Temporada 2014 - Nelson Freire (piano)

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O Ministério da Cultura e a Cultura Artística apresentam

Nelson Freire PIANO

Nelson Freire PIANO

GIOCONDA BORDON

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PROGRAMA

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NOTAS SOBRE O PROGRAMA

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Eduardo Monteiro

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BIOGRAFIA

PATROCÍNIO

REALIZAÇÃO


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Sociedade de Cultura Artística Diretoria PRESIDENTE

Governo do Estado de São Paulo Secretaria de Estado da Cultura Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo — OSESP

Pedro Herz

REGENTE TITULAR (2012-2016)

DIRETORES

Marin Alsop

Cláudio Sonder Antonio Hermann D. Menezes de Azevedo Gioconda Bordon Patrícia Moraes Fernando Carramaschi Luiz Fernando Faria Marcelo Levy Ricardo Becker

REGENTE ASSOCIADO (2012-2016)

SUPERINTENDENTE

Fernando Henrique Cardoso

Frederico Lohmann

Conselho de Administração PRESIDENTE

Cláudio Sonder VICE - PRESIDENTE

Roberto Crissiuma Mesquita Aluízio Rebello de Araújo Antônio Ermírio de Moraes Carlos José Rauscher Fernando Xavier Ferreira Francisco Mesquita Neto Gérard Loeb Henri Philippe Reichstul Henrique Meirelles Jayme Sverner Marcelo Kayath Milú Villela Pedro Herz Plínio José Marafon Conselho Consultivo Alfredo Rizkallah Hermann Wever João Lara Mesquita José Zaragoza Mário Arthur Adler Salim Taufi c Schahin Thomas Michael Lanz Programa de sala — Expediente

DIRETOR ARTÍSTICO

Arthur Nestrovski

Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo Organização Social de Cultura PRESIDENTE DE HONRA

PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

Fábio Colletti Barbosa VICE - PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

Heitor Martins DIRETOR EXECUTIVO

Marcelo Lopes Fausto Augusto Marcucci Arruda MARKETING

Carlos Harasawa DIRETOR Mauren Stieven DEPARTAMENTO DE OPERAÇÕES

Mônica Cássia Ferreira Gerente Ângela Sardinha Cristiano Gesualdo Fabiane de Oliveira Araújo Guilherme Vieira Regiane Sampaio Bezerra Vinicius Goy de Aro APOIO A EVENTOS

Felipe Lapa DEPARTAMENTO TÉCNICO

Ronald Góes GERENTE Ednilson de Campos Pinto Erik Klaus Lima Gomides Sérgio Cattini Melissa Limnios ILUMINAÇÃO

Carlos Eduardo Soares da Silva Abdias Vicente da Silva Junior

SUPERVISÃO GERAL

Silvia Pedrosa

SONORIZAÇÃO

EDIÇÃO

Fabio Tsuneo Sena Santos Miyahara

Maria Emília Bender

MONTAGEM

PROJETO GRÁFICO

Rodrigo Batista Ferreira

Paulo Humberto Ludovico de Almeida EDITORAÇÃO ELETRÔNICA

Ludovico Desenho Gráfico

gioconda@culturaartistica.com.br

TEMPORADA 2014

Celso Antunes

SUPERINTENDENTE

Conselho Consultivo

Gioconda Bordon

CONTROLADOR DE ACESSO

Sandro Marcello Sampaio de Miranda ENCARREGADO

ASSESSORIA DE IMPRENSA

INDICADORA

Floter & Schauff

Sabrine Ferreira ENCARREGADA REALIZAÇÃO

O primeiro concerto de uma temporada musical pode funcionar como a epígrafe de um romance, a síntese de uma intenção. O recital de Nelson Freire abre esta série com a inconfundível marca do grande artista: precisão, maturidade e musicalidade. Na sequência, Mariss Jansons, de volta a São Paulo, dessa vez à frente da Orquestra Sinfônica da Rádio da Baviera (da qual também é regente titular), traz, pela primeira vez no Brasil, a excelente pianista Mitsuko Uchida. Outras duas tradicionais orquestras estarão presentes na programação de 2014, as sinfônicas de Dresden e de Lucerna, acompanhadas por dois violinistas prestigiadíssimos: Renaud Capuçon e Caroline Widmann, respectivamente. A lista de atrações mantém o mesmo nível de excelência com Joyce DiDonato, Elisso Virsaladze e o Quarteto Emerson. Muitos ouvintes vão se surpreender com o Grupo de Percussão Li Biao e sua ousada proposta de mesclar gêneros e épocas musicais, submetendo-os à pulsação do ritmo. Finalmente, dois conjuntos de câmara bem diferentes entre si encerram a temporada: a Orquestra de Câmara da Basileia, com a violoncelista Sol Gabetta, e o Ensemble Artaserse, com o contratenor Philippe Jaroussky. Uma novidade importante: abrimos a temporada com um novo projeto editorial. Acreditamos que, com ele, sua leitura — antes, durante ou depois do concerto — seja mais agradável. O novo formato da brochura, menor que as anteriores, também traz mudanças na apresentação do conteúdo. Musicistas, musicólogos e ensaístas de diversas áreas da cultura serão convidados a assinar os textos dos diferentes programas. Assim, teremos vários pontos de vista e sugestões de escuta para obras quase sempre conhecidas e admiradas. Eduardo Monteiro, pianista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, inaugura este novo formato — suas afinidades com o repertório e com Nelson Freire são evidentes. As palestras do jornalista e crítico musical Irineu Franco Perpétuo, como habitualmente, têm início às 20h.

Ministério da

Cultura

Sejam muito bem-vindos. Ótimo concerto a todos!


PROGRAMA

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SÉRIE BRANCA

Sala São Paulo, 8 de abril, terça-feira, 21h SÉRIE AZUL

Sala São Paulo, 9 de abril, quarta-feira, 21h

Nelson Freire PIANO LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827) Andante Favori Sonata op. 111

c. 8’ c. 27’

INTERVALO

CLAUDE DEBUSSY (1862-1918) Les collines d’Anacapri Soirée dans Grenade Poissons d’or

c. 3’ c. 5’ c. 4’

SERGEI RACHMANINOV (1873-1943) Prelúdio nº 10 em si menor, op. 32 Prelúdio nº 12 em sol sustenido menor, op. 32

c. 5’30” c. 2’30”

FRÉDÉRIC CHOPIN (1810-49) Balada nº 4 em fá menor , op. 52 Berceuse op. 57 Polonaise op. 53 — Heroica

c. 11’ c. 5’ c. 7’

Os concertos serão precedidos de palestra de Irineu Franco Perpetuo, às 20h, no auditório do primeiro andar da Sala São Paulo. O conteúdo editorial dos programas da Temporada 2014 encontra-se disponível em nosso site uma semana antes dos respectivos concertos.

DIVULGAÇÃO DIVULG A

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NOTAS SOBRE O PROGRAMA Eduardo Monteiro

Dezoito anos mais tarde, em 1822, ao completar aquela que seria sua última sonata para piano, a op. 111, Beethoven teria dito: “Afinal de contas, o piano é um instrumento bastante insatisfatório”. Essa frase, porém, não deve ser encarada como uma crítica ao instrumento. Àquela época Beethoven já não escutava mais nenhum tipo de som, e o que nos apresenta é uma amostra do inaudito, daquilo que está para além da sonoridade que qualquer instrumento musical jamais poderia produzir. Nessa sonata, dedicada ao arquiduque Rudolf da Áustria e publicada em 1823, o compositor parece chegar a um novo conceito de unidade formal: estruturada em apenas dois movimentos, os conflitos do primeiro andamento são resolvidos no segundo. O romancista e músico francês Romain Rolland compara as duas partes da obra a duas montanhas de basalto que se elevam à plenitude do poder e da serenidade. De fato, os contrastes entre os dois movimentos não poderiam ser mais intensos: maior/menor, allegro /adagio, appassionato /semplice, turbulência/serenidade, terreno/espiritual.

LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827) Andante Favori Sonata op. 111

Escrito entre 1803 e 1804, o Andante Favori foi concebido para ser o segundo movimento da Sonata Waldstein, op. 53. No entanto, segundo Ferdinand Ries, aluno de Beethoven, um amigo teria alertado o compositor sobre a duração excessiva da obra, crítica que em um primeiro momento o teria enfurecido, mas que foi posteriormente aceita. Como consequência, o Andante teria sido substituído pela Introduzione que passou a figurar como o movimento central daquela sonata. Pelo que se conhece da personalidade de Beethoven — marcada por forte autonomia —, apesar do testemunho de Ries, esse relato soa improvável, assim como a crença segundo a qual teria sido o próprio compositor o responsável pelo acréscimo do termo Favori ao título da peça, devido ao fato de apresentá-la com frequência em concertos. Lendas à parte, a escolha de Beethoven foi certamente adequada, uma vez que a Introduzione composta para integrar a Sonata Waldstein colabora com o caráter misterioso da obra, enquanto o Andante Favori soa extremamente bem como uma peça isolada. Seu tema principal, de natureza elegante e graciosa, é relembrado algumas vezes ao longo da composição, sempre de forma variada.

A peça se inicia com uma introdução majestosa e enigmática que estabelece o cenário onde vai se dar um duelo entre vida e morte. Segue-se um Allegro con brio ed appassionato, dominado por sucessões de notas rápidas e acordes dramáticos. A semelhança entre o começo desse movimento e os compassos de abertura da Sonata op. 35 de Chopin é evidente. Certamente, a homenagem prestada pelo compositor polonês indica o quanto apreciava a obra. O apaziguamento ao final do primeiro movimento, constatado também pela modulação de dó menor para dó maior, prepara a chegada do segundo andamento. É como a passagem da escuridão para a luz, ou deste para outro mundo, onde “todos os homens são irmãos”, como diz Schiller em sua “Ode à alegria”. O segundo movimento, Arietta — Adagio molto semplice e cantabile — começa com uma melodia despojada que pouco a pouco vai se transformando; cada variação introduz maior complexidade em sua estrutura rítmica, aumentando paulatinamente o número de notas por pulso, até chegar a um êxtase que muitas vezes tem sido comparado a uma premonição do jazz. Depois dessa passagem, a peça explora sonoridades extremamente delicadas e iridescentes cujas sementes frutificarão em compositores como Liszt, Scriabin ou Ligetti. Esse tipo de som é comum nas últimas sonatas do compositor e evidencia um desejo de elevação, de vislumbrar um suposto paraíso. A obra termina em um estado de redenção e beatitude.


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CLAUDE DEBUSSY (1862-1918) Les collines d’Anacapri Soirée dans Grenade Poissons d’or

Não é mera coincidência que a maior parte das obras de Debussy possua um título com forte referência pictórica. Em 1911 o compositor escreveu em uma carta a Edgard Varèse: “Eu amo as imagens quase tanto quanto a música”. Seu amigo René Peter chegou a afirmar que “a julgar por suas obras e seus títulos, ele é um pintor, e é isso que quer ser. Chama suas composições de imagens, esboços, estampas, arabescos, máscaras, estudos em preto e branco...”. Muitos ouvintes se recordam mais das denominações pictóricas do que de qualquer outro aspecto de sua música. Embora evoquem as imagens que o inspiraram, os títulos deixam amplo espaço para a imaginação, tanto do público quanto do intérprete. Sua música nunca oferece uma tradução literal desses cenários, mas sugere um quadro auditivo com sutis referências a sua essência. Debussy realiza, sem esforço aparente, aquilo que a geração simbolista buscava com tanta paixão na poesia: os efeitos de luz, a sonoridade, a cor, a expressão das sutilezas e do mistério. O termo “prelúdio” assumiu diferentes significados ao longo da história da música, segundo os vários compositores e períodos. Enquanto em uma ópera ou balé pode servir de introdução para estabelecer a atmosfera dentro de uma estrutura de larga escala, em uma composição instrumental o prelúdio é normalmente uma peça completa, seja parte ou não de uma obra ou ciclo maior. Talvez os exemplos mais conhecidos sejam os prelúdios e fugas de Bach. Em plena maturidade, Debussy compôs 24 prelúdios para piano, distribuídos em dois volumes, o primeiro dos quais, onde se encontra Les collines d’Anacapri, foi concluído em 1910. Cada uma dessas peças possui um título sugestivo cuidadosamente impresso após a última linha da partitura, o que reitera a vontade do compositor de criar alusões sonoras e não propriamente descrever uma ideia. Pode-se constatar que todas as temáticas que interessam a Debussy foram contempladas nessa coleção: a natureza, países e lugares exóticos, o arcaísmo, o mundo das fadas e dos gnomos, o humor, personagens fantásticos etc.

Les collines d’Anacapri se refere à cidade de Anacapri, incrustrada no alto das montanhas escarpadas da pequena ilha de Capri, no golfo de Nápoles, famosa pela beleza natural e espontaneidade de seu povo. Debussy traduz esse ambiente com uma paleta de cores vibrantes — as seções inicial e final são dominadas por uma tarantela, enquanto na parte central uma melodia sentimental e sensual oferece o contraste esperado.

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Dedicada ao pintor francês Émile Blanche e publicada em 1903, Estampes é formada por três breves peças para piano. A segunda composição deste tríptico, La soirée dans Grenade, evoca o cintilar das luzes noturnas da cidade de Granada, na qual se distingue o ritmo sensual da habanera. Diz-se que sua inspiração teria sido um cartão-postal enviado pelo amigo Manuel de Falla. Apesar de Debussy ter estado na Espanha por apenas um dia, De Falla considerava essa peça, mesmo sem utilizar nenhuma melodia folclórica, uma das mais perfeitas traduções em música de seu país. Em 1905, Debussy iniciou a composição de dois outros trípticos em que o aspecto visual também é marcante: Images I e II, tendo terminado o segundo volume em 1907. Poissons d’or, última peça da coleção, alude a um dos temas favoritos dos impressionistas: a água e seus reflexos. A inspiração para a obra teria vindo de um painel de laca japonesa que o compositor possuía em seu gabinete, no qual se viam dois peixes dourados. Poissons d’or é extasiante e mercurial, tanto em seus desenhos melódicos quanto no acompanhamento. Tudo reluz ao brilho do ouro.

SERGEI RACHMANINOV (1873-1943) Dois prelúdios op.32: em si menor e em sol sustenido menor

Rachmaninov compôs 24 prelúdios nas 24 tonalidades maiores e menores. No entanto, diferentemente de outros autores, não os integrou em um ciclo único. O Prelúdio op. 3 nº 2 foi composto em 1892, os 10 prelúdios op. 23 apareceram em 1904, e os 13 prelúdios op. 32 datam de 1910. O Prelúdio op. 32 nº 10, em si menor, foi inspirado no quadro O retorno, do pintor suíço Arnold Böcklin. Tanto a tela quanto a obra musical são enigmáticas. Considerado um dos prelúdios mais belos da série, apresenta no início um queixoso motivo que se eleva a um ápice de nobreza trágica, para voltar e terminar em um clima de tranquila resignação. Embora não na mesma proporção do que acontece com Debussy, o pictórico adquiriu importância crescente para Rachmaninov, como indica o título da peça que viria a compor logo em seguida: os Études-tableaux op. 33. Possivelmente o mais popular do op. 32, o Prelúdio nº 12 tem no acompanhamento cintilante da mão direita uma de suas características mais marcantes. Sua melodia principal, apresentada pela mão esquerda, lembra o tema do hino litúrgico Dies Irae, que também aparece em muitas outras obras do autor, como Ilha dos Mortos, Danças sinfônicas etc.


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FRÉDÉRIC CHOPIN (1810-49) Balada nº 4 em fá menor, op. 52 em fá menor Berceuse op. 57 Polonaise op. 53 — Heroica

vai e vem de um berço. A Berceuse de Chopin é um dos exemplos mais emblemáticos deste gênero. Conta-se que a inspiração maior dessa peça teria sido a filha da cantora Pauline Viardot, com quem Chopin teria convivido durante o período em que sua mãe a entregou aos cuidados de George Sand, em Nohant, por ocasião de uma turnê.

As três peças de Chopin aqui incluídas foram compostas entre 1842 e 1843, poucos anos antes da morte do compositor, em uma fase de plena maturidade musical. A Balada nº 4, op. 52, dedicada à baronesa de Rothschild e considerada uma das grandes obras-primas do autor, foi escrita em 1842 e revisada no ano seguinte.

Muito engenhosa, a obra é construída com grande simplicidade de materiais e expressa o grande talento de Chopin como improvisador. O acompanhamento da mão esquerda é sempre constante, quase hipnótico, enquanto a mão direta apresenta uma melodia simples — o eco distante de uma canção de ninar que a mãe do compositor cantava para embalá-lo. Este tema é repetido mais de uma dezena de vezes, como um arabesco contínuo, sucessivamente transformado e reelaborado. Tecnicamente, sua execução se torna cada vez mais desafiadora, sem jamais se distanciar da atmosfera tranquila da cantiga de ninar. As últimas variações retornam à simplicidade inicial.

Apesar de, na França do século XII, já haver indícios e formas de poética que prenunciavam a balada, foi apenas nos séculos XIV e XV que o gênero ganhou popularidade. Tornou-se comum musicar os poemas, portanto, a evolução da balada está intrinsecamente enraizada nas duas artes. No século XIX, ao associar o termo a uma obra instrumental, sem a presença de uma parte vocal, Chopin acabou criando um novo gênero. Seu exemplo foi seguido por Liszt, Brahms, Grieg e Fauré. A partir de uma afirmação de Schumann, disseminou-se a ideia de que a Balada nº 4 teria sido composta com base em uma narrativa do poeta polonês Adam Mickiewicz; mas não se pode dizer que tal suposição proceda. Ao contrário de Debussy, Chopin não se sentia atraído pela música programática nem por títulos sugestivos, preferindo os genéricos, como Valsa, Prelúdio, Sonata etc. Acreditava que a própria música deveria contar sua história. Para ele, a inspiração de um compositor não era relevante: a qualidade da peça é que de fato importava. O início muito suave e hesitante dessa balada faz com que se tenha a impressão de que a melodia já existia previamente, convidando intérprete e público a se juntarem a ela. Após a introdução, o tema principal, por muitos considerado de caráter eslavo, será apresentado e transformado ao longo da obra, sempre em crescente complexidade. Três acordes fortíssimos interrompem o fluxo da composição; serão seguidos por um longo silêncio e posteriormente por cinco enigmáticos acordes levíssimos. A turbulenta coda que então irrompe possui impressionante intensidade e poder, concluindo a obra de forma brilhante e dramática. A Berceuse op. 57 é tida como uma das peças mais perfeitas e sutis escritas por Chopin. Composta em 1843, em Nohant, foi dedicada a sua aluna Elise Gavard. Uma berceuse é uma cantiga de ninar, caracterizada por um suave balanço no acompanhamento, que traduz o

A polonaise é um tipo de dança que foi cultivada em muitas cortes europeias desde o período barroco. Há exemplos de obras congêneres em Bach, Telemann, Beethoven e Weber. Ao longo de sua trajetória, Chopin compôs dezesseis polonaises, a primeira delas aos sete anos de idade. Como fez com outros gêneros, apropriou-se de uma forma já existente e aperfeiçoou-a, suplantando largamente os modelos prévios. A polonaise em Chopin está intimamente ligada a sentimentos patrióticos e à trágica situação política da Polônia que ele testemunhou. A mais conhecida da série, a Polonaise op. 53 foi composta em Nohant, em 1842, e dedicada a Auguste Leo. Apesar da relutância do compositor em outorgar nomes descritivos a sua música, essa peça é conhecida como Polonaise Heroica, dado o caráter profundamente passional que tanto intérpretes quanto público associaram a ela. Desde a introdução encontramos gestos de grande bravura, paixão, vigor rítmico, além de admirável colorido pianístico. Sete surpreendentes acordes levam à seção central da obra, seu trio, em que a resistência do pianista é testada em uma longa passagem de oitavas em crescendo, na mão esquerda, que ao atingir seu ponto culminante utiliza todo o poder sonoro do instrumento. Um breve episódio nostálgico precede o retorno do tema principal, que é seguido de uma brilhante coda.

Pianista consagrado, Eduardo Monteiro conquistou importantes premiações nacionais e internacionais ao longo de sua trajetória. Há anos vem se destacando também na formação musical de jovens talentos do país, e desde 2002 é professor do Departamento de Música da USP.


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Nelson Freire PIANO Nascido em Boa Esperança, pequena cidade de Minas Gerais, em 1944, Nelson Freire mudou-se para o Rio de Janeiro com apenas cinco anos. Na então capital federal, a família procurava melhores oportunidades para desenvolver os precoces sinais de talento do caçula. Orientado por duas professoras fundamentais para a sua carreira, a gaúcha Nise Obino e a paulista Lúcia Branco — que teve Tom Jobim entre seus alunos –, aos quatorze anos ele já era considerado um exímio pianista. Aos doze anos, classificado como finalista no I Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro (Guiomar Novaes, uma paixão musical da vida toda, integrava o júri), recebeu do presidente Juscelino Kubitschek uma bolsa de estudos que o levou a Viena, onde estudou com Bruno Seidlhofer. O grande professor austríaco costumava dizer que havia conhecido três fenômenos: Friedrich Gulda, Martha Argerich e Nelson Freire: “Com Gulda, tudo acontecia na cabeça; com Martha, nos dedos; com Nelson, no coração”. A medalha Dinu Lipatti, em Londres, e o primeiro lugar no Concurso Internacional Vianna da Motta, em Lisboa, em 1964, garantiram ao rapaz de dezenove anos apresentações em toda a América Latina e também na Espanha. Seu grande début se deu quatro anos depois, numa aclamada apresentação em Londres, quando o crítico do Times o chamou de “o jovem leão do teclado”. No ano seguinte estrearia em Nova York com a Orquestra Filarmônica, sendo considerado “um dos maiores pianistas dessa ou de qualquer outra geração”. (Time) SAIBA MAIS

Seus discos obtiveram inúmeros prêmios, como o Diapason d’Or, o Grand Prix du Disque , o Gramophone Awards (Grammy) e o Edison Award, com gravações de Brahms, Chopin entre outros.

Nelson Freire DIVULGAÇÃO

A partir de então, ao longo de cinco décadas, com atuações em cerca de setenta países, tocando nas melhores salas de concerto, com as orquestras mais prestigiosas e os regentes mais em evidência, Nelson Freire se tornou uma estrela de máxima grandeza no cenário internacional. A imprensa não cessa de compará-lo a figuras lendárias como Rachmaninov, Cortot, Hofmann, Rubinstein e Gould. Mas isso não o impede de dizer que, para ele, fazer música “não é uma competição”: a música se basta. Jamais deixou de inspirar-se nos pianistas que o impressionaram desde garoto: Rachmaninov, Horowitz, Rubinstein e Guiomar Novaes. Conforme observou um jornalista, o comentário de um crítico do Washington Post sobre Guiomar Novaes vale para Nelson Freire: “um artista que parece trazer o público para a música ao invés de levar a música ao público”.


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