Um dos maiores desafios da modalidade é a gestão de pessoas
Enquanto as empresas se adaptam, a polêmica sobre a legislação continua nos tribunais
Julho/2009
Ano 32 - nº 277
A explosão da educação a distância levanta debates sobre a qualidade do ensino e a eficiência do modelo no país A ABED adianta números surpreendentes: os cursos voltados à área corporativa atraíram 1,5 milhão de brasileiros em 2008
Carta ao Leitor
Educação a distância
G
raças à revolução tecnológica que vem sendo movida pelo digital, e, ao mesmo tempo, devido ao surgimento de uma estrutura social em rede, que horizontaliza a comunicação, hoje vivemos a era da informação, refletida em todos os campos da atividade humana. Na área do ensino, esse processo de profunda mudança fica claramente refletido na ampla difusão do conceito de educação a distância (EAD), que se tem apresentado como uma importante ferramenta para a democratização do ensino em um país de proporções continentais como o Brasil e de conhecidas discrepâncias no acesso ao conhecimento, em especial nas regiões periféricas do território. Composta por um conjunto de métodos pedagógicos construtivistas, mediado por redes de computadores, essa nascente modalidade educacional (nascente sob o ponto de vista histórico) transforma os papéis tradicionalmente exercidos por professores e alunos. Torna os estudantes condutores de seu próprio aprendizado, com plenas condições de gerir os instrumentos que se encontram à sua disposição, no tempo, local e intensidade que lhe forem mais convenientes. Essa, aliás, constitui uma das principais polêmicas para os que são resistentes a adotar a EAD: a falta da relação face a face. Para suprir a inexistência de interação humana, é preciso estabelecer uma ponte entre os meios tecnológicos e os que se dispõe a utilizá-los como mediador em seu processo de aprendizagem. Isso implica em flexibilização para atender um público que tanto pode ser oriundo da chamada Geração Y, ou Geração da Internet, como constituído daqueles que ainda não se habituaram a escrever sem papel e caneta. Apesar de nova, muita coisa mudou desde quando se ouviu falar pela primeira vez em EAD. O universo educacional dos telecursos, do final da década de 70, ampliou suas aulas para outras modalidades de ensino — graduação, pós-graduação, cursos preparatórios, atualizações, prevenção —, e hoje se consolidou como ferramenta institucional indispensável a qualquer administrador. Empresários que se renderam à invasão da EAD em sua rotina administrativa só têm a aplaudir os gráficos
O universo digital que nos leva a rever os conceitos do saber que apontam aumento nos lucros, melhora da produtividade e possibilidade de mais negócios. Funcionários que participaram de cursos de capacitação e reciclagem profissional também comemoram. Afinal, ingressaram em um novo contexto de aprendizado e já estão quase prontos para o futuro que está bem próximo neste setor. O Conselho Regional de Administração de São Paulo tem a responsabilidade, além de apoiar as iniciativas de nosso Conselho Federal – de trabalhar junto ao Ministério da Educação para estimular, manter e aprimorar a qualidade do ensino a distância no que tange aos cursos da área administrativa –, de trazer luz e dar espaço para o debate do tema, extremamente relevante nos dias atuais.
Apesar de nova, muita coisa já mudou na EAD. O universo dos telecursos se consolida hoje como ferramenta institucional indispensável a qualquer administrador É isso que pretendemos fazer ao apresentarmos na Revista do Administrador Profissional o cenário que a modalidade enfrenta hoje no Brasil, por meio do levantamento de números expressivos e pela opinião de especialistas, educadores e alunos envolvidos em todo o processo. Boa leitura!
Adm. Walter Sigollo
Presidente do Conselho Regional de Administração de São Paulo - CRA-SP
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Expediente Editor Conselho Regional de Administração de São Paulo Presidente Administrador Walter Sigollo Diretores Adm. José Alfredo Machado de Assis Vice-presidente Administrativo Adm. Paulo Roberto Segatelli Câmara Vice-presidente de Relações Externas Adm. Cid Nardy Vice-presidente de Planejamento Adm. Joaquim Carlos Dias Vice-presidente para Assuntos Acadêmicos Adm. Teresinha Covas Lisboa 1º Secretário Adm. Roberta de Carvalho Cardoso 2º Secretário Adm. Antonio Geraldo Wolff 1º Tesoureiro
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Estilo
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Na Prática
Adm. Idalberto Chiavenato 2º Tesoureiro
Como os blogs se transformam em lucro ao atrair a atenção de grandes companhias
Conselheiros Marcio Gonçalves Moreira, Anna Luiza do Amaral Boranga, Carlos Antonio Monteiro, Alberto Emmanuel de Carvalho Whitaker, Hamilton Luiz Corrêa, Luiz Eduardo Reis de Magalhães, Alexandre Uriel Ortega Duarte, Milton Luiz Milioni, Luiz Carlos Vendramini Representantes no CFA: Roberto Carvalho Cardoso (efetivo) e Mauro Kreuz (suplente)
Conselho Editorial para RAP 2009/2010 Coordenadora: Adm. Teresinha Covas Lisboa. Adm. Alexandre Uriel Ortega Duarte, Adm. Anna Luiza do Amaral Boranga, Adm. Cid Nardy, Adm. Hamilton Luiz Corrêa, Adm. Luiz Carlos Vendramini, Adm. Milton Luiz Milioni, Adm. Paulo Roberto Segatelli Câmara, Adm. Roberta de Carvalho Cardoso.
Produção Marketing e Comunicação.................Adm. Gláucia Pascoaleto Araújo Coordenação Editorial e Gráfica.................Entrelinhas Comunicação Editora-responsável..................................Priscila Pagliuso (MTB 51.108) Repórter........................................................................................Illenia Negrin Revisores...................................................Beth Munhoz e Camilo Toscano Diretor de criação .......................................................................Jairo Herrera Projeto gráfico..........................................................Luiz Fernando Galante Diagramação e ilustrações.............................................Fernando Bertolo Fotografia................................................................................Zanone Fraissat Publicidade Nominal Representações ........................Mauro Machado Tiragem...............................................................................50 mil exemplares A RAP é uma publicação mensal do Conselho Regional de Administração (CRA-SP), sob a responsabilidade do Conselho Editorial do CRA-SP. As reportagens não refletem necessariamente a opinião do CRA-SP.
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Lei antifumo leva empresas paulistas a estabelecer novas rotinas aos fumantes para evitar multas e queda no ritmo de trabalho
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Panorama
Acontecimentos que mobilizam os administradores dentro e fora do CRA-SP
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Conhecimento
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Perfil
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Canal Aberto
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Opinião
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Metas, prazos e confiança aumentam a produção e reduzem custos na gestão do trabalho a distância O mestre em Administração Giancarlo Ricciardi fala sobre vantagem competitiva sustentável Delegacia de Bauru multiplica o número de registrados em 6 anos Reputação corporativa: mercado busca profissional especializado em avaliar fatores intangíveis nas empresas
Capa Como a Educação a Distância (EAD) invadiu o ambiente corporativo e tornou-se um mecanismo imprescindível de gestão
Panorama
Novas regras para quitar sua anuidade do CRA-SP Para garantir o exercício regular da profissão de administrador e a concessão dos benefícios que lhe são de direito, o CRA-SP passará, a partir de agosto, a enviar boleto para a quitação da anuidade referente ao ano vigente aos associados em débito com a instituição. São duas as formas de pagamento: à vista ou em até no máximo quatro parcelas. Se o administrador optar por quitar sua dívida de uma só vez, terá isenção de juros e multa. Dessa forma, pagará a anuidade de R$ 237. Caso o associado escolha a segunda opção, terá que arcar com encargos calculados sobre o período em aberto. Essas mesmas condições se estendem às pessoas jurídicas. A diferença está apenas no valor da anuidade, que poderá variar entre R$ 190 e R$ 2.277, de acordo com o capital social da empresa.
Tire suas dúvidas com o Departamento de Cobrança do CRA-SP pelo telefone (11) 3087-3266 ou pelo e-mail crasp_ac@crasp.gov.br
Convenção do Sistema CFA /CRAs reúne profissionais de todo o Brasil Foto: Alberto Ruy
Mais de 250 pessoas participaram da Convenção do Sistema CFA/CRAs – Conselho Federal e Conselhos Regionais de Administração, realizado em Brasília entre os dias 23 e 26 de junho. Além de integrar conselheiros, presidentes e funcionários para discutir assuntos de relevância na área administrativa, o encontro obteve êxito ao unificar as informações dos sistemas e propiciar troca de experiência e momentos de debate. Esse, aliás, foi o ponto alto da convenção. Debates acirrados marcaram os três dias de palestras, abertos pela apresentação “A grande virada: regras de ouro da superação”, do professor José Luiz Tejon, e encerrados com chave de ouro por Eduardo Shinyashiki, que abordou o tema “motivação”. 6
PROFISSIONAL
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Jornalista sem diploma? Propostas de emendas constitucionais defendem o contrário Teve início em Brasília uma contra-ofensiva à decisão do Superior Tribunal Federal (STF) que derrubou a exigência de diploma para o exercício do jornalismo. Em menos de 15 dias, duas Propostas de Emendas Constitucionais (PECs) foram apresentadas no Congresso Nacional para que a formação superior brasileira volte a ser obrigatória. A primeira chegou ao Senado em 2 de julho, pelas mãos do líder do PSB na casa, Antonio Carlos Valadares. A redação faz do diploma um pré-requisito, mas abre exceção para dois tipos de profissionais: o jornalista sem formação acadêmica registrado no Ministério do Trabalho e o colaborador que “produz trabalho de natureza técnica”, relacionado com a sua especialização. A outra PEC que prevê a volta da obrigatoriedade do diploma tramita na Câmara dos Deputados desde 8 de julho. De autoria do deputado federal Paulo Pimenta (PT), o texto é radical e determina que apenas graduados em jornalismo podem exercer a profissão.
Desde junho deste ano, o diploma não é exigido para o exercício do Jornalismo. O entendimento do STF gerou polêmica, com veículos de comunicação e entidades de classe se posicionando a favor e contra a decisão, respectivamente. A formação superior tornou-se obrigatória em 1969, durante a Ditadura Militar. Segundo o tribunal, o decreto-lei 972, que instituiu a regra, era inconstitucional, pois restringia as liberdades de expressão e informação.
Para ler e se atualizar Direito Recuperacional Aspectos Teóricos e Práticos Coordenação: Newton De Lucca e Alessandra de Azevedo Domingues Editora Quartier Latin, 1ª Edição, 2009
A obra traz artigos de 18 especialistas em direito recuperacional, de diversas áreas do conhecimento, e revela os desafios práticos que a nova Lei de Falências impõe aos operadores do Direito em geral. Os textos auxiliam os advogados, consultores de empresas, contabilistas, economistas, escrivães, juízes, membros do Ministério Público e peritos. O livro traz reflexões e relata experiências acumuladas durante os quatros anos de vigência da lei, que substituiu a concordata e passou a oferecer novos mecanismos para sobrevivência empresarial. Imagem meramente ilustrativa - *preço sugerido pela editora
552 páginas
| R$ 120,00* | www.quartierlatin.art.br 7
Panorama
Nova Lei do Microempreendedor prevê formalização de 1 milhão até 2010 Para usufruir das vantagens da lei, o empreendedor deverá ter faturamento anual máximo de R$ 36 mil e trabalhar sozinho ou com apenas um funcionário Em agosto, os Microempreendedores Individuais (MEI) de Brasília, São Paulo, Minas Gerais e do Rio de Janeiro já poderão solicitar a sua formalização para contar com os benefícios da nova versão da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas. A previsão é do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que espera regularizar, até o final de 2010, cerca de 1 milhão de MEIs. O processo de adesão é gratuito e feito pela Internet no site www.portaldoempreendedor.gov.br ou em um dos 20 mil escritórios de contabilidade distribuídos por todo o País e que sejam optantes do Simples Nacional. A lista dos escritórios está disponível no endereço eletrônico www.fenacon.org.br/esc-simples. php. No site, o empresário individual obtém, no ato da formalização, o CNPJ, o cadastro na Junta Comercial e a inscrição no INSS.
Depois de concluída a formalização, o custo mensal máximo para o empreendedor será de R$ 57,15, constituído da seguinte forma: Previdência Social R$ 51,15 (correspondente a 11% do salário mínimo); Estado - R$ 1 (se a empresa for do ramo do comércio ou indústria); município - R$ 5 (se a empresa for prestadora de serviço). As novas regras isentam o MEI do pagamento de quase todos os impostos. Ele passa a arcar com 11% de um salário mínimo para o seu INSS pessoal e R$ 1 de ICMS, no caso do comércio ou da indústria, ou R$ 5 de ISS no caso de ser um prestador de serviços. Além disso, terá mais acesso a crédito e financiamentos e alíquotas de impostos diferenciadas.
Quem pode se cadastrar como MEI O microempreendedor individual foi criado pelo governo federal para incentivar a formalização dos 11 milhões de trabalhadores que atualmente exercem suas funções na informalidade, como motoboys, doceiros, borracheiros, camelôs, manicures e eletricistas. Ao aderirem ao programa, os trabalhadores entram na “Rede de Proteção Social” e têm direito ao salário-maternidade, ao auxílio-doença, à aposentadoria por idade e à aposentadoria por invalidez. Estarão, também, isentos do
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pagamento do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), do PIS, da Cofins e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Além disso, suas famílias poderão receber auxílio-reclusão, ou, em caso de morte, pensão. Para se enquadrar na lei, além do faturamento anual máximo de R$ 36 mil, o empreendedor deve trabalhar sozinho ou com apenas um funcionário, ser optante do Simples Nacional, exercer atividades de empreendedor individual e não ser titular, sócio ou administrador de outra empresa.
PROFISSIONAL
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Enade - Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes 2009 Número de participantes deve dobrar neste ano. O total de convocados que prestará a prova chegará a 800 mil No dia 8 de novembro, os estudantes ingressantes e concluintes de 15 cursos de graduação e sete tecnológicos, que serão avaliados pelo governo, vão realizar a prova do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). As inscrições para o exame, que avalia a qualidade dos cursos universitários de todo o País, vão até 31 de agosto. A partir deste ano, a prova não será feita por amostragem. O número de convocados deve dobrar para 800 mil estudantes. O cronograma do Ministério da Educação (MEC) prevê a divulgação da lista dos estudantes selecionados no dia 10 de setembro. Mais informações estão disponíveis no site http://www.inep.gov. br/superior/enade/.
Alunos
s Ingressante no máximo completaram Aqueles que os ag to o até 1º de 22% do curs s a do Concluinte carga horári am 80% da Frequentar mesma data curso até a os Dispensad até 31 de colarem grau Aqueles que em cursos que estiverem agosto e os ame ex do sil na data fora do Bra
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Conhecimento
Para comandar funcionários que trabalham a distância, é preciso engavetar velhos conceitos de gestão e apostar em autonomia
Maurício Alves, gerente de negócios da Ticket, organiza seu home office antes de iniciar o trabalho
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PROFISSIONAL
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rabalhar a distância, fora do escritório, deixou de ser prática somente de profissionais autônomos ou executivos de grandes empresas. Pesquisa realizada pelo instituto Market Analysis mostra que a cada quatro brasileiros adultos em atividade, pelo menos um adota o teletrabalho de alguma forma, ao longo do mês. Nas estimativas da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt), 10,6 milhões de pessoas aderem à modalidade. Os números revelam a popularização do sistema e um novo perfil “desenraizado”, de profissionais que não ocupam cargos de chefia. “Há dez anos, o teletrabalho era exercido basicamente pelo alto escalão de uma empresa. Hoje, podemos dizer que a maioria é de funcionários, de médios gerentes”, afirma a presidente da Sobratt, Ana Mansour. As empresas que conseguiram estender o trabalho remoto à chamada “ala do meio” venceram um desafio bem maior que investir em computadores de última geração e telefones móveis com acesso rápido à Internet. Elas modernizaram os meios de gestão e abandonaram as práticas ultrapassadas de liderança para comandar, com eficiência, funcionários que desempenham tarefas a distância. Especialistas explicam que, nesse sentido, o primeiro passo é mesmo engavetar a figura do chefe onipotente, controlador, que impõe
Informal versus Remoto Trabalho a distância não significa perda de vínculo empregatício. O artigo 6º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) deixa claro que “não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador e o executado no domicílio do empregado, desde que esteja caracterizada a relação de emprego”. O Projeto de Lei 3.129, de 2004, que aguarda votação no Senado, dá nova redação ao artigo para não restringir ao domicílio do funcionário a única possibilidade de trabalho a distância regulamentada. Se aprovado, o projeto passa a vigorar com o seguinte texto:
Artigo 6º - “Não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador e o executado no domicílio do empregado e o realizado a distância, desde que estejam caracterizados os pressupostos da relação de emprego”. Parágrafo Único: “Os meios telemáticos e informatizados de comando, controle e supervisão se equiparam, para fins de subordinação jurídica, aos meios pessoais e direitos de comando, controle e supervisão do trabalho alheio”.
autoridade vigiando cada tarefa e disseminando insegurança. “Isso exige uma verdadeira revolução cultural dentro da empresa. E a mudança necessariamente começa pela chefia, que deve estabelecer outros critérios de avaliação. O gestor precisa estabelecer metas e prazos. É com base nesse planejamento que os funcionários serão cobrados”, explica Ana. Para a presidente da Sobratt, o apego ao modelo centralizador de administrar impede o avanço das alternativas ao trabalho presencial. Delegar funções e dar mais autonomia ao colaborador, para boa parte dos gestores, é como se
Ana Mansour, presidente da Sobratt, durante palestra ministrada no CRA-SP
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Conhecimento
atirar no abismo. “O pensamento que ainda domina é o da escravidão e subordinação. Trabalhar a distância exige um outro tipo de relação, mais sofisticada para o padrão brasileiro”, avalia. A tese de que, longe das vistas do chefe, o funcionário deixa de cumprir suas funções é desmistificada por uma série de estudos internacionais que comparam o rendimento de grupos antes e depois da implementação do teletrabalho. Um deles foi o amplo levantamento feito pela Sustainable Teleworking (Sustel), organização financiada por sete grandes empresas européias de telecomunicação. A pesquisa constatou que a produtividade a distância aumentou de 30% a 60% nas companhias já no primeiro ano de adesão ao modelo. A explicação para a melhora
Segundo pesquisa internacional, a adoção do teletrabalho aumentou de 30% a 60% a produtividade das companhias
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considerável no desempenho é a otimização do tempo. O funcionário que pode flexibilizar o local onde cumpre expediente (seja em casa, na praça de alimentação de um shopping, em um café ou até no saguão do aeroporto) e não perde horas no trânsito atravancado a caminho do escritório, por exemplo. “O impacto positivo na qualidade de vida é imediato. O funcionário, uma vez adaptado ao novo esquema e menos estressado, fica mais satisfeito com o trabalho”, explica a presidente da Sobratt. Na Europa e nos Estados Unidos, o modelo é largamente utilizado, principalmente pelas grandes corporações, como estratégia para reduzir custos e aumentar as operações em regiões distantes da matriz. No Brasil, de acordo com o levantamento realizado pelo instituto Market Analysis, as microempresas são pioneiras em adotar o teletrabalho de maneira intensiva e diária, mas a prática começa a chegar às maiores. É o caso da Ticket, empresa do grupo Accor e líder no segmento de convênios e serviços. Em 2006, a área comercial precisou se reestruturar para ganhar agilidade e fazer frente aos novos desafios do mercado. Depois do diagnóstico, a direção elaborou um plano de encerramento gradual das atividades nas 25 filiais e a adaptação dos 120 colaboradores (cerca de 15% de todo o efetivo da Ticket) para o modelo home office. O processo foi concluído em abril passado, e os resultados são bastante animadores, na avaliação do superintendente comercial, Eduardo Távora.
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“Precisávamos cortar gastos. A implementação do trabalho a distância nos proporcionou até agora uma economia de R$ 3 milhões, que antes eram gastos com a manutenção das estruturas das filiais. Nossos colaboradores ganharam em qualidade de vida, e a empresa registrou aumento de 40% na venda de novos produtos. Não foi uma decisão filantrópica. É uma visão de mercado”, afirma. O superintendente conta que, nas filiais, montadas exclusivamente para abrigar o pessoal de vendas, a equipe dedicava 70% do tempo às tarefas operacionais e burocráticas e apenas 30% ao atendimento aos clientes. Com o fechamento dos escritórios, a proporção se inverteu. “Melhoramos em 76% o nível de receita da carteira de clientes. Ou seja, o mesmo cliente passou a comprar mais, devido ao tempo maior que os colaboradores dedicaram a ele”, explica. A transição para o home office foi viabilizada pelo departamento de recursos humanos da Ticket, que desenvolveu ações específicas de relacionamento com os teletrabalhadores, sem mudar cláusulas no contrato de trabalho e mantendo-os devidamente registrados. “Equipamos todo o home office do colaborador com móveis, computador, telefone. Enviamos material educativo para a família, explicando o quanto confiamos naquele profissional, a ponto de permitir que ele trabalhe longe do escritório, e como o apoio dos filhos e da esposa é importante para a adaptação”, esclarece a gerente
Eduardo Távora, superintendente comercial da Ticket
de desenvolvimento em recursos humanos, Edna Bedani. O gerente de negócios Maurício Alves foi um dos primeiros a aderir ao novo modelo proposto pela Ticket. Ele diz que a falta de convívio com os colegas de trabalho é amenizado pelas reuniões frequentes na sede da empresa. “Estou bem adaptado à rotina. E, como passo boa parte do dia visitando clientes, não sofro muito com o isolamento”, diz. Prós e contras na balança, o gerente garante que não gostaria de voltar ao escritório. “Trabalho melhor com mais autonomia. E ainda posso levar e buscar meu filho na escola.”
Trabalho sustentável Além de otimizar tempo e recursos, o teletrabalho é defendido como saída viável para diluir o caos nas grandes cidades, entupidas pela grande quantidade de veículos em circulação. “Criar alternativas ao expediente tradicional é uma
realidade que se impõe. O trabalho a distância, que hoje é uma opção, irá se transformar em necessidade daqui a poucos anos. Na capital paulista, por exemplo, a mobilidade urbana já foi estrangulada pelo trânsito”, alerta o diretor da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Rogério Belda. Assim como ocorre em cidades norte-americanas da Flórida, a idéia é que o poder público possa incentivar o trabalho remoto, concedendo incentivo fiscal às companhias adeptas ao sistema, pela contribuição ao meio ambiente. O grupo de excelência em Convergência Tecnológica e Mobilidade Corporativa do CRA-SP elabora proposta semelhante para ser encaminhada à Prefeitura de São Paulo. “Além do desconto em impostos, a empresa que adotar práticas sustentáveis pode ganhar certificação e até comercializar créditos de carbono”, aposta o coordenador do grupo, Álvaro Mello.
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Na prática
A partir de 7 de agosto, fumar só mesmo na rua Pessoas que trabalham em edifícios comerciais da avenida Paulista já aproveitam pequenos intervalos para das suas tragadas
O fim da fumaça corporativa? Nova lei antifumo extingue os fumódromos das empresas. Fumar, só do lado de fora. Diante da restrição, o ideal é adotar práticas educativas
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ão faz tanto tempo assim, era comum entrar em um escritório e se deparar com funcionários envoltos pela fumaça enquanto falavam ao telefone, concluíam relatórios, faziam cálculos. Nem a chiadeira dos não-fumantes brecava os tabagistas. No início da década de 1990, o hábito de fumar em qualquer canto começou a ser amplamente questionado. E as
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baforadas passaram a ser dadas nos corredores e escadas. Dez anos mais tarde, os antitabagistas tiveram mais um respiro: boa parte das empresas, públicas e privadas, restringiu o uso do tabaco aos fumódromos, previstos pela Lei Federal 9.294, de 15.07.1996, instalados em salinhas isoladas ou em varandas e quintais. Há três meses, criou-se o que pretende ser um
suspiro definitivo: a lei antifumo, sancionada pelo governador José Serra, que proíbe o consumo do cigarro em todos os ambientes de uso coletivo, públicos e privados, total ou parcialmente fechados. A lei, que entra em vigor no dia 7 de agosto, impõe grandes mudanças de hábito no ambiente de trabalho. Para cumprir a determinação, as empresas paulistas
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que não possuem área livre a céu aberto terão de lidar com as escapadelas de funcionários para fumar do lado de fora dos prédios. Em tese, os fumantes vão interromper suas funções por um tempo maior porque terão de se deslocar mais para acender o cigarro, o que diminuiria a produtividade. Além disso, paradas frequentes podem gerar protestos por parte dos não-fumantes, que fazem intervalos somente para se alimentar ou descansar. Para evitar conflitos, o ideal é usar bom senso e não estabelecer práticas radicais, como proibir as saídas para fumar. “Uma gestão eficiente de pessoas precisa levar em conta as diferentes necessidades dos funcionários. O bom caminho é a negociação. Definir regras justas, mas sem criar privilégios e distorções”, avalia o presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Ralph Arcanjo Chelotti. Uma pesquisa sobre tabagismo e trabalho, realizada pela indústria farmacêutica Pfizer, mostra que 80% dos chefes brasileiros consideram os fumantes menos produtivos (leia ao lado). Chelotti diz que não há fundamentos científicos para confirmar a tese. Para ele, o fato de um tabagista usar alguns minutos do expediente para fumar não implica, necessariamente, que suas tarefas deixaram de ser cumpridas. “Ficar o tempo todo sentado à mesa de trabalho nem sempre é sinônimo de concentração e eficiência”, pondera. Mesmo assim, Chelotti admite que muitas empresas podem restringir a contratação de fumantes, seja por convicção ou por falta de habilidade e recursos para lidar com a questão. “Alguns setores já não fazem a admissão de tabagis-
Tabagismo no ambiente empresarial Um estudo patrocinado pela Pfizer revelou a opinião de chefes e funcionários sobre o fumo no ambiente de trabalho e as iniciativas de combate ao tabagismo. A pesquisa, denominada Global Workplace Survey, ouviu 4.918 pessoas em 14 países, incluindo o Brasil. Por aqui, foram entrevistados colaboradores de empresas nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Sul. Confira os principais resultados do levantamento:
80% dos chefes brasileiros acreditam que os funcionários não-fumantes são mais produtivos. Entre os colaboradores, a porcentagem é menor: 44% 98% dos empregadores e 95% dos funcionários classificaram como “inaceitável” fumar no ambiente de trabalho 82% dos colaboradores entrevistados em empresas brasileiras disseram que fumam para aliviar o estresse Entre as prioridades do empregador em relação à saúde de seus funcionários estão os problemas com pressão alta (30%) e o tabagismo (24%) Fumantes gastam cerca de 40 expediente para fumar
minutos por dia durante o
Do total de fumantes entrevistados, 25% estão tentando parar de fumar e 76% já fizeram duas tentativas
Mais da metade dos empregadores, 62%, confere ao tabagismo efeitos financeiros negativos às companhias. A opinião foi compartilhada por 35% dos funcionários ouvidos
87% dos chefes e 69% dos subordinados disseram que é papel das empresas ajudar os fumantes na superação do vício Fonte: Global Workplace Survey/Pfizer
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Na prática
tas, mas não de maneira explícita. Acredito que a lei antifumo possa reforçar esse tipo de postura.” O governo do Estado promete ser rigoroso na fiscalização. A partir de agosto, 500 fiscais da Vigilância Sanitária vão percorrer bares, restaurantes, escolas, áreas comuns de condomínios, supermercados e escritórios para verificar se a lei está sendo cumprida. Caso haja pessoas fumando, ou indícios do uso de cigarro, como cinzeiros sujos, bitucas no chão ou cheiro de fumaça, o estabelecimento será multado em R$ 792,50. Em caso de novo flagrante, o valor da multa será de R$ 1.585. Se ainda assim a prática persistir, o local pode ser fechado. O presidente da ABRH diz que a rigidez da lei deve despertar iniciativas que promovam a melhoria da saúde dos funcionários. “O trabalho educativo ganhará espaço. E mais empresas vão iniciar ações em prol da qualidade de vida, como desenvolver programas de incentivo aos funcionários que desejam parar de fumar”, avalia.
O ‘empurrão’ que faltava O caso da ABB Brasil, indústria do ramo de automação energética, é exemplo de como combater o fumo no ambiente corporativo. Em 1998, a companhia deu início a uma série de ações para diminuir o índice de tabagistas nas duas fábricas do Estado, localizadas em Osasco e Guarulhos, que chegava a 23% dos funcionários. Com adesão voluntária, o programa adotou como estratégia, até 2007, a promoção de palestras e a distribuição de adesivos e gomas de reposição de nicotina. No ano passado, o tratamento passou a custear 80% de um medicamento específico para o controle de ansiedade, que apresenta resultados mais expressivos na superação do vício. Em 11 anos, a proporção de fumantes caiu para 15%. Cerca de 500 pessoas já participaram da iniciativa, e cerca de 80% conseguiram parar de fumar. “A maioria dos fumantes não acreditava no tratamento. Mas, com os bons resultados conquistados,
muitos acabaram se convencendo e aderiram. O programa deu tão certo que agora decidimos implementálo nas duas outras fábricas, em Blumenau (SC) e Camaçari (BA)”, explica o psiquiatra Edmundo Prince, gerente de saúde da ABB e coordenador do programa. O especialista afirma que os benefícios são grandes, não apenas para os funcionários. “Uma política antitabaco tem grande impacto na empresa. Estima-se que, para cada paciente que deixa de fumar, ela deixa de perder
Alguns setores já não fazem a admissão de tabagistas, mas não de maneira explícita. Acredito que a lei antifumo possa reforçar esse tipo de postura
Edmundo Prince, coordenador do programa antifumo da ABB, e o ex-fumante Roger Andrade (da esquerda para a direita)
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US$ 800 por ano. Em 2008, a ABB economizou US$ 48 mil. Quem é saudável falta menos e produz mais”, esclarece. O administrador de logística, Roger Andrade, 41 anos, se recusava a parar de fumar. “Sentia prazer em ser fumante e não achava que fumava muito, cerca de oito cigarros por dia”, recorda. Não se dobrou nem quando a equipe chefiada pelo doutor Edmundo foi até o seu setor, carregando um cigarro enorme nas costas, e alardeou os malefícios do tabaco. Roger fugiu das palestras, mas acabou cedendo, por incentivo dos colegas de trabalho. “Não acreditava que daria certo”, admite. Em outubro passado, aderiu ao tratamento com o remédio subsidiado pela empresa. Um mês depois, deixou o vício. “Fumei durante 25 anos. Agora estou mais disposto e mais confiante, por ter vencido esse desafio”, conta. Aos poucos, retoma alguns hábitos, como o de tomar um cafezinho nos intervalos, mas sem o cigarro entre os dedos. O fumódromo– que desde 2005 foi instalado a céu aberto– Roger não visita mais. O encontro com os colegas fumantes ficou restrito aos corredores da empresa. “Era um ponto de encontro. Agora, a gente se cruza em frente à máquina de café, mas vai cada um para o seu lado”, diz. O CRA-SP está preparado para, a partir de 7 de agosto, cumprir a nova legislação. Seus espaços ao ar livre permitirão que colaboradores, administradores e visitantes fumem de maneira legal.
Vida curta? Apesar dos esforços corporativos para adaptar-se à recém-criada lei antifumo, ela pode ter vida curta. Juristas defendem que, além de
Onde há fumaça... De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 5 milhões de pessoas morrem, por ano, vítimas do uso do tabaco. Caso as estimativas de aumento do consumo de produtos como cigarros, charutos e cachimbos se confirmem, esse número aumentará para 10 milhões de mortes anuais por volta de 2030 A OMS estima que um terço da população mundial adulta seja fumante, o que representa cerca de 1,3 bilhão de pessoas No Brasil, pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), ligado ao Ministério da Saúde, indica que 18,8% da população brasileira é fumante (22,7% dos
homens e 16% das mulheres) No país, 23 pessoas morrem por hora em virtude de
doenças decorrentes do tabagismo
Estudo divulgado pelo Ministério da Saúde mostra que adultos não-fumantes que convivem em ambientes fechados com tabagistas têm risco 30% maior de apresentar câncer de pulmão e 24% maior de sofrer um ataque cardíaco, se comparado aos que não se expõem constantemente à fumaça do cigarro
se sobrepor às legislações federal e estadual sobre o tema, a lei fere o direito de liberdade do cidadão. O professor de Direito Constitucional da PUC-SP Luiz Tarcísio Teixeira Ferreira afirma que a proibição dos fumódromos e a de estabelecimentos voltados exclusivamente para fumantes é inconstitucional. “Proibir fumó-
dromos implica em proibir fumar. E o Estado de São Paulo não pode fazer isso, a não ser que tal conduta fosse criminalizada por lei pela União”, afirma. Segundo o especialista, a lei está sendo questionada na Justiça, com chances reais de ser derrubada, o que pode obrigar o Estado a recuar em sua política antitabagista.
Capa
A educação caiu na
rede
A gestão estratégica das empresas já navega pelo ensino a distância. No ano passado, 1,5 milhão de pessoas participaram de pelo menos um treinamento ou curso de formação não-presencial
U
m dos maiores bancos do país conseguiu economizar mais de R$ 150 milhões de reais num período de cinco anos e ainda melhorar a qualidade do serviço prestado ao cliente. Por trás do excelente resultado, nenhuma
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tática mirabolante de contenção. Bastou mostrar aos funcionários de suas três mil agências como utilizar o computador para aprender. Ao substituir o programa permanente de palestras e convenções presenciais pelo e-learning, a instituição
financeira conseguiu treinar todos os colaboradores em quatro meses, com investimento de R$ 5 milhões. Se continuasse a insistir no antigo modelo, o processo consumiria R$ 160 milhões, e levaria meia década para ser concluído.
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A história, verídica, é ilustrativa de como a educação a distância (EAD) “invadiu” o ambiente corporativo e tornou-se um mecanismo imprescindível de gestão. Empresas que já adotam o sistema entenderam que ampliar o nível de conhecimento de seus funcionários é um bom caminho para melhorar a produtividade e a qualidade dos negócios. Os cursos a distância de treinamento e formação para o trabalho envolveram cerca de 1,5 milhão de pessoas em 2008, em empresas dos mais variados portes e segmentos. Os dados fazem parte do anuário elaborado pela Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância) e pelo MEC (Ministério da Educação), que será divulgado oficialmente em setembro. Em entrevista à RAP, o presidente da Abed, Fredric Michael Litto, antecipou os números do censo que revela o importante papel desempenhado pela educa-
ção corporativa na disseminação e consolidação do modelo. Funcionários e aprendizes são maioria entre os alunos que estudaram a distância no ano passado, e representam 40% do total de 3,5 milhões de adeptos ao sistema. Cerca de 30%, um milhão de pessoas, estavam matriculados em cursos a distância autorizados pelo ministério, como ensino fundamental, médio, técnico, graduação e pós-graduação. E outros 30% aderiram aos módulos livres, que não fornecem diploma. “Os cursos de capacitação e reciclagem profissional oferecem um conteúdo que interessa às empresas, mas também introduzem o funcionário num novo contexto de aprendizado, que exige iniciativa e automotivação. E o trabalhador acaba sendo preparado para a educação do futuro”, sustenta Litto. São grandes a chances de um colaborador, depois de familiarizado
com as ferramentas de ensino nãopresencial –como sites interativos, CD-Rom, teleaulas–, vir a usá-las novamente para obter conhecimentos que vão além das necessidades exigidas pela empresa. Na opinião de Litto, a possibilidade de aprender sem sair de casa ou do escritório transforma toda a população economicamente ativa em possíveis estudantes. “O trabalho braçal, importante no passado, não é mais tão valorizado. E, atualmente, a exigência do mercado está cada vez maior. Não basta fazer um curso de graduação, é preciso se atualizar sempre. Não tenho dúvidas de que a forma de aprendizado mais viável será os cursos a distância. É um processo irreversível e sem limites”, define. A necessidade de apresentar alternativas ao estudo presencial estimulou universidades a apostarem nos cursos via Internet. Criou-se um círculo virtuoso, em
Os cursos de capacitação e reciclagem introduzem o trabalhador num novo contexto de aprendizado, que exige iniciativa e automotivação. Fredric Michael Litto, presidente da Abed
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que a procura favorece a abertura de cursos, e a nova modalidade desperta o interesse de alunos, boa parte deles até então excluídos do sistema educacional. Uma roda vida que induz mudanças no mercado educacional e também nos critérios de recrutamento e avaliação profissional. Segundo o MEC, o numero de matrículas em cursos de graduação e pós-graduação aumentou 356% em apenas três anos. Em 2004, eram 159.366 estudantes em EAD. Já em 2007 eram 727.657 alunos, sendo 396.766 graduandos e 330.891 em especializações. Quanto ao perfil dos adeptos, em média são mais velhos, têm filhos e trabalham para sustentar a família. Ou seja: são mais excluídos economicamente e mais ocupados na comparação com o alunado que
freqüenta o ensino presencial. “A expansão da EAD é uma questão estratégica. É a única maneira de diminuir o nosso abismo educacional. O Brasil é um país que valoriza os bacharéis, os doutores. As demais profissões são tratadas como segunda classe. Precisamos incentivar cada vez mais o modelo não-presencial, como também os cursos de curta duração. É necessário lançar as bases de um ensino de massas”, sustenta o conselheiro do CRA-SP Carlos Monteiro, que atua como consultor de desenvolvimento em instituições de ensino. Monteiro apresenta mais dados do MEC que revelam a dimensão do déficit no nível de instrução no País. Apenas 12% da população com idade entre 18 e 24 anos estão na graduação. “A meta do Plano Nacional de Educação é alcançar 30%, até 2010. O modelo tradicional jamais dará conta dessa demanda”, avalia. Além disso, o tempo de escolaridade dos brasileiros está bem distante do
razoável. Em média, a população economicamente ativa tem menos de quatro anos de estudo. Para se ter uma ideia, na Argentina, o número sobe para oito anos e meio. “Não só precisamos de mais gente estudando, como de gente estudando por mais tempo”, analisa. A possibilidade de se conectar a qualquer sala de aula do mundo apenas ligando o computador despertou um debate adormecido nos porões acadêmicos, sobre a democratização do acesso ao conhecimento. Em 2001, uma iniciativa encabeçada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) colocou em prática a filosofia da educação sem barreiras – físicas ou econômicas. Com a adesão de mais de 100 universidades de
Stavros Xanthopoylos, diretor-executivo da FGV Online
A educação a distância vai estimular e até pressionar que mais instituições coloquem conteúdos gratuitamente na Internet 20
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renome, como Escola de Direito de Harvard e Universidade de Yale, foi criado o OCWC (Open Course Ware Consortium), uma rede de educação compartilhada que oferece material didático de graça pela internet. A Fundação Getúlio Vargas é a primeira instituição de ensino e pesquisa do Brasil a integrar o consórcio que segue o mesmo conceito dos softwares de código aberto, aderindo à livre difusão do patrimônio intelectual. O programa EAD da FGV Online tornou disponível quatro cursos de atualização, com módulos de 15 horas de duração, em julho de 2008. Em junho, antes de completar um ano de armazenagem no site do OCWC, o conteúdo já havia registrado 500 mil acessos. “A educação a distância vai estimular e até pressionar que mais instituições coloquem conteúdos gratuitamente na Internet. Um aluno que já desenvolveu a disciplina necessária para estudar de maneira não-convencional e tiver conhecimentos em inglês poderá participar de cursos de altíssima qualidade. A liberdade de acesso é um processo que não volta atrás. É impossível retroceder”, avalia o diretor executivo do FGV Online, Stavros Xanthopoylos. De acordo com o diretor, o programa já concedeu certificação a 100 mil alunos que cursaram os módulos livres. Diante do grande número de adesões, a FGV estuda incluir novos cursos na lista livre. “O fato de oferecermos a gratuidade em nada diminui nosso público pagante. Hoje, cerca de 30 mil alunos contratam nossos cursos de especialização a distância, por ano”, garante.
Qualidade em xeque A explosão da EAD no país
levanta debates sobre a qualidade do ensino oferecido. As altas taxas de evasão e inadimplência – maiores que nos cursos presenciais – ainda preocupam e arranham a credibilidade do modelo. O professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP Hamilton Luiz Correa acredita que é preciso lançar um olhar crítico sobre a massificação do modelo. “Estamos acompanhando de perto a evolução do sistema. Temos que assegurar a qualidade da formação ou corremos o risco de colocar profissionais mal preparados, que podem desqualificar a função do administrador”, afirma. Correa, que também é conse-
Educar a distância exige interatividade. Não basta pegar o conteúdo de uma aula presencial e torná-lo disponível na Internet. O aluno precisa ser surpreendido, desafiado lheiro do CRA-SP, explica que a USP, um dos principais centros de excelência do país, ainda é cautelosa quanto à adoção dos cursos a distância. “Ainda há uma série de dúvidas. Não estamos convencidos de que o método é suficientemente maduro para poder ser aplicado sem prejuízo ao aprendizado”, diz. A desconfiança também é compartilhada por estudantes, principalmente os mais jovens. A aluna do curso de Administração da Faculdade Zumbi dos Palmares Viviane Próspero, 24 anos, acredita
que o modelo tradicional possibilita um aproveitamento melhor. “Não cogitei fazer a distância. Não me sinto segura, acho que faltariam instruções e não conseguiria tirar minhas dúvidas.” Já a arquiteta Célia Carvalho, 53 anos, optou pelo MBA em Administração de Empresas a distância. Ela conta que tinha necessidade de aprimorar os estudos, mas não conseguia conciliar aulas presenciais com os compromissos diários. “Fiquei surpresa com a exigência do curso. Entregava relatórios seguidos e também era avaliada pela participação nos fóruns de debates”, conta. Ela diz que os colegas participavam bastante das atividades, e que os professores-tutores estavam sempre disponíveis. Defensor da EAD, Monteiro reconhece que são poucas as faculdades aptas a operar o modelo. “Os investimentos iniciais são altos. Via de regra, as universidades referência no ensino presencial também oferecem EAD de qualidade.” Para atender às necessidades do mercado, muitas instituições acabaram incluindo a modalidade em seus currículos, sem possuírem ferramentas adequadas para transmitir o conhecimento. “Educar a distância exige interatividade. Não basta pegar o conteúdo de uma aula presencial e torná-lo disponível na Internet. O aluno precisa ser surpreendido, desafiado. E muitos cursos ainda não entenderam a regra”, opina. Em agosto, o Conselho Federal de Administração deve ampliar a fiscalização dos cursos de graduação na área. A assinatura de um termo de colaboração com o MEC vai permitir que o órgão emita pareceres sobre a abertura de novos cursos, 21
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sejam presenciais ou a distância. Desde 2006, baseado no Decreto 5.773, o Conselho elabora relatórios sobre os cursos já credenciados e que precisam ser reconhecidos pelo Ministério para emitir diploma aos formandos. O CFA não tem poder de veto. No entanto, pretende tornar públicas as avaliações sobre as instituições de ensino, para que professores e alunos tenham ciência das condições oferecidas.
A Administração e a EAD Apesar das críticas, um levantamento elaborado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) dá sinais positivos sobre o desempenho em métodos nãoconvencionais de aprendizado. No Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), prova usada pelo MEC para medir o rendimento dos graduandos de
todo o país, os alunos de EAD obtiveram notas melhores que os de cursos presenciais em sete das 13 áreas analisadas, dentre as quais a Administração (veja quadro completo na página 23). Ao todo, dos 1.181 cursos em EAD credenciados pelo Ministério, cerca de 22% são da área de Administração e Gestão, ou seja, um em cada cinco. Quando analisada somente a oferta em lato sensu e MBAs, a proporção é ainda maior: um em cada três. As amplas possibilidades de formação continuada transformaram os administradores num dos principais consumidores do ensino não-presencial, como alunos e como gestores. A professora-doutora da FIA (Fundação Instituto de Administração) e doutora em educação a distância Liliana Vasconcelos diz que
o modelo está intimamente ligado a uma das principais competências do administrador: a capacidade de aprender rapidamente. Em sua tese de mestrado, Liliana mediu a contribuição do e-learning para o desenvolvimento dessa habilidade. E concluiu que estudar pela Internet tem papel decisivo no processo. “A velocidade de inovação impõe que o administrador seja igualmente ágil na busca por novos conhecimentos para atender o nível de exigência das empresas, que aumentou muito. O executivo que não incorpora os estudos online no seu dia-a-dia estará sempre em desvantagem.” De acordo com os resultados da pesquisa, profissionais que utilizaram o e-learning afirmaram que o método estimulou a auto-aprendizagem, capacidade de administrar ambientes virtuais de trabalho, a participação em discussões e a troca de experiências via Internet. Além disso, um administrador que entende a EAD como ferramenta imprescindível para obter e renovar conhecimentos pode fomentar o treinamento de funcionários a distância. A postura do gestor que valoriza a aprendizagem pode ajudar na superação de um conceito ultrapassado em muitas empresas, de que a formação não melhora os negócios.
Liliana Vasconcelos, professora-doutora da FIA
Fernando Carvalho Cardoso, sócio-diretor da Integração Escola de Negócios 22
O e-learning não anda sozinho. Se o gestor não se dedicar à manutenção, oferecendo novos cursos e desafios, a prática se esgota
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Em outra pesquisa, dessa vez para sua tese de doutorado, a professora da FIA identificou os gargalos da implementação do ensino corporativo numa companhia de 300 funcionários. A empresa já colocava os cursos à disposição dos colaboradores, mas a adesão era pequena. Muitos não conseguiam participar em virtude da sobrecarga de atividades, ou porque se sentiam constrangidos de se dedicar aos estudos enquanto outros colegas trabalhavam. “Antes de se implementar a EAD no ambiente corporativo é preciso estudar uma série de variáveis, que vão desde a facilidade de uso à metodologia adequada, passando pela adequação do projeto às necessidades reais da empresa e a criação de uma rede de facilitadores, que possam tirar as dúvidas dos funcionários sobre o sistema”, define.
Presencial ou a distância? Os dois Criar as bases para implementação do ensino a distância no ambiente corporativo é apenas o primeiro desafio. Uma vez em andamento, o processo de aprendizagem não pode ser interrompido, porque isso significa desperdiçar recursos
A velocidade de inovação impõe que o administrador seja igualmente ágil na busca por novos conhecimentos para atender o nível de exigência das empresas, que aumentou muito
financeiros e humanos. “Manter o projeto é o Desempenho de alunos grande xis da questão. O presenciais e de EAD no Enade e-learning não anda sozinho. Se o gestor não se 1-Administração 37,71 37,99 dedicar à manutenção, 2-Biologia 32,67 32,79 oferecendo novos cursos 3-Ciências Contábeis 34,97 32,59 e lançando desafios, a 4-Ciências Sociais 41,16 52,87 prática se esgota. O estí5-Filosofia 32,50 30,36 mulo deve ser constante”, 6-Física 32,50 39,62 sustenta o especialista 7-Formação de Professores 42,82 41,52 em e-learning Fernando 8-Geografia 39,04 32,58 Carvalho Cardoso, sócio9-História 38,47 31,60 diretor da Integração 10-Letras 35,71 33,05 Escola de Negócios. 11-Matemática 31,68 34,16 Cardoso cita o exemplo 12-Pedagogia 43,35 46,09 de uma construtora que 13-Turismo 46,34 52,26 colocou 15 cursos à disposição dos funcionários e deixou que escolhessem livremente quais gostacom textos e vídeos postados em riam de participar. No primeiro sites. Hoje, as webconferências ano, 76% de todo o efetivo fez pelo ao vivo ganham espaço e podem menos um módulo. Depois disso, a viabilizar o acesso das pequenas adesão caiu a zero. “Faltou gerenempresas à EAD, já que não requer ciamento”, explica. investimento inicial pequeno. “O Uma das formas de sustentar a aluno pode interagir, enviar perqualificação continuada é combiguntas em tempo real. Alguns nar ensino a distância e presencial. professores já utilizam o Skype O especialista afirma que as duas para dar aula.” modalidades se complementam Em breve, além de aprendizes, e devem fazer parte da rotina de os próprios funcionários serão os quem trabalha com educação produtores de conhecimento, já corporativa. “O grande viés a ser habituados ao uso da internet como superado é esse. Um modelo não meio de reciclagem intelectual. pode excluir o outro. É preciso lan“Será a vez do YouTube corporaçar mão dos dois. O e-learning é tivo, com os colaboradores criando uma ferramenta auxiliar que funvídeos para disseminar as técnicas ciona muito bem como extensão da e os procedimentos da empresa sala de aula convencional. Mas não e dividir experiências que deram a substitui.” certo. Também haverá uma espéPara Cardoso, o Brasil vive a cie de ‘Wikipedia for e-learning’, segunda grande onda do aprenenciclopédia livre abastecida por dizado eletrônico. Nos últimos 12 pessoas de diversos segmentos, anos, o recurso mais aplicado era da indústria ao setor de serviços”, o modelo em que professor e aluno prevê o especialista. Se você ainda nunca se encontravam no ambiennão se conectou, é bom correr. Ou te virtual –os cursos eram oferecificará sozinho na caverna. dos via CD-Rom ou pela internet, 23
Perfil
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Ouça os mais velhos Como o conhecimento pode se transformar em vantagem competitiva O paulistano Giancarlo Ricciardi, 40 anos, é um árduo defensor do conhecimento. A trajetória profissional deste administrador, formado pela Universidade Mackenzie, reflete tamanho empenho. Em 2003, depois de gerenciar a área de vendas de grandes companhias, como Xerox e Konika Minolta, ele trocou a indústria pelas salas de aula. Desde então, dedica-se às pesquisas –ele é mestre em Administração e aluno do programa de doutorado na mesma instituição em que se graduou. Estudioso da vantagem competitiva sustentável, o professor e coordenador dos cursos de Marketing da Universidade Anhembi Morumbi diz que as empresas devem investir mais em recursos humanos para estar um passo à frente da concorrência. Para ele, o aprendizado informal deve ser valorizado e os profissionais mais experientes precisam ser ouvidos. Sem uma gestão do conhecimento eficiente, as inovações podem continuar engavetadas nas práticas que ninguém vê e nos processos que não constam dos manuais. A seguir, os principais trechos da entrevista. 25
Perfil
RAP - O sr. passou mais de uma década trabalhando na indústria e se desligou totalmente para se dedicar à área acadêmica. Como foi a transição? Giancarlo Ricciardi - Em 2001, comecei a dar aulas na Anhembi, muito mais como hobby. Quando terminei a pós-graduação em Marketing, na ESPM, comentava com os meus colegas que precisava me manter atualizado, mas não queria pagar por novos cursos. Lecionar, para mim, é algo que vai muito além da satisfação profissional, é uma belíssima forma de fazer uma “lavagem” interior. Em 2003, passei a me dedicar exclusivamente à universidade e descobri que meu lugar era o meio acadêmico. Não foi uma decisão difícil. Quando estava na Xerox, me dei conta de que as pessoas carregavam o nome da empresa como sobrenome. Eu mesmo me apresentava aos clientes como o Gian da Xerox do Brasil. Deixei de ser o Giancarlo Ricciardi. Percebi que isso não era bom. No momento em que deixasse esse emprego, perderia o “sobrenome”
e a referência. Comecei a rever esse conceito. E isso me ajudou muito a buscar outros desafios. O desapego da grande marca por trás do meu nome foi importante nesse processo. Nós não somos profissionais de uma empresa para o resto da vida. No meio acadêmico, a produção do pesquisador é o que conta, ele se torna referência por sua própria bagagem de conhecimento. RAP - Logo após ingressar na carreira acadêmica, o sr. iniciou o mestrado sobre vantagem competitiva. Qual foi a abordagem? Ricciardi - Usei o conceito da vantagem competitiva sustentável, um termo que não é muito usado no Brasil. Parte do pressuposto que a empresa detentora de recursos valorosos, raros, imperfeitamente imitáveis e imperfeitamente substituíveis –essas quatro características têm de estar presentes ao mesmo tempo– obtém vantagem no mercado. E que essa vantagem não será corrompida pelo concorrente no médio e longo prazos, daí a condição sustentável.
Giancarlo Ricciardi, coordenador dos cursos de Marketing da Anhembi Morumbi
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RAP - Quais tipos de recursos garantiriam a vantagem sustentável? Ricciardi - Os recursos que reúnem as quatro características podem ser físicos, humanos, podem ser uma posição única no mercado ou até mesmo um produto. Em uma mercadoria é mais difícil, porque um produto pode ser facilmente substituído ou imitado. A tendência é encontrar esses recursos nos valores intangíveis da corporação. As empresas, de modo geral, têm grandes dificuldades em identificar o potencial de vantagem e, por conta disso, os recursos-chave que merecem ser tratados de maneira diferenciada não são devidamente explorados. A gestão eficiente do conhecimento é um bom exemplo. RAP - As empresas desperdiçam conhecimento? Ricciardi - Parte delas sim. Existem dois tipos de conhecimento: o explícito e o tácito. O primeiro é o que encontramos nos manuais. O segundo é passado de pessoa para pessoa. São as “manhas” do negócio, remetem à figura do aprendiz e do mestre, à época dos artesãos, em que o conhecimento era transmitido de forma oral, ou simplesmente pela observação ou pela cópia. E é esse conhecimento tácito que muitas corporações desperdiçam. Mesmo no trabalho mecanizado e padronizado, há espaço para a transmissão do saber. É claro que, durante a montagem de uma placa de circuito impresso, uma máquina está programada para fazer aquilo, e não há meios diferentes de produzi-la. Mas, no momento em que um engenheiro eletrônico
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está desenvolvendo essa placa, sim, há espaço para a transmissão do conhecimento tácito. É preciso aproveitar as experiências práticas, inclusive as que não deram certo. Uma lenda corporativa diz que um dos principais produtos da marca 3M, a Scotch Brite, foi criado graças a uma “burrada” de um estagiário. Ele teria deixado cair um produto em seu calçado e não conseguia lavar, percebeu que a sujeira não saía. O jovem foi falar com um de seus superiores, que ficou intrigado e foi buscar uma solução. Gestão do conhecimento é isso: permitir que a criação se transforme em inovação. O fato de o funcionário ser inventivo pode trazer receita para a empresa. RAP - Ou seja, muitas inovações surgem na informalidade? Ricciardi - Sem dúvida. Por isso é importante capacitar os gestores, para que aprendam a valorizar o aprendizado informal, que é tão importante quanto o formal. A gestão do conhecimento não pode ser padronizada, porque lida com as relações humanas. Não há fórmulas. Há muitos meios de se transmitir conhecimento. Esse processo está nas mãos de quem observa e de quem tem o saber, a experiência, os anos de janela. Aqui, no Brasil, há uma tendência em se valorizar os profissionais recém-formados em vez dos mais experientes. Geralmente, os mais velhos têm uma formação menos sólida que os novatos. Mas a bagagem de vida que esses profissionais adquiriram pode trazer contribuições enormes.
Os japoneses já fazem isso. Em empresas japonesas, os colaboradores com 60, 70 anos, prestes a se aposentar, ainda são ouvidos, se transformaram em conselheiros. Com o passar do tempo, o profissional mais velho identifica que os roteiros dos filmes são sempre os mesmos. Muda-se o cenário, os atores, mas o enredo é basicamente o mesmo. Os jovens tendem a ser mais impe-
Não se consegue vantagem competitiva sem ter um ser humano por trás dela, para torná-la valorosa tuosos e arrojados, e dão mais “cabeçadas” que outros mais experientes, com mais horas de voo. E é desse colaborador mais antigo que pode surgir algo inovador. Ele não precisa recorrer a livros para saber alguma coisa, porque ele já viu. Temos que valo-
rizar o “feeling” dessas pessoas. A alta rotatividade nas empresas impede que isso aconteça. A idade média dos gestores é muito baixa. Hoje, há profissionais que assumem o cargo de presidência de uma grande empresa com 45 anos. Talvez ele não tenha maturidade profissional suficiente para exercer esse cargo, embora possa ter uma larga experiência técnica. Ele tem o conhecimento, mas não tem a sabedoria, um lastro que se ganha com o passar do tempo. RAP - Por esse raciocínio, uma política eficiente de recursos humanos, como a gestão do conhecimento, em alguns casos pode trazer vantagens competitivas mais sustentável que a tecnologia? Ricciardi - Creio que sim. Na minha visão, mesmo que resida em bens tangíveis, como no domínio de um alto padrão tecnológico, essa vantagem competitiva foi obtida lá atrás, antes do processo de fabricação do produto, ainda na concepção. Nada substitui o ser humano. Não se consegue vantagem competitiva sem ter um ser humano por trás dela, para mantêla, para torná-la valorosa, rara e imperfeitamente imitável e imperfeitamente substituível.
RAP - O conselho, então, é “ouça os mais velhos”? Ricciardi - Indiscutivelmente. 27
Canal Aberto
Delegacia de Bauru: lado a lado com os universitários
ores es) . Hel son José Berçott Fag und de Bau ru e Reg ião (Pres. Adm 2 225 Mar tha, 23 - conj. 11 Cep: 1701 a Silv da quim End ereço: R. Joa SP Tel: (14) 3226 500 4 - Bau ru pinas - Ass ocia ção dos Região Administrativa de Cam ira Jr.) s (Pres. Adm. João Bat ista Pere Adm inis trad ores de Cam pina A anema, 146 - conj. 44End ereço: R. Barão de Para nap 0 - Fax: (19) 3251 968 8 966 1 325 (19) Tel: 010 Cep: 13026 r rg.b rc.o Cam pina s - SP - ww w.aa
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ocaba - Ass ocia ção dos Adm inis Região Administrativa de Sor erto Dilela Filh o)
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Adm. Gilb de Soroca ba e Reg ião (Pres. 35 010 12º and ar - Sala 128 - Cep: 180 17 , Luiz re Pad R. End ereço: .br com esr. w.aa ww 7 098 3211 Soroca ba - SP - Tel: (15) dos José do Rio Preto - Ass ocia ção ões) Região Administrativa de São Sim los Car José . Adm s. do Rio Preto (Pre Adm inis tradores de São José 020 25 150 : Cep 89 , eira Silv End ereço: R. Luiz Antônio da .br (17) 3234 1676 - ww w.siarp.org São José do Rio Preto - SP - Tel:
Quando a Associação dos Administradores da Cidade de Bauru e Região passou a funcionar como delegacia do CRA-SP, em maio de 2003, a situação da entidade junto a profissionais não era muito animadora. Em um raio de 150 quilômetros, a instituição angariava poucas centenas de registros. Seis anos depois, em 2009, graças a uma intensa campanha, principalmente junto às universidades, a delegacia comemora o trabalho eficiente que multiplicou as regularizações em 8 vezes
M
esmo com os resultados expressivos, o presidente da entidade, Helson Berçott Fagundes, avalia que o desafio está apenas começando. Por isso, as ações devem se intensificar ainda mais. “Queremos dobrar o número de registros de pessoas físicas, e alcançar mais empresas. Nesses seis anos, conseguimos muitos progressos, nos consolidamos como referência para os administradores e conquistamos credibilidade. Temos tudo para continuar a crescer”, avalia. De acordo com Berçott, o objetivo é fazer frente ao crescimento do mercado de trabalho para administradores em Bauru e das cidades vizinhas, que se reflete na oferta de cursos universitários. Todos os anos, cerca de 800 estudantes recebem o diploma de bacharel em
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Administração, em pelo menos oito faculdades autorizadas pelo Ministério da Educação (MEC). “Os universitários são o principal alvo de nossa campanha pelo registro. Boa parte deles já sai da faculdade com a situação regularizada junto ao CRA”,explica. O contato com os estudantes tornou-se estreito graças ao apoio dado pela delegacia aos eventos promovidos pelas universidades e pela instituição do prêmio Professor Emérito, criado para homenagear os melhores docentes do ensino de Administração do Oeste paulista. “Os alunos de cada universidade elegem os professores que serão premiados durante um grande evento.
Este ano, a entrega das placas de homenagem será feita em setembro”, conta Berçott. Também está entre as prioridades da delegacia promover discussões sobre temas importantes da atualidade e as novas tendências e soluções em gestão. Cursos e palestras fazem parte da agenda permanente da delegacia, que ainda mantém convênio com universidades e cursos de pósgraduação. “A parceria permite que o administrador com registro no CRA tenha descontos que podem chegar a 30% da mensalidade”, afirma o presidente. Berçott acredita que cerca de 10 mil bacharéis em Administração atuem nas empresas e indústrias
da região, que tem Bauru como principal centro econômico. O município, que abriga cerca de 360 mil habitantes e fica a 345 quilômetros da capital, tem na rede de comércio e serviços sua grande fonte de recursos. De acordo com a Fundação Seade, cerca de 75% dos empregos com carteira assinada são mantidos pelo setor, onde atua a maioria dos profissionais da área administrativa. “Como delegacia do CRA, quanto mais fortalecidos estivermos, ganha a categoria e ganha a sociedade, porque o profissional terá de atuar com ética e responsabilidade, sob pena de perder o registro do conselho”, finaliza.
Estilo
De olho no seu blog Como páginas pessoais hospedadas na web chamam a atenção de marcas renomadas e acabam se tornando lucro para os blogueiros por Rodrigo Lara
A
primeira referência do que hoje conhecemos como blog teria surgido em 1997, quando o programador norteamericano Jorn Barger criou uma página pessoal na Internet e referiu-se a ela como “weblog”. O que o programador não imaginava era que seu diário, criado com o intuito de relatar experiências do cotidiano, daria início a uma tendência
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que hoje reúne cerca de 133 milhões de páginas nos mais diversos idiomas. O dado é da Technorati, que monitora a blogosfera há sete anos. Desde 1997, além da quantidade de usuários, o perfil desses espaços virtuais também mudou. No lugar dos “diários”, entram blogs voltados à informação. Também surgem cada vez mais casos de blogueiros sendo remunerados para manter
páginas corporativas ou participar de ações de marketing. O conceito de blog, amplamente difundido, está totalmente ligado à praticidade, o que permite que qualquer pessoa tenha o seu. A facilidade de criação e gerenciamento de uma página como essa atrai cada vez mais pessoas, que enxergam nelas uma maneira de expor suas ideias, relatar e debater fatos com os
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seus leitores, já que elas permitem essa interação por meio da seção de comentários. E não falta audiência para os blogs. Segundo a agência de comunicação norte-americana Universal McCann, 346 milhões de pessoas, o que corresponde a 77% dos usuários ativos da Internet, visitam esses espaços. Esse grande número de leitores e de páginas acaba por chamar a atenção de empresas, que passaram a vê-las como uma forma de promover seus negócios e comunicar-se
sultora para a venda de produtos Natura. “O espaço foi feito apenas no anseio de expressar tudo que eu estava aprendendo sobre bemestar com a Natura. Tinha vontade de escrever, de me expressar, de mostrar para as pessoas que todos têm um poder de melhorar tudo ao seu redor.” O sucesso da página de Luciana entre os consultores da marca e sua constante aparição entre os primeiros resultados em mecanismos de busca chamou a atenção da
Segundo a Technorati, referência mundial em monitoramento de blogues, existem hoje cerca de 133 milhões de páginas nos mais diversos idiomas diretamente com seus consumidores. Para tal, elas apostam tanto em blogs corporativos como em parcerias com blogueiros que têm em suas páginas algum conteúdo relacionado à sua área de atuação ou aos seus produtos. Cria-se assim uma oportunidade para os donos de blog transformarem seu hobby em uma maneira de obter renda.
Profissional do bem-estar Foi nesse contexto que a publicitária Luciana Soldi Bullara, hoje responsável pela página sobre bemestar blogConsultoria, da Natura, atraiu os olhares da empresa de cosméticos. Ela criou seu blog pessoal no início de 2007. “Eu procurava uma recolocação profissional na época, principalmente no mercado de Internet, onde comecei minha carreira. Depois de alguns anos em queda, o mercado dessa área tinha voltado a reaquecer”, diz. Luciana conta que desenvolveu sua página após se tornar uma con-
empresa, que decidiu convidá-la para administrar um blog piloto da marca. A experiência rendeu e se transformou no blogConsultoria, que possui pouco mais de um ano e meio de vida. Ele traz dicas sobre bem-estar e também funciona como um canal de comunicação entre a Natura e suas consultoras.
Gol de placa Caso similar aconteceu com o jornalista Rodrigo Barneschi. Movido pela paixão a um time, ele decidiu criar um blog, em 2003. “Queria expor minhas idéias sobre futebol e o Palmeiras.” Nesse tempo, a página acumulou leitores e ganhou grande visibilidade. Hoje, ela possui uma média de mil acessos diários. Rodrigo salienta que sua meta não era colecionar seguidores, e sim gerar um debate qualificado sobre o time para o qual torce. No entanto, essa exposição acabou por despertar o interesse da Samsung, patrocinadora da equipe. Para divulgar o lançamento de um novo celular, a empresa aproveitou sua ligação com o Palmeiras para convidar blogueiros que escrevem sobre o time – a chamada “Mídia Palestrina” – a participar de uma ação de marketing. Para tal, os convidados deveriam inserir, em suas páginas, palavras escritas em um formato típico de mensagens trocadas por celular. Uma das principais preocupações de Rodrigo ao receber o contato da
Luciana Soldi Bullara, blogueira oficial da marca Natura
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Estilo
Rodrigo Moretz, gerente de marketing de relacionamento da Samsung
Samsung era, ao aceitar a proposta, descaracterizar seu espaço. “Conversei com pessoas interadas da relação entre blogs e empresas. Cheguei à resposta que me importava: a linha editorial e a liberdade para escrever não seriam afetadas.” O blogueiro, então, decidiu participar da campanha e, em contrapartida, a empresa ofereceu um teste do novo telefone, em primeira mão, para ele e os demais participantes do projeto.
Mídias complementares Gerente de marketing de relacionamento da Samsung, Rodrigo Moretz defende a utilização de blogs e as demais mídias sociais como uma forma de complementar ações nessa área. “Quando planejamos uma campanha, não pensamos se vamos investir em mídia tradicional ou Web 2.0. Buscamos sempre uma sintonia fina. Temos a certeza de que não é possível apostar em apenas uma.” Moretz salienta que os resultados de ações em um tipo de mídia influem diretamente na outra. Para as empresas, isso significa levar sua mensagem para uma quantidade 32
muito grande de pessoas. A escolha de buscar o apoio da “Mídia Palestrina” para lançar o celular deu-se pela relevância que os blogueiros têm junto ao público-alvo do produto. “Um tiro certeiro”, define o gerente. A ação também envolveu a camisa do time: o logotipo da Samsung remetia ao formato das mensagens de celular. “Foi uma escolha positiva, de grande repercussão e mostrou que, ao abrirmos um diálogo mais próximo com os consumidores da nossa marca e desenvolvermos par-
Wagner Martins, sócio da agência de comunicação Espalhe
cerias eficientes, todas as partes saem ganhando.” Quem compartilha da opinião de Moretz é Wagner Martins, sócio da Espalhe, agência de comunicação voltada a ações inovadoras na área de marketing. Ele avalia que a Internet se tornou uma ferramenta tão importante para as empresas a ponto de ser impossível ignorá-la. O publicitário salienta, contudo, que o caminho não é se aventurar. “É preciso ter conteúdo relevante, que interesse a quem está do outro lado. Também é necessário traduzir uma comunicação que a princípio foi pensada para funcionar em mão única, nos meios tradicionais, e fazer o seu conceito principal assumir características de diálogo.” A parceria com blogueiros também permite maior controle sobre a exposição das empresas. Martins sustenta que as empresas podem ter nos blogs seu principal canal de comunicação “com seus clientes, parceiros e, principalmente, com qualquer pessoa que esteja buscando na web algo relacionado ao seu negócio”. Portanto, blogueiros, fiquem espertos: as empresas podem estar de olho no seu blog.
Opinião
O valor da reputação corporativa Há uma lacuna nas empresas: um profissional que tenha se qualificado para alinhar a administração de fatores intangíveis e garantir que iniciativas e mensagens produzidas pelos diversos departamentos sejam harmônicas entre si e atendam aos objetivos do planejamento estratégico
A
Administração da Reputação Corporativa é um conceito zainda novo, mas em expansão entre as grandes corporações globais e algumas assessorias de comunicação e agências de relações públicas mundo afora. Poucos, no entanto, compreendem que a reputação não é apenas uma função de comunicação, mas sim uma função da administração. Nenhum plano de marketing, de relacionamento com investidores (RI), de relacionamento com a mídia ou sofisticadas estratégias de branding, por mais audacioso que seja, sustentará os negócios de uma empresa e a maneira como ela é percebida por seus públicos estratégicos, stakeholders, audiências prioritárias, partes interessadas ou outro nome que se queira dar às pessoas ou grupos que realmente são importantes e vitais para a rentabilidade e perenidade da organização. Ao contrário, a reputação de uma empresa é reflexo de um inspirado modelo de negócios, implementado por meio da habilidade e capacidade de execução de seus administradores, do talento de suas lideranças e da capacidade de resposta em momentos de adversidade. Outros aspectos críticos e determinantes da reputação corporativa são gestão financeira, competitividade dos produtos, marketing, tecnologia,
expertise da força de trabalho, atitudes de responsabilidade social, cultura, práticas (e não apenas discurso) de governança corporativa e conduta ética de seus administradores e acionistas. Ainda que uma empresa se comunique com freqüência e de forma pró-ativa, destinando significativos orçamentos para esta ação, a falta de credibilidade de suas mensagens é um forte sinal de que os problemas vão além da ineficiência da comunicação ou de um programa de RI. Portanto, a credibilidade da empresa está diretamente relacionada com sua
reputação. Um entendimento correto dos elementos que compõem essa reputação deveria ser obtido a partir de informações vitais para alimentar o plano estratégico das organizações, assim como seus processos de decisão, para o dia-a-dia (curto prazo) e ano após ano (longo prazo). A reputação de uma empresa é, portanto, um ativo intangível que se reflete diretamente em todos os demais esforços e iniciativas - desde seu custo de capital até seu sucesso no recrutamento de talentos. A reputação e o nível de confiança são os primeiros pontos de refe-
Importância crescente dos ativos intangíveis (Valor de Mercado S&P 500)
18% 38%
Ativos Tangíveis
62%
Ativos Intangíveis
82% 62% 38% 1982
1992
2002
Fonte: Jürger H. Daum, Intangible Assets and Value Creation, John Wiley & Sons, 2002 33
Opinião
rência quando investidores estão avaliando o preço de suas ações ou estudando potencias fusões. Pode representar, ainda, um importante valor a ser descontado quando o inesperado acontece, não importando se é uma repercussão negativa na mídia, uma reclassificação no balanço –é bom lembrar da implementação do IFRS (veja quadro ao lado) que se avizinha e a estimada redução que provocará na lucratividade das empresas brasileiras– ou uma transação de fusão ou aquisição com resultados indesejados. Também faz a diferença em uma iniciativa hostil de acionistas minoritários ou, ainda, em desafios públicos envolvendo questões ambientais, sociais ou assuntos relacionados a movimentos sindicais. Por outro lado, a reputação pode ser um grande catalisador na criação de valor em momentos de resultados favoráveis e iniciativas positivas, acelerando os negócios e potencializando resultados.
O administrador tem uma função estratégica, pois deverá cuidar da sustentabilidade da organização, a partir de uma gestão que combina uma multiplicidade de conhecimentos 34
Função estratégica do administrador No Brasil, os aspectos tangíveis, em especial o financeiro, ainda são muito valorizados. Preocupações com a gestão de reputação, relações públicas com métricas de resultado ou branding ainda não são o foco da maior parte das organizações. Mas serão. Sai na frente quem estiver capacitado para alinhar planos estratégicos com as atitudes e a comunicação, tanto nas relações institucionais, nas manifestações públicas, nas relações interpessoais e, especialmente, na linguagem utilizada nos websites, relatórios anuais, catálogos de produtos/serviços, revistas internas ou imprensa, entre outros meios. Dentro do contexto corporativo, o administrador tem uma função estratégica, pois deverá cuidar da sustentabilidade da organização a partir de uma gestão que combina uma multiplicidade de conhecimentos, tais como estratégia, finanças, operações, marketing, regulamentação, comunicação, governança etc. A habilidade para gerenciar de maneira harmônica áreas aparentemente antagônicas é fundamental, mas ainda não o credencia para dominar a gestão da reputação corporativa. Estou certo que muitos profissionais possam atingir essa meta, mas faltam formação, técnicas e estratégias. Em um mercado cada vez mais complexo e acirrado, no qual se lida com um grande volume de informações –oque prejudica a compreensão e assimilação das principais mensagens–, é indispensável dominar técnica da visão sistêmica, sustentabilidade e comunicação integrada para atender a uma multiplicidade de
públicos estratégicos, cada vez mais bem informados, conscientes e exigentes. Mais que isso: tudo em tempo real. Não é à toa que o intangível passou a valer mais que o tangível. Então, estamos preparando administradores para vencer esse novo desafio?
IFRS (Internacional Financial Reporting Standards) Conjunto de normas e pronunciamentos de contabilidade internacionais publicados e revisados pelo IASB (International Accounting Standards Board). As normas IFRS foram adotadas pelos países da União Européia a partir de 31 de dezembro de 2005 com o objetivo de harmonizar as demonstrações financeiras consolidadas, publicadas pelas empresas abertas européias. A iniciativa foi internacionalmente acolhida pela comunidade financeira. Atualmente, numerosos países têm projetos oficiais de convergência das normas contábeis locais para as normas IFRS, inclusive o Brasil. Estudo da Ernst Young, com base em pronunciamentos da CVM, demonstra que regras já implementadas provocaram queda de 20% nos resultados.
Adm. Valter Faria
CRA-SP - 25210-7 administrador de empresas, consultor e especialista em governança corporativa, estratégia de comunicação financeira e relações com investidores