ccbf R E V I S TA S E M E S T R A L
EM FOCO
VOL 01 / 14 DEZ 2017
r e l açõ e s d i p lom át ica s
p enedo: uma col ôni a
b r a s i l - F i n lâ n d ia
fi nl andesa no brasi l
Breve história da Embaixada do Brasil
Toivo Uuskallio, fundador de Penedo,
O curso, criado em 2008, tem o obje-
em Helsinque e do Centro Cultural
conta ter recebido um chamado para
tivo de abrir um espaço permanente
Brasil-Finlândia (CCBF).
emigrar para o Brasil.
de troca de ideias em português.
O clube da cultu r a
ccbf em foco U m a rev ist a pro duzida po r a l un o s e p ro fesso res do Centro Cul tura l Bra s il Finl â n dia (CCBF ).
I N trod u ç ão
As atividades dos CCBs concentram-se
Os textos publicados são o resultado
sua vertente brasileira. Abrangem,
no ensino da língua portuguesa, em também, exposições, concertos,
do trabalho desenvolvido durante o
seminários, palestras, entre outras
curso Clube da Cultura, ministrado
iniciativas voltadas à difusão da cultura
para os alunos de nível avançado do Centro Cultural Brasil-Finlândia (CCBF). O foco, nesse contexto, é no crescente
brasileira. O Centro Cultural Brasil-Finlândia
interesse, por parte daqueles que
(CCBF) faz parte da Rede Brasil
vivem na Finlândia, nos mais variados
Cultural, instrumento do Ministério das
temas que compõem o rico universo
Relações Exteriores para a promoção
multicultural brasileiro. O objetivo é
da língua portuguesa e da cultura
mostrar a diversidade e a solidez que permeiam as relações culturais entre o Brasil e a Finlândia.
brasileira no exterior.
co ntat o
Os textos produzidos pelos alunos
Centro Cultural Brasil-Finlândia (CCBF)
foram mantidos bem próximos de sua
Embaixada do Brasil em Helsinque
forma original.
Itäinen Puistotie 4 B 1 00140 - Helsinque
Qu e m s omos
Finlândia
Os Centros Culturais Brasileiros (CCBs)
Telefone: +358 9 68415029
são extensões das embaixadas a que
Email: ccbf.helsinque@itamaraty.gov.br
estão vinculados. Os primeiros centros
Facebook: @ccbfhelsinki
resultaram de missões culturais enviadas pelo Itamaraty, nos anos 1940, a embaixadas na América do Sul. Atualmente, os 24 centros em atividade distribuem-se em quatro continentes: África (6), América (13), Europa (3) e Oriente Médio (2).
2
conteúdo
04
13
AS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS ENTRE O BRASIL E A FINLÂNDIA
BREVE HISTÓRIA DO SAMBA NA FINLÂNDIA
06
VISITA DO IMPER AD OR D. P ED R O I I A F INLÂND IA
17
MÚ S IC A B RA S IL E IRA N A FIN L Â N DIA
08
B RASI L E F I NLÂND IA - DU A S N AÇ ÕES UNIDAS PELO C A FÉ
21
O C L U B E DA C U LTU RA
10
P ENEDO: UMA C OLÔNIA FINLAND ESA NO BR ASI L
3
01 As relações diplomáticas entre o Brasil e a Finlândia B reve histó r ia da E m ba ixa da do Bra s il em Hel sinq u e e do Ce ntro Cul tura l Bra s il -Fin l â n dia .
O maior país da América Latina tem
No Brasil, o potencial da Finlândia também
representação na Finlândia há mais de
foi notado e no verão de 1920 o consulado
150 anos, tendo sido o primeiro país
brasileiro foi inaugurado em Helsinque,
da América Latina a inaugurar uma
tendo como responsável o Cônsul Horácio
embaixada em Helsinque.
Sully de Sousa.
O Brasil nomeou o seu primeiro cônsul
O Brasil nomeou seu primeiro embaixador
para a Finlândia em 1861, sendo
residente em 1938, um ano depois
que os mesmos cônsules honorários
que a Finlândia tinha nomeado o seu
finlandeses trabalhavam também como
primeiro embaixador no Rio de Janeiro. O
representantes de outros países como, por
Embaixador Gilberto Amado era conhecido
exemplo, os Estados Unidos da América.
como escritor, político e diplomata.
A República Federativa do Brasil
A segunda guerra mundial complicou
reconheceu a independência da Finlândia
o estabelecimento da embaixada em
no dia 26 de dezembro de 1919.
Helsinque. O Brasil lutou junto com os Países Aliados e nenhum embaixador foi
Nos anos 20, os finlandeses se
nomeado entre 1943 e 1945. Contudo,
interessavam pelas oportunidades
ao contrário do que aconteceu com a
econômicas na América do Sul e,
Alemanha, o Brasil não quebrou relações
logo depois do reconhecimento da
diplomáticas com a Finlândia.
independência da Finlândia, o consulado finlandês foi inaugurado no Rio de Janeiro.
4
Na relação entre o Brasil e a Finlândia, a década 1950 foi o período no qual o comércio melhorou muito e o Brasil chegou a ser um dos melhores sócios da Finlândia fora da Europa. Entretanto, mudanças na economia mundial e instabilidades internas causaram já na próxima década uma queda do comércio entre os países. Apesar disso, hoje em dia, existem várias empresas finlandesas que estão atuando também no Brasil. E os dois países firmaram vários contratos de cooperação a partir da década de 70. Na mudança do milênio, as visitas de Ministros e Chefes de Estado aumentaram, com destaque para a visita do Presidente Luís Inácio Lula da Silva à Finlândia (2007), a visita do Primeiro-ministro Jyrki Katainen ao Brasil (2012), e a visita da Presidente Dilma Rousseff à Finlândia (2015).
O n ovo co m eço na r u a M a r ia n k atu Depois da guerra, Carlos de Figueiredo foi designado ao cargo de Embaixador e mudou sua residência para o endereço Mariankatu 7. Esse prédio chamava-se Casa de Borgström (Borgströmin talo). Em 1951, a chancelaria da Embaixada também foi transferida para o mesmo lugar. A Embaixada ficou na Mariankatu por mais de quatro décadas, até que todas as suas atividades foram movidas para o bairro Kaivopuisto, no meio de década 1990. A Embaixada do Brasil mudou-se ao mesmo tempo que a Embaixada da Itália para o endereço Itäinen Puistotie 4. O prédio abriga também a Chancelaria da Embaixada, o Centro Cultural Brasil-Finlândia (CCBF) e a residência do Embaixador.
Um ra ro Centro de Cu l tura A Finlândia é um dos três países europeus onde a o Brasil mantém um Centro Cultural. Além de Helsinque, os centros estão localizados em Barcelona e Roma. O estabelecimento do Centro Cultural na Embaixada do Brasil em Helsinque, em 2001, aconteceu graças à iniciativa do Embaixador Luiz Henrique Pereira da Fonseca. As atividades do CCBF concentram-se fortemente no ensino de língua portuguesa, oferecendo cursos que variam entre o nível básico e avançado. Em média, mais de cem alunos participam dos cursos por ano. A língua portuguesa tem também um importante papel na embaixada e em suas atividades culturais, sendo um meio de manter os brasileiros e seus descendentes conectados ao Brasil e à cultura brasileira. Por outro lado, a embaixada tenta também reunir estudantes estrangeiros do idioma e estudantes brasileiros que mudaram para a Finlândia em atividades informais, organizadas periodicamente. A embaixada também faz muito trabalho cultural tradicional, por exemplo, no campo da literatura, da música e da educação, trazendo escritores, músicos e pesquisadores brasileiros à Finlândia. Fontes: Mailmanympärimatka Helsingissä - suulähetystöt ja niiden historia Ministério das Relações Exteriores do Brasil Tradução dos alunos: Marika Poutiainen, Tuomo Metsäketo e Hanna Arkio-dos Santos Revisão e adaptação: Professora Patricia Carvalho Ribeiro
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02 Visita do imperador D. Pedro II à Finlândia Há ma i s de cem a nos, alguns visit antes d a Am ér ic a L ati n a ch ega ra m à Finlând ia. O visit ante mais impo r ta nte fo i o I mpe rad or d o Brasil, D om Ped ro II, q ue ch ego u em Ha nko, em 26 d e agosto d e 1876. Um relato do Serviço de Imigração Finlandês conta que o Imperador seguiu de trem para Viipuri, com três acompanhantes, e que parecia um cientista, de barbas grisalhas, carregando muitos livros. Ainda segundo o registro, D. Pedro encontrou mais pessoas em Viipuri e seguiu viagem de barco pelo lago Rättijärvi, passando por Imatrankoski e pernoitando em Lauritsala. No canal Saimaa, o ilustre visitante recebeu flores de uma menina, gravou seu nome em uma pedra e voltou para Viipuri no dia seguinte, continuando sua viagem depois para São Petersburgo. Inspirado nas poucas informações encontradas sobre a visita do imperador brasileiro, o aluno Tuomo Metsäketo, do Clube da Cultura, escreveu o que seriam as memórias de D. Pedro II sobre esse memorável dia em Imatrankoski: 27 de agosto de 1876 Hoje levantei cedo. O ar puro deste país me dá muita energia de manhã. Mesmo que eu tivesse caminhado muito ontem naquele lugar chamado Lauritsala, não me sentia cansado. Os meus anfitriões aqui queriam me mostrar um mirante espetacular em Imatrankoski. Entendi que eram umas corredeiras. Então, pegamos o trem outra vez e viajamos duas horas para o leste. Chegamos a este lugar pelo meio da mata, de onde continuamos a pé pela trilha estreita. Depois de uns quinhentos metros, senti o ar mais úmido e logo vi as corredeiras magníficas. Claro que não eram grandes cataratas como as do Iguaçu, mas eram bonitas. O lugar era tão especial que eu queria deixar alguma coisa de mim lá, então, gravei meu nome e a data numa pedra que vi ao lado da trilha. Talvez, um dia, chegue um outro brasileiro e veja essa gravação e se sinta orgulhoso de ser brasileiro.
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R e gi s t ro s dessa histó r i c a v is ita O aluno Saku Jukarainen viajou para o local onde tudo aconteceu e fotografou a pedra tão famosa, e uma placa registrando a visita.
Fonte: http://www.migri.fi/tietoa_virastosta/maahanmuuton_historiaa/ensimmaiset_etelaamerikkalaiset_suomessa Tradução do inglês para o português e adaptação: Professora Patricia Carvalho Ribeiro
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03 Brasil e Finlândia - duas nações unidas pelo café U m o u tro a co ntec im ento c ur io s o m a rco u a histó r ia de a m iz a d e entre es tes do is pa ís es tã o dist a ntes: u m n av io c a r rega do de c a fé!
A entrega foi esperada por tanto tempo
Hércules chegou à cidade de Turku um
que, quando o navio chegou, o repórter do
pouco antes da meia-noite, no dia 24
jornal Helsingin Sanomat escreveu: “Toda
de fevereiro de 1946. O carregamento
a nação finlandesa estava com a respiração
incluía 350 toneladas de algodão, mais de
suspensa seguindo o navio a cada nó”.
300 toneladas de tabaco, 200 toneladas de sebo para fabricação de sabão,
O navio de carga Hércules partiu do Brasil,
medicamentos e outras coisas.
mais precisamente do Rio de Janeiro, em 14 de fevereiro de 1946, carregado de
A parte mais importante desse
mercadorias para este pequeno país que
carregamento, contudo, eram as 2.300
se recuperava de três guerras.
toneladas de puro café brasileiro!
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Segundo relato do jornal Helsingin Sanomat, quando Hércules finalmente lançou suas âncoras no porto de Turku, subiram ao convés a enfermeira de plantão Johansson, o capitão do porto Nyman, o mestre do porto Skogström e os jornalistas. O comandante do navio Gunnar Möller levou, então, os convidados ao salão do navio, onde havia uma mesa com pilhas de cigarros e charutos brasileiros. A chegada do primeiro navio de café durante o pós-guerra foi um acontecimento tão grande que a embarcação foi recebida também por centenas de moradores de Turku, três ministros, o gerente geral do Banco da Finlândia, o Embaixador do Brasil, bem como representantes da torrefação Paulig e gerentes da fábrica de tabaco de Rettig. Hércules foi o primeiro navio de carga que chegou da América do Sul para a Finlândia desde 1939. Essa chegada foi, simbolicamente, muito importante para a Finlândia; um indício de que tempos melhores viriam pela frente; de que a paz e a reconstrução haviam começado; de que, durante os intervalos do trabalho de construção, um genuíno café brasileiro poderia ser bebido.
Fonte: http://www.hs.fi/kulttuuri/art-2000005209500.html?share=ce330df492fae75290ef89902b2c04e4 Colaboração: Aluna Marika Poutiainen Tradução e adaptação: Professora Patricia Carvalho Ribeiro
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04 Penedo: uma colônia finlandesa no Brasil Em seu livro “Na Viagem em Direção
O estabelecimento da colônia
à Magia do Trópico”, Toivo Uuskallio,
Como previsto no Projeto Habitacional
o idealizador e fundador da colônia
de Penedo, nos primeiros anos, até que
finlandesa de Penedo, conta ter recebido um chamado para deixar sua terra natal e emigrar para o Sul. Por isso, em meados
cada um pudesse construir sua casa em um dos 250 lotes da fazenda, a vida foi em comunidade. Praticava-se uma
de 1927, embarcaram para o Brasil Toivo e sua mulher Liisa, acompanhados de três rapazes que compartilhavam do seu sonho de viver no longínquo Sul, onde o clima permitiria uma vida mais natural, gozando dos benéficos raios solares. Também
lavoura de subsistência e cultivava-se viveiros de mudas de laranja cuja venda constituía a principal fonte de renda da colônia. Muitos, decepcionados com as duras condições de trabalho, retornaram à Finlândia. As terras da Fazenda Penedo
fazia parte de seu programa de vida, a alimentação vegetariana e a abstenção de bebidas alcoólicas, chá e café.
não eram boas. Assim, alguns obtiveram de volta o dinheiro que tinham investido e procuraram outras terras.
Inicialmente, Uuskallio e o grupo foram contratados para trabalhar numa fazenda de propriedade do Mosteiro de São Bento, em Três Poços, nas proximidades da atual Volta Redonda, Estado do Rio de Janeiro.
Com a queda da indústria da laranja na Baixada Fluminense, esse mercado acabou e os finlandeses tiveram que procurar outras alternativas. Foi tentado o cultivo de tomate, mas as dificuldades de fazer
Com esta experiência, os agricultores
chegar a produção ao mercado fizeram
finlandeses começaram a conhecer as
com que alguns se dedicassem à criação
culturas praticadas no Brasil e puderam
de galinhas. E, agindo em conjunto,
planejar uma maneira de implantar a sua
comprando rações e víveres por atacado,
colônia ideal.
acabaram formando uma cooperativa informal. Essa cooperativa informal foi a
Toivo voltou para a Finlândia em 1928,
base do atual Clube Finlândia, fundado em
onde publicou o livro “Matkalla Kohti Tropiikin Taikaa” (Na Viagem em Direção à Magia do Trópico), relatando suas ideias e impressões de viagem e dando o primeiro passo na implantação de seu projeto de fundar uma colônia finlandesa vegetariana no Brasil.
1943.
A dispersão da colônia O final da década de 1930 foi de grandes dificuldades. A vida só melhoraria para os finlandeses com a venda, em 1942, de parte da fazenda a uma companhia suíça que lá estabeleceu a Companhia Plamed, para a produção de plantas medicinais.
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Com o produto dessa venda, Uuskallio conseguiu saldar suas
Naquela época, havia o hábito de se passar as férias anuais,
dívidas; tinha hipotecado a fazenda e todos se beneficiaram.
geralmente de duas semanas, em hotéis fazenda, em regime
Alguns receberam de volta o que tinham investido, outros
de pensão completa.
obtiveram trabalho nos serviços de plantio de eucaliptos, beneficiamento das essências medicinais, e na construção de
As reservas eram feitas por carta, já que telefones
estradas e pontes.
praticamente não havia, e os hóspedes chegavam após viajar por 6 horas de trem do Rio, ou um pouco mais de São Paulo.
Foi nesse período que a indústria hoteleira de Penedo teve
Da Estação Marechal Jardim, onde desembarcavam, eram
seu início. A Colônia - com seus habitantes loiros e costumes
transportados para Penedo às vezes até de carro de boi,
diferentes, a sauna por eles introduzida, seus bailes com
quando não havia uma charrete.
polcas, mazurcas e tangos - atraía as pessoas. A boa comida e a vida simples e agradável fazia com que A Casa Grande, desocupada pelos colonos, passou a
voltassem e recomendassem aos amigos. Com a ampliação
funcionar como o primeiro hotel de Penedo. Com o aumento
das casas, nasceram as pensões de D. Lídia, D. Hilja, D. Siiri e
do movimento, os finlandeses passaram a receber hóspedes
D. Liisa.
também em suas casas.
Toivo Uuskallio, idealizador da Colônia Finlandesa de Penedo.
1979 - Maila-Kaarina, ex-diretora do CCBF, celebrando os 50 anos da imigração finlandesa em Penedo (Brasil), com Liisa Uuskallio e Toivo Uuskallio.
11
Pe n edo ho j e
O turismo, verdadeira vocação de Penedo, fez com que as primeiras pensões completas se transformassem em uma rede de 52 hotéis e 39 restaurantes, lanchonetes e bares. Mas, não sendo nem de duas dezenas o número de finlandeses atualmente residentes em Penedo, existe uma grande preocupação de preservar a presença finlandesa. Para isso, tem atuado o Clube Finlândia, fundado em 1943, em cujos bailes dos sábados se apresenta o Grupo de Danças Tradicionais, e que desde 1993 abriga o Museu Finlandês da Dona Eva, museu no qual podem ser vistas, através de peças antigas e modernas, a arte e a cultura da Finlândia. O museu tem recebido cerca de 500 visitantes por mês. A cidade de Penedo hoje é focada em turismo romântico para casais com mais de 30 anos que gostam de apreciar bons queijos e vinhos. Fontes: http://www.migrationinstitute.fi/gallery/Etela-Amerikka%20-%20Latin%20America/Utopiayhteisot%20-%20 Utopian%20societies/Penedo/slides/ETA_0585.html https://pt.wikipedia.org/wiki/Penedo_(Itatiaia) Adaptação: Professora Patricia Carvalho Ribeiro
12
05 Breve história do samba na Finlândia O samba seria ideal para os finlandeses tímidos porque não precisava de um parceiro de dança. Jussi, então, foi o responsável por ensinar os passos de samba e Matti Koskiala (o seu professor de bateria no conservatório Pop & Jazz de Oulunkylä) ensinou as pessoas interessadas em tocar os tambores. No início dos anos 70, alguns imigrantes finlandeses voltando do Brasil para Finlândia queriam manter as suas novas tradições brasileiras e, por essa razão, foi fundada a Associação Finlândia-Brasil, em 1975. Os primeiros membros da associação incluíram a família Virkkilä, cujo filho mais novo Juhan “Jussi” Virkkilä nasceu em Penedo, no dia 3 de Fevereiro de 1953. No inverno de 1976, a Associação fez sua primeira festa de carnaval em Helsinque enquanto Jussi estava no Brasil. Quando ele voltou para Finlândia, ele soube que a festa tinha sido um grande sucesso, com música brasileira tocada durante toda a noite. O único problema tinha sido que ninguém sabia dançar o samba.
O iníc io d o sa m ba n a Fin l â n dia As aulas semanais de samba começaram na Merimelojien Maja, em Töölö, Helsinque, no ano de 1976. No carnaval de Março de 1977, a escola de samba da Associação FinlândiaBrasil apresentou duas alas de sambistas (entre 10 e 70 anos de idade), junto com a bateria e o casal de mestre-sala e a porta-bandeira. Jussi ensinou os passos de samba e, além de ser passista e ritmista, também foi o anfitrião da festa! O planejamento do carnaval seguinte começou no verão e, a partir do outono, a escola de samba estava disponível para fazer shows com um grupo chamado Samba Nova. O primeiro evento foi a festa do outono da empresa de engenharia Jaakko Pöyry. O samba se tornou tão popular que na Merimelojien Maja tinha uma fila de pessoas para cada aula. Sempre tinha música ao vivo nas aulas. Jussi era ritmista, além de ensinar os passos de samba. Matti Koskiala e outros professores de música trouxeram os seus alunos para praticar com a escola de samba. Muitos bateristas profissionais visitaram as aulas para ouvir os ritmos novos e exóticos.
13
14
A festa de carnaval de 1978 foi realizada no restaurante
A escola de samba mais antiga ainda em atividade
Kaivohuone, com duas alas de 50 sambistas e bateria de 20
(Maracanã de Lahti) foi fundada em 1981.
ritmistas. Um dos convidados da festa naquela noite foi José Augusto de Macedo Soares, o Embaixador do Brasil.
A primeira competição na Finlândia entre sete escolas de samba foi realizada no restaurante Kaisaniemi, em 1984. A
O samba estava na moda e o grupo Samba Nova foi
primeira campeã foi Samba Nova, de Helsinque. O troféu foi
solicitado para fazer shows em todos os lugares e eventos,
um surdo feito à mão chamado “Jussin surdo” (O surdo de
programas de televisão e até um show finlandês-brasileiro
Jussi) nomeado em honra ao falecido Jussi Virkkilä, o homem
de Lenita Airisto, que foi coreografado por Jussi.
que trouxe o samba para a Finlândia.
D os anos 80 até o presente
Durante as festividades do Vappu de 1978, o primeiro desfile de samba foi realizado em Helsinque. A escola
Para surpresa de todos, em 1985, a competição tinha só
de samba desfilou desde a estátua de Mannerheim, ao
três participantes - todos de Helsinque. A princípio, seria
longo da Mannerheimintie e da Esplanada, até a estátua
o fim do samba na Finlândia. A maior escola de samba de
Havis Amanda. O povo ficou entusiasmado durante todo o
Turku (Apito) não pôde competir porque estava desfilando
caminho e até alguns policiais dançaram.
em Copenhague. No mesmo ano, a escola de Turku desfilou várias vezes na Dinamarca e na Suécia e, no ano seguinte, a
O auge do S amba na Finlândia
escola de samba Apito foi a primeira escola finlandesa que
Em 1978, a escola de samba tinha superado a Associação
desfilou como um grupo próprio no carnaval de Copenhague,
Finlândia-Brasil e cada aula de samba tinha centenas de
com mais de cem sambistas e ritmistas de toda a Finlândia.
participantes, sem qualquer tipo de propaganda. Por
Em 1987, foi organizado o primeiro encontro internacional
causa do número significativo de integrantes da escola de
de samba na Finlândia (Turku), com participantes da
samba (três vezes mais sambistas que membros da própria
Dinamarca, Suécia e Londres.
Associação Finlândia-Brasil), a independente Associação de Samba (Samba ry) foi oficialmente fundada. Jussi sempre
Na segunda metade dos anos 80, foram fundadas as maiores
imaginou que a escola seria mais que uma simples escola de
escolas de hoje: Carioca em Turku (1986), União da Roseira
dança. A escola deveria também ser um lugar para encontrar
em Tampere (1987) e Império do Papagaio em Helsinque
os amigos, tocar instrumentos e para aproveitar a vida. Em
(1989). De muitas maneiras estas escolas de samba de
resumo, deveria ser como uma autêntica escola de samba
hoje representam o retorno para os ideais mais antigos
brasileira, um lugar para toda a comunidade se reunir.
de Jussi. Quando a popularidade diminuiu, as escolas se concentraram em aspectos mais essenciais, tornando-se
O samba se tornou cada vez mais popular e mais comercial.
mais autênticas. Em vez de serem apenas grupos de show
O grupo Samba Nova fazia centenas de shows durante o ano,
como muitos outros países têm, as escolas de samba da
incluindo propagandas e eventos comerciais na Dinamarca.
Finlândia são grêmios recreativos onde os membros se
Muitos hotéis e restarurantes começaram as suas próprias
reunem para criar o desfile de samba todos os anos. Este
festas do inverno e novas escolas de samba foram fundadas
aspecto distingue o carnaval finlandês dos outros países do
em Helsinque e Tampere para responder à crescente
mundo.
demanda. Desde a época de Jussi Virkkilä, o carnaval na Finlândia tem Em 1980, Jussi estava gravemente doente, com câncer, mas
sido quase que exclusivamente organizado pelos finlandeses
alguns meses antes de sua morte ele ainda teve energia para
para finlandeses. Em outros países, os grupos de samba são
organizar um novo desfile de samba em Helsinque, saindo da
chefiados e ensinados pelos imigrantes latinoamericanos e
Embaixada do Brasil, em Mariankatu, seguindo ao longo da
uma grande parte dos participantes nas escolas têm raízes
Esplanada e terminando na Casa Estudantil. Jussi morreu em
na América Latina. Uma outra característica do samba
9 de Novembro 1980, em São Paulo.
finlandês é que as letras dos sambas-enredos são escritas em finlandês, enquanto nos outros países se usa português
O início dos anos 80 foi o auge das escolas de samba na
quase que exclusivamente.
Finlândia. A cidade de Tampere tinha três escolas de samba; ao redor da cidade de Turku tinha outras três escolas; e a Associação de Samba de Helsinque continuava com centenas de sambistas toda semana.
15
O primeiro Carnaval de Samba organizado pela Associação das Escolas de Samba da Finlândia foi em Turku, em 1991, e o segundo em Tampere, em 1992. O evento foi organizado pela primeira vez em Helsinque, em 1993, e, desde então, nunca mais saiu desta cidade. Para os espectadores, o evento parece um desfile simples, mas para as escolas é uma competição como os desfiles do Rio de Janeiro. As escolas se preparam para o evento o ano inteiro. Atualmente, a Associação das Escolas de Samba da Finlândia tem sete escolas que são elegíveis para competir pelo campeonato. As escolas são julgadas em vários quesitos, incluindo o sambaenredo, a bateria, e a apresentação de mestre-sala e porta-bandeira. Fonte: Suomisamban Historia, de Hannele Leppäneva, Mikki Moisio, Matti Koskiala e Christer Gorschelnik. Tradução, adaptação e pesquisa: Aluno Tero Nieminen Revisão: Professoras Helena Noto e Patricia Carvalho Ribeiro
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06 Música brasileira na Finlândia O cená r io d e p o l ític a de bo a v izin h a n ç a co m o s E st a do s U nid o s, entre 1933 e 1945, po de ter t id o u m a gra nde in fl uên c ia n a c h ega da da m ú sic a b ra s il eira à Fin l â n dia . A carreira de Carmen Miranda em
A década de 50 foi rica em gravações
Hollywood apresentou o Brasil ao
finlandesas de músicas brasileiras ou
mundo e vários filmes chegaram até
inspiradas nos ritmos do Brasil, como
aqui: Copacabana (1947, diretor Alfred
é possível observar através desta lista
E. Green), lançado na Finlândia em
resumida de gravações:
18 de maio de 1950; filmes da Disney, como Saludos Amigos (Alô, amigos), de
*Eero Väre - Ramblers-orkesteri, dir.
1942, lançado na Finlândia em 17 de
Klaus Salmi (9.5.1950) - Copacabana,
abril de 1953, e The Three Caballeros
beguine (2:27), (João de Barro - A.
(Você já foi à Bahia?), de 1944, lançado
Ribeiro, Kullervo, Kaarlo Valkama);
na Finlândia em 18 de maio de 1951.
*Violakvartetti (21.10.1952) - Maxixe (Amapa) (3:17), (J.Storoni, sov. Erkki Aaltonen); *Paul Norrback, acordionista (1953) - Tico tico, samba (2:05), (Abreu, arr. Paul Norrback); *Kipparikvartetti - Decca-yhtye, dir. Harry Bergström (22.4.1954) - Rosvojen laulu, baion (2:42)(brasilialainen kansansävelmä, Kullervo, Harry Bergström);
17
*Per-Erik Förars, violino e Ingmar Englund, violão (7.7.1955) - Tico-tico, rumba (2:20), (Z. Abreu); *Matti Viljasen Septetti (17.2.1956) - Brasilialainen ukulele (Cavaquinho), samba (2:21), (Laurindo Almeida, arr. M.Viljanen); *Sacy Sand yhtyeineen (11.10.1956) - Brazil, samba (2:49), (Ary Barroso, letra Kari Tuomisaari); *Ragni Malmstén (1958) - Mä haaveksin, (Ary Barroso, letra R.R. Ryynänen); *Georg Malmstén - NEA-orkesteri (1950) - Kohtalokas samba (Kalle Tappinen) (3:06), (Georg Malmstén, arr.K.Valkama); *Veikko Lavi - Ramblers-orkesteri, dir. Klaus Salmi (3.11.1953) - Savolainen fakiiri, samba (3:03), (Pentti Viherluoto, Veikko Lavi, Matti Viljanen); *Turkka Grönblom - Erkki Ertaman yhtye (-10.1956) - Taatalan samba (2:26), (Turkka Grönblom, arr. Erkki Ertama).
Ca nto ra s de dest a que Laila Kinnunen (1939-2000) foi a cantora finlandesa mais popular nos anos 50 e 60 e foi a responsável por lançar em finlandês Ipaneman Tyttö, versão do grande sucesso de Tom Jobim “Garota de Ipanema”.
Carola Standertskjöld (1941-1997) foi uma cantora de jazz e pop finlandês. Cantou em 9 línguas e gravou “Água de beber” e “Upa Neguinho”.
Liisa Tavi (1956), de Joensuu, foi uma cantora política. Seus principais sucessos são versões em finlandês para grandes sucessos sul-americanos: Elämälle kiitos (Gracias á la Vida), Jäähyväiset aseille (Despedida às armas) e canções de Chico Buarque, com destaque para a música Rakennus (Construção).
18
Emma Salokoski (1976), de Helsinque, gravou “Mas que nada” de Jorge Ben, com o Emma Salokoski Trio.
M ú sic a I nstr u m enta l e Ja zz
Jarkko Toivonen é um violonista que toca um repertório de bossa-nova na Finlândia e já fez colaborações com músicos brasileiros.
A UMO Jazz Orchestra fez uma colaboração em 2015 com o compositor Itiberê Zwarg e o multi-instrumentista Hermeto Pascoal.
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Heikki Sarmanto é um pianista e compositor de jazz. Gravou o álbum Horizons - A Lua Luará (2003), com Claudya de Oliveira, Fernando Brant e Juarez Moreira.
M ú sico s e ba nda s que a n im a m a s fes ta s b ra sil eira s na Finl ân dia atua l m ente *Banda Mirkka & Madrugada, 2006, forró *Banda Caipirinha (1998 - Sérgio Bastos) *Escolas de Samba na Finlândia *Banda Reggae Papagaio (1998 - Kari Winqvist e Ira Multaharju) *Banda Sambaki Fontes: Kansalliskirjasto https://www.kansalliskirjasto.fi/ Suomen äänitearkisto https://www.aanitearkisto.fi/ Ipaneman tytön matka Suomeen – Bossanovan vaiheita suomalaisessa populaarimusiikissa (Pro gradu -tutkielma, Anni Wilkman) https://jyx.jyu.fi/dspace/bitstream/handle/123456789/9902/1738.pdf?sequence=1 Pesquisa: Alunos Saku Jukarainen e Tuomo Metsaketo Revisão e adaptação: Professora Patricia Carvalho Ribeiro
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07 O c l u b e d a c u lt u r a O projeto Clube do CEB surgiu em 2008 com o principal objetivo de abrir um espaço permanente de troca de ideias e informações em língua portuguesa e, assim, criar para os alunos um ambiente natural para que eles pudessem continuar praticando o idioma mesmo depois de concluir todos os cursos regulares. No Clube da Cultura, como é chamado atualmente, os participantes podem exercitar e desenvolver suas habilidades línguísticas, propor temas para apresentações e debates, além de desfrutar de um ambiente descontraído que traz um pedaço do Brasil para a Finlândia. Alguns dos participantes do Clube já frequentam o CCBF há mais de dez anos e seus depoimentos exprimem um pouco da importância que o nosso grupo tem em suas vidas:
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Tenho estudado português no Centro desde 2007 e participo o Clube porque há oportunidade de falar português e aprender mais da cultura brasileira em boa companhia. - Tuomo Metsäketo, Helsinque
Eu comecei estudar português na Embaixada do Brasil em março de 2005. No mesmo ano, em novembro, eu mudei ao Brasil. Por esses oito meses eu aprendi o básico da língua portuguesa; então consegui mudar ao lugar onde pessoas não falavam inglês. Eu morei no Brasil quase um ano. Quando voltei para Finlândia, eu continuei estudar português na Embaixada do Brasil. No Brasil meu português melhorou muito, mas eu queria aprender também gramática e escrever português. Eu terminei todos os cursos de gramática há muito tempo, mas depois eu continuei a estudar no CCBF participando das aulas de Clube da Cultura. Para mim estudar na Embaixada é hobby e coisa importante. Uma vez na semana eu posso falar e aprender mais português, encontrar pessoas que tem a mesma paixão pela língua portuguesa e aprender mais sobre a cultura do Brasil. Eu adoro os cursos do Clube da Cultura! - Hanna Arkio-dos Santos, Helsinque
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Pela primeira vez participei no clube da cultura cinco anos atrás, e desde então tenho estado cada vez mais interessado em todas as coisas relacionadas à cultura e história brasileira. Apesar de recentemente começar a estudar português na universidade, creio que a melhor maneira de aprender ainda mais sobre o Brasil é continuar conversando com os brasileiros no ambiente mais informal do CCBF. - Tero Nieminen, Helsinque
Fiz meu primeiro curso de português no CCBF em 2005. Desde então frequentei vários cursos e há 5 anos que comecei a participar no Clube da Cultura. Sempre gostei da atmosfera relaxada e amável. Eu acho que no Clube da Cultura tem um ótimo ambiente para conversar, errar, aprender e conhecer mais sobre cultura brasileira. - Marika Poutiainen, Helsinque
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CCBF EM FOCO
e mb a i xa da d o br a s il e m he l s inq ue C e n tro c u ltu r a l br a s il- F inl â nd ia (CCBF ) Embaixador
Antonio Francisco Da Costa e Silva Neto
Ministro-Conselheiro
Francisco Fontenelle
Conselheira
Sylvia Ruschel de Leoni Ramos
Secretário
Rafael Prince Carneiro
Diretor do CCBF
Diego Barros
Coordenadora Pedagógica do CCBF
Professora Helena Noto
Professora
Patricia Carvalho Ribeiro
Professora
Bianca Benini Foto: Hannu Hurme
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