Livro experimental: As Cidades e a Memória

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As Cidades e a

Mem贸ria

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铆talo calvino

ABRA POR AQUI

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R. Fictícia Paulista, 708. 01234-060 – São Paulo – SP Telefone: (11) 3542-0987

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As

Cidades

e a

Memória

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ítalo calvino

POR CARLA CATERINI

Pa

por tr Diom

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AS cidAdeS e AS memóriAS 1

partindo dali e

caminhando por três dias em direção ao levante, encontra-se Diomira, cidade com sessenta cúpulas de prata,

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estátuas de bronze de todos os deuses, ruas lajeadas de estanho, um teatro de cristal, um galo de ouro que canta todas as manhãs no alto de uma torre. 44

tod

o via por outra

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do -se ata,

deuses, atro de a todas a torre.

todas essas belezas

o viajante jĂĄ conhece por tĂŞ-las visto em outras cidades.

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as a peculiaridade desta Ê que quem chega numa noite de setembro, quando os dias se tornam mais curtos e as lâmpadas multicoloridas se acendem juntas nas portas das tabernas, e de um terraço ouve-se a voz de

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uma mulher que grita:

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levado a invejar aqueles que imaginam ter vivido uma noite igual a esta e que na ocasião se É

.

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sentiram felizes

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o hoMeM QUE cavalga longaMente POR terrenos selváticos SENTE o Desejo de uMa CIdAdE.

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Finalmente, chega isidora, 8

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a cidade sonhada O

POSSUÍA JOVEM; em isidora, chega em idade avançada. na praça, há murinho dos velhos que veem a juventude passar; ele estÁ sentaDo

os desejos agora são recordaÇÕes.

ao laDo Deles.

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inutilMente, MAGNÂMIMO KUBLAI, tentarei descrever A CIdAdE dE ZAÍRA dos altos BastiÕes.

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escada, de circunferência dos arcos zinco ais lâminas de u q e d , s o ic t r dos pó

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dizer nada. 13

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A cidade não é feita disso, mas das relações entre as

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medidas de seu espaço e os acontecimentos do passado: a distância do solo até um lampião e os pés pendentes de um usurpador enforcado; o fio esticado do lampião à balaustrada em frente e os festões que empavesavam o percurso do cortejo

nupcial da rainha; a altura daquela balaustrada e o salto do adúltero que foge de madrugada;

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ainha; o que gada;

a inclinação de um canal que escoa a água das chuvas e o passo majestoso de um gato que se introduz numa janela; a linha de tiro da canhoneira que surge inesperadamente atrás do cabo e a bomba que destrói o canal; os rasgos nas redes de pesca e os três velhos remendando as redes que, sentados no molhe, contam pela milésima vez a história da canhoneira do usurpador, que dizem ser o filho ilegítimo da rainha, abandonado de cueiro ali sobre o molhe.

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as m pela pador, onado molhe.

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cidade

se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das recordações e se dilata. Uma descrição de Zaíra como é atualmente deveria conter todo o passado de Zaíra. Mas a cidade não conta o seu passado,

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uma s e se mente Mas a

a

ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos para-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras.

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scrito s, nos -raios, scado uras.

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ao

se transportarem seis rios e três cadeias de montanhas, surge Zora, cidade que quem viu uma vez nunca mais consegue esquecer. mas não porque deixe, como outras cidades memoráveis, uma imagem extraordinária nas recordações.

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qu zora

tem a propriedade de permanecer na memória ponto por ponto, na sucessão das ruas e das casas ao longo das ruas e das portas e janelas das casas, apesar de não demonstrar particular beleza ou raridade. o seu segredo é o modo pelo qual olhar percorre as figuras que se sucedem como uma partitura musical da qual não se pode modificar ou deslocar nenhuma nota.

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de de ponto ruas e e das apeicular gredo rcorre como al não r nen-

queM saBe de cor como é feita

Zora, à noite, quando não consegue dormir, imagina caminhas por suas ruas e recorda a sequência em que se sucedem o relógio de ramos, a tenda listrada do barbeiro, o esguicho de nove borrifos, a torre de vidro do astrônomo, o qui-

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osque do vendedor de melancias, a estátua do eremita e do leão, o banho turco, o café da esquina, a travessa que leva ao porto.

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feita imaência da lisboro qui-

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ssa cidade que não se elimina da cabeça é como uma armadura ou um retículo em cujos espaços cada um pode colocar as coisas que deseja recordar: nomes de homens ilustres, virtudes, números, classificações vegetais e minerais, datas de batalhas, constelações, partes do discurso. entre cada noção e cada ponto do itinerário pode-se estabelecer uma relação de afinidades ou de contrastes que sirva de evocação à memória. De modo que os homens mais sábios do mundo são os que conhecem Zora de cor. mas foi inútil a minha viagem para visitar a cidade: obrigada a permanecer imóvel para facilitar a memorização, Zora definhou, desfez-se e sumiu. Foi esquecida pelo mundo.

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como paços ordar: , clasalhas, noção r uma sirva mens m Zora sitar a cilitar umiu.

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eM MaurÍlia

, o viajante é convidado a visitar a cidade ao mesmo tempo em que observa uns velhos cartões-postais ilustrados que mostram como esta havia sido: a praça idêntica mas com uma galinha no lugar da estação de ônibus, o correto no lugar do viaduto, duas moças com sombrinhas brancas no lugar da fábrica de explosivos.

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Para tantes, louve a prefira porém relação regras que a m

Maur provin qual t velho da M nada se Ma qualq

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ado a serva stram com o corsomsivos.

Para não decepcionar os habitantes, é necessário que o viajante louve a cidade dos cartões postais e prefira-a à atual, tomando cuidado, porém, em conter seu pesar em relação às mudanças nos limites de regras bem precisas: reconhecendo que a magnífica e a prosperidade da

Maurília metrópole, se comparada com a velha Maurília provinciana, não restituem uma certa graça perdida, a qual todavia, só agora pode ser apreciada através dos velhos cartões-postais, enquanto antes, em presença da Maurília provinciana, não se via absolutamente nada de gracioso, e ver-se-ia ainda menos hoje em dia, se Maurília tivesse permanecido como antes, e que, de qualquer modo, a metrópole tem este atrativo adicional

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– que mediante o que se tornou pode-se recordar com saudades daquilo que foi. evitem dizer que algumas vezes cidades diferentes sucedem-se no mesmo solo e com o mesmo nome, nascem e morrem sem se conhecer, incomunicáveis entre si. Às vezes, os nomes dos habitantes permanecem iguais, e o sotaque das vozes, e até mesmo os traços dos rostos; mas os deuses que vivem com os nomes e nos solos foram embora sem avisar e em seus lugares acomodaram-se deuses estranhos.

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É inútil querer saber se estes são melhores do que os antigos, dado que não existe nenhuma relação entre eles, da mesma forma que os velhos cartões postais não presentam a Maurília do passado mas uma outra cidade que por acaso também se chamava Maurília.

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Este livro foi originalmente projetado por

Carla

Simões Caterini. | O projeto foi adaptado a partir do livro Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino para a Universidade

Presbiteriana Mackenzie. | Sua im-

pressão e acabamento foram feitos na gráfica

HSA, em São Paulo. | As fontes usadas foram Cambria, HELVETICA NEUE. | O papel é o Couché 220 g/m2 feito pela Cia. Suzano, São Paulo. | A tiragem desta primeira edição foi de 2 exemplares. |

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1.a EDIÇÃO, outubro de 2012

.

FIM

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