A funcionalidade do “Profeta Diário”: uma análise entre o Jornal ficcional e os jornais da realidade

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A funcionalidade do “Profeta Diário”: uma análise entre o Jornal ficcional e os jornais da realidade durante o contexto da ditadura militar no Brasil

Catherine Fátima Santos Melo1

Resumo: Este artigo busca apresentar e descobrir semelhanças, bem como função, características e organização entre jornais ficcionais, representados pela figura do Profeta Diário, presente na série de livros Harry Potter, com jornais reais brasileiros diante do contexto da ditadura militar ocorrida no Brasil, e o conflito ocorrido na trama bastante semelhante a uma ditadura. Palavras- Chave: Ditadura, Jornais, Ficção, Realidade, Obra- Literária.

ABSTRACT This article seeks to present and discover similarities as well as function, features and organization of fictional newspapers, represented by the figure of the Daily Prophet, in this series of Harry Potter books, with newspapers before the actual context of the Brazilian military dictatorship took place in Brazil, and the conflict occurred in the plot very similar to a dictatorship. Keywords: Dictatorship, Newspaper, Fiction, Reality, literature

Introdução:

Diversos jornais atualmente circulam no mundo, e, assim como na realidade, dentro do contexto das obras ficcionais nos deparamos com a produção, seja de periódico, jornais ou revistas, folhetos, panfletos e fanzines. A produção dos meios de comunicação impressos nas obras de ficção busca caracterizar a base crível do enredo para a história.E é sob esse contexto que a obra literária Harry Potter busca trazer para o seu universo a produção jornalística ficcional. A grande diferença seja que talvez as outras 1

Catherine Fátima Santos Melo é graduada no curso de Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará - UFC

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produções com jornais inseridas nos seus contextos tratam de relatar e noticiar fatos ocorridos, digamos, num universo mais próximo possível, enquanto na saga do jovem mago temos uma realidade coexistindo paralela a nossa, o universo dos bruxos. Os modos de produção, os métodos de apuração e até as condutas dos jornalistas são muito semelhantes aos da realidade, mas o que mais se destaca, no entanto, são os fatos noticiados todos os dias no Profeta Diário, o grande noticiário dos bruxos. De acidentes mágicos, revoltas de criaturas fantásticas e, principalmente noticiando a terceira guerra bruxa durante o período do personagem Harry Potter na escola de magia e bruxaria de Hogwarts. O Profeta se destaca por tornar uma realidade que inicialmente parece distante, ser tão próxima ao real. Além de nos relatar todas essas notícias, o jornal, bem como o contexto da imprensa desempenha forte papel no desenrolar da trama, como iremos ver mais adiante.

1.1 Aspectos gráficos e gerais do Profeta Diário.

O jornal nos é apresentado ainda no primeiro volume da série, Harry Potter e a pedra filosofal nos pondo a par de acontecimentos importantes através da visão dos personagens da trama. Ele informa sobre o assassinato dos pais de Harry, , a suposta tentativa de roubo ao banco de Gringotts, e traz informações sobre a Pedra Filosofal. O Profeta Diário vem sendo produzido desde, pelo menos, 17432. No livro Quadribol através dos séculos3, quando a inovação no jogo de quadribol incluiu as cestas em 1883, o acontecimento já foi anunciado pelo veículo. Seu editor mais conhecido é Barnabas Cuffe, Ex-aluno de poções do professor Horácio Slughorn quando lecionava em Hogwarts. É possível notar também o grande vínculo que o jornal tem com o governo bruxo, sendo totalmente incorporado pelo ministério da magia e tomando partido nas suas decisões políticas. Uma das fases mais controversas do jornal é quando Lord Voldemort ameaça a retornar e assumir o controle do ministério durante o mandato de Cornélio Fudge, este o usa como um instrumento de 2

Dado retirado de Harry Potter Wiki, Disponível em: http://ptbr.harrypotter.wikia.com/wiki/Profeta_Di%C3%A1rio 3

ROWLING, Jk. Quadribol através dos séculos. Quadribol Através Dos Séculos, Inglaterra, p. 1-56. 1 jul. 2001.

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autopromoção da sua gestão e procura tranquilizar a população encobrindo inúmeros indícios do retorno do poder das trevas.

O projeto gráfico do jornal chama atenção e traz um dos elementos mais clássicos e icônicos dos livros de Harry Potter: as suas imagens em movimento. Os equipamentos fotográficos e tipográficos no jornal dispõem de tecnologias ainda do século XIX, pois os bruxos não usam eletricidade, ou tem acesso à internet ou outras maravilhas do mundo moderno. A sua existência se mantêm oculta do resto do mundo, por assim dizer das pessoas denominadas “trouxas”.4 Então, os próprios bruxos substituíram tecnologia por magia, criando os próprios instrumentos, baseados em objetos comuns aliados com magia. As câmeras fotográficas têm um princípio básico aparentemente comum, mas ao passar pelo processo de revelação, um feitiço de movimento é executado dando movimento às fotografias. Isso sem dúvida torna as notícias mais vividas ainda, já que a visão do leitor não é apenas de uma ação estática, mas ele pode acompanhar a ação sendo praticada. Quanto à tipografia, elementos gráficos, cor, colunagem o jornal não segue os padrões típicos dos jornais reais, mas costuma seguir um padrão especifico de acordo com cada ocasião. O aspecto físico do Profeta diário é conhecido pelos filmes. Então, deduzimos que cada momento da história, o jornal passa por modificações de acordo com a hierarquia das informações e acontecimentos. A própria redação do profeta passa a submeter a profundas modificações de acordo com a ameaça de retorno de Voldemort ao poder. No primeiro momento, percebemos o uso de layouts mais clássicos, fazendo uso de tipografias consagradas durante os séculos XIX e XX. Colunas, abóbadas, linhas de texto possuem inspiração romana. A colunagem tradicional não se aplica no seu design, ela varia de página a página, às vezes modificando para dar espaço à fotografia da matéria. A publicidade também é outro elemento marcante dentro do desenho do jornal, observamos centenas de anúncios de vários tipos disputando espaço com as matérias e colunas de repórteres bruxos, de anúncios de trajes de Quadribol, caldeirões em oferta, a artigos para poções. O cotidiano bruxo é revelado, como qualquer outro.

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Na linguagem da série Harry Potter, “Trouxa” é aquele que não possui poderes mágicos e desconhecem a existência dos bruxos. Alguns conhecem a existência das pessoas que praticam magia, mas não possuem essência mágica, são chamados de “abortos”.

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1.2 Criação e Elaboração Gráfica O Profeta Diário é uma criação da autora J.K Rowling, porém seu design gráfico exibido nos filmes e nos materiais gráficos impressos relacionados a série foi concebido por dois designers. Miraphora Mina e Eduardo Lima trabalharam juntos desde o conceito do jornal até a sua impressão física. A elaboração das notícias, diagramação, publicidade ficou sob responsabilidade da dupla que, junta, elaborou manchetes sobre o cotidiano e concebeu tudo como se o universo do mundo dos bruxos realmente provasse a sua existência, fazendo inclusive várias referências ao Brasil ao longo das páginas do periódico. Em 2010, fundou-se a MinaLima Design, uma empresa responsável pela produção geral de elementos gráficos da série Harry Potter em geral. De acordo com Bob Mccabe, em sua enciclopédia intitulada Harry Potter: das páginas para a tela a escolha do diretor David Yates foi fundamentada em estilos de jornais famosos para a construção do design nesse período. “Quando o Ministério da Magia assume o controle em A ordem da fênix, por exemplo, David Yates pediu que olhássemos o estilo gráfico das publicações soviéticas”, lembra Miraphora Mina. “Consultamos também os jornais da década de 1940. ”

Durante o período obscuro da evidente volta de Lord Voldemort, as grandes manchetes ocupam o destaque no jornal. Tipografias enormes e gritantes chamam atenção para as várias fugas ocorridas em Azkaban, a prisão dos bruxos, os reclames do ministério, principal órgão controlador e acionista do jornal são matéria de destaque quase todos os dias durante suas reformas educacionais em Hogwarts.

2 – Funcionalidade e características

O jornal cumpre papel semelhante aos jornais da realidade. Está sempre a par do que acontece no mundo bruxo e é capaz de grandes coberturas com uma equipe de jornalistas sempre alerta para quaisquer eventualidades. Duas edições do profeta circulam, mas geralmente durante os expedientes normais, apenas uma é mais comum. 4


A edição matinal, “O profeta matutino” e a edição mais extraordinária, “o profeta vespertino”. A sua grade de assuntos também possui divisão bem parecida com a dos periódicos tradicionais. Quadribol, ações do banco de Gringots, especialistas em várias áreas do conhecimento da magia escrevem colunas sobre fatos importantes da área de interesse dos bruxos. Dentre os seus colunistas se destaca a figura da jornalista Rita Skeeter. Com a coluna intitulada “Me,Myself and I” ela comenta principalmente sobre os acontecimentos com as celebridades bruxas e nos lembra os colunistas sociais da chamada “Imprensa marrom”5. Um dos maiores destaques no Profeta diário, com a atuação de Rita foi a cobertura da 77ª copa mundial de Quadribol e o Torneio Tribruxo daquele mesmo ano. Todos os dias, durante os dias do torneio, boletins contendo o roteiro das provas e curiosidades sobre os participantes eram divulgados no jornal. Porém, há o destaque para a parte da coluna de Skeeter que divulgava informações falsas e fantasiosas em busca de audiência para o jornal e visando a venda dos exemplares.

Para circular todos os dias nas residências e estabelecimentos dos bruxos, o Profeta com ajuda de equipamentos mágicos e instrumentos bem menos tecnológicos. A sua redação tem sede no Beco Diagonal, centro nervoso do comércio bruxo. Não se sabe ao certo o número de funcionários do jornal e a sua tiragem. A sua impressão fica por conta de prensas enfeitiçadas do século XIX, localizadas no andar inferior no prédio da redação. A entrega do jornal é feita via correio-coruja, custando cinco sicles6 a ser pago a mesma em uma bolsa de couro que as aves credenciadas trazem presas à perna.

Conhecido pelos seus possíveis séculos de tradição na divulgação de notícias, o profeta passa por mudanças em quase todos os períodos de diferentes administrações. O fenômeno midiático pode ser observado visto que a circulação do jornal é bastante abrangente.

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Imprensa marrom é uma expressão pejorativa utilizada para se referir a veículos de comunicação (principalmente jornais, mas também revistas e emissoras de rádio e TV) considerados sensacionalistas, ou seja, que buscam elevadas audiências e vendagem através da divulgação exagerada de fatos e acontecimentos, sem compromisso com a autenticidade. 6 Sicle é uma das moedas do mundo bruxo. As outras moedas são chamadas de Galeões e Nuques

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2.1 – Layout e inspiração. Muito do visto nas suas manchetes, o layout frequentemente bem clássico estilo românico era predominante no jornal no período da chamada “calmaria” de notícias. A situação política estava estável e tudo estava caminhando em ordem. O modelo românico é um dos mais clássicos em jornal. Podemos vê-lo nos primórdios de diversos jornais e na produção de periódicos do mundo inteiro, praticamente surgido com a tipografia e a prensa manual. De acordo com a história7 tipográfica, caracterizamos: A tendência tipológica é sempre a simplificação, buscando a maior legibilidade. O coerente espacejamento óptico também é muito importante para um visual agradável dos textos. Baseados em estudos feitos por Francis Thibedeau, em meados do século XVIII, na França, foi estabelecido as principais famílias de letras de imprensa. São elas: Romana Antiga, criada pelos franceses no século XVIII, inspirada na escrita monumental romana, proporciona ao leitor um inconsciente descanso visual, alcançando o maior grau de visibilidade de todas as famílias, e Romana moderna, criada pelos italianos no século XVIII, apresenta uma evolução dos romanos clássicos, esteticamente agradáveis, trouxeram sensível melhora a legibilidade das letras.

Observando o jornal na prática (fig.1.1) podemos ver os grandes tipos trabalhados de acordo com a grande manchete, no caso, o suposto roubo de um cofre em Gringotts.

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Site Tipografia/tipologia. Texto: Fabrício Rocha, João Carlos Amador Júnior, Larissa Jansen e Rafael,Acesso em 18/02/12,disponível em http://vsites.unb.br/fac/ncint/pg/galeria/tipografia.htm

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Figura 1. - Profeta Diário em "A pedra filosofal"

Mas após a notícia de que Lord Voldemort retornou, o mundo bruxo se vê diante de uma ameaça nova e real. A política se desestabiliza, começa um período de tensão que requer mudanças, não só no ambiente acadêmico de Hogwarts, mas principalmente no ministério. A reforma do jornal não busca apenas melhorar a sua imagem, significa mudança no seu conteúdo e abordagem. Começa o período de repressão e terror, no qual o jornal é dominado e passa a fazer propaganda contra o maior inimigo do tal governo, Harry Potter e seus aliados. Para tal, o modelo estandartizado se manifesta ricamente nas manchetes. Letras enormes estampam o jornal assim como nos remete aos grandes noticiários sobre a II Guerra Mundial, nos anos 40. Durante uma breve análise sobre a história no jornalismo na guerra, Pedro Cardoso8 descreve os critérios da produção de notícia, a influência dos meios de comunicação na produção noticiosa e sobre a propaganda silenciosa da guerra Em tempo de guerra, a pressão exercida sobre os jornalistas no terreno é constante. A fome de notícias torna-se voraz, obrigando os repórteres a encontrar, com a maior rapidez possível e nos recantos mais inimagináveis, acontecimentos passíveis de suscitarem interesse. Esta necessidade de consumo imediato de fatos (ou pseudo-fatos) é, muitas vezes, causadora de atropelos à ética jornalística. (...) Desde a Primeira Guerra Mundial, altura em que a propaganda emergiu como meio de manipulação das multidões, até às atuais guerras, a forma

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CARDOSO,Pedro. Jornalismo de Guerra,a missão. Universidade do Porto. Acesso em 19/02/12, disponível em http://www.ipv.pt/forumedia/4/13.htm

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como se efetua o controlo da informação e da atividade jornalística foi sendo minuciosamente apurada. A Segunda Guerra Mundial, Vietnã e a Guerra das Malvinas tornaram-se meios propícios à aprendizagem de novas técnicas e ao aperfeiçoamento das já existentes. (...) Com a Guerra do Vietnã, por exemplo, tornou-se claro que, ao permitir os media a aceder a todos os cenários de guerra e a relatar o que quisessem e como quisessem, poderiam gerar-se situações muito "perigosas" para as partes envolvidas no conflito.

Com a necessidade de chamar atenção e a velocidade cada vez mais crescente da circulação de notícias, o profeta passa por mudanças drásticas na sua linha editorial e inclusive na sua equipe e patrocinadores. Com o modelo Standart, O profeta passa a ter papel decisivo no rumo da guerra bruxa. Inicialmente, toma partido ao lado dos bruxos que lutam contra Voldemort, mas, com a fraca administração do ministério, acaba sucumbindo e se torna instrumento propagandístico das forças das trevas, o que iremos ver mais adiante.

Figura 2 - Nova fase do profeta, no dia da primeira aparição pública de Voldemort, após seu retorno em "A ordem da Fênix"

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3 – Início do período de ditadura e controle da imprensa.

O momento mais tenso na história do Profeta diário certamente foi quando a notícia de que Lord Voldemort havia retornado. Não se esperava tal retorno e, também, não havia força suficiente preparada no mundo bruxo para encarar tal situação. O então ministro da magia, Cornélio Fudge se vê pressionado a tomar providências para proteger a população e colocar ordem no caos crescente da política que se instalava nos setores do ministério. Com o medo e a pressão constantes, ele toma uma decisão que irá abalar todo o seu governo e as ações dos dois lados da guerra contra as forças das trevas. Ele controla todos os meios de comunicação e começa a mudar o foco das notícias no jornal. Começa o período de ditadura. O jornal passa a dar enfoque a outro tipo de notícia, esconder e até distorcer a verdade. Aos ataques que aconteciam, outros acabavam levando a autoria dos atentados. O Exdetento de Azkaban, suposto assassino de trouxas, Sirius Black, acaba sendo responsabilizado por uma série de acontecimentos que marcariam a volta de Voldemort. Uma das primeiras iniciativas em sua volta à ativa, Voldemort coloca aliados trabalhando junto ao ministério, depois de finalmente tomar posse do controle das mídias mágicas. O que chama atenção nos fatos que ocorrem na história de Harry Potter é a verossimilhança com o real. J.K Rowling pôs em sua história elementos presente nas ditaduras da história e os explorou na perspectiva da narrativa ficcional.

3.1 – Paralelo com o real: Ditadura real e Ditadura ficcional.

Para esclarecer melhor a comparação entre o real e o ficcional, vamos entender primeiro o que aconteceu com a imprensa brasileira9 durante o período de ditadura, de 1964 a 1985.

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REBOUÇAS,Fernando. Jornalismo na Ditadura Militar, Portal Infoescola, Acesso em: 14/10/12. Disponível em: http://www.infoescola.com/historia-do-brasil/jornalismo-na-ditadura-militar/

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Durante o regime militar no Brasil, instaurado a partir do golpe de 64, muitos jornalistas desenvolviam o seu trabalho no intuito de resistência ao regime e rompimento com a ditadura. Durante o regime militar surgiram diversos jornais alternativos de oposição ao governo. A grande imprensa sofria censura da ditadura, ou se afinava com o governo, enquanto que os pequenos jornais alternativos denunciavam os abusos de tortura e violação dos direitos humanos no Brasil. A imprensa alternativa era redigida por jornalistas de movimento popular ou de orientação política de esquerda, em boa parte, despedidos dos grandes veículos. Os jornais alternativos foram instrumentos de resistência e espaço público durante o período de abertura. Porém os grandes veículos impressos tinham jornalistas combativos, em dezembro de 1969, a revista Veja tinha em sua equipe Raimundo Pereira, Élio Gaspari, Dirceu Brizola, Bernardo Kucinski, cuja redação fora desmontada após a publicação de duas reportagens referentes à tortura de presos políticos.

Assim como o contexto social e político brasileiro, o mundo de Harry potter teve sua força de resistência à pressão feita pelo governo e pelos seus meios de comunicação de propaganda militar. Os jornais de vanguarda, alternativos comandados por forças de resistência cumprem seu papel de tentar alertar o que realmente estava acontecendo foram fundamentais para unir e organizar forças contrárias ao poderio dominante. No Brasil, podemos destacar os jornais Movimento (1975), Ex (1973), Unidade e Luta (1972) e, talvez o mais notável, O Pasquim (1969) foram a voz daqueles que queriam a libertação da força bruta do governo. Aumentando ainda mais as semelhanças do que aconteceu no Brasil, em Harry Potter, o nome do semanário que se opõem as ideias difundidas pelo Profeta Diário é concidentemente, O Pasquim. Comandado por Xenofílio Lovegood, seu editor-chefe e dono do folheto, O Pasquim trazia um apanhado de notícias fantasiosas, de teor duvidoso, e, consequentemente, ignoradas e ridicularizadas pela maioria dos bruxos. A situação do periódico mudou quando Harry anuncia que viu Voldemort voltar em sua forma corpórea e que assassinou o aluno de Hogwarts, Cedrico Diggory, durante uma tarefa do Torneio Tribruxo. Desacreditado pela maioria da população, que era incitada a desacreditá-lo por meio das matérias do Profeta Diário, e ainda oprimido pelas forças do Ministério da Magia em Hogwarts, Harry recebe o apoio de Xenofílio e concede entrevista em uma das mais vendáveis edições do Pasquim, revelando todos os acontecimentos ainda obscuros da noite em que Voldemort retornou.

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De publicação considerada tola e irreverente, O Pasquim passa ser o principal veículo impresso de resistência ao governo e passa a publicar matérias apoiando as forças resistentes a Voldemort. Vale também citar outros meios midiáticos, como a Rádio Patrono, que se uniram para divulgar mensagens de resistência e apoio a população assustada com os ataques das forças das trevas. Naturalmente, O Pasquim começa a sofrer atentados em represália as suas publicações. A situação se complica ainda mais quando a filha de Xenofílio, Luna Lovegood, é sequestrada pelos comensais da morte, força armada de Voldemort, e, para resgatá-la, a captura de Harry Potter é exigida pelos sequestradores. A sede do Pasquim é destruída em um ataque quando Harry consegue escapar de um atentado após ir visitar Xenofílio para obter detalhes sobre a lenda das relíquias da morte. Com o Pasquim brasileiro, a história é um pouco semelhante. Lançado em 1969, logo o periódico assumiu uma das principais vozes contra a ditadura. 10

O editor de O Pasquim era o cartunista Jaguar. Além das entrevistas leves e

textos descontraidos, O pasquim publicava charges e quadrinho de cartunistas como Ziraldo, Henfil e Millôr Fernandes. No início, a própria equipe de O Pasquim acreditava que o jornal seria um fracasso e não duraria muito tempo. O Pasquim foi um dos principais focos de resistência à ditadura militar e quase foi fechado pelas autoridades. Segundo o cartunista Fortuna, O Pasquim só não foi fechado por adotar a molecagem como estratégia de combate ao governo. Apesar das constantes perseguições da censura e da prisão de seus colaboradores, O Pasquim foi extremamente popular durante a década de 1970. Com o declínio da ditadura militar, o jornal que tanto lutou por isso perdeu seu estímulo mais forte: denunciar a ditadura militar. Os membros do jornal também sofreram censura e repressão dos militares brasileiros. Vetando quase todo o seu conteúdo pelo setor de censura, tendo como base o decreto AI-5, os militares prenderam todos os membros do jornal e omitiam sua captura, os obrigando a publicar desculpas no próprio jornal justificando a sua ausência.

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Jornal O Pasquim durante a ditadura militar brasileira, extraído do blog Imprensa e Luta armada. acesso em: 14/10/12. Disponível em: http://imprensaelutaarmada.blogspot.com.br/2010/07/jornal-opasquim-durante-ditadura.html

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Outra semelhança bastante evidente é a existência de um movimento estudantil de ambos os lados. No Brasil,

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O movimento estudantil celebrizou-se como protesto dos

jovens contra a política tradicional, mas principalmente como demanda por novas liberdades. O radicalismo jovem pode ser bem expresso no lema "é proibido proibir". Esse movimento, no Brasil, associou-se a um combate mais organizado contra o regime: intensificaram-se os protestos mais radicais, especialmente o dos universitários, contra a ditadura. Por outro lado, a "linha dura" providenciava instrumentos mais sofisticados e planejava ações mais rigorosas contra a oposição.

Em Hogwarts, o movimento estudantil fundado por Harry, Rony e Hermione se chama Armada de Dumbledore e busca treinar os jovens estudantes da escola em combate para enfrentar os perigos oferecidos pela ameaça dos comensais de Voldemort. O que era apenas uma força pontual mostrou-se decisivo para a batalha contra as forças das trevas, ao juntar as forças de jovens bruxos com os membros da “Velha guarda” da Ordem da Fênix para defender o castelo de Hogwarts.

4 - O papel dos meios midiáticos nos rumos dos acontecimentos.

É notável a função dos jornais, tanto da realidade, quanto da ficção ao virem a influenciar o rumo dos acontecimentos. Em Harry Potter, podemos ver que o jornal dos bruxos reflete a atual política representada pela figura controversa e acuada do seu Ministro da Magia, Cornélio Fudge. A população, já amedrontada com a ameaça de forças das trevas é tranquilizada sendo ludibriada inicialmente pelo jornal, no primeiro Momento, sendo levada a acreditar que não havia tal ameaça. Depois da grande revelação feita por Harry no Pasquim, e a série de acontecimentos do qual a morte de

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O AI-5. Site Fundação Getúlio Vargas (CPDOCS), Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5

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Dumbledore foi o principal estopim para o alerta de que Voldemort retornaria, O Profeta Diário não pode mais negar o que tanto queria esconder.

De suas notícias rotineiras, o periódico passa a difundir mensagens de alerta a população e exibir intensa propaganda anti-guerra de precaução da comunidade bruxa. Algo comparável aos folhetos da Segunda Guerra mundial, de avisos de bombardeio e alerta para a população se proteger.

Figura 3 – Propaganda da segunda

Figura 4 – Folheto do Ministério

Guerra pedindo adesão da população

sobre a pureza sanguínea

A semelhança entre as duas linhas de pensamento revela a influência e a organização política e social pela produção gráfica presente na realidade e na ficção. De acordo com as informações que recebiam, ambos os lados do embate dualístico entre luz e trevas tomaram suas decisões na batalha final.

Durante a ditadura militar brasileira, apesar do controle censor dos jornais, com a abertura política e a derrota dos militares do poder, com o período de anistia, os fatos obscuros das prisões vieram à tona, e a “venda” nos olhos da população aos poucos caiu para revelar a real situação do Brasil.

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Considerações Finais

É admirável notar tantos pontos verossímeis com a realidade dentro de uma obra tão vasta quanto Harry Potter. Percebemos que a ficção neste caso quebra paradigmas ao revelar-se tão real nas situações dramáticas do período de ditadura, quanto de guerra. A temática da política é bem explorada, e podemos perceber o que acontece através dos meios de comunicação, principalmente O Profeta Diário, que funciona como janela para transcorrer sobre os acontecimentos e rumos da batalha contra o mal.

Possuindo todos os elementos criativos, produtivos e técnicos de apuração e critérios editoriais e políticos de apuração, o Profeta Diário chega a confundir-se praticamente com os jornais da realidade, faltando apenas, existir.

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Anexos:

Algumas capas do Profeta Diário

Capa da edição do Pasquim com uma

O Pasquim Brasileiro ironiza a falta dos

Entrevista exclusiva com Harry Potter

seus principais realizadores

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Referências Bibliográficas: ROWLING, J.k. Harry Potter: e a Pedra Filosofal. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. 264 p. ROWLING, J.k. Harry Potter: e o prisioneiro de Azkaban. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. 348 p. ROWLING, J.k. Harry Potter: e a Ordem da Fênix. Rio de Janeiro: Rocco, 2003. 702 p. ROWLING, J.k. Harry Potter: e as Relíquias da Morte. Rio de Janeiro: Rocco, 2007. 590 p. MCCABE, Bob. Harry Potter: das páginas para a tela. Rio de Janeiro: Panini Comics, 2011. 532 p. KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e Revolucionários. São Paulo: Edusp, 1991.

Links: http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/censura-ditadura-militar.jhtm http://noticias.uol.com.br/album/111025jornais_album.htm#fotoNav=12 http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Pasquim http://www.infoescola.com/historia-do-brasil/jornalismo-na-ditadura-militar/ http://harrypotter.wikia.com/wiki/MinaLima_Design http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5 http://pt-br.harrypotter.wikia.com/wiki/Profeta_Di%C3%A1rio

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