Temporada 2014 - Grupo de Percussão Li Biao

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O Ministério da Cultura e a Cultura Artística apresentam

Grupo de Percussão Li Biao Li Biao Alexander Glöggler Conrado Moya Sánchez Lukas Böhm Philipp Jungk Ronni Kot Wenzell Rudolf Alexander Bauer

Grupo de Percussão Li Biao GIOCONDA BORDON

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PROGRAMA

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NOTAS SOBRE O PROGRAMA

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Fernando Iazzetta

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BIOGRAFIAS

APOIO

PATROCÍNIO

REALIZAÇÃO


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Sociedade de Cultura Artística Diretoria PRESIDENTE

Governo do Estado de São Paulo Secretaria de Estado da Cultura Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo — OSESP

Pedro Herz

REGENTE TITULAR (2012-2016)

DIRETORES

Marin Alsop

Antonio Hermann D. Menezes de Azevedo Cláudio Sonder Gioconda Bordon Fernando Carramaschi Luiz Fernando Faria Marcelo Levy Patrícia Moraes Ricardo Becker

REGENTE ASSOCIADO (2012-2016)

SUPERINTENDENTE

Fernando Henrique Cardoso

Frederico Lohmann

Conselho de Administração PRESIDENTE

Cláudio Sonder VICE - PRESIDENTE

Roberto Crissiuma Mesquita CONSELHEIROS

Aluízio Rebello de Araújo Antônio Ermírio de Moraes Carlos José Rauscher Fernando Xavier Ferreira Francisco Mesquita Neto Gérard Loeb Henri Philippe Reichstul Henrique Meirelles Jayme Sverner Marcelo Kayath Milú Villela Pedro Herz Plínio José Marafon

O RITMO ESPETACULAR DA CHINA

DIRETOR ARTÍSTICO

Arthur Nestrovski

Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo Organização Social de Cultura PRESIDENTE DE HONRA

PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

No quesito percussão, não há dúvida de que somos um público bastante exigente, acostumado à sofisticação das coreografias rítmicas das baterias das escolas de samba, bem como à pulsação não menos alucinante dos grupos de bumbos e tambores da Bahia, como o Olodum, por exemplo, o mais famoso dentre tantos conjuntos brasileiros de percussão.

VICE - PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

Heitor Martins DIRETOR EXECUTIVO

Marcelo Lopes SUPERINTENDENTE

Fausto Augusto Marcucci Arruda MARKETING

Carlos Harasawa DIRETOR Mauren Stieven

Um concerto centrado na pulsação do ritmo nos desperta para algumas simples e breves constatações a respeito dessa categoria de instrumentos. A fertilidade dessa família sonora é espantosa. Por mais que procuremos no naipe das cordas, dos metais ou das madeiras, não vamos encontrar contingente tão numeroso. Além de mesclar formatos e consistências de natureza diversa — triângulos, tímpanos, cabaças, tambores, gongos, marimbas, sinos —, paira sempre a possibilidade de achados improváveis. Os compositores dedicados à percussão estão constantemente à procura de novos efeitos, inventados a partir dos objetos os mais diversos, como potes de cerâmica, talheres de madeira, copos. Não há limites para a criação de uma peça capaz de emular um batimento cardíaco. Até tubos de PVC produzem uma sonoridade singular e atraente, prova de que a música pode surgir do mais inexpressivo objeto.

DEPARTAMENTO DE OPERAÇÕES

Mônica Cássia Ferreira Gerente Ângela Sardinha Cristiano Gesualdo Fabiane de Oliveira Araújo Guilherme Vieira Regiane Sampaio Bezerra Vinicius Goy de Aro Felipe Lapa

Alfredo Rizkallah Hermann Wever João Lara Mesquita José Zaragoza Mário Arthur Adler Salim Taufic Schahin Thomas Michael Lanz

DEPARTAMENTO TÉCNICO

Programa de sala — Expediente

ACÚSTICA E SOM

Ronald Góes GERENTE Ednilson de Campos Pinto Erik Klaus Lima Gomides Sérgio Cattini ILUMINAÇÃO

Carlos Eduardo Soares da Silva Abdias Vicente da Silva Junior

Quaisquer que sejam suas origens, os instrumentos de percussão criam uma espécie de som ancestral, que nos transporta para um universo sonoro ritualístico e misterioso, presente nas cerimônias religiosas desde sempre. Basta lembrar dos sinos das igrejas, das matracas das procissões e dos atabaques do candomblé, para ficar entre os mais conhecidos.

Fernando Dionísio Vieira da Silva Renato Faria Firmino

EDIÇÃO

Maria Emília Bender

MONTAGEM

PROJETO GRÁFICO

Rodrigo Batista Ferreira

Paulo Humberto Ludovico de Almeida

CONTROLADOR DE ACESSO

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA

Ludovico Desenho Gráfico

Conjuntos de percussão raramente se apresentam nas temporadas da Cultura Artística — a última vez que assistimos a uma formação desse gênero foi em 2008, quando o grupo japonês Kodo veio ao Brasil. Hoje a cena cabe ao percussionista chinês Li Biao, aclamado pela crítica e pelo público, artista que vem sendo muito requisitado pelas grandes orquestras europeias.

Fábio Colletti Barbosa

APOIO A EVENTOS

Silvia Pedrosa

gioconda@culturaartistica.com.br

Celso Antunes

Conselho Consultivo

SUPERVISÃO GERAL

Gioconda Bordon

Sandro Marcello Sampaio de Miranda ENCARREGADO

ASSESSORIA DE IMPRENSA

INDICADORA

Floter & Schauff

Sabrine Ferreira ENCARREGADA REALIZAÇÃO Ministério da

Cultura

Traduzir Bach e Vivaldi para uma língua essencialmente rítmica — uma das atrações do concerto desta noite — é ao mesmo tempo uma proposta natural e ousada. Li Biao e seu grupo de musicistas prometem uma noite surpreendente. Ótimo concerto a todos!


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PROGRAMA

PROGRAMA

SÉRIE BRANCA

SÉRIE AZUL

Sala São Paulo, 2 de junho, segunda-feira, 21h

Sala São Paulo, 3 de junho, terça-feira, 21h

Grupo de Percussão Li Biao

Grupo de Percussão Li Biao

DO BARROCO AO TANGO

DO BARROCO AO FUTURO

RUDI BAUER (1971-) Sete mares

c. 8’

BOB BECKER (1947-) Mudra

c. 13,5’

ANTONIO VIVALDI (1678-1741) Concerto em ré maior (Allegro, Andante, Allegro)*

c. 14,5’

TOBIAS BROSTRÖM (1978-) Bridging the World

c. 7,5’

STEVE REICH (1936-) Música para peças de madeira

c. 8’

JOHANN SEBASTIAN BACH (1685-1750) Concerto italiano BWV 971*

c. 5’

G.H. GREEN, KURT ENGEL, OTTO WITT Ragtimes suítes

c. 10’

STEVE REICH (1936-) Drumming — parte 1

c. 12’

c. 8,5’

G.H. GREEN, KURT ENGEL, OTTO WITT Ragtimes suítes

c. 10’

RUSSELL PECK (1945-2009) Lift off INTERVALO

INTERVALO

CHRISTOPHER ROUSE (1949-) Ogoun Badagris

c. 4,5’

PHILIPP JUNGK (1977-) Deep stream

c. 7,5’

PHILIPP JUNGK (1977-) Taklamakan

c. 6,5’

ASTOR PIAZZOLLA (1921-92) Tango suíte 1 e 3

c. 5’

ASTOR PIAZZOLLA (1921-92) Tango suíte*

c. 5’

LI BIAO (1969-) Drama X

c. 6,5’

GUO WENJING (1956-) Rito das montanhas*

c. 7,5’

NEBOJSA ZIVKOVIC (1962-) Ilijas*

c. 8’

MINORU MIKI (1930-2011) Marimba spiritual

c. 14’

EMANUEL SÉJOURNÉ (1961-) Partidas*

c. 10’

* Arranjo Li Biao.

* Arranjo Li Biao.

Os concertos serão precedidos de palestra de Irineu Franco Perpetuo, às 20h, no auditório do primeiro andar da Sala São Paulo.

Programação sujeita a alterações. Siga g a Cultura Artística no Facebook

O conteúdo editorial dos programas da Temporada 2014 encontra-se disponível em nosso site uma semana antes dos respectivos concertos.

facebook.com /culturartistica

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NOTAS SOBRE O PROGRAMA Fernando Iazzetta

Em geral, é com onomatopéias infantilizadas — tim-bum-tra-tará-tá-tá — que costumamos nos referir aos sons dos instrumentos de percussão. Essa rica família sonora, que só recentemente passou a integrar o círculo restrito da música de concerto, será apresentada em dois programas que podem ser sintetizados em uma palavra: diversidade. A tradição ocidental privilegiou os instrumentos melódicos e harmônicos, ou seja, aqueles capazes de emitir notas afinadas — o que não é exatamente uma característica dos intrumentos de percussão, ainda que alguns deles produzam escalas, melodias e harmonias. Embora associada à marcação rítmica, à articulação e à acentuação de frases, bem como à criação de texturas e colorido sonoro, a potencialidade desse grupo vai muito além: graças à sua versatilidade, os instrumentos transitam de texturas orquestrais a passagens para solistas, das músicas populares de culturas diversas à composição formal das peças de concerto, das incursões no complexo repertório contemporâneo à recriação de obras clássicas da música erudita. Já que a música de concerto se baseava em relações entre melodia e harmonia, cabia à percussão um papel coadjuvante. Até o século XVII, ela se restringia praticamente a um par de tímpanos, instrumentos que surgiram de uma antiga tradição de

música marcial e eram quase sempre tocados junto com trompetes, acompanhando as cavalarias. Aos poucos foram sendo adotados pelos compositores e tornaram-se relativamente frequentes nas composições orquestrais do Barroco. Consta que Jean-Baptiste Lully (1632-87) foi um dos primeiros a incorporar o tímpano na partitura de sua ópera Thésée , de 1675. Outro mestre do período, Johann Sebastian Bach (1685-1750), compôs uma cantata, Tönet, ihr Pauken! Erschallet, Trompeten!, que inicia com um solo de tímpanos e coro. Mas seria com Beethoven (1770-1827), já no começo do século XIX, que o tímpano passaria a ser explorado de maneira mais expressiva, ultrapassando as pontuações rítmicas das frases orquestrais, como na abertura de seu Concerto para violino (1806) e no scherzo da Nona sinfonia (1824). Ainda no século XIX, Hector Berlioz (1803-69), compositor fundamental para o surgimento da ideia de orquestração, ampliou o uso do instrumento, indicando pela primeira vez o emprego de baquetas diferentes para produzir articulações específicas e demandando mais de um timpanista em sua Sinfonia fantástica (1930), além de usar pratos, bombo, tambores e sinos. No Requiem (1937), a ousada escrita de Berlioz pede nada menos que oito timpanistas tocando dezesseis tímpanos. O caráter marcial da percussão dominante até meados do século XIX teve ainda a contribuição de um conjunto instrumental em geral composto de bombo, caixa-clara, pratos e instrumentos de efeito, como castanholas, triângulo e pandeiro orquestral. Ao final do século, esse conjunto já se encontrava bastante expandido e oferecia sonoridades diversificadas e exuberantes, incluindo instrumentos de origens variadas e incorporando ao naipe de percussão um novo grupo de instrumentos afinados, como o glockenspiel , o xilofone e as campanas. Por exemplo, a Segunda sinfonia de Gustav Mahler (1860-1911), composta entre 1888 e 1894, requer sete percussionistas, mais uma pequena banda que toca fora de cena no quinto movimento. Esse cenário se modifica bastante já ao início do século passado, quando os compositores ousam arriscar novas sonoridades e se servem de instrumentos de origem exótica como as marimbas (descendentes de um instrumento chamado balafom, trazido para a América por escravos africanos), gongos, tantans e campanas asiáticas, bem como tambores inspirados em culturas africanas. O ruído, algo que a música de concerto sempre tentou eliminar — ou ao menos atenuar —, foi sendo gradualmente incorporado à composição.


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O movimento futurista, na virada do século XX, elevou o ruído à categoria de som musical: Luigi Russolo (1885-1947), que também era pintor, criou uma orquestra de ruídos (intonarumori), para a qual escreve partituras e cria escalas, classificando seus instrumentos em famílias sonoras definidas. Nesse momento, a percussão toma a cena: por vezes se torna pulsante, quase selvagem, como na Sagração da primavera (1913), de Stravinsky (1882-1971); em outras ocasiões é sutil e controlada, como em Música para cordas, percussão e celesta, de Bartók (1881-1945), que também nos dará sua Sonata para dois pianos e percussão. Pode ser anedótica, descritiva, como no balé Parade (1913), de Satie (1866 -1925), que inclui efeitos sonoros como sirenes, tiros de pistola e uma máquina de escrever. Debussy (1862-1918) explorou a sutileza de seu colorido orquestral em obras como La mer (1905); George Antheil (1900-59), em alguma medida inspirado nas ideias dos futuristas, causou grande agitação quando compôs seu Ballet mécanique (1923) para pianolas e diversos instrumentos de percussão. Tudo isso poderia integrar uma espécie de “pré-história” da percussão. Hoje, o repertório é tão vasto quanto variado — esses instrumentos não desempenham mais um papel secundário na paleta instrumental, mas são protagonistas de diversas composições. O início da “história” da percussão contemporânea é geralmente associado à Ionisation (1931) de Edgar Varèse (1883-1965), para grupo de percussão. O compositor francês é responsável por um repertório conciso (a gravação de suas obras completas ocuparia pouco mais que dois CDs), mas que influenciou — e continua influenciando — gerações sucessivas de músicos. A peça gerou impacto em sua estreia, em 1933, dirigida por Nicolas Slominski, regente, compositor, crítico e incansável incentivador da música de seu tempo. A partitura é escrita para treze percussionistas que tocam mais de trinta instrumentos e revela a brilhante exploração de relações entre texturas e timbres que domina a obra de Varèse. Tornou-se um marco não apenas por ser uma das primeiras peças escritas exclusivamente para instrumentos de percussão, mas porque revela um consistente trabalho de orquestração e musicalidade. Essa consistência acabou por ofuscar experiências semelhantes feitas antes mesmo de Ionisation, como as Rítmicas nº. 5 e 6 (1930) do franco-cubano Amadeo Roldán (1900-39), escritas para grupo de percussão com instrumentos e ritmos cubanos. Compositores da costa oeste norte-americana, especialmente Henry Cowell (18971965) com Ostinato pianissimo , de 1934, e Lou Harrison (1917-20013), com Canticle no. 1 para cinco percussionistas, de 1939, e Fugue for percussion, de 1941, também contribuíram para o protagonismo da percussão.

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John Cage (1912-92) foi, porém, o artista que deixou um dos maiores legados da primeira metade do século XX. Suas três Constructions (1939, 1940 e 1941) e depois Amores (1943) permanecem como obras seminais de um escrita que passa a explorar as particularidades e diversidade de combinação, articulação e textura oferecidas por essa família de instrumentos. Estava pavimentado o terreno que veio consolidar a percussão dentro da tradição de música de concerto ocidental. A orquestra sinfônica incorporou um naipe estável de musicistas, cujos instrumentos foram definitivamente integrados ao repertório de música de câmara. *** Os dois programas selecionados pelo Grupo de Percussão Li Biao refletem o caráter múltiplo que a percussão oferece — uma de suas mais notáveis qualidades diz respeito à diversidade estilística que realça a versatilidade desse instrumental. De transcrições de obras clássicas a composições contemporâneas voltadas para a exploração das singularidades da percussão, passando por recriações de músicas populares, as peças apresentadas em ambos os concertos oferecem uma visão do amplo espectro que o grupo de percussão pode ocupar dentro da produção musical atual. Apesar dessa diversidade, pode-se observar uma clara unidade nos dois concertos: são peças que salientam as sonoridades dos instrumentos de altura definida — marimba, vibrafone, xilofone — em detrimento dos instrumentos que não produzem notas afinadas, como tambores, pratos e, na verdade, a maioria dos instrumentos percussivos. Dois dos compositores são referências para o repertório: Steve Reich (1936) e Bob Becker (1947). Reich é uma das figuras centrais da música experimental norte-americana. Embora seu nome esteja frequentemente associado ao surgimento do minimalismo, um estilo voltado para o uso repetitivo de motivos musicais curtos, o alcance de seu trabalho é muito mais extenso. Em contraste com a complexidade da música de vanguarda dos anos de 1960 e 1970, parte significativa de suas composições está baseada na ideia de desenvolvimento processual. Na prática, o compositor busca tornar audíveis os elementos formais e estruturais da composição. A repetição tem um papel importante nesse jogo, pois possibilita ao ouvinte seguir, passo a passo, o desenvolvimento do material musical. Uma das propostas de Reich para alcançar esse objetivo é a ideia de defasagem ( phase shift ), cujo princípio é simples: um mesmo motivo é tocado repetidamente por vários musicistas. Enquanto um deles mantém um andamento rigidamente estável, os outros criam pequenas


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acelerações. Essas sutis mudanças de tempo produzem uma situação particular — embora todos os músicos toquem o mesmo motivo, cada um deles o faz com uma pequena defasagem temporal, elaborando combinações variadas e ao mesmo tempo muito orgânicas do mesmo material musical. Este é um dos princípios que regem a peça Música para peças em madeira (1973), de Reich, considerada um clássico do repertório para percussão. Também merece atenção a peça Mudra (1990), do norte-americano Bob Becker. Além de compositor, Becker é um percussionista reconhecido internacionalmente por ter sido membro fundador do Nexus, um dos mais importantes grupos de percussão já surgidos. Lembrando que Becker integrou o Steve Reich Ensemble, grupo criado especialmente para interpretar as peças de Reich, não parece mera coincidência que Mudra mantenha grande proximidade com as composições processuais e repetitivas de Reich. Neste quinteto para percussão, o compositor aproxima o pulso das bandas marciais aos estilos inspirados na música hindustani. Uma atmosfera estática é gerada pelos instrumentos melódicos com motivos que lembram as tradições da música do norte da Índia, contrastando com a atuação pulsante dos tambores — com destaque para a caixa-clara, que remete aos sons das tablas indianas.

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alguns milhares de ouvintes. O timbre penetrante e a articulação precisa contribuíram para tornar esse instrumento perfeito para realizar as rápidas e ornamentadas melodias dos ragtimes — gênero considerado como um dos elementos fundadores do jazz. Outra coincidência importante observada nas peças programadas é o fato de o grupo de percussão Nexus, fundado por Bob Becker, ter sido justamente o responsável pela sobrevivência da popularidade de Green no final dos anos de 1970, pouco depois de sua morte. Hoje, seus ragtimes são obrigatórios na formação de qualquer percussionista.

Os programas trazem também duas obras peculiares: são as recriações do Concerto em ré maior de Vivaldi e o do Concerto italiano BWV 971 de J. S. Bach. Os três séculos que separam essas peças das outras obras programadas pelo Li Biao não ameaçam, como pode parecer à primeira vista, a unidade do programa. Pelo contrário. Ocorre que a escrita polifônica e articulada da música barroca é bastante beneficiada por sua reinterpretação nos instrumentos de percussão. Além disso, a regularidade rítmica das peças funciona muito bem com a articulação percussiva e, em alguma medida, elas se aproximam das peças de Reich e Becker. A ideia de recriação ou a realização de arranjos é prática corrente nos concertos de percussão. Levando-se em conta que o repertório de música de câmara escrito especificamente para esses instrumentos começou a ser realizado há pouco mais de oitenta anos, é natural que se busque adaptar peças de outros estilos e épocas. Além disso, há uma proximidade inegável desses instrumentos com as músicas populares e folclóricas, como se pode ouvir, por exemplo, nos tangos contemporâneos de Astor Piazzola (1821-1922) e nos ragtimes de George Hamilton Green Jr. (1893–1970). Green foi um virtuoso do xilofone, popularizando o instrumento nos Estados Unidos no início do século XX, com espetáculos que chegavam a reunir

Bacharel em percussão pela Unesp, Fernando Iazzetta é compositor e professor livre-docente na Universidade de São Paulo, onde se dedica à pesquisa nos campos da música experimental e da tecnologia musical.


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Li Biao Um artista que costuma levar plateias às lágrimas — assim a crítica costuma se referir a Li Biao, um dos raros solistas de percussão a atuar no cenário da música contemporânea mundial. Nascido em Nanquim, na China, em 1969, Li Biao iniciou seus estudos musicais aos cinco anos de idade. Em 1982 entrou para o Conservatório Central de Música de Pequim para estudar percussão, e em 1988 foi o primeiro percussionista escolhido pelo governo chinês para frequentar o Conservatório Tchaikóvski, em Moscou. Após receber uma bolsa de estudos da Alemanha, o instrumentista deu sequência a seu aprendizado no Conservatório de Música de Munique, onde obteve o diploma de mestre. Percussionista de habilidade espantosa, em seus concertos arrebatadores Li interpreta uma grande variedade de peças. Apresentou-se em mais de setenta países e tocou com grandes orquestras do mundo, entre elas a Orquestra Sinfônica da Rádio da Baviera, a Ópera de Verona, a Orquestra Nacional de Lyon, a Orquestra de Câmara Franz Liszt, a Filarmônica da China e as sinfônicas de Pequim e Xangai; trabalhou ainda com regentes notáveis como Jonathan Nott, Christoph Eschenbach, Lawrence Foster e Mstislav Rostropovich. SAIBA MAIS

Em 2008, Li Biao e seu grupo foram convidados a se apresentar na cerimônia de encerramento do Jogos Olímpicos de Pequim e, em 2012, participaram do concerto das Olimpíadas de Londres.

Li Biao DIVULGAÇÃO

O músico começou a ensinar no Conservatório Central de Pequim em 2003, e desde 2006 ministra aulas na Escola Superior de Música Hanns-Eisler em Berlim, da qual foi o primeiro percussionista asiático a receber o título de professor. Em 2010, Li Biao foi convidado para ser o diretor musical do Mercedes-Benz International Music Festival e, em 2012, a Orquestra Sinfônica de Pequim o nomeou artista-residente e regente, um cargo que até então não existia. Suas gravações já saíram por selos como EMI e Teldec. Em 2005, foi fundado o Grupo de Percussão Li Biao — uma formação excepcional que reuniu uma constelação de músicos talentosos em torno do percussionista, e tem se apresentado nos maiores festivais de arte e música do mundo. O grupo possui um repertório riquíssimo, que passa pela música clássica, o jazz e a música moderna e popular, com composições próprias ou inventivas interpretações de clássicos, servindo-se de mais de cem tipos de instrumentos.


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Alexander Glöggler Alex Glöggler (1976) fez seus estudos de percussão clássica no Conservatório de Música de Munique, com Peter Sadlo — um dos mais renomados professores da atualidade.Tocou com a Orquestra Sinfônica da Rádio de Stuttgart, a Orquestra da Ópera de Stuttgart, e também com a Orquestra Sinfônica da Rádio da Baviera, quando atuou sob a batuta de regentes como Lorin Maazel. Forma, com Philipp Jungk, o duo Double Drums, que em 2010 recebeu o Prêmio Nacional da Baviera.

Conrado Moya Sánchez Vencedor, na categoria marimba, do concurso internacional ConUCOpercusión2mil11, promovido pela Universidade de Córdoba, Conrado (1989) estudou com a virtuose Katarzyna Mycka e com Li Biao. Apresenta-se internacionalmente em formações de câmara; em 2013, foi convidado a lecionar na Academia Internacional de Marimba Katarzyna Mycka.

Lukas Böhm Lukas Böhm (1990), aluno de Li Biao na Escola Superior de Música Hanns Eisler, em Berlim, tocou, entre outras, com a Orquestra Filarmônica de Berlim e o Ensemble Modern. Integra, com Ni Fan, o duo Double Beats, que se apresenta na Europa e na Ásia.

Philipp Jungk Philipp Jungk (1977) estudou percussão com Peter Sadlo, em Munique. Apresentou-se com a Filarmônica e a Orquestra de Câmara de Munique, bem como com as sinfônicas das rádios da Baviera e de Stuttgart, tendo atuado com Lorin Maazel, Kent Nagano e Ennio Morricone, entre outros. Também faz parte do grupos Power! e Peter Sadlo e Amigos. Com Alex Glöller, tem o duo Double Dreams.

Ronni Kot Wenzell Formado pela Academia de Música Carl Nielsen, na Dinamarca, Wenzell (1980) é hoje professor convidado do Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro. Além de marimba, vibrafone e percussão em geral, o instrumentista também se dedica ao teclado. Dá concertos e masterclasses internacionais, em instituições como a Juilliard, a NYU etc.

Rudolf Alexander Bauer Rudi Bauer (1971) formou-se com Peter Sadlo, em Munique, tendo vencido inúmeros concursos quando estudante. Apresentando-se como solista em diferentes palcos europeus, integrou a Orquestra Sinfônica da Rádio da Baviera, bem como a Orquestra Sinfônica de Munique. Além de atuar, desde 2006, com seu antigo colega de faculdade Li Biao, é membro do Grupo de Percussão Power!. É professor na Universidade de Música de Regensburg, na Alemanha.

Grupo de Percussão Li Biao DIVULG L AÇÃO ÃO


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