voltando os olhos para o ribeirão são bartolomeu: uma rede de espaços livres para viçosa -mg
Voltando os olhos para o ribeirão São Bartolomeu: uma rede de espaços livres para Viçosa - MG
Trabalho de conclusão de curso Cauan Bittencourt Lana Orientação Teresa Cristina Faria
Departamento de Arquitetura e Urbanismo Universidade Federal de Viçosa
Dezembro de 2017
“borboletas me convidaram a elas. o privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu. por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens e das coisas. eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta seria, com certeza, um mundo livre aos poemas. daquele ponto de vista: vi que as árvores são mais competentes em auroras do que os homens. vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças do que pelos homens. vi que as águas tem mais qualidade para a paz do que os homens.”
manoel de barros
CONTEÚDO o ribeirão são bartolomeu e a cidade de viçosa
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banco de ideias 3 cidades para pessoas resolver a nível local lidando de forma descentralizada com o esgoto melhorar sem necessariamente destruir análise da área 5 percepções 5 ocupação das margens 6 caracterização por quadras 8 parâmetros 9 espaços delimitados e recomendações de usos 11 diagramas 13 soluções projetuais implantação da proposta implantação técnica perspectivas isométricas
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O RIBEIRÃO SÃO BARTOLOMEU E A CIDADE DE VIÇOSA A estreita relação entre civilizações e rios é extremamente antiga. As margens dos rios compunham espaços atraentes para que muitos povoados se estabelecessem, por motivos funcionais, culturais ou estratégicos. Como demarcadores do território, fontes de água e alimento, corredores de circulação de pessoas e produtos, geradores de energia, os rios deram as bases para que diversas civilizações se instituíssem. No Brasil, onde se encontra uma das mais extensas e ricas redes de rios perenes do mundo, isso não foi diferente. Enquanto, nas áreas pouco ou não urbanizadas, os cursos d’água sempre tiveram liberdade para fluir, infiltrar e alterar seu curso, nos trechos urbanos a harmonia entre sociedade e natureza foi sendo ameaçada à medida que as populações cresciam. Vários embates foram e vem sendo travados: as cidades invadindo as águas, e as águas invadindo as cidades. Nesse processo de crescimento e adensamento das cidades, viraram-se as costas e assim anulouse a importância dos rios, restando apenas aspectos perturbadores, como o mau cheiro das águas poluídas, o risco de enchentes e o obstáculo físico que os cursos d’água representam. “Os conflitos entre processos fluviais e processos de urbanização tem sido de um modo geral enfrentados através de drásticas alterações na estrutura ambiental dos rios, onde, em situações extremas, chega-se ao desaparecimento completo dos cursos d’água da paisagem urbana” LÚCIA SÁ COSTA em Rios e Paisagens Urbanas Em Cidades Brasileiras
Em Viçosa, o principal curso d’água que corta a área urbana, o ribeirão São Bartolomeu, não escapou a essas alterações. Tendo suas margens ocupadas irregularmente, alguns dos seus trechos canalizados e uma grande quantidade de esgoto lançada nas suas águas, o ribeirão se configurou aos poucos em uma paisagem residual e degradada, à qual a cidade virou as costas. Juntamente com o grande adensamento empreendido em uma área de dimensões reduzidas, a situação de descaso com o São Bartolomeu produz uma série de impressões negativas quanto à paisagem e à vivência da cidade, seja de quem vem de fora quanto de quem habita e circula por Viçosa diariamente. A cidade não conta com espaços livres de qualidade, ao mesmo tempo, o ribeirão, com potencialidades para um extenso ambiente aberto e caminhável, é quase todo cercado por edificações ao longo do seu curso.
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Em Viçosa, a ocupação das margens do São Bartolomeu é antiga, tendo começado no início da formação da cidade no século XIX, com o parcelamento de áreas sem uma legislação que delimitasse uma faixa de proteção próxima ao ribeirão. No entanto, as construções continuaram a crescem, mesmo à revelia da posterior legislação. “Tendo em vista que os terrenos adjacentes aos rios já haviam sido loteados anteriormente, o adensamento da área central da cidade e dos fundos dos vales levou a uma grande ocupação do entorno daquela área, comandada pela especulação imobiliária que negligenciava a não-ocupação, nas distâncias previstas por lei, do curso d’água.” FERNANDO OLIVEIRA MELLO em Análise do processo de formação da paisagem urbana do município de Viçosa
Com essa ocupação e o lançamento de grande quantidade de esgoto doméstico que veio com ela, os serviços antes proporcionados pelo ribeirão foram substituídos por menos espaço livre no ambiente urbano, pouca oxigenação da água, levando à morte da fauna e flora aquática, proliferação de microrganismos patogênicos, odores desagradáveis e degradação em geral da paisagem por onde passa o São Bartolomeu. Quanto às características formais do ribeirão, é importante salientar como ele não se caracteriza como um componente de forte impressão visual na cidade. Com sua modesta vazão, o São Bartolomeu parece atravessar o ambiente urbano a muito custo, possuindo partes em que é canalizado, retificado, poluído e ocupado. Suas águas, escuras em todo o trecho urbano, revelam a quantidade de esgoto que recebem. As margens, também de reduzidas dimensões devido à ocupação, quase não apresentam vegetação ripária, tendo uma grande quantidade de capim, que em alguns trechos chega a impedir a visualização do córrego. No âmbito ecológico, percebe-se pouca diversidade de flora e presume-se uma diversidade também baixa de fauna aquática, devido à pouca oxigenação da água e da grande quantidade de matéria orgânica. Quanto à fauna terrestre e aérea, notam-se raros indivíduos, principalmente pela falta de continuidade entre os espaços ainda verdes em Viçosa e o curso do São Bartolomeu. Escondido também por passar no fundo dos lotes, o São Bartolomeu só é visto quando é interceptado por ruas, o que afeta sua legibilidade por aqueles que o procuram no nível térreo. Por fim, ao se pensar no imaginário em torno da presença do ribeirão em Viçosa, Imagens: Acervo pessoal. Viçosa, 2016.
surgem várias visões estigmatizadas, oriundas da experiência diária de quem passa ao longo dele, principalmente nas áreas centrais. 2
BANCO DE IDEIAS CIDADES PARA PESSOAS Por décadas, o planejamento e a produção de cidades vem negligenciado a dimensão humana. Diversas que sejam suas características econômicas e graus de desenvolvimento, inúmeras cidades no mundo deixaram de ser receptivas e aprazíveis ao pedestre. A função do espaço da cidade como lugar de troca e convívio foi aos poucos sendo reduzida e por vezes até descartada. [Construção de cidades mais vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis. “As pessoas devem ser convidadas a caminhar, pedalar ou permanecer nos espaços públicos. Deve haver uma estrutura para que as distâncias a pé possam ser curtas, os espaços atrativos e as funções variadas”.
RESOLVER A NÍVEL LOCAL Através da ecologia de paisagem, o território pode ser entendido como uma mistura de peças de diferentes usos e funções, seja quais forem as escalas de análise. Lidar com essas peças como um todo, sob a perspectiva da totalidade de um município, obviamente, se faz necessária para o planejamento urbano. Entretanto, não se pode deixar de perceber esses usos, funções e os impactos causados por eles também em escalas mais aproximadas. Se é dada atenção a esses impactos enquanto estes estão em escala local, quando vistos em uma escala mais abrangente, estes podem assumir dimensões consideravelmente mais fáceis de lidar.
JAN GEHL em Cidades para Pessoas
Desenhar ambientes públicos de qualidade, para que as pessoas possam sair de suas casas, tomar sol, apreciar a vista, brincar e conviver, se faz fundamental para uma melhor qualidade de vida na cidade e para a formação de uma sociedade democrática e aberta. [Diversidade de pessoas, usos e edifícios para manter a vivacidade e combater a monotonia no ambiente urbano. “Os segmentos da cidade devem atender a mais de uma função principal, garantindo que pessoas circulem naquele local em horários diferentes - a maioria das quadras deve ser curta, de forma a garantir uma boa permeabilidade - deve haver uma combinação de edifícios com idades e estados de conservação variados, assegurando uma mistura também de classes sociais na mesma área - e deve existir uma densidade suficientemente alta de pessoas, não só utilizando os serviços da área, mas também vivendo ali” JANE JACOBS em Morte e Vida das Grandes Cidades É importante ressaltar que o ambiente urbano é repleto de possibilidades e está intimamente ligado com a qualidade de vida dos seus habitantes.
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No contexto urbano, esse conceito de mosaicos pode ser aplicado de diversas formas. Quanto aos espaços públicos, sabe-se que pequenas intervenções bem distribuídas podem ser extremamente benéficas para a vivência na cidade, funcionando como respiros em áreas muito urbanizadas. Do mesmo modo, quanto ao saneamento, o planejamento de estações de tratamento terciário desafogaria as extensas redes de captação e as estações centrais de tratamento. Além de minimizar problemas, essa visão de planejamento cria um outro entendimento do espaço, percebendo as partes e não transferindo problemas para áreas mais distantes.
LIDANDO DE FORMA DESCENTRALIZADA COM O ESGOTO
MELHORAR SEM NECESSARIAMENTE DESTRUIR O adensamento pode ser bastante benéfico às cidades, visto que promove uma otimização
Devido ao alto custo dos sistemas tradicionais de coleta e tratamento das águas residuárias e às
da infraestrutura e dos serviços. Entretanto, a densificação descontrolada em determinadas
consequentes dificuldades dos municípios de pequeno e médio porte em implantá-los com eficácia, é
áreas, a bel prazer do mercado, como acontece em Viçosa, compromete a qualidade e a
de extrema importância o desenvolvimento de estratégias alternativas para lidar com o problema. É
distribuição dos espaços públicos, deixando grande concentração de edifícios, pouquíssimos
necessário atender as necessidades humanas cotidianas sem que se perca a noção ambiental.
vazios
[Uma solução de baixo custo e alta eficiência baseado em filtros combinados
urbanos
nas
áreas
centrais
e
ocupação
de
áreas
de
preservação
permanente.
Como proposta, grandes intervenções urbanas envolvem processos complexos e demorados,
com plantas aquáticas.
desapropriações excessivas e aumento do valor do solo, muitas vezes expulsando pessoas por conta da
O esgoto doméstico passa primeiramente por uma fossa séptica, onde ocorre a separação
gentrificação. Além de problemáticas, são, em geral, demasiado onerosas para cidades de pequeno e
dos sólidos sedimentáveis, para então chegar, por meio de uma tubulação perfurada, a um
médio porte.
filtro físico com plantas, que reduz a matéria orgânica e não produz lodo e mau cheiro, como os sistemas tradicionais. ]
WETLANDS CONSTRUÍDOS
Em contrapartida, intervenções pontuais, se devidamente conectadas, podem ter bom custobenefício para o ambiente urbano. Projetando a partir das preexistências e com ciência das potencialidades locais, é possível aumentar o contato das pessoas com o espaço urbano, criando lugares em espaços antes despercebidos. Devido a sua escala, podem ser implementados e geridos mais facilmente pelo poder público local, além de, pela relação de pertencimento provocada nos moradores do entorno, motivarem um maior cuidado com o espaço.
[Criadas de forma a mimetizar aglomerados de plantas aquáticas que boiam sobre a superfície de lagos e cursos d’água assim como as Wetlands construídas, apresentam grande eficácia na absorção de poluentes, além de poderem ser utilizados para fins paisagísticos. Por serem flutuantes, essas estruturas se adaptam facilmente às mudanças de nível da água e suas raízes constituem um ambiente favorável para o refúgio de peixes e para a reprodução de microrganismos benéficos à qualidade da água.
ILHAS FLUTUANTES
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ANÁLISE DA ÁREA PERCEPÇÕES
Para ouvir da população que se acostumou a ignorar o ribeirão o que elas gostariam de ver quando olhassem novamente para ele, foi necessário realmente sair às ruas e perguntar. Criando um momento de contato com moradores e transeuntes, fiz uma intervenção em área central da cidade, onde expus cartazes com indagações que convidavam a refletir sobre a questão do ribeirão. Coloquei uma mesa e duas cadeiras na calçada, me sentei em uma delas e permaneci ali por algumas horas, aberto a perceber ou receber reações. Algumas pessoas olhavam para a cena atípica e depois de volta para o rio, como se procurando enxergar nele a resposta para si; outras lembravam de imediato casos antigos, da época em que o ribeirão participava de suas histórias; outras apenas reclamavam da situação atual, desesperançosas. Em meio a isso, muitas colocações e sugestões inspiraram e animaram a seguir os rumos para a contuidade desse projeto.
“Podia ter mais água, né… Antigamente a gente nadava muito nele. Mãe até ficava com medo dos filhos afogarem.”
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“É muito mal cheiro… Deve ser ruim pra quem mora por perto.”
“Tiraria esse predião da beirada e plantaria umas árvores no lugar.”
“Tem que limpar e dar vida nova pro rio, ele tá morto! Não sei se tem que canalizar ou deixar aberto, mas tem que limpar sim.”
“Não sei o que fazer, mas sei que tem que fazer alguma coisa. Precisa de mais verde.”
“A única solução pra isso aí é educação! Pau que cresce torto não dá pra endireitar mais não.”
“Aqui é radical a noite, pauleira mesmo. E o cheiro incomoda bastante.”
“Tá tão feio isso aqui que qualquer coisa que eu falar já tá bom. Podia ter um calçadão por aqui, um espaço de lazer…”
“Tem que plantar muita árvore! E parar de jogar lixo!”
Recorrentes nas falas: água limpa mata ciliar: “menos mato, mais árvores” conectividade segurança percepção controle do lixo/esgoto cheiro lazer: brincar, caminhar e andar de bicicleta educação ambiental cuidado
OCUPAÇÃO DAS MARGENS
Para compreensão do caráter urbano da área ao redor do ribeirão São Bartolomeu, foi feita uma análise da ocupação de suas margens dentro da cidade, desconsiderando o trecho existente dentro da propriedade da UFV. Em destaque, tem-se as quadras percorridas pelo ribeirão (indicadas em amarelo), que o abrigam, na maior parte das vezes, no fundo de seus lotes. Para avaliação do padrão de ocupação, foi feito um destaque nas margens do ribeirão, medindo os afastamentos de 15m de seu eixo (legislação municipal para definição de APP) e 30m de seu eixo (legislação do Código Florestal para definição de APP). Foram identificados os lotes que ocupam essas margens, sendo indicados em laranja e vermelho, respectivamente, no mapa ao lado. Essa foi uma análise geral, feita na escala de toda a cidade, utilizada para reconhecimento primário e delimitação da área de projeto. Essa análise serviu para a constatação e definição, como área de projeto, das quadras que possuem um padrão de ocupação mais crítico em relação às margens do ribeirão (quadras 1-7). Como se percebe na área destacada no mapa do lado e conforme esperado pela dinâmica natural da cidade, essas quadras estão localizadas na região mais central de Viçosa.
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Dentre as quadras pré-definidas, foi reduzida a área de projeto às quadras 1-5, por estas serem as mais adensadas e apresentarem um padrão mais invasivo de ocupação das margens do ribeirão, conforme analisado anteriormente.
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CARACTERIZAÇÃO POR QUADRAS A partir da caracterização de cada quadra, foram selecionadas algumas para serem trabalhadas com maior detalhe. Por terem um padrão de ocupação mais crítico, grande fluxo de pessoas e permitirem conectividade ao longo do ribeirão, foram escolhidas as quadras 2 e 3.
Quadra 1 Grande quantidade de edifícios de múltiplos pavimentos Grande fluxo de pessoas Ribeirão canalizado e com edificações nas extremidades (difícil reconexão)
Quadra 2 Grande quantidade de edifícios de múltiplos pavimentos Grande fluxo de pessoas Ribeirão interrompido nas duas pontas por canalização, mas passível de reconexão com a quadra 3.
Quadra 3 Grande quantidade de edifícios de múltiplos pavimentos Grande fluxo de pessoas Ribeirão canalizado nas duas pontas, mas com possibilidade de reconexão com a quadra 2.
Quadra 4 Quatro edifícios de múltiplos pavimentos Baixo gabarito no restante Médio fluxo de pessoas Ribeirão não canalizado, mas estrangulado por edificações (difícil reconexão)
Quadra 5 Predominância de baixo gabarito Médio fluxo de pessoas Ribeirão corre ao ar livre 8
PARÂMETROS
De forma a facilitar as soluções projetuais, foi produzido um conjunto de parâmetros para encontrar características diferenciadoras nos espaços que posteriormente foram alvo de intervenção. Após identificadas as particularidades de cada porção ou “sub-lote” de projeto, sugeriu-se novos usos para eles. É necessário esclarecer que os parâmetros serviram de base para a proposta, mas seus resultados não representam, necessariamente, todos os usos e soluções para o projeto final.
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ESPAÇOS DELIMITADOS E RECOMENDAÇÕES DE USOS
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área a
área b
Plano Predom. residencial Linear
Brincar, estar, descansar, apreciar, caminhar
área c
Inclinado
Plano
Linear
Misto
Contemplar, caminhar
Leve
Andar de bicicleta, descansar, caminhar
Retangular pequeno Intenso
Passar, atravessar, parar, descansar, brincar
Intenso
área e
área f
Plano
Retangular amplo
Inclinado
Linear
Leve
Misto
área d
Estar, descansar, apreciar, reunir, festejar, exercitar
área g
Canalização
Inclinado
Sem construções de difícil remoção
Retangular pequeno
Rio circulando aberto
Leve
área h Inclinado Passar atravessar, parar, descansar, contemplar
Linear
Contemplar, caminhar
Leve
Intenso
área i
área j Plano
Inclinado Retangular pequeno Leve
área k
Passar atravessar, parar, descansar, contemplar
Misto Retangular pequeno
Plano
Brincar, estar, descansar, apreciar
Intenso
área m
Retangular pequeno Intenso
Retangular pequeno Intenso
Linear
Andar de bicicleta, descansar, caminhar
Misto Retangular amplo
Estar, descansar, apreciar, reunir, festejar, exercitar
Intenso
área o Plano
Inclinado Passar, atravessar, parar, descansar, brincar
Misto
Plano
Intenso
área n
Inclinado
área l
Passar, atravessar, parar, descansar, brincar
Misto Retangular amplo
Estar, descansar, apreciar, caminhar, assistir, reunir
Leve
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DIAGRAMAS
DECLIVIDADES
REMOÇÕES
FAIXA DE PROTEÇÃO E VAZIOS INC
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3
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Pode-se perceber que as porções a nordeste das quadras apresentam um relevo mais inclinado se comparado ao das porções a sudoeste.
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Foram determinados que seriam removidas algumas edificações, por obstruírem a visibilidade/acessibilidade do ribeirão e suas margens, ou por não gerarem nenhum benefício ao espaço urbano e não precisarem estar necessariamente na região central. 1 - residência ilhada em um lote usado como estacionamento; 2 - conjunto de comércio conhecido como Shopping Chequer, que se configura como uma barreira física ao acesso e percepção do São Bartolomeu; 3 e 4 - conjunto de galpões de materiais de construção, que invadem a área de preservação permanente e poderiam se localizar no distrito industrial ou em outras áreas mais afastadas.
Para o acesso e uso pleno do espaço ripá vazios preexistentes e espaços gerados p espaços, foi utilizada a APP (15m de cada
CORPORADOS
ACESSOS, CAMINHOS E TRAVESSIAS
EFLUENTES E WETLANDS
ário do São Bartolomeu, foram incorporados pelas remoções. Para interligar todos esses a margem), colorida em vermelho.
Além dos espaços de acesso de grande porte, que receberam usos diversos, planejou-se fazer acessos de menor escala, promovendo maior permeabilidade. Unindo o espaço dado pela faixa de proteção com as limitações impostas pelo relevo, foram desenhados um caminho de pedestre e uma ciclofaixa nas margens sudoeste e apenas caminho de pedestre nas margens nordeste. Adicionou-se ainda algumas travessias, facilitando a conexão entre uma margem e outra.
Foi mantido o interceptor sanitário que já existe na margem esquerda. Na margem direita, devido ao estrangulamento provocado por algumas edificações e pela grande variação altimétrica, não se propôs interceptor ao longo do ribeirão, mas ligação com a rede da rua nos casos em que não houver. Foram propostas wetlands - representadas em verde - para o tratamento de efluentes das intervenções propostas.
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SOLUÇÕES PROJETUAIS IMPLANTAÇÃO ESC 1:1000
viçosa shopping/ bahamas
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O projeto teve início transformando os vazios urbanos das quadras 2 e 3 em acessos e espaços livres, de forma a ampliar a permeabilidade das quadras, a percepção do ribeirão na cidade e a diversidade de usos do espaço urbano. Cada espaço livre adquiriu um caráter diferente, de acordo com suas dimensões, relevo e entorno, e serão ilustrados a seguir nas perspectivas isométricas. Posteriormente, essas intervenções nas bordas foram conectadas ao longo das margens por caminhos para pedestres, e se o relevo permitisse, ciclofaixas, criando uma espécie uma espécie de rua peatonal ao longo do ribeirão. Em alguns pontos foram desenhadas conexões de uma margem para outra, cada uma com suas particularidades, algumas oferecendo oportunidades de permanência, outras apenas servindo de continuidade do caminhar e vencendo desníveis. Para o tratamento das águas do São Bartolomeu, foram propostas ilhas flutuantes, obstáculos e mudanças pontuais no curso explicadas a seguir. Nos espaços livres que demandam uso de água, foram propostas wetlands para o tratamento dos efluentes. Tanto as wetlands como as estratégias de tratamento da água foram inseridas como sugestão de ação, mas não foram dimensionadas por desconhecimento das vazões, cargas de poluentes, níveis de turbidez da água, etc.
terminal municipal de ônibus
O comércio popular conhecido como Shopping Chequer, por ter uso já consolidado na cidade, foi realocado parte para a atual rodoviária, considerando uma reestruturação do seu edifício em um terminal municipal de ônibus, parte para uma praça comercial com 16 lojas e banheiros públicos, onde não mais obstrui a paisagem da cidade e a visada do ribeirão. Dois banheiros públicos foram também previstos para a área atrás da travessa dos estudantes.
Barreiras no curso do ribeirão para represálo e promover oxigenação da água ao movimentá-la.
Canal de filtragem: parte da água é desviada e filtrada num leito mais alto, com obstáculos e vegetação macrófita.
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IMPLANTAÇÃO TÉCNICA ESC 1:1000
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Algumas considerações: As cotas gerais sugerem as medidas dos deslocamentos nas bordas das quadras; As cotas de nível foram arredondadas para ter apenas uma casa decimal; As curvas de nível apresentam desníveis de 5 em 5m; Tanto os caminhos de pedestre quanto as ciclovias ao longo do ribeirão foram desenhadas com no mínimo 2,5m. Todas as escadas apresentam espelho de 17cm e largura mínima de 2m; Todas as rampas apresentam largura mínima de 1,6m e inclinação máxima de 8,33%. Legenda
Faixa de APP (15m de cada margem)
Jardins filtrantes (Wetlands)
Ilhas flutuantes 18
PERSPECTIVAS ISOMÉTRICAS
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Pocket park de pequenas dimensões. Abrigo para se proteger da chuva e do sol forte. Bicicletário. Balanços para brincar apreciando a vista. Escadaria com patamares de permanência e canteiros para livre apropriação. Obstáculo no ribeirão feito de toras de eucalipto fincados no leito, que forma um microhabitat para peixes e atua como filtro natural.
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Espaço livre com pouco mobiliário e bastante espaço livre para abrigar atividades culturais. Cobertura com parte opaca e parte vazada. Anfiteatro aberto. Rampa parte gramada, parte pavimentada com pavimento permeável. Conexão transversal através de passarela-rampa que liga um deck de cada lado dos caminhos de pedestres. Ilha flutuante.
INTERFACES PÚBLICO / PRIVADO As interfaces entre o projeto e as àreas privadas (limites dos lotes) foram representadas nas isométricas como planos vermelhos. Essa representação diagramática siginifica que essas interfaces, que fogem ao escopo do projeto, podem assumir variadas formas, mas aqui se sugere que elas assumam caráter transparente, como cercas vivas, grades, ou mesmo comércios, reconhecendo o caminho de pedestres como uma nova via e assegurando o contato entre os dois lados. Assim, recomenda-se que não sejam erguidos muros opacos - naturalmente agressivos e segregadores.
situação indesejada
situações recomendadas
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Praça ampla com predisposição à atividades de lazer ativo. Duas quadras pavimentadas e um campo gramado. Espaços livres para atividades diversas. Arquibancadas. Skatepark. Esquina com comércio popular (Shopping Chequer remodelado) e dois banheiros públicos com vestiário. Coberturas para abrigo do sol e da chuva, bancos para prosa e descanso. Wetland para tratamento do efluente proveniente do comércio e dos banheiros como parte do paisagismo. Arquibancada na beira do ribeirão com passagem no nível da água tipo stepping stones. Obstáculo formado por troncos e pedra.
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4
Praça com bancos-canteiro e pavimentação permeável colorida. Deck que avança e permite maior visibilidade do entorno. Rampas com patamares de descanso, parte gramados. Escorrega de um patamar para outro. Ponte ampla, tipo deck, para parar e ver as águas correndo. Pedras no rio para movimentar a água e aumentar a oxigenação.
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5
Espaço de parada e circuito de caminhada. Pavimentação permeável que pode abrigar estruturas móveis de alimentação. Abrigo pequeno para pedestres, com banheiros públicos. Elevações de terra gramada que delimitam espaços e servem também para brincar, deitar, encostar e outras possibilidades ainda a serem descobertas. Wetland para tratamento dos efluentes dos banheiros públicos e das estruturas 23
de alimentação. Bicicletários. Mobiliário de madeira com desníveis. Deck que avança sobre o talude e chega mais próximo ao São Bartolomeu. Obstáculos nas águas: pedras e troncos fincados. Balanços para adultos e crianças. Canal de filtragem mais raso que o ribeirão, com pedras e vegetação macrófita. Ilha flutuante.