2008 Marisa Quintal / Edson Frank Guarulhos/SP
© 2008 Edson Frank © 2008 Marisa Quintal Título: Guarulhos Detalhes Poéticos : um olhar atento ao nosso redor Edson Frank, Marisa Quintal (fotografias) / Marisa Quintal (poesias)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Quintal, Marisa Guarulhos, detalhes poéticos : um olhar atento ao nosso redor / Marisa Quintal. -- Guarulhos, SP : Ed. do Autor, 2008.
ISBN 978-85-908998-0-8
1. Guarulhos (SP) - Fotografias 2. Poesia brasileira 3. Guarulhos (SP) - Descrição I. Título.
08-11915
CDD-779.9981611
Índices para catálogo sistemático:
1. Guarulhos : Detalhes poéticos : Fotografias : Coleções 779.9981611
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Impresso no Brasil
fotografias Edson Frank Marisa Quintal textos Marisa Quintal
cada detalhe toda poesia para Dores Theodoro Gonรงalves Quintal Rosa Maria de Lima Souza
Entremeados ao movimento da cidade tornam-se despercebidos os detalhes ocorrentes no cotidiano da gente sempre num compasso premente Compusemos então este tempo... Uma busca por lugares uma ocasião favorável uma oportunidade numa luminosidade para destacar nessa diversidade de inumeráveis imagens um determinado instante Cenas, pessoas, natureza arquitetura, costumes, comportamento minúcias como a sutileza de um passarinho pousado nos fios tensos da rede elétrica ou o fausto avião em seu avanço rápido Pode ser que o passarinho nunca mais repouse naquele fio e por aquela luz seja tingido Mas num marcante momento ao nosso olhar atento ele pousou e aqui está revelado nessa coletânea de detalhes que tem por companhia a poesia expressa como legendas que inteiram as fotografias Este livro de fotografias e poesias elaborado com entusiasmo e desvelo sugere um passeio pela cidade com um olhar para suas variadas feições Uma proposta para que se veja Guarulhos pela perspectiva de seus detalhes poéticos
Em sentido oposto ao banco solitĂĄrio e a escada vazia o raio de luz prateado tambĂŠm sozinho minguado declina
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Com atenção e minúcia a ave esquadrinha a água farta oferecida Lago nutriente abundante onde o vento tremeluz reflexos Natureza em constante harmonia Nenhum vestígio de pressa No movimento das pessoas ao redor do lago a brandura No súbito esvoaçar da ave amenidade que perdura
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Nas ruas da cidade impressões inesperadas tomam a gente Num olhar sem objetivo num notar distraído num reparar irrefletido de repente o imprevisto Brusco espanto Uma forma piramidal aparece Efeito produzido Um estímulo estrangeirado acontece Esquece... Mera verossimilhança Simples fantasia Mas que bom seria estar em férias...
Nos fios tensos o repouso ao brilho afogueado do sol já quase posto Pausa na agitação... Em breve uma interrupção na busca e encontro perda e ganho míngua e esforço proteção e exposição desafio e pacificação resistência e rendição Pois logo se entregará o passarinho a mais uma noite de sono
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Final de tarde Sol brando alveja a quadra pouco no entanto aquece o desfalcado e preguiçoso jogo de bola No muro pichações envelhecidas divergem do viço das árvores soberanas antigas impecáveis
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Uma só forma Composição multiplicada Singularidade que se completa na sucessão de curvas fechadas alongadas Peculiar obra arquitetônica Distinta arte humana pela legítima cor do céu emoldurada Coloração desafetada Azul intenso e profundo Suave e delicado azul Que varia sem monotonia e inebria
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Aos poucos o celeste com manto se cobre Antes da cor da noite num instante marcante o cĂŠu incendeia nuvens esbraseiam O sol finda seu expediente com sua contraluz solene nos edifĂcios totĂŞmicos que curvados parecem rendidos a sua passagem Faustosa paisagem que a aeronave imponente completa plenamente
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Elegância inimitável Robustez implacável Aparente imobilidade fincada que abarca o redor embrenha-se nas calçadas sobrepõe-se ao concreto transpõe os limites dos homens
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Na barraquinha do camel么 desdobra-se despretensiosa beleza Na plasticidade dos brinquedos de cores vibrantes a singeleza No rosto do menino de tra莽os inocentes a pureza
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Soprando passa o vento modificando o ar O que ele traz que faz a cortina o cortejar Espalha pela casa o frescor de uma brisa repentina que logo se esvai Ou a aquece duradouramente como um sopro profundo semeando resĂduos de encantamento?
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No varal estendida a roupa boa Caixa d’água tampada protegida garantia de água boa Para descansar na varanda cadeira boa Porta robusta boa madeira segurança boa A janela proporciona claridade boa Cerca viva vegetação boa Natureza boa Portão de arrojada simetria atado por corrente boa Vida boa Antagônica
Estaria na pintura antiga já traçada pelo tempo artista que nas paredes sempre imprime sua obra... Na reforma cautelosamente preservada no reboco novo delineada sua aparência realçada... Ou não existia nada? Mero gracejo do trabalhador em alvenaria Criador de uma careta engraçada
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Luminosas águas dançantes Coloridas saltitantes Adornos das noites da praça da cidade de linhas aprumadas verticais paralelas acinzentadas de fixos letreiros luminosos e de postes fincados Luminosas águas inquietantes Impossível passar por elas indiferente Sentar num banco da primeira fileira assistir a exibição fulgente das águas vertentes de graça e movimento
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Em todo canto hĂĄ florescĂŞncia num despontar incessante A cidade se aformoseia com cores e estampas insinuantes
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Essa agitação da atmosfera que nesse instante instaura um clima de alta tensão talvez não seja um acaso parece um encontro marcado um ritual selado da força da natureza e da torre de transmissão
Ramos distendidos como ramalhetes oferecidos duplicam-se com suas sombras na dourada pintura da parede Exposição auriverde sob o céu de puríssimo azul Conectivas cores que retratam a terra tupiniquim
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Detalhes de um todo Paisagem completa De suavidade provida Beleza desdobrada Cores semelhantes Formas conciliadas Passarinho Ramos Barro
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Qual o destino dos pensamentos da garota que olha o manequim na vitrine Em sonhos que sobram no tempo Ou em uma infinda saudade Talvez em um repentino encanto Ou em uma sensação desperdiçada De um lado o inanimado que não pode ter receptividade De outro a vida imanente que mesmo na sua existência veemente é para um há de vir que ela não sabe
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O tempo recolhe a luz ocupa o céu traz a escuridão condensa nuvens remete o dia a um cessante denso Tempo que não se rende não se sucumbe Tempo intransponível inesgotável
Das casas com seus muros seus telhados suas janelas incidem olhares sagazes sempre atentos e brilhantes a tudo vendo antes
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Não demora a esmaecer o dia A luz artificial permanece velada Efêmero instante de um cenário mesclado tomado pela lua cheia generosamente clara que deixa na gente olhar prateado intensa calmaria imaginação longínqua no mundo da lua 50
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Na parede evidente inexorรกvel tempo sem disfarce Inclemente movimento Passado impregnado Mesmo assim na janela esmero revelado na cortina de renda casa enfeitada Hรก ainda o jardim florido frescor aliado para que nunca prevaleรงa a mancha do esquecimento
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Sem soberba ou vanglória o tronco eleva-se com legítima naturalidade tingido pela luz intangível Opostos compostos palpáveis espinhos incorporam sem ressentimentos favorecem que à árvore nada se atreva
Todos os dias na cidade sucedem grandiosas apresentações de trabalhadores que nem sabem que são observados por um público admirado com tamanhas exibições
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A cidade se torna matizada fartas cores da aquarela do sol em despedida impregnando cada canto enredando todo ponto improrrogĂĄvel enlevo em sua Ăşltima revestida desenlace que nĂŁo se olvida da cidade com o dia
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Terra na ĂĄgua misturada amolecida vira barro moldado e cozido ganha forma na olaria sĂłlido paralelogramo um a um justaposto em parede transformado com uma sĂł face a mostra pela primavera sobreposta
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Aterrissou na cidade uma nave na bagagem uma variedade de projetos e novidades que na gente moveu a vontade de fazer todo tipo de arte
Em dia de cĂŠu sem nuvens sobressai em cada cor a refulgĂŞncia do sol Em dia claro caloroso tudo se torna evidente Nos bairros da cidade coexiste a diversidade Neles moram pessoas moram pombinhas Namoram pessoas namoram pombinhas
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Do amanhecer ao anoitecer parques como portos seguros abrigos e ancoradouros escapes da agitação encerram neles o refúgio temporária suspensão de esforços que diariamente se faz Estimável vaguear Nos parques certa paz Tempo para um cochilo fortuito Na leitura se ensimesmar Descanso também do cãozinho E ver na quietude da água o dia passar
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Das moradas que cingem as ruas desprendem cheiros e sensações As vezes aragens casuais espalham agradáveis impressões de refrescância e limpeza das roupas que secam nos varais
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Brotam da terra elevam-se formas concretas Algumas ferro e cimento Outras vicejante verdume que espalham no ar delicado perfume
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Vivacidade que se alastra rasga a dureza do asfalto desafia a clausura reage ao encerramento da exígua extensão de terra Nada acanhada natureza amálgama de vida e movimento geratriz da impetuosidade e da delicadeza de uma sociável pombinha desprovida de rodeios que posa para a foto com toda gentileza
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A luz da natureza vai se apagando vagarosamente a noite se faz na ĂĄgua do lago persiste o reflexo de mais um dia que lasso se vai numa troca de vigĂlia com as luzes desnaturais
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O olhado também olha quem o olha o admira o classifica de símbolo intrépido que excede a todos em força O olhado temerário limitado pela grade nada admira Provavelmente considere o visual apetitoso somente
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Sentido: Guarulhos Ponte nova surgindo Cart達o postal lindo
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Praça IV Centenário
Jardim Rosa de França
Cabuçu
páginas 10, 11
páginas 26, 27
páginas 42, 43
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Lago dos Patos
Picanço
Centro
páginas 12, 13
páginas 28, 29
páginas 44, 45
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Cocaia
Parque Continental
Lago dos Patos
páginas 14, 15
páginas 30, 31
páginas 46, 47
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Jardim Leda
Macedo
Centro
páginas 16, 17
páginas 32, 33
páginas 48, 49
05
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Parque Haroldo Veloso
Praça Getúlio Vargas
Vila Galvão
páginas 18, 19
páginas 34, 35
páginas 50, 51
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Vila das Palmeiras
Bom Clima
Vila São Jorge
páginas 20, 21
páginas 36, 37
páginas 52, 53
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Jardim Guarulhos
Parque Continental
Parque Maia
páginas 22, 23
páginas 38, 39
páginas 54, 55
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Jardim Maia
Jardim Santa Francisca
Pimentas
páginas 24, 25
páginas 40, 41
páginas 56, 57
25
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Via Dutra
Lago dos Patos
Lago dos Patos
páginas 58, 59
páginas 66, 67
páginas 74, 75
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Macedo
Jardim Barbosa
Zoológico
páginas 60, 61
páginas 68, 69
páginas 76, 77
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Macedo
Jardim Maia
Macedo
páginas 62, 63
páginas 70, 71
páginas 78, 79
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Bonsucesso
Picanço
páginas 64, 65
páginas 72, 73
Paulistana, moradora de Guarulhos há 43 anos, desde 1980 dedica-se profissionalmente à fotografia, atuando nas áreas de foto jornalismo, moda, industrial, still-life e produção fotográfica de eventos culturais, especialmente montagens teatrais, onde destaca sua trajetória de 22 anos com o grupo de teatro “Arlequins”. Redatora, trabalhou em jornais e revistas da Grande São Paulo como colunista. Escreve crônicas e poesias. Seu mais recente trabalho como cronista é o Musical Multimídia “O Gato de Óculos”. Para Marisa, a fotografia é a inconciliável permanência inalterável do movimento infindável.
Marisa Quintal
O paulistano Edson Frank de 56 anos, chegou a Guarulhos em 1981. Dedicou a maior parte de sua carreira à fotografia publicitária, mas também uma expressiva atuação em foto jornalismo, abstratos e arte digital. Em 1988, foi agraciado pela Academia Brasileira de Arte Cultura e História, com a medalha comemorativa do Centenário da República, por sua série fotográfica Ácqua Viva. Além da fotografia, Frank exerce atividades como músico, compositor e pesquisador em música digital. Edson Frank
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Todas as fotografias deste livro foram produzidas de Julho Ă Novembro de 2008
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Conheci um Guaru que morava numa terra uma terra produtiva uma terra muito bela Mas nela o Guaru se estranhou com a chegada de uma gente nova que dela se aproveitou sem alegria ele ficou com o que lhe restou O tempo foi passando o novo surgindo construindo e evoluindo o Guaru ressentindo o que para ele jĂĄ era lindo A paisagem se alterou O prĂŠdio se ergueu Na terra pavimentada mais gente nova chegava um idioma diferente a tomava e do Guaru nada restou Conheci um Guaru que morava numa terra uma terra produtiva uma terra muito bela Guaru que hoje sobrevive no nome de uma cidade Guarulhos minha morada VinĂcius Quintal Dalter poesia escrita aos 13 anos