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para a Área a ser Recomposta

Ecossistemas de referência são os ecossistemas naturais que servirão de modelo para o planejamento da restauração ecológica (Gann et al. 2019). Podem ser obtidos a partir da descrição de ecossistemas previamente existentes no local, pela avaliação dos remanescentes de vegetação natural próximos ou, na ausência de informações, presumidos a partir das condições de solo e clima da região (Aronson 2011). Os ecossistemas de referência a serem adotados para a recomposição devem ser definidos desde a etapa de elaboração do projeto e permeiam as fases de execução, acompanhamento e monitoramento. O que se busca não é a cópia de uma vegetação previamente existente, mas sim a restauração da estrutura e dos processos ecológicos que regem a construção e o funcionamento desse ecossistema de referência. Como identificar ecossistemas de referência mais apropriados para a área a ser recomposta? Mapas de vegetação são a base para a correta definição dos ecossistemas locais ou de referência para a recuperação de áreas naturais degradadas. O atual sistema oficial da classificação da vegetação brasileira foi lançado em 2012, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e empregado no Mapeamento da Cobertura Vegetal Nativa do Estado de São Paulo (Instituto Florestal 2020(1) principal fonte de informação sobre a distribuição da vegetação original e atual em território paulista(2), disponível para consulta na Infraestrutura de Dados Ambientais do Estado de São Paulo (DataGEO(3) e Figura 1).

Figura 1 – Vegetação original do Estado de São Paulo, conforme legenda IBGE (2012)

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__________ 1 Mapeamento da cobertura vegetal nativa do Estado de São Paulo, produzido pelo Instituto Florestal, utilizando legenda fitofisionomica IBGE 2012, área mínima mapeada de 0,1 hectare, Índice Kappa 0,81. Realizado a partir de imagens orbitais dos satélites WorldView, GeoEye e QuickBird, resolução espacial 0,5m (RGB, Pancromáticas, Infravermelho), do período de 2017 a 2019. 2 https://datageo.ambiente.sp.gov.br/app/?title=Inventário+Florestal+2020&uuid={234919BC-FA73-41AE-B189-577C8916DD03}& layer=InventarioFlorestal2020&resource=wms%3Ahttp%3A%2F%2Fdatageo.ambiente.sp.gov.br%2Fgeoserver%2Fdata geowms%2 Fows%3FSERVICE%3DWMS%26&bbox=-19.786148179,-53.102932226,-44.163397669,-25.30227777&layer=InventarioFlorestal2020&servidorMetadados=https://datageo.ambiente.sp.gov.br/geoportal/csw 2 https://datageo.ambiente.sp.gov.br/

Portanto, o primeiro passo é localizar a área a ser recomposta em mapas fitogeográficos, a fim de buscar informações sobre a vegetação original e remanescente na paisagem a ser restaurada. A escala de trabalho deve ser adaptada ao número e à área de abrangência dos tipos de cobertura vegetal reconhecidos em campo e passíveis de mapeamento. Em poucos casos, a vegetação de uma região se mostra uniforme ou única: mesmo sob um mesmo clima, quase sempre o que observamos é um conjunto de diversos tipos de vegetação em mosaico, de acordo com as propriedades do solo ou como resposta às ações humanas. Assim, a descrição da vegetação original de cada área alvo do projeto é importante, a fim de permitir a correlação entre ecossistemas de referência e o local a ser restaurado. A partir dos mapeamentos preliminares da vegetação pretérita e atual, pode-se recorrer às imagens de satélite, ortofotos ou ortoimagens (também disponíveis no DataGEO) para o reconhecimento desses tipos vegetacionais e, caso uma série histórica esteja disponível, para avaliação do histórico de ampliação ou redução da cobertura vegetal natural na paisagem. Mapas de solos, relevo e hidrologia também são fontes de informação úteis para o entendimento da distribuição da vegetação pretérita e atual, assim como informações oriundas de mapas de uso da terra podem contribuir para a identificação de possíveis vetores de pressão históricos e/ou atuais (todos disponíveis no DataGEO).

Depois dessa primeira etapa de estudo de dados secundários, é necessário ir a campo para a checagem das informações, o que denominamos de dados primários. Essa etapa é imprescindível porque, a depender da escala de trabalho, a distribuição dos tipos vegetais pode ser incompatível com os mapas disponíveis, o que requer a confirmação da vegetação natural remanescente previamente mapeada em cada unidade de paisagem. Essa situação é frequente em zonas de transição entre fisionomias (ecótonos ou encraves), onde condições de relevo e/ou solos definem mosaicos complexos de vegetação.

Recomenda-se a definição prévia de pontos de amostragem para a checagem dos tipos de vegetação e da composição de espécies de plantas, informações essenciais para projetos que requerem o uso da flora nativa regional. Os pontos amostrais devem ser distribuídos em todos ou no maior número de remanescentes naturais da paisagem, pois o número de espécies comuns a tipos vegetais distintos é pequeno e muitas espécies apresentam baixa densidade populacional. Descritores como localização topográfica, tipo de solo, tamanho ou estado de conservação dos remanescentes devem ser considerados no universo amostral, pois a flora pode variar de acordo com esses fatores. Após o mapeamento dos tipos vegetais existentes na paisagem e do reconhecimento em campo das espécies de plantas características dessas fisionomias (vide Anexo 2 para esse tema), deve-se voltar novamente o olhar para a área alvo do projeto de repomposição. Isto porque a vegetação natural da área alvo do projeto pode ter sido em parte ou completamente destruída, e qualquer informação obtida antes da destruição (relatos locais ou proveniente de dados secundários) passa a assumir importância para a elaboração do projeto (vide Capítulo 3). Caso ainda existam plantas nativas em regeneração no local, a identificação dessas espécies é um importante indicador do tipo de vegetação mais propício a ser recomposto. Na ausência dessa informação, o proprietário ou possuidor do imóvel rural terá que se valer das informações obtidas no estudo da paisagem regional aqui descrito, a fim de validar quais os ecossistemas de referência serão utilizados no projeto.

REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARONSON, J.; DURIGAN, G.; BRANCALION, P.H.S. Conceitos e definições correlatos à ciência e à prática da restauração ecológica. Instituto Florestal. Série Registros (São Paulo) 44: 1-38. 2011. IBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Coordenação de Recursos Naturais e Estudos Ambientais. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. 2ed. IBGE, Rio de Janeiro, 2012. 91p. INSTITUTO FLORESTAL. Inventário Florestal do Estado de São Paulo – Mapeamento da cobertura vegetal nativa. Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, São Paulo. 2020. Disponível em: https:// smastr16.blob.core.windows.net/home/2020/07/inventarioflorestal2020.pdf. Acesso em: 8 dez.2020.

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