Na criação de Molly Bloom
Retrato da Atriz Enquanto Corpo Segunda edição do documentário - agosto de 2015 Roteiro e edição
Maria Falkembach Têmis Nicolaidis Direção
Têmis Nicolaidis Câmera
Júlia Rodrigues Gustavo Türck Têmis Nicolaidis A trilha sonora do filme foi originalmente criada para o espetáculo Penélope Bloom
Trilha sonora e direção musical Leandro Maia
Ficha Técnica do Espetáculo Penélope Bloom (2008) Direção: Gerardo Bejarano / Assistente de direção: Júlia Rodrigues / Dramaturgia: Gerardo Bejarano, Maria Falkembach e Vicky Montero / Elenco: Maria Falkembach e Vicky Montero.
Um retrato do processo Têmis Nicolaidis - diretora do documentário A oportunidade de retratar o processo de trabalho em vídeo é poder parar e observar a própria prática. Não só isso, expôr de uma forma bastante crua o caminho trilhado. De uma maneira geral consideramos acabado aquilo que enxergamos uma finalização, que está bonito, afinado, lustroso e esquecemos, então, que uma obra de arte nunca se acaba. Pois a experiência de participar deste filme me reafirma a importância do compartilhamento do caminho, onde tudo está mais vivo e dinâmico e o audiovisual contribui para que isso tudo seja revelado não apenas para a artista como para o público e, mais importante ainda, para outros artistas. O processo de trabalho é sempre revelador e poder sentar para contemplar e refletir sobre a construção de uma personagem é um privilégio.
SIM Júlia Rodrigues Penélope, Molly, Maria: flores a bloomflorescer. Mitologias vivas: viajando no tempo, cruzando fronteiras, histórias de mil anos atrás vem de Itaca ao Laranjal para de novo e de novo renascer. Assim como renasce um processo, um sonho, uma alegria guardada. Desabrocha no solo de uma artista, ardem iluminados desejos de SIM em plena luz do sol, ao meio dia. Um solo que libere Penélopes gregas, e também eu e você, de uma tarefa infinita: o dia inteiro tecer. Maria, Molly, Penélope: de frente para trás refazer todo o caminho. SIM. A lua é alta, a noite vem. Destecer, desconstruir. Busca noturna, corpo-cidade, atriz-bailarina, labirinto de afetos, lembranças vivas a lhe percorrer. De dia trilho passos em tua geografia sem fim, a noite são as calçadas da cidade que caminham em mim. Tantos percussos no tempo e no espaço e é ainda uma mulher, aparentemente parada, dentro do quarto de um apartamento. Destece memórias de encontros e partidas no vento de um dia longínquo na infância. Lembra e esquece. Desperta e adormece. Lenta e continuamente tece: SINS. SIM para você e para mim. SIM para os processos, os desejos, os caminhos, as histórias, às andanças, aos desencontros e até à morte: SIM. A vida é um casamento constante e a todo instante renovo meus votos: SIM. A renascer, de novo e de novo. SIM. A todos os momentos em que o coração disparou como um louco SIM digamos SIM eu quero SIM.
Sobre o processo de criação e eu uma Maria Falkembach
Tudo começou com Adélia Prado. Talvez tudo tenha começado com o meu medo de não saber dançar. Mesmo envergonhado, esse corpo procurou e encontrou Adélia. Que me deu coragem, e ainda dá. Na procura de compor como Gertrude Stein descobri um nome para o que fazia: transcriação. Uma reinvenção uma recomposição uma rearticulação no corpo de uma que queria ser uma daquela escrita que outra uma buscava para ser uma. Agora o desafio de destecer Joyce e tecer corpos num espaço-tempo cênico. Esse tecido está cheio de teoria teatral corporal o escambal. Mas nesse momento só lembro das noites paralelas à noite de Molly, meu corpo noitevigília vivendo os movimentos desta uma. Neste agora bem aqui só penso no eu que esse processo produziu. No confronto constante com o masculino de Joyce, na busca do meu feminino. Penélope Bloom: Reafirmação de meu corpo. Corpo Delícia. Constatação do meu poder. Mulher-vida-possibilidadefertilidade. Afirmação desse modo complexo feminino de ser. Sim à não-razão. Molly transborda mulher. Possibilidade de reivindicar meu masculino femininamente. Duro e macio ao mesmo tempo. Uma mistura de ameixa e maçã.O recomeçar a tecer é retomar, todos os dias, os pequenos fatos, as pequenas (rel)ações, laços de afecto, infecções, que nos fizeram. E destecer é desconstruir, desfiar-se, desafiar-se para se reinventar. A busca do corpo que se faz e se re-faz, que se desmancha no outro para manchar-se em si mesma. Recomeçar. Reapaixonar-se. Remontar o tesão pelo existir. Sempre sempre sempre.Verdade ou mentira, meu corpo vive e enche o dia-a-dia e toda a minha vida.
O monólogo de Molly Bloom Donaldo Schüler (Escritor e professor. Traduziu para o português Finnegans Wake, de James Joyce.
Retrato da diva enquanto muda Luci Collin (Escritora , poeta e tradutora) Imitação: uma espera que ele volte da guerra, a outra espere que ele volte da rua; uma enreda entretece e destrabalha, a outra envermelha, envereda e entretém. A ficção de Molly é ser Marion é ser Penélope é ser Nora é ser virgem é ser a própria odisseia numa flor encontradiça. Sim, floreios e umidades, assim é que a gibraltarina do canto inversão de sereia enganará a todos menos o marido. A todos, mas jamais a si. Eternamente fiel aos que lhe habitam Sim os minutos. O por dentro o porventura: mãe primeira mãe de filho morto mãe do infinito mistério e nunca – o que é certo: esposa. Molly sangrando vermelhos brota em orgástico fluxo. Da consciência, fique claro. Cama mundo morada Sem pontos Meus pensamentos Sem medos Suas policromias. Eternamente infiel aos que lhe desabitam Sim vãos. No fim, as frases. As sentenças todas. Uma palavra ruidosa uma palavra feminina. Um encantamento Eu uma flor da montanha Tu uma flor nos cabelos como Elas as garotas andaluzas usavam.ada vinga desabrocha. Ei-la em sendo o mistério do corpo na floração os corpos que se desejar: sim fazendo o impossível do nunca voltar.
Encarte do DVD Retrato da Atriz Enquanto Corpo.
REALIZAÇÃO
Maria Falkembach