O Trecheiro - Outubro de 2012 #211

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Notícias do Povo da Rua

Ano XXI Outubro de 2012 - Nº 211

“Companheiro Rede Rua de Comunicação - Rua Sampaio Moreira, 110 – Casa 9 – Brás – 03008–010 São Paulo SP – Fone - 3227-8683 - 3311-6642 - rederua@uol.com.br

Fotos: Alderon Costa/Rede Rua

a vida inteira

Haddad, dirigindo-se à Maria, índia Guarani, que teve dificuldade de pronunciar seu nome, respondeu: “Pode me chamar de companheiro a vida inteira” Alderon Costa e Cleisa Rosa

No dia 26 de outubro, em clima alegre e animado, dois dias antes das eleições municipais, pessoas em situação de rua e parceiros receberam o então candidato, hoje prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad (PT) que chegou na companhia de Gabriel Chalita (PMDB) no último evento de campanha na Casa de Oração do Povo da Rua. Estiveram presentes, nesse encontro de apoio, representantes do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR); do Movimento Na-

“Nós, catadores tivemos muito pouco diálogo até agora. Queremos participar da política pública e queremos garantir nossos direitos

“Fui eleito pelo sentimento de mudança

que domina a alma do povo de São Paulo. Sei da enorme responsabilidade de todos que são eleitos pelo signo da mudança. Ser eleito pela força da mudança significa não ter tempo a perder. Não ter medo de enfrentar, nem ter justificativas a dar para tornar esse sonho realidade. Significa não ter paciência e não pedir paciência. Antes de tudo, traçar prioridades e unir a cidade em torno de um

cional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR); do Garnic, grupo de articulação para a conquista de moradia de idosos da capital; do Fórum Permanente de Acompanhamento das Políticas Públicas na cidade; dos índios Guarani, dos ambulantes do Brás; além destes havia representantes de organizações sociais e socioassistenciais conveniadas com a Prefeitura e de políticos, como Eduardo Suplicy (senador); Paulo Teixeira (deputado federal); Simão Pedro (deputado estadual); Juliana Cardoso (vereadora reeleita) e Nabil Bonduki, vereador eleito para os próximos quatro anos. Anderson Lopes Miranda, após agradecer a presença de todos, convidou Renato Sena (MNPR) para leitura das sugestões do Fórum Permanente ao plano de governo municipal (p. 3). Em seguida, Anderson entregou carta do MNPR ao Fernando Haddad apoiando

a implantação da renda básica cidadã, defendida pelo Senador Suplicy. A esperança da vitória foi apontada em falas breves de muitas pessoas que reafirmaram a necessidade de mudança de rumos em São Paulo, principalmente, que a cidade tenha uma administração que respeite os direitos fundamentais dos cidadãos, moradores da cidade. “Nós, catadores tivemos muito pouco diálogo até agora. Queremos participar da política pública e queremos garantir nossos direitos”, disse Eduardo Ferreira de Paulo (MNCR). Alguns representantes destacaram a necessidade de um olhar cuidadoso para a realidade deles. “Não só o povo Guarani, mas o povo do Brasil necessita de uma pessoa que olha realmente para o povo”, disse Pedro Macena, que ao lado de Maria repre-

sentaram os índios Guarani. “Igual ao povo da rua, nós idosos de baixa renda somos muito excluídos. O que mais precisamos no momento é de moradia para os idosos. Queremos que o senhor nos olhe como nós somos”, disse dona Olga Quiroga, representante do Garnic. “Quero fazer um pedido como mulher, que o senhor olhe para os filhos das mulheres dependentes químicas que estão sendo arrancados de suas mães”, disse Mara Lucia Sobral Santos, catadora, presidente da Cooperativa Granja Julieta. Em sua manifestação, o prefeito Fernando Haddad disse que é inaceitável a desigualdade existente em São Paulo e que ela chegou a um grau tal, também, pela inexistência de políticas públicas que só faz aumentar essa desigualdade. Enfatizou que o prefeito tem obrigação de propor po-

Tempos de mudança

projeto coletivo, de todos os paulistanos, de todos os moradores de São Paulo. Meu objetivo central está plenamente delineado, discutido e aprovado pela maioria do povo de São Paulo. É diminuir a grande desigualdade existente em nossa cidade, é derrubar o muro da vergonha que separa a cidade rica e a cidade pobre. Somos uma das mais ricas e ao mesmo tempo uma das mais desiguais do planeta. Não podemos deixar que isso siga assim por tempo indeterminado, exatamente no momento

em que o Brasil vem passando por uma das mudanças sociais vigorosas do mundo. A prefeitura tem um papel importante nisso, pois é ela que cuida da oferta e da qualidade de alguns dos serviços públicos mais essenciais como a saúde, o transporte, a educação, a habitação, entre outros. As cidades foram inventadas para unir, não para desunir. Proteger e não fragilizar. Acarinhar e não violentar. Para dar conforto e não sofrimento. São Paulo tem seus grandes problemas,

mas tem e terá as próprias soluções. O Brasil moderno nasceu aqui e o surpreendente Brasil do novo milênio também estará aqui. Se corrigirmos nossos erros, se superarmos a inércia, se quebrarmos o imobilismo, e se recuperamos a alma criativa e o espírito de empreendedorismo que sempre foram a marca de São Paulo”.

(Extraído do discurso feito por Fernando Haddad após anúncio dos resultados da eleição no dia 26 de outubro de 2012)

líticas públicas com a participação política dos cidadãos e de respeitar a cultura dos diferentes grupos e comunidades. “Faremos uma grande transformação em São Paulo. Vamos fazer com que a Prefeitura pare de atrapalhar, vamos dar as mãos e fazer com que esta cidade consiga recuperar o protagonismo e a liderança que ela sempre teve. Todo morador é um guerreiro e um batalhador. Isso vale para o rico, para o pobre, vale para a mulher, para o homem, para o negro, para o branco, para a periferia e para o centro”, enfatizou Fernando Haddad. Finalizando, Haddad lembrou uma fala do presidente Lula por ocasião de uma de suas visitas à população de rua às vésperas do Natal: “Não podemos perder o vínculo com quem mais precisa da gente. De certa forma minha presença aqui tem esse mesmo sentido”, completou o prefeito Haddad.

“Meu objetivo central está plenamente delineado, discutido e aprovado pela maioria do povo de São Paulo. É diminuir a grande desigualdade existente em nossa cidade, é derrubar o muro da vergonha que separa a cidade rica e a cidade pobre”

(Extraído do discurs Haddad após anúnc eleição no dia 26 de


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Do Trecho para o prefeito Haddad

É importante dizer que, hoje, já existe amplo conhecimento da realidade das pessoas que estão em situação de rua. Isso não significa que exista um domínio sobre toda realidade, mas é importante dizer que o que se sabe não é levado em conta pelos gestores públicos, que continuam fazendo da repressão e do confinamento a base das políticas públicas. É urgente pensarmos em mudança de visão porque estamos falando de pessoas e não de coisas. Nos últimos anos, portanto, vivemos um verdadeiro descaso público com relação à população de rua na cidade de São Paulo na medida em que os principais problemas apresentados por ela não encontram respostas. Ao contrário, o que se vê, prioritariamente, são ações públicas que enfatizam higienização, violência policial e prioridades em equipamentos fechados (albergues) sem condições de funcionamento em espaços inadequados ou abertos (tendas) que não oferecem condições mínimas de atendimento digno. Há ausência de espaços de participação para a elaboração e avaliação das políticas, de ações de cuidados com a saúde na perspectiva da equidade e da inclusão no Sistema Único de Saúde e de moradias subsidiadas que considerem as condições socioeconômicas das pessoas em situação de rua. Levando em conta esse rápido quadro, a equipe do jornal O Trecheiro levantou propostas de trabalho que vêm sendo construídas, historicamente, por grupos que atuam criticamente nessa realidade e que participaram do processo de criação da Política Nacional – Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009 – assinada em dezembro de 2009 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Propostas

1. Construir um mecanismo de articulação multidisciplinar e intersetorial (Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano, Cultura, Saúde e Trabalho) com participação de representantes das organizações sociais, do MNPR e de pessoas em situação de rua. 2. Congelamento das vagas de albergues, promovendo avaliação dos serviços existentes, tendo em vista fechamento de alguns (sem condições de funcionamento) e criação de alternativas de atendimento diferenciadas. 3. Nessa direção, ampliar vagas em Hotel Social, no Programa de Locação Social e inclusão (quando for o caso) no Programa Minha Casa, Minha Vida, prevendo acompanhamento e articulação com o trabalho. 4. Na perspectiva da Segurança Alimentar, criar restaurantes populares, com atendimento diferenciado e qualificado; articular a ação municipal às organizações que distribuem alimentação nas ruas da cidade, no sentido de parceria em função da política pública. 5. Garantir direito à alimentação, higiene, segurança, saúde às pessoas que têm nas ruas o seu modo de vida. 6. Rever a metodologia e formas de atendimento nos serviços, garantindo dignidade, respeito e participação. 7. Criar serviços de caráter público de tratamento específico à dependência química de álcool e drogas. 8. Fortalecer e ampliar o programa “A Gente na Rua” como foi criado, originalmente, onde a “rua cuida da rua”. 9. Criar mecanismos para acabar com a violência contra as pessoas em situação de rua, em particular, a praticada pela Guarda Civil Metropolitana (GCM). Nesse sentido, revogar a Portaria 105/2010/SMSU – Gabinete de 31 de março de 2010. 10. Desenvolver espaços de formação profissional dos agentes públicos e privados que articulem, avaliem e qualifiquem os trabalhos existentes na cidade com a população de rua.

Apoio

O Trecheiro Notícias do Povo da Rua

Conselho Editorial: Arlindo Dias Editor Alderon Costa MTB: 049861/0157 Cleisa Rosa

Equipe de Redação: Alderon Costa Cleisa Rosa Davi Amorim Léa Tosold Rose Barboza

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REDE RUA DE COMUNICAÇÃO Rua Sampaio Moreira,110 - Casa 9 - Brás - 03008-010 - São Paulo - SP - Fone: (11) 3227-8683 3311-6642 - Fax: 3313-5735 - www.rederua.org.br - E-mail: rederua@uol.com.br

Outubro de 2012

Vida no trecho “A rua provoca traumas, mas também permite ver a vida de outra maneira”

Léa Tosold e Rose Barboza

“Dormir nas ruas é muito duro, você está permanentemente sujeito a toda sorte de estímulos vindos de fora: luzes, ruídos. A maior parte das pessoas nunca vai entender o mágico que é, por exemplo, poder acender e apagar um interruptor de luz, poder andar sem roupas dentro de casa. São coisas simples, que a maioria não vê. Eu aprendi o valor das coisas simples. A rua te provoca traumas, mas também te permite ver a vida de outra maneira. Ela te tira, mas também te dá”. Foi com essa fala que Horacio Ávila terminou uma conversa de mais de duas horas com a equipe de O Trecheiro no Centro de Integração Monteagudo, em Buenos Aires.

No começo, acordava todos os dias achando que despertaria de um pesadelo, na esperança de que tudo passasse como um passe de mágica. Horacio é de La Matanza, município próximo a Buenos Aires. Trabalhava como autônomo no ofício de tapeceria e vivia de aluguel com a mulher e a filha. Quando a crise econômica de 2001 assolou o país, tornou-se inviável para Horacio comprar o material com que trabalhava e pagar o aluguel. Foi então que tomou a decisão de vender todas as ferramentas que tinha e dar o dinheiro para que a mulher e a filha voltassem a viver com os pais, no interior. “Eu segui para Buenos Aires com apenas um trocado no bolso”, relembra. Passou a dormir na praça do Congresso, no centro da cidade. “No começo, acordava todos os dias achando que despertaria de um pesadelo, na esperança de que tudo passasse como um passe

de mágica. Mas isso nunca acontecia e a situação só ia piorando: a roupa ia ficando suja e eu tinha muita fome”.

“Agir coletivamente tem uma força diferente” “É extremamente difícil viver em situação de rua. Vemos restaurantes por todas as partes e, no entanto, sabemos que não vamos poder comer. Há milhares de prédios ao redor, mas não vamos dormir em nenhum deles, senão nas ruas, que é o lugar onde as pessoas caminham. Há uma infinidade de banheiros e não vamos poder entrar em nenhum deles. É muito duro ver essas coisas e não enlouquecer”. Horacio nos conta que a revolta que sentia por sua situação e a de tantxs outrxs foi se transformando dentro dele em resistência e rebeldia. Vendo que havia outras pessoas vivendo na mesma situação, começaram a organizar-se: “Éramos cerca de 20 pessoas e, em vez de ficarmos esperando por horas em filas para receber um pouco de comida, passamos a preparar nosso próprio café da manhã conseguimos comprar leite em pó e uma garrafa térmica para o café. Alguns bares nos davam água quente e conseguimos doações de pão velho, um pouco de geleia e manteiga”. “A única possibilidade de superar os problemas é agindo coletivamente”, afirma Horacio. “Individualmente, o sistema é estruturado para que você não chegue a

lugar nenhum e, na primeira oportunidade, volte à situação precária da qual procurou sair”. Cada vez mais pessoas passaram a se reunir nas praças, em assembleias, a fim de se organizar autonomamente para lutar por seus direitos. Em dezembro de 2004, havia mais de 200 pessoas reunidas quando Horacio e mais sete companheiros decidiriam entrar em greve de fome como protesto, visando exigir do governo um subsídio habitacional que também contemplasse pessoas em situação de rua. O caso teve grande repercussão e, depois de oito dias, conseguiram subsídio para a moradia de 40 pessoas em situação de rua. Com essa vitória, as mobilizações continuaram crescendo mais e mais. Mesmo tendo sofrido um infarto por estar muito debilitado pela situação de rua e pela greve de fome, Horacio dedica-se em tempo integral à causa. É uma luta árdua. Mas, como diz Horacio: “Sei que precisaria descansar. Por outro lado, sei também que não conseguiria deixar a luta para fazer outra coisa”.

Éramos cerca de 20 pessoas e, em vez de ficarmos esperando por horas em filas para receber um pouco de comida, passamos a preparar nosso próprio café da manhã

Entretanto, por trás de tanta inteligência, havia um sofrimento psíquico intenso

Foto: Alderon Costa/Rede Rua

Editorial

O Trecheiro


Pauta de reivindicações do Fórum Permanente de SP entregue a Fernando Haddad

Outubro de 2012

Cleisa Rosa com a colaboração de Léa Tosold e Rose Barboza

Radio Sur em Buenos Aires

Trecheirinhas

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O Trecheiro

Projeto de comunicação comunitária com programa coordenado pelo Centro de Integração Monteagudo, que entrevistou ao vivo a equipe de O Trecheiro no dia 2 de agosto. A relação dos movimentos sociais com o governo federal, cooptação e liberação de recursos estatais para a população de rua, violência por parte dos agentes do Estado, cooperação e conhecimento sobre a realidade brasileira estiveram na pauta.

Alexandre Hodapp (Cohab-SP)

Medidas a serem implementadas nos 100 primeiros dias de governo

aAfastamento imediato da Guarda Civil Metropolitana da abordagem com a população em situação de rua, lembrando que “a população não é objeto de trabalho da GCM”. aQue o Conselho de Monitoramento da Política para a População em Situação de Rua de São Paulo passe a ser um Conselho Municipal, deliberativo e com dotação orçamentária para a efetiva construção e implementação de políticas intersetoriais. Criação de uma política de Segurança Alimentar específica para a população em situação de rua, lembrando que o Bom Prato não atende a essa população. Revisão da política de convênios, que eles passem a ser intersetoriais no seu desenho e implementação, corresponsabilizando diferentes secretarias (Assistência Social, Saúde, moradia, trabalho, etc.) na construção de serviços e no cofinanciamento dessas ações.

a a

Medidas de médio prazo

l Construção de uma política pública intersetorial para a população em situação de rua e de mecanismos efetivos para implementá-la. l Que o município de São Paulo lidere a articulação metropolitana de uma política para a população de rua.

Chuveiro da vergonha Alderon Costa

Bancos ondulados para as pessoas não deitarem, grades nas praças e viadutos, paralelepípedos, pedras e chuveirinhos são algumas das formas da chamada arquitetura da exclusão adotada, em diversos momentos da conjuntura política, pelo poder público e por particulares para expulsar as pessoas em situação de rua. Gildevar Ferreira Santana morava na favela do Moinho e desde que perdeu o barraco no primeiro incêndio (22 de dezembro de 2011) passou a morar na rua. Todo dia vai almoçar no Centro de Vivência São Vicente de Paula (Alameda Dino Bueno, 643). No entanto, antes de almoçar, acaba ficando sentado na parede de

É um espaço de organizações que trabalham com pessoas em situação de rua. A 1ª Jornada de Trabalho do Centro Carlos Mugica foi marcada por uma homenagem ao Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua no Brasil. A equipe de O Trecheiro foi convidada a abrir o evento contando a história do massacre da Praça da Sé e a posterior organização da população de rua em um movimento social no Brasil. Homenagear o Dia Nacional de Luta foi uma estratégia encontrada pelos participantes do evento para iniciar uma troca de experiências entre os dois países na busca de um movimento coletivo latino-americano de pessoas em situação de rua.

Uma outra Buenos Aires

Guiadas por Fabio Manupella e Marcelo Castillo, participantes do Centro de Integração Monteagudo, a equipe de O Trecheiro foi apresentada aos contrastes de uma Buenos Aires que, cada vez mais, exclui e marginaliza seus pobres. O percurso político-turístico passou por espaços que sofreram processos de “revitalização”, em que a expulsão da população pobre deu lugar à especulação imobiliária, dividindo a cidade dos pobres da Buenos Aires dos ricos, conforme observou Fabio Manupella.

Carta de repúdio

Entidades e movimentos sociais que integram a Frente Estadual de Drogas e Direitos Humanos do Rio de Janeiro (FEDDH), articulada com a Frente Nacional de Drogas e Direitos Humanos (FNDDH) repudiam as últimas declarações do prefeito da cidade do Rio de Janeiro sobre a continuidade e expansão da política de internação compulsória, que agora, além das crianças e adolescentes em situação de rua, deverá incluir adultos. Seminár

io sobre Dro Humanogas e Direitos No dia 8 s horas (R de novembro, d u a ao Metrô Arruda Alvim as 9 às 17 nal Drog Clínicas, a Fr , 89 – perto reúne ma as e Direitos Huente Naciocriação, is de 50 entidad manos, que debate e em 2012, conves desde sua contra a m torno de açõeida para o usuários internação e segs concretas mail: eve. Faça sua inscr regação de iç ntos05@ crpsp.orgão pelo e.br

“Eu já vi várias pessoas esperando o horário do almoço quando alguém abre a água desse cano que está ai acima”, um prédio vizinho, que instalou um cano de água com furos por toda a parede. “Eu já vi várias pessoas esperando o horário do almoço quando alguém abre a água desse cano que está ai acima”, apontou Gildevar para o beiral do telhado do prédio. Segundo Adriano Marques, educador social que trabalha na região da Luz, os moradores do prédio juntaram-se para excluir as pessoas em situação de rua que ficam esperando a comida oferecida pelo Centro. Para Adriano, “o problema é que as pessoas não têm opção de alimentação, são poucos lugares como este daqui”. Para Ismael Tiago dos Santos, convivente do Centro, a colocação desse chuveirinho começa pela ausência do poder público. “Ninguém pode obrigar as pessoas a saírem da rua, não sei como, mas sempre tem um jeito”. Para Tia-

1ª Jornada em Buenos Aires

go, se as pessoas que moram nas ruas tivessem uma opção melhor do que levar água nas costas, eles escolheriam, pois ninguém gosta desse tipo de constrangimento. O chuveirinho é uma agressão, é como se fosse um tiro: você jogar água nas pessoas para não ficarem nas calçadas. É uma espécie de egoísmo sem tamanho e de uma falta de humanidade, afirma o educador social, Rodrigo Monteiro, que trabalha na abordagem de rua. “Eu tenho sérios problemas com essas saídas individualizadas quando você não cobra do poder público e não tenta entender o porquê dessa situação de tantas pessoas nas ruas. Este tipo de ação individualizada aponta para o fascismo”, conclui Rodrigo. Para a assistente social do Centro de Convivência São Vicente de Paula, Edeli Pons

Imamura, a maioria das pessoas que ficam próximas ao prédio não são atendidas pelo Centro. “Nós orientamos todos a não ficarem lá fora, mas não tem jeito”. O Centro chega a atender mais de 750 pessoas entre café da manhã, almoço e jantar, sem apoio do poder público. Segundo Maria Aparecida Azevedo, conhecida pelo nome religioso de irmã Rosina, coordenadora, o número tem aumentado e o Centro não consegue atender a todos. “Sofremos também muita pressão de alguns moradores do bairro que nos culpam pela concentração de pessoas que moram nas ruas porque desvalorizam suas propriedades”, afirmou irmã Rosina. A reportagem do O Trecheiro procurou e deixou os contatos para conversa com a síndica do prédio, mas não obteve retorno.

abalho com a pectivas no tr rs pe e os afi a” “Des situação de ru população em de 2012 de novembro Datas: 5 e 26 18 horas Horário: 14 às - Rua Major Maragliano, M O Local: FAPC Rosa ao Metrô Ana o o im óx pr 191 e Rua, Centr ed R ociação ss A úda N , va os ti Inicia s Human a de Direito Gaspar Garci esquisa e Dis , Formação P de ir s ut lu sc au di P cleo jetivo de cial com o ob to e aprimoseminação So m mpartilha en co a , as ci ên ri iplinar com expe ção multidisc ua at da to en ram a. situação de ru população em Dia Mun

icipal da Assistên cia Socia Data: 13 l. d e n o v embro de Horário: 2 9 0 à 1 s 13 hora 2 Local: s Viaduto JCâmara Municip al de S Os prota acareí, 100 P – g o n is ta usuários s deste meio das da Assistência dia serão os apresenta S ções cult ocial, por urais.

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O Trecheiro

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Outubro de 2012

Os caminhos da autogestão

Horacio Ávila coordena a assembleia dos participantes do Centro de Integração Monteagudo Rose Barboza e Léa Tosold

Frio, chuva e um céu cinza. Buenos Aires não costuma ser muito amistosa nas tardes de inverno. O clima e a geografia da cidade encarnam a segregação espacial e ajudam a criar um cenário urbano que afasta dos olhos menos atentos a pobreza e os fossos sociais, herdeiros diretos da abertura neoliberal que, na década de 2000, levou o país à lona e os argentinos às ruas em uma demonstração potente do que pode a mobilização coletiva. Quase 12 anos depois do levante popular argentino, a fuga do primeiro-ministro da sede do governo e da eleição de uma presidente progressista como Cristina Kirchner em 2007, a situação de rua tem se agravado. Isso nos conta Horacio Ávila, diretor do Centro de Integração Monteagudo, experiência pioneira que a equipe de O Trecheiro conheceu na passagem pelos pampas hermanos em agosto deste ano.

de entusiasmo com discussões políticas acaloradas foi acompanhado de mate bem quente, para espantar o frio e selar a amizade e confiança entre nós. O Centro de Integração Monteagudo é o primeiro Centro de Acolhimento (albergamento e convivência) da América Latina dirigido e coordenado por pessoas em situação de rua ou com trajetória de rua, por meio de assembleias semanais. Essa experiência de autogestão, hoje referência nacional, começou com um desafio: “Era um centro [albergue] que estava subutilizado, tinha vagas para 100 pessoas, mas apenas 40 leitos estavam ocupados”, informa Horacio. “Já vínhamos de mais de dez anos de lutas

Como conheciam a tradição autoritária desses espaços, apostaram na criação de uma assembleia geral semanal, responsável por todas as decisões que afetam a rotina, as atividades e as iniciativas do espaço. Foi a partir da primeira assembleia geral que surgiram as diretrizes do trabalho realizado em Monteagudo: respeito nas relações, escutar livremente música, (até três) oportunidades de revisão sobre comportamentos pessoais não esperados na convivência e flexibilidade de horários para poder trabalhar e estudar. Horacio acredita que essas diretrizes, baseadas no respeito, no apoio mútuo e na liberdade, também constituem a força que alimenta cada nova conquista: “Ser parte da decisão, ter autonomia para decidir e ser tratado como igual: é o que a experiência de Monteagudo tem nos ensinado”. Isso também é decisivo na forma como passamos a compreender a situação de rua: “Estar em situação de rua é político e, por isso, acreditamos que há alternativas à rua, mas elas passam necessariamente pelo trabalho de conscientização e de mobilização coletiva”. Para Horacio, a experiência de Monteagudo tem funcionado como “uma escola de convivência para outras convivências”, em que a possibilidade de olhar para si mesmo como alguém capaz de cuidar de si e de seus companheiros, além de fortalecer a autoestima, é importante para alterar a percepção que a sociedade tem de quem vive nas ruas.

Autogestão e mobilização coletiva

Horacio nos apresentou ao projeto que, desde abril de 2011, vem transformando as relações entre usuários de serviços e poder público por meio da autogestão e da certeza de que protagonismo só existe mesmo na prática, incluídos aqui acertos e erros. O clima

Uma escola de convivência para outras convivências”, em que a possibilidade de olhar para si mesmo como alguém capaz de cuidar de si e de seus companheiros

demonstrado que uma política pública efetiva é resultado de uma construção coletiva “com” a população em situação de rua e não “para” ela.

Memória e desafio

A nossa passagem por Buenos Aires foi marcada por várias experiências de intercâmbios com a população em situação de rua. Dentre os debates, destacou-se a importância da construção de uma memória coletiva como estratégia para a luta política. Dos perseguidos e mortos políticos nas ditaduras civis-militares do Brasil e da Argentina às mortes de rua, concluiu-se que recuperar a memória desses fa-

Como primeiro passo, alguns participantes de Monteagudo foram, no dia 19 de agosto de 2012, à Embaixada do Brasil em Buenos Aires e ergueram, ali, a bandeira do MNPR tos é a única forma de conhecer nossa história para transformar nosso futuro. Como primeiro passo, alguns participantes de Monteagudo foram, no dia 19 de agosto de 2012, à Embaixada do Brasil em Buenos Aires e ergueram, ali, a bandeira do MNPR em referência ao Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua. Ao mesmo tempo que, em São Paulo, coloríamos as ruas do centro com bandeiras vermelhas, em Buenos Aires eles exigiam justiça e pediam fim ao massacre cotidiano da população de rua. Recordavam assim que, se a violência e a opressão são continentais, a luta e a resistência também têm de ser.

A autogestão é possível?

e resistência e a Prefeitura de Buenos Aires nos desafiou a coordenar esse espaço. A Prefeitura perguntou se teríamos condições, se daríamos conta. Pensou, desde o começo, que fracassaríamos e, por isso, resolvemos aceitar”, complementa, com entusiasmo. O desafio era grande, mas Horacio e seus companheiros resolveram encará-lo.

Monteagudo hoje conta com uma equipe de trabalho que desenvolve diversas atividades: a revista Nunca es Tarde, realizada pelos participantes do Centro; Oficina de Fotografia, Escrita, Pintura, Desenho, Jornalismo, Serigrafia e programas para a rádio comunitária Radio Sur, entre outros. A experiência de Monteagudo tem

A autogestão se define pelo poder de decisão de um grupo sobre algo que lhe diz respeito, promovendo escolhas, compartilhando poder e decisões entre todos. Apesar das dificuldades institucionais e políticas atuais, iniciativas que caminhem ao encontro do fortalecimento coletivo tendem a romper com estruturas fechadas e rígidas e abrir espaços importantes na busca de uma autonomia plena.

Conquista dos catadores

MG é o primeiro Estado a pagar catadores por serviços ambientais

Davi Amorim

Os catadores de materiais recicláveis do Estado de Minas Gerais foram os primeiros a conquistar pagamento por serviços ambientais, reivindicação histórica do Movimento Nacional dos Catadores (MNCR) que passa a ser colocada em prática com o programa Bolsa Reciclagem do governo estadual, instituído por lei. Durante o 11º Festival Lixo e Cidadania, que aconteceu entre 22 a 25 de outubro, foram divulgados os resultados da implementação do programa que prevê investimento de três milhões de reais. O pagamento é realizado com base no volume de material coletado pelos catadores organizados em cooperativas e associações. O valor pago varia de acordo com o material recolhido e beneficia os materiais com menor valor de mercado, estimulando a re-

ciclagem de todos os resíduos. O número de organizações de catadores cadastradas já somam 119 em todas as regiões do Estado e o beneficio atinge 1.561 catadores. Na primeira fase do programa, será remunerada a coleta de papel, plástico, vidro e metal. Três catadores representantes do MNCR integram o conselho gestor do programa que avalia e fiscaliza as cooperativas aptas a receber o pagamento por serviços ambientais. “Estamos acompanhando de perto para que não entrem os `cooper-gatos’ (cooperativas de fachada) e ferros-velhos no programa”, declarou Luiz Henrique da Silva, representante do MNCR em Minas Gerais. “Estamos trabalhando para que esse pagamento chegue a ser uma política federal e o Estado de Minas Gerais serve como modelo”, finalizou.

Foto: Davi Amorim/MNCR

Participantes do 11º Festival Lixo e Cidadania realizado de 22 a 25 de outubro em Belo Hori-

Fotos: Alderon Costa/Rede Rua

Fotos: Walter Sangroni/Coop En La Vuelta

Pessoas em situação de rua dirigem centro de serviços em Buenos Aires


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