comunicação, fotografia e multimédia
MIL Miguel Pinto Ivan Costa Luís Mesquita
(Con)Vivências “We are in the epoch of simultaneity: we are in the epoch of juxtaposition, the epoch of the near and far, of the side-by-side, of the dispersed. We are at a moment, I believe, when our experiene of the world is less that of a long life developing through time than that of a network that connects points and intersects with its own skein.” Michel Foucault, Of Other Spaces
Estação de Campanhã, espaço de partidas e chegadas, de despedidas, reencontros, desencontros. De multidões urgentes só com a pressa de chegar. O tempo está mais rápido do que noutros tempos, as distâncias parecem mais curtas. O olhar perde-se no movimento mas logo se detém na solidão anónima, cinzenta, daqueles para quem o dia, por momentos, parece ter parado. Não há aqui identidade, não há diálogo, não há história. O lugar não é – é um não-lugar1, incapaz de dar forma a qualquer tipo de identidade, povoado por pessoas que transitam, solitárias, neste espaço de ninguém. A luz, coada pelo anonimato do espaço, não parece querer sair da monotonia. Faz sentido, por isso, que a memória que retemos do espaço não evoque, praticamente, qualquer cor, detendo-se no intervalo que vai do preto ao branco e nos corpos que esperam para seguir viagem.
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Ver Marc Augé, Non-Places: Introduction to an Antropology of Supermodernity, 1995.
comunicação, fotografia e multimédia
(Sem)Vivências “In any case I believe that the anxiety of our era has to do fundamentally with space, no doubt a great deal more than with time. Time probably appears to us only as one of the various distributive operations that are possible for the elements that are spread out in space.” Michel Foucault, Of Other Spaces
À semelhança do trabalho de Paulo Catrica, procuramos nesta sub-série abordar o aspecto do espaço desprovido das pessoas que o percorrem diariamente e, consequentemente, a transformação que esse vazio traz à paisagem. Também aqui, a ausência do seu uso evoca a memória das pessoas que lhe dão vida, conferindo-lhe, paradoxalmente, uma inquietante dimensão humana.
De novo Marc Augé e o paradoxo do não-lugar… o estrangeiro que, de passagem por um país que não é o seu e que não lhe pertence, só consegue reconhecer-se no anonimato universal do não-lugar.