Olh de peixe mem贸ria aberta
Curadoria - Celso Oliveira
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pUBLICIDADE Agência Integra
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Arte Produções
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Bando de criação
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Olh de peixe Editores Assaoka e Celso Oliveira Diretor de Arte Assaoka editor de fotografia Celso Oliveira e Assaoka Fotografias Celso Oliveira TEXTOS Ademar Assaoka Eder Chiodetto Aluísio Aderaldo Martins Marcelo Lavor Claudio Bernardo colaboraçãO Eder Chiodetto Tiago Santana Verve Comunicação Foto Ideia Editoração Ka Editorial Foto Ideia Produção Andre Carneiro PRÉ-Impressão Foto Ideia Impressão Gráfica LCR Ka Editorial Rua Dr. Gilberto Studart, 1520 Fone: 85 9777-3433 ka.assaoka@gmail.com
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editorial
Celso Oliveira cofoto@gmail.com 85 8927-1625
“Olho de Peixe” editada pela KA Editorial.
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40 anos... Celso Oliveira começou a fotografar aos 17 anos, primeiro no Rio de Janeiro, onde nasceu, depois São Paulo e, em 1980, como peregrino em busca do seu destino, chegou ao Ceará. Soube, então, que aqui era o seu lugar. Carioca de nascimento, mas cearense na alma. 40 anos já se passaram. Sempre fotografando, incentivou uma geração de fotógrafos, aqui em Fortaleza. Celso, desde sempre, buscou arriscou-se em desconhecidas regiões, cavoucou escondidas mensagens, construiu e desconstruiu imagens, e mergulhou em obscuras lentes para, assim, transcender a fotografia. Desafiou e imprimiu impossíveis ângulos e muitos estranhamentos. Foram muitos os caminhos percorridos por este incansável fotógrafo. Em seu arquivo, repousam mais de 200.000 imagens. Há alguns anos vem digitalizando suas imagens, e são essas imagens que compõem o mosaico desta edição da revista Olho de Peixe. E aqui começa o desafio. O desafio da edição. Uma teoria da Gestalt esclarece que “há uma passagem direta entre a forma final da imagem e a expressão daquela subjetividade que a desencadeou, em outras palavras, não é a subjetividade que vai explicar a imagem, mas a é imagem que vai dar acesso aquela subjetividade” (Zilda Tereza Cotrim em seu livro: O Lúdico na obra de Abraham Palatinik). Por vezes, o artista orbita em torno de seu centro de criação de forma tão intensa que torna difícil a empreitada de trazer à tona suas subjetividades, seus debates interiores a fim de expor o trabalho. Como diz Eder Chiodetto, “Expor, publicar, tornar-se público, implica necessariamente em uma tradução de si mesmo para o outro. O exercício de edição é semelhante a um jogo. É preciso embaralhar, rever a ordem, testar combinações no intuito de buscar simbolismos que se desprendem das imagens no momento em que elas são vistas lado a lado. Paralelamente, é necessário ter um olhar simultâneo sobre todas as imagens para perceber se as partes se organizam como um todo, um organismo”. Bom jogo! A. Assaoka 9
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“O caos é uma ordem por decifrar.” José Saramago É comum ouvir que o curador tem como função construir pontes que estabeleçam a comunicação entre as obras dos artistas e o público. A curadoria, no entanto, não é apenas um exercício de tradução, pois esta comunicação pode se dar sem a mediação do curador, pelo menos em certos níveis de vínculo e entendimento. No entanto, cabe ao curador auxiliar para que se realize da forma mais enriquecedora possível para ambos, seja pelo didatismo, pelas conexões históricas, estéticas, pelo questionamento gerado a partir da montagem da mostra ou, principalmente, pelos desdobramentos que sugere a partir das premissas inerentes à obra de arte. Toda curadoria é um projeto de comunicação e, portanto, exige do curador um posicionamento político, uma tomada de decisão a respeito de suas crenças e valores. Trata-se da articulação de um discurso ideológico em que são realizadas opções estéticas, conceituais e políticas claras para impactar o público de determinada forma. Não há neutralidade possível e nem se deve almejá-la. Na comunicação com o público, o posicionamento da curadoria deve ficar claro. Segundo Bruce Fergunson, “as exposições são sempre retóricas, meios ideológicos, independentemente da sua forma particular. Por esta razão, as exposições fazem parte da indústria da consciência, ferramentas complexas de persuasão que visam prescrever um conjunto de valores e relações sociais às suas audiências”. O discurso curatorial deve, portanto, se efetuar no delicado limite de conseguir problematizar certas questões para o espectador sem, no entanto, criar um direcionamento demasiado restritivo para a leitura da obra de arte, o que equivaleria a sequestrar sua polissemia inata. Algumas vezes, o excesso de didatismo pode ferir a livre fruição do imaginário do público. Em outras, a falta de didática implica na falta de generosidade em abrir portas de acesso. Nunca se deve sinalizar, de forma peremptória, uma única e restritiva direção, mas sugerir um caminho deixando claro que se trata apenas de uma possibilidade entre muitas outras.
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O curador nunca deve perder de vista a potência simbólica e labiríntica da obra de arte sobre a qual se assentam as intencionalidades do artista e os enigmas próprios segredados na obra, que permanecem à espera de decifrações e as tornam, assim, símbolos que, no embate com a intuição e cultura do espectador, tendem à infinitude. Afinal, nestes símbolos abertos e inesgotáveis residem a magia e o devir do fazer artístico. A ação do curador deve ser mediar, da forma menos ruidosa possível, os pontos de contatos entre a poética do artista e o imaginário do espectador. Quando demasiadamente impositivas, as hipóteses da curadoria podem incorrer no risco de ignorar a capacidade de imaginação e outras interpretações possíveis por parte do público, além de sua livre fruição com a obra. É preciso pensar a obra como estímulo, como ponto de partida, como trampolim. As estratégias de persuasão que o curador elabora, além de pontes, devem ser trampolins cuja altura permita um salto seguro. Mas não excessivamente seguro. É como segurar um pássaro sabendo que pesar a mão pode matá-lo e que afrouxá-la demais pode deixá-lo escapar. Após esta experiência mútua, é preciso que o pássaro voe firme e livre pelo espaço sem limites. Se nesta metáfora o pássaro é o espectador, e a mão que o retém suave por instantes é a obra do artista, certamente o espaço infinito, sem limites, no qual o pássaro voa é a arte, e o voo, a possibilidade da transcendência. Estamos falando de arte, de expansão do campo sensorial, de saberes segredados que as obras guardam em si como enigmas a serem desvendados, espaços simbólicos que se renovam a cada pessoa que as interrogue. Por isso, não podemos conformar um projeto curatorial a um saber apenas racional. É fundamental ter consciência disto e articular as questões sem abrir mão da intuição. O caminho que leva ao ofício da curadoria passa necessariamente pelo estudo disciplinar e pelo conhecimento da obra de diversos artistas e pesquisadores. Joan Fontcuberta, artista e teórico catalão, é uma das fontes de Fortaleza - CE
inspiração e reflexão que me levam a adentrar nos labirintos de símbolos e possibilidades inesgotáveis da fotografia. Eder Chiodetto Jornalista e curador, autor do livro “Curadoria em Fotografia: da pesquisa à exposição
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Ser ou ser... É-se artista ou de arte pela síntese do espírito ou por soma de acontecimentos, cognição e decurso? Quem, por escolha livre, designaria para si o pharmakon da inquietude perene? Se remédio, a arte, admitir e conviver com paradoxal sanidade, a doença de ser diverso. Se veneno, contrariar a própria alegria mais fácil como dessas tantas alheias e súditas do desejo ridículo, mas inerentemente humano, de esquecimento que sucumbe em fuga o que deveria ser de todo busca. E há outras mais felicidades, a depender do nível de sensibilidade artística. Medida transformada para além do real como ideal íntimo e transformadora quando metafísica mais que dogmática. Dessas felicidades mais fundas: a comoção da consciência ante a finitude de tudo, até da própria morte que, por si só, é indefensável; a consolação histórica que nos mede a sorte como fossemos predestinados; a permanência quase física de amores atemporais, estranhamente eternos; a desconcertante e violenta visita da beleza sem anterioridades; a possessão das melodias que nos tomam suspiros e nos atestam vulneráveis. A arte se instala algo próximo do inexprimível. Ser artista talvez seja a maior das coerências humanas, justo por não admitir coerências divinizadas. E outra é que o ofício nasce do sentido, todavia, ultrapassa-o em grau e qualidade. Fosse, a obra, produto do instinto, seria qualquer coisa que não arte e o seu obreiro seria outro que não artista. Ao contrário, o processo não é expurgo, catarse ou quociente de excessos. É produto pessoal e transferível (graças) de sua inteligência e sensibilidade. A emoção parece ser determinante, mas é tão somente um sintoma e deve ser verificado e sentido como uma breve pista das reais causas. Enfim, é causalidade a arte. E, assim sendo, é o artista, mais que tudo, criador primeiro de si mesmo e dos seus muitos mundos. Não na qualidade de um Deus, condição última da arte, mas na perfeição de ser, felizmente, humano. Aluisio A. Martins Rodrigues Escritor, poeta, assessor cultural e proprietário da Ver.te - espaço de vivência e reflexão para a expressão e o pensamento.
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Tanto sol, tanta luz, cadê a sombra? A história da fotografia publicitária no Brasil passa pelas lentes do seu Chico Albuquerque, o primeiro a montar um estúdio voltado ao atendimento das agências de publicidade nos anos 50 em São Paulo. Entre um retrato e outro de famosos e famosas, seu Chico já buscava revelar a personalidade de produtos e assim ajudava a seduzir consumidores em busca de tudo que fosse novo. O tempo passou, seu Chico, foi e voltou. E com ele vieram muitos em busca da luz dos lados de cá. Tanta luz, tanto sol, tanto céu azul, só poderiam mesmo atrair aqueles seres estranhos com coletes de brim, onde nos bolsos traziam filmes, lentes, filtros, fotômetros e toda uma parafernália de objetos. Estranhos esses profissionais cujo papel era registrar o cotidiano daqueles dias. Fosse uma foto de moda, a maquete de um edifício, ou o batom na sensual boca da modelo com a qual muitos de nós sonhávamos. Entre eles, o carioca Celso Oliveira. Com o Celso aprendi a entender que o gesto de enquadrar a foto usando as mãos, revelava a busca de um ângulo novo, um novo jeito de ver diferente o que todos viam igual. Como fazer de um objeto tão feio, tão desproporcional, um objeto de desejo capaz de sensibilizar mentes e bolsos relutantes? Quando as palavras não bastavam, um clique bastava. O que era feio ganhava personalidade e assumia ares de consumo. No contraste luz e sombra, se revelavam curvas, traços, detalhes que os olhos não viam assumiam o protagonismo da imagem. Podia ser um relógio, podia ser a barragem de um açude, mas também podia ser uma esquina qualquer onde gente comum esperava a vida passar. Muitas vezes, no que estava à sombra, fugindo da luz, estava a resposta que o criador ansiava, e Celso a encontrava. Nunca acreditei que uma imagem valesse mais que mil palavras, mas aprendi que uma imagem torna qualquer história mais divertida, mais esclarecedora, pois as imagens mostram o que as palavras escondem, seja para o bem ou seja para o mal. A sombra, o detalhe difuso, por vezes mostra mais que o plano geral. O detalhe da mão calejada da rendeira, conta mais que a própria beleza do traçado incompreensível da renda no bilro. Talvez aí esteja a receita de uma foto publicitária, uma foto com alma e personalidade. Uma foto com o olho de peixe do Celso. Marcelo Lavor Diretor da Promosell Comunicação e professor da Fanor/Devry
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Uma diagonal no horizonte Há uma linha que separa o céu e o mar e traça uma diagonal que vai da esquerda para a direita. Um horizonte que deságua como se o mar ali caísse num infinito longínquo, como um pensamento ancestral a deitar sobre o mundo. Trata-se de um oceano de história na foto de Celso Oliveira... A história da mãe das águas, Yemanjá. Divindade africana que tem suas origens na Abéokuta, na Nigéria ,nos rios de Ogun. Ela é a mãe, o princípio de tudo. Uma lenda conta que nos tempos de escassez de água, quando Yemanjá estava a dormir, as águas brotavam e esguichavam abundantemente, conforme ela se mexia de um lado para o outro em seu sono. Neste horizonte oblíquo no enquadramento do fotógrafo, inserem-se as linhas de força que irão compor a sua narrativa - a foto segue uma regra de ouro dos renascentistas, na qual usavam uma matemática precisa para compor suas pinturas e alcançarem à harmonia e dela à beleza. Toda a foto está imersa nos azuis do céu e do mar. A própria praia está encharcada de água e todos os personagens estão suspensos no líquido materno antepassado. Descendo através do horizonte, veem-se cinco figuras humanas que se banham dentro dele. No mais longínquo ponto de fuga se avista um corpo imerso nas profundezas do mar. Depois, uma mulher acaricia as ondas, fazendo reverência às águas. Em seguida, três garotos brincam, criando uma espiral em torno deles, a espiral do tempo. Quando nossos olhos chegam à praia, dois meninos encaram com temor e fascinação uma flor que ao chão. Seus corpos lembram anjos primitivos: a inflexão dos joelhos; o cruzamento dos braços; e as mãos em forma de prece num olhar de temor e respeito à oferenda que ali está. A seguir, a mulher, com a força do seu olhar, alerta os meninos para não tocarem na oferenda. Em seus longos cabelos ela leva um turbante que lhe reveste de autoridade. Está vestida de branco e coberta de colares de pérolas que demonstram seu sacerdócio. Sua mão direita é o centro da foto - ela rege todos os elementos que ali estão: rios, ondas, espirais, reverências, medo, brincadeiras, mitos, o início do mundo e também o início de tudo. Chega-se, enfim, ao sujeito da obra. A sacerdotisa que leva um relógio no braço para marcar o tempo presente, suspende o quadro de Yemanjá, a divindade trazida pelos escravos africanos ao Brasil. Ela se encontra no extremo oposto da linha do horizonte, destacando uma força contrária e imperativa. A composição da foto assina o autor. A fotografia do artista Celso Oliveira é uma rica e elaborada composição que fala de divindade e sociedade, e nos traz a irreverência e o direito de questionar de onde somos, porque estamos e para onde vamos. O pudor do seu olhar ao enquadrar o mundo é tão importante quanto a ondulação da alegoria que faz jorrar das fontes a missão de nos sabermos frágeis, sensíveis, cruéis, alheios e humanos. Sim, extremamente humanos. Claudio Bernardo Coreógrafo, intérprete e diretor artístico da companhia belga “As Palavras”
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A melhor impressão é a que fica.
Foto: Celso Oliveira
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