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Nunca o homem inventará nada mais simples nem mais belo do que uma manifestação da natureza. Dada a causa, a natureza produz o efeito no modo mais breve em que pode ser produzido. Leonardo Da Vinci
Este trabalho foi realizado por Catarina Vieira no âmbito da disciplina de Registo de Imagem III, sob a revisão da professora Rita Castro Neves, na Escola Superior de Estudos Industriais e Gestão, no ano letivo de 2012-2013. Como resposta ao briefing, deste projecto final, decidi fotografar os quatro elementos, Fogo, Terra, Água e Ar. Escolhi este tema, porque me interessa bastante. De acordo com a minha pesquisa, não se encontram fotógrafos que tenham adquirido este tema por completo. Apenas encontrei referências sobre a água, de Joshua Cooper, Mark Tipple, Guilherme Mallmann, Markus Reugels. Os 4 elementos é a expressão utilizada para referir-se aos elementos naturais: água, terra, fogo e ar. Essa expressão refere-se ao que seria essencial à vida humana no planeta. A ideia dos 4 elementos clássicos provém dos primórdios da Filosofia. No Ocidente, foi ensinada no período présocrático, perdurou na Idade Média e chegou até o Renascimento. Mas o conceito é antigo no Oriente, tendo sido disseminado na Índia e na China, onde encontra-se na base do Budismo e Hinduísmo, principalmente no contexto esotérico. Na tentativa de explicar qual a natureza da matéria, surgiram várias teorias. Uma delas foi criada por um filósofo grego, Empédocles, por volta do século V 494 e 434 a.C. Segundo ele, tudo que existe no universo seria composto por quatro elementos principais: terra, fogo, ar e água. Surgiu aí a teoria dos quatro elementos. Seu ponto de partida foram as experiências deixadas por outros dois grandes filósofos, Parmênedes e Heráclito, que tentaram, cada um com sua teoria oposta à do outro, explicar a constituição e transformação de todas as coisas que existiam no universo. A razão de Parmênedes deixava claro que nada pode mudar, enquanto que para Heráclito, a natureza e tudo que está nela está em constante transformação. Para Empédocles, ambos tinham razão, sob determinado ponto de vista, porém, algo na teoria dos dois filósofos não podia de maneira nenhuma condizer com a verdade – segundo suas teorias, tudo que existia seria constituído de apenas um elemento básico. Empédocles não podia aceitar que a água pudesse se transformar num peixe ou numa borboleta, pois a água seria água por toda eternidade, e daí a razão que ele atribuía a Parmênedes; por outro lado, acreditava também que tínhamos que dar o devido crédito aos nossos sentidos ao observar que um pedaço de madeira, ao ser queimado, gerava o fogo, a fumaça e deixava para trás as cinzas, ou seja, se transformara em algo diferente, como afirmava Heráclito. Não foi por acaso que Empédocles considerou precisamente o fogo, a água, o ar e a terra como sendo as “raízes” da natureza. Outros filósofos que o anteceram já haviam notado e considerado ora um, ora outro desses elementos, de maneiras diferentes. Tales e Anaxímeres, por exemplo, tinham enfatizado a importância da água e do ar como sendo elementos essenciais da natureza. Outros ainda tentaram provar que a água, o ar e até mesmo o fogo, seriam sozinhos, o único elemento da natureza. De todos estes pensamentos, o que Empédocles deve ter notado é que cada um dos elementos desempenha de fato um papel de crucial importância na natureza, do sol que aquece e alimenta os seres vivos, ao ar que respiramos, sem o qual
morremos em segundos, ou a água que é portadora de energia vital para plantas e animais. Por volta de 350 a.C., outro filósofo grego muito conhecido, Aristóteles (384-322 a.C.), retomou a ideia de Empédocles, e acrescentou que cada um desses elementos tinha um devido lugar e procurava permanecer nele ou encontrá-lo. Por exemplo, a terra estava no centro dos quatro elementos, em seguida vinha a água, acima vinha o ar e, por último, acima de todos, o fogo. Hoje sabemos que essa teoria não procede. Porém, levando em conta os recursos da época, eles possuíam apenas a observação, e foi exactamente com o uso dela que Aristóteles chegou a essa conclusão. Os quatro elementos (Terra, Ar, Água e Fogo) são divididos em dois grupos. O Fogo e o Ar são considerados activos e a Água e a Terra passivos. Essa divisão se assemelha aos dois grupos da filosofia chinesa: yin representa Água e Terra e yang o Fogo e o Ar. Os signos da Água e da Terra são mais introspectivos, cautelosos e ponderados. Já os signos do Fogo e do Ar não têm tantas reservas e se expressam socialmente com menor precaução. Com o avanço da tecnologia e com o desenvolvimento e aplicação contínua de experimentos, a Química passou a ter um carácter científico, bem diferente do adoptado naquela época. Assim, hoje sabemos que a matéria não é constituída desses quatro elementos básicos, mas sim de átomos. Se considerarmos como tipos de matéria que formam a natureza, a expressão está errada pois fogo não pode ser considerado uma matéria natural, pois trata-se do resultado de uma reacção química.Também o conceito de elemento foi mudado pela Química e Física modernas. Considera-se como elemento os diferentes tipos de átomos que formam moléculas, tanto naturais como artificiais (reacções induzidas pelo Homem). A água, por exemplo, se constitui na verdade em uma molécula resultante da ligação natural de dois elementos químicos: o oxigénio e o hidrogénio. Hoje em dia há quem corresponda os 4 elementos clássicos com os 4 estados da matéria: sólido, líquido, gasoso e plasma. Um dos componentes mais interessantes da astrologia está na determinação dos elementos dos signos. Cada elemento influencia um grupo de três signos astrológicos. Como na natureza, eles são quatro: Fogo, Terra, Ar e Água. Na astrologia cada um deles transmite aos signos que governa características bem próprias e que as pessoas poderão identificar facilmente no seu signo: - Fogo: Carneiro, Leão, Sagitário - Terra: Touro, Virgem, Capricórnio - Ar: Gémeos, Balança, Aquário - Água: Caranguejo, Escorpião, Peixes
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Ao vêr um livro de Sérgio Godinho, no qual as suas canções são ilustradas, pensei que poderia também através das minha fotografias dos elementos, ilustrar algo. “Ilustrada a música destas 40 maneiras, percebo agora melhor o que dizem as palavras e os sons”. Deste modo, recordei.me de um vídeo, já estudado em aula, designado por: Ballet Mecanique, no qual Fernand Léger e Dudley Murphy comparam os objectos da vida quotidiana aos gestos do homem e às engrenagens de uma maquina. Filme com importantes estratégias rítmicas e espaciais. O francês Léger e o americano Murphy eram pintores e apaixonados pelo cinema. Ambos realizaram alguns filmes em parceria ou com outros artistas, como Hans Richter. Video em: http://www.youtube.com/watch?v=lEuDFJd6_2U Assim sendo, prossegui a minha pesquisa, em relação ao ballet, descobrindo que a palavra provém do inglês “ballet”, emprestada do francês por volta de 1630. A palavra francesa tem a sua origem na palavra italiana “balleto”, diminutivo de “ballo” (dança), que vem do latim “ballare”, que significa dançar. Este termo, por sua vez proveio do grego “βαλλίζω” (ballizo), que significa dançar, saltar sobre. As primeiras apresentações diante da plateia eram feitas com o público sentado em camadas ou galerias. São realizadas principalmente com o acompanhamento de música clássica. O ballet é um tipo de dança influente a nível mundial que possui uma forma altamente técnica e um vocabulário próprio. Este género de dança requer muita prática. O ballet surgiu no século XV, nas cortes italianas. Apesar disso, o seu desenvolvimento foi maior nas cortes francesas, no século XVII, durante o reinado de Luís XIV. A partir daqui, o ballet entrou em declínio na França, mas foi aperfeiçoado na Dinamarca, Itália e Rússia. No início da Primeira Guerra Mundial o ballet foi reintroduzido na Europa Ocidental por uma empresa russa: a Ballets Russes de Sergei Diaghilev. No século XX, o ballet continuou a ser desenvolvido, tendo uma grande influência na dança de concerto. Os desenvolvimentos posteriores mais conhecidos incluem ballet contemporâneo - forma de dança influenciada pelo ballet clássico e pela dança moderna. Utiliza a técnica e o trabalho nas pontas dos pés vindos do ballet clássico. Muitos de seus conceitos vêm de ideias e inovações ocorridas na dança moderna do século XX. Os primeiros sapatos de ballet tinham as pontas terrivelmente pesadas para permitir que a bailarina ficasse na ponta dos pés facilmente e aparentasse leveza. Mais tarde ela foi convertida na actual constituição, onde uma “caixa” abriga a ponta dos pés da bailarina e lhe dá suporte para manter o equilíbrio. Todas as danças possuem por detrás uma música, ao qual faz mover as pessoas. Tendo já a dança escolhida, para representar as minhas fotografias, prossegui à escolha da música. Como os elementos são quatros, escolhi a música “Le quattro stagioni”, conhecida em português como “As Quatro Estações”, são quatro concertos para violino e orquestra do compositor italiano Antonio Vivaldi, compostos em 1723. Ao contrário da maioria dos concertos de Vivaldi, estes quatro têm um programa claro: vinham acompanhados por um soneto ilustrativo impresso na parte do primeiro violino, cada um sobre o tema da respectiva estação. Não se sabe a origem ou autoria desses poemas, mas especula-se que o próprio Vivaldi os tenha escrito. As Quatro Estações é a obra mais conhecida do compositor, e está entre as peças mais populares da música barroca. Podemos ouvir este concerto em: http://www.youtube.com/watch?v=6OLq5AP8dMM Associei as quatro estações, aos quatro elementos, ou seja, a primavera ao ar (devido ao ambiente mais ventoso), o verão ao fogo (pois é quente), o outono à terra (devido às cores outonais castanhas) e por fim, o inverno, à água (chuvas, e cores mais frias).
Com todos os elementos reunidos, posicionei as fotografias, como se respondessem a uma coreografia sobre a música “Quatro estações” na dança ballet. As fotografias, possuem um fundo preto em todas e visam de verticalidade. É um elemento de ligação, como se tratasse do fundo do palco, onde estão a actuar. Para fotografar cada elemento, criei um espaço. O ar, foi caracterizado através do fumo de uma fogueira com ramos verdes. Inicialmente fiz uma experiência com o fumo do incenso, da qual não retive um bom resultado. O fogo, foi o primeiro elemento fotografado, num fogão de sala. A água foi fotografada numa fonte, e a terra, com um fundo de cartolina preta e areia. A areia, com o impacto na cartolina, criava manchas interessantes. Podemos observar esses “palcos” criados, nas imagens laterais. Para a apresentação deste meu trabalho, decidi criar um livro. Livro este em que nas primeiras páginas existe a informação sobre o trabalho, para que seja melhor entendido, e nas seguintes páginas as imagens são apresentadas, umas maiores do que outras, em diferentes locais, representando a coreografia por mim criada através do ballet e do ritmo da música. Algumas páginas em branco, criam pausas, para representar a mudança de elemento, e a mesma pausa na música. Decidi optar pela elaboração de um livro, pois deste modo o público pode sentar-se a aperciar o espectáculo, desfolhando cada página. As páginas brancas texturadas, funcionam como uma cortina de um palco.
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Ficha Técnica:
“Ballet Elementar” Autor: Catarina Vieira Escola Superior de Estudos Industriais e Gestão Disciplina de Registo de Imagem III do curso de Design Gráfico e Publicidade Máquina: Canon 550D com Objectiva de 18-55mm Impressão: XecPrint
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