A casa das "Tias Violantes"

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JOSÉ ANTÓNIO DA ROCHA SLVA

A Casa das “Tias Violantes” Fonte da Ribeirinha Ilha Terceira – Açores

Angra do Heroísmo 2014

A casa das ”Tias Violantes” é uma casa típica regional situada no lugar da Fonte da Ribeirinha. Com o objectivo de reconstrui-la, fazendo dela uma casa para Turismo Rural e um pequeno museu para que todos os emigrantes, turistas e população em geral tenham a oportunidade de visita-la. Porque foi aqui que se fabricaram das mais bonitas e coloridas colchas de tear, muitas mantas, saias de ombros e fatos de lã de ovelha. 3


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RESUMO No decorrer do interesse que tenho já à alguns anos pela pesquisa dos usos e costumes e das tradições da minha freguesia, resolvi reunir as minhas pesquisas neste

A casa das “Tias Violantes”, Fonte da Ribeirinha. pequeno livro com o titúlo de

Devidido em duas partes, na primeira parte integrado no projecto de recuperação da casa das “Tias Violantes”, onde existe um Tear Regional e todos os seus utencilíos, aproveitando algumas fotos que tinha das tias Violantes, resolvi reunir neste livro fazendo um resumo das actividades ligadas á tecelagem, descrevendo a evolução da indústria da tecelagem. O que é um Tear e como funciona, os seus utencilios e o que cada um deles faz, trabalhos preparativos desde a tosquia das ovelhas até ao produto acabadao as colchas e as mantas. As várias espécies de tecidos utilizados a Fiampua para as mantas e a Teia cheia para as colchas. Os desenhos e os padrões que se utilizava para se fazer as colchas, produtos utilizados para dar as cores pretendidas para se tingir as lãs e também algumas quadras do nosso cancioneiro Regional relacionadas com a arte da Tecelagem . Na segunda parte algumas fotos que mostram a evoluçaõ da Fonte assim como as Festa, as Touradas e Matanças do porco e tambem a recuperação das Pias da Fonte. Este trabalho tem como objectivo mostrar e divulgar os utencilios e trabalhos ligados á tecelagem na ilha Terceira e mais propriamente da freguesia da Ribeirinha e tambem mostrar a evolução do lugar da Fonte da Ribeirinha. 5


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INTRODUÇÃO A casa das ”Tias Violantes” é uma casa pequena rural situada no lugar da Fonte, na freguesia Ribeirinha na cidade de Angra do Heroísmo. Aqui morava uma família conhecida por “Violantes”, era uma casa onde todos trabalhavam na tecelagem, era deste ofício que esta gente vivia. Nesta casa já não vive ninguém e foi reconstruida, fazendo dela um pequeno museu para que os nossos emigrantes, turistas e população em geral tenham a oportunidade de visita-la. A melhor forma de preservar um edifício é dar-lhe um uso e será por via da necessidade de manter esse uso que o edifício se manterá. Deste modo mais do que recuperar formalmente o espaço há a necessidade de o recuperar do 7


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ponto de vista funcional, não apenas como depósito de memórias mas como elemento ativo na vivência do lugar. Desde 2008 que tenho uma exposição de fotografias antigas, sobre o lugar da Fonte mostrando a sua evolução ao longo dos tempos, que ano para ano tem vindo a crescer e cada vez mais visitada, na qual está aberta ao público e um tear caseiro com mais de 100 anos e todos os seus utencilios que foram restaurados. Fazendo dela uma casa de Turismo Rural com um pequeno museu e espaço para exposição de fotografias para que os nosos emigrantes, turistas e população em geral tenham a oportunidade de visita-la, porque foi aqui que se fabricaram das mais bonitas e coloridas colchas de tear, muitas mantas, saias de ombros e fatos de lã de ovelha. A casa é caiada e tem barras azuis em torno das portas e janelas e uma barra preta junto ao chão. O seu teto é de duas águas e coberto com telha de canudo regional. Com janelas de guilhotina, com dois caixilhos, pequenos vidros e com portadas e peitoris de madeira ao qual foram recuperadas para manter a sua traça original. No seu interior tem três divisões, a Sala (o meio da casa) com algum mobiliário tradicional, o armário a cómoda e um oratório, do lado direito está o quarto com a cama um guarda-fato e uma arca antiga. Do lado esquerdo encontra-se a cozinha com forno tradicional, junto ao forno encontram-se os instrumentos necessários para se cozer o pão: a pá redonda para o pão de milho, a pá oval para o pão de trigo, o pau de mexer as brasas, o varredor e o rodo, o talhão de barro e as panelas em cima do lume de lenha. Do lado de fora está a louçeira e as prateleiras que serviam para arrumar louça e os gordureiros e tigelas em que se conservavam as linguiças e 8


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os torresmos das matanças, a amassaria, a mesa e as cadeiras, o lavatório em ferro e o típico estrado no qual costuravam, bordavam e onde muitas vezes faziam as suas refeições. Junto da casa encontra-se a casa de arrumos onde está o tear regional com mais de 100 anos, sendo considerado um dos mais antigos teares caseiros da Ilha Terceira com todos os seus utensílios que pertencem a este ofício: urdideira, dobadoira, casal, tear de franjas, caneleira e as cardas. Ao lado está o curral das galinhas, do outro lado ao fundo do quintal encontra-se a burra de milho, o curral do porco e o das ovelhas e ainda o Coura doiro.

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Foto da coleção de Vitorino Nemésio tirada numa visita que fez á freguesia da Ribeirinha encontrada na Biblioteca de Angra. 11


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O TEAR E A INDÚSTRIA DA TECELAGEM

Pela sua antiguidade, pelo seu valor artístico, abundância de decorações e técnica, a tecelagem é a primeira das indústrias terceirences. Há anos atrás podia-se facilmente distinguir as pessoas rurais, os nossos “homens e mulheres do monte”, dos “senhores e senhoras da cidade” bastando para tal, olhar para o seu trajar. E isto porque enquanto a “gente do monte” usava as suas “vestimentas” de trabalho e domingueiras, e até roupa interior, com panos fabricados no tear caseiro, os da cidade vestiam-se com finos tecidos nacionais, ingleses ou bretões, trazidos pelos mercadores que aqui ocorriam na segunda metade do séc. XVI, para trocar as suas mercadorias, com as riquezas transportadas nos bojos das Urcas inglesas, Galeões da Flandres e da Espanha, das Caravelas da Escócia e das Naus vindas da Índia, acoitadas à protecção 13


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da entãocriada Provedoria das Armadas Reais e da Fazenda. Nos séculos XVII e XVIII, os casais Açorianos, idos para o Brasil, levaram consigo e aí prosperou.

A tradição da tecelagem na Terceira remonta ao período do povoamento, quando a subsistência familiar dependia da produção dos tecidos de lã e linho necessários ao vestuário. A tecelagem é uma actividade muito antiga desde sempre ligada à actividade doméstica, desenvolvida predominadamente pelo sexo feminino, complementada com a fiação da lã e do linho e também utilizando trapos velhos para fazer as mantas de retalhos. A tecelagem é a fase final de um ciclo que começa com a tosquia das ovelhas e a colheita do linho e até à 14


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fiação da lã e do linho, passando ambos anteriormente por várias fases.

Na tecelagem tradicional, os gestos e as sequências testemunham o trabalho coletivo que permitiu selecionar e transmitir de geração em geração os modos de fazer mais apropriados, de melhor efeito, dos mais belos padrões. Na longa sequência de tarefas com que a tecedeira tem de tratar a lã para chegar ao fio perpassa, indelével, o fio da memória que atravessa gerações unindo-as pela aprendizagem, tal como, em cada ciclo de vida, reafirma-se os processos de lidar com o meio e com aquilo que é por ele posto à disposição dos que nele habitam. Quando a subsistência familiar dependia da produção dos tecidos de lã e linho necessários ao vestuário. A utilização dos velhos e pesados teares ainda se mantém na 15


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produção das colchas de lã de cores matizadas e com motivos geométricos, amplamente utilizadas por toda a ilha, a cobrirem as camas e também a enfeitarem as janelas em dia de festa. Uma das manifestações mais características do artesanato dos Açores – as colchas de tear, também chamadas "colchas de ponto alto". De um colorido intenso, onde prevalece o vermelho e o amarelo, as "colchas de ponto alto" são um mosaico de quadrados e rectângulos que cobre todo o tecido, laboriosamente realizadas em toscos teares de madeira, usando técnicas ancestrais. Feitas de quente lã para abrigar do frio nos dias de Inverno, são uma nota de cor que alegra os quartos singelos, de paredes caiadas. A tecelagem manual na Terceira é de uma riqueza patrimonial de significado incalculável. É preciso preservar este património. As colchas trabalhadas no tear com a paciência minuciosa de muitas horas de pequeníssimos punhados de perfeitos efeitos de linha, são a meu ver, as peças mais belas e ricas deste artesanato. Contudo, os tapetes, os conjuntos de panos, as passadeiras e carpetes coloridas, são uma riqueza a não perder nunca. Em alguns lugares da ilha, encontramos a tecedeira artesã isolada, ou de parceria com uma companheira. Utilizam um tear rudimentar manual, instalado na sua própria casa. Para além do tear, há ainda a destacar alguns instrumentos que embora não fazendo parte dele, intervêm de modo significativo na execução das tarefas preliminares da tecelagem, a Dobadoira, o Caneleiro, o Restelo, a Urdideira, e a Espadilha. 16


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As mantas de trapos feitas em teares utilizam tiras finas de tecidos de várias cores. Além da lã e do linho também se utilizava os trapos. Os trapos eram feitos de roupas que já não se utilizavam muitas delas vindas nas sacas de emcomendas da América, eram cortados em tiras e unidos por um alinhavo, com o qual se teciam mantas e tapetes. Na confecção de tapetes são utilizados fios de algodão, (antigamente era utilizado o linho ou a estopa) que se apresentam enrolados em meadas, estas vão depois ao tear, urdindo a teia, que serve de “suporte” ao tapete. Ao mesmo tempo utilizam-se as tiras de pano, que são cortados finos, de roupas e tecidos velhos, de modo a que o tapete fique mais perfeito. Estas tiras são emendadas e enroladas em novelos, que são depois entrelaçados na teia, e são eles que vão dar as mais diversas cores aos tapetes. No tear trabalha-se com os pés, fazendo levantar os liços, passando as tiras de pano por entre os liços e o pente, bate-se depois bem o pente com as mãos, tornando o tapete mais compacto. A mesma operação é repetida trocando de pé, voltando a passar a tira de pano batendo-se novamente o pente. Estes gestos são repetidos, até dar a medida (comprimento) pretendida ao tapete. Este pode sair com franja, deixando uma parte da teia, ou pode, no fim de sair do tear, alinhava-se ficando assim sem franja. Os tapetes assim feitos eram usados antigamente apenas em casas ricas. Hoje usam-se no chão como carpetes, nas camas de ferro e até como cortinados. Para fazer as mantas de trapos, que antigamente eram usadas nas camas como cobertores, cozem-se duas destas peças, obtendo-se assim o cobertor.

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O TEAR

O Tear é inteiramente feito de madeira com paus rústicos, lisos e lustrados pelo uso, numa armação tosca e rudimentar. Quatro paus dispostos ao alto, a partir do chão, dois de um lado e dois do outro, a iguais distâncias, prendem-se no topo a um rectângulo formado de barrotes sobre os quais assentam três réguas atravessadas a iguais distância às quais dão o nome de travessas. De cada lado, relativamente a quem trabalha, os quatro paus perpendiculares, acima referidos, estão ligados 19


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por dois barrotes, um de cada lado a que dão o nome de mesas e fazendo ângulo recto com estes, por mais dois paus facetados, que giram sobre si mesmos quando movidos pela tecedeira, aos quais dão o nome de órgãos.

O trabalho com o tear manual e os seus elementos ensinava a paciência, o respeito às suas características, sempre trazendo a consciência para o trabalho desenvolvido nele. Basta ter um pouco de sensibilidade para perceber que um trabalho feito à mão, com criatividade, usando 20


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materiais naturais, com simplicidade; mostra-nos vida, energia.

E quando temos a oportunidade de trabalhar com um material desde a sua origem, como por exemplo a lã, o algodão, o linho processa-los e torna-los úteis ao uso é um processo muito rico de se vivenciar, pois todo ele é vivo, é movimento e transformação. Antigamente, estas práticas faziam parte da vida das pessoas e hoje tornou-se algo muito distante, como 21


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“hobby”, terapia, passatempo, modas exóticas às vezes, e outras coisas. O tear é o nome de um artefacto que utiliza um mecanismo para produzir um tecido a partir de fios. Um tear serve para colocar uma quantidade de fios e mantê-los tensos; este grupo de fios chama-se urdume. O termo tear engloba muitas coisas, dado que tecer é formar uma tela com trama e urdume. O tear artesanal pode produzir tecidos desde os mais grossos até os mais finos, desde as pesadas mantas de lã até os finos tecidos de seda, porém sempre se trata de tecer uma trama em um urdume previamente colocado sobre o tear. O jeito de poder trabalhar horizontalmente ou verticalmente dá lugar aos tipos diferentes de teares. Um tear pode ser algo muito rústico, porém, por mais simples que seja, só se pode chamar tear algo provido de um mecanismo para separar os fios do urdume e deixar passar os fios da trama. Assim o urdume abre-se, divide-se em duas partes iguais, deixando bastante espaço para passar o fio da trama. Esse espaço entre os dois grupos de fios do urdume chama-se cala Conforme descreve Virgílio Várzea, no seu livro “Santa Catarina, A Ilha”: “...O aparelho era todo de madeira e compunha-se de uma armação rectangular de 2,20m de comprimento por 1,80m de altura, dividida em duas partes – uma imóvel e outra móvel. A imóvel, também chamada varal, era formada por quatro moirões ou colunas fincadas no chão sobre duas travessas laterais, com duas outras paralelas a altura de 80cm, e ainda duas outras no alto, fechando e reforçando o aparelho para que este resistisse ao 22


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bater rígido e contínuo do pente, durante a sua utilização. Na parte imóvel, a cada cabeceira, há um cilindro – o da frente e onde se enrola a teia à proporção que é manufacturada, tendo para isso uma manivela a um dos extremos; o outro, que fica na parte posterior da armação, denomina-se pregador e é o lugar onde se fixa a urdidura, que dai se vai desprendendo, gradativamente, a maneira que a teia cresce. Depois vem os lisses, que suspensos por cordinhas em roldanas seguras às travessas de cima, por um movimento das premedeiras ou pedais sobem e descem verticalmente, fazendo cruzar os fios da urdidura, que se lhe prende às extremidades de baixo, nas suas telas duplas. O pente é também uma das peças principais do tear; compõe-se de uma espécie de grossos sarrafos em quadro e prende-se no alto das duas travessas superiores, num entalhado que aí existe, de modo a dar-lhe mobilidade ao menor impulso, pois que às mãos do operário a sua função é apertar a trama na urdidura, após o passar da lançadeira. Segue-lhe a travessa onde o tecelão apoia o peito, quando em actividade, sentando ao tosco banco que corre à frente do tear em toda a sua largura. O aparelho era manipulado pela mulher, que era quem desde tempos coloniais se ocupava na indústria têxtil. Colocada e ajustada a urdidura que se enrola no cilindro posterior e se fixa no da frente, depois de passar pelos dois lisses e pelo pente ou batedor; preparada a lançadeira – espécie de canoinha, que os franceses chamam navette com os carretéis onde se envolve a trama, a tecelã senta-se a frente do aparelho, no banco, e, com os pés nas premedeiras movimenta o mecanismo, fazendo baixar um lisse 23


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enquanto o outro se ergue formando então os dois panos da urdidura um parale-lograma, por onde corre a lançadeira que é jogada destramente, – após o que o pente bate forte a trama, numa primeira pancada ritmada e seca, logo em seguida outra, e outra, e muitas outras, que ecoavam pelo sitio durante dias inteiros...”

O aparelho em que se teciam, em toda a Ilha, toalhas, colchas, riscados e tantas peças de algodão e lã tão comuns, é o tear rectangular, que apareceu evolutivamente logo depois do tear vertical. Era mais usado o tear horizontal, de pedal. Descrever um tear é tarefa complicada, deixemos para outra informação específica. Contudo, uma parte importante 24


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para se realizar o tecido é o número de liços usados conforme a padronagem que se quer obter.

O pente por onde também correm os fios da urdidura aperta o fio repassado.

O tear tipo rectangular, que era armado sempre nas casas num compartimento de chão, era encontrado em todas as freguesias da Ilha. 25


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Em frente a um dos órgãos há um assento para a tecedeira conhecido pelo nome de sedeira. Logo a seguir, ao alcance da mão, está a queixa, um rectângulo de madeira que emoldura o pente, ou seja uma série de taliscas de cana dispostas em forma de pente que dão passagem aos fios da tecedura.

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Os órgãos são accionados por umas alavancas, as chaves dos órgãos, que se vão metendo nuns encaixes e que os obriga a dar um quarto de volta. A chave do órgão que fica próximo à tecedeira não chega a ter um palmo e a do que lhe fica oposto é constituída por um pedaço de madeira de forma cilíndrica, com pouco mais de meio metro de comprimento e que está pousada sobre a mesa do lado direito. Quando se torna necessário movê-lo a tecedeira encaixa uma das extremidades num orifício do órgão e fá-lo dar a volta necessária.

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Pendentes da travessa central do rectângulo superior que liga os quatro paus verticais da armação do tear, há dois moitões – os fradinhos – que por sua vez suportam, cada um deles uma pequena travessa – os balancinhos ou cachorrinhos – que se vão prender, por meio de cordões, aos dois liços que trabalham alternadamente em sentido vertical e paralelo.

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Os liços, inteiramente feitos de fios de algodão, estão seguros na parte superior e inferior por umas réguas. Para os manter sempre direitos, nas réguas inferiores há dois paus roliços a que chamam trambolhos. O movimento dos liços é feito por dois pedais premedeiras que trabalham alternadamente e que a eles se prendem por duas cordas chamadas tamissas. A teia depois de urdida na urdideira, é colocada no tear a partir do orgão de trás, passa pelos liços e segura-se nos órgãos por meio das composteiras, ou sejam umas réguas de madeira que se amarram neles. 29


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Colocada e ajustada a urdidura que se enrola no cilindro posterior e se fixa no da frente, depois de passar pelos dois liços e pelo pente ou batedor; preparada a lançadeira – espécie de canoinha, que os franceses chamam navette com os carretéis onde se envolve a trama, a tecedeira senta-se a frente do aparelho, no banco (tábua de encoste ou cedeira) com os pés nas premedeiras movimenta o mecanismo, fazendo baixar um liço enquanto o outro ergue-se formando então os dois panos da urdidura um paralelo grama, por onde corre a lançadeira que é jogada destramente, – após o que o pente bate forte a trama, numa primeira pancada ritmada e seca, logo em seguida outra, e outra, e muitas outras, que ecoavam pela rua durante dias inteiros.

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O TEAR E OS SEUS ACESSÓRIOS Assim é que encontramos nas casas das tecedeiras os implementos para a fiação e tecelagem todos rústicos e toscos, de fabricação doméstica.

Mesas – Duas peças de madeira, sobre as quais se fixam todas as outras. Órgãos – Duas peças que se introduzem nos orifícios existentes nas faces interiores das mesas. Travessas – Quatro réguas que servem para fixar as mesas nas partes superior e inferior. Queixa – Formada por quatro réguas de madeira, que serve para fixar o pente. 33


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Pau da queixa – Pau roliço que serve para manter suspensa a queixa. Pente – Peça construída por uma série de pequenas espátulas de cana (puas) colocadas verticalmente com as faces em sentido contrário ao comprimento do pente, , por onde passam os fios da urdidura ( também chamado de urdume ). É utilizado para encostar os diferentes fios da urdidura carreiras da trama pelo batimento. As puas agrupamse às seis e a cada conjunto de doze puas chama-se cabrestilhos. Há de 14, 42, 45 e 58 cabrestilhos. Liços – Duas réguas de madeira a que se ligam vários fios, em forma de arca e que servem para abrir ou fechar mais a tela. Trambolhos – Paus delgados e roliços que servem para fazer a ligação entre os liços e as premedeiras. Cabritos, Bilros, Balancinhos ou Coelhinhos – Paus delgados e roliços que servem para os ligar os liços às corretanas. Corretanas ou Fradinhos – Roldanas vulgares que, suspensas de um pau roliço colocado sobre a parte superior das mesas, facilitam o movimento dos liços, que lhes são ligados por intermédio dos cabritos. Pau das corretanas – Idêntico ao da queixa. Premideiras – Peças de madeira em forma de pedais que se ligam trambolhos. O número de Premideiras é igual ao dos liços que se utilizam. Canas de encruzo – Duas canas vulgares que se enfiam na teia, entre o orgão e os liços, que fazem com que os fios se cruzem duas vezes. Peso – Pedaço de ferro ou chumbo, preso por um cordel às canas do encruzo e suspenso do orgão dianteiro. Usam como pesos uma ferradura, empregada como amuleto. 34


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Chave do órgão – Pau torto que se introduz num dos furos do orgão da frente. A chave para o orgão de trás é em ângulo recto, usada para tencionar os fios do urdume, através do rolo do tear. Tempereiros – Peça dupla de madeira que contém nos extremos uma parte de ferro provida de dentes miúdos e que serve para esticar o pano no sentido da largura. Tábua de encosto ou cedeira – Tábua larga que se fixa na parte traseira das mesas, na qual se senta a tecedeira. Lançadeira – Peça de madeira em forma de barquinha, que serve para conduzir a canela. Canela – Canudo de cana delgada onde se enrola o fio e se introduz na lançadeira. Broca – Pequena haste flexível que se fixa a canela à lançadeira. Compostoros – Réguas de madeira que se amarram ás pontas da teia por cabrestilhos. Linhadouros – Cordões que servem para ligar os compostouros aos órgãos. Batedor – pequeno pente usado para apertar mais uma zona ou uma área do tecido, para uso ocasional.

Como acessórios do tear temos: a) Escaroçador (descaroçador): Numa banqueta rectangular sobre quatro pés, instalam-se dois montantes verticais, entre os quais se colocam conjugados dois cilindros horizontais, munidos de manivelas.

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Operação: Uma pessoa (sempre criança é que se encarrega desta etapa) de cada lado vai colocando o "capucho" (capulho) de algodão, como foi colhido, de um lado, entre as moendas. Com o movimento que se dá às manivelas, solta-se a polpa, que cai do outro lado, restando cá os caroços. O algodão está descaroçado.

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b) Cardas: As cardas são duas pequenas pás, com mais ou menos 27x15 cm, com um cabo tendo cada, uma almofada de coiro, num dos seus lados com uma espécie de escova de pontinhas de aço bem juntas (puado), cobrindo toda a área da pá e puxada numa tábua com o seu punho (cabo).

Utiliza-se para limpar as impurezas da Lã, para se transformar em fio, deverá passar pelo processo de cardação, que é o ato de desfiar e pentear, para a mesma direção, as fibras da lã de ovelha. Operação: Colocam-se pequenas porções de lã descaroçada na carda, previamente aberta com a mão, recobrindo-a inteiramente. Com a segunda carda vai-se escovando essa lã, de modo que as duas cardas se encontrem voltadas para sentidos opostos, quantas vezes for necessário, de maneira que a impureza, que continha a lã, 37


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se separe, resultando uma pasta fofa e limpa. Até obter-se fibras agrupadas de tal forma que facilitam a fiação.

O processo de abrir a lã com os dedos ajuda ao mesmo tempo a desembaraçar as fibras e a eliminar parte das impurezas que ainda ficaram. c) Roca: Na parte superior de uma cana de cerca de 1,20 m de comprimento (cabeça da roca) fazem-se quatro ou mais cortes longitudinais, paralelos (rachas ou aspas) de cerca de 0,20 m a 0,30 m, que afastam, metendo-lhe no meio a formar bojo, um pedaço de sabugo (soco) da soca de milho ou de casca de cabaça. O fio é torcido com o auxílio do fuso. É a torção que confere ao fio resistência à tração, pois faz com que as 38


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fibras se apertem umas contra as outras. Uma vez fiado, o fio é retirado e enrolado fazendo meadas para o tingimento. Em todos os métodos as mãos desempenham função importante. Operação: Com uma das mãos segura-se a lã cardada e com a outra movimenta-se a lã já determinando a espessura. d) Fuso: O Fuso é todo de madeira. Consta de uma haste de 0,35 m de comprimento (pau do fuso) levemente mais grossa numa extremidade. Junto a esta , aguçada na ponta para poder girar, enfiam uma rodela de madeira (roda do Fuso). A Lã é fiada à mão com o fuso.

Nalgumas localidades empregam a roda, que adiante se descreverá. A lã depois de desfiada ou cardada está pronta para a fiação. Fiar é torcer ou reduzir a fio qualquer matéria filamentosa. Faz-se alongando e retorcendo suas 39


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fibras. Da pasta limpa como pluma, no fuso ou na roda transforma-se em linha a lã cardada. e) Engenho ou Roda de Fiar: É uma máquina que serve para transformar em meadas a linha fiada e enovelada. A roda terceirence de pedal, usada numas freguesias rurais da ilha e desconhecida noutras, compõe-se duma mesa de madeira com 0,48 m x 0,21 e quatro pés de 0,57 m de altura, entre os quais gira uma roda com raios de 0,44 m de diâmetro accioada por um pedal.

Sobre a mesa estão fixos ao alto, a uma ditãncia de 0,26 m, numa régua, duas pequenas pranchas verticais de 0,25 m de altura entre as quais gira, enfiado num eixo de ferro preso às pranchas, um carreto de madeira (fuso) ligado por volante de correia ou corda à roda do pedal, que lhe imprime movimento de rotação. À prancha está aplicado um parafuso de metal, que se fixa à mesa e permite esticar ou alargar o volante. O fuso 40


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tem 0,15 m de comprimento e gira dentro dum arco de madeira em forma de U, com pequenos pregos enganchados ou ganchos de metal (caneleira) para neles passar o fio e se distribuir igualmente em todo o comprimento do fuso, o qual, depoisde cheio, se desenfia do eixo. Este, num dos extremos, num dos extremos, está encaixado na prancha vertical e no outro apoia-se numa ranhura curva fechada superiormente por uma estreita tira de couro presa por uma cravelha de madeira.

Operação: Para fiar, enfia-se a ponta do fio à mão num orifício existente na extremidade do fuso e prende-se a ponta na outra extremidade. A lã fica nas mãos da fiadeira que vai fiando e enrolando no fuso posto a girar com o pedal. Para maior igualdade de destribuição e o fuso ficar bem cheio, passa-se o fio sucessivamente em cada um dos ganchos do caneleiro, operação que se repete até enchar o fuso completo. Quando se quer torcer faz-se girar o fuso em sentido oposto. f) Sarilho: Haste de madeira, ou mais vulgarmente de cana, de cerca de 0,60 m de comprimento, atravessada por duas pequenas estacas (cruzetas) em sentidos opostos, onde se passa o fio para o enrolar. A parte em que se pega no sarilho diz-se mão e a parte superior nariz.

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g) Meada: São feitas no sarilho, com o fio proveniente do fuso ou da roca, que por sua vez é colocada na dobadoura.

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A meada deve ser frouxa para ser tingida, recebendo o corante de forma igual. Para se tecer o "guingau" (um padrão de tecido), toma-se a meada, isola-se uma parte, tingindo apenas a outra. Assim o fio fica com dois tons diferentes. Confeção da Trança Os desenhos abaixo ilustram bem a maneira de se confecionar a trança, ao retirar a urdidura da urdideira.

Desenho 1

Desenho 2

Desenho 3

Desenho 4

h) Dobadoura (Dobradeira): Consta de uma haste de madeira fixa verticalmente (fuso) aguçada na extremidade superior (nariz), cravada numa caixa ou tabuleiro (pé). No fuso enfiam-se duas cruzes de braços iguais (cruzeta de cima e cruzeta de baixo), réguas de madeira, ligadas entre si por quatro varas paralelas verticais fixas (varas) cravadas 43


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junto ao extremo de cada uma das cruzes. No centro da cruzeta de cima há um pequeno encaixe para o nariz do fuso (concha). Na extremidade de cima dessa haste, coloca-se a cruzeta móvel (que gira na haste, que é um eixo), tendo em cada ponta uma vareta vertical (30 cm).

Operação: Amarra-se a ponta da linha em uma das varetas, e com um impulso com a mão faz-se girar a cruzeta, e o fio sai do novelo e se envolve na dobadoura.

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i) Espadilha: Régua de madeira, em forma de espada, com 12 orifícios onde se introduzem os fios para a urdidura.

- Primeiro enfia-se os fios na espadilha é para o fiado correr e não embaraçar. - De um pauzinho ao outro é uma vara é 1 metro. Dá o comprimento da coberta. - A cruz dos liços é feita com os dedos. Faz ela na ida, mo pé da urdideira e na vinda. - A cruz dos cabrestilhos da largura da coberta. São amarrados em cruz para não escapulir. Vai fazendo ida e volta, até dar a largura do pente. - O cordão dos cabrestilhos é para não embaraçar. O cordão da cruz do liço é para não escapulir. - Faz-se uma trança pra não misturar o fiado antes de pôr no tear. - Marca-se as varas para saber a quantia de cobertura que já se teceu. 45


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j) Casal: Caixa com doze divisões para outros tantos novelos destinados à teia, cujos fios depois de passados pelos seis furos de uma régua de madeira, – a espadilha – seguem para a urdeira a fim de formar a teia.

k) Urdideira: Constituída por quatro paus formando rectângulo, com toros de madeira onde se amarra as lã ou linhas (urdidura), usada como suporte de medida para preparar os fios do urdume no qual é feita as tramas do tecido (medir, cortar) destinados a dividir os fios antes de estes passarem à teia. Cada uma das peças paralelas e verticais, guarnecidas de pregos de madeira ou ganchos de ferro, em que se urdem os ramos da teia. Utilizada para medir e ordenar os fios da urdidura que serão colocados no tear.

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Operação: Uma vez passada pela espadilha, os doze fios são amarrados, nas suas extremidades, numa cavilha, no alto da urdideira. Para impedir que os fios se misturem é necessário cruza-los um a um perto do ponto de partida. Após imobilizá-los com a guia móbel, por meio de uma torção da mão, procede-se à operação de cruzar os fios utilizando o polegar e o indicador. Depois de cruzados os fios são colocados nas cavilhas da travessa da urdideira. Àlem de manter os fios paralelos, o cruzamento - que é repetido a cada vez que se inicia ou termina uma volta na urdideira – confere a cada fio o lugar definitivo que vai ocupar no tecido, o que é importante 47


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quando se urdem fios de cores diferentes ao mesmo tempo e se quer obter listas regulares no tecido. Depois de amarrados e cruzados um a um os fios são esticados de um montante a outro da urdideira. Sabendo que a distancia entre os dois montantes da urdideira corresponde a uma vara (mais ou menos 1,10m), para se obter o comprimento desejado basta contornar um determinado número de cavilhas da urdideira. Tantas vezes a distancia entre os montantes da urdideira for percorrida quantas vezes 1,10m terá o comprimento do urdume. Uma vez atingido o comprimento desejado, volta-se pelo mesmo caminho até o ponto de partida depois de se ter contornado as cavilhas inferiores no sentido oposto ao da ida. Este cruzamento dos fios por grupo urdido ao mesmo tempo permite a contagem do número de idas e voltas assim realizadas. Quanto maior for o número de grupos de fios cruzados (cabrestilhos), tanto maior será a largura do urdume.

l) Caneleira: Pequena máquina construída por uma base com duas hastes e um fuso com roda, que serve para enrolar o fio nas canelas (fig. 24).Caixa das Canelas – Caixa onde se guardam as canelas cheias.

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m) Passaricos: (na Ribeirinha espichos) – pedacinhos de cana que funcionam como lançadeiras, onde se enrolam tiras de pano de algodão amarrados entre si e que se destinam a entrelaçar em certos tecidos caseiros Canelinhas (canilhas, espécie de carretel): São pequenas hastes que se encaixam nas canoinhas. O nome se deve à aparência que tem com um osso de canela (fina no meio e extremidades arredondadas). Dizem que antigamente se usavam mesmo os ossinhos, mas o material mais usado é o gomo do bambu.

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n) Lanceta Tempereiros: Peça dupla de madeira de largura regulável, com pontas nas extremidades em ferro com dentes miúdos e que serve para esticar o pano no sentido da largura. É fixado nos dois lados da peça e evita que a mesma encolha, á medida que o trabalho é feito.

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o) Restelo: Peça estreita e comprida, de forma rectangular com duas réguas de madeira, uma das quais tem um número de toros igual ao máximo dos cabrestilhos que a teia possa ter, e a outra os orifícios correspondentes (fig. 23). Serve para distribuir a teia no orgão do tear. Aos fios que passam no Rastelo chamam cabecilhos ou cabrestilhos.

p) Lanceta: Pequena espátula de cana que facilita a passagem dos fios através das puas quando se repassa a teia.

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q) Navete: Peça de madeira, onde é preso o fio que constituirá na trama do tecido. São como agulhas, usadas para passart a trama pela cala do urdume. Existem vários modelos, de acordo com o fio que se está utilizando na trama. Além das navetes comuns, existem as navetes tipo “barca” (denominadas lançadeiras), para o uso com os fios muito finos. O fio é enrolado num carretel, com auxílio espuladeira e colocadado dentro da navete.

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r) Lançadeira (Navete ou Canoinha): Peça em forma de barco toda de madeira e que contém um cilindro ou canela por onde passa o fio da tecelagem, é constituída por duas peças: a broca, a caixa oval sem tampa e a canela que está metida na broca. As lançadeiras são mesmo em forma de canoinhas de madeira, usada para colocar o fio de trama que irá passar no meio da cala, onde se colocam as canelinhas com o fio colorido formando a trama do tecido para se fazer o tapume ou o repasse. Operação: A canoinha com os fios de tapume é lançada entre os fios da urdidura, que são passados entre os dentes dos liços e do pente. Os pedais levantam e abaixam os fios da urdidura para dar passagem ao fio do tapume e compor o desenho ou "repasse". 53


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s) Tear de Franjas ou Tábua de franjar: É utilizado para a confecção de franjas para colchas, tapetes. Não há colcha que não possua a sua franja, seja às laças, todas da mesma altura, seja pontiaguda com o formato de triângulos, pois são elas que rematam a peça decorativa. A sua feitura artesanal e tradicional requer igualmente saber e experiencia. Para tal, terse-à de urdir o algodão como se faz para a teia. Seguidamente será envolvido num orgão pertencente a um aparelho especial, como se vê na foto, constituído por uma pequena mesa cujas cabeceiras se unem, pela direita, a uma tábua perpendicular com na mesma direção, tendo ao centro desse espaço uns orifícios e à esquerda duas hastes colocadas ao alto, entre as quais se encontra o citado orgão envolvido pelo algodão. As medidas desta peça tábua de franjar, não são fixas. Querendo-se uma franja de cor, enrola-se a lã que se deseja sobre o algodão. Intruduz-se então as pontas deste e da lã nos respetivos orifícios da tábua (os da lã nos três do 54


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centro e os do algodão nos três laterais de cada lado). Sob eles, no extremo inferior da tábua, outras nove pontas idênticas às anteriores são inseridas, unindo-se à saida desses orifícios e dando-lse-lhes um nó.

Então essas linhas são divididas ao meio com a própria mão, iniciando-se o fabrico da franja. Tomam-se juntos os fios de lã de dois novelos situados ao lado (brancos, se a colcha for de lã natural ou de cor) e passam-se as respetivas pontas entre esse espaço, deixando pendente cerca de um palmo e pressionando-se a sua junção com os que formam o ângulo. Com a mão direita introduz-se, entre o espaço de divisão formado pelos fios que vêm das fendas da tábua, a continuação dos dois fios provenientes da pressão dos dedos, formamdo como que um arco. Indo ao encontro da régua de madeira colocada na mão esquerda, envolvemna de cima para baixo e puxam-se em sentido contrário ao da introdução. 55


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São bem aconchegados ao ângulo, através de pequenas pancadas com a mão. Então encruza-se, isto é, faz-se um movimento em ascenção com as duas carreiras de linhas. Repete-se a mesma operação com a pequena tábua (pente) e essas linhas e encruza-se de novo, mas agora com um movimento descendente. A ação repetida e alternada destes dois movimentos faz surgir a franja que se vai formando na régua e ao mesmo tempo saindo desta. Atingindo a quantidade necessária, estará pronta a ser cosida na colcha e a outras peças teadas. É essa pequena régua, de 20 a 30 cm de comprimento por 7 a 8 cm de largo, que regula a altura das franjas. Estas são constituidas por duas partes: uma tira denominada cairel, que é cozida à peça e que forma a base da franja e a franja propriamente dita, que se apresenta sob duas formas, uma a mais vulgar, com as franjas da mesma altura, a outra, muito mais antiga, formamdo triângulos isósceles. t) Vara: Régua de madeira, com cerca de 1,25 m de comprimento, com a qual faziam as medições. Antiga medida linear.

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TRABALHOS PREPARATIVOS DA TECELAGEM Tudo começa com a tosquia das ovelhas, passado o Inverno geralmente nos meados da primavera, sendo o velo (lã) enrolado em feixe e arrecadado até ao Inverno, altura em que se prepara a lã que se faz no verão. A lã é lavada com água e sabão para lhe tirar a gordura.

A lã para ser utilizada tem que ser amolecida em água quente, de um dia para o outro, para, em seguida, ser lavada em água fria, geralmente este trabalho era 57


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realizado nos regatos ou ribeiras, e batida, antes de secar ao sol.

Depois de seca ao sol é toda aberta à mão e a seguir escarduçada depois de lavada é cardada. À medida que se vai tirando das cardas, é posta em camadas, ou como se diz na terminologia indígena, vai sendo imprimida, acto que consiste em pôr os diversos montinhos de lã uns sobre os outros sem os calcar, de forma a ficar o mais solta possível para os trabalhos de fiação. 58


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Muitas vezes a arte de fiar era realizada à noite, à luz de um candeeiro de petróleo, em casa de uma delas para se cardar e fiar. Sentam-se no chão em esteiras e vão conversando e fiando, que por via de regra redundam numa autêntica festa regional em virtude de a eles assistirem muitos rapazes e raparigas que vão propondo adivinhas ou contando contos enquanto trabalham, bailam e cantam as canções regionais e comem milho cozido, prato obrigatório nestas reuniões a que o povo da Ilha dá o nome de serão ou fião. 59


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Antes de se começar a fiar, enrola-se um papel no cabo do fuso, para depois, quando cheio, se poder tirar facilmente a lã fiada que sai num corpo só de forma oval, e a que chamam a massaroca. Em seguida a lã é passada ao sarilho para fazer as meadas e deste à dobadoira para fazer os novelos. Para executar qualquer tecido há cinco operações a realizar: a) Urdir a teia; b) Deitar a teia no tear; c) Repassar; 60


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d) e)

Tecer; Operações complementares (soltar os órgãos, desenrolar o pano, arrematar os fios que ficam soltos e separar os tecidos confecionados).

Na Terceira, em tempos idos, a tecelagem atingiu um alto grau de perfeição de tal maneira que a Câmara Municipal, para não deixar perder tal mérito, deliberou conforme posturas municipais, proibir que usasse do ofício quem não possuísse carta de exame passada pela referida Câmara.

As tias “Violantes” Emília e Elvira, duas irmãs da Ribeirinha que teceram toda a sua vida. 61


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COMO SE TINGIAM OS TECIDOS Para se obter o pigmento de tingir a linha, muitos são os recursos naturais. As cores mais comuns são obtidas com corantes vegetais extraídos em infusões ou cozimentos e/ou outros processos. Na nossa ilha, os fios que entravam na confecção das teias dos teares caseiros, eram previamente tingidos.

Os panos de fiampua eram urdidos com linho ou algodão branco e tapados com a cor que se desejava. 63


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Para a confecção do pano de meio-três, tingia-se primeiramente de preto o linho ou algodão destinado à urdidura, ou destinava-se a lã das ovelhas com aquela cor, denominada lã na cor da ovelha. Quanto ao pano da terra confeccionava-se com lã branca e só depois se tingia de preto. As cores obtinham-se pelos seguintes processos: Preto – (meio três e pano da terra). Esta cor obtinha-se pelo esmagamento de uma planta chamada sumagre e que o povo deturpa para sumaigre. Esta planta depois de bem esmagada era posta ao lume numa panela grande, com alguma água, misturando-se uma anilina denominada caparrosa, vulgarmente conhecida por “capa rosa”. Logo que fervia coava-se por um pano e mistura-se urina, levando o liquido novamente a ferver, e uma vez fervido, despejava-se sobre o pano ou fiado, previamente disposto numa tina de madeira. O pano era depois apesoado, como quem amassa o pão para ficar bem embebido, abafando-se com um pano grosso. Esta operação repetia-se o número necessárias, até se obter a cor pretendida.

de

vezes

Finalmente era posta a enxugar, havia quem lhe dava um banho de água do mar, ou salgava artificialmente, e juntava casca de nogueira. Este processo de tinturaria provocava um cheiro nauseabundo. Cor ao Carmo – Esta cor de um tom castanho, foi buscar o seu nome ao hábito dos irmãos da Confraria de Nossa Senhora do Carmo, e obtinha-se adicionando-se a 64


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uma libra de lã, uma rasoira de musgo das paredes, misturando-se com cascas de cebola e folhas de tabaco. Levava-se a mistura a ferver por duas horas, coando-se depois. Retirava-se do lume, juntando-se-lhe a lã, indo novamente a ferver até atingir a cor desejada. Castanho claro – obtinha-se pela fervura de tabaco. Cinzento claro – obtinha-se fervendo o pano em casca de eucalipto. Amarelo – mergulhava-se a lã numa infusão de flor de lírio de espigo amarelo, pedra ume (alúmen) e vinagre. Amarelo claro – fervia-se o fio em cascas de cebola. Amarelo chá – fervia-se o fio com casca de cebola e chá preto. Cor de canela – (para roupa de homem). Obtinha-se pela fervura de casca de faia da terra, olhos de silva e sal. Verde – Obtinha-se pelo cozimento da rama da urze. Cinzento – (outro tom) – Obtinha-se pelo cozimento das cascas de cedro. Beije – Obtinha-se com uma anilina denominada cochonilha, alúmen e cremor tártaro. Conhecendo-se assim os processos rudimentares usados pelos nossos antepassados para atingir as diversas tonalidades da escala cromática, causa-me admiração não encontrar qualquer menção à utilização do pastel para obtenção da cor azul, planta com a designação científica “satis tintória, L”, introduzida nos Açores pelo capitão d’Utra, da Ilha do Faial e que se cultivou em larga escala nesta Ilha. Esta planta que se assemelhava à alface, depois de submetida a várias operações nos chamados, engenhos de pastel, era moldada em bolas, a parecerem-se com pastéis, daí ter tomado aquele designativo. 65


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A cultura de tal planta constituiu uma riqueza da nossa terra a pesar signitivamente na nossa balança comercial, com uma larga exportação para a Inglaterra, Holanda e Espanha, que a empregavam na tinturaria de tecelagem. Todavia o que lhes contamos são um total de tarefas comuns em casa de tear. Umas cardam, outras fiam, outras fazem franjas e outras ainda fazem retalhos de restos de tecidos, que posteriormente vão dar colorido às mantas, aos tapetes e às colchas, artisticamente elaborados por essas mãos de fada. São das poucas profissões que ainda hoje temos possibilidades de observar, graças aos Grupos de Folclore, que com o trabalho encomendado exigiram que os velhos teares fossem de novo armados e até que gente jovem tomasse gosto por essa arte que fez as delícias dos nossos antepassados.

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ESPÉCIES DE TECIDOS FABRICADOS NO TEAR CASEIRO REGIONAL São vários os tipos de tecidos e segundo um trabalho de Luís Ferreira Drumond, os principais panos fabricados na nossa Ilha eram a fiampua e a teia cheia. Este tecido utilizava-se geralmente para confecção de mantas, toalhas, passadeiras de retalhos, cobertores de fios, aventais e panos de cozinha e de um modo geral todos os panos grosseiros.

As tradicionais mantas de farrapos, coloridas e ingénuas, que em tempos eram fruto de uma imaginação distante que nas horas de invernia puxavam o tear que ia ali67


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mentando o órgão, são agora procuradas para decoração dos espaços habitacionais.

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A Fiampua era urdida com fio de linho ou de algodão e tapada com lã, algodão ou retalhos de diversas fazendas usadas, que se desfiavam, cardavam e tornavam-se a fiar. Fiampua – O nome dado a esta espécie de tecido, parece ter a sua origem no facto de, para o seu fabrico, ter de se fazer passar apenas um fio por cada pua do pente. Um fio em cada pua Um fio em pua Fio em pua Fiampua Teia cheia - Nesta espécie de tecido, o espaço compreendido entre duas puas do pente levava dois fios.Utilizava-se para a confecção das colchas regionais, pano de meio três, pano da terra e pano de linho. As colchas eram urdidas com fio de algodão e tapadas com fio de lã e outro de algodão; o meio três, com linho ou algodão tapado com lã; os panos da terra eram urdido e tapado com lã; e o linho, só com linho. Há poucos anos fazia-se um tecido branco, urdido com linho ou estopa e tapado com algodão, com que se faziam as camisolas de pastor, também conhecidos por camisolas de leiteiro, pelo facto de há anos atrás, ter sido imposto a obrigatoriedade do seu uso aos homens que vendiam leite pelas portas, presentemente apenas usadas pelos pastores que vão à corda das nossas tradicionais touradas. Também se empregava na confecção de roupas interiores, principalmente para homens.

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DESENHOS E PADRÕES

Um dos esquemas utilizados nas colchas pelas tias Violantes 71


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Os tecidos são feitos sob desenhos chamados "repasse". Os nomes dos desenhos são variados e conhecidos entre as tecedeiras.

As receitas são conservadas e reproduzidas em tiras de papel, onde se vêem pequenos traços verticais, agrupados de espaço em espaço, em números diferentes. Sua leitura é indecifrável para o leigo. Pelos riscos ou traços, pontos e círculos, não se pode ter uma ideia do desenho que vai sair dali. A partir dos repassos constroem-se os desenhos das colchas, cobertas e tecidos e propõe a construção inversa, 72


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isto é, a partir do desenho a construção do repasso. Mesmo não sendo o objetivo deste trabalho, é necessário esclarecer alguns termos que fazem parte dessa profissão. Uma das palavras que utilizaremos é repasso. Repasso nada mais é do que a escrita utilizada pelas tecelãs que observando-o detalhadamente ela visualiza o padrão ou estampa da coberta. O fazer repetitivamente um repasso para uma determinada colcha ou coberta pode intuitivamente memorizar a receita e é claro identificá-la à primeira vista. Mas o que leva uma tecelã/tecedeira, ao olhar qualquer repasso identificar as figuras geométricas que se produzirão ao confeccionar tais objectos artesanais? Para se perceber melhor do que estou a falar produzo abaixo um repasso simples.

Esse repasso foge a nossa compreensão do ensino escolar tanto quanto foge para a tecelã a compreensão das fórmulas utilizadas na matemática. O ambiente em que vivem estes dois grupos sociais – os tecelões e os matemáticos – conduzem-nos à interpretação de mundo diferenciada a ponto de desenvolverem escritas /representações/ símbolos próprios dos grupos aos quais pertencem e somente as pessoas pertencentes a esses grupos são capazes de interpretá-las e compreendê-las. 73


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Vejamos agora o desenho que se forma na colcha, na manta ou no cobertor com a escrita acima enunciada. Para melhor entender a partir de agora: qual o processo de passar essa escrita para um papel quadriculado ou para o sistema cartesiano e perceber como o tear trabalha e como a escrita acima produz o desenho abaixo.

Este desenho, sendo colocado ao lado de figuras de mesmo padrão forma um mosaico de beleza única. Portanto, o repasso é a receita do tecido de flor dado ou de repasso, ou seja, do tecido estampado. Os campos de conhecimento, o linguajar, a leitura, as ferramentas e a técnica são diferentes, mas isso não significa que um conhecimento seja desqualificado em relação a outro, pois ambos produzem algoritmos próprios para chegar à solução de seus fazeres. Para dar continuidade exporei alguns dos dados colectados na tecelagem, mulheres que teciam com a 74


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urdideira de parede, com liços de quatro folhas feitos de pequenos pedaços de barbante, com tramas que passam através de canelinhas finas e feitos de casca de bambu e cujo pente é uma peça rectangular formada de finas lascas de bambu firmemente amarradas entre quatro barras de madeira leve. Os tipos de tecidos são determinados pela programação dos fios do urdume, na urdideira, pela distribuição destes fios nas folhas de liço e no pente, e finalmente pela maneira de pisar nas premideiras. Os repassos são representados por quatro linhas paralelas que correspondem no tear a uma folha de liço, que por sua vez, está ligada a uma premideira. Cada traço vertical representa a casa da folha de liço por onde deverá passar um fio da urdidura. O trabalho está acrescido do ritmo que a tecedeira impõe no seu trabalho.

Não apresento todos os repassos para que este resumo não se alongue e fuja do seu objetivo. Seleciono um entre os escolhidos para que nos ajude a compreender os conceitos matemáticos nele inseridos. Começamos pelo repasso chamado “esteira grande” Para se poder entender, pensei nos gráficos das relações de conjunto e na teoria de conjuntos. Pelos fatos das linhas colocadas serem perpendiculares ao pente, imagine o sistema cartesiano. O tempo foi fazendo perceber que se deveria trabalhar linha a linha na 75


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construção do desenho. Na primeira linha eu tenho a seguinte orientação:

1ª e 4ª linha = cor do fio utilizado (neste caso, o vermelho) 2ª e 4ª linha = fio de outra cor (neste caso, cor branca) 1ª e 3ª linha = fio de outra cor (neste caso, cor branca) 2ª e 3ª linha = fio de outra cor (neste caso, cor branca) Já na segunda linha observa-se que a cor vermelha fica no local onde os risquinhos estão no segundo sinal do repasso. Neste caso eles estão na segunda e quarta linhas, logo em todos os lugares que têm os risquinhos na segunda e quartas linhas teremos a cor vermelha e nos demais o branco. Portanto seguindo este encaminhamento, percebemos que a sexta linha do desenho abaixo tem no 76


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repasso os risquinhos na primeira e terceira linha do repasso, logo o vermelho cairá nesta posição. Este processo é o mesmo para todos os trabalhos de

tecelagem de quatro premideiras, tear utilizado pelas “tias Violantes”. Por mais simples que pareça a explicação, a reconstrução das interseções, das relações existentes não são vistas tão de imediato e mesmo que fossem feitos alguns exemplos tería-se muita dificuldade em ver a obra no seu término só vendo o repasso. O mesmo jeito de fazer, desde o colocar dos fios nas urdiduras e no pente, seguindo o repasso poderá produzir o seguinte risco. A tecedeira desconhecia os algoritmos da matemática elementar ou outros conceitos que se aprendem nesta disciplina escolar, mas ela sabia colocar os 77


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pontos com seus pés, mente e mãos construindo uma peça de utilidade doméstica ou pessoal. Ela tinha de saber utilizar as premideiras, colocar o fio no local certo, ter um ritmo, conhecer bem a força que deve dispor para o tecido sair perfeito.

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PEÇAS DE ARTESANATO FEITAS NOS TEARES DA RIBEIRINHA

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QUADRAS ADIVINHAS E PROVÉRBIOS A presença deste ofício, na cultura popular, abunda na nossa terra. São cantigas, adivinhas e provérbios, que lembram a existência duma longa tradição. Algumas quadras do nosso cancioneiro Regional relacionadas com a arte da Tecelagem como é natural, no cancioneiro popular encontram-se referências às tecedeiras e aos seus trabalhos: A triste da tecedeira Passa o inferno em vida Pau nos pés, pau nas mãos, Pau nas costas e pau na barriga. Os olhos da tecedeira São olhos agonizados, Ora estão na lançadeira, Ora nos fios quebrados. Quando eu for mais velhinha À porta me hei-de sentar Só para poder ouvir As pancadas do meu tear. O meu tear, tece, tece, Dia e noite sem parar; De noite a luz da candeia, De dia o sol a brilhar.

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Tenho uma roca nova Que fia linho e fia lã Falais das vidas alheias? E da vossa que dirão? Fia, fia minha roca, Meu fuso anda ao redor! Fia lã p’ra agasalhar Filhinhos do meu amor Este alvo pano de linho, Que eu ando agora a tecer, É para o deitar no lenço, Quando o meu filho nascer. Tem sua melodia As pancadas do tear; Até parece cantar Que nem o sacho ao cavar. Chamaste ao meu cabelo Sarilho de ensarilhar; Eu também chamo ao teu Dobadoira de dobar! Doba, doba dobadoira Não me prendas a meada Deixa correr o novelo Tenho a minha mão cansada O tear tece os fios, O amor tece saudades, Os zelos tecem cuidados Tece a traição falsidades.

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A Senhora da Ajuda Tece fitas amarelas, Se a Senhora me der uma Hei-de fazer-lhe as canelas. A Senhora da Ajuda Tem tear na ribeira, Dá-lhe a chuva, dá-lhe o vento, Faz-lhe andar a lançadeira Á porta da tecelã Tenho que ir a descansar, Porque gosto de escutar As pancadas do tear" Refere-se aos golpes dos liços e pentes Mariquinha tecedeira Tem o tear à janela, Dá-lhe o vento, dá-lhe a chuva, Todo o fiado se quebra. Mariquinhas tecedeira, Namorada dum galam, Tem o pé na premedeira E a lançadeira na mão Aquela tecelaninha Adormeceu no tear; Com licença do seu pai Eu a irei a despertar"

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Adivinhas: O que é, que é, redondinho, redondão, E cabe num ninho de pássaro passarão? (O novelo de fio) Meti o meu comprido no rachado, Para dentro foi enxuto, Para fora sai molhado. (Linho na roca) Tenho um brinco com que brinco. Que de brincar endoidece, Quanto mais brinco, com o brinco, Tantomais o brinco cresce. (Fuso) Tão longo como um caminho, E corre num pulinho. (O novelo de fio) Banco no meio, Estribo no pé, Branca largada, Que vai pela estrada; Não come, nem bebe, Nem paga obrada. (A teia) Rincha que rincha E cavalo não é. (O tear) 84


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Provérbios: "Urdir e tecer, não pode ser" "A teia mal tecida, ao lavada, fica encolhida" "A teia tecida e a mulher parida sempre tem-se acolhida" "Teia dum só polegar tarde vai ao tear, mas quando vai, vai sempre igual" "A teia miúda o seu dono enxuga" "Boa teia fia a mulher que os seus filhos cria" "Mentes tenha o meu tear, camisa não me há de faltar"

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AS TIAS VIOLANTES

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Maria 89


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Maria

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A Familia Rocha Em cima Francisco, Emilia, João, Candida, António, Francisco em baixo Guilhermina, Francisco da Rocha “Capicha e esposa, Alzira

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A Familia Castro Em baixo Maria, Maria de Jesus Violante, Lina, João de Castro, João em cima Lucia, Francisco Ascenção

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A Familia Castro Em baixo João de Castro, Lina, Maria de Jesus Violante em cima Lucia, João e Maria 94


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A Familia Castro nos Biscoitos

A Familia Castro quando chegou á América 95


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As três irmãs Elvira, Cândida e Emilia

As três irmãs Elvira, Maria e Emilia 96


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As duas irmãs Elvira e Emilia

As duas irmãs Emilia e Maria 97


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As duas irmãs Emilia e Elvira 98


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António da Rocha “Capicha”, José Augusto e Fatima “Capicha” 100


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Fatima da Rocha, Elvira, João Castro e Emilia 101


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1ª Fila as quatro irmãs “Violantes” Maria, Elvira, Emilia e Maria de Jesus. 2ª Fila as sobrinhas filhas da Maria de Jesus, Maria e lucia

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Emilia e Elvira 104


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A FONTE DA RIBEIRINHA

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A Casa das “Tias Violantes” Fonte da Ribeirinha

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A Casa das “Tias Violantes” Fonte da Ribeirinha

Foto da coleção de Vitorino Nemésio tirada numa visita que fez á freguesia da Ribeirinha encontrada na Biblioteca de Angra. 110


A Casa das “Tias Violantes” Fonte da Ribeirinha

Foto da coleção de Vitorino Nemésio tirada numa visita que fez á freguesia da Ribeirinha encontrada na Biblioteca de Angra. 111


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AS TOURADAS

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Primeira tourada da Fonte quando começou a ser tapada

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Ao centro José Albino e Manuel de Almeida 123


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AS FESTAS DA FONTE

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Em baixo Mateus Miranda, Pacheco e João de Castro em cima ? , José Canário. 143


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Pacheco, João de Castro e Mateus Miranda

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Pacheco e João de Castro

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AS MATANÇAS DO PORCO

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A RECUPERAÇÃO DAS PIAS DA FONTE EM 2008

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INDÍCE RESUMO .................................................................................................................... 5 INTRUDUÇÃO ........................................................................................................... 7 O TEAR E A INDÚSTRIA DA TECELAGEM ........................................................... 13 O TEAR .................................................................................................................... 19 O TEAR E OS SEUS ACESSÓRIOS ........................................................................ 33 TRABALHOS PREPARATIVOS DA TECELAGEM.................................................. 57 COMO SE TINGIAM OS TECIDOS....................................................................... 63 ESPÉCIES DE TECIDOS FABRICADOS NO TEAR CASEIRO REGIONAL .......... 67 DESENHOS E PADRÕES ........................................................................................ 71 QUADRAS ADIVINHAS E PROVÉRBIOS ............................................................. 81 AS TIAS VIOLANTES ............................................................................................... 87 A FONTE DA RIBEIRINHA .................................................................................... 107 AS TOURADAS ..................................................................................................... 113 AS FESTAS DA FONTE .......................................................................................... 139 AS MATANÇAS DO PORCO.............................................................................. 165 A RECUPERAÇÃO DAS PIAS DA FONTE EM 2008 ......................................... 171

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