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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL UNIFICADA CAMPOGRANDENSE - FEUC FACULDADES INTEGRADAS CAMPO-GRANDENSES – FIC CURSO DE PORTUGUÊS/ LITERATURAS
ROSANA DOS SANTOS
POR TODOS OS SANTOS: O SINCRETISMO RELIGIOSO NA OBRA TENDA DOS MILAGRES DE JORGE AMADO
RIO DE JANEIRO 2011
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ROSANA DOS SANTOS
POR TODOS OS SANTOS: O SINCRETISMO RELIGIOSO NA OBRA TENDA DOS MILAGRES DE JORGE AMADO
Monografia submetida ao corpo docente do curso de Licenciatura Plena em Letras: Português e Literaturas das Faculdades Integradas Campo-Grandenses (FIC), mantidas pela Fundação Educacional Unificada Campograndense (FEUC), como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Licenciado em Letras: Português e Literaturas.
ORIENTADOR: PROF. ESP. ERIVELTO DA SILVA REIS
RIO DE JANEIRO 2011
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ROSANA DOS SANTOS
Por Todos os Santos: O sincretismo religioso na obra Tenda dos Milagres de Jorge Amado
Monografia submetida ao corpo docente do curso de Licenciatura Plena em Letras Português/Literaturas das Faculdades Integradas Campo-Grandenses (FIC), mantidas pela Fundação Educacional Unificada Campograndense (FEUC), como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Licenciado em Letras Português/ Literaturas.
Aprovada em 14 de junho de 2011.
PELA BANCA EXAMINADORA:
ERIVELTO DA SILVA REIS - PROFESSOR ORIENTADOR Prof. Especialista. FIC
LEANDRO GARCIA RODRIGUES – MEMBRO DA BANCA Prof. Doutor FIC
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Dedico esta monografia de conclusão da graduação a grande amiga e companheira Drª. Carla Feliciano dos Santos que, de muitas formas, me incentivou e me ajudou para que fosse possível a concretização deste trabalho.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus por ter me dado força e saúde, nesses três anos de caminhada. Agradeço a todas as pessoas do meu convívio que acreditaram e contribuíram, mesmo que indiretamente, para a conclusão deste curso. À minha Mãe, pelo apoio incondicional e por todo amor que sempre me dedicou nesses anos todos. Aos meus irmãos que, mesmo estando longe, sempre demonstraram grande apoio à minha luta. Aos meus amigos que, mesmo inconscientemente, me incentivaram, a correr atrás dos meus objetivos, cordialmente. Agradeço a Drª. Carla Feliciano dos Santos por estar sempre presente, pelo apoio e incentivo a conclusão da graduação. Agradeço a todas as pessoas que contribuíram para a reflexão e realização deste trabalho; em especial, ao professor Erivelto da Silva Reis e ao professor Leandro Garcia Rodrigues. Agradeço às Faculdades Integradas Campo-grandenses e a todos os professores que fazem parte do corpo docente da instituição e com os quais aprendi o quanto é bela a arte de educar. Aos amigos da turma “É uma festa” pelas agradáveis lembranças que serão eternamente guardadas no coração, muito obrigada.
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“Pode haver muita deficiência no livro de um jovem, mas haverá também nele uma coisa fundamental – a força da juventude”. Jorge Amado
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RESUMO
O presente trabalho monográfico destina-se a analisar a obra Tenda dos Milagres (2001) de Jorge Amado e demonstrar como o sincretismo religioso é abordado dentro da obra de Jorge Amado, que tipo de ligação esse sincretismo religioso tem com o povo brasileiro e com a sua formação literária, social e cultural.
PALAVRAS-CHAVE: Jorge Amado. Literatura brasileira. Sincretismo religioso.
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SUMÁRIO
I INTRODUÇÃO
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II PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
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2.1 UMA BREVE VISÃO HISTÓRICA SOBRE O SINCRETISMO RELIGIOSO 2.2 UM “ROMANCE SITUADO”
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2.3 LINGUAGEM E INTERAÇÃO NO ROMANCE DE JORGE AMADO
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III ANÁLISE DO CORPUS DA PESQUISA
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3.1 RESUMO BIBLIOGRÁFICO SOBRE O ESCRITOR JORGE AMADO
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3.2 O SINCRETISMO RELIGIOSO NA OBRA TENDA DOS MILAGRES 3.3 ANÁLISE DA OBRA TENDA DOS MILAGRES CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS ANEXO 01) PAINEL INFOBIBLIOGRÁFICO SOBRE A OBRA DE JORGE AMADO.
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I INTRODUÇÃO
O tráfico negreiro envolveu, cinco milhões de africanos que, trazidos na condição de escravos para o Brasil, trouxeram consigo também sua cultura, hábitos, língua, culinária, literatura oral e mitológica, música, dança e religião. A influência da cultura dos escravos africanos e dos seus descendentes marcou profundamente o Brasil inteiro, e em particular o estado da Bahia, mais precisamente Salvador, que é a capital do estado da Bahia, e é nesse ambiente que Jorge Amado faz viver a maior parte das personagens dos seus romances. O intuito da presente Monografia é aquele de examinar a obra literária Tenda dos Milagres (2001) do romancista Jorge Amado para evidenciar como o autor descreve e interpreta com riqueza simbólica e com forte presença dos elementos culturais de origem africana tais como a religião candomblé e as grandes festas populares e sincréticas. Na obra de Jorge Amado, Tenda dos Milagres (2001), é possível encontrar muitas referências ao Candomblé, religião afro-brasileira dos orixás e deuses de origem africana. Podemos analisar o Candomblé como uma religião dotada de sincretismos, pois, ao se formar no Brasil no início do século XIX, incorporou elementos de diversas religiões ao seu culto. O sincretismo religioso foi uma fonte importante para a formação dessa cultura afro-brasileira, partindo do princípio que somos miscigenados, ou seja, uma mistura de raças, crenças e culturas. Em uma análise etnocultural, é uma adaptação para as várias consciências humanas como também uma forma de uni-las e elevá-las a patamares maiores. Pode-se dizer então que para algumas religiões o sincretismo é importante porque faz com que vários cultos unam-se a um só culto, um só código ou um só elemento. Mais do que uma religião, o Candomblé e seus sincretismos tem sido uma fonte muito importante na formação da cultura brasileira, e muitos de seus elementos estão presentes na literatura, como é o caso de Tenda dos Milagres (2001), no cinema, no teatro e na televisão,
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na música popular brasileira, nos sambas enredo das escolas de samba, na culinária e mesmo em padrões estéticos, hábitos e valores que extravasaram dos terreiros para a cultura não religiosa. Jorge Amado contribuiu decisivamente com seus romances para a divulgação da cultura afro-brasileira, cultura essa que desde o tempo de sua formação até recentemente, sofreu intensa perseguição por parte de autoridades do governo, polícia e muitos órgãos da imprensa, que julgavam a religião e relutavam em aceitar os seus elementos como fatores contribuintes para a cultura brasileira, pois julgavam essa cultura magia negra, coisa de negro. O preconceito racial, que considerava o negro africano um ser inferior ao homem branco, se desdobrou em preconceito contra a religião fundada por negros livres e escravos. Ao longo de mais de um século, em diferentes partes do país, terreiros foram invadidos, depredados e fechados, pais e filhos de santo foram presos, objetos sagrados, profanados, apreendidos e destruídos tudo isso foi feito na tentativa de negar que a cultura e o povo brasileiro estavam sofrendo influências culturais, advindas da cultura afro. Não é por outra razão que a Constituição do Brasil de 1988 garante a liberdade do culto religioso e da religião, em seu artigo 5° inciso VI. O objetivo desta pesquisa é demonstrar que a cultura afro-brasileira, mais precisamente, o sincretismo religioso desta cultura, foi e é importante para o nosso processo de formação cultural e para a identidade nacional, mostrar que a cultura em fomento influenciou em grande parte da produção literária, cinematográfica e musical. A linha de pesquisa a que essa monografia está vinculada é Estudos Literários e o seu principal apoio teórico é a obra Teologia e literatura: reflexão teológica a partir da antropologia contida nos romances de Jorge Amado (1994), de Antonio Manzatto.
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II OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA PESQUISA
2.1 UMA BREVE VISÃO HISTÓRICA SOBRE O SINCRETISMO RELIGIOSO
Na obra Teologia e Literatura: reflexão teológica a partir da antropologia contida nos romances de Jorge Amado (1994), do escritor Antonio Manzatto, Jorge Amado tem sua vida e sua obra apresentadas. Nessa monografia, será feito um apanhado das informações mais relevantes, extraídas de apresentações e citações de sua obra e, aqui, citadas indiretamente, a partir da obra de Antonio Manzatto (1994). Quem lê os livros de Jorge Amado encontra em muitas de suas obras referências ao Candomblé, religião afro-brasileira dos orixás, deuses de origem africana. O sincretismo religioso, é definido por Antonio Manzatto em seu livro Teologia e Literatura (1994, p.121) como a fusão entre duas ou mais crenças religiosas. Verificou-se o processo de constituição do sincretismo que surgiu no Brasil a partir do século XVI e seu desenvolvimento e consolidação, com as características hoje conhecidas, até o século XIX. Leia-se Manzatto:
Visto a partir de Tenda dos Milagres, que afirma que não há superioridade de uma raça sobre outra, isso significa que a relação do homem com Deus deve acontecer sem que o ser humano seja obrigado abandonar sua própria cultura. Dito de outra maneira, a relação do homem com Deus deve ser possível a partir de sua própria cultura, porque senão haveria superioridade de uma cultura sobre as outras: uma cultura na qual seria possível uma relação com Deus, enquanto que o mesmo fato não seria possível em outras culturas. (MANZATTO, 1994, p.276)
O tráfico de escravos que se caracterizava pela captura e pelo transporte de negros de diversas regiões da África para o Brasil, foi um dos fatores deflagradores do hibridismo cultural e, em face das múltiplas crenças, lendas e tradições religiosas oriundas de diversas partes, tribos e etnias das quais descendiam e em que estavam inseridos os negros trazidos das
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muitas partes da África, pelo sincretismo religioso, produto do contato entre tantas influências culturais e religiosas e pela tentativa de preservação das crenças, dos rituais e da religiosidade. Houve também a necessidade de proteger-se e aos seus cultos e rituais, da arbitrariedade e do domínio do europeu branco e católico que dominava as colônias e impunha, inclusive pela força, a sua religião e a prática que a caracterizava.
Já que o homem é incapaz de viver fora da cultura, é dentro dessa cultura que ele afirma-se como pessoa, que ele relaciona-se com a natureza e com os outros homens e é também dentro dessa cultura que ele deve relacionar-se com Deus, sendo esse o lugar de sua salvação. (MANZATTO, 1994, p. 276)
Esta mistura de religiões surgiu no momento em que os africanos se viram obrigados a não praticar os rituais religiosos apreendidos de suas tradições, suas lendas e suas crenças, nas regiões africanas de onde eram arrancados, pois era proibida a prática de outra religião que não fosse o Catolicismo, por ser o Brasil um país colonizado e dominado pela Coroa Portuguesa e por suas relações com a Igreja Católica. Neste período, o Candomblé (que no Brasil define o que se pode chamar de culto afrobrasileiro, teve sua origem na África e possui dois significados entre os pesquisadores: Candomblé seria a modificação fonética de “Candomblé”, um tipo de atabaque usado pelos negros de Angola; ou ainda, viria de “Candombidé”, que quer dizer ato de louvar, pedir por alguém ou algo. A palavra Candomblé foi uma forma de denominar as reuniões feitas pelos escravos para cultuar seus deuses, porque também era comum chamar de Candomblé toda festa ou reunião de negros no Brasil) foi visto pela maioria dos brasileiros como bruxaria e reprimido pelas autoridades policiais. Os negros faziam associações entre os santos da Igreja Católica e os seus orixás (que foram divindades introduzidas pelos negros escravizados na África Ocidental e cultuados nos Candomblés e em outros cultos afro-brasileiros. Os orixás eram divindades e personalizavam
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forças naturais e outros fenômenos), para camuflar seus costumes religiosos. No ritual dissimulado, os escravos adoravam os santos Católicos quando na verdade, estavam venerando as entidades reconhecidas e identificadas de acordo com as crenças trazidas dos países da África, mantendo acesas suas crenças e rituais. Segundo Manzatto:
O sincretismo é um assunto controvertido, e não isento de preconceitos. Alguns o vêem como nefasto, por atentar contra a identidade; outros o vêem como positivo, por manifestar uma grande riqueza. O povo, um tanto distantes desses debates, o vive no dia-a-dia, sobretudo no candomblé instalado em terras baianas e retratado por Jorge Amado em suas obras. O fato é que o sincretismo existe, e por isso merece reflexão. Para os antropólogos e sociólogos, o sincretismo, especialmente o religioso, indica uma riqueza humana que não pode ser desprezada mas, ao contrário, deve ser valorizada. O “sincrético” é mais rico que o “puro”, e por isso lhe é preferível. (MANZATTO, 1994, p. 278)
A estratégia utilizada pelos negros acabava ludibriando os senhores, fazendo-os acreditar que eram os santos Católicos a razão da devoção deles. Os cânticos eram efetuados na língua original dos africanos, já que não se entendia o que eles estavam dizendo, os senhores de escravos e os religiosos Católicos supunham que havia louvor e adoração às imagens que simbolizam os santos da devoção Católica dos brancos. Segundo o sociólogo brasileiro Reginaldo Prandi, em seu artigo “Religião e Sincretismo em Jorge Amado”, (2002, p.50), para viver no Brasil, mesmo sendo escravo, e principalmente depois, sendo negro livre, era indispensável, antes de tudo, ser Católico. Por isso, os negros no Brasil que cultuavam as religiões africanas dos orixás, se diziam Católicos e se comportavam como tais. Além dos rituais de seus ancestrais, frequentavam também os ritos Católicos. O sincretismo religioso foi um mecanismo cultural decisivo para a reconstituição das religiões africanas no Brasil. A própria palavra “santo”, (tomada por empréstimo à definição Católica de indivíduo fiel à Igreja e exemplar em suas ações; capaz de representar, após a sua morte, depois de comprovadas suas ações milagrosas, a religião e inspirar a outrem o desejo
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de seguir e imitar a trajetória) e a expressão “filho de santo” serviram de tradução para “orixá”, inclusive nos termos “mãe de santo”, “filho de santo” ,“povo de santo” e outras palavras compostas em que, originalmente, a palavra africana era orixá. E a palavra “santo” representava os santos cultuados pelas tradições da Igreja Católica. Leia-se Manzatto:
É inegável que, com isso, eles trouxeram para dentro do universo católico do Brasil essas culturas e crenças; e por continuarem praticando seus ritos, também levaram para dentro de suas religiões elementos cristãos. (MANZATTO, 1994, p. 278)
O Candomblé se formou no contexto social e cultural Católico do Brasil. pelo sincretismo, os orixás passaram a ser identificados com os santos, sendo louvados, assim, pela fé dos negros, que conheciam as estratégias associativas do sincretismo. Ou, em outras palavras, percebiam que para terem liberdade de culto, deveriam adorar as imagens Católicas dos brancos, intimamente, atribuindo sua fé à evocação dos orixás, tanto nos terreiros, como nas igrejas. Naturalmente, em uma sociedade em constante processo de transformação, não apenas o sincretismo religioso, como necessidade imediata de possibilidade de culto e louvor, conforme tradições e identificação cultural preservados pelos e a partir dos ancestrais, é de se imaginar que o sincretismo, verificado no âmbito da fé e da religiosidade, a partir da miscigenação, do contato e da influência cultural que resultaria em cantos, obras, transmissão oral de contos, lendas, histórias e tradições, posteriormente resgatadas através da escrita (também em alguns momentos, híbrida de lenda e histórias, que contemplassem as experiências de brancos, negros e índios em uma terra em uma transformação), também produzisse reflexos na cultura e na arte. Antes da primeira constituição republicana brasileira, de 1988, o Catolicismo era a religião oficial do Estado e a única tolerada. Nesse período anterior à República, atos civis como o registro de nascimento e o casamento eram atribuições das paróquias Católicas.
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Quem era brasileiro tinha de ser Católico, ou não tinha lugar na sociedade. O Candomblé nasceu, assim, como uma espécie de segunda religião de negros Católicos, fossem escravos ou livres, nascidos no Brasil ou na África. Só recentemente o Candomblé foi se tornando uma religião autônoma, apartada do Catolicismo, mas o sincretismo ainda persiste na maioria dos terreiros. O Candomblé, que aos poucos vai deixando de lado o sincretismo, e ao longo dos anos se transformou em uma religião para todos sejam negros, brancos, pardos e sem fronteiras étnicas, de cor, classe social ou origem geográfica. Todas essas misturas de raças e religiões fizeram do povo brasileiro um povo miscigenado e sincrético, e Jorge Amado pode bem introduzir o assunto sobre a questão do sincretismo e da miscigenação do povo brasileiro, na qual a presente monografia pretende destacar a presença de alguns traços da herança cultural africana na obra do autor, com o intento de evidenciar, em particular, como os aspectos relacionados aos elementos míticos por ele inseridos na construção de sua literatura e que influenciaram autores nacionais a partir dele e da abordagem de seus romances e caracterizaram com destaque uma importante página da literatura brasileira, reconhecida em todo o mundo. Jorge Amado sempre salientou a importante contribuição das tradições de origem africana na criação da cultura brasileira “mestiça e sincrética” por ele constantemente exaltada, cultura nascida da união de tradições que, vindas da Europa e da África, no Brasil foram juntando-se para “abrasileirar-se”. Leia-se Jorge Amado:
Aqui tudo se misturou: - todas as coisas estão misturadas nessa terra. Mais do que misturadas; fundidas uma nas outras, formando uma coisa nova, baiana, brasileira, Anjos e exus, o barroco e o agreste, o branco e o negro, o mulato e o caboclo, o candomblé e a igreja, os orixás e os santos, tudo misturado. (AMADO, 1970, p.79).
A presença do elemento cultural afro-brasileiro destaca-se na obra de Jorge Amado e é evidente a importância que ele atribui à cultura popular que, no caso especifico do Brasil,
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resulta especialmente poderosa por causa da mistura do sangue, por ser fruto da convivência multiétnica e da mestiçagem. Na opinião de Jorge Amado, a cultura popular baiana possui a capacidade de conquistar através de todos os sentidos, e isso acontece, sobretudo, graças aos elementos africanos que têm enriquecido os valores importados pelos europeus com novos cheiros, sabores, cores e ritmos.
2.2 UM “ROMANCE SITUADO”
Jorge Amado é um autor que pode, seguramente, com suas obras, proporcionar um importante painel, um retrato da Literatura Brasileira e de sua evolução ao longo de todo o século XX. Em sua obra Teologia e Literatura: reflexão teológica a partir da antropologia contida nos romances de Jorge Amado, Antonio Manzatto (1994, p.116-117) declara:
Amado teve o cuidado de, ao final de cada romance, datá-lo com precisão. Isso significa inscrevê-lo em um tempo determinado, situá-lo. Com isso se afirma claramente a ligação do romance com o tempo pessoal do autor, o qual por sua vez é inscrito num tempo mais geral, um tempo histórico no qual se constrói a visão do escritor. (MANZATTO, 1994, p.116-117)
Sendo assim, Tenda dos Milagres (2001), aborda, velada ou explicitamente, situações e problemas vividos pelos brasileiros dos anos 1969-1970. É preciso lembrar que o fim da década de 60 é cheio de acontecimentos. A África fora sacudida, nos anos 60, por vários movimentos de libertação e independência e vive seus primeiros anos de descolonização. A Europa, marcadamente Inglaterra, França e Portugal, fora marcada pelos movimentos libertários africanos. Na América, os Estados Unidos vivem toda uma luta do povo negro pelo
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reconhecimento dos direitos civis, e a consciência da “negritude” espalha-se um pouco por todo o mundo. O Brasil vive a época da ditadura militar. Instaurado por um golpe de estado em 1964, o poder militar rapidamente organizou a repressão aos movimentos e simpatizantes esquerdistas, o governo via o comunismo como sendo o grande inimigo do país. Os partidos políticos foram colocados na clandestinidade, os movimentos estudantis e operários foram sistematicamente perseguidos; os líderes de oposição e dos movimentos populares presos, muitos deles torturados, alguns assassinados. Observe-se que é a partir de 1968 que a situação torna-se ainda mais difícil. Em dezembro daquele ano, o presidente da República assina o famoso Ato Institucional número 5, que restringe as liberdades individuais, fecha o parlamento e outorga poderes suplementares ao chefe do governo. Trata-se de um instrumento jurídico que serve para fundamentar a ditadura, sob a alegação do perigo sempre presente do comunismo. A partir daí, a repressão torna-se ainda mais violenta e o exército passa a desempenhar um verdadeiro papel de polícia, sobretudo, para reprimir “os crimes” políticos. O clima no país é de medo e de perseguição. Anos de repressão, anos de perseguição. É nessa época conturbada que Jorge Amado escreve Tenda dos Milagres (2001). Alusões a esses fatos não poderiam deixar de aparecer no romance. A respeito da demarcação do tempo nos romances, Vitor Manuel, em seu livro Teoria da Literatura afirma:
O tempo da diegese comporta um tempo objectivo, um tempo público, delimitado e caracterizado por indicadores estritamente cronológicos atinentes ao calendário do ano civil_ anos, meses, dias, sem esquecer em certos casos das horas, por informações relacionadas ainda com este calendário, mas apresentando, sobretudo um significado cósmico - ritmos das estações, ritmo dos dias e das noites por dados concernentes a uma determinada época histórica, etc. (AGUIAR E SILVA, 1999, p.746)
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É verdade que essa não é a época da trama do romance, ou ao menos não é a época da vida de Pedro Archanjo, o personagem principal do romance. Mas é a época das comemorações do centenário de seu nascimento, que são oficiais, isto é, patrocinadas pelos meios de comunicação e pelo poder estabelecido. Assim, críticas diretas à ditadura militar, à repressão e à falta de democracia podem ser notadas ao longo de todo romance, além disso, a perseguição policial aos negros e suas manifestações culturais podem ser vistas também como uma metáfora das perseguições policiais que ocorriam após o golpe militar de 1964; afinal, uma ligação da vida dos Candomblés com a situação social já havia sido feita em Jubiabá (2008), do mesmo autor, no qual os sons do Candomblé cruzam-se com a situação da greve, aproximando dois momentos e dois espaços de real libertação do povo simples de Salvador. Nesse momento, centrar o romance sobre o povo e sua sabedoria, em um momento em que a ideologia dominante continuava a favorecer um elitismo discriminador, não deixa de ser uma forte crítica contra o poder. Assim, a postura política da obra, também ela estruturante do romance, atravessa todas as tramas, e consiste em uma crítica ao poder estabelecido e à sociedade que ele prega e quer construir. O romance, por sua vez, defende um humanismo democrata, no qual o povo tenha participação, seja reconhecido em seu valor e não seja discriminado. Tenda dos Milagres, assim, é também um romance engajado politicamente, coerente com a linha de Jorge Amado, de crítica à ditadura e ao totalitarismo, pela democracia e participação popular. Esse romance é também uma obra situada no espaço. A ação desenvolve-se na Bahia, mais especificamente no coração da cidade de Salvador, o Pelourinho. Lá, o problema da miscigenação assume proporções diferentes do que poderia assumir em outros lugares do país. É Salvador a cidade do Brasil onde as influências da cultura negra são mais perceptíveis: na cozinha, na música, na dança, na religião, nos costumes, no dia-a-dia; lá a população negra é
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maioria, já que Salvador foi a Capital do Brasil colonial até início do século XIX e também o principal porto brasileiro por onde desembarcavam os escravos vindos da África. Se Salvador é a cidade de Jorge Amado, ela é também a cidade mais negra do Brasil, tanto do ponto de vista populacional como do ponto de vista cultural. O Candomblé, por exemplo, tem um papel quase que fundamental na vida da cidade, que é mesma camada de Roma negra, tal a importância que a religião assume aí, influindo, por exemplo, no calendário das festas da cidade. A influência da cultura negra na cozinha, na música, na dança, é perceptível nessa cidade como não é em outros lugares do país. Daí que situar o romance em Salvador não é apenas fruto do acaso, já que o autor é baiano; também não é a criação de um lugar para servir de palco ao romance; a temática do romance e o lugar onde ele se desenrola são complementares e influem um sobre o outro. O amor de Jorge Amado por Salvador é notório, tanto que vários de seus romances são aí situados. Antonio Manzatto, em seu livro Teologia e Literatura (1994), destaca que Tenda dos Milagres (2001) é um romance dividido em 16 capítulos e uma introdução. Cada um desses capítulos tem o título começando em “De” ou “Onde”, à maneira das clássicas publicações eruditas, e que Amado começa a usar a partir de Gabriela (1998). Para que se possa demonstrar, leia-se dois títulos de dois capítulos distintos do romance Tenda dos Milagres (2001): “De como o poeta fausto pena, bacharel em ciências sociais, foi encarregado de uma pesquisa e a levou a cabo” e “Onde se trata de gente ilustre e fina, intelectuais de alta categoria, em geral sabidíssimos.”. Essa maneira de intitular os capítulos não deixa de ser um recurso ao humor, mas aqui ela também se acorda com a estrutura do romance, que se apresenta como a publicação de uma pesquisa sobre a vida de Pedro Archanjo, uma pesquisa que se supõe “científica”, portanto “erudita”. Como é seu hábito, Jorge Amado começa seu livro dedicando-o a mulher, Zélia, e a outros amigos. Em seguida ele apresenta duas paginas de citações; em uma delas cita o poeta
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baiano da escola literária barroca Gregório de Matos “Isto sois minha Bahia, Isto passa em vosso burgo” (2001, p. VIII) e na outra, um relatório policial sobre o personagem Pedro Archanjo, “Pardo, paisano e pobre - tirado a sabichão e a porreta.” (2001, p.IX) A passagem entre uma citação e outra se dá com outra citação, sobre Gregório de Matos. Uma aproximação voluntária entre o poeta baiano da época do Barroco, a quem Jorge Amado admira, e a personagem de Tenda dos Milagres (2001). Uma aproximação bem ao gosto de Amado, juntando ficção e realidade, personagens reais e personagens imaginários, e pondo assim o romance, que todos sabem ser ficção, dentro da verossimilhança da vida cotidiana. Vitor Manuel de Aguiar e Silva em sua obra Teoria da Literatura (1999), afirma que na evolução das formas literárias, durante os últimos três séculos, avulta como fenômeno de capital o desenvolvimento e a crescente importância do romance enquanto gênero literário: Leia-se a citação de Aguiar e Silva:
Alargando continuamente o domínio de sua temática, interessando-se pela psicologia, pelos conflitos sociais e políticos, ensaiando constantemente novas técnicas narrativas e estilísticas, o romance transformou-se, no decorrer dos últimos séculos, mas, sobretudo a partir do século XIX, na mais importante e mais complexa forma de expressão literária dos tempos modernos. De mera narrativa de entretenimento, sem grandes ambições, o romance volveu-se em estudo da alma humana e das relações sociais, em reflexão filosófica, em reportagem, em testemunho polêmico, etc. O romancista, de autor pouco considerado na república das letras, transformou-se num escritor prestigiado ao extremo, dispondo de um público vastíssimo e exercendo uma poderosa influência nos seus leitores. (AGUIAR E SILVA, 1999, p. 671).
Pode-se dizer que o romance Tenda dos Milagres (2001) é um romance de espaço, pois o personagem Pedro Archanjo encontra-se inserido no meio histórico e nos ambientes sociais presentes no romance. Aguiar e Silva diz ainda que o romance pode ser denominado de romance de espaço pois “o romance de espaço é o romance que se caracteriza pela primazia que se concede à pintura do meio histórico e dos ambientes sociais nos quais decorre a intriga”. Algo que se encontra, mesmo que numa análise superficial, nas obras de Jorge Amado.
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2.3 LINGUAGEM E INTERAÇÃO NO ROMANCE DE JORGE AMADO
De maneira geral, pode-se dizer que Jorge Amado se utiliza, em seus romances, da linguagem popular do Brasil, da forma como ela é falada pela gente simples do povo. Ela está bem dentro da tradição do “romance nordestino”. Com efeito, a linguagem literária do nordeste é a linguagem do povo, tal como é falada nas ruas e nos campos. Essa linguagem popular é marcada não apenas por um vocabulário próprio, mas igualmente por uma forma particular de apropriação das regras gramaticais. Assim sendo, a linguagem popular exige também uma gramática popular, que não significa necessariamente solecismo (que é uma inadequação na estrutura sintática da frase com relação à gramática normativa do idioma), mas que é a forma corrente do povo expressar-se:
A linguagem exerce um papel importante na sociedade, pois através dela, o homem se constitui como sujeito, estabelece as relações sociais, retrata o conhecimento de si próprio e do mundo no qual está inserido. Pela linguagem, podemos reconhecer e diferenciar o usuário dos diferentes agrupamentos, estratos sociais, grau de escolaridade, entre outros aspectos: É um parâmetro que permite classificar o indivíduo de acordo com a sua nacionalidade e naturalidade, sua condição econômica ou social, é freqüentemente usado para discriminar e estigmatizar o falante. (LEITTE & CALLOU, 2002, p. 07)
Essa gramática popular foi trazida à Literatura pelo “romance regionalista” principalmente, embora ela já estivesse presente na literatura de Cordel, da qual Jorge Amado era um admirador. Diferente da “língua oficial” no vocabulário e no uso da gramática, essa linguagem popular, traduzida em linguagem literária, nos romances regionalistas e, muito especialmente, nos romances de Jorge Amado, é também no estilo, na frase curta, no modismo que caracteriza suas expressões um grande expoente das letras literárias brasileiras. Uma expressão artística, cultural, social, representativa de um sincretismo religioso, de uma luta contra o preconceito e divulgadora das belezas e das histórias saídas das entranhas do Brasil, resgatadas ou inventadas com as cores, a fé, e a história do povo brasileira. Para que
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se compreenda a realidade linguística das classes subalternas descritas na obra de Jorge Amado, busca-se uma fundamentação na obra de Paulo Tavares na obra O baiano Jorge Amado e sua obra (1992). Leia-se Paulo Tavares:
[...] Eram palavras conhecidas de todo o mundo, dessas não usadas abertamente, mas apareciam no entrecho, reproduzindo o léxico das suas personagens e a ousadia para opor - se à rotina, como fizeram Chaucer, Shaskespeare, Rabelais, Gil Vicente, retrataram fielmente os costumes e a linguagem do povo, deram expressão literária ao falar popular em que o povo é a fonte de tudo. (TAVARES, 1982, p.189).
E essa utilização literária da linguagem popular passa a ser, a partir do “romance regionalista”, uma característica de destaque na literatura brasileira, de tal forma que a poesia e o romance atuais continuam a empregar essa linguagem. Sobre os personagens Vitor Manuel de Aguiar e Silva em sua obra Teoria da Literatura (1999, p.687), afirma que “a personagem constitui um elemento estrutural indispensável à narrativa romanesca. Sem personagem ou pelo menos sem agente, não existe verdadeiramente narrativa [...]”. No caso especifico de Tenda dos Milagres (2001), os personagens constituem papeis fundamentais, pois só podemos analisar o sincretismo e a questão da miscigenação dos povos, a partir do comportamento e dos costumes dos personagens. A respeito da importância do personagem na obra, Antonio Manzatto afirma:
Por isso, os personagens podem tornar-se um lugar privilegiado para perguntar-se sobre a antropologia de um romance ou de um romancista, na mediada em que os personagens são exatamente os seres que habitam o mundo da obra e que é através deles que se desenvolve a história do romance. Ver como eles vivem, como agem, que valores defendem, o que são e o que fazem, pode ajudar compreender a idéia de homem que se encontra subjacente a esses personagens. Assim, se o mundo da obra faz referência ao mundo real, o mesmo acontece com seus habitantes, que revelam formas possíveis de habitar o mundo e, dessa maneira, possuem um grande interesse antropológico. (MANZATTO, 1994, p.145)
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Sem a presença do personagem principal que é Pedro Archanjo, seria difícil expor a questão do sincretismo religioso, pois, é em torno do personagem que toda a questão de luta a favor do sincretismo se desenvolve. O sincretismo religioso na obra Tenda dos Milagres (2001) é um assunto que aparece constantemente. Em um primeiro momento, podemos ver o sincretismo religioso como uma prática do povo mestiço, que não mestiço só na pele, mas também na sua cultura.
Rasgou a madeira num encantado desmedido, Oxóssi, o grande caçador; mas não de arco e flecha e sim de espingarda. Era um Oxossi diferente: sendo com certeza aquele mesmo rei de Keto e dono da floresta, mais parecia com Lucas da Feira, com bandido do sertão ou cangaceiro, com Besouro [...] assim viu Agnaldo a Oxóssi e assim o fez: de chapéu de couro, peixeira e espingarda e na aba do chapéu a estrelado canganço. O babalorixá o recusou, profana imagem [...]. (AMADO, 2001, p. 03)
Percebe-se a presença do sincretismo não só com elementos religiosos, mas também com elementos pertencentes à história do povo brasileiro e de sua literatura. Nota-se que o sincretismo religioso na obra Tenda dos Milagres (2001) é abordado também como uma questão política, além de religiosa. Pois, em determinados momentos, todos os representantes daquela cultura se encontram e cada um assume o seu posto, a sua função. Por ser uma prática ilícita na época, os mestiços e sincréticos precisam de seus representantes diretos, aqueles que eram ligados diretamente a mesma cultura e a mesma ideologia.
Ali se fundam ternos de reis, afoxés de carnaval, escolas de capoeira, acertam-se festas, comemorações e tomam-se as medidas necessárias para garantir o êxito da lavagem da igreja do Bonfim e do presente da Mãe-d’água. A Tenda dos Milagres é uma espécie de Senado, a reunir os notáveis da pobreza, assembleia numerosa e essencial. Ali se encontram e dialogam iyalorixás, babalaôs, letrados, santeiros, cantadores, passistas, mestres de capoeira, mestres de arte e ofícios, cada qual com seu merecimento. (AMADO, 2001, p.91)
Percebe-se na obra a prática do sincretismo religioso como algo também político, pois, ao se reunirem só se reúnem os representantes oficiais dessas culturas populares. Nota-se a questão do sincretismo religioso, como uma mistura de religiões, é no momento em que o
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personagem de Pedro Archanjo vai ser enterrado, em que o autor da obra, coerente com sua proposta sincrética do início ao fim do romance, e destina ao seu personagem principal, em seu momento derradeiro um enterro em um cemitério Católico, mas com ritual nagô.
O carro fúnebre e os ônibus superlotados partem em direção ao Cemitério das Quintas onde, em terras de sua confraria católica, Ojuobá, os olhos de Xangô, tem direito a jazigo perpétuo. [...] Obás e ogãs, alguns dobrados ao peso da idade, anciãos de cansada travessia, O major e o santeiro Miguel tomam do caixão e por três vezes o suspendem acima do povo, por três vezes o baixam à terra no início do ritual nagô. (AMADO, 2001, p.38)
Com esse desfecho, percebe-se que o sincretismo religioso foi muito importante para difundir a questão da mistura de práticas religiosas, assim como o homem brasileiro é miscigenado é também miscigenada a sua cultura e a sua crença, o homem brasileiro não é branco nem negro, é misturado, miscigenado, portanto, a sua cultura e sua crença também se fundem em um dado momento. Não é uma cor aparente que define os sujeitos em suas práticas sociais. Sabe-se, no entanto, que há indivíduos que se orientam pela superficialidade dessa orientação, por desprezo, medo do preconceito, desconhecimento ou para se eximir de uma discussão sobre os traços sócio-culturais, históricos e religiosos da formação de qualquer povo. Não há como negar que a formação do povo brasileiro congrega elementos multiculturais, elementos de uma religiosidade sincrética que organiza e demanda estruturas sociais e culturais; que há miscigenação na formação da identidade racial e cultural de todos os brasileiros. Jorge Amado, que durante algumas décadas foi o romancista brasileiro mais conhecido no exterior, e é, sem favor algum, ainda hoje um dos autores brasileiros mais conhecidos, sabia disso. Experimentou essas sensações, pensou sobre esse processo, em profundidade tamanha, que se poderia, a partir de seus textos, contextualizar informações que sustentariam não apenas uma monografia, mas uma tese. Não apenas um texto, mas a mudança nos paradigmas que regem a maneira como se vê a sociedade brasileira.
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III ANÁLISE DO CORPUS DA PESQUISA
3.1 RESUMO BIBLIOGRÁFICO SOBRE O ESCRITOR JORGE AMADO
As obras de Jorge Amado ultrapassam as fronteiras do Brasil, por ter sido um autor popular suas obras foram divulgadas e traduzidas em diversas línguas, publicadas em diversos países. Ultrapassa também as fronteiras da literatura, na mediada em que várias suas obras foram adaptadas para o cinema, televisão, teatro e música. Jorge Amado de Faria era filho de João Amado de Faria e de D. Eulália Leal, nasceu no dia 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, em Ferradas, município de Itabuna, zona baiana do cacau, apesar de o registro civil arrolá-lo entre os nascidos no município de Ilhéus. Alguns autores situam o seu nascimento em Pirangi, vilarejo que mais tarde chamar-se-á Itajuípe; é Amado mesmo quem diz que alguns verbetes em dicionários e enciclopédias, certas notícias bibliográficas fazem-lhe nascido em Pirangi. Em verdade, sucedeu o contrário ele viu Pirangi nascer e crescer. Filho de plantadores de cacau, Jorge Amado faz seus estudos primários em Ilhéus e depois vai a Salvador para os estudos secundários no colégio dos padres Jesuítas. Jorge Amado possui uma vasta obra, dentre elas estão algumas das mais consideráveis, O país do Carnaval (1931), Cacau (1934), Suor (1934), Jubiabá (1934), Mar Morto (1936), Capitães de Areia (1937), ABC de Castro Alves (1941), O cavalheiro da esperança (1942), Terras do Sem Fim (1943), São Jorge do Ilhéus (1944), Bahia de Todos os Santos (1945), Seara Vermelha (1946), Os subterrâneos da Liberdade (1952), Gabriela Cravo e Canela (1958), Os pastores da noite (1963), Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966), Tenda dos Milagres (1969), que é o livro de trabalho dessa monografia.
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O romance Tenda dos milagres foi adaptado para o cinema e foi dirigido por Nelson Pereira dos Santos em 1977. A maior parte das filmagens ocorreu na cidade de Salvador. Jorge Amado foi um dos romancistas mais lidos no Brasil e no mundo. Com livros traduzidos para diversos idiomas. Suas personagens geralmente são plantadores de Cacau, pescadores, artesão e gente que vive próximo ao cais, em Salvador Capital da Bahia. Jorge Amado escrevia o que se pode definir como literatura de engajamento, ao se considerar suas obras pelo viés das leituras sociológica, ideológica e política. Pode-se considerar as suas obras como retrato da miscigenação, do multiculturalismo e dos costumes do povo brasileiro, sem, no entanto, carregá-las com esquematismos teóricos, ou arquétipos antropológicos, pode-se ter algumas das mais importantes passagens da literatura como arte e como testemunho histórico, numa das mais bem sucedidas e relevantes obras literárias de que se tem notícia na literatura em todo mundo. Jorge Amado foi eleito, por unanimidade para a cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, a 06 de abril de 1961. No dia 21 de junho de 2001, Jorge Amado é internado com uma crise de hiperglicemia e tem uma fibrilação cardíaca. Após alguns dias, retorna à sua casa, porém, em 06 de agosto volta a se sentir mal e falece na cidade de Salvador às 19h30min. A seu pedido, seu corpo foi cremado e suas cinzas foram espalhadas em torno de uma mangueira em sua residência no Rio Vermelho. A última obra de Jorge Amado foi A descoberta da América pelos turcos, (1992), o livro foi escrito por encomenda, em função das comemorações do V Centenário do Descobrimento da América. Segundo A Fundação Casa de Jorge Amado o seu livro A descoberta da América pelos turcos (1992), era definido como um “romancinho” sem compromisso, feito para contar a vida de migrantes árabes na Bahia dos coronéis do cacau.
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3.2 O SINCRETISMO RELIGIOSO NA OBRA TENDA DOS MILAGRES DE JORGE AMADO
A obra Tenda dos Milagres foi escrita em 1969, entre os meses de março e julho, como assinala Jorge Amado, ao final do romance, ao datá-lo. Publicado em 1970, foi posteriormente adaptado para o cinema e para a televisão, além de ter sido traduzido em muitas línguas e publicado em vários países, o que, de resto, acontece com praticamente toda a obra de Amado.
Trata-se de um livro sobre o a miscigenação do povo brasileiro, o racismo e o sincretismo religioso, problemática que, de certa forma, Amado já havia tratado em Jubiabá (2008) e em Pastores da Noite (1998). Se isso apenas confirma uma das características da obra de Jorge Amado, a da retomada de temas e personagens. É preciso notar, porém, que a retomada da abordagem ao tema do racismo é também um aprofundamento da questão. Jubiabá (2008) abordava não propriamente o racismo, mas sim a importância e o valor da cultura negra, ligando essa questão com a questão das classes sociais. Os Pastores da Noite, ao pôr em cena o povo simples da Bahia em sua busca de amor e dignidade, já é um prenúncio do que virá em Tenda dos Milagres (2001). Se o segundo episódio de Os Pastores da Noite (1998), abordando o candomblé e o Sincretismo Religioso, prefigura já toda a questão cultural que irá aparecer em Tenda dos Milagres (2001), a presença do personagem Jesuíno Galo-Doido, sobretudo no terceiro episódio, prefigura o personagem de Pedro Arcanjo de Tenda dos Milagres. Mas mesmo se algo de Tenda dos Milagres pode ser encontrado em outros romances de Jorge Amado, o racismo não é abordado senão nesse romance de 1969.
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Outra característica da obra de Jorge Amado presente em Tenda dos Milagres (2001) é o combate pela liberdade; o romance não é apenas ligado ao problema de raças e do sincretismo religioso, mas esse problema é ligado à questão da liberdade, sem a qual nenhum homem é plenamente humano e sem a qual a conquista da felicidade torna-se impossível. E isso deve ser ligado à presença do povo simples e humilde na obra. Leia-se Jorge Amado:
O título da magra separata, memória apresentada a um congresso cientifico e transcrita numa revista médica, já lhe revelava o conteúdo: A degenerescência psíquica e mental dos povos mestiços- o exemplo da Bahia. Meu Deus, onde fora o professor buscar informações assim tão categóricas? Maior fator do nosso atraso, de nossa inferioridade, constituem os mestiços sub-raça incapaz. Quanto aos negros, na opinião do professor Argolo, não tinham ainda atingido a condição humana: em que parte do mundo puderam os negros constituir Estado com um mínimo de civilização? Perguntara ele a seus colegas de congresso. (AMADO, 2001, p.94)
Jorge Amado gostava de ser tratado como um romancista dos vagabundos e das prostitutas; isso que, para muitos, seria uma crítica intolerável; para ele era um elogio. Mas Jorge Amado não via essas pessoas como coitadas a quem faltava tudo ou quase tudo; não era uma visão de quem tinha pena dessas pessoas. Era, antes de tudo, uma visão de quem conhecia o seu interior, de quem conviveu com elas e de quem sabe seus defeitos, deficiências e carências, mas também de seus valores. Nesse sentido, é interessante perceber que Tenda dos Milagres (2001) começa descrevendo o ambiente da “Universidade popular do Pelourinho” que é a Tenda dos Milagres, onde aprende-se tudo que a vida pode ensinar (2001, p.13), cuja “reitoria” encontrase na própria Tenda dos Milagres dos personagens Lídio Corró e Pedro Archanjo. Esse povo pobre e simples na Bahia é um povo negro e mestiço. E aqui o problema social se junta ao problema das questões raciais. A situação usada para evocar esses problemas é o início do século, que mais tarde vai desembocar no nazismo. O romance é situado, pois trata-se de uma obra de perseguição e de repressão aos negros e sua cultura. Jogando, porém, com vários tempos na narração, Amado
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alude também à época em que o romance foi escrito: o final da década de 60 no Brasil também foram anos de perseguição e de repressão.
3.3 ANÁLISE DA OBRA TENDA DOS MILAGRES
A obra Tenda dos Milagres (2001) mostra a questão do sincretismo como um fator que define a nossa cultura e define o tipo ideal brasileiro na figura do mestiço sincrético, este representaria o encontro de todas as etnias gerando a ideia de “democracia racial”. Por isso, ao defender a cultura mestiça e sincrética, o personagem Pedro Archanjo profetiza um futuro onde tudo tenha se misturado e todos serão mestiços e sincréticos.
[...] tudo já terá se misturado por completo e o que hoje é mistério e luta de gente pobre, roda de negros e mestiços, música proibida, dança ilegal, candomblé, samba, capoeira, tudo isso será festa do povo brasileiro, música, balé, nossa cor, nosso riso, compreende. (AMADO, 2001, p. 317-8)
O personagem principal, Pedro Archanjo, que é um estudioso da cultura popular brasileira e da mistura de raças e etnias, reforça a tese de que somos miscigenados e sincréticos, não viemos de uma única raça somos miscigenados, porque somos provenientes do índio, do europeu e do negro, por isso a miscigenação da raça é incontestável, e somos sincréticos porque incorporamos todos esses elementos culturais e religiosos e transformamos em um só. Nova identidade social, religiosa, artística e cultural. Essa identidade é a nacionalidade, a brasilidade do povo brasileiro e o personagem Pedro Archanjo é, evidentemente, o exemplo típico dessa nova identidade brasileira. Mestiço ele mesmo, “pardo”, é mestiça e sincrética também sua formação, pois ele é, ao mesmo tempo, profundo conhecedor das tradições africanas, sendo mesmo Ojuobá, que quer dizer “os olhos de Xangô”, ou seja, os olhos do pai, e também conhecedor da cultura ocidental. Sua formação é
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pois, eclética, do ponto de vista cultural, mestiça quanto à sua raça, sua origem e sincrética, considerando-se a sua formação religiosa, seu culto. Leia-se Jorge Amado:
[...] salvaram-se apenas os que estavam guardados na mansarda, os de leitura quotidiana, de cabeceira. Lá se foram presos Frazer e Oliveira Martins, Havelock Ellis e Alexandre Dumas, Couto de Magalhães, Franz Boas, Nina Rodrigues, Nietzsche, Lombroso e Castro Alves, muitos outros, extensa lista de filósofos, ensaísta, romancistas, poetas dezenas de volumes, a tradução em espanhol de O capital numa edição barata, de texto resumido, impressa em Buenos Aires, e o Livro de São Cipriano. (AMADO, 2001, p. 289)
Assim, por exemplo, a formação do personagem Pedro Archanjo não se dá somente pelo conhecimento e vivência dos costumes trazidos ao Brasil pelos escravos africanos, mas também pelo conhecimento do que forma a raiz da cultura ocidental: “ dos orixás, o personagem de Pedro Archanjo sabia a completa intimidade; de outros heróis também, Hércules e Perseu, Aquiles e Ulisses”. Archanjo conhece também obras que são marcos da dessa cultura ocidental como as obras que citam a Mitologia Grega, O Velho Testamento, Dom Quixote de La Mancha (1605) além de conhecer poetas brasileiros como Castro Alves e Gonçalves Dias. Sua formação é, portanto, mestiça e muitas vezes sincrética, ele é conhecedor da mitologia greco-romana que se situa na origem da civilização latina, como mostram as alusões a Hércules e a outros heróis gregos; mas ele também conhece a mitologia africana, ou afro-brasileira, visto que dos orixás, Pedro Archanjo sabia a completa intimidade. Leia-se a fala do personagem Pedro Archanjo (AMADO, p. 153): “Que mais hei de querer Madama, hoje é um dia abençoado: quarta-feira, dia de Xangô, e eu sou Ojuobá, seus olhos bem abertos para tudo ver e tudo saber, dos pobres com preferência, mas também dos ricos, quando necessário.” As alusões a esses fatos são constantes em Tenda dos Milagres (2001), constituem elementos que pertencem, basicamente, à cultura popular, em que podem ser discernidos traço da influência cultural africana. Mas como a cultura é algo dinâmico e não
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estático, ela evolui. Sendo assim, os elementos negros presentes na cultura popular não são puramente africanos, mas são também influenciados e modificados por essa cultura popular já existente. Em Tenda dos Milagres (2001), a valorização dessa cultura popular mestiça e sincrética pode ser vista em várias passagens do romance. É assim, por exemplo, quando se fala dos ABCs que narram episódios da vida do personagem Pedro Archanjo:
Sua troça carnavalesca, os filhos da Bahia: em 1918 os afoxés retornaram, após quinze anos de proibição, mas Archanjo já não lhes deu tempo e o interesse de antes, emobora ainda tivesse participado, a pedido de mãe Aninha, da diretoria dos Pândegos da África quando seu glorioso estandarte voltou a percorrer o carnaval, lavantado nas mão de Bibiano Cupim, axogun do candomblé do Gantois. Afoxé significa encantamento, e o primeiro de todos, o inicial, fora posto em mãos de Pedro Archanjo por Majé Bassã a temível [...] (AMADO, 2001, p. 67)
Ou quando se fala de costumes, da culinária, da música e das danças baianas, com destaque para a capoeira aquela dança que veio das senzalas e que “sem deixar de ser luta foi balé” (AMADO, p.13). A grande insistência sobre isso dá-se ao longo do início da obra, em que se aponta a perspectiva do romance e traça-se o quadro de referência da obra. Trata-se do capítulo de introdução ao romance, que se situa a “universidade popular do Pelourinho” que é a própria Tenda dos Milagres e que fala de quase todas as formas de expressão da arte e da sabedoria popular, cultura mestiça e sincrética feita não por sábios eruditos, mas pela gente simples do povo, homens brancos, negros e mulatos:
No amplo território do Pelourinho, Homens e mulheres ensinam e estudam. Universidade vasta e vária, se estende e ramifica no Tabuão, nas Portas do Carmo e em Santo Antônio, nos mercados, no Maciel, na Lapinha, no Largo da sé, no Tororó, na Barroquinha, nas Sete Portas e no Rio Vermelho, em todas as partes onde homens e mulheres trabalham os metais e as madeiras, utilizam ervas e raízes, misturam ritmos, passos e sangue; na mistura criaram uma cor e um som, imagem nova original. (AMADO, 2001, p. 01).
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Outra forma de promover essa cultura mestiça, sincrética e popular é a apresentação de sua religião. Em Tenda dos Milagres (2001) essa religião é, sobretudo, o Candomblé, no qual o personagem Pedro Archanjo exerce mesmo as funções de Ojuobá, um dos dignitários desse culto. É em torno do Candomblé que a cultura negra tenta preservar-se e continuar viva. Segundo Leonardo Boff (1990, p. 23), toda cultura elabora também a sua religião que se articula com as demais instâncias e, nesse sentido, a religião funciona praticamente como a alma da cultura, que é constitutiva de sua identidade, a defesa de uma cultura passa pela defesa de sua religião. Sabe-se que mesmo sendo um homem mestiço e pobre, o personagem de Pedro Archanjo também é um homem culto e de ciência, por isso ele é questionado pela sociedade aristocrática que não acredita na sua cultura, o porquê um homem culto acredita no Candomblé que, para eles, não passa de superstição. Sendo assim, cria-se uma curiosidade o motivo pelo qual o personagem de Pedro Archanjo continua participando das cerimônias do Candomblé e carregando consigo o título de Ojuabá? Foram encontrados três motivos que aqui serão enumerados. O primeiro motivo é que o Candomblé, com seus orixás e seus ritos, é um bem do povo, constitutivo de sua cultura, e que deve ser preservado. Eu penso que os orixás são um bem do povo. A luta de capoeira, o samba-de-roda, os afoxés, os atabaques, os berimbaus são bens do povo. Todas essas coisas e muitas outras mais que o senhor, com seu pensamento estreito quer acabar. (AMADO, 2001, p. 271).
Sabendo que o personagem Pedro Archanjo pertence a essa gente, a esse povo mestiço e sincrético, só lhe resta assumir essa cultura, assumindo também, por consequência suas práticas culturais e religiosas. [...] como Já lhe disse, gosto de dançar e de cantar, gosto de festa, antes de tudo de festa de candomblé. Ademais, há o seguinte: estamos numa luta, cruel e dura. Veja com que violência querem destruir tudo que nós, negros e mulatos, possuímos, nossos bens, nossa fisionomia [...] gosto de ir ao terreiro, adoro puxar cantiga e
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dançar em frente aos atabaques, trago tudo isso no sangue. (AMADO, 2001, p. 270)
O segundo motivo apresentado é a luta pela dignidade do povo, sobretudo do povo negro, raiz também da mestiçagem e do sincretismo brasileiro, já que na época o Candomblé era visto como subversão, e quem praticava o Candomblé era visto como subversivo, o que mostra que o personagem de Pedro Archanjo acima de mais nada lutava contra essa opressão e proibição do estado e para ele tratava de uma questão de escolha, escolher qual lado lutar. Nota-se também que há subentendido uma questão política por parte do personagem, por ele ter recebido o titulo de Ojuobá, ele teria o sido o escolhido, ou seja, o “encarregado político” para chefiar essa briga:
[...] estamos em uma luta, cruel e dura. Veja com que violência querem destruir tudo que nós, negros e mulatos, possuímos, nossos bens, nossa fisionomia. Ainda há pouco tempo, com o delegado Pedrito, ir a um candomblé era um perigo, o cidadão arriscava a liberdade e até a vida [...] O senhor pensa que, se eu fosse discutir com o delegado Pedrito, como estou discutindo com o senhor, teria obtido algum resultado? Se eu houvesse proclamado o meu materialismo, largado de mão o candomblé, dito que tudo aquilo não passava de um brinquedo de criança, resultado do medo primitivo, da ignorância e da miséria, a quem eu ajudaria, professor, ao delegado Pedrito e a sua malta de facínoras. (AMADO, 2001, p. 270271)
Trata-se de escolher o campo no qual se combate. A participação do personagem Pedro Archanjo no Candomblé situa-se na mesma linha de seu combate intelectual contra o racismo e a intolerância religiosa, é uma forma de luta pelo respeito aos negros e mulatos e pela sua liberdade. Há ainda um terceiro motivo, o personagem de Pedro Archanjo é um que estuda a ciência, portanto é um materialista declarado, porém não se limita a esse materialismo. O personagem de Pedro Archanjo participa do Candomblé por um ato livre e, consequentemente, como uma forma de defender a liberdade.
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Tudo aquilo que foi meu lastro, terra onde tinha fincado os pés, tudo se transformou num jogo fácil de advinhas. O que era milagrosa descida dos santos reduziu-se a um estado de transe que qualquer calouro da Faculdade analisa e expõe. Mas nem por isso deixo de ir ao terreiro e de exercer as funções do meu posto de Ojuobá, cumprir meu compromisso. Não me limito como o senhor que tem medo do que os outros possam pensar, tem medo de diminuir o tamanho do seu materialismo. (AMADO, 2001, p. 270)
Ao homem mestiço corresponde a uma cultura mestiça que, por sua vez, elabora uma religião mestiça. Daí a valorização do Candomblé e de seus sincretismos dentro da obra. Sendo assim, a questão religiosa tal como ela aparece na obra, situa-se em perfeita concordância com o personagem de Pedro Archanjo e com a temática do romance. É, ela também, uma forma de combate ao racismo e de afirmação da dignidade do povo negro e mestiço da Bahia, pela valorização de sua cultura. Na obra Tenda dos Milagres (2001), nota-se claramente o intuito de criticar a postura das autoridades frente ao Candomblé e coloca em questão o sincretismo religioso, que é discriminado por ser uma prática dos mestiços, mediante a todo esse contexto há uma violência muito grande contra a cultura dos mestiços e contra o sincretismo religioso.
A guerra santa do delegado-auxiliar Pedrito Gordo prosseguiu anos afora e aos poucos a tenaz resistência das mães e pais-de-santo começou a ceder. Na crônica da vida urbana, na roda de samba, na cantiga de capoeira, o povo registrava os lances da perseguição [...] Muitos babalorixás e Yalorixás levaram axé e santos para longe, expulsos do centro e dos bairros vizinhos para roças distantes, locais de difícil acesso. Alguns terreiros menores não puderam resistir a tanta perseguição, desapareceram de vez. Vários reduziram o calendário de festa às obrigações imprescindíveis, realizadas às escondidas. (AMADO, 2001, p. 257-258)
Nesse ponto do texto, há um paralelo entre o contexto social predominante no país, cuja sociedade era composta por sua maioria de Católicos, religião até então dos brancos, e era a única religião tolerada na época, em que se passa o romance, não era permitido que se professasse qualquer outro tipo de religião, principalmente as religiões afro-brasileiras, que significava “coisa de mestiço”.
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Na Obra Tenda dos Milagres (2001), o narrador utiliza-se muitas vezes da palavra “santo”, como por exemplo, filho de santo e mãe de santo, como uma metáfora para referir-se aos orixás, isso acontece por conta do sincretismo religioso que incorpora elementos de outra religião ao seu contexto. No caso especifico do romance analisado, do catolicismo. Leia-se outra passagem do romance:
[...] Mãe Senhora, de Opô Afonjá, as respeitáveis matronas, nem elas guardavam segredos para o velho, tudo lhe revelando de mão beijada – aliás os orixás assim tinham ordenado, para Ojuobá não há porta fechada. Ojuobá, os olhos de Xangô, agora ali estirado morto junto ao passeio. (AMADO, 2001, p. 26)
Sabe-se que o título da obra analisada é Tenda dos Milagres (2001), partindo do significado da palavra “Tenda” que significa comunhão com Deus, um momento de maior intimidade com o senhor. “Tenda” fala de um tempo a sós com o próprio Deus, para aprendizado, descanso e fortalecimento espiritual. Já a palavra “milagre” significa forma de teatro religioso que foi muito popular na Idade Média. Os milagres tratavam das vidas dos santos ..., a preposição “de” possui diversas variantes e uma delas é que ela pode ser usada quando introduz um complemento circunstancial e por isso ela exprime a origem, o ponto de partida ou o distanciamento no tempo ou no espaço. Partindo da análise do título da obra, podemos dizer que a Tenda dos Milagres dos personagens de Lídio Corró e Pedro Archanjo era o ponto de partida de toda a fé daquela gente mestiça e sincrética da Bahia, e era onde toda aquela gente realizava sua comunhão com os “deuses”, orixás e santos.
Na Tenda dos Milagres, Ladeira do Tabuão, 60, fica a reitoria dessa universidade popular. Lá mestre Lídio Corro riscando milagres, movendo sombras mágicas, cavando tosca gravura na madeira; lá se encontra Pedro Archanjo Ojuobá, o reitor, quem sabe? Curvados sobre velhos tipos gastos e caprichosa impressora, na oficina arcaica e paupérrima, compõem e imprimem um livro sobre o viver baiano. (AMADO, 2001, p. 05)
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Pode-se analisar também a composição do nome do personagem principal que é Pedro Archanjo, mais conhecido como Ojuobá, Pedro é um nome bíblico e significa rochedo, “Archanjo” significa seres superiores aos anjos e são maiores as suas responsabilidades. São eles que velam pela natureza, pelas nações, pela humanidade e a paz de forma mais coletiva. São mensageiros de um poder mais elevado. Ojuobá é uma palavra da língua Yorubá que significa “Olhos do Rei” ou “Olhos de Xangô”, é um título honorífico dado àqueles que se tornassem altos sacerdotes e dignitários do culto de Xangô, nos Candomblés. Foi um título dado ao personagem de Pedro Archanjo dentro do Candomblé, porém o nome Ojuobá passou a incorporar o seu nome de batismo; portanto, o seu nome passou a ser Pedro Archanjo Ojuobá. O ultimo foi Pedro Archanjo Ojuobá e novamente todos se puseram de pé para saudar Ojuobá, as palmas da mão voltadas para ele. Face de enigma, aberta em manso riso, fechada em pensamentos, no coração imagens e lembranças. Pedro Archanjo Ojuobá, os olhos de Xangô, acompanha a ânsia e a exaltação no rosto de Tadeu. (AMADO, 2001, p.193)
Sabe-se pelas composições dos nomes de Pedro Archanjo que há na escolhas de seus nomes um enorme sincretismo religioso, pois Pedro é um nome de origem bíblica, Archanjo igualmente e Ojuobá é de origem africana, e usado como título dado por um orixá. Nota-se também que essa composição do nome do personagem Pedro Archanjo faz dele um guerreiro, homem que representa o povo mestiço que é excluído da sociedade, é, portanto Ojuobá quem faz essas mediações, quem representa esse povo, quem diretamente fala por essa gente, seja em seus livros em seus discursos ou quando vai diante de uma autoridade tentar intervir pelo povo mestiço que era marginalizado, oprimido e humilhado pelas autoridades.
As grandes festas de antigamente no terreiro de Ilê Ogunjá haviam-se reduzido a pequeno grupo de feitas, velhas e tias fatalistas, e a uns poucos ogãs. Na festa de Oxóssi até albês faltaram. Não fosse a presença de Ojuobá e o pai-de-santo Procópio não teria quem assumisse o comando da orquestra. (AMADO, 2001 p. 261).
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Pode-se dizer que o personagem de Pedro Archanjo era visto como um herói épico, aquele herói invencível e que tem a seu favor os deuses, ou seja, nesse caso os orixás. Mas um elemento mestiço e sincrético que compõe a vida de Pedro Archanjo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho monográfico chega ao seu final, com algumas considerações inerentes à obra Tenda dos Milagres (2001), de Jorge Amado. Na primeira parte do presente trabalho, buscou-se caracterizar a literatura como sendo também um lugar para a discussão de um processo de formação social, religiosa e cultural de um povo. Assim, viu-se que literatura dos romances de ficção, em particular, pode não ser apenas uma diversão inconsequente ou uma evasão alienadora do mundo, mas também um lugar de aprofundamento do conhecimento e de revelação da realidade, sobretudo da realidade sincrética. Procurou-se fazer uma análise mais aprofundada de um dos romances de Jorge Amado, Tenda dos Milagres (2001), na busca por entender-se melhor sua estrutura e suas ideias principais, ou seja, sua forma e seu conteúdo, buscando-se chegar a uma caracterização do sincretismo religioso presente nessa obra, um sincretismo que, pode ser estendido para algumas das obras de Jorge Amado, uma vez que seus romances relacionam-se, de certa forma, e baseiam-se na mesma concepção de raça que pode ser encontrada em alguns deles, o que confirma a unidade de sua obra. Demonstrou-se que Tenda dos Milagres (2001), é uma obra sobre a grandeza do povo simples e pobre, mestiço e sincrético, contra o racismo e contra todo tipo de discriminação. Jorge Amado afirma o direito dos pobres e dos discriminados mestiços e sincréticos, o que significa o direito de todos os homens viverem na igualdade e na liberdade, engajados na construção de uma sociedade justa e fraterna, onde seja possível encontrar, construir e viver a liberdade. Essa é a marca do sincretismo encontrado na obra Tenda dos Milagres (2001), de Jorge Amado. O tema principal na obra Tenda dos Milagres (2001), é a questão do preconceito racial e da miscigenação de raças. Trabalhando esse tema foi possível concluir que não há
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superioridade de uma raça sobre outra, de uma cultura sobre outra ou de uma religião sobre outra. O que se percebe é a igualdade de todos os homens e, por consequência, o valor das raças, das culturas e dos povos discriminados e menosprezados. Nota-se que na obra de Jorge Amado há uma demonstração de que o povo brasileiro é um povo miscigenado e sincrético. E que o sincretismo se fez necessário para o homem miscigenado, pois se esse homem não é um ser que se constitua social, cultural e religiosamente segundo um único conceito, uma única influência. E que, portanto, sua cultura e sua religião expressarão, em diferentes níveis e contextos, o seu sincretismo. Em termos religiosos, essa proposição de mestiçagem traduz-se no sincretismo. Assim, o Candomblé é afirmado com força como lugar da realização desse sincretismo que assume as culturas brancas, negras e mestiças na obra de Jorge Amado.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. Teoria da Literatura. 8. ed. Coimbra: Almedina, 1993.
AMADO, Jorge. Jubiabá. 42. ed. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2008.
AMADO, Jorge. Tenda dos Milagres. 43. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.
BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
BOFF, Leonardo. Nova Evangelização. Perspectivados oprimidos. Fortaleza: Vozes, 1990.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
LEITTE, Yonne; CALLOU, Dinah. Como falam os brasileiros. Jorge Zahar, 2002.
MANZATTO, Antonio. Teologia e literatura: reflexão teológica a partir da antropologia contida nos romances de Jorge Amado. São Paulo, Edições Loyola, 1994.
PRANDI, Reginaldo. Religião e Sincretismo em Jorge Amado. Caderno de Leituras, 2002.
TAVARES, Paulo. O Baiano Jorge Amado e sua obra. São Paulo: Record, 1992.
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ANEXOS
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ANEXO 01
PAINEL INFOBIBLIOGRÁFICO SOBRE A OBRA DE JORGE AMADO
As obras de Jorge Amado foram traduzidas para o alemão, árabe, búlgaro, catalão, chinês, coreano, dinamarquês, eslovaco, esloveno, espanhol, estoniano, finlandês, francês, georgiano, grego, hebraico, holandês, húngaro, inglês, italiano, lituano, macedônio, moldávio, norueguês, persa, polonês, romeno, russo, sueco, tcheco, turco e ucraniano. A seguir, buscouse ilustrar o quão profícua foi a produção literária desse grande autor e como suas obras dialogaram com diversos veículos de difusão cultural como o rádio, a televisão e o cinema, tornado-o ainda mais conhecido do povo brasileiro.
O país do Carnaval (1931) Cacau (1934). Suor (1934). Jubiabá (1934), foi adaptado para o teatro, rádio, cinema e televisão e quadrinhos. Adaptações para o teatro: Jubiabá, adaptação de Roberto Avil Correia, Rio de Janeiro 1961; com o mesmo título, adaptação de Miroel Silveira, 1970, Rio de Janeiro; Rádio: novela Jubiabá, Rádio São Paulo, São Paulo, 1946; Cinema e Televisão: foi adaptado por Nelson Pereira dos Santos, produção franco-brasileira da Regina Filmes e da Societé Française de Production, com música de Gilberto Gil, em duas versões uma para o cinema e outra para televisão e foi exibida pela televisão francesa; Quadrinhos: Jubiabá, Editora Brasil-América, coleção “ Edição Maravilhosa”, Rio de Janeiro, sem data. Mar Morto (1936). Foi adaptado para o Rádio: novela Mar Morto, Rádio Nacional Rio de janeiro, 1940 e Rádio São Paulo, São Paulo, 1945; Mar Muerto, Rádio El Mundo,
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Buenos Aires, 1941. Cinema: direitos para a adaptação cinematográfica adquiridos por Carlo Ponti, Roma, 1957. Quadrinhos: Mar Morto, Editora Brasil-América, coleção Editora Maravilhosa n° 186, Rio de Janeiro, sem data. Música: Dorival Caymmi compôs “Motivos Diversos” sobre Mar Morto. Capitães de Areia (1937). Foi adaptado para o teatro: espetáculo adaptado pelo Padre Valter Souza, Salvador, 1958, adaptação de Carlos Wilson, encenada por diversos grupos teatrais no Brasil e no Exterior; adaptação de Roberto Bomtempo, pela Companhia Baiana de Patifaria, 2002. Dança: espetáculo adaptado pelo grupo Êxtase, Minas Gerais, 1988; por Raymond Faucalt e Plínio Mosca, França, 1988; por Friederich Gerlach, Alemanha, 1971; por Nanci Gomes Alonso, Argentina 1987. Cinema: Filme Capitães de Areia, adaptação do cineasta Hall Bartlet, Los Angeles, Estados Unidos, 1971, com algumas cenas exteriores tomadas em Salvador. Exibido nos Estados Unidos e em outros países, continua inédito no Brasil. Televisão: Minissérie, Rede Bandeirantes, direção de Walter Lima Jr, roteiro e adaptação de José Loureiro e Antônio Carlos Fontoura, 1989. Quadrinhos: adaptação por Ruy Trindade, publicado pela Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia, 1995. A fundação casa de Jorge Amado comemorou os 50 anos do romance, em 1987, com Seminários, lançamentos de livros e exposições em Salvador e Brasília e com uma edição facsimilar da sua 1° edição com triagem numerada de 1.000 exemplares, publicada com a colaboração do Governo do Estado de Brasília e da Editora Record. ABC de Castro Alves (1941). Foi adaptado para Dança: foi adaptado com o título de “Sonhos de Castro Alves”, balé idealizado por Antonio Carlos Cardoso, com coreografia de Victor Navarro, música de Egberto Gismonti, encenado pelo balé do Teatro Castro Alves. O Cavalheiro da Esperança (1942) divulgado inicialmente na Imprensa de Buenos Aires, por capítulos, em fins de 1941, traduzido por Pompeu Acióli Borges, o livro teve sua 1° edição em espanhol intitulada vida de Luiz Carlos Prestes, El Caballero de La Esperanza, em
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1942, pela Editorial Claridad, Buenos Aires. A 1° edição brasileira foi em junho de 1945. Foi adaptado para o rádio: adaptação com o título em tcheco de Ryter Nadeje por Jibi Verton, divulgada pela Radiodifusão Tchecoslovaca, de Praga, 1951. Terras do Sem Fim (1943) teve sua 1° edição lançada em Setembro de 1943, foi adaptado para o teatro: Terras do Sem Fim, adaptado por Graça Melo, encenada pelos comediantes, Rio de Janeiro, 1947. Cinema: Terra Violenta, filme produzido pela Atlântida, Rio de Janeiro, 1948. Rádio: adaptado pela Rádio São Paulo, São Paulo, 1945 e por Claude Arman-Masson, com o título Terre Violente, Rádiodiffusion Française, Paris, 1950. Televisão: Telenovela Terras do Sem Fim, Tv Tupi, Rio de Janeiro, 1966 e Rede Globo de Televisão, 1981, em adaptação de Walter George Dirst; na trilha sonora, parceria de Jorge Amado e Dorival Caymmi na música “Cantiga de Cego”, interpretada por Caymmi. Quadrinhos: Editora Brasil-América, Rio de Janeiro, sem data, coleção Edição Maravilhosa n° 152. São Jorge do Ilhéus (1944) foi adaptado para o Rádio: novela São Jorge do Ilhéus, rádio São Paulo, São Paulo, 1946. Quadrinhos: editora Brasil-América Rio de Janeiro, coleção Edição Maravilhosa, volume 174, Rio de Janeiro sem data. Bahia de Todos os Santos (1945). O capítulo “canto de amor à Bahia” recebeu música de Dorival Caymmi, gravada em disco, em 1958. Seara Vermelha,1946 adaptado para o cinema: Seara Vermelha, Proa Filmes, São Paulo, 1963, filme estrelado por Marilda Alves, com trilha musical composta por João Gilberto, direção de Alberto d’Avessa e adaptação, roteiro e diálogo d’Avessa e Jorge Amado. Os Subterrâneos da Liberdade (1952) a trilogia foi escrita, em março de 1952, em Dobris, na Tchecoslováquia e concluída em novembro de 1953, no Rio de Janeiro a 1° edição foi lançada em maio de 1954, em 3 volumes.
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Gabriela, Cravo e Canela (1958). Foi adaptado para a Televisão: Gabriela, Cravo e Canela telenovela produzida pela extinta TV Tupi em 1960, com adaptação de Zora Selian; Gabriela telenovela da rede Globo de Televisão, 1975, com adaptação de Walter George Durst. Cinema: Gabriela, Cravo e Canela, dirigido por Bruno Barreto, em1983. Dança: espetáculo apresentado pelo corpo de balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, além de adaptações nacionais e estrangeiras. Fotonovela: revista amiga, Rio de Janeiro, outubro de 1975, Editora Globo. Quadrinhos: Editora Brasil-América, Rio de Janeiro, e revista Klik, Ebal, Rio de Janeiro, 1975. Os pastores da Noite (1963) o romance foi escrito entre fins de 1963 e começo de 1964, foi lançado em Julho de 1964. Foi adaptado para o Cinema: adaptação de Marcel Camus, cineasta francês, da Orfée Arts-Claire Duval, Paris, com cenas gravadas em dezembro de 1975 na capital baiana, o filme foi lançado na França com o título Otalia de Bahia, exibido no Brasil em 1977. Televisão: O capítulo O compadre de Ogum foi adaptado para a televisão, como “Caso Especial”, pela Rede Globo de Televisão, em 1995. Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966). Foi adaptado para o Cinema: os direitos para adaptação cinematográfica foram adquiridos por Luís Carlos Barreto, e o filme foi dirigido por Bruno Barreto, com roteiro de Leopoldo Serran e Edmundo Coutinho, produtores Luís Carlos Barreto, Newton Rique e Companhia Serrador, trilha musical de Chico Buarque, protagonizado por Sônia Braga, José Wilker e Mauro Mendonça. As filmagens foram iniciadas em Salvador, em dezembro de 1975, e o lançamento ocorreu em novembro de 1976, superando todos os recordes de bilheteria no país. Foi exibido também nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina. Teatro: adaptação para musical com o título Saravá, nos Estados Unidos, com libreto de Richard Nash e partitura de Mitch Leigh, dirigido e coreografado por Rick Atwell e Santo Loquasto, apresentando Tovah Feldshuh, Michael Ingram e vários outros atores. Encenado por duas semanas em Boston, estreou no Mark
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Helling Theater, na Broadway, Nova York, no dia 23 de fevereiro de 1979. Televisão: minissérie Dona Flor e seus dois maridos, Rede Globo de Televisão, 1997, adaptação de Dias Gomes, Ferreira Gullar e Marcílio Morais, produzida pela Rede Globo de Televisões no ano de 1997 e exibida um ano depois de 31 de março a 1° de maio de 1998 com direção de Mauro Mendonça Filho. Tenda dos Milagres (1969) é o livro de trabalho dessa monografia. Foi adaptado para o Cinema: Tenda dos milagres, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, Regina Films, Rio de Janeiro, 1977, em grande parte rodado na cidade do Salvador. Televisão: minissérie, Rede Globo de Televisão, adaptação de Aguinaldo Silva e Regina Braga, 1985. Tereza Batista cansada de guerra, (1972) foi adaptado para Televisão: minissérie Tereza Batista, Rede Globo de Televisão, adaptação de Vicente Sesso, direção de Paulo Crissolli, 1992. Tieta do Agreste, (1977). Foi adaptado para Televisão: novela de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, Rede Globo de Televisão, 1990, encenada por Betty Faria. Cinema: Tieta, filme dirigido por Cacá Diegues, com música de Caetano Veloso, tendo Sônia Braga no papel principal. Foi tema do carnaval de 1997, Salvador, Bahia, que homenageou Jorge Amado. Marcos Tamoio, prefeito do Rio de Janeiro, denominou de Rua Tieta do Agreste um logradouro no bairro carioca de Campo Grande.