Editorial
A
ideia de publicar uma revista mensal, mesmo que digitalmente, surgiu após a publicação do Guia da Copa da Ásia 2015. Inspirado em publicações de sucesso, como Placar, World Soccer e Kaiser Magazine (também digital), nasce a revista Escrevendo Futebol, como parte do blog homônimo. Esta primeira edição é um teste para as próximas. Inicialmente, são apenas algumas reportagens inéditas e textos já publicados no blog. Para o próximo mês, uma promessa: uma espécie do tradicional Tabelão, que tanta gente costumou colecionar durante os anos. Espero que gostem do trabalho e que sugiram outras ideias. Quem sabe ela não se torna impressa um dia? Conto com você! Yuri Casari
Sumário
Giuseppe Casari...............4 Opinião...........................6 Jean-Pierre Adams............7 Renato Curi....................10 Youra Eshaya..................12 Dionísio Filho.................14 A origem do futebol.........16 Opinião II......................19
Um Casari no Mundial Da mesma “linhagem” do autor deste texto, Giuseppe Casari, que de parentesco comigo só tem o nome, foi um dos três goleiros italianos na delegação que veio a Copa do Mundo do Brasil de 1950. Pouco conhecido pelo resto do mundo, foi um dos principais goleiros de sua época no Calcio.
to os conflitos mundiais continuassem. O cartão de visitas não podia ser melhor. Empate sem gols diante do Brescia. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, Casari finalmente estreou na Serie A, onde se destacou bem e atuou em 251 jogos e é lembrado na história do Calcio pelo pioneirismo nas saídas do gol, sempre dando o, hoje tradicional, grito de “É minha!”. Suas críticas a árbitros e treinadores após as partidas também são lembrados pelos tifosi, com os quais sempre teve bom relaempre tive aquela curiosidade de garoto de “(...) o vinicultor cionamento. Três anos depois de sua estreia, é chamado pelo buscar pessoas com o mesmo bergamasco de jeilendário Vittorio Pozzo para sobrenome que o meu. Tanto o Casari, por parte de pai, to simples, aper- as Olimpíadas de Londres de 1948, mas a titularidade é inquanto o Klein, da mãe. Klein, tou a mão de Pio discutivelmente de Valério Bade origem alemã, é o que mais tem, e se espalha entre des- de maneira bruta cigalupo, que morreria no ano seguinte na terrível Tragédia cendentes de alemães, polopara a ocasião, e de Superga. neses e judeus. Já a origem No verão de 1950, sai do Casari, é um pouco mais exclama em alto e da Atalanta para assumir a obscura. O que sei, e pelo que bom som: “Prazer, camisa 1 do Napoli, que hame conta meu pai, meus bisavia acabado de conquistar a vós vieram da região de Mi- Casari!”” Serie B, e é convocado para a lão, norte da Itália. E como é complicado encontrar pesso- Natural de Martinengo, pe- Copa do Mundo no Brasil pelo as com este sobrenome. Com queno município de Bergamo, técnico Ferrucio Novo. Em terdestaque, mais difícil ainda. o goleiro iniciou sua carreira ras brasileiras, viu do banco Numa busca rápida, acabei em 1938 após uma apresen- de reservas a eliminação de encontrando Giuseppe Casa- tação em Lecco. Atuou profis- sua seleção ainda na fase de ri, nascido em Bergamo, cida- sionalmente pela primeira vez grupos. A Squadra Azzurra vide próxima a Milão. E conto apenas em 1945, com a cami- nha desfalcada pela já citada sa da Atalanta, no torneio de Tragédia de Superga, na qual sua história a seguir. Casari nasceu em 22 guerra organizado pela Fede- foram vítimas boa parte do de Abril de 1922, data do ani- ração Italiana para manter os elenco do Torino, base da Seversário de 422 anos do Brasil. jogadores em forma, enquan- leção Italiana. A vitória por 2 a
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0 diante do Paraguai na segunda rodada não foi o suficiente para a classificação a fase final, já que a Itália havia perdido na estréia por 3 a 2 para a Suécia.
Após o Mundial, passou três temporadas na mais tradicional equipe napolitana. Em 1953 perde espaço para o recém contratado Ottavio Bugatti, se transferindo na temporada seguinte para o Calcio Padova, contribuindo com o acesso a elite italiana na temporada 1954-55. “Bepi” ainda disputou a Serie A em 55-56, quando se retirou dos gramados italianos com apenas 34 anos. Casado com Giusy Cassera, teve três filhos e quatro netos. Além da qualidade em campo, Bepi também faz parte do folclore do futebol italiano. Durante uma audiência da Seleção Italiana com o então Papa Pio XII, todos os jogadores ajoelhavam-se e beijavam respeitosamente a mão do pontíficie. Ao chegar a vez de Casari, o vinicultor bergamasco de jeito simples, apertou a mão de Pio de maneira bruta para a ocasião, e exclama em alto e bom som: “Prazer, Casari!”, garantindo as gargalhadas de seus companheiros de equipe. Reverenciado pela torcida da Atalanta mesmo após o final de sua carreira, acompanhava como possível o time nerazzurri. Em 12 de novembro de 2013, aos 91 anos, Giuseppe Casari deixou de ser ídolo, para se tornar mais uma lenda nos livros de história do futebol mundial. Yuri Casari é jornalista e editor da Revista Escrevendo Futebol
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O preço do ingresso é justo?
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onstantemente, ouvimos dizer que o poder de compra do brasileiro aumentou nos últimos anos. Para exemplificar este aumento, é usual citar a quantidade de um produto X que o salário mínimo era capaz de comprar em uma determinada época, e a mesma capacidade do salário atual. Por exemplo, se pegarmos o preço do litro da gasolina em 2001, que estava em torno dos R$2,00 na época, podemos dizer que era possível comprar 90 litros de gasolina com 1 salário mínimo, então de R$180,00. O preço atual da gasolina é de R$3,30, e, se levarmos em conta o salário mínimo atual de R$788,00, é possível comprar cerca de 238 litros de combustível. Ou seja, o poder de compra em relação a este produto aumentou. Com o crescimento econômico do país nos últimos 10 anos, é possível notar esse aumento no poder de compra na grande maioria dos produtos, e também serviços. É algo que me parece até natural que aconteça. Mas então, por que diabos os ingressos de futebol foram inflacionados de maneira astronômica? O ingresso mais barato para a final do Campeonato Brasileiro de 2001, entre Atlético-PR e São Caetano, na Arena da Baixada, custou a bagatela
“A defasagem dos ingressos mais baratos de ontem e de hoje é de absurdos 550%.” de R$10,00. Na partida contra o Paraná, há duas semanas atrás pelo Campeonato Paranaense, o setor mais barato custava R$150,00. Ou seja, se seguirmos a comparação inicial, com a relação entre o valor do salário mínimo e o valor de um produto ou serviço, chegamos a conclusão que o poder de compra de ingressos de futebol diminuiu drasticamente em pouco mais de 12 anos. Em dezembro de 2001, era possível comprar 18 ingressos com um salário mínimo. Atualmente, é possível adquirir apenas 5. Segundo dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação acumulada do período alcança os 128%. Em valores
corrigidos, os R$10,00 cobrados na final do Brasileirão de 2001, custariam hoje R$22,82. A defasagem dos ingressos mais baratos de ontem e de hoje é de absurdos 550%. Isso deixa claro que a falta de um setor popular nos estádios, com preço em torno dos R$30,00, não traria prejuízo aos cofres do clube. Muito pelo contrário, afinal, a chance de mais gente comprar um ingresso a um valor mais acessível, aumenta. É claro, entendo que os custos para se fazer futebol no país subiram. Mas subiram principalmente por conta da incompetência em gerir um clube de futebol, e não é o torcedor que tem que pagar essa conta. Até porque, sem o torcedor, não há a necessidade de existir futebol. Entendo pouco de economia, e este é apenas um exercício para pensarmos: é justo cobrar R$150,00 por um jogo de futebol? Yuri Casari
O triste descanso por Yuri Casari
Há mais de 30 anos, o defensor francês Jean-Pierre Adams permanece em um profundo coma, causado por um erro médico quando o jogador buscava um recomeço
“E
stá tudo bem! Estou ótimo! Pense em mim e volte daqui 8 dias. E não se esqueça de um par de muletas”. Esta foi a última frase de Jean-Pierre Adams, no dia 17 de março de 1982, antes de entrar na sala de cirurgia de um hospital em Lyon, para um procedimento em seus ligamentos do joelho. A partir de então, graças a uma anestesia mal aplicada, Adams jamais voltou a acordar. Mas antes de explicar melhor essa triste história, contaremos sobre a vida e a carreira de uns dos principais jogadores franceses no início da década de 70. Nascido no Senegal, Adams teve uma infância muito pobre como a da grande maio-
ria de seus conterrâneos, sendo criado por sua avó. Quando tinha 8 anos, em 1956, foi levado para a França, em um orfanato de Montargis, pequena cidade da região central francesa. Logo foi adotado por um casal local. Sempre mostrando aptidão para o esporte, o encorpado jovem fez parte de alguns clubes amadores em sua juventude, como o US Cepoy, o CD Bellegarde e o USM Montargis. Em 67, entra para o time amador do Racing Club de Fontainebleau. Nos dois anos seguintes, é vice-campeão amador da França, mas ainda jogando como atacante. Uma dessas finais foi televisionada, e Kader Firoud, então ex-técnico do
Nimes, se impressionou com o porte físico do francosenegalês. Em 1969, Firoud volta a comandar o Nimes, e quase de imediato busca contratar aquele garoto que o impressionara. Porém, o argelino erradicado francês transforma Adams em volante e o ajuda a aprimorar-se em todos os aspectos. “Kader Firoud é o homem a quem devo tudo. Ele me levou na mão, me formou ,me deu confiança e não me deixou”, disse certa vez. Em seu primeiro ano, Adams entra apenas esporadicamente na equipe titular. Mas na temporada 1971-72, assume a titularidade absoluta e contribui com a excelente campanha do Nimes no campeonato francês, ficando atrás apenas do Olympique de Marseille, além de conquistar a Copa dos Alpes. Suas atuações lhe renderam 22 convocações para a Seleção Francesa. E a história de Adams está ligada de alguma forma ao Brasil, já que em 1972, o zagueiro viajou com Les Bleus para a disputa da Taça da Independência, um torneio que reuniu 20 seleções para comemorar os 150 anos de independência do país. Ainda como volante, estreou na competição na vitória por 3 a 2 contra a Colômbia, na Fonte Nova
Adams ao lado de Marius Trésor: A Guarda Negra
Em 73, muda-se para o Nice comandado por Vlatko Markovic. O treinador iugoslavo toma uma importante decisão para a carreira de Adams, mais uma vez recuando o jogador, agora para a defesa. Na Seleção, forma ao lado de Marius Trésor a chamada Le Garde Noire, a Guarda Negra. Porém, o fracasso na missão de levar o time gaulês a Eurocopa de 1976, marcou Adams, que não voltou a ser chamado. Em 77, após novo vicecampeonato nacional, assina com o Paris Saint-Germain, ficando 2 temporadas na equipe da capital, mas sem o mesmo brilho do início de carreira. Sem atingir o mesmo nível técnico, disputa a segunda divisão pelo Mulhouse, até voltar ao amadorismo pelo Chalon. Em 81, detectaum problema no joelho. Em março de 82, na data já citada, dá entrada no hospital Edouard Herriot, em Lyon. Então com 34 anos, o francês entra em coma profundo. Durante sua carreira, realizou 251 partidas e marcou 24 gols no Campeonato Francês. Casado desde abril de 69 com Bernadette, mesmo contra a vontade da família
da moça, teve 2 filhos: Laurent e Frederic, na época com 12 e 7 anos, respectivamente. As investigações revelaram que no lugar de dois anestesistas necessários havia apenas um estudante de práticas. Uma sucessão de erros na aplicação da anestesia causaram um broncoespasmo, dificultando a respiração, e privando o cérebro de oxigênio por vários minutos. Há quase 33 anos, Bernadette, hoje com 68, segue cuidando de Adams, com 65. “Não há nenhuma mudança, boa ou ruim. Tenho a impressão de que o tempo parou em 17 de março de 82. Eu falo com ele o tempo todo. às vezes eu diria que ele reage. Quando, por exemplo , ele ouve uma voz que ele não tinha ouvido falar por um longo tempo, eu vejo a diferença. Ele move as mandíbulas , parece que ele vê algo. Ou quando seus (quatro) netos
estão se divertindo em sua cama, assim como fizeram nossos dois filho antes deles”.Quanto a desligar os aparelhos, Bernadette é enfática: “É impensável! Ele não pode falar. Não tomaria essa decisão por ele.” Para os médicos, uma recuperação de Adams é cogitada apenas por milagre. Na história, são raros os casos de alguém que acordou após tanto tempo em coma. O caso mais emblemático é o do americano Terry Wallis, que acordou após exatos 19 anos. Mas para Bernadette, pouco importa. Ela segue sendo o anjo da guarda de um dos pilares da Guarda Negra Francesa. Nota da redação: Esta matéria foi publicada originalmente no site O Futebolista, no dia 27 de janeiro de 2014 e está disponível no site Escrevendo Futebol
E
m 1974, Franco D’Attoma, sócio de uma das maiores empresas de roupas da Itália, assumiu o endividado Perugia. Uma de suas primeiras ações, foi a contratação do técnico Ilario Castagner, ex-atacante, que vestiu as cores vermelho e branco na década anterior. Castagner foi o responsável pela vinda do jovem e velocista Renato Curi, proveniente do Como, onde jogou apenas em 73-74. Renato era um homem comum. Tinha esposa e uma filha, e além de jogador de futebol, era formado em contabilidade, e trabalhava como garçom no período inativo O meia foi revelado no Giulianova em 69, e rapidamente ganhou status de titular, sendo campeão da Serie D, na temporada 70-71. No Perugia, também conseguiu rápido destaque, e foi, ao lado de Franco Vannini na meia cancha, um dos melhores jogadores do elenco que conquistou o maior título do clube até então, a Serie B, na temporada 74-75. O título, e o acesso inédito na Serie
O eterno grifoni
A, foi comemorado já no novo estádio: o Perugia havia abandonado o Estádio Municipal de Santa Giuliana e passou a mandar seus jogos no Comunale di Pian di Massiano. Em 16 de Maio de 1976, o ponto alto de sua carreira. Última rodada do Campeonato Italiano. Torino e Juventus tinham, respectivamente, 44 e 43 pontos. O Torino, empatou em casa com o Cesena. Para a Juventus, bastava a vitória fora de casa. Mas aos 10 minutos da segunda etapa, cruzamento da direita, e Renato Curi bate com o pé direito, de primeira, e vence o goleiro Dino Zoff, tirando o Scudetto da Vecchia Signora. O Perugia terminou aquele ano numa surpreendente 8ª colocação. Na temporada seguinte (76-77), Curi foi mais uma vez um dos líderes em campo, e ajudou a equipe a chegar a um honroso 6º lugar, uma posição abaixo da zona de classificação para as competições europeias. Em 77-78, a
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equipe se encontrava ainda mais forte, e já na 5ª rodada, era um dos líderes da competição, juntamente com Milan e Juventus. Na 6ª rodada, a Juventus voltava a aparecer na vida de Renato Curi. Desta vez, o desfecho não seria feliz para o meiocampista. Era dia 30 de Outubro de 1977. Apesar da chuva, cerca de 30 mil torcedores estiveram presentes nas arquibancadas no Pian di Massiano. O placar do primeiro tempo permaneceu zerado. Após a volta do intervalo, às 15: 34,com cerca de 5 minutos jogados, Renato Curi desaba em campo. Alguns jogadores da Juventus rapidamente gesticulam pedindo ajuda. O camisa 8 deixa
A Juventus na vida de Renato Curi: em seu dia de glória e no dia de sua morte
os gramados pela última vez, carregado pelos maqueiros. Até Castagner adentra o gramado, exemplificando a gravidade da situação. O duelo prosseguiu, e terminou sem gols. Ao apito final, o anúncio: Renato Curi estava morto com apenas 24 anos. O jogador havia sofrido um infarto e chegou sem vida ao Hospital Policlinico di Perugia. Mesmo com a morte de um companheiro, a equipe não se abalou e alcançou um incrível vicecampeonato, e con-
quistou alguns títulos menores, sendo apelidado de “Perugia dos milagres”. Após a autópsia, foi constatado de que Curi possuía uma doença crônica no coração. Logo, levantouse a hipótese de que o jogador tinha consciência de sua situação. Certa vez, em uma entrevista, dizia ter sido enviado pela direção do Como ao Centro Técnico de Coverciano, por ter batimentos cardíacos irregulares, mas aparentemente, nada foi descoberto. Afirmava também, por sua constante movimentação no campo de jogo e por sua velocidade, ter um coração louco. O processo judicial movido contra o médico do Perugia e do Centro Técnico de Coverciano se arrastou durante alguns anos sem nenhuma punição mais severa aos réus. Durante o processo, o promotor de justiça do caso declarou: “Quando um jogador entra em uma equipe profissional, torna-se apenas um número para técnicos, médicos e diretores”. O nome de Renato Curi foi eternizado no estádio biancorosso que foi rebatizado em sua homenagem. E sua memória, está intacta aos olhos da torcida, que faz questão de lembrar seu nome nas arquibancadas.
Youra Eshaya o jogador do deserto Youra Eshaya Pera nasceu em 1933, filho de Eshaya Pera and Batishwa Benyamin em localização desconhecida. O mais provável é que tenha nascido no Iraque ou em território russo. Sua família veio do Irã durante a 1ª Guerra Mundial buscando refúgio nas proximidades da Rússia, assim como milhares de Assírios. Posteriormente, em 1935, se mudaram para Bagdá, onde o pai de Youra trabalhou na Estação da RAF (Real Força Aérea Britânica) de Hanaidi. Em 37, a família se mudou novamente para Habbaniya, sede da nova estação da RAF. Youra começou a jogar futebol na escola, e com apenas 15 anos, foi chamado pelo Levy Civilian para jogar a RAF Football League, em Habbaniya. No mesmo ano, Youra atuou pela equipe junior da RAF Employees’(Assyrian) Club, levando o clube ao título da RAF FA Youth Cup. Suas atuações o levaram para o time principal na temporada 49/50, em que o clube conquistou o campeonato e a copa nacional. Depois disso, Youra representou a equipe da estação da RAF Habbaniya, que jogou contra outras equipes no Iraque e no Oriente Médio, enquanto também jogou por uma equipe que representava o acantonamento civil, onde Youra e outros empregados da RAF viviam com suas famílias. O jogador se destacava por sua força e habilidade, e é considerado como um dos maiores jogadores da história do Iraque, pelo seu poder em driblar, o faro de gol, e o fôlego para apoiar na defesa. Em 1953, foi selecionado pelo tenente
R.K. Weston, scouter da equipe do Bristol Rovers., após marcar três gols numa partida do comando iraquiano contra um time da RAF vindo do Canal de Suez. Youra desembarcou em terras inglesas em Agosto de 1954, depois que o piloto, que o descobriu, e um grupo de oficiais da RAF persuadiram o manager Bert Tanna aceitá-lo. Como ele estava na Inglaterra com um visto de trabalho de apenas um mês (e renovado por duas vezes), foi ordenado que Youra deixasse o país. Porém, o iraquiano conseguiu um induto que o permitiu trabalhar como mineirador enquanto jogava pelo terceiro time do Bristol, na Western League, tornando-se o primeiro jogador iraquiano a atuar fora do Iraque. Em 23 jogos pelo Bristol Rovers Colts, Youra marcou 3 gols e foi convocado para atuar na equipe reserva do Bristol em duas partidas, contra o Watford e o Fulham.
Depois de jogar 4 jogos pelo Bristol em sua segunda temporada, e marcado um gol, Youra decidiu retornar ao Iraque. A razão foi um pedido do Brigadeiro Khadim Abbadi, que ofereceu para Youra e seus familiares a nacionalidade iraquiana, um lugar na força Aérea como subtenente e um lugar no Royal Iraqi Air Force FC, chamado de Air Force FC após a Revolução de 58. Isso tudo aconteceu em dezembro de 1955, a apenas alguns meses de sua elegibilidade para atuar no futebol profissional inglês, e menos de um mês antes de um dos grandes momentos da história do Bristol, quando goleou o Manchester United por 4 a 0. A estreia internacional de Youra aconteceu em janeiro de 56, na vitória de 6 a 0 do Iraque contra o Mersden Club, da Turquia, no estádio Kashafa, e se tornou figurinha carimbada nas convocações até meados dos anos 60, e ajudou seu clube a conseguir uma série de campeonatos e copas nacionais. A aposentadoria veio em 1971, após ser suspenso por se casar com Elizabeth, uma mulher sueca, graças a normas que proibiam militares iraquianos de se casarem com mulheres de países não-árabes. Mais tarde, foi transferido para Habbaniya para treinar e supervisionar a formação de atletas militares. Depois, emigrou para a Suécia, e teve três filhos. O fim de Youra aconteceu no lugar que ele melhor desempenhava seu papal na terra. Em 21 de julho de 1992, aos 59 anos, o primeiro jogador iraquiano a atuar no exterior, sofreu um ataque cardíaco enquanto corria em um campo de futebol em Gotemburgo em que treinavam um grupo de jovens. Fonte: RSSSF, “Youra Eshaya, the “Desert Footballer”” de Hassanin Mubarak e pesquisas de Keith Brookman e Chris Swift, de Bristol.
Período de trevas Durante o período em que o ditador Saddam Hussein esteve à frente do poder no Iraque, o futebol local foi comandado por um de seus filhos, Uday Hussein (à esquerda na foto). Com as mesmas mãos de ferro do pai, Uday aterrorizava jogadores e treinadores. O caso mais conhecido é a dos irmãos gêmeos Bassam e Ghassam Raouf Hamed. Jogadores da seleção durante as Eliminatórias para a Copa de 94, o Iraque ficou a um ponto de conquistar a classificação ao empatar com o Japão em 2 a 2. Na volta para o país, como de costume nas derrotas, Uday ordenou a prisão dos jogadores, sendo que vários deles foram inclusive torturados. Os dois irmãos conseguiram fugir e partiram rumo à Romênia. Após muitos problemas, principalmente pela dificuldade com a língua local, eles foram articulando uma nova “fuga”, desta vez para a Suécia, onde conseguiram conquistar relativo sucesso. Além disso, são os primeiros iraquiano a disputar uma primeira divisão europeia.
Sangue Bom! Em fevereiro, a imprensa e o esporte paranaense perdeu um de seus mais ilustres e autênticos personagens, o ex-lateral esquerdo e comentarista Dionísio Filho
A
ntônio Dionísio Filho nasceu em 14 de abril de 1956, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, onde o lateral-esquerdo iniciou a carreira no Botafogo local em 1970. Ficou no tricolor até 72, e se transferiu para o Guarani de Campinas jogando até 75. No mesmo ano, teve curtas passagens por Itumbiara e Vila Nova. Após essas andanças, Dionísio teve o momento de maior destaque na carreira. No Atlético Mineiro, foi campeão mineiro de 76 de maneira invicta, ao lado de jogadores como Vantuir, Getúlio, Marcelo Oliveira, Toninho Cerezo e Paulo Isidoro. Ele mesmo sempre costumou dizer que foi a melhor equipe em que jogou. Depois disso passou pelo Internacional
antes de se estabelecer em Curitiba, cidade que escolheu para viver até seus últimos dias. No estado do Paraná, se tornou ídolo rapidamente pela força e velocidade, e também pelas várias conquistas. Passou pelo Trio de Ferro da capital (Atlético, Coritiba, e na época, Pinheiros, a parte azul do atual Paraná Clube) conquistou os títulos paranaenses de 79 e 89 pelo Coritiba, e os de 84 e 87 pelo Pinheiros. Vestiu também a camisa do Operário-MS e encerrou a carreira no Cascavel, inclusive, sendo um dos jogadores do clube cascavelense na partida que marcou o primeiro gol da história do Paraná Clube. Foi eleito por diversas vezes durante os anos 80, o melhor lateral-esquerdo do Campeonato Paranaense.
O treinador Sergio Ramirez, que o treinou no Pinheiros, resumia bem seu estilo de jogo: “Dionísio chega junto e não deixa nenhum atacante sambar”. Além de bom na defesa, o Sangue bom soube evoluir durante a carreira e se transformou num grande criador de jogadas. Nos treinamentos, executava mais de duzentos cruzamentos da lateral e cobranças de escanteio. Bem-humorado, apelidava seus lançamentos de bumerangue. A partir de 1992, passou a atuar como comentarista esportivo e passou pelas rádios Eldorado, Atalaia e Clube, e no momentos, fazia parte da equipe da Rádio Banda B. Na televisão, trabalhava no Donos da Bola PR, da Band, e no programa É-Esporte Paraná, da TV Educativa. Comentou também para a RPC e para o Premiere. Também se arriscou em funções nas comissões técnicas de Paraná Clube e Comercial de Ribeirão Preto em meados dos anos 90. Com inteligência acima da média para os padrões boleiros, sabia bater quando achava preciso. “Dirigente gosta de jogador que fala “nois fumo” e “nóis vai”. O Djonga, como era conhecido, não à toa, também tinha o apelido de Sangue Bom. Sempre sorridente, não tinha pressa para lhe contar uma boa história e sempre tratou a todos sem distinção. No dia 16 de fevereiro, após quase uma semana de internação, faleceu aos 58 anos vítima de uma síndrome colestática decorrente de uma lesão nas vias biliares. Deixou mulher e três filhos, mas também deixou um legado de alegria e irreverência.
Como tudo começou O futebol como conhecemos nasceu na Inglaterra no final do séc. XIX. Voltamos no tempo para contar a origem do que se tornou no esporte mais popular do mundo
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empre quando se fala na origem do futebol, é quase que obrigatório contextualizar seus esportes predecessores. Essa ancestralidade do esporte segundo muitos estudiosos do futebol, tem início na China, há 3.000 mil anos a.C. chamado de tsu-chu, e passa por outros similares chineses, gregos ( como o Epyskiros), pelo império Maia, pela frança (Soule), pela Itália (com o tradicional Calcio Fiorentino, que deu origem ao termo Calcio, para o futebol na Itália) e pela Inglaterra, com o Football, que nasceu nas ruas, se tornando um distúrbio social, tendo que ser controlado pelas autoridades. Popular desde suas remotas origens, o esporte foi tomando forma aos poucos na segunda metade do século XIX, pelas mãos de intelectuais das inúmeras universidades locais, Porém, as regras do esporte variavam de lugar para lugar. Aos poucos, as regras foram sendo unificadas. As duas principais variações do jogo seguiam as
Regras de Cambridge e as Regras de Sheffield. A unificação das regras Cambridge praticava o futebol desde meados de 1579. Mas foi em 1848 que o esporte deu um novo passo. Os estudantes Herry de Winton e John Charles Thring reuniram representantes de outras escolas para a definição de um único conjunto de regras (que além de ter influenciado o futebol, contribuiu para a constituição das regras do futebol australiano). Após 8 horas de conversa, eles chegaram a um consenso. E a influência nas Regras do Jogo, criados em 1963, são claríssimas, como a inclusão de tiros de meta, laterais, e passes para frente, até então proibidos. Porém, as mãos ainda tinham permissão para serem usadas durante o jogo. Não existe nenhuma cópia do texto original, porém, há na biblioteca de
Shrewsbury, uma edição revisada datada de 1856. Em 1862, Thring lançou um novo conjunto de regras, mais simplificado. As primeiras partidas sob estas regras foram disputadas no Parker’s Piece, uma grande área gramada próximo ao centro de Cambridge.
Além do código de Sheffield, os precursores do futebol se inspiraram também no conjunto de regras de Sheffield. A partir de 1855, membros do Sheffield Cricket Club passaram a praticar jogos de bola sem regras fixas. Dois anos depois, no dia 24 de outubro, Nathaniel Creswick e William Prest fundaram o Sheffield Football Club, reconhecidamente o clube mais antigo do mundo. Junto da instituição, foram criadas regras próprias que também deixaram seu legado ao futebol atual. Os travessões que unem as duas traves, os escanteios, as faltas e os primeiros sistemas de desempate (que incluíam prorrogações e gols de ouro) foram algumas das regras posteriormente perpetuadas. No primeiro torneio da história do esporte, a Copa Tommy Yudan (da qual falaremos mais a frente), utilizou estas regras. A segunda competição mais antiga do mundo, a Copa Oliver Cromwell, foi decidida num gol de ouro em favor do The Wednesday, após empate sem gols diante do Garrick. A Football Association Ebenezer Cobb Morley, pode ser considerado um dos pais do futebol “moderno”.
Em 1862, ele já havia fundado o Barnes FC, e no ano seguinte, foi um dos responsáveis por fundar a Football Association e unificar as regras de Cambridge e Sheffield. Morley era um advogado e liderou a reunião na Freemasons’ Tavern. Numa segunda-feira à noite, em 26 de outubro de 1863, capitães, secretários e representantes de doze clubes de Londres se reuniram “com a finalidade de formar uma associação com o objetivo de estabelecer um código definido de regras para a regulação do jogo”. Os clubes representados foram: Barnes, War Office (atual Civil service FC, e único clube-fundador ainda existente), Crusaders, Forest (Leytonstone), No Names (Kilburn), Crystal Palace (sem nenhuma relação com a atual equipe), Blackheath (posteriormente dissidente, e que contribuiu com a criação do Rugby), Kensington School, Perceval House (Blackheath), Surbiton, Blackheath Proprietory School and Charterhouse. Durante os meses seguintes, foram feitas outras reuniões que definiram a fundação da Football Association, entidade que regula o futebol na Inglaterra, e o conjunto de regras a ser usado. O primeiro presidente da FA foi Arthur Pembe, e Ebenezer Morley assumiu como secretário. Anos depois, em 1878, se deu a unificação definitiva das regras, e posteriormente, foi criada a International Football Association Board, que passou a ser a entidade que rege as regras do futebol até hoje.
vencendo a primeira competição da historia. O primeiro torneio A competição mais antiga de todas foi a Youdan Cup. Disputada por 12 clubes, foi patrocinada pelo dono de teatro Thomas Youdan, que também cedeu o troféu. Foram três fases de mata-maO primeiro clube (e a primeira rivalidade) ta e posteriormente um triangular final. O vencedor foi o Hallam FC, que venceu o Norfolk Antes mesmo da definição das regras, no jogo final por 2 a 1, no Bramall Lane, estácomo dissemos, nasceu o primeiro clube para dio do rival Sheffield. a prática do futebol: o Sheffield Football Club (foto), fundado em 24 de outubro de 1857 por A primeira FA Cup Nathaniel Creswick e William Prest. Há uma certa controvérsia nisso, afinal, junto da cria- A Copa da Inglaterra foi criada por ção das regras de Cambridge, foi fundado o Charles W. Alcock, que por ter criado a FA Cambridge University Association Football Cup, é considerado o pai do mata-mata. A priClub, mas é o Sheffield que é reconhecida- meira edição da competição foi na temporada mente o clube mais antigo de todos. É ao lado 1871-72 e foi vencida pelo Wanderers FC (foto do todo poderoso Real Madrid o único clube a abaixo), que bateu o Royal Engineers por 1 receber a Ordem de Mérito da FIFA. a 0, tento marcado por Morton Betts. O duelo O Sheffield também é o time que pos- aconteceu no Kennington Oval. Diferente da sui a rivalidade mais antiga da história, com o grandiosidade atual, onde uma infinidade de Hallam Football Club. A primeira partida en- clubes disputam o charmoso torneio, houve tre os dois aconteceu em 1860, no Sandygate apenas 15 clubes participantes. De lá pra cá, a road, e o Sheffield conquistou a vitória por 2 FA Cup jamais foi interrompida. a 0. Em compensação, o Hallam deu o troco
O valor das competições
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ecentemente, no Brasil, a decadência financeira (e técnica) de alguns torneios, fizeram com que clubes e imprensa influenciassem o torcedor a valorizarem apenas determinadas competições, em geral, elitizadas. Com isso, criou-se no torcedor brasileiro em geral, uma corrente de pensamento que prega o desdém de torneios outrora glamourizados. Vivemos uma transição entre o glamour da primeira metade do século XX, passando pela paixão que arrastava multidões das décadas de 70, 80 e 90, e culminando no chamado futebol-gourmet. Ai de quem comemorar um estadual. É achincalhado em praça pública. Afinal, “estaduais não valem nada”. Os rurais, como são jocosamente chamados, vem sendo sabotados sistematicamente por seus organizadores, pelos grandes clubes, e principalmente pela mídia. Não que não haja razão em malhar o pobre “Judas regional”. Mas é preciso diferenciar crítica de desrespeito. Mas esse processo não passa apenas pelos estaduais. Pense nos pomposos torneios de pré-temporada conquistados por inúmeros clubes brasileiros. Vencer um Ramón de Carranza, um Teresa Herrera ou um Joan Gamper, eram motivos de orgulho e satisfação
portante como mero capricho do abarrotado calendário. O mesmo fenômeno aparece no futebol de seleções. Se antes, o enfrentamento de países era o supra-sumo do futebol, hoje, essa empolgação só se vê na Copa do Mundo. Amistosos, segundo as cabeças pensantes, pouco serve para parâmetro, e vencer os financeira. Hoje, sem termos adversários é apenas uma a mesma chance de particiobrigação. Copa das Conparmos, nossas aparições não federações e torneios contipassam de torneios amistosos nentais? “Uma bobagem. Não em que o torcedor pouco liga valem de nada”. A não ser a e que o mais importante é o Copa do Mundo sem Brasil e dinheiro. Argentina. E insistem nisso. “Não deixem eles Sempre tive um pensamento megalomaníaco em refalarem que tor- meio lação a vencer. Quando jogo neio tal vale mais futebol, no campo, quadra, rua, na areia ou no videoque o outro porque na game, sempre entro pra ventraz mais lucro pro cer. Quando torço para meu ou para minha seleção, clube ou porque a time no estádio, na tv, no rádio ou transmissão de TV acompanhando um livescore qualquer na internet, só pené espetacular.” so na vitória. E penso na história destas vitórias e possíveis Outra situação similar martítulos em disputa. Seja municante acontece com a Sul-Acipal, estadual, regional, namericana. Vencer um torneio cional ou internacional. Não internacional, por menor que percam isso. Não deixem eles seja, é algo grandioso. Se enfalarem que torneio tal vale volve todo um continente, mais que o outro porque traz então, isso deveria se tornar mais lucro pro clube ou porainda mais memorável. Mas que a transmissão de TV é esa prática desse pensamento petacular. Torneio importante ordinário e elitista de, repito, é aquele onde a bola rola por instituições esportivas e míuma taça. dia, faz com que os torcedores tratem uma competição im Yuri Casari
MĂŞs que vem tem mais