O Ministério da Cultura e a Cultura Artística apresentam
Quarteto Emerson Eugene Drucker VIOLINO
Philip Setzer
Quarteto Emerson
VIOLINO
Lawrence Dutton VIOLA
Paul Watkins VIOLONCELO
GIOCONDA BORDON
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PROGRAMA
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NOTAS SOBRE O PROGRAMA
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Mônica Lucas
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BIOGRAFIA
PATROCÍNIO
REALIZAÇÃO
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Sociedade de Cultura Artística Diretoria PRESIDENTE
Governo do Estado de São Paulo Secretaria de Estado da Cultura Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo — OSESP
Pedro Herz
REGENTE TITULAR (2012-2016)
DIRETORES
Marin Alsop
Antonio Hermann D. Menezes de Azevedo Cláudio Sonder Gioconda Bordon Fernando Carramaschi Luiz Fernando Faria Marcelo Levy Patrícia Moraes Ricardo Becker
REGENTE ASSOCIADO (2012-2016)
SUPERINTENDENTE
Fernando Henrique Cardoso
Frederico Lohmann
Conselho de Administração PRESIDENTE
Cláudio Sonder VICE - PRESIDENTE
Roberto Crissiuma Mesquita CONSELHEIROS
Aluízio Rebello de Araújo Antônio Ermírio de Moraes Carlos José Rauscher Fernando Xavier Ferreira Francisco Mesquita Neto Gérard Loeb Henri Philippe Reichstul Henrique Meirelles Jayme Sverner Marcelo Kayath Milú Villela Pedro Herz Plínio José Marafon
QUATRO VOZES FUNDAMENTAIS
DIRETOR ARTÍSTICO
Arthur Nestrovski
Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo Organização Social de Cultura PRESIDENTE DE HONRA
PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Fábio Colletti Barbosa VICE - PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Heitor Martins DIRETOR EXECUTIVO
Marcelo Lopes SUPERINTENDENTE
Fausto Augusto Marcucci Arruda MARKETING
Carlos Harasawa DIRETOR Mauren Stieven DEPARTAMENTO DE OPERAÇÕES
Mônica Cássia Ferreira Gerente Ângela Sardinha Cristiano Gesualdo Fabiane de Oliveira Araújo Guilherme Vieira Regiane Sampaio Bezerra Vinicius Goy de Aro Felipe Lapa
Alfredo Rizkallah Hermann Wever João Lara Mesquita José Zaragoza Mário Arthur Adler Salim Taufic Schahin Thomas Michael Lanz
DEPARTAMENTO TÉCNICO
Programa de sala — Expediente
ACÚSTICA E SOM
Ronald Góes GERENTE Ednilson de Campos Pinto Erik Klaus Lima Gomides Sérgio Cattini ILUMINAÇÃO
Carlos Eduardo Soares da Silva Abdias Vicente da Silva Junior Fernando Dionísio Vieira da Silva Renato Faria Firmino
EDIÇÃO
Maria Emília Bender
MONTAGEM
PROJETO GRÁFICO
Rodrigo Batista Ferreira
Paulo Humberto Ludovico de Almeida
CONTROLADOR DE ACESSO
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Ludovico Desenho Gráfico
Sandro Marcello Sampaio de Miranda ENCARREGADO
ASSESSORIA DE IMPRENSA
INDICADORA
Floter & Schauff
Sabrine Ferreira ENCARREGADA
A Sociedade de Cultura Artística programa pelo menos um quarteto de cordas para se apresentar em suas temporadas internacionais. O público mais apaixonado por essa formação não é tão grande quanto o aficionado das grandes orquestras, mas todos que apreciam música reconhecem a importância desse repertório na obra de qualquer compositor. É inegável, porém, que o quarteto de cordas nunca foi um campeão de bilheteria no mundo da música erudita. Não por lhe faltarem qualidades arrebatadoras, mas por sua essência mais introvertida, que demanda mais tempo para ser entendida em toda sua amplitude. Numa comparação simplista, ainda que plausível, poderíamos dizer que uma sinfonia se assemelha a uma tela de grandes proporções, como um quadro de Mark Rothko, por exemplo, enquanto um quarteto de cordas estaria mais próximo de um desenho de Paul Klee. Cada um deve ser apreendido no âmbito de seu próprio universo. O quarteto de cordas pode soar um pouco aristocrático; suas origens remontam às nobres e ricas linhagens europeias do século XVIII. Seu criador foi Joseph Haydn [1732-1809], o mais importante e refinado compositor daquele período. Escrevia e apresentava suas obras para uma plateia seleta, frequentadora das cortes dos príncipes patrocinadores das artes. A música de Haydn nasceu no momento em que a sociedade e a arte, sobretudo, deveriam ser iluminadas pela razão e equilíbrio; seus quartetos são a perfeita expressão deste pensamento. Quatro vozes fundamentais — dois violinos, uma viola e um violoncelo — conversam entre si, apresentam argumentos, concordam, discordam, refazem suas proposições, percorrendo assim as diversas possibilidades de articulações harmônicas da música ocidental. Mais tarde, Mozart, Beethoven, Schubert, Brahms, além dos modernos Shostakovitch, Britten, Bartók e tantos outros, seguiram esse modelo.
APOIO A EVENTOS
Silvia Pedrosa
gioconda@culturaartistica.com.br
Celso Antunes
Conselho Consultivo
SUPERVISÃO GERAL
Gioconda Bordon
REALIZAÇÃO
Nobre, mas não esnobe, o quarteto de cordas pede apenas uma delicada e acolhedora atenção para revelar sua grandeza. Os quatro instrumentistas que integram o Quarteto Emerson representam a excelência deste repertório, onde nada é enfeite, tudo é essencial.
Ministério da
Cultura
Bom concerto a todos!
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PROGRAMA
PROGRAMA
SÉRIE BRANCA
SÉRIE AZUL
Sala São Paulo, 27 de maio, terça-feira, 21h
Sala São Paulo, 28 de maio, quarta-feira, 21h
Quarteto Emerson
Quarteto Emerson
WOLFGANG AMADEUS MOZART (1756-91) Quarteto nº 16 em mi bemol, K428
JOSEPH HAYDN (1732-1809) Quarteto nº 3 em sol menor, op. 20
I. II. III. IV.
c. 25’
Allegro non troppo Andante con moto Menuetto: Allegro Allegro vivace
DMITRI SHOSTAKOVITCH (1906-75) Quarteto nº 14 em fá maior, op. 142
I. II. III. IV.
c. 25’
I. Allegretto II. Adagio ( attacca) III Allegretto — Adagio INTERVALO
LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827) Quarteto nº 8 em mi menor, op. 59/2 I. II. III. IV.
BENJAMIN BRITTEN (1913-76) Quarteto nº 3, op. 94 I. II. III. IV. V.
c. 20’
Allegro con spirito Menuet: Allegretto Poco adagio Allegro di molto
c. 30’
Duets: With moderate movement Ostinato: Very fast Solo: Very calm Burlesque: Fast – con fuoco Recitative and passacaglia (La Serenissima) — Slow
INTERVALO
c. 35’
Allegro Molto adagio Allegretto Finale: Presto
Os concertos serão precedidos de palestra de Irineu Franco Perpetuo, às 20h, no auditório do primeiro andar da Sala São Paulo.
FRANZ SCHUBERT (1797-1828) Quarteto nº 14 em ré menor (D.810) (A Morte e a Donzela) I. II. III. IV.
Allegro Andante con moto Scherzo: Allegro molto Presto
Programação sujeita a alterações. Siga g a Cultura Artística no Facebook
O conteúdo editorial dos programas da Temporada 2014 encontra-se disponível em nosso site uma semana antes dos respectivos concertos.
facebook.com /culturartistica
c. 40’
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NOTAS SOBRE O PROGRAMA Mônica Lucas
proeminentes, que dialogaram intimamente com o compositor durante o processo de escrita. Peças desses diferentes grupos nos permitem refletir sobre o gênero sob prismas diversos, e nos possibilitam avaliar as estratégias usadas pelos compositores para atingir seu público.
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Em 1809, o diplomata August Grieseinger realizou uma série de visitas a seu amigo Joseph Haydn. As anotações realizadas durante esses encontros resultaram na primeira biografia do compositor, publicada logo após sua morte, no mesmo ano de 1809. Nela, Haydn é apresentado como o criador do quarteto de cordas, em 1750, numa ocasião em que, além dos usuais dois violinos e violoncelo, havia uma viola à disposição.
No século XVIII, escutava-se música no teatro (palco da ópera), na igreja (lugar de meditação) e na câmara ou salão (espaço para a diversão erudita). Surgido nesse contexto, o quarteto de cordas tornou-se, no séc. XIX, o representante por excelência da “música de câmara”, fruto de um trabalho intenso e refinado por parte dos compositores, que muitas vezes oferecem o melhor de sua produção nesse formato. É, por definição, obra engenhosa, composta para o deleite de conhecedores e para ocasiões requintadas, em que ocorre uma mistura equilibrada entre o estilo da melodia acompanhada e a escrita severa do contraponto. Ao longo de sua história — apesar dos diferentes espaços que ocupou, dos variados tipos de intérpretes a que foi destinado e das mudanças de público receptor —, reteve muito de sua essência original. As seis execuções do programa podem ser divididas em três grupos distintos. Em cada uma das séries (Branca e Azul), ouviremos uma peça de cada um desses conjuntos. O primeiro grupo (Haydn e Mozart) consiste de obras compostas para circunstâncias restritas, visando o regalo dos próprios intérpretes e de um pequeno número de ouvintes. No segundo (Beethoven e Schubert), encontram-se obras cuja exigência técnica sugere uma interpretação a cargo de músicos profissionais; a despeito de também pertenceram à atmosfera íntima dos salões, são peças que ambicionaram o reconhecimento de uma audiência mais ampla. O último conjunto (Shostakovitch e Britten) abarca obras pensadas para salas de concerto públicas, como hoje as conhecemos, e foram destinadas a conjuntos
Griesinger deixa claro que, na metade do séc. XVIII, o quarteto de cordas ainda não estava firmemente estabelecido. Foi com Haydn, e em grande parte graças a sua riquíssima produção, que ele se transformou, no século XIX, em um dos gêneros musicais mais apreciados por amantes e conhecedores de música. O ciclo conhecido como op. 20 (Hob. III: 31-36) consolidou o primeiro grande marco na produção de quartetos de cordas do compositor. As obras foram estudadas e copiadas por Beethoven, causaram impressão profunda em Mozart e foram exaustivamente analisadas por Brahms, que conservou os manuscritos e posteriormente os doou à Gesellschaft der Musikfreunde, em Viena, onde estão hoje abrigados. O Quarteto nº 3, op. 20 (Série Azul) é parte de um ciclo de seis peças compostas em 1772 para as festividades que marcaram a visita do enviado extraordinário de Luís XV à corte do príncipe Nikolaus Esterházy, empregador de Haydn. O evento incluiu um balé coreografado pelo grande dançarino Noverre, um baile de máscaras, uma festa ao ar livre, caçadas, banquetes, fogos de artifício, apresentações teatrais e concertos. Na tarde do segundo dia da comemoração, após a caça matutina, um grupo muito seleto se reuniu no pavilhão localizado no jardim do palácio para a primeira audição destes quartetos. O único rascunho do op. 20 de que dispomos — um trecho do adágio do Quarteto nº 3 em sol menor — mostra que a peça foi longa e cuidadosamente elaborada, antes de adquirir seu formato final. Este esmero nos dá uma dica valiosa sobre a importância da ocasião — e, nesse contexto, a opção pelo gênero musical é muito significativa. Duas obras do ciclo, entre elas a que ouviremos, foram compostas em tonalidades menores, tradicionalmente utilizadas no séc. XVIII para expressar afetos melancólicos, drama trágico,
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loucura. Em um mundo em que artes e ciências ainda não eram completamente separadas, medicina e música se aproximavam na lida com as paixões da alma. Se, na medicina, a melancolia resultava do excesso do fluido corpóreo conhecido como bile negra, na música, sua cura se dava pela exposição da alma a circunstâncias idênticas àquelas geradoras da doença. E sua representação ocorria pelos contrastes impetuosos de ritmo, harmonia e dinâmica, gerando forte conteúdo dramático. A crítica romântica circunscreveu essas obras melancólicas ao âmbito da experiência estética. Criou para elas uma categoria estilística denominada Sturm und Drang (“Tempestade e Ímpeto”), a partir do romance homônimo de Maximilian Klinger (1776), que deixou de contemplar essas relações profundas com outras ciências. Os seis quartetos publicados por Wolfgang Amadeus Mozart em Viena em 1785 são conhecidos como Quartetos Haydn devido à dedicatória que seu autor faz ao grande mestre: A meu caro amigo Haydn, Um pai, tendo resolvido mandar seus filhos para o grande mundo, julgou dever entregá-los à proteção e conduta de um homem muito célebre então, que, por sorte, era, além disso, seu melhor amigo. Eis, portanto, grande homem e amigo caríssimo, os meus seis filhos. Eles são fruto de uma longa e laboriosa fadiga (...). Que tu os acolhas benignamente, e sejas pai, guia e amigo deles! A partir deste momento, cedo-te meus direitos sobre eles; suplico-te, porém, olhar com indulgência os defeitos que podem ter se escondido ao olho tendencioso de pai, e manter, malgrado eles, generosa amizade para com aquele que tanto a preza, pela qual agradeço de todo o coração. Amigo caríssimo, teu muito sincero amigo, W. A. Mozart Diferentemente dos op. 20 de Haydn, os quartetos de Mozart não foram produto de encomenda, nem foram escritos para uma ocasião específica. Desde o início se destinaram à publicação e ao prazer dos melômanos, que interpretavam e ouviam essa música em ambientes domésticos. Entretanto, críticas de jornais e revistas da época mostram que esses quartetos não foram totalmente apreciados, por se inclinarem demasiadamente “para o difícil e para o extravagante”. (Vale atentar à própria melodia introdutória do Quarteto em mi bemol K 428, que ouviremos, cujas notas longas emolduram um trítono e criam uma harmonia instável que marca toda a obra.) Quando a editora Artaria, de Viena, enviou um exemplar das obras para negociar sua publicação na Itália, o caderno impresso na Áustria retornou com a nota de que o mesmo se encontrava “repleto de erros”. Algumas obras do ciclo foram “corrigidas” por teóricos da época.
A despeito das críticas, Leopold Mozart, pai do compositor, transcreve em uma carta o comentário emocionado de Haydn, presente à primeira apresentação da peça na casa da família Mozart: “Juro ante Deus, como homem honesto, que vosso filho é o maior compositor que já conheci, pessoalmente ou por reputação. Ele tem bom-gosto e o mais profundo conhecimento da composição”.
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O segundo grupo de obras escolhidas para os dois recitais inclui peças de Beethoven e Schubert. Ambas se relacionam às atividades do primeiro quarteto de cordas profissional de que se tem notícia, dirigido pelo grande violinista Ignaz Schuppanzigh (1776-1830). O grupo foi patrocinado pelo conde Andreas Razumovsky (que era violinista e frequentemente participava do grupo), e protagonizou uma série de concertos públicos em Viena. Os quartetos op. 59 de Beethoven constituem um novo estágio no desenvolvimento do gênero: tendo sido concebidos para um quarteto profissional, possuem uma dificuldade técnica muito superior à das obras do conjunto anterior. Vale lembrar que, ao que tudo indica, Beethoven foi aluno de violino de Schuppanzigh, e em suas obras certamente adotou técnicas pelas quais o violinista se destacava. Para os quartetos Razumovsky, Beethoven selecionou temas de uma coleção de canções russas publicada em 1790, da qual possuía uma cópia. No op. 59/2 (Série Branca), a melodia eslava está citada na segunda parte do terceiro movimento, allegretto. Novamente, como já ocorrera com Mozart, a dificuldade e a duração das obras foram alvo de crítica: “a concepção é profunda e a construção, excelente, mas as obras não são facilmente compreensíveis”. Czerny, aluno de Beethoven, afirmou ainda que Schuppanzigh, ao ler o quarteto, considerou a peça tão estranha que pensou se tratar de uma brincadeira. A despeito das questões sobre sua veracidade, o caso reforça o lugar-comum de que o quarteto de cordas seja um gênero musical elaborado. A primeira audição do Quarteto nº 14 em ré menor (D 810) de Schubert (Série Azul), mais tarde apelidado A Morte e a Donzela — por utilizar parte da impressionante canção homônima como tema para uma série de variações no segundo movimento —, também teve lugar em um salão, recepcionado pelos irmãos Karl e Franz Hacker, em 1826. Entre os intérpretes estavam os próprios anfitriões, e a peça foi apresentada após um único ensaio, realizado no dia anterior.
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Ignaz Schuppanzigh, cujo nome ficou definitivamente associado aos quartetos de cordas de Beethoven, também esteve envolvido com a música de Schubert; este, em carta registra que, após a escrita deste quarteto, ambicionava receber uma encomenda para uma peça sinfônica. Schuppanzigh daria a ele o reconhecimento público necessário para tal. De fato, em 1826, o violinista apresentou a peça com seu famoso quarteto, na casa do compositor Franz Lachner, que em suas memórias (1881) afirma que o violinista teria recomendado que Schubert desistisse de compor para o gênero. Possivelmente, isto se deu tanto pela dificuldade da peça quanto pelos problemas técnicos que Schuppanzigh apresentou no fim da vida, por ter se tornado extremamente obeso. A obra tampouco atraiu a atenção de editores, uma vez que o gênero quarteto, no segundo quartel do séc. XIX, deixara de seduzir amadores e passara definitivamente a integrar o mundo dos intérpretes profissionais. Ela foi publicada postumamente.
Quarteto Amadeus — e estreou numa importante sala de concertos, Snape Maltings (Aldeburgh, Inglaterra). Britten trabalhou em conjunto com o grupo, realizando uma escrita sob medida para seus intérpretes; no entanto, faleceu logo antes da première. A obra de Britten, como a de Shostakovitch, contém referências a outras peças de sua autoria (melodias da ópera Death in Venice). No quarto movimento, burlesque, faz uso da técnica estendida (a viola toca do lado errado do cavalete). Contudo, o momento mais comovente da peça é uma homenagem a Shostakovitch, no final do último movimento, que o próprio Britten descreve como “uma pergunta”. A textura vai se diluindo até chegar a uma única nota, com a indicação “dying”, numa reflexão profunda sobre a transitoriedade da matéria. Se a homenagem de Mozart a Haydn é aberta e declarada, a de Britten a Shostakovitch acontece em um plano íntimo e sutil.
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O terceiro grupo é constituído pelos quartetos de Britten e Shostakovitch. Trata-se de peças compostas para salas de concerto e destinadas em especial a conjuntos profissionais de grande destaque. É interessante lembrar que os dois compositores — assim como Mozart e Haydn — foram amigos próximos e desenvolveram uma relação de mútua admiração. O Quarteto nº 14 de Shostakovitch (Série Branca) é uma obra tardia do compositor. Foi estreada em 1973, pelo Quarteto Beethoven, responsável pela première de todos os quartetos do mestre. A primeira apresentação ocorreu no Clube dos Compositores Soviéticos, em Moscou, e logo foi seguida pela estreia pública da peça, na Pequena Sala da Filarmônica de Leningrado. Esta peça faz parte de uma série de quatro obras, cada uma especialmente oferecida a um dos membros do Quarteto, com destaque para seu respectivo instrumento. O Quarteto nº 14 foi dedicado ao violoncelista do grupo, Sergei Petrovich Shirinsky. A obra é crivada de referências pessoais ao instrumentista, além da citação de uma ária de amor da ópera Lady Macbeth (também de Shostakovitch), endereçada ao personagem Sergei, homônimo do violoncelista. O manuscrito se encontra ainda em posse da família de Shirinsky, que morreu em 1977, durante um ensaio do último quarteto de Shostakovitch, o nº 15. A peça de Britten (Série Azul), escrita dois anos depois da de Shostakovitch, é uma das últimas obras do compositor britânico. Também foi dedicada a um grande quarteto — o
Graduada em clarinete pela USP, Mônica Lucas especializou-se em instrumentos históricos no Conservatório Real de Haia (Holanda) e concluiu seu doutorado pela Unicamp em 2005. Desde 2013 é chefe do Departamento de Música da ECA.
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Quarteto Emerson Em 1976, o panorama da música erudita dos Estados Unidos se enriqueceu com o surgimento do Quarteto Emerson — o nome, uma homenagem ao filósofo romântico norte-americano Ralph Waldo Emerson (1803-82). Composta pelos violinistas Eugene Drucker e Philip Setzer e pelo violista Lawrence Dutton, a formação nova-iorquina, que ao longo de quase quatro décadas conquistou plateias do mundo todo, ganhou, em 2013, um novo membro: o britânico Paul Watkins, violoncelista apurado, músico de câmara e maestro premiado (que entrou no lugar de David Finckel). Os três fundadores do quarteto também construíram bem-sucedidas carreiras solo. Eugene Drucker tem passagens marcantes pelas orquestras de Montreal, Bruxelas e Jerusalém, e integrou a American Symphony Orchestra. Philip Setzer já tocou com a National Symphony Orchestra e a Cleveland Orchestra, entre outras — Setzer e Drucker, aliás, foram alunos do celebrado Oscar Shumsky (1917-2000). Lawrence Dutton assinou parcerias com grandes nomes da música não apenas erudita, como Paul McCartney e o reconhecido jazzista John Patitucci, além de se apresentar com orquestras dos Estados Unidos, da Alemanha e Bélgica. SAIBA MAIS
As execuções do Quarteto Emerson resultaram em inúmeros prêmios, entre os quais se destacam nada menos que nove Grammys, três Gramophones, o Prêmio Avery Fisher e o Musical America, como “Conjunto do Ano”.
Quarteto Emerson DIVULGAÇÃO
O mais recente trabalho do conjunto, o CD Journeys, traz Souvenir de Florence, de Tchaikóvski, e Verklärte Nacht, de Schönberg, em gravações nas quais se nota uma combinação perfeita de frescor e tradição. Diferentemente de todos os outros quartetos de cordas, o Emerson não realiza suas exibições com um spalla fixo, ou seja, o primeiro violino, que ocupa posição de liderança. Outra peculiaridade é o fato de todos se apresentarem de pé, com exceção do violoncelista, uma deliberação que passou a ser posta em prática há treze anos. A crítica internacional há muito já consagrou o grupo como um dos melhores no gênero. O periódico londrino The Times sentenciou: “Com instrumentistas como esses, deve haver alguma esperança para a humanidade”. Segundo a avaliação especializada do New York Times, o Quarteto Emerson é “tecnicamente engenhoso, musicalmente perspicaz, coeso, cheio de personalidade e sempre interessante”. No Brasil, sua última performance ocorreu em 2011, na Sala São Paulo, quando o conjunto interpretou o Quarteto opus 131, de Beethoven, e o último quarteto do húngaro Bela Bartók. Essas aclamadas apresentações foram reconhecidas pelos críticos como “intensas e refinadas”. O Quarteto Emerson grava exclusivamente para a Sony Classical.
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