Psicoterapia fenomenológico-existencial - 9788522116287

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objetivo da Psicoterapia é ampliar a visão perspectiva do paciente para que ele possa ter uma concepção de mundo mais abrangente e repleta de possibilidades. Este trabalho tem a intenção de refletir sobre determinados detalhes que ocorrem no campo da Psicoterapia e que, de alguma forma, determinam a amplitude de seu êxito. Psicoterapia Fenomenológico-Existencial parte da perspectiva dos autores de construir um novo paradigma na Psicoterapia, tornando-se referência indispensável no material fenomenológico-existencial disponível para estudantes e professores da área. Aplicações: Leitura recomendada para os estudantes de Psicoterapia, Medicina, Psicologia e Filosofia. Livro-texto para as disciplinas teoria e técnica em psicoterapia, aconselhamento psicológico, psicopatologia e supervisão clínica e, ainda, para os cursos de especialização em psicologia clínica.

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Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos Martin Christopher

Tradução Ez2translate

Revisão técnica James Richard Hunter Professor de Administração na Brazilian Business School (BBS) e Business School São Paulo (BSP) e consultor

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Os Autores

Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo Psicoterapeuta, Professora da PUC-RJ e do Prepsi PUC-BH; Presidente do Instituto de Psicologia Fenomenológico-Existencial do Rio de Janeiro e Doutora em Psicologia pela UFRJ. Débora Candido de Azevedo Psicóloga Clínica, Supervisora de Estágio em Psicologia na Disciplina: “Atendimento Psicológico Infantil em Instituição”, na Unip; Professora do Curso de Formação em Psicoterapia Fenomenológico-Existencial do Centro de Psicoterapia Existencial e Coordenadora do Departamento de Psicologia — Centro Clínico Batista Monte das Oliveiras. Robson Luiz de Teixeira Oliveira Psicoterapeuta, Formação em Psicoterapia Existencial pelo Centro de Psicoterapia Existencial e Professor do Curso de Formação em Psicoterapia Fenomenológico-Existencial do Centro de Psicoterapia Existencial. Valdemar Augusto Angerami – Camon Psicoterapeuta Existencial; Professor de Pós-graduação em “Psicologia da Saúde” na PUC-SP, Professor do Curso de “Psicoterapia Fenomenológico-Existencial” na PUC-MG; Coordenador do Centro de Psicoterapia Existencial e Professor em Psicologia da Saúde — UFRN. Autor com o maior número de livros publicados em psicologia do Brasil e também de livros adotados nas universidades de Portugal, México e Canadá.


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Apresentação Valdemar Augusto Angerami - Camon

Verão. Tempo de luz, cor, praia, sol, férias, algazarra da própria vida. Tempo de se buscar energias para o enfrentamento do cotidiano. Tempo de Natal, confraternização, brinquedos, introspecção, da dor da ausência, do encontro e do reencontro. Tempo de uma ilusão doce onde a própria alma se agita e se ilumina nas noites quentes. Noites em que o corpo clama por amor e sedução. Verão. Tempo onde o tempo tem menos tempo para passar. Tempo onde o tempo, como dizia o poeta, deveria ser multado por excesso de velocidade. Tempo onde não temos tempo para produção intelectual e filosófica. Tempo onde até mesmo a militância política mais aguerrida se espreguiça e se deixa levar ao doce sabor do farfalhar de ilusão de um novo tempo. Tempo em que as universidades estão de férias. Onde os livros são fechados e deixados de lado.


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Verão. Tempo em que este livro foi concluído. Tempo em que a nossa nova ousadia se concretizou. Tempo em que a nossa idealização de construir uma psicologia, uma psicoterapia e uma psiquiatria mais humana ganha um pouquinho mais de contornos de realidade. Tempo onde a nossa condição de sonhadores galgou mais um degrau rumo à efetivação desses ideais. Verão. E a nossa perspectiva, ousada e até mesmo presunçosa, de construir um novo paradigma na psicoterapia ganhou uma nova obra. Obra que traz junto com os resquícios do Verão um pouco das nossas conquistas e realizações. Pois se é fato de que muito ainda existe para ser conquistado, também é verdade que muito já foi realizado. E a certeza de que um sem-número de acadêmicos e estudiosos em geral se guiam pelas nossas publicações ao mesmo tempo em que é muito gratificante também é preocupante e inquietante. É como se não tivéssemos o direito de errar, dado o grande número de pessoas que se orientam pelos nossos escritos. Este livro traz a cor do verão no seu conteúdo, o cheiro do mar em suas páginas e a brisa marinha em seus parágrafos. Suas letras e linhas têm a cor da pele dourada pelo sol. E a cada capítulo certamente uma caminhada pela praia com os pés arrastando a areia e o coração pulsando vida e cor. Verão. Tempo do meu, do seu, do nosso livro. Do mesmo sonho que agora conta com você, leitor, nessa empreitada...

Itanhaém, numa tarde de Verão X


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Sumário PSICOTERAPIA, DETALHES E NUANCES, 1 Valdemar Augusto Angerami – Camon Introdução, 1 Em busca de conceitos, 5 - Percepção dos fatos, 5 - Afinidades e concepção de valores, 18 - Sentimentos do psicoterapeuta diante do paciente, 32 Considerações complementares, 42 Bibliografia, 43 DAS MONTANHAS DAS GERAIS, 45 Valdemar Augusto Angerami – Camon AS ENTRANHAS DA VIVÊNCIA AMOROSA. UM INSTRUMENTO PARA A PRÁTICA CLÍNICA, 49 Robson Luiz de Teixeira Oliveira Introdução, 49 Os caminhos do homem e da mulher, 55 Perspectiva fenomenológica da manifestação afetiva da humanidade, 59 A perspectiva filosófico-existencial na compreensão do amor, 61 A perspectiva psicológico-existencial do amor, 73 Conclusão, 82 Bibliografia, 86 DA MAGIA DA FLORADA DA SUINÃ..., 87 Valdemar Augusto Angerami – Camon


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ANÁLISE SITUACIONAL OU PSICODIAGNÓSTICO INFANTIL: UMA ABORDAGEM HUMANISTA-EXISTENCIAL, 93 Débora Candido de Azevedo Introdução, 93 Psicodiagnóstico infantil: por quê?, 94 Entrevistas iniciais com os pais, 97 Entrevista de anamnese, 103 Hora lúdica, 108 Devolutivas, 111 Testes psicológicos, 113 Visita escolar, 116 Visita domiciliar, 118 Devolutivas (agora finais), 119 Bibliografia, 121 LAMBUZADO DO MELADO DE CANA, 123 Valdemar Augusto Angerami – Camon A PSICOTERAPIA EM UMA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL, 131 Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo Introdução, 131 O método: fenomenologia e a hermenêutica, 135 Os fundamentos filosóficos: Heidegger e Kierkegaard, 139 A Psicologia pautada nos pressupostos existenciais, 148 A psicoterapia fenomenológico-existencial, 152 Bibliografia, 157



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Psicoterapia, detalhes e nuances Valdemar Augusto Angerami - Camon

Introdução

A INTENÇÃO DESTE TRABALHO é refletir sobre determinados detalhes que ocorrem no campo de psicoterapia e que, de alguma forma, determinam o êxito e até mesmo o fracasso desse processo. Certamente não temos como sequer pensar no esgotamento da temática, apenas sistematizamos alguns pontos que seguramente estão presentes em grande parte dos métodos psicoterápicos, mas que, mesmo assim, não se apresentam de maneira clara e transparente. É um trabalho ousado que busca determinar parâmetros de reflexão para a prática da psicoterapia e também expõe detalhamentos que poderão mostrar a necessidade do aprumo dessas ponderações. Merleau-Ponty1 coloca que a patologia moderna revela que não existe distúrbio rigorosamente eletivo, mas aponta também que cada distúrbio é matizado de acordo com a região do comporta-

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Merleau-Ponty. “Fenomenologia da Percepção”.


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mento que ele principalmente acomete.2 É dizer que cada vez mais é necessária uma reflexão pormenorizada dos sintomas para que a intervenção psicoterápica não se perca em mero reducionismo acadêmico. Este trabalho é embasado na ótica fenomenológico-existencial e segue na mesma seqüência de publicações anteriores, em que igualmente pensamos a prática sob esse ângulo. Ana Maria Feijoo3 oferece alguns pontos fundamentais da visão fenomenológica em psicoterapia que ajudarão o leitor não familiarizado com esse método a encontrar desde reflexões avançadas até princípios gerais que poderão facilitar o entendimento. Estamos iniciando um trabalho que será entrada para inúmeras reflexões sobre os caminhos da psicoterapia na contemporaneidade e seus determinantes sobre o próprio desenvolvimento das pessoas submetidas ao procedimento. Merleau-Ponty4 ensina ainda que quando todos os casos se opõem em causa à função simbólica, caracteriza-se bem a estrutura comum aos diferentes distúrbios, mas esta organização não deve ser destacada dos materiais em que a cada vez ela se realiza, senão eletivamente, pelo menos principalmente.5 É nesse constructo que concebemos a psicoterapia. Um dimensionamento que concebe o homem em toda a sua historicidade, inserindo-o em suas relações e compreendendo-o a partir desse enfeixamento. Abandonamos todas as tentativas de compreensão do homem que simplesmente consideram-no apenas uma máquina desprovida de sentimentos e que possui mecanismos regu-

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Idem op. cit. Ana Maria Feijoo, no capítulo “A Psicoterapia em uma Perspectiva Fenomenológico Existencial”, estabelece as pilastras básicas para melhor compreensão da Ótica Fenomenológica na Psicoterapia. 4 Merleau-Ponty, op. cit. 5 Idem. O Visível e o Invisível. 3

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ladores que de tempos em tempos precisam ser ajustados para um funcionamento adequado. Negamos todas as formas de determinismo do pensamento e todas as tentativas de compreensão do homem que não consideram sua especificidade única em seus detalhamentos e nuances. Recusamos também a aceitação das explicações teóricas que dão ao homem uma mesma compreensão geral em total detrimento de sua unicidade. Não temos outra maneira de saber o que é o mundo senão retomando essa afirmação que a cada instante se faz em nós; qualquer definição do mundo seria apenas uma caracterização abstrata que nada nos diria se já não tivéssemos acesso ao definido, se não o conhecêssemos pelo único fato de que somos.6 A psicoterapia não pode caminhar distante da realidade social e tampouco virar-lhe as costas como se fosse algo sem importância. É na experiência do mundo que todas as nossas operações lógicas de significação devem fundar-se; e o próprio mundo é, portanto, uma certa significação, comum a todas as experiências, que teríamos através delas, uma idéia que viria animar a matéria do conhecimento.7 O objetivo da psicoterapia é, entretanto, ampliar a visão perceptiva do paciente para que ele possa ter uma concepção de mundo mais abrangente e repleta de possibilidades. Não temos uma série de perfis do mundo, dos quais uma consciência em nós operaria a ligação. Sem dúvidas, o mundo perfila-se especialmente em primeiro lugar: só vejo o lado sul da avenida, se eu atravessasse a rua veria o seu lado norte; só vejo Paris, o campo que acabo de deixar caiu em uma espécie de vida latente; mais profundamente, os perfis especiais são também temporais: um alhures é sempre algo que se viu ou que só poderia ver; mesmo se o percebo como simultâneo ao pre6 7

Idem. Fenomenologia da Percepção. Idem, Ibidem, op. cit.

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sente, é porque ele faz parte da mesma onda de duração.8 A experiência vivida muda de aspecto diante de sua concepção idealizada, da mesma forma que muda quando reflito sobre experiências do paciente, onde a sua narrativa, por mais rica que possa ser, não tem como abarcar em sua totalidade os detalhes e as sensações por ele vividas quando de sua ocorrência. É na riqueza dos questionamentos que conduziremos o trabalho, na certeza de que muito mais do que esclarecer dúvidas, seguramente iremos ao encontro de muitos pontos e inúmeras indagações que ficarão sem respostas imediatas ou que serão passíveis de ser enquadradas num espectro teórico, qualquer que seja ele. O próprio jeito como refletimos a concepção fenomenológica no campo da psicoterapia já torna difícil um enquadre que possibilite respostas absolutas e definitivas aos questionamentos que estarão sendo propostos nesse trabalho. É importante salientar, ainda, que não existe a preocupação de que essa obra seja enquadrada nos parâmetros da ciência. Não há como se buscar o chamado enquadre científico e, ao mesmo tempo, procurar a especificidade e unicidade de cada pessoa. Se propagamos o tempo todo a necessidade de uma compreensão humana inserindo a totalidade da existência do homem em toda a sua historicidade, não há a menor condição de se buscar o respaldo nos critérios científicos. Fazer ciência é tarefa para os cientistas em seus laboratórios que condicionam animais em fórmulas muito bem definidas de experimentação e que depois acreditam, irracionalmente, que os resultados possam ser reproduzidos para a condição humana. Nosso trabalho não é científico e nem tem a pretensão de sê-lo. Somos apenas sonhadores que acreditam em uma psicologia, psicoterapia e psiquiatria mais humanas, por mais que isso pareça paradoxal diante dos avanços da própria ciência. Acreditamos, fize8

Idem. O Visível e o Invisível.

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mos crer e ainda não esmorecemos dos desejos de uma compreensão humana da psicoterapia. Em busca de conceitos Este trecho do trabalho será dividido em três partes, as quais – embora na prática possam estar misturadas e imbricadas entre si – servirão para que a reflexão possa explaná-las de modo distinto. Assim, teremos a seguinte divisão temática: Percepção dos fatos; Afinidades e concepção de valores; e Sentimentos do psicoterapeuta diante do paciente. – Percepção dos fatos Este tópico é de fundamental importância no quesito que envolve os procedimentos da prática psicoterápica. É dizer num primeiro plano que o paciente necessita mudar os próprios fatos. Se não houver uma mudança significativa em seu campo perceptivo, dificilmente ocorrerá um estabelecimento de variáveis que permitam a mudança dos fatos em si. Assim, um paciente que atravessa uma séria crise conjugal, por exemplo, e que depois de muitas sessões psicoterápicas reflete sobre a impossibilidade de manter o casamento e ainda se mantém casado – pois não se acredita capaz de efetivar a separação –, só começará a pensar nesta hipótese quando ocorrer uma mudança em seu campo perceptivo e ele acreditar que é capaz, sim, de separar-se. A partir daí, poderá pensar nas possibilidades que se abrem à sua frente diante da separação. No entanto, enquanto não se sentir seguro, jamais terá condições de efetivar uma empreitada nessa direção. A mudança no campo perceptivo é condição inicial para que a pessoa possa, a partir da mudança da percepção dos fatos, alterar 5


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inclusive os próprios fatos. É necessário, porém, que a mudança perceptiva ocorra de modo consistente para que o novo desdobramento seja algo que faça parte da vida da pessoa de modo abrangente. Ao abrir-se para novas possibilidades existenciais, a consciência apreende novas idealizações para efetivar vivências inerentes a tais possibilidades. A mudança perceptiva é condição indispensável para que outras, significativas, possam ser efetivadas no real. Não há realização humana que primeiramente não foi idealizada e imaginada. Desde um simples telefonema – quando antes de digitarmos o número desejado já imaginamos o possível diálogo com o interlocutor – até operações mais complexas, sempre idealizamos como será o resultado da ação. E de fato, ainda que imaginemos todos os atos, na sua quase totalidade a vivência dista de modo drástico da idealização. E podemos afirmar, sem margem de erro ou dúvida, que, felizmente, as coisas ocorrem assim, pois a vida humana seria extremamente desagradável caso tudo saísse segundo a nossa própria idealização. Tudo seria previsível e perderíamos um dos sentimentos mais fortes da condição humana que é a emoção diante de atos surpreendentes, o pulsar da emoção diante de uma florada, de uma música, de um beijo e de um afagar de mãos. Quando um paciente traz na psicoterapia sua situação de incredulidade diante de fatos que fazem parte de sua vida, é preciso que se esmiusse detalhadamente suas razões para que sua consciência possa abrir-se para mudanças significativas em seu campo perceptivo. É através do esboço de sua fala que os fatos mostrar-se-ão repletos de obstáculos considerados, muitas vezes, intransponíveis. A mudança em seu campo perceptivo determinará um novo parâmetro de dimensões da consciência. É necessário, todavia, atentar que o verdadeiro ato de contar exige do sujeito que suas operações, à medida que desenrolam e deixam de ocupar o centro da consciência, não deixem de estar aí para ele e 6


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constituam, para as operações ulteriores, um solo sobre o qual elas se estabelecem.9 As possibilidades que se descortinam no campo perceptivo do sujeito poderão dimensionar-lhe, inclusive, uma nova percepção de si mesmo. Ele passa a se acreditar de modo absoluto, criando condições emocionais para efetivar mudanças em sua própria realidade. A base emocional onde se estruturam tais mudanças perceptivas é o esteio no qual se sustentam as condições necessárias para a alteração dos fatos na realidade. Convém salientar que quando falamos em possibilidades que se desabrocham no campo perceptivo do paciente estamos fazendo referência ao aumento das variantes que surgem diante da realidade. Contudo, é sempre mister ressaltar que há uma grande diferença entre as possibilidades que se abrem e a probabilidade de ocorrência delas. É comum ouvir pessoas que diante de questões prováveis desatinam até mesmo suas possibilidades reais. A título ilustrativo, vamos dar um exemplo. Tomemos a mim como referência. Como brasileiro, homem divorciado, tenho como real a possibilidade de um dia casar com uma mulher da Finlândia, mas a probabilidade de que isso ocorra é praticamente nula, já que não tenho a menor afinidade nem qualquer conhecimento que envolva a cultura e até mesmo a realidade finlandesa. Nunca viajei para a Finlândia, tampouco tenho intenções de fazê-lo. Se a possibilidade de eu me casar com uma mulher de lá existe enquanto tal, a probabilidade dessa ocorrência praticamente inexiste. Conseqüentemente, quando se abre o campo perceptivo para um rol de possibilidades, é fundamental que igualmente se abra a reflexão sobre as questões envolvendo dados probabilísticos. Somente assim será possível o paciente caminhar rumo a uma real transformação dos fatos, visto que, concomitantemente ao surgimento de novas possibilidades, haverá também uma consciência 9

Idem. Fenomenologia da Percepção.

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reflexiva que determinará o verdadeiro teor e alcance destas possibilidades. Enquanto se admite o sonho, a loucura ou a percepção, pelo menos como ausência de reflexão – e como não fazê-lo se quer conversar um valor ao testemunho da consciência, sem o qual nenhuma verdade é possível –, não tem direito de nivelar todas as experiências em um só mundo, todas as modalidades da consciência em uma só.10 A consciência perceptiva será, assim, um determinante de crescimento do paciente e poderá levá-lo ao desdobramento de suas possibilidades em tanto quanto expansão esse desenvolvimento permitir. Não se trata, por outro lado, do estabelecimento de uma reflexão meramente racional na qual o paciente terá a condição de entrar em contato com suas possibilidades em níveis emocionais. É fato que ao sedimentar sua nova realidade perceptiva de maneira lenta e gradual, todos os detalhamentos inerentes a esse processo são absorvidos de modo que o seu próprio ritmo de absorção será respeitado. Assim, a peculiaridade de cada paciente será respeitada de acordo com o tempo de absorção e mudança perceptiva que não serão os mesmos para diferentes pacientes. Nesse ponto surge a necessidade de um exercício intermitente por parte do psicoterapeuta que é o respeito ao tempo de absorção do paciente. Por maior que seja a minha experiência profissional, a qual me dá a condição de antever os possíveis desdobramentos de um paciente, o respeito à sua característica exigirá que eu me atenha a esperar que o seu desabrochar ocorra no seu limiar e dentro de suas próprias possibilidades existenciais. Mesmo que a minha experiência permita que eu veja com bastante antecedência e propriedade o desenvolvimento de certos pacientes, nada garantirá que as coisas seguirão rumos diferentes às minhas previsões. Como foi dito anteriormente, embora imaginemos inúmero fatos, nada nos assegurará que eles seguirão o curso da idealização. 10

Idem. O Visível e o Invisível.

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A psicoterapia é um processo único e, como tal, deverá ser conduzido e norteado porque inclusive a própria peculiaridade dos sentimentos do psicoterapeuta11 será uma variável que igualmente influenciará no desenvolvimento do método. E se consideramos então que a partir dos sentimentos do psicoterapeuta haverá também toda confluência de fatores que irão se enfeixar e incidir sobre a própria condição emocional do paciente, teremos uma variável significativa nessa interação. Assim sendo, a mudança no campo perceptivo será um processo que dependerá da própria interação dele com o psicoterapeuta, além da maneira como ele será conduzido. Neste trecho, é interessante se fazer um contraponto com a ótica fenomenológico-existencial em psicoterapia e o modo como a psicanálise e outras psicoterapias igualmente chamadas de introspectivas conduzem o processo psicoterápico. A psicologia de introspecção localiza, à margem do mundo físico, uma zona da consciência em que os conceitos físicos não valem mais, porém o psicólogo ainda acredita que a consciência é apenas um setor do ser e a explora. Assim, ele tenta descrever os dados da consciência, contudo, sem questionar a existência absoluta do mundo em torno dela.12 É como se a consciência perceptiva não tivesse uma relação imbricada e indissolúvel com a realidade do mundo circundante. É dizer que não se pode instituir uma linha divisória que estabelece o ponto onde o meu campo perceptivo determina formas à própria consciência, tornando esses sentimentos em algo que faça parte única e exclusivamente de um possível “mundo interior” e onde se originam fatos, dados, sentimentos, etc. do chamado “mundo exterior”. 11 12

Angerami. Psicoterapia Existencial. Idem, ibidem.

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A psicoterapia de introspecção, assim como o cientista e o senso comum, subentende o mundo objetivo enquanto quadro lógico de todas as descrições e meio de seu pensamento. Não percebe que esse pressuposto comanda o sentido que ele atribui à palavra “ser”, levando-o a realizar a consciência sob o nome de “fato psíquico”, desviando, assim, de uma verdadeira tomada de consciência e tornando como que derrisórias as precauções que ele multiplica para não deformar o “interior”.13 A perspectiva fenomenológica abre-se para uma gama de possibilidades que não se esgotam e se recusa terminantemente a aceitar o enquadre de concepções deterministas que aprisionam a condição humana em conceitos restritos e fechados em si mesmo. Merleau-Ponty ensina que a tradição cartesiana nos habituou a desprender do objeto. A atitude reflexiva purifica simultaneamente a noção comum do corpo e da alma, definindo o corpo como uma soma de partes sem interior e a alma como um ser inteiramente presente a si mesmo sem distância.14 Essa dicotomia só é possível ser refletida em níveis teóricos, sem a possibilidade de ser enquadrada em termos reais. O corpo não é um objeto. Pela mesma razão, a consciência que tenho dele não é um pensamento, quer dizer, não posso decompô-lo e recompô-lo para formar dela uma idéia clara. Sua unidade é sempre implícita e confusa.15 Nesse sentido, quando se abordam questões que implicam na mudança perceptiva que visa, em última instância, a própria alteração dos fatos, essa unicidade da condição humana precisa ser considerada para que não percamos tais ponteamentos em vã digressão filosófica. A totalidade do ser presente na psicoterapia é algo muito mais abrangente que a concepção trazida à luz das reflexões contemporâneas pela psicoterapia introspectiva que praticamente

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Idem, ibidem. Idem, ibidem. 15 Idem, ibidem. 14

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reduz o paciente às imagens surgidas dessa cápsula imaginária denominada arbitrariamente de “psique”. Na realidade, somos mais do que simples reducionismo teórico imposto pelas psicoterapias introspectivas e a consciência que temos da realidade é algo que se expande na abertura trazida pela nova percepção que se adquire não apenas da consciência como também da própria realidade inerente à existência humana. E a consciência perceptiva é algo que, ao ser apreendida em sua totalidade, nos remete a novos horizontes existenciais. Merleau-Ponty nos ensina que a união entre a alma e o corpo não é selada por um decreto arbitrário entre dois termos exteriores, um objeto, outro sujeito. Ela se realiza a cada instante no movimento da existência. Foi a existência encontrada no corpo, aproximando-nos dele através da fisiologia, que nos permitiu cotejar e precisar esse primeiro resultado interrogando a existência sobre ela mesma.16 Assim, os caminhos que o paciente poderá enveredar através do conhecimento de si e de sua própria potencialidade no desvelamento de sua existência, serão determinantes de uma nova concepção existencial. Como exemplo dessas afirmações poderemos citar um grupo de psicólogos que era supervisionado por mim e que atuava junto à comunidade de um bairro muito pobre da periferia de São Paulo, cujas pessoas não possuíam sequer condições de saneamento básicas nem uma unidade de saúde que pudesse atendê-las em caso de emergência médica. O trabalho desses psicólogos era tentar refletir com esse grupo sobre as necessidades e o direito que possuíam enquanto cidadãos. Incrédulos, os psicólogos ouviram em muitas reuniões que eles não tinham direito a nada, uma vez que a própria precariedade de suas vidas estava a exibir essa condição. Os argumentos utilizados e 16

Merleau-Ponty. O Visível e o Invisível.

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objetivo da Psicoterapia é ampliar a visão perspectiva do paciente para que ele possa ter uma concepção de mundo mais abrangente e repleta de possibilidades. Este trabalho tem a intenção de refletir sobre determinados detalhes que ocorrem no campo da Psicoterapia e que, de alguma forma, determinam a amplitude de seu êxito. Psicoterapia Fenomenológico-Existencial parte da perspectiva dos autores de construir um novo paradigma na Psicoterapia, tornando-se referência indispensável no material fenomenológico-existencial disponível para estudantes e professores da área. Aplicações: Leitura recomendada para os estudantes de Psicoterapia, Medicina, Psicologia e Filosofia. Livro-texto para as disciplinas teoria e técnica em psicoterapia, aconselhamento psicológico, psicopatologia e supervisão clínica e, ainda, para os cursos de especialização em psicologia clínica.

I SBN 8 5 - 2 2 1 - 0 3 1 1 - 9 ISBN 13 978-85-221-1628-7 ISBN 10 85-221-1628-8

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