Voltando os Olhos Para o Ribeirão São Bartolomeu

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VOLTANDO OS OLHOS PARA O RIBEIRÃO SÃO BARTOLOMEU estratégias de proteção ambiental e melhoria da paisagem urbana de viçosa - mg

cauan bittencourt lana orientadora: teresa cristina faria junho, 2016



Universidade Federal De Viçosa Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas Departamento de Arquitetura e Urbanismo Arq 398 - Trabalho de Curso: Fundamentação

Voltando os olhos para o ribeirão São Bartolomeu: estratégias de proteção ambiental e melhoria da paisagem urbana de Viçosa - MG

Autor: Cauan Bittencourt Lana Orientadora: Teresa Cristina de Almeida Faria Monografia apresentada ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa como requisito parcial para obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista.

Viçosa - Minas Gerais Junho, 2016



“Borboletas me convidaram a elas. O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu. Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens e das coisas. Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta Seria, com certeza, um mundo livre aos poemas. Daquele ponto de vista: Vi que as árvores são mais competentes em auroras do que os homens. Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças do que pelos homens. Vi que as águas tem mais qualidade para a paz do que os homens.”

Manoel de Barros


Agradecimentos Escutei de novo aquela música do Gonzaguinha, o que me fez pensar um pouco mais sobre como a gente é tanta gente, onde quer que a gente vá. Acredito que cada conversa descompromissada, cerveja num buteco, trabalho em grupo, viagem, vivência, leitura, contribuíram pra formar quem eu sou e o modo como vejo o mundo. Do mesmo modo, acho que esse trabalho não é só meu, mas de várias pessoas que me influenciaram e me deram força pra produzir. E sou muito grato a todas elas! Não seria certo começar por outros que não meus pais. Acho que sou uma pessoa muito sortuda por ter a mãe e o pai que tenho. Sempre tendo estimuladas algumas pequenas habilidades e interesses que eles identificavam, como o desenho e a fotografia, cresci com muito espaço pra fazer o que realmente gostava, sem que me fosse imposto isso ou aquilo. “Vai ser artista, menino. Mas pode não ser também.” E acho que isso foi permitindo que eu tratasse o que fazia de uma forma bem natural, curtindo e evoluindo naquilo. Fui observando e tentando espelhar a calma do meu pai, o cuidado dele com as plantas e o ambiente; o amor da minha mãe pelas pessoas e pela alimentação. A abertura dos dois pra conversar de temas diversos. E conversamos, trocamos ideias, eles deram os pitacos deles e esse trabalho foi crescendo. Do mesmo modo, tenho que agradecer à Teresa, que vem me acompanhando desde o início do curso, quando só fazia meu plano de estudo, e que depois foi me apresentando ao urbanismo e à escala urbana, que me preencheram e deram mais prazer que a arquitetura e os edifícios. Agradeço à TT também por ter adotado minha ideia pra esse trabalho, dado espaço pra ela crescer, me ouvido, criticado e aconselhado. Agradeço à todxs amigxs, que me acompanharam nos muitos trabalhos desse curso, nas cervejas, nas comidas feitas a várias mãos, nas trocas de ideias nas horas vagas, no crescimento mútuo. À Amana, Laís e Marina pelo carinho, energia boa que sempre passaram e por terem me confirmado que é sempre possível fazer de uma forma diferente à tradiconal. Aos “urbanista”, Carol, Lourenço e Gusta, pela brotheragem, críticas, conversas, descontruções. À galera do coletivo formigas, oficina integrada, emau-ufv, ou seja qual for o nome - Victor, Sarah, Marina, MM, Ana Cibelle, Lorena, Luana, Bernardo, Bruna, Ana Clara - pela vontade de mudar a realidade, trocar, aprender, respeitar o próximo. Ao Donizete, pelos cafés, conversas e muitos saberes compartilhados. À Luísa, tão doce e sábia, com seu amor tão grande pelas pessoas, por ter sempre me aconselhado, refletido comigo e dado muitos cafunés físicos e à distância.


Agradeço aos professores amigos que tive e me mostraram e incentivaram a construir novos mundos. Especialmente Roberto, Aline, Tiago e Maxwel. Por fim, sou grato também ao CNPq e ao governo brasileiro por terem me dado a oportunidade de fazer um intecâmbio e conhecer outras culturas e conhecimentos. Agradeço muitíssimo aos professores Nicoline e Matthias por terem “explodido minha cabeça” e me mostrado que há um mundo grande fora da caixinha arquitetônica, mesmo que tenha sofrido um pouco nesse processo. E claro, aos amigos Gustavo, Jelle, Marusa, Tomislav, Marta e Rajan, pelo suporte, influência, loucura e competência. Obrigado!


Apresentação Este trabalho foi desenvolvido no semestre letivo 2016/I como requisito da disciplina ARQ 398 – Trabalho de Curso: Fundamentação, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa, sob orientação da professora Teresa Cristina de Almeida Faria. A pesquisa teve como objetivo discutir novas possibilidades de melhoria para a relação entre rios e cidades, a paisagem urbana e o convívio no espaço público, criando subsídios para a proposta de um parque urbano a ser desenvolvido na disciplina ARQ 399 – Trabalho de Curso: Proposição.

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Sumário 03

Considerações iniciais

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Justificativa e relevância da proposta

06 Objetivos

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Estudos de caso Respirar de novo Recuperar e inserir novos usos Tratar a água Pouco espaço, várias possibilidades

06 Metodologia

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Intenções

07

Rios e cidades

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Identificação e análise da área

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O ribeirão São Bartolomeu

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Caracterização das quadras

e a imagem da cidade 61 Proposta

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O tratamento de esgoto

no Brasil e em Viçosa

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Diretrizes de implantação

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Cidades: de pessoas, para pessoas

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LInhas de ação

62

Programa de necessidades

18 19 20 23

Outros modos de fazer Resolvendo a nível local Lidando de forma descentralizada com o esgoto Melhorar sem destruir

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Remoções

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Setorização da proposta

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Bibliografia

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Considerações iniciais NORTE DE MINAS

NOROESTE DE MINAS

Viçosa, cidade da zona da mata mineira, assim como várias cidades brasileiras, vem apresentando um intenso processo de crescimento urbano desde a segunda metade do século passado. Impulsionado pela expansão da Universidade Federal de Viçosa na década de 1970, esse crescimento populacional

JEQUITINHONHA

VALE DO MUCURI

CENTRAL MINEIRA VALE DO RIO DOCE TRIÂNGULO MINEIRO/ALTO PARANAÍBA

METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE

OESTE DE MINAS

Viçosa

Le g e nda

Viçosa

ZONA DA MATA CAMPO DAS VERTENTES

SUL/SUDOESTE DE MINAS

Microrregião de Viçosa Mesoregiões

Figura 1: Localização de Viçosa em Minas Gerais. Acervo pessoal, 2016.

“desencadeou uma série de problemas urbanos na cidade, típicos das metrópoles brasileiras: áreas faveladas; ausência de infraestruturas; acentuado processo de verticalização das suas edificações em determinadas áreas da cidade, ocasionando densificação excessiva; e construções e parcelamentos de terras clandestinos e ilegais, ou seja, sem controle do poder público municipal” (BROWNE, 1997, p.13).

Figura 2: Vista aérea de Viçosa. Autor desconhecido, Figura 3: Vista parcial de Viçosa. Fonte: Viçosa News, década de 1950. 2013.

Mesmo nos bairros centrais, onde um maior número de edificações foram erguidas de acordo com a legislação urbanística, podem ser percebidos os descompassos dessa urbanização desenfreada. Há muito tempo apoiado pelo poder público, o mercado imobiliário articulou-se para modificar as leis municipais de uso e ocupação do solo, de forma a atender seus interesses. Nesse cenário de crescimento desenfreado das cidades, um dos principais elementos afetados são os rios urbanos. Com a ocupação irregular de suas margens, o lançamento de lixo e efluentes nos seus leitos, e as modificações agressivas no seu curso, estes rios entraram em grande desequilíbrio ambiental. Como aponta Costa (2006, p.10), “os conflitos entre processos fluviais e processos de urbanização tem sido de um modo geral enfrentados através de drásticas alterações na estrutura ambiental dos rios, onde, em situações extremas, chega-se ao desaparecimento completo dos cursos d’água da paisagem urbana”. 3


Antes vistos como elementos essenciais para estabelecimento de assentamentos humanos, os rios passam então a ser associados a potenciais geradores de enchentes, obstáculos para a circulação na cidade ou simplesmente estruturas de saneamento e drenagem. Em Viçosa, o principal curso d’água que corta a área urbana, o ribeirão São Bartolomeu, não escapou a essa mudança de concepção. Tendo suas margens ocupadas irregularmente, alguns dos seus trechos canalizados e uma grande quantidade de esgoto lançada nas suas águas, o ribeirão se configurou aos poucos em uma paisagem residual e degradada, à qual a cidade virou as costas. Juntamente com o grande adensamento

Figura 4: Ribeirão São Bartolomeu. Acervo pessoal, 2016.

empreendido em uma área de dimensões reduzidas, a situação de descaso com o São Bartolomeu produz uma série de impressões negativas quanto a paisagem e a vivência da cidade, seja de quem vem de fora quanto de quem habita e circula por Viçosa diariamente. Sem espaços livres de qualidade, a população local se vê obrigada a utilizar o campus da UFV como espaço de lazer e convívio. Ao mesmo tempo, o ribeirão, com potencialidades para um extenso ambiente aberto e caminhável, é quase todo cercado por edificações ao longo do seu curso. Frente à essa situação, surgem os seguintes questionamentos: - O ribeirão São Bartolomeu pode realmente ser considerado como uma área de respiro em meio à malha urbana adensada de Viçosa? - O que pode ser feito para protegê-lo e trazer maior qualidade à paisagem da cidade? - Como intervir no seu leito e em suas margens com sensibilidade e atenção às suas necessidades ambientais? - Como trabalhar o ribeirão e torna-lo acessível para a população considerando o pouco espaço disponível delimitado pelas construções já existentes?

Justificativa e relevância da proposta É graças aos rios que muitas cidades surgiram. Sejam grandes, médios ou até pequenos cursos d’água, eles deram suporte para que populações humanas se estabelecessem no território. Como argumenta Costa (2006, p.10) os rios “tinham muito a oferecer, além de água: controle do território, alimentos, possibilidade de circulação de pessoas e bens, energia hidráulica, lazer, entre tantos outros.” Ao longo do tempo, a urbanização descontrolada ocultou os rios urbanos, fazendo com

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que grande parte desses serviços ambientais1 fossem enfraquecidos ou até desaparecidos. Em Viçosa, a ocupação das margens do São Bartolomeu começou com o início da formação da cidade no século XIX, com o parcelamento de áreas sem uma legislação que delimitasse uma faixa de proteção próxima ao ribeirão. “Mais tarde, mesmo quando passaram a existir leis que buscassem a preservação dos recursos naturais, foram permitidas construções nas encostas, à revelia da legislação, assim como nas margens dos cursos d’água.” (MELLO, 2002, p. 72) A partir da década de 1970, o descumprimento da lei associado ao rápido crescimento da cidade levou a níveis extremos a intensidade dos impactos ambientais. Como expõe Mello (2002, p. 73): “Tendo em vista que os terrenos adjacentes aos rios já haviam sido loteados anteriormente, o adensamento da área central da cidade e dos fundos dos vales levou a uma grande ocupação do entorno daquela área, comandada pela especulação imobiliária que negligenciava a não-ocupação, nas distâncias previstas por lei, do curso d’água.”

Com essa ocupação e o lançamento de grande quantidade de esgoto doméstico que veio com ela, os serviços antes proporcionados pelo ribeirão foram substituídos por menos

Figura 5: Ocupação urbana de Viçosa. Em azul, área ocupada no século XIX. Em laranja, área ocupada entre 1900 e 1960. Em roxo, área ocupada a partir de 1960. Fonte: Mello, 2002.

espaço livre no ambiente urbano, pouca oxigenação da água, levando à morte da fauna e flora aquática, proliferação de microrganismos patogênicos, odores desagradáveis e degradação em geral da paisagem por onde passa o São Bartolomeu. Além disso, com a densificação sem planejamento e promovida pelos interesses imobiliários, Viçosa se viu carente de espaços de convivência ou espaços livres em geral. Mesmo com seu pequeno porte, a cidade apresenta uma grande ocupação nas suas áreas centrais. Perceptível não só pela projeção das edificações no solo, mas também na sua terceira dimensão, extremamente marcante no horizonte, onde o céu muitas vezes deixa de ser percebido. Dessa forma, voltar os olhos para o São Bartolomeu se faz extremamente necessário. Apesar de ter tantas potencialidades como espaço livre e natural, essa área hoje se encontra esquecida na cidade e um estudo acerca de sua preservação e manutenção tem grande pertinência.

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1 - Serviços ambientais: os benefícios que as pessoas obtêm da natureza direta ou indiretamente, através dos ecossistemas, a fim de sustentar a vida no planeta. São exemplos a purificação da água e do ar, a manutenção do clima, o fornecimento de alimentos, água, substâncias medicinais e recursos energético.s Fonte: oeco.org - dicionário ambiental, 2014.


Objetivos Geral

Este trabalho tem como objetivo construir uma base conceitual para a elaboração de uma proposta de intervenção em um trecho urbano do Ribeirão São Bartolomeu em Viçosa-MG, de forma a proteger esse córrego da ocupação e resolver parte da carência da cidade por espaços públicos.

Específicos 1. Estudar o processo de crescimento urbano de Viçosa, relacionando-o com a ocupação das margens do Ribeirão São Bartolomeu. Caracterizar o impacto desse processo para a paisagem da cidade e para a vivência no espaço público. 2. Estudar a relação entre rios e cidades em geral; 3. Pesquisar métodos e estratégias descentralizadas de tratamento de esgoto; 4. Buscar formas para que a intervenção em questão tenha um caráter aberto e respeite a escala humana. 5. Analisar estudos de caso sobre cidades que interviram em seus rios urbanos de forma a trazer benefícios para seus cidadãos ou que propuseram boas soluções para o espaço público em áreas adensadas; 6. Identificar e analisar as áreas mais adequadas para intervenção;

Metodologia O trabalho de fundamentação teve início em leituras acerca do surgimento e crescimento da cidade de Viçosa, de forma a entender o cenário atual de adensamento do espaço construído. Foram realizadas também revisões bibliográficas acerca dos rios e da relação com as cidades em que estão inseridos. Foi realizada pesquisa documental acerca do tratamento de esgoto no Brasil e em Viçosa, e pesquisa bibliográfica acerca de métodos descentralizados e considerados alternativos de tratamento de esgoto. Além dessas, foi feita revisão bibliográfica sobre urbanismo voltado para o pedestre e a necessidade de se produzir cidades para pessoas. Foram pesquisados e analisados projetos de temática similar à da proposta, de forma a elaborar estudos de caso que exemplificassem métodos ou ações replicáveis no contexto aqui discutido. A partir de uma análise da cidade quanto à ocupação das margens do Ribeirão São Bartolomeu, selecionou-se um recorte menor para uma caracterização aprofundada, um levantamento de potencialidades e posteriormente para o projeto. Para a caracterização, foram realizadas pesquisas em campo e levantamento cartográfico. 6


Rios e cidades

Figura 6: Imagens captadas por satélites de Londres, Recife, Paris e Shanghai. Fonte: Google Earth Pro, 2016.

A estreita relação entre civilizações e rios é extremamente antiga. As margens dos rios compunham espaços atraentes para que muitos povoados se estabelecessem, por motivos funcionais, culturais ou estratégicos. Como demarcadores do território, fontes de água e alimento, corredores de circulação de pessoas e produtos, geradores de energia, os rios deram as bases para que diversas civilizações se instituíssem, desde as mais antigas cidades da Mesopotâmia e do Egito, até grandes cidades medievais da Europa, como Londres, Paris e Viena. No Brasil, onde se encontra uma das mais extensas e ricas redes de rios perenes do mundo, isso não foi diferente. Importantíssimas para as populações tradicionais, as águas correntes estavam cercadas de valores simbólicos e utilitários. Posteriormente, com a colonização, a navegação fluvial permitiu o acesso ao território profundo e os rios foram palco e também atores da produção de cidades como São Paulo, Cuiabá, Porto Alegre, Belém e Manaus. Enquanto que nas áreas pouco ou não urbanizadas os cursos d’água sempre tiveram liberdade para fluir, infiltrar e alterar seu curso, nos trechos urbanos a harmonia entre 7


sociedade e natureza foi sendo ameaçada a medida que as populações cresciam. No Brasil, um marco para esse conflito foi a década de 1950, em que o país passou por um rápido crescimento urbano e as disputas entre o desenvolvimento e o meio ambiente se acirraram. Como afirma Costa (2006, p.10), vários embates vem sendo travados: “as cidades invadindo as águas, e águas invadindo as cidades – situações pendulares, cíclicas, geradas a partir de conflitos entre os sistemas da cultura e os sistemas da natureza.” Nesse processo de crescimento e adensamento das cidades, viraram-se as costas e assim anulou-se a importância dos rios, restando apenas aspectos perturbadores, como o mau cheiro das águas poluídas, o risco de enchentes e o obstáculo físico que os cursos d’água representam. Nesse sentido, várias intervenções foram feitas na tentativa de remediar esses problemas, como discute Britto (2006, apud Costa, 2006): “O tratamento dado aos rios pelas obras tradicionais de engenharia hidráulica, através de retificações e canalizações, além de mudar sua fisionomia e retirar sua visibilidade, fez com que eles se transformassem em um sistema de drenagem subterrâneo, cuja função inicial seria a de evitar enchentes e facilitar a ocupação urbana de um território com amplas terras de baixada, sujeitas a inundações no período de chuvas mais fortes. Com nascentes nas montanhas, mas correndo em áreas de baixada, os rios apresentavam uma velocidade baixa de escoamento da água, fazendo com que as terras das faixas marginais permanecessem alagadas por longos períodos de tempo. O sistema de canalização adotado buscava direcionar e conduzir as águas das enchentes o mais rápido possível rio abaixo, esperando assim controlar o problema. Hoje se reconhece que essas obras, embora proporcionem melhorias locais em épocas de enchentes mais frequentes, muitas vezes transferem o problema para jusante e agravam significativamente a situação das enchentes excepcionais.”

Essas obras, além de apenas mascarar problemas urbanos, não percebiam os rios como estruturas vivas e mutáveis no território. Ocultando-os através da canalização, o ciclo hidrológico é encurtado, devido à diminuição drástica da infiltração e da evaporação e ao aumento na velocidade de escoamento. Além disso, ao impermeabilizar as margens e planícies alagáveis, infere-se na drenagem, na manutenção da qualidade das águas e no habitat da fauna e da flora. Maria Cecília Gorski (2008, p. 38) discute ainda que a leitura da paisagem através das bacias hidrográficas e dos rios, atividade que propicia um entendimento mais generoso e abrangente do território, foi se tornando cada vez mais complicado à medida que, no desenho do processo de expansão, as cidades foram intervindo em seu sítio e transformando-o, ao ultrapassar obstáculos geográficos e adaptá-los de acordo com suas necessidades. 8


O ribeirão São Bartolomeu e a imagem da cidade

Figura 7: Fundos de lotes das ruas Dona Gertrudes e Virgílio Val. Acervo pessoal, 2016.

Figura 8: Travessia sobre o São Bartolomeu na rua Doutor Brito e ocupação sobre o ribeirão na rua Dona Gertrudes. Acervo pessoal, 2016.

Figura 9: Trecho com pouca ocupação nas margens do ribeirão São Bartolomeu. Acervo pessoal, 2016.

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Segundo Kevin Lynch (2010, p. 3), “estruturar e identificar o ambiente é uma capacidade vital entre todos os animais que se locomovem.” Para tal, vários tipos de indicadores são usados: as sensações visuais de cor, forma, movimento ou polarização da luz, além de outros sentidos como o olfato, a audição, o tato, a cinestesia, o sentido da gravidade e, talvez, dos campos elétricos ou magnéticos. A partir desses indicadores é que os animais, assim como o ser humano, elabora suas impressões acerca do ambiente externo. E a organização dessas impressões em uma imagem subjetiva da paisagem é essencial para a própria sobrevivência da vida em livre movimento. “Uma boa imagem ambiental oferece a seu possuidor um importante sentimento de segurança emocional. Ele pode estabelecer uma relação harmoniosa entre ele e o mundo à sua volta. (...) Na verdade, um ambiente característico e legível não oferece apenas segurança, mas também reforça a profundidade e a intensidade potenciais da experiência humana.” (LYNCH, 2010, p. 5)

Para o autor, um cenário físico vivo e integrado, capaz de produzir uma imagem bem definida, exerce também um papel social. Pode fornecer a matéria-prima para os símbolos e as reminiscências coletivas da comunicação de grupo. Uma paisagem admirável é a base sobre a qual muitas civilizações primitivas ergueram seus mitos socialmente importantes. Com a atenção voltada para a imagem da cidade relacionada com seus rios urbanos, Maria Graça Saraiva (2005, apud Gorski, 2008) coloca que “a identificação dos significados e valores estéticos e ecológicos das paisagens fluviais é um fator de compreensão da percepção e da utilização do rio pela população, e do potencial de recuperação desses sistemas.” E como referência de avaliação dos valores intangíveis presentes nessa paisagem rio-cidade, Saraiva propõe uma análise dos seguintes fatores: - Características formais ou aspectos estéticos da água e sua relação com a paisagem – unidade como consistência e harmonia; vivacidade como forte impressão visual, contraste, textura, composição; variedade da apresentação da água e dos elementos a ela interligados, como o solo e a vegetação, e presença de elementos focais ou distintos; - Características ecológicas – diversidade, integridade, composição e variedade de espécies; - Componentes de apreciação cognitiva – simbolismo, complexidade, legibilidade e mistério. Apresentando esses aspectos de análise, a autora pretende desvendar o grau envolvimento de populações com as paisagens fluviais, e suas motivações estéticas e emocionais. Usando esse método para diagnosticar o caso de Viçosa com o ribeirão São Bartolomeu, pode-se perceber como a urbanização deu às costas ao curso d’água local, fazendo-o quase desaparecer enquanto elemento estruturante da paisagem. Quanto às características formais do ribeirão, é importante salientar como ele não se 10


caracteriza como um componente de forte impressão visual na cidade. Com sua modesta vazão, o São Bartolomeu parece atravessar o ambiente urbano a muito custo, possuindo trechos em que é canalizado, retificado, poluído e ocupado. Suas águas, escuras em todo o trecho urbano, revelam a quantidade de esgoto que recebem. As margens, também de reduzidas dimensões devido à ocupação, quase não apresentam vegetação ripária, tendo uma grande quantidade de capim, que em alguns trechos chega a impedir a visualização do córrego. No âmbito ecológico, percebe-se pouca diversidade de flora e presume-se uma diversidade também baixa de fauna aquática, devido à pouca oxigenação da água e da grande quantidade de matéria orgânica. Quanto à fauna terrestre e aérea, notam-se raros indivíduos, principalmente pela falta de continuidade entre os espaços ainda verdes em Viçosa e o curso do São Bartolomeu. Escondido também por passar no fundo dos lotes, o São Bartolomeu só é visto quando é interceptado por ruas, o

Figura 10: São Bartolomeu visto da Rua Pres. Tancredo Neves. Acervo pessoal, 2016.

que afeta sua legibilidade por aqueles que o procuram no nível térreo. Por fim, ao se pensar no imaginário em torno da presença do ribeirão em Viçosa, surgem várias visões estigmatizadas, oriundas da experiência diária de quem passa ao longo dele, principalmente nas áreas centrais. Essa breve caracterização elucida o distanciamento simbólico – porém não físico – da população para com o ribeirão São Bartolomeu e a consequentemente materialização disso na cidade. Infelizmente, essa relação conturbada começou com o início da formação da cidade e vem sendo agravado até hoje, com a contínua realização de parcelamento sem o respeito pelas limitações impostas pelo espaço natural. “Os impactos ambientais causados sobre o meio físico, somados à baixa qualidade da maioria das edificações que vêm sendo construídas, comprometeram o desenho da cidade e o aspecto estético da composição da paisagem urbana local. A morfose do espaço urbano é derivada justamente da interação do suporte físico e seus condicionantes e o meio construído. A construção da paisagem urbana ideal depende da relação harmônica entre esses dois elementos.” (BARTALINI, 1993, apud MELLO, 2002) 11


Figura 11: Vista dos fundos do Shopping Chequer e da rodoviária. Acervo pessoal, 2016.

Figura 12: Ocupação e lançamento de esgoto no ribeirão São Bartolomeu. Acervo pessoal, 2016.

Figura 13: Trecho interrompido por canalização entre a Rua dos Estudantes e a Av. P.H. Rolfs. Acervo pessoal, 2016.

Figura 14: Vista dos fundos do shopping Chequer e dos lotes na rua Virgílio Val, a partir do estacionamento do supermercado Bahamas. Acervo pessoal, 2016.

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O tratamento de esgoto no Brasil e em Viçosa Segundo um artigo do jornal online inglês Business Insider, publicado em 2015, o sistema de saneamento básico do Brasil é “medieval”, podendo ser comparado ao de Paris ou Londres do século XIV. Apesar de severo na crítica, o jornal escancara um problema há muito ignorado no nosso país: grande parte do esgoto doméstico é destinado sem nenhum tratamento para cursos d’água.

Figura 15: Percentual de municípios com rede coletora de esgoto, segundo as Grandes Regiões – 2000/2008. Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, 2010.

Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico desenvolvida pelo IBGE em 2008, no Brasil, apenas 55,2% da população dispõe de redes de coleta de esgoto. Dessa parcela, que diz respeito somente à presença de uma rede em pelo menos parte dos municípios e não avalia a abrangência do serviço, é ainda menor a porcentagem daqueles que tem seus esgotos domésticos devidamente tratados. E isso ocorre de modo geral em várias as cidades brasileiras, onde observa-se também que, mesmo havendo sistemas de coleta de esgotos, estes não atendem as construções situadas nos fundos de vales, que lançam clandestinamente (ou deliberadamente) seus esgotos in natura diretamente nos cursos d’água. Viçosa é um município que ilustra bem esta realidade. Não possui ainda um sistema de coleta que abrange toda a população e lança o esgoto coletado e sem tratamento diretamente no ribeirão São Bartolomeu. Com esta condição, tem-se ao longo de toda a cidade um esgotamento a céu aberto que emana odores desagradáveis e potencializa as condições para propagação de vetores de doenças. Essa situação vem sendo agravada nos últimos anos com a diminuição dos índices pluviométricos que tornaram o ribeirão São Bartolomeu um curso d’água intermitente e, cuja vazão nos períodos secos é quase 13


integralmente formada por esgotos. Essa situação marca negativamente a imagem de Viçosa, que é associada a ocupação irregular dos fundos de vales, a poluição de seu recurso hídrico e ao cheiro desagradável ao longo das ocupações próximas ao São Bartolomeu e seus tributários. Contribuindo para continuidade dessa situação, não há uma percepção do caráter negativo dessa condição por parte da população afetada, fato este que não contribui para a formação de uma vontade politica para mudar essa realidade.

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Cidades: de pessoas, para pessoas

Figura 16: Balaústre, em Viçosa: região patrimanial Figura 17: Nyhavn, região de Copenhagen, transformado relegado à estacionamento. Acervo pessoal, 2016.

em rua de pedestres. Fonte: Jan Gehl, 2013.

Por décadas, o planejamento e a produção de cidades vem negligenciado a dimensão humana. Diversas que sejam suas características econômicas e graus de desenvolvimento, inúmeras cidades no mundo deixaram de ser receptivas e aprazíveis ao pedestre. Ruas cada vez mais tomadas por carros, ruído, poluição visual. Edifícios murados, autossuficientes, alheios ao seu entorno. A função do espaço da cidade como lugar de troca e convívio foi aos poucos sendo reduzida e por vezes até descartada. A produção do espaço empreendida pelo capital e de acordo com os ideais do modernismo, como discutem Kotanyi & Vaneigem (1961, apud Felício, 2007), renunciou a toda crítica pelo simples argumento “faz falta um teto”. Sob essa ótica simplória, foram e continuam sendo construídos em nossas cidades apenas tetos, sem que seja dada a devida atenção ao modos de viver, às verdadeiras necessidades e desejos humanos. “Os funcionalistas ignoram a função psicológica dos ambientes. A aparência dos edifícios e dos objetos que usamos, e que formam nosso ambiente familiar, tem uma função que está separada de seu uso prático.” (JORN, 1954, apud FELÍCIO, 2007) Em seu livro “Cidades para Pessoas”, o urbanista dinamarquês Jan Gehl defende a construção de cidades mais vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis. Ele reforça que as pessoas devem ser convidadas a caminhar, pedalar ou permanecer nos espaços públicos. Para que a cidade seja segura, deve haver uma estrutura para que as distâncias a pé possam ser curtas, os espaços atrativos e as funções variadas. Além disso, os transportes coletivos e os não motorizados devem ser priorizados em relação aos individuais. Gehl também salienta que o caminhar pela cidade é muito mais do que simplesmente andar: “é uma forma especial de comunhão entre pessoas que compartilham o espaço público como uma plataforma e estrutura.” (2013, p.19) Ele ainda classifica as atividades 15


urbanas

de

três

formas:

necessárias – aquelas do dia a dia, que não se tem escolha –, opcionais – as divertidas e de lazer –, e sociais – que incluem todo tipo de contato entre as pessoas. Se

as

condições

climáticas e do ambiente físico forem favoráveis, crescem em

Figura 18: Atividades em função da qualidade dos ambientes. Fonte: Jan Gehl, 2013.

intensidade as possibilidades de atividades opcionais e sociais na cidade. Assim, desenhar ambientes públicos de qualidade, para que as pessoas possam sair de suas casas, tomar sol, apreciar a vista, brincar e conviver, se faz fundamental para uma melhor qualidade vida na cidade e para a formação de uma sociedade democrática e aberta. Jane Jacobs, em seu livro “Morte e Vida de Grandes Cidades”, expõe como as cidades consistem em aglomerados de elementos diversos. Segundo a autora, é essa diversidade de pessoas, usos e edifícios, ¬que mantém a vivacidade e combate a monotonia no ambiente urbano. Para assegurar essa qualidade, Jacobs (2011) defende quatro condições: os segmentos da cidade devem atendar a mais de uma função principal, garantindo que pessoas circulem naquele local em horários diferentes; a maioria das quadras deve ser curta, de forma a garantir uma boa permeabilidade; deve haver uma combinação de edifícios com idades e estados de conservação variados, assegurando uma mistura também de classes sociais na mesma área; e deve existir uma densidade suficientemente alta de pessoas, não só utilizando os serviços da área, mas também vivendo ali. É importante ressaltar que o ambiente urbano é repleto de possibilidades e está intimamente ligado com a qualidade de vida dos seus habitantes. Como coloca Francesco Careri (2013, p. 98), “a cidade é um jogo a ser utilizado pelo próprio aprazimento, um espaço para ser vivido coletivamente e onde experimentar comportamentos alternativos, onde perder o tempo útil para transformá-lo em tempo lúdico-construtivo”.

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OUTROS MODOS DE FAZER

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Resolvendo a nível local Para a Jean Paul Metzger, pesquisador da ciência conhecida como ecologia de paisagem, a paisagem pode ser entendida como “um mosaico heterogêneo formado por unidades interativas, sendo esta heterogeneidade existente para pelo menos um fator, segundo um observador e numa determinada escala de observação”. (METZGER, 2001) Por conseguinte, o território pode ser entendido como uma mistura de peças de diferentes usos e funções, seja quais forem as escalas de análise. Lidar com essas peças como um todo, sob a perspectiva da totalidade de um município, obviamente, se faz necessária para o planejamento urbano. Entretanto, não se pode deixar de perceber esses usos, funções e os impactos causados por eles também em escalas mais aproximadas. Se é dada atenção à esses impactos enquanto estes estão em escala local, quando vistos em uma escala mais abrangente, estes podem assumir dimensões consideravelmente mais fáceis de lidar. No contexto urbano, esse conceito de mosaicos pode ser aplicado de diversas formas. Quanto aos espaços públicos, sabe-se que pequenas intervenções bem distribuídas podem ser extremamente benéficas para a vivência na cidade, funcionando como respiros em áreas muito urbanizadas. Do mesmo modo, quanto ao saneamento, o planejamento de estações de tratamento terciário desafogaria as extensas redes de captação e as estações centrais de tratamento. Além de minimizar problemas, essa visão de planejamento cria um outro entendimento do espaço, percebendo as partes e não transferindo problemas para áreas mais distantes.

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Lidando de forma descentralizada com o esgoto Como mencionado anteriormente, o Brasil apresenta um cenário problemático quanto à coleta e ao manejo dos seus esgotos. A boa qualidade e o acesso a esses serviços de saneamento são diretamente relacionados com a saúde, a segurança e o bem-estar da população, evitando ameaças provenientes do contato com resíduos, detritos, patógenos, contaminantes e substâncias tóxicas como um todo. Devido ao alto custo dos sistemas tradicionais de coleta e tratamento das águas residuárias e às consequentes dificuldades dos municípios de pequeno e médio porte em implantá-los com eficácia, é de extrema importância o desenvolvimento de estratégias alternativas para lidar com o problema. Tamara Van Kaick, pesquisadora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), discute em sua dissertação que a tecnologia trouxe benefícios e facilidades à vida humana, porém essa mesma tecnologia acabou por distanciar as pessoas do seu meio natural, fazendo com que fosse perdida a noção de interdependência entre sociedade e meio ambiente. Ela ressalta a importância do desenvolvimento de tecnologias apropriadas2, buscando atender as necessidades humanas cotidianas sem que se perca a noção ambiental. Van Kaick (2002) propõe, implanta e avalia um exemplo de tecnologia apropriada para o tratamento de efluentes, uma Wetland construída ou Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) por zona de raízes, uma solução de baixo custo e alta eficiência baseado em filtros combinados com plantas aquáticas. Nesse sistema, o esgoto doméstico passa primeiramente por uma fossa séptica, onde ocorre a separação dos sólidos sedimentáveis, para então chegar, por meio de uma tubulação perfurada, a um filtro físico com plantas, que reduz a matéria orgânica e não produz lodo e mau cheiro, como os sistemas tradicionais.

Figura 19: Os dois tipos de Wetlands construídas de fluxo subsuperficial. Acervo pessoal, 2015. 2 - Tecnologia Apropriada, em seu sentido mais amplo, “consiste na aplicação sistemática de conhecimentos (métodos, técnicas, processos e produtos) para a solução de problemas identificados pela própria comunidade, de forma a evitar efeitos negativos sobre a sociedade, a economia, a cultura e o meio ambiente onde será aplicada. Fonte: ITS Brasil Instituto de Tecnologia Social, 2009.

20


Seguindo a mesma linha de pesquisa, o Grupo de Estudos em Saneamento Descentralizado (GESAD) da Universidade Federal de Santa Catarina desenvolve diversos estudos sobre a aplicabilidade e eficiência das Wetlands construídas3. Victória Regina Monteiro, pesquisadora do grupo, explica que essas Wetlands podem ainda ser divididas em dois grupos: as de fluxo superficial, que se assemelham com os sistemas naturais por possuírem lâmina d’água, e as de fluxo subsuperficial, que se subdividem em fluxo vertical e horizontal (2014, p. 35). O sistema proposta por Van Kaick, classificado como subsuperficial de fluxo vertical, pode ser construído sem a necessidade de mão de obra especializada e é constituído de

uma

vala

impermeabilizada

com profundidade de 1m e área dimensionada de 1m2 por habitante (VAN KAICK, 2002) – podendo esse valor ser ainda menor em regiões

Figura 20: Esquema de ETE Zona de Raízes subsuperficial de fluxo vertical. Fonte: Van Kaick, 2002.

tropicais onde a insolação ao longo do ano é maior e aumenta a taxa de evaporação das plantas. Dentro da vala, depositam-se camadas de brita e de areia, que realizarão a filtragem. Na parte superior, sobre uma camada de brita, plantam-se espécies habituadas a viver em lugares onde a água mantém o solo inundado periodicamente. Essas plantas, por terem desenvolvido estruturas denominadas aerênquimas, com a função de transportar o oxigênio das folhas até as raízes, favorecem a fixação de bactérias que utilizam desse oxigênio e decompõem a matéria orgânica presente na água, transformando-a em nutrientes que são repassados às plantas. Como pode ser observado no esquema acima, o esgoto adentra o sistema por meio de uma tubulação perfurada a cerca de 10cm abaixo da superfície, que o distribui sobre o filtro construído. Abaixo das camadas de brita e areia, se encontra outra tubulação perfurada, que fará a captação do produto já tratado e que poderá ser direcionada à cursos d’água. Outro sistema interessante para o tratamento de água são as ilhas flutuantes. Criadas

21

3 - Wetlands são áreas de terra que se encontram molhadas durante parte ou todo o ano devido sua localização na paisagem. Historicamente também foram chamados de pântanos, brejos e mangues e são considerados ecossistemas de transição entre a terra e a água. A tradução literal da palavra wetland é “terra úmida” e devido à grande dificuldade de se chegar a um consenso com relação a uma palavra brasileira, esses sistemas são também chamados de filtros plantados, zona de raízes, terras úmidas, leitos construídos, dentre outras denominações. Fonte: Monteiro, 2014.


Figuras 21 e 22: Exemplos de ilhas flutuantes atuando em um canal. BioMatrix Water, 2015.

de forma a mimetizar aglomerados de plantas aquáticas que boiam sobre a superfície de lagos e cursos d’água, esses elementos, assim como as Wetlands construídas, apresentam grande eficácia na absorção de poluentes, além de poderem ser utilizados para fins paisagísticos. Por serem flutuantes, essas estruturas se adaptam facilmente às mudanças de nível da água e suas raízes constituem um ambiente favorável para o refúgio de peixes e para a reprodução de microrganismos benéficos à qualidade da água.

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Melhorar sem destruir O adensamento pode ser bastante benéfico às cidades, visto que promove uma otimização da infraestrutura e dos serviços. Entretanto, essa compactação deve ser muito bem planejada para que o ambiente urbano não se densifique descontroladamente em determinadas áreas, a bel prazer do mercado. Nos casos onde isso ocorre, fica evidente como a qualidade e a distribuição dos espaços públicos é comprometida. Infelizmente, essa é a conjuntura de Viçosa e de muitas outras cidades brasileiras que passaram por um boom populacional na segunda metade do século passado. Grande concentração de edifícios, pouquíssimos vazios urbanos nas áreas centrais, ocupação de áreas de preservação permanente. Como então pensar a inserção de espaços públicos para esses ambientes já adensados? Como intervir de forma a democratizar esses espaços, sem fortalecer a segregação já tão presente nas cidades (e na sociedade)? Grandes intervenções urbanas envolvem processos complexos e demorados, desapropriações excessivas e aumento do valor do solo, muitas vezes expulsando pessoas por conta da gentrificação. Além de problemáticas, são, em geral, demasiado onerosas para cidades de pequeno e médio porte. Em contrapartida, intervenções pontuais, se devidamente conectadas, podem ter bom custo-benefício para o ambiente urbano. Projetando a partir das preexistências e com ciência das potencialidades locais, é possível aumentar o contato das pessoas com o espaço urbano, criando lugares em espaços antes despercebidos. Devido a sua escala, podem ser implementados e geridos mais facilmente pelo poder público local, além de, pela relação de pertencimento provocada nos moradores do entorno, motivarem um maior cuidado com o espaço.

Figura 23: Pocket park em Nova Iorque, EUA. Fonte: Figura 24: Pocket park em San Diego, EUA. Fonte: San michalec.com, s/ data.

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Diego City Beat, 2014.


ESTUDOS DE CASO

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Respirar, de novo

Figura 25: Trecho do parque implementado no rio Cheonggyecheon. Fonte: AU, 2013.

Figura 26: Reinserção do verde e de áreas permeáveis. Fonte: AU, 2013.

Rio Cheonggyecheon Seul, Coréia do Sul Concepção: organização tripartite entre a Prefeitura de Seul, um comitê de cidadãos e um grupo de pesquisa Ano: 2002/2005 Extensão da obra: 5,4 km O Cheonggyecheon é um rio que corre de leste a oeste pelo centro da capital sul-coreana como um afluente do rio Han, de maiores proporções e localizado mais a sul. Devido à sua tendência natural para inundações, recebeu ao longo dos anos diversas

obras

de

retificação.

Com

a

ocupação colonial japonesa (1910/1945) e sob o argumento da segurança e da saúde pública, partes do córrego foram

Figura 27: Via expressa Cheonggyecheon na década de 1970. Fonte: AU, 2013.

encobertas para construir edifícios e leitos carroçáveis. Em 1948, o governo de Seul, já liberto do domínio japonês, decidiu que o

Cheonggyecheon fosse inteiramente coberto, dessa vez tendo o transporte como pretexto. Seduzida pela cultura automobilística em ascensão, a prefeitura determinou a construção de uma grande via pública que variava de 50 a 90m e que teve início no final da década de 1950. Em 1961, com um governo militar instaurado, vieram algumas propostas de representar a modernidade do país. Nessa linha, foi planejada uma a Via Expressa Elevada Cheonggyecheon, implementada entre 1967 e 1976. 25


Com o passar dos anos, diversos problemas de segurança dessa via foram sendo descobertos e algumas faixas foram pouco a pouco sendo fechadas. Em 1997, o acesso foi restrito somente a veículos de passageiros. De 2000 a 2001, ficou claro que a via expressa era insustentável. Construindo sua imagem com a proposta de melhorar a imagem da cidade demolindo toda a via e restaurando o Cheonggyecheon, o candidato a prefeito Myung-Bak Lee foi eleito em 2002. Assistido por seu vice, o urbanista e paisagista Yung-Jae Yang, o recémeleito prefeito levou a frente o projeto, vislumbrando a abertura do rio, uma grande via de recreação e uma oportunidade para melhorias ambientais na cidade. Foram então demolidas todas as vias elevadas e os leitos carroçáveis que encobriam o rio; ampliado o leito e o espaço disponível para variações de vazão, levando em conta as cheias em um período de 200 anos; construídas 22 pontes, diversos acessos para pedestres e travessias no nível do rio, além de diversas intervenções paisagísticas. Como mudança drástica – e positiva – na paisagem urbana, o restauro do rio Cheonggyecheon em Seul é um ótimo exemplo de como a melhoria da relação entre um rio e uma cidade pode trazer vantagens para a vida dos seus habitantes e para as dinâmicas ambientais. Em um curto período de execução, um grande trecho urbano, antes relegado ao tráfego e inseguro para pedestres, foi reformulado criando oportunidades de convívio e uso do ambiente público. Através da abertura do rio e da inserção de vegetação, reduziuse a temperatura no microclima e na cidade como um todo. Houve redução também na concentração de pequenas partículas de poluição no ar. E elevou-se a biodiversidade consideravelmente, com novas espécies de vegetais, aves, peixes, insetos e anfíbios. Por outro lado, o custo do solo ao longo do projeto subiu de 30 a 50%, criando uma enorme dificuldade para negócios de pequena escala serem mantidos ou implantados. Como em outros projetos de intervenção em grande escala, não houve uma preocupação quanto à gentrificação. Como influência para o projeto aqui proposto no São Bartolomeu, a intervenção no Cheonggyecheon é notável por encorajar as pessoas a participarem do espaço urbano e enxergarem o rio como um espaço possível de convivência e lazer. Além disso, o desenho do parque linear, repleto de travessias no nível da

Figura 28: Contato entre pessoas e o rio. Fonte: AU, 2013.

água, permite ao pedestre entrar em contato direto com o rio, causando uma percepção diferenciada. 26


Recuperar e inserir novos usos Reurbanização da Favela do Sapé São Paulo, Brasil Concepção: Base 3 Arquitetos Ano: 2010 - presente Extensão da obra: 1,5km Localizada no distrito do Rio Pequeno, na zona sudoeste de São Paulo, a Favela do Sapé constituía-

Figura 29: Obra de implementação do parque linear, com residências que não foram removidas. Fonte: AU, 2013.

se num enclave de mais de 1km de extensão e numa área insalubre para a população que ali vivia. A situação era de altíssima densidade horizontal, falta de infraestrutura, serviços, espaços livres e intensa ocupação do córrego que atravessa todo o trecho da favela. Com diretrizes municipais de transformar o córrego do Sapé em um caminho verde, o projeto foi delineado com as premissas de proteger o córrego, que sofria enchentes frequentes; implantar o mínimo possível de sistema viário para veículos, reduzindo o impacto das remoções de famílias; prever uma ciclovia; promover desadensamento como melhoria da circulação de pedestres, da insolação e da ventilação; e implantação de equipamentos de lazer de pequeno porte em áreas estratégicas.

Figura 30: Implantação do projeto. Fonte: AU, 2013.

Como costura urbana entre os dois lados do córrego, o projeto ainda funciona como ferramenta de inclusão, a partir do momento que conecta a favela à cidade e desenha 27


oportunidades de encontro social, vivência e troca. Apesar de prever grande quantidade de remoções – 527 nas áreas non aedificandi ao longo do córrego;105 em áreas de risco por estarem abaixo do nível do córrego; 98 em ruelas estreitas que não permitiam a instalação de infraestrutura; 93 para a realização de arruamento; 354 para abertura de novas glebas – foram planejados novos conjuntos habitacionais para o reassentamento dessas famílias dentro do próprio perímetro da intervenção. Planejados nas novas glebas abertas, os edifícios multifamiliares contam com áreas comerciais e serviços comunitários no nível térreo (TRONCOSO, 2013).

Figura 31: Visualização das novas habitações e do parque linear após conclusão da obra. Fonte: AU, 2013.

Quanto ao córrego, foi executado uma canalização por gabião, seguindo a tendência à montante e respeitando a variação de vazão com as chuvas normais. Para Marina Grinover, uma das arquitetas do projeto, a legislação ambiental é “severa e pertinente” e acaba por dificultar o contato com o curso d’água de forma agradável, devido a quantidade de requisitos que acabam por deixa-lo mais distante dos vias de pedestre em suas margens. Dando atenção não somente ao eixo criado com o restauro do córrego e às novas habitações, os projetistas buscaram restaurar também vielas e espaços entre as casas não removidas, criando pequenas praças e lugares de permanência. Grinover destaca que “o mais interessante foi o processo, conduzido com muito respeito e diálogo”. As ações urbanísticas voltaram-se para levantar vocações e oportunidades da área. Foi

Figura 32: Implantação de uma pequena praça entre as construções preexistentes. Fonte: AU, 2013.

considerada a diversidade de usos e criaram-se espaços ao longo do caminho verde para que os usos relacionados aos serviços e comércios já existentes possam constituir oportunidades de renda e ferramentas urbanas de integração física e social. Ao escolher a reurbanização da Favela do Sapé como estudo de caso, objetivouse ressaltar como esse projeto percebe os usos já existentes e as características da área, implementa reformas estruturais e muda as realidades ambiental e social do lugar.

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Tratar a água Houtan Park Shanghai, China Concepção: Turenscape Ano: 2009-2010 Área: 1.400.000 m2 O Houtan Park é uma intervenção em uma área industrial abandonada à beira do rio Huangpu. O projeto foi

Figura 33: Caminho e deck sobre o canal do parque. Paisagismo funcional e sensorial. Fonte: Turenscape, 2010.

concebido para ser um mostruário de tecnologias verdes para World Expo ocorrida em Shangai em 2010 e posteriormente funcionar como um parque aberto à cidade. O rio Huangpu, o maior que cruza Shangai, com 113km de extensão e média de 400m de largura, tem sérios problemas quanto à qualidade de suas águas. Avaliado como nível V, o índice mais crítico na escala chinesa de I a V que avalia a salubridade das águas, o Huangpu é considerado inseguro para nado e recreação e desprovido de vida aquática. Para essa área abandonada de 1,7km na margem leste do rio, o Turenscape estruturou sua proposta sobre o conceito de um paisagismo que funcionasse como uma máquina viva e demonstrasse métodos de limpeza da água, contenção de cheias, criação de habitats e produção de alimentos. (TURENSCAPE, 2010) Para tanto, foi criado um canal na margem do rio que funciona de forma semelhante à vários Wetlands construídos linearmente, segregados por ligeiras diferenças de nível. Coletando água do rio no início, o parque trata-a ao longo do trajeto, em terraços, cascatas e pequenos córregos. Após

o

projeto

ser

executado

e

todas

as

etapas do sistema natural de tratamento estarem exercendo 29

Figura 34: Diagrama dos estágios de melhoria da qualidade da água pelo sistema de Wetland construído no Houtan Park. Fonte: Turenscape, 2010.


suas funções, a análise das características da agua tratada demonstrou que o processo elevou significativamente seu índice de qualidade, modificando a anterior classificação de poluição grau V para grau III (TURENSCAPE, 2010). Inspirado nos campos agrícolas chineses, o Houtan reconstrói a paisagem urbana degradada em uma espécie de fazenda urbana sensorial, em que a mudança das estações se reflete fortemente nas plantas escolhidas para o projeto. Outro ponto relevante é a rede de caminhos criados para que o visitante vivencie e entenda todo o parque. Com função claramente educativa e contemplativa, o projeto encoraja o pedestre a acessar e perceber a paisagem, minuciosamente planejada para a escala humana.

Figuras 35, 36, 37 e 38: Rede de caminhos e mirantes que permite que o visitante percorra e entenda todo o parque e seus sistemas de tratamento de água. Fonte: Turenscape, 2010.

Enquanto referência para o projeto aqui proposto, destaca-se o modo como o parque Houtan lida com o tratamento de água como um sistema vivo, agradável e sensível, além de criar caminhos e nichos, permitindo ao visitante o entendimento de todo o processo e uma experiência de fuga ao caos urbano.

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Pouco espaço, várias possibilidades

Bananna Park

Figura 39: Vista parcial do Bananna Park, mostrando “a praça” e “o gramado”. Fonte: DAC, 2014.

Copenhagen, Dinamarca

Concepção: Nord Arkitekter, Schønherr Landskab Ano: 2010 Área: 5000m2 Repleto de usos e ao mesmo tempo bastante aberto, o Bannana Park pode ser considerado um pequeno oásis no densamente povoado bairro Nørrebro. Resultado do desejo da comunidade local em transformar um miolo de quadra em espaço público, o parque foi planejado em diversos diálogos entre os habitantes do bairro, as instituições locais e a prefeitura de Copenhagen. Anteriormente ocupado por uma refinaria de óleo, o terreno era conhecido como “a área contaminada”.

Revitalizado

com

um

espírito

extremamente lúdico, recebeu diversas infraestruturas de lazer ativo e passivo, além de uma grande elevação no chão em forma de banana, que criou uma forte identidade para o parque. 31

Figura 40: Portal de entrada que funciona como parede de escalada. Acervo pessoal, 2016.


Quase como um arco do triunfo, um portal de 14m que funciona como paredão de escalada marca a entrada. Do lado de dentro, o espaço é setorizado em três áreas: o “gramado”, a “praça” e a “selva”. O gramado, mais amplo e livre, é usado para atividades diversas, mas principalmente a prática de esportes. A praça, dotada de mobiliários como mesas, bancos e churrasqueiras, encoraja a permanência. Já a selva, nos fundos do terreno, é composta por diversas árvores preexistentes com algumas novas cerejeiras e bambus, além de pequenos playgrounds e uma quadra. Fazendo a ligação entre as três áreas e contornando o pequeno parque, uma pista de caminhada em loop que permite também o uso de skates e bicicletas. Dotada de iluminação no nível do pedestre e dois grandes postes com luzes coloridas, o pequeno parque é também agradável durante a noite.

Figura 41: Mobiliário, desenho do canteiro e pista de caminhada na área da “selva”. Acervo pessoal, 2016.

Figura 42: Playground e quadra na área da “selva”. Acervo pessoal, 2016.

Aqui referenciado, o projeto do Bananna Park foi considerado um bom exemplo de como trabalhar com um miolo de quadra, pois inseriu diversos equipamentos em um pequeno espaço, criando um ambiente lúdico para crianças e adultos.

32


Intenções

perceber o ribeirão são bartolomeu

como

extensa área aberta que cruza o perímetro urbano

melhorar a relação do ribeirão com a cidade proteger as margens contra a ocupação inserir infraestrutura verde para tratamento de água paisagismo funcional e sensorial propor espaços de lazer e contemplação fuga ao caos urbano

33


IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DA ÁREA

34


LOCALIZAÇÃO DO RIBEIRÃO SÃO BARTOLOMEU

35 35

Entrando no perímetro urbano através das lagoas da UFV, o ribeirão cruza o perímetro urbano de sudeste a noroeste. Aqui foram destacadas as quadras por onde ele passa.


LOCALIZAÇÃO DO RIBEIRÃO SÃO BARTOLOMEU Zoom na área de influência direta do ribeirão: quadras por onde ele passa. 3636


APP 15m

Faixa de preservação de 15m de cada margem do ribeirão, levando em consideração a lei federal 6766 e a lei de uso e ocupação do solo de Viçosa. 37 37


APP 30m

Faixa de preservação de 30m de cada margem, levando em consideração o novo código florestal 3838


ESTUDO DE OCUPAÇÃO DAS APPs Estudo de ocupação das margens por manchas. Amarelo - Quadras cortadas pelo ribeirão. Laranja - Ocupações considerando a APP como 30m. Vermelho - Ocupações considerando a APP como 15m. 39 39


RECORTE DA ÁREA DE PROJETO Escolha pelas quadras onde a ocupação é mais crítica.

4040


RECORTE DA ÁREA DE PROJETO

Foram escolhidas como áreas de atuação: As quadras mais adensadas por onde o ribeirão passa, numeradas de 1 a 5 e marcadas em vermelho. Duas quadras menos adensadas, marcadas em amarelo, de forma a dar diretrizes de como atuar em uma área mais ampla. 41


42


OCUPAÇÃO DA APP 15m

Considerando a área de preservação permanente (APP) como dita a lei federal 6766 e a de uso e ocupação do solo de Viçosa, 15m de cada margem do ribeirão, delimita-se aqui essa faixa e em amarelo os edifícios que ocupam parte dela. 43


44


OCUPAÇÃO DA APP 30m

Considerando a área de preservação permanente (APP) como dita o código florestal brasileiro, 30m de cada margem dos cursos d’água com até 10m de largura, delimita-se aqui essa faixa e em amarelo os edifícios que ocupam parte dela. 45


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ESPAÇO NEGATIVO DAS QUADRAS

Foram demarcados aqui os negativos (espaços não construídos) ao longo do ribeirão, de forma a se ter uma ideia das dimensões disponíveis para um projeto nas margens. As duas linhas paralelas de cada lado do São Bartolomeu representam afastamentos de 15 e 30m. 47


48


DIMENSÕES DAS QUADRAS

Para que uma cidade seja amigável ao pedestre, é necessário que as distâncias sejam curtas e que haja permeabilidade na cidade. Aqui foram demarcadas as dimensões de cada quadra. 49


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VAZIOS URBANOS

Foram demarcados aqui os vazios urbanos: construçþes total ou parcialmente demolidas, estacionamentos, lava-jatos, entre outros. 51


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CARACTERIZAÇÃO DAS QUADRAS

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Quadra 1 Grande quantidade de edifícios de múltiplos pavimentos Moradias, imobiliárias, restaurantes, comércios de padrão elevado Grande fluxo de pessoas Ribeirão interrompido nas duas pontas por canalização

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Quadra 2 Grande quantidade de edifícios de múltiplos pavimentos Moradias, rodoviária, comércios variados Grande fluxo de pessoas Ribeirão interrompido nas duas pontas por canalização

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Quadra 3 Grande quantidade de edifícios de múltiplos pavimentos Moradias, shopping, supermercado, colégios, comércios variados Grande fluxo de pessoas Ribeirão interrompido nas duas pontas por canalização

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Quadra 4 Quatro edifícios de múltiplos pavimentos Baixo gabarito no restante Casas, shopping, escritórios, banco, comércios variados Médio fluxo de pessoas Ribeirão interrompido por canalização em uma ponta

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Quadra 5 Predominância de baixo gabarito: 1 a 3 pavimentos Moradias, escolas, supermercado, lar dos velhinhos Médio fluxo de pessoas Ribeirão corre ao ar livre

58


Quadra 6 Predominância de baixo gabarito: 1 a 3 pavimentos Moradias, APAC, comércios populares (mercearias e bares) Baixo fluxo de pessoas Ribeirão corre ao ar livre

59


Quadra 7 Predominância de baixo gabarito: 1 a 3 pavimentos Moradias, comércios populares (mercearias e bares) Baixo fluxo de pessoas Ribeirão corre ao ar livre

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Proposta De acordo com os temas discutidos nessa pesquisa, propõe-se aqui uma unidade de conservação ao longo do trecho urbano do São Bartolomeu, considerando os espaços negativos ao longo das quadras que o ribeirão atravessa. Essa classificação de proteção do território poderia ao mesmo tempo impedir legalmente a ocupação das margens do ribeirão e abrigar usos públicos, em benefício da população do município de Viçosa. Assim, propõe-se intervenções em miolos de quadra com caráter de pequenos parques, ora ligados, ora independentes, de forma a atribuir novos usos à áreas ociosas do espaço urbano, demolindo o mínimo. Do ponto de vista ambiental, essa intervenção pretende utilizar estratégias de tratamento de água e esgoto através de tecnologias verdes, compreendendo a necessidade de não transferir problemas à jusante e buscar um maior equilíbrio ecológico a nível local. Como conceito, foi adotada a ideia de perceber e vivenciar, aumentando a ligação da cidade e das pessoas com as águas, através de novos acessos, travessias, caminhos e passarelas elevadas, além de um paisagismo e desenho urbano abertos à múltiplas atividades.

Diretrizes de implantação - Evitar ao máximo a impermeabilização do solo no território situado junto às margens do ribeirão São Bartolomeu, propondo intervenções que permitam o máximo possível de infiltração; - Valorizar e recuperar as matas ciliares e a qualidade da água do ribeirão através do paisagismo; - Criar condições para possibilitar o uso público das margens do ribeirão, incentivando o uso do espaço público como lugar de encontro e convívio; - Promover lazer ativo e passivo, além de deixar espaços abertos e multifuncionais; - Promover a conectividade do parque com a cidade, através da criação de novos caminhos; - Garantir a segurança no parque, através do desenho de espaços e do incentivo à novos usos nas edificações já existentes.

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Linhas de Ação - Implantar novos caminhos, decks, passarelas e ciclovias; - Explorar as características cênicas da paisagem, quando existentes, e criar novas, através do paisagismo, para promover espaços de descanso e contemplação; - Implantar quadras, equipamentos de ginástica e playgrounds; - Instalar mobiliário e iluminação ao longo do parque; - Criar edifícios de apoio ao usuário, com sanitários, bebedouros, vigilância e outros; - Criar espaços cobertos de tamanhos variados para abrigar usos diversos como feiras locais, prática de esportes, exposições, apresentações musicais, convívio e outros; - Dimensionar e implantar sistema de tratamento de esgoto descentralizado por meio de wetlands construídos e ilhas flutuantes.

Programa de necessidades - Ciclovia; - Quadras esportivas; - Equipamento de ginástica (academia a céu aberto); - Playgrounds para crianças; - Mirantes e decks; - Jardins filtrantes e jardins tradicionais; - Hortas comunitárias; - Praças com bancos e mesas; - Quiosques e espaços maiores cobertos; - Postos de vigilância; - Edifícios com sanitários, bebedouro e outros serviços.

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REMOÇÕES

Prezou-se por demolir o menos possível, salvo construções em mal estado, localizadas em locais estratégicos para a implementação de acessos, ou de usos incompatíveis com a área. 63


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SETORIZAÇÃO DA PROPOSTA

Negativos após remoções: área permeável Lazer ativo (quadras, playgrounds, equipamentos de ginástica) Tratamento de água (wetlands) Serviços de apoio Espaços cobertos Novos caminhos Ciclovia Reformas: A - abertura da praça do carandiru, B e C - descanalização e criação de pontes 65


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