CINEMA DE TERREIRO
TERÇAS E QUINTAS ÀS 19:00h ENTRADA FRANCA CENTRO CULTURAL UFMG AV. SANTOS DUMONT, 174 CINE CENTRO
Cinema de Terreiro Filmes baianos, filmes que põem os terreiros das casas de santo de Salvador e arredores no centro de uma discussão sobre importantes matrizes de uma possível identidade afro-brasileira. Filmes brasileiros, filmes que partem do espaço destinado ao sagrado nos ritos africanos e localizam cenários, personagens e temas em que se desdobra a inquietante, vigorosa e movediça representação do que, por princípio religioso, seria interditado à visão de indivíduos não praticantes. Contrariando a máxima segundo a qual, na rotina das coisas de candomblé e umbanda, quase tudo não se pode mostrar, os domínios do terreiro têm sido objeto de registro e visionamento cada vez mais frequentes no contexto da atividade audiovisual – no Brasil e além, na chave da ficção e da não-ficção, por meio de abordagens (ainda bastante) eurocêntricas ou plugadas em uma militância, embora fecunda, por vezes esnobe e autocomplacente. A questão que se coloca ante a mostra Cinema de Terreiro diz respeito ao repertório e sentidos despertados por criações audiovisuais que não se esgotem em um esquematismo tão óbvio. Uma vez representados e retidos pelos sons e imagens em movimento do cinema e do vídeo, que nesta seleção cobre o período de cinco décadas (1961-2011), tais domínios projetam uma territorialidade ao mesmo tempo material e simbólica, que se apresenta, de modo ambivalente, como expressão, permanente e efêmera, de um lugar invocado por ancestralidades. Sua proposição geral, é o que parece nos indicar os filmes da mostra, apresenta duas geografias como instâncias mediadoras entre quem observa e quem participa dos trabalhos de santo.
Uma mais diretamente estratificada no tempo, no embate gerado pela polaridade das tradições (a estabelecida de antemão e a que busca se legitimar), que acompanha, no sentido mais comum, a evolução histórica do centro urbano a médio e longo prazo. A outra geografia – móvel, transitória – relaciona-se à circulação das práticas religiosas nas esquinas de asfalto ou nas ilhas de natureza que a pólis, mesmo dilapidada, teima em oferecer para que nelas não cessem a oferta de presentes ou trabalhos arriados para as entidades da cosmogonia afro. Em tempos de ressurgimento de uma militância cidadã, há muito escorraçada dos corpos e mentes dos brasileiros, e que em 2013 volta a dar as caras, a ocupação das ruas, espaços públicos e da agenda oficial deve ser acompanhada e alimentada por idéias e pulsações que percorram outros espaços e temporalidades de nossa experiência com o sagrado, o político e todas as cores da arte que um cinema-de-terreiro é capaz de revigorar.
Barravento (Glauber Rocha, 1961, p/b, 80min.)
Bahia de Todos os Santos (Trigueirinho Neto, 1960, p/b, 100min.)
Numa aldeia de pescadores de xaréu, cujos antepassados vieram da África como escravos, permanecem antigos cultos místicos ligados ao candomblé. A chegada de Firmino, antigo morador que se mudou para Salvador fugindo da pobreza, altera o panorama pacato do local, polarizando tensões.
A trama gira em torno de um grupo de amigos inconformados com o marasmo e a vida monótona da capital baiana na época da ditadura de Getúlio Vargas. Tonho, um mulato rejeitado pelos pais que vive de pequenos furtos no porto de Salvador, vive conflitos sociais, políticos e religiosos. Sua amante inglesa quer afastá-lo dos companheiros, mas ele se envolve num atrito entre grevistas e a polícia, terminando por roubar a amante para ajudar os perseguidos. Insatisfeita, ela o denuncia, comprometendo-o politicamente. Ele é preso e, quando volta para a família, seu drama permanece.
Tenda dos Milagres (Nelson Pereira dos Santos, 1977, cor, 132min.) Se passa na Bahia do início do século 20, quando o bedel da Faculdade de Medicina passa a defender a raça dos seus ancestrais africanos. Pedro Archanjo é Ojuobá (olhos de Xangô), mulato, capoeirista, tocador de violão, toma cachaça e é pai de muitas crianças feitas com as mais lindas negras, mulatas e brancas.
Jardim das Plantas Sagradas (Pola Ribeiro, 2010, Cor, 1h30min) Jardim das Folhas Sagradas conta a história de Bonfim, negro baiano que tem sua vida virada pelo avesso com a revelação de que precisa abrir um terreiro de candomblé. Com os espaços disponíveis cada vez mais raros, ele acaba procurando um lugar na periferia empobrecida e degradada. Afastado da tradição e questionando fundamentos como o sacrifício de animais, Bonfim cria um terreiro modernizado e descaracterizado, o que lhe trará graves conseqüências. Numa época em que o crescimento urbano acelerado e a favelização transformam as cidades em espaços cada vez menos habitáveis, o candomblé, religião ancestral trazida pelos escravos africanos, tem uma grande lição de convívio e preservação da natureza a oferecer. A Bonfim e a toda cidade de Salvador.
Filhos de Gandhy (Lula Buarque de Holanda, 2000, cor, 80min.) O documentário revela a origem e as histórias do bloco carnavalesco "Filhos de Gandhy" por meio das memórias de seus idealizadores. Os desfiles do grupo no Carnaval de 1999 e os festejos de seu cinqüentenário. curtas: Gato/Capoeira (Mário Cravo Neto, 1979, Super-8, cor, 13min.)
Cenas do capoeirista-bailarino pelas ruas de Salvador. O protagonista passa por diversas situações que envolvem o mundo popular da cidade e as tradições afro-brasileiras, com um fenomenal cuidado plástico aliando a coreografia e o realismo das relações corpo-espaço.
Oriki (Jorge Alfredo/Moisés Augusto, 2000, 35mm, cor, 15min.)
Poema audiovisual em homenagem à Iemanjá. A labuta com a pesca, a fé nas ruas da Bahia, os terreiros de candomblé ou a festa de 2 de fevereiro, tudo o que existe, aqui e no outro mundo, pode ser premiado com a composição de um oriki – objeto de linguagem que pontua todos os momentos e movimentos da existência social. 2 de fevereiro, dia do grande cortejo marítimo nas águas da enseada do Rio Vermelho (Salvador – Bahia). Apesar de atemporal, o filme segue um sentido cronológico da festa de Iemanjá.
Omolu Não É São Lázaro (Flávio Lopes, 2003, digital, cor, 03min.)
O sincretismo religioso foi a principal estratégia que a cultura africana encontrou para se preservar no Brasil. O princípio de fundir elementos de origens diferentes guia esse exercício visual. A partir de estruturas simbólicas do catolicismo, a câmera cria grafismos que lembram o candomblé.
Axé do Acarajé (Pola Ribeiro, 2007, digital, cor, 15min.)
Documenta o registro do ofício das baianas de acarajé como bem cultural imaterial do Brasil. O documentário mostra o mito, as crenças, a importância econômica para a Bahia da “bola de fogo” - significado da palavra “acarajé” em Iorubá. O acarajé chegou ao Brasil através dos escravos africanos. É um alimento sagrado, oferecido a Iansã, que se popularizou nas ruas de Salvador.
Mensageiro entre Dois Mundos (Lula Buarque de Holanda, 2000, cor, 82min.) Documentário sobre a vida e obra do fotógrafo e etnógrafo francês Pierre Verger, narrado e apresentado por Gilberto Gil. Após viajar ao redor do mundo como fotógrafo, Pierre Verger radicou-se, no ano de 1946, em Salvador da Bahia, onde passou a estudar as relações e as influências culturais mútuas entre Brasil e o Golfo do Benin, na África.
03/12 Barravento 05/12 Bahia de Todos os Santos 10/12 Tenda dos Milagres 12/12 Jardim das Folhas Sagradas 17/12 Filhos de Gandhy + Curtas:
Gato Capoeira - Oriki Orixá - Omolu Não é São Lazaro - Axé do Acarajé
19/12 Mensageiro Entre Dois Mundos Coordenação do projeto: Irene Patrícia Ribeiro Curadoria: Marcos Pierry Arte: Lívia Tolentino Amorim Revisão: Laila Maria Oliveira Silva Diagramação: Lívia Tolentino Amorim