADE
base Google Maps, editado pela autora
ANEXOS
ComĂŠrcio irregular de comida de rua, frente a Feira Central Foto da autora
Para a avaliação dos trajetos são realizadas marcações em itens cruciais para que a experiencia do usuário no espaço seja satisfatória, dessa forma os resultados podem ser medidos em baixo, médio e alto nível de boa experiencia do usuário. Para uma melhor representação, foi tomada a liberdade de alterar os critérios de analise, resumindo nos 03 três níveis e garantindo um resultado mais direto e lúcido – em sua forma original são utilizados 05 (cinco) níveis de avaliação.
ALTO
Acima de 10 itens
MÉDIO
Entre 05 e 09 itens
BAIXO
Até 04 itens
87
CONECTIVIDADE
Faixa livre mínima de 1,20m
Pavimentação homogênea
Rebaixamento das calçadas
Ausência de degraus
Travessia em nível
Sinalização visual: placas para pedestres
Inclinação transversal não excessiva
Sinalização tátil
Inclinação longitudinal não excessiva
Sinalização sonora
Poucas guias rebaixadas para carros
Continuidade da faixa livre
SEGURANÇA
Calçadas lineares e continuas
ACESSIBILIDADE
TRAJETO A Parques e praças em (raio 500m)
Metrô/ trem/ corredor de ônibus (raio 500m)
Ao menos 2 acessos em edificações distintas
Parada de ônibus (raio 200m)
Quadras tem no máximo 200m
Equipamentos públicos (raio 500m)
Sinalização para pedestres
Poucas guias rebaixadas para carros
Proximidade com ciclovias
Conexão com fruição pública das lotes
Presença de paraciclos
Faixas de pedestres e sinalização em cruzamentos
Bueiras e tampas ordenados
DIVERSIDADE
Outros: __________________
MÉDIO
Outros: __________________
Iluminação pública
Limpeza
Iluminação natural adequada
Conservação de espaços e edifícios
Múltiplas entradas (mínimo 5 em cada 100m)
Vitrines e janelas voltadas para calçada
Diversidade de tipos de acesso
Alta densidade populacional
Uso comercial ou residencial no térreo
Grande número de pessoas nas calçadas
Grades/muros opacos pouco extensos
Portões de comércio “transparentes”
Grandes/muros com altura máxima de 1,20m
MÉDIO
ALTO
Outros: __________________
Variedade de usos no térreo
Usos na calçada (cafés/restaurantes)
Diversidade de tipos de acesso
Calçada ampla > 5m
Fachadas/ lotes estreitos (max 6m)
Fachada com diversas cores e texturas
Mobiliário urbano
Usos no recuo frontal
Variedade de usuários
Outros: __________________
MÉDIO
Vendedores de rua/quiosques
RESILIÊNCIA CLIMÁTICA
ESCALA DO PEDESTRE
Lugares para encostar (reentrâncias)
Altura do térreo: pé direito < 5m
Muros opacos pouco extensos (max 30m)
Fachadas/lotes estreitos (max 6m)
Múltiplas entradas (mínimo 5 em 100m)
Elementos verticais constantes (a cada 6m)
Mobiliário urbano
Recuos estreitos (max 5m)
Usos nas calçadas (cafés/restaurantes)
Fachada com diversas cores e texturas
Vitrines e janelas voltadas para as calçadas
Toldos/marquises
Uso comercial ou residencial no térreo
Sinalização de estabelecimentos
Ausência de garagem no recuo frontal
Arborização (min 1 árvore a cada 10m)
Lixeiras
Jardins de chuva/canteiros nas calçadas
Outros: __________________
Piso drenante
ALTO
BAIXO
Grelhas ou canaletas para drenagem Jardins no recuo frontal dos lotes Arborização no recuo frontal Toldos/marquises
88
CONECTIVIDADE
Faixa livre mínima de 1,20m
Pavimentação homogênea
Rebaixamento das calçadas
Ausência de degraus
Travessia em nível
Sinalização visual: placas para pedestres
Inclinação transversal não excessiva
Sinalização tátil
Inclinação longitudinal não excessiva
Sinalização sonora
Poucas guias rebaixadas para carros
Continuidade da faixa livre
SEGURANÇA
Calçadas lineares e continuas
ACESSIBILIDADE
TRAJETO B Parques e praças em (raio 500m)
Metrô/ trem/ corredor de ônibus (raio 500m)
Ao menos 2 acessos em edificações distintas
Parada de ônibus (raio 200m)
Quadras tem no máximo 200m
Equipamentos públicos (raio 500m)
Sinalização para pedestres
Poucas guias rebaixadas para carros
Proximidade com ciclovias
Conexão com fruição pública das lotes
Presença de paraciclos
Faixas de pedestres e sinalização em cruzamentos
Bueiras e tampas ordenados
DIVERSIDADE
Outros: __________________
BAIXO
Outros: __________________
Iluminação pública
Limpeza
Iluminação natural adequada
Conservação de espaços e edifícios
Múltiplas entradas (mínimo 5 em cada 100m)
Vitrines e janelas voltadas para calçada
Diversidade de tipos de acesso
Alta densidade populacional
Uso comercial ou residencial no térreo
Grande número de pessoas nas calçadas
Grades/muros opacos pouco extensos
Portões de comércio “transparentes”
Grandes/muros com altura máxima de 1,20m
MÉDIO
ALTO
Outros: __________________
Variedade de usos no térreo
Usos na calçada (cafés/restaurantes)
Diversidade de tipos de acesso
Calçada ampla > 5m
Fachadas/ lotes estreitos (max 6m)
Fachada com diversas cores e texturas
Mobiliário urbano
Usos no recuo frontal
Variedade de usuários
Outros: __________________
MÉDIO
Vendedores de rua/quiosques
RESILIÊNCIA CLIMÁTICA
ESCALA DO PEDESTRE
Lugares para encostar (reentrâncias)
Altura do térreo: pé direito < 5m
Muros opacos pouco extensos (max 30m)
Fachadas/lotes estreitos (max 6m)
Múltiplas entradas (mínimo 5 em 100m)
Elementos verticais constantes (a cada 6m)
Mobiliário urbano
Recuos estreitos (max 5m)
Usos nas calçadas (cafés/restaurantes)
Fachada com diversas cores e texturas
Vitrines e janelas voltadas para as calçadas
Toldos/marquises
Uso comercial ou residencial no térreo
Sinalização de estabelecimentos
Ausência de garagem no recuo frontal
Arborização (min 1 árvore a cada 10m)
Lixeiras
Jardins de chuva/canteiros nas calçadas
Outros: __________________
Piso drenante Grelhas ou canaletas para drenagem
ALTO
BAIXO
Jardins no recuo frontal dos lotes Arborização no recuo frontal Toldos/marquises
89
CONECTIVIDADE
Faixa livre mínima de 1,20m
Pavimentação homogênea
Rebaixamento das calçadas
Ausência de degraus
Travessia em nível
Sinalização visual: placas para pedestres
Inclinação transversal não excessiva
Sinalização tátil
Inclinação longitudinal não excessiva
Sinalização sonora
Poucas guias rebaixadas para carros
Continuidade da faixa livre
SEGURANÇA
Calçadas lineares e continuas
ACESSIBILIDADE
TRAJETO C Parques e praças em (raio 500m)
Metrô/ trem/ corredor de ônibus (raio 500m)
Ao menos 2 acessos em edificações distintas
Parada de ônibus (raio 200m)
Quadras tem no máximo 200m
Equipamentos públicos (raio 500m)
Sinalização para pedestres
Poucas guias rebaixadas para carros
Proximidade com ciclovias
Conexão com fruição pública das lotes
Presença de paraciclos
Faixas de pedestres e sinalização em cruzamentos
Bueiras e tampas ordenados
DIVERSIDADE
Outros: __________________
MÉDIO
Outros: __________________
Iluminação pública
Limpeza
Iluminação natural adequada
Conservação de espaços e edifícios
Múltiplas entradas (mínimo 5 em cada 100m)
Vitrines e janelas voltadas para calçada
Diversidade de tipos de acesso
Alta densidade populacional
Uso comercial ou residencial no térreo
Grande número de pessoas nas calçadas
Grades/muros opacos pouco extensos
Portões de comércio “transparentes”
Grandes/muros com altura máxima de 1,20m
BAIXO
MÉDIO
Outros: __________________
Variedade de usos no térreo
Usos na calçada (cafés/restaurantes)
Diversidade de tipos de acesso
Calçada ampla > 5m
Fachadas/ lotes estreitos (max 6m)
Fachada com diversas cores e texturas
Mobiliário urbano
Usos no recuo frontal
Variedade de usuários
Outros: __________________
BAIXO
Vendedores de rua/quiosques
RESILIÊNCIA CLIMÁTICA
ESCALA DO PEDESTRE
Lugares para encostar (reentrâncias)
Altura do térreo: pé direito < 5m
Muros opacos pouco extensos (max 30m)
Fachadas/lotes estreitos (max 6m)
Múltiplas entradas (mínimo 5 em 100m)
Elementos verticais constantes (a cada 6m)
Mobiliário urbano
Recuos estreitos (max 5m)
Usos nas calçadas (cafés/restaurantes)
Fachada com diversas cores e texturas
Vitrines e janelas voltadas para as calçadas
Toldos/marquises
Uso comercial ou residencial no térreo
Sinalização de estabelecimentos
Ausência de garagem no recuo frontal
Arborização (min 1 árvore a cada 10m)
Lixeiras
Jardins de chuva/canteiros nas calçadas
Outros: __________________
Piso drenante
BAIXO
BAIXO
Grelhas ou canaletas para drenagem Jardins no recuo frontal dos lotes Arborização no recuo frontal Toldos/marquises
90
CONECTIVIDADE
Faixa livre mínima de 1,20m
Pavimentação homogênea
Rebaixamento das calçadas
Ausência de degraus
Travessia em nível
Sinalização visual: placas para pedestres
Inclinação transversal não excessiva
Sinalização tátil
Inclinação longitudinal não excessiva
Sinalização sonora
Poucas guias rebaixadas para carros
Continuidade da faixa livre
SEGURANÇA
Calçadas lineares e continuas
ACESSIBILIDADE
TRAJETO D Parques e praças em (raio 500m)
Metrô/ trem/ corredor de ônibus (raio 500m)
Ao menos 2 acessos em edificações distintas
Parada de ônibus (raio 200m)
Quadras tem no máximo 200m
Equipamentos públicos (raio 500m)
Sinalização para pedestres
Poucas guias rebaixadas para carros
Proximidade com ciclovias
Conexão com fruição pública das lotes
Presença de paraciclos
Faixas de pedestres e sinalização em cruzamentos
Bueiras e tampas ordenados
DIVERSIDADE
Outros: __________________
BAIXO
Outros: __________________
Iluminação pública
Limpeza
Iluminação natural adequada
Conservação de espaços e edifícios
Múltiplas entradas (mínimo 5 em cada 100m)
Vitrines e janelas voltadas para calçada
Diversidade de tipos de acesso
Alta densidade populacional
Uso comercial ou residencial no térreo
Grande número de pessoas nas calçadas
Grades/muros opacos pouco extensos
Portões de comércio “transparentes”
Grandes/muros com altura máxima de 1,20m
MÉDIO
ALTO
Outros: __________________
Variedade de usos no térreo
Usos na calçada (cafés/restaurantes)
Diversidade de tipos de acesso
Calçada ampla > 5m
Fachadas/ lotes estreitos (max 6m)
Fachada com diversas cores e texturas
Mobiliário urbano
Usos no recuo frontal
Variedade de usuários
Outros: __________________
MÉDIO
Vendedores de rua/quiosques
RESILIÊNCIA CLIMÁTICA
ESCALA DO PEDESTRE
Lugares para encostar (reentrâncias)
Altura do térreo: pé direito < 5m
Muros opacos pouco extensos (max 30m)
Fachadas/lotes estreitos (max 6m)
Múltiplas entradas (mínimo 5 em 100m)
Elementos verticais constantes (a cada 6m)
Mobiliário urbano
Recuos estreitos (max 5m)
Usos nas calçadas (cafés/restaurantes)
Fachada com diversas cores e texturas
Vitrines e janelas voltadas para as calçadas
Toldos/marquises
Uso comercial ou residencial no térreo
Sinalização de estabelecimentos
Ausência de garagem no recuo frontal
Arborização (min 1 árvore a cada 10m)
Lixeiras
Jardins de chuva/canteiros nas calçadas
Outros: __________________
Piso drenante Grelhas ou canaletas para drenagem
MÉDIO
BAIXO
Jardins no recuo frontal dos lotes Arborização no recuo frontal Toldos/marquises
91
ANEXOS dona Mariana hoje Uma das personagens que participou do presente trabalho é a senhora Mariana Silva, de 78 anos que morou a maior parte de sua vida na quadra 03, quase no Centro da Ceilândia e chegou no processo de Erradicação de Invasões na década de 70. Seu relato, além de crucial para criar a imagem da cidade em seus primeiros anos, demonstra também, a "garra" da população local para conseguir transformar a Ceilândia no que é hoje: uma cidade com dimensões geográficas que não se compara a nenhuma outra do Distrito Federal e com um forte polo comercial. Dona Mariana não é apenas a minha avó, como também uma pessoa que lutou a vida inteira contra as dificuldades que apareciam na vida: a forme, a falta de moradia, a falta de água e a ausência de infraestrutura urbana. Chegou em Brasília junto com o meu avô – José Evaristo, em 1967, com os dois filhos mais velhos: Maria Amélia e José Antônio (ainda crianças) e na Vila do IAPI (que ficava na região do Guará) constituiu sua família com mais quatro filhos: Dalton, Márcio, Marcelo e Márcia (esta sendo a minha mãe). Meu avô trabalhou nas obras do Plano Piloto e vendeu picolé na rua até achar seu espaço como cozinheiro dentro das cozinhas do aeroporto de Brasília trabalhando para uma companhia aérea. Morando na Ceilândia os dois viram a cidade se tornar cada vez mais marginalizada, ser invadida por pessoas de má índole que viam naquele espaço postergado pelo governo uma forma de cometer crimes. Criaram seus filhos para fugirem de um possível futuro nos caminhos errados. Minha avó e meu avô criaram seus filhos da melhor maneira que conseguiram.
O barraco de madeira foi se transformando numa grande e confortável casa, sendo ampliada com as pequenas economias que os dois conseguiam. Viram a cidade evoluir, ganhar espaço dentro da malha urbana e até hoje, minha vó conta que não existe lugar melhor para se morar do que aquele pedacinho de terra na Ceilândia. Eu cresci pelas ruas da Ceilândia, escutando que não era pra ficar atoa na rua, mas também que naquelas ruas podia se encontrar de tudo que precisasse. E percebo hoje que é verdade. A Ceilândia tem de tudo um pouco e no seu Centro se acha toda tipologia de comércio. Hoje, trouxe minha avó para morar comigo e minha mãe em Taguatinga. E ao menos duas vezes na semana temos que ir a Ceilândia por que “apenas lá tem as coisas que 'prestam'” – nas palavras da minha avó. Seja para comprar frutas e verduras orgânicas na Feira Central ou um pão quentinho no final da tarde na padaria que era próxima à nossa antiga casa. A Ceilândia é um lar. Os filhos da Ceilândia que vivem a cidade tem orgulho de cada ruazinha que por ali se encontra. A Ceilândia é viva, repleta de sorrisos, rostos que trabalham arduamente para um futuro melhor. E é esse futuro melhor que eu espero para ela.
92
DONA MARIANA BARRACO DE MADEIRA
ANTIGAS RUA DA CEILÂNDIA
FOTOS ACERVO PESSOAL DA FAMÍLIA
VÓ E VÔ QUANDO A CASA FOI CONSTRUÍDA
DONA MARIANA
A AUTORA DO PROJETO
A FAMÍLIA HOJE
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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