As Cidades e a
Mem贸ria
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As
Cidades
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Memória
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ítalo calvino
POR CARLA CATERINI
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AS cidAdeS e AS memóriAS 1
partindo dali e
caminhando por três dias em direção ao levante, encontra-se Diomira, cidade com sessenta cúpulas de prata,
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estátuas de bronze de todos os deuses, ruas lajeadas de estanho, um teatro de cristal, um galo de ouro que canta todas as manhãs no alto de uma torre. 44
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o viajante jĂĄ conhece por tĂŞ-las visto em outras cidades.
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as a peculiaridade desta Ê que quem chega numa noite de setembro, quando os dias se tornam mais curtos e as lâmpadas multicoloridas se acendem juntas nas portas das tabernas, e de um terraço ouve-se a voz de
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uma mulher que grita:
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levado a invejar aqueles que imaginam ter vivido uma noite igual a esta e que na ocasião se É
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o hoMeM QUE cavalga longaMente POR terrenos selváticos SENTE o Desejo de uMa CIdAdE.
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POSSUÍA JOVEM; em isidora, chega em idade avançada. na praça, há murinho dos velhos que veem a juventude passar; ele estÁ sentaDo
os desejos agora são recordaÇÕes.
ao laDo Deles.
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inutilMente, MAGNÂMIMO KUBLAI, tentarei descrever A CIdAdE dE ZAÍRA dos altos BastiÕes.
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A cidade não é feita disso, mas das relações entre as
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medidas de seu espaço e os acontecimentos do passado: a distância do solo até um lampião e os pés pendentes de um usurpador enforcado; o fio esticado do lampião à balaustrada em frente e os festões que empavesavam o percurso do cortejo
nupcial da rainha; a altura daquela balaustrada e o salto do adúltero que foge de madrugada;
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a inclinação de um canal que escoa a água das chuvas e o passo majestoso de um gato que se introduz numa janela; a linha de tiro da canhoneira que surge inesperadamente atrás do cabo e a bomba que destrói o canal; os rasgos nas redes de pesca e os três velhos remendando as redes que, sentados no molhe, contam pela milésima vez a história da canhoneira do usurpador, que dizem ser o filho ilegítimo da rainha, abandonado de cueiro ali sobre o molhe.
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se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das recordações e se dilata. Uma descrição de Zaíra como é atualmente deveria conter todo o passado de Zaíra. Mas a cidade não conta o seu passado,
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ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos para-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras.
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se transportarem seis rios e três cadeias de montanhas, surge Zora, cidade que quem viu uma vez nunca mais consegue esquecer. mas não porque deixe, como outras cidades memoráveis, uma imagem extraordinária nas recordações.
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tem a propriedade de permanecer na memória ponto por ponto, na sucessão das ruas e das casas ao longo das ruas e das portas e janelas das casas, apesar de não demonstrar particular beleza ou raridade. o seu segredo é o modo pelo qual olhar percorre as figuras que se sucedem como uma partitura musical da qual não se pode modificar ou deslocar nenhuma nota.
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Zora, à noite, quando não consegue dormir, imagina caminhas por suas ruas e recorda a sequência em que se sucedem o relógio de ramos, a tenda listrada do barbeiro, o esguicho de nove borrifos, a torre de vidro do astrônomo, o qui-
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osque do vendedor de melancias, a estátua do eremita e do leão, o banho turco, o café da esquina, a travessa que leva ao porto.
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ssa cidade que não se elimina da cabeça é como uma armadura ou um retículo em cujos espaços cada um pode colocar as coisas que deseja recordar: nomes de homens ilustres, virtudes, números, classificações vegetais e minerais, datas de batalhas, constelações, partes do discurso. entre cada noção e cada ponto do itinerário pode-se estabelecer uma relação de afinidades ou de contrastes que sirva de evocação à memória. De modo que os homens mais sábios do mundo são os que conhecem Zora de cor. mas foi inútil a minha viagem para visitar a cidade: obrigada a permanecer imóvel para facilitar a memorização, Zora definhou, desfez-se e sumiu. Foi esquecida pelo mundo.
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eM MaurÍlia
, o viajante é convidado a visitar a cidade ao mesmo tempo em que observa uns velhos cartões-postais ilustrados que mostram como esta havia sido: a praça idêntica mas com uma galinha no lugar da estação de ônibus, o correto no lugar do viaduto, duas moças com sombrinhas brancas no lugar da fábrica de explosivos.
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Para não decepcionar os habitantes, é necessário que o viajante louve a cidade dos cartões postais e prefira-a à atual, tomando cuidado, porém, em conter seu pesar em relação às mudanças nos limites de regras bem precisas: reconhecendo que a magnífica e a prosperidade da
Maurília metrópole, se comparada com a velha Maurília provinciana, não restituem uma certa graça perdida, a qual todavia, só agora pode ser apreciada através dos velhos cartões-postais, enquanto antes, em presença da Maurília provinciana, não se via absolutamente nada de gracioso, e ver-se-ia ainda menos hoje em dia, se Maurília tivesse permanecido como antes, e que, de qualquer modo, a metrópole tem este atrativo adicional
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– que mediante o que se tornou pode-se recordar com saudades daquilo que foi. evitem dizer que algumas vezes cidades diferentes sucedem-se no mesmo solo e com o mesmo nome, nascem e morrem sem se conhecer, incomunicáveis entre si. Às vezes, os nomes dos habitantes permanecem iguais, e o sotaque das vozes, e até mesmo os traços dos rostos; mas os deuses que vivem com os nomes e nos solos foram embora sem avisar e em seus lugares acomodaram-se deuses estranhos.
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É inútil querer saber se estes são melhores do que os antigos, dado que não existe nenhuma relação entre eles, da mesma forma que os velhos cartões postais não presentam a Maurília do passado mas uma outra cidade que por acaso também se chamava Maurília.
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Este livro foi originalmente projetado por
Carla
Simões Caterini. | O projeto foi adaptado a partir do livro Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino para a Universidade
Presbiteriana Mackenzie. | Sua im-
pressão e acabamento foram feitos na gráfica
HSA, em São Paulo. | As fontes usadas foram Cambria, HELVETICA NEUE. | O papel é o Couché 220 g/m2 feito pela Cia. Suzano, São Paulo. | A tiragem desta primeira edição foi de 2 exemplares. |
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1.a EDIÇÃO, outubro de 2012
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FIM
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