Livre-docente em Ciências da Comunicação pela ECA - USP. Pós-doutora em Design Thinking pela Stanford Univesity e em Comunicação pela Universidad de Murcia, Espanha. Doutora em Comunicação e Semiótica e Mestre em Administração pela PUC SP. Professora da ECA USP, no Programa de Pós-Graduação em CIências da Comunicação e no curso de graduação em Publicidade. Professora da PUC SP. Líder do GESC3 - Grupo de Estudos Semióticos em Comunicação, Cultura e Consumo (CNPq/USP). Editora da revista Signos do Consumo. Coordenadora do GT Publicidade e Propaganda da Intercom (2014/2016). Presidente da ABP2 -- Associação Brasileira dos Pesquisadores em Comunicação (2015/2017). Vice-chefe do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da ECA USP. Fundadora e pesquisadora da Casa Semio. Semioticista com 20 anos de experiência em projetos e análises semióticas para as principais empresas e marcas brasileiras e internacionais.
2a edição
Clotilde Perez A segunda edição do Signos da Marca traz uma cuidadosa atualização e adensamento dos conceitos centrais da comunicação e gestão das marcas, no contexto da sociedade contemporânea, alicerçada na transitoriedade, tecnologia naturalizada e identidades midiatizadas. Amplia o entendimento das expressões e sensorialidades marcárias na busca de compreender e apontar caminhos possíveis para os gestores das marcas no sentido de potencializarem sua força comunicacional e, portanto, capacidade de construirem vínculos com os consumidores-alvo.
C l o t i l d e P e r e z Signos da Marca
Sobre a autora
Signos da marca
Outras obras O PODER SUGESTIVO DA PUBLICIDADE – Uma análise semiótica Roberto Chiachiri MASCOTES: semiótica da Vida Imaginária Clotilde Perez ESTRATÉGIAS SEMIÓTICAS DA PUBLICIDADE Lucia Santaella e Winfried Nöth MAPA DO JOGO Lucia Santaella e Mirna Feitoza
Signos da marca Clotilde Perez
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2 a edição
Signos da
Marca
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Perez, Clotilde Signos da marca : expressividade e sensorialidade / Clotilde Perez. -- São Paulo : Pioneira Thomson Learning, 2004. Bibliografia. ISBN 85-221-0442-5 1. Comunicação - Pesquisa 2. Marca comercial 3. Marketing 4. Publicidade 5. Semiótica 6. Signos e símbolos I. Título.
04-2315 CDD-658.827014
Índices para catálogo sistemático: 1. Marca : Semiótica : Administração 658.827014 2. Semiótica : Marca : Administração 658.827014
Clot i lde P e r e z
Signos da
Marca 2a edição
Expressividade e Sensorialidade
Austrália • Brasil • Japão • Coreia • México • Cingapura • Espanha • Reino Unido • Estados Unidos
Signos da marca: expressividade sensorial
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2a edição
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Impresso no Brasil Printed in Brazil 2345 20 19 18 17
Para Pedro e Mel, A experiĂŞncia do amor crescente.
Prefรกcio
Já se tornou um truísmo afirmar que os bens de consumo não resultam da necessidade. Ao contrário, a necessidade surge como efeito da existência dos bens de consumo. A lucidez desta constatação está na base da, ainda atual, teoria marxista sobre o fetichismo da mercadoria. Quando se compra um produto, junto com ele se está comprando uma complexa malha de valores psicossociais difusos, não inteiramente conscientes, mas imperiosos porque fisgam o desejo. É o desejo, e não o uso que pode advir do produto, que está na mira do seu lançamento no mercado capitalista. Vem daí a importância que a publicidade desempenha nesse mercado. É a publicidade que se responsabiliza pela captação e expressão, quase sempre subliminar, dos valores que se agregam às mercadorias. Desde pelo menos um século e meio, vimos assistindo a um crescimento de complexidade do funcionamento do mercado que tem acompanhado pari passu as mutações do modo de produção capitalista. Um dos aspectos dessa complexidade está na exacerbação das ofertas de bens de consumo. Os produtos crescem, multiplicam-se, desdobram-se. Produtos de uma mesma categoria são ofertados por empresas distintas, povoando o mercado de bens similares com diferenciações entre si quase imperceptíveis. Com isso, as relações de consumo tornam-se extremamente competitivas em um mundo onde vence aquele cujas estratégias chegam mais perto e tocam mais fundo a pulsação do desejo dos consumidores. É nesse contexto que a marca de um produto reveste-se de importância. Da multiplicação das ofertas resulta a desdiferenciação dos bens de consumo. Diante dessa desdiferenciação, a marca apresenta-se como sinal diferenciador, como traço distintivo entre os produtos, uma diferença que faz a diferença.
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A marca funciona como um nome próprio que, como todo nome próprio, indica uma ascendência e origem, passando a funcionar como símbolo dessa origem. Ela tem o poder de identificar, no produto ofertado, a empresa vendedora que o produz, marcando-o com a insígnia da distinção. Trata-se de um algo a mais, um sinal alçado à categoria de símbolo representativo de uma organização para um consumidor. Já vimos que o produto não vale por seu uso, mas pelo coeficiente de fantasia desejante que nele se corporifica. Ora, a marca, como símbolo, não só tem o poder de atrair para si esse coeficiente como também adiciona a ele o seu próprio valor. Por isso mesmo, a marca passa a funcionar como um verdadeiro nó górdio que sintetiza e amarra todas as facetas simbólicas, sociais e psíquicas da relação do produto com a empresa, de um lado, e com o consumidor, de outro. Não é por acaso que, no universo do consumo, no qual os signos, que se aderem às mercadorias, valem mais do que as próprias mercadorias, a marca passou a ser o maior patrimônio das empresas, o seu patrimônio identificatório, simbólico, agregador de valores. Não é também por acaso que, cada vez mais, o consumidor tenha passado a consumir não apenas produtos, mas, antes de tudo, as marcas dos produtos, do que decorrem os efeitos pragmáticos das marcas. Elas valem os efeitos emocionais, afetivos, reativos e cognitivos que são capazes de produzir no consumidor. É por isso que, muito mais do que anunciar produtos, a publicidade visa significar algo que vai além deles: a sua marca. Como se pode ver, a marca transformou-se em um dos traços mais fundamentais do mundo do consumo, sem o qual se torna impossível pensar a complexidade dos seus circuitos. Vem daí a importância deste livro de Clotilde Perez, um estudo monográfico dedicado à multiplicidade de facetas que a questão da marca apresenta: sua manutenção, memória, visibilidade, eficácia, suas vantagens e significações. O ponto alto do livro encontra-se no detalhado estudo da expressividade e sensorialidade das marcas. Os elementos que compõem essa expressividade, o nome, o logo, o design e a forma, a embalagem e o rótulo, as cores, o slogan, o som etc. são visitados com atenção aos detalhes e nas conexões com os aspectos perceptivos e sensórios que engendram. Outro ponto alto está na inextricável ligação da marca com a publicidade nos necessários desdobramentos que essa ligação enseja. O ponto de maior originalidade encon-
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p r e f á c i o
tra-se, sem dúvida, na argumentação acerca da relevância da semiótica para o estudo das marcas e na apresentação de uma metodologia para a aplicação da semiótica a esse campo, o que compõe uma feliz combinação da teoria com a pretendida prática. Por tudo isso, este livro deverá se tornar referência obrigatória para todos aqueles que necessitem ou queiram conhecer e explorar o universo das marcas na multiplicidade de questões que se apresentam. Para isso, Clotilde Perez revelou-se nesta obra como uma incomparável sinalizadora de caminhos pela competência e desenvoltura com que se movimenta por entre os temas, subtemas e tópicos que vão compondo este panorama investigativo, que só poderia ser realizado por uma conhecedora cuja intimidade com o assunto foi sendo construída ao longo de anos de convívio.
Lucia Santaella Professora do Programa de Comunicação e
Semiótica da PUC–SP
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Prefácio 2 a edição
Apresentação
Clotilde Perez é uma estudiosa da semiótica – semioticista, como recentemente me esclareceu –, que além de, na universidade, gerar e transmitir conhecimento e empurrar os limites do saber e da reflexão, transita com tranquilidade no mercado. Faz, na verdade, a ponte entre a academia e o mercado, dando subsídios valiosos para todos que pensam sobre marcas, sua construção e sua manutenção. Sua semiótica nos ajuda a desvendar marcas e seus símbolos (logotipos, logomarcas, cores, nomes), embalagens, seus slogans, conceitos e peças publicitárias. Com ela, avançamos no conhecimento das manifestações sensoriais e das implicações culturais, afetivas e emocionais dos diversos elementos do mix de uma marca. Neste livro, usa a semiótica, disciplina aparentemente hermética e certamente pouco conhecida da maioria do público, para desvendar mecanismos que fazem as marcas serem entidades plenas de significado. Ajuda a explicar e a desmistificar a semiótica, e assim explicita seu enorme potencial de contribuição à pesquisa de mercado, à publicidade e ao marketing. Sistematiza e desperta um novo olhar sobre aspectos que estamos habituados a ver e a lidar no nosso dia a dia profissional, e nos ajuda a ter insights importantes. Traz muitos exemplos, certamente úteis, que ilustram e esclarecem os conceitos discutidos. Faz tudo isso de forma muito elegante e acessível, compreensível mesmo para o leigo; ao mesmo tempo, o texto é denso e consistente, e a revisão de literatura é abrangente. A leitura do livro mostra claramente o papel importante que os vários anos de experiência de Clotilde como consultora – assim como seu sólido conhecimento teórico – têm na sua formação profissional. A riqueza de exem-
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plos e a clareza com que faz a transposição desses exemplos em benefício da sua exposição só são possíveis pelo envolvimento continuado em casos reais, que conhece não como observadora distanciada, mas sim como parte integrante de uma equipe que busca respostas e caminhos para problemas reais de marketing, de clientes reais.
Rodrigo Toni Presidente do Instituto Ipsos
Sumário
1 Surgimento e Expansão da Marca
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Desenvolvimento das marcas 2 As marcas no tempo 6 O conceito das marcas 11 A entropia marcária 14 Decisões de marca 16 A marca guarda-chuva 20 As marcas individuais 22 As marcas mistas 24 Estratégias das marcas 28 Extensão de marcas 30 A generalização semântica como fundamento 35 Marcas múltiplas 37 Extensão de linhas 39 Extensão de imagem 41 Copaternidade 43 Hierarquia e registro das marcas 44 Marca de alto renome 48 2 Expressividade e Sensorialidade da Marca
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Marca: uma entidade perceptual 52 Nome da marca 54 Logotipo 58 Símbolo 62 Forma e design 66 Angularidade 67 Simetria 67 Proporção 69
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Tamanho 70 Embalagem e rótulo 74 Rótulo 81 Cores 82 Cor como identidade 86 Reações afetivas, cognitivas e comportamentais à cor 88 Cores de prestígio: preto e branco, dourado, prateado e cobreado 90 Cor: cultura e história 91 Combinação e gerenciamento das cores 95 Slogan 96 Som e jingle 100 Personalidade e mascote 103 Aroma e fragrância 106 Sabor: o gosto 108 Textura: o toque 110 3 Publicidade: Criação e Sustentação Marcária
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Publicidade 114 Publicidade: permanência e fugacidade 116 Publicidade: mais que anunciar produtos... significar marcas 121 Publicidade: “Diga-me com que marca andas e te direi quem és” 122 Publicidade: caminhos possíveis 125 Publicidade: abordagens sígnicas 129 Abordagem racional 130 Abordagem sociocultural 131 Abordagem comportamental 134 Abordagem psicanalítica 135 As táticas publicitárias 137 A importância do tema na publicidade da marca 138 A publicidade e a construção da marca 141 O processo de formação de valor da marca e a contribuição publicitária 145
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S um á r i o
4 Semiótica da Marca: Imagem e Produção de Sentidos
Semiótica: origem e conceito História da utilização da semiótica na publicidade Imagem e produção de sentido Condições para utilização do método semiótico Semiótica da expressividade marcária: metodologia O signo nele mesmo O signo em relação a seu objeto O signo em relação aos efeitos gerados Referências Bibliográficas
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1 Surgimento e ExpansĂŁo da Marca
Desenvolvimento das marcas
Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música [...] A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe: – Por favor... cativa-me, disse ela! Antoine de Saint-Exupéry (O pequeno príncipe)
Constatamos que, nos últimos anos, a base econômica dos países deslocou-se substancialmente do sistema produtivo centrado nos bens para o consumo, movendo-se da racionalidade material para o plano das satisfações e, portanto, para o campo da subjetividade. Nesse contexto de consumo mais diáfano, as marcas assumem destaque nas relações de busca, compra e venda, uso e descarte de produtos e serviços etc., indo além da ideia de meras facilitadoras das transações comerciais para transformarem-se em poderosos e complexos signos de posicionamento social, origem, cidadania e de ser no mundo. A oferta de bens de consumo intensificou-se de tal maneira em nosso campo visual e sensível, nas ruas, nos supermercados, nos shoppings, nas lojas, nos sites de e-commerce, nas redes sociais etc., que só é possível distinguir tantos produtos por meio de signos abreviados, de marcas e de suas expressividades. A marca representa a possibilidade de os produ-
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tos, mesmo que fugazmente, serem apreciados e reconhecidos, e ocuparem um lugar um pouco mais seguro na memória envolvida do consumidor. As marcas estão sempre presentes em praticamente todos os momentos de nossas vidas – das roupas que usamos à comida que ingerimos; dos brinquedos das crianças às bebidas que consumimos; de nossos telefones celulares a nossos carros e a nossas opções religiosas, políticas e de lazer. Lemos sobre marcas nos jornais, nas revistas e nos blogs, e assistimos/participamos de inúmeras publicidades e pesquisas de mercado. Somos muitas vezes fiéis a marcas. Parece que quase tudo pode receber uma marca – ovos, frutas, carnes e países. Até mesmo pessoas se transformam em marcas comerciais, com elevadíssimo potencial de venda, a exemplo de várias celebridades e seus licenciamentos nos mais diversos campos da vida material. Um exemplo brasileiro é a marca Romero Brito, nome do artista plástico pernambucano e mais licenciado no país e no exterior. O potencial sígnico para marcas, na atualidade, parece ilimitado, não só por elas expressarem convicções de consumo, como também por representarem um universo de possibilidades erosivas com relação a si mesmas e aos produtos que encarnam. O mundo das marcas não apenas se expandiu para dominar praticamente tudo o que pode ser feito, fornecido ou esperado, mas também reinventou relações até então tradicionais. Produtos disponíveis somente em alguns locais adquiriram renome nacional e internacional, tornando-se fontes geradoras de renda e de prestígio mundo afora. Esse é o caso das marcas brasileiras Melissa e Havaianas. Uma quantidade espantosa de milhões de produtos com as marcas da Unilever é vendida diariamente em todo o mundo; mais de 1 bilhão de pessoas usam o produto Gillette todos os dias; cerca de 38 milhões de pessoas comerão em um restaurante McDonald’s hoje, e, provavelmente, mais da metade desses consumidores escolherá um Big Mac. Mas não podemos confundir unidade (homogeneidade de consumo) com unidade sígnica. É exatamente o poder de síntese da marca que provoca sua possibilidade de ressignificação, ou melhor, de adaptação às representações do desejo de cada consumidor em cada contexto cultural específico. Quer sejam de charutos, chocolates, perfumes, carros, lojas, roupas, entidades, causas ou pessoas, as marcas estão entre os grandes ícones do século XX e invadem o século XXI com toda a intensidade e presença. Observamos que artistas célebres, como o iconógrafo norte-americano Andy Warhol (1928-1987), também foram seduzidos, de certa maneira, pelas mar-
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cas. Como artista e consumidor que ressignifica o mundo sígnico, Warhol produziu imagens de latas de sopa Campbell, Coca-Cola e imagens múltiplas de personalidades famosas. Marilyn Monroe, uma das mais conhecidas, pode ser encontrada no Museum of Modern Art de Nova York, nos Estados Unidos, ou em qualquer lojinha dos espaços descolados das grandes capitais. O fato de a maioria das marcas representadas por ícones ser de origem norte-americana deve-se em grande parte ao desenvolvimento contínuo das marcas pelas empresas instaladas no país em um ritmo mais acelerado que as de origem europeia e oriental, em função dos incentivos ao consumo desenfreado presentes naquela sociedade e seu posicionamento competitivo e imperialista. Outro exemplo de simbiose com o mundo é observado em várias obras do surrealismo espanhol Salvador Dalí (11/05/1904) a 23/01/1989: publicidades e embalagens povoam muitas de suas criações. O período pós-Primeira Guerra Mundial consolidou definitivamente a importância das marcas. A publicidade tornou-se cada vez mais prevalecente e a aquisição e a construção das marcas passaram a ser identificadas com o sucesso e o desenvolvimento sustentável das organizações, especialmente das empresas privadas. Os consumidores queriam Fords, e não simplesmente carros movidos a motor. O sucesso trouxe como consequência a complexidade dos mercados e das relações de consumo. As empresas passaram a dispor de várias marcas, que conseguiam produzir, distribuir e vender em massa. A complexidade estimulou a divisão do trabalho em funções específicas por meio de linhas de produção em que os trabalhadores desempenhavam tarefas repetitivas em uma escala gigantesca. Configurava-se naquele momento, na Administração, a divisão funcional do trabalho, a qual já há alguns anos era fortemente criticada. Satirizada impiedosamente por Charles Chaplin em Tempos modernos, essa ciência resultou na alienação do trabalhador, na falta de coordenação entre funções diferentes e na total ausência de flexibilidade. Toda a noção de responsabilidade individual foi sugada pelo sistema. A imaginação nunca era estimulada e, consequentemente, a criatividade não se desenvolvia. Tratava-se do momento da padronização dos produtos e, talvez não por acaso, do auge da lobotomia na psiquiatria. Mesmo nesse contexto, as marcas começavam a ganhar importância. Na esteira da divisão funcional, o Marketing estabeleceu-se também como função. O sistema não transformou o mundo da noite para o dia, mas, gradativamente, a gerência de marca tornou-se uma atividade funcional aceita, embora ainda como adjunto à área de vendas e/ou de comercial.
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Decorrência do desenvolvimento econômico da década de 1950, que trouxe uma infinidade de produtos e marcas novas, a gerência de marca ganhou popularidade nas empresas. Essa tendência foi reforçada ainda mais com o surgimento dos shoppings centers e da TV, no início dos anos 1950, e da publicidade, como a conhecemos hoje. Nunca tivemos um número tão grande de anúncios igualmente consequentes em comunicação. A gerência de marcas ofereceu alguma esperança de ordem em meio à confusão decorrente da prosperidade, no pós-guerra, que salientava a necessidade da criação de uma identidade para as empresas e produtos como caminho à diferenciação. Por volta de 1967, 84% dos grandes fabricantes de bens manufaturados nos Estados Unidos tinham gerentes de marca. Embora os nomes tenham mudado, esse sistema permaneceu por muito tempo. Apenas na década de 1990 o sistema de gerenciamento de marcas começou a ser questionado por novas tendências, como a reengenharia, que procuraram romper as barreiras funcionais há muito estabelecidas. A marca então passa a ocupar um lugar central na problemática das empresas, recebe atenção e investimentos contínuos e configura-se, em muitos casos, como o principal patrimônio da empresa. No Brasil, a profusão das marcas começa a ser observada apenas no fim dos anos 1980, já experimentando a abertura do mercado e o consequente aumento da competição. As multinacionais de consumo de massa – boa parte delas já instalada nos anos 1940/1950 – trouxeram as suas diversidades e segmentações praticadas mundo afora, levando as empresas brasileiras a repensar seus negócios e, com grande impacto, suas marcas.
As marcas no tempo A denominação de um signo como marca está vinculada à ideia de distintividade, identidade, autoria e propriedade. Acredita-se que, muito antes da existência da escrita, os homens já possuíam nomes (designação verbal) pelos quais podiam ser identificados de forma clara e unívoca. A própria assinatura das pessoas tem sua origem supostamente nas tribos nômades que a utilizavam com o objetivo de assinalar a propriedade de seu gado e de seus objetos. A assinatura era, então, signo de propriedade. Vestígios de assinaturas foram descobertos em fragmentos de utensílios de barro procedentes da Idade da Pedra.
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Ao procurar entender a origem das marcas, estamos, na verdade, buscando a “fonte de sua essência”, como diria Heidegger (2012). Em um recuo histórico, percebemos que há correntes que reconhecem a origem das marcas na prática de identificar, com brasa, barris de cedro com bebidas destiladas. Outras acreditam que as primeiras marcas tiveram sua origem nas marcações de gado com fogo (to burn – de onde surgiu Brand) ou ainda nas artes. Controvérsias à parte, passemos a algumas informações históricas relevantes. Na Antiguidade, era comum escultores e artistas plásticos em geral assinarem seus trabalhos como forma de identificação. Na Idade Média, desapareceu a tradição de assinar trabalhos de arte, fazendo que os artistas responsáveis por importantes igrejas, monumentos, esculturas e diversas outras manifestações culturais permanecessem no mais puro anonimato. Não é à toa que esse período histórico ficou conhecido como a “Idade das Trevas”. Artistas como Michelangelo Buonarroti1 e, posteriormente, Peter Paul Rubens2 reabilitaram na Renascença a tradição de assinar trabalhos artísticos, permitindo uma avaliação global da obra e fazendo que a presença da assinatura em sua produção influenciasse na avaliação comercial.
Obra de Michelangelo intitulada Tondo Doni, datada de 1503/4. Têmpera sobre madeira (120 cm de diâmetro). Encontra-se na Galleria degli Uffizi, em Florença.
1 Michelangelo nasceu em 1475, em Caprese, Itália, e morreu em 1564, em Roma. 2 Rubens nasceu em 1577, em Siegen, Alemanha, e morreu em 1640, na Antuérpia, Bélgica.
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Muitos séculos antes da evolução dos mercados varejistas na Europa Ocidental, as prósperas cidades do Oriente Médio e do litoral do Mediterrâneo já haviam atingido o estágio de produção orientada para o mercado consumidor, e a identidade dos produtos passava a ser item importante na comercialização. Com a queda do Império Romano, houve a interrupção do comércio entre as nações. O feudalismo passou a ser o modelo econômico-produtivo dominante na Europa Ocidental, marcando uma espécie de retorno a uma economia autossuficiente e fechada, praticamente de subsistência, em que cada comunidade produzia tudo que necessitava, de roupas a alimentos, dispensando o intercâmbio comercial com as demais. Mesmo nessa estrutura tão fechada, houve vários feudos que criaram toda uma identidade visual feudal-familiar, criando inclusive, moeda própria.
Obra de Rubens intitulada O julgamento de Páris, datada de 1623-1635. Óleo sobre madeira (144,8 x 193,7 cm). Encontra-se na National Gallery, em Londres.
Aos poucos, porém, os feudos começaram a romper seu isolamento, por meio do desenvolvimento de pequenos mercados semanais, semelhantes às feiras livres da atualidade. Com o crescimento das cidades, os encontros comerciais tornaram-se mais frequentes, passando a exigir a construção de locais
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permanentes que abrigassem do tempo os vendedores e os compradores, dando origem às primeiras lojas varejistas. Já nesse momento percebe-se o início de manifestações promocionais, mesmo que de maneira ainda rudimentar. Surgiram, então, as guildas3 artesanais e comerciais, destinadas a controlar a quantidade e a qualidade da produção. Uma das determinações dessas guildas era que cada produtor colocasse uma marca em seus produtos a fim de facilitar a sua identificação na eventualidade de ser necessária a redução ou a ampliação da produção. Ainda sem a forte preocupação promocional ou de identidade, as marcas ganham importância. O expediente de marcar produtos facilitava ainda a identificação de produtos de qualidade inferior, que poderiam prejudicar outros produtos da guilda, permitindo a aplicação de punições ao produtor responsável. Nesse momento, as marcas tinham mais uma função burocrática e legal, pois o foco estava na produção. As marcas tornam-se, desde esse momento, uma proteção ao consumidor, que podia facilmente identificar a origem da mercadoria comprada. As marcas modernas, como as conhecemos e convivemos hoje, tiveram sua origem na Revolução Industrial, a partir da segunda metade do século XVIII, quando o uso de técnicas de promoção de vendas determinou a importância da seleção de nomes e marcas reconhecidas. Desenvolveram-se as técnicas promocionais como alternativa para atrair a atenção dos consumidores, pois os mercados começaram a se tornar mais competitivos. Nos Estados Unidos, os precursores da utilização de marcas foram os fabricantes de remédios populares e, após a guerra civil, os de alimentos e bebidas. Algumas marcas criadas nas décadas de 1860 e 1870 ainda existem e permanecem firmes no mercado, como, por exemplo, Quaker Oats, Ivory Soap e Borden’s Condensed Milk. O uso de marcas como as da atualidade tem pouco mais de um século. Já em 1883, a Convenção da União de Paris procurava estabelecer uma base legal para coibir a concorrência desleal. Por volta de 1890, a maioria dos países industrializados possuía legislação específica sobre propriedade e proteção de marcas. 3 Associações de auxílio mútuo constituídas na Idade Média entre as corporações de operários, arte-
sãos, negociantes ou artistas. Funcionavam de maneira semelhante aos sindicatos trabalhistas atuais.
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Fonte: Pepsico Crédito: Divulgação
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A Quaker Oats foi criada em 1877, por Henry Seymour, como marca de cereal.
A grande mudança começou na última década do século XIX, com o surgimento de empresas que desenvolveram formas de distribuição em larga escala e começaram a utilizar os meios de comunicação com grande cobertura geográfica, visando atingir a massa populacional crescente. Em todos os continentes, o rápido aumento populacional, a expansão das estradas de ferro e a proliferação de novas fábricas estimulavam a demanda por uma ampla gama de produtos de desenvolvimento muito recente, que variavam de remédios e alimentos a aparelhos elétricos e mecânicos, além de alguns serviços. Quanto maior a variedade fabricada, maior se tornava a demanda, gerando uma reação em cadeia. Isso levou fabricantes, atacadistas e varejistas a escolherem marcas que fossem eficazes em vários sentidos, já postulando aos princípios fundamentais até hoje: ÙÙ fáceis de lembrar; ÙÙ de fácil pronúncia; ÙÙ originais; ÙÙ que descrevessem, se possível, direta ou indiretamente o produto de forma criativa.
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Em todo o mundo, quase tudo é vendido com marca. Frutas são carimbadas com a marca do produtor ou do distribuidor, carnes recebem selos distintivos, serviços materializam sua identidade visual, partidos políticos comunicam suas insígnias, pessoas provêm suas vidas , tudo é estratégia que objetiva identificação imediata e, preferencialmente, distinção.
O conceito das marcas A marca é uma conexão simbólica construída entre uma organização ou uma pessoa e sua oferta para outras pessoas. Entender a marca como “conexão” implica assumir a dialogia irrefutável construída nas relações de consumo. Há uma imensa vastidão de conceitos de marca, desde o mais usado em marketing desenvolvido pela American Marketing Association (AMA), citado por Kotler (1998, p. 393) – “Um nome, termo, sinal, símbolo ou combinação dos mesmos, que têm o propósito de identificar bens ou serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e de diferenciá-los de concorrentes” –, até outras abordagens que objetivam ampliar seu entendimento, inserindo-a no mundo da subjetividade e das conexões afetivas. Em outra direção reflexiva, mas não contrária, Jong (1991, p. 168) conceitua marca como: “un símbolo, el medio más esencial por el que la empresa se manifiesta visualmente” (um símbolo é o meio mais essencial pelo qual a empresa se manifesta visualmente ). As definições apresentadas guardam entre si semelhanças no que se refere a marca como caminho de visibilidade e de diferenciação. As palavras da AMA são mais abrangentes, embora ainda não sejam suficientes. “Entendo por marca a distinção final de um produto ou empresa e que traduz de forma marcante e decisiva o valor de uso para o comprador. É um sinal distintivo” (Perez e Bairon, 2002, p. 65). Hoje, entendo que faltou a carga simbólica a essa definição e, por isso, construo uma nova forma de interpretação: a marca é uma conexão simbólica, construída entre uma organização produto ou pessoa, sua oferta material e/ou intangível e as pessoas para as quais se destina. A marca é relacional. Tal definição traz consequências e a primeira delas é a irrefutável perda de poder dos gestores das marcas. A marca não é mais “propriedade” deles, portanto, muitas decisões precisam ser negociadas; outras, bem explicadas etc.
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Outro conceito muito encontrado na literatura sobre o assunto refere-se à marca registrada, que recebeu a proteção legal para uso exclusivo pelo seu proprietário, que é o detentor do registro. Muitas vezes, inclui o logotipo, símbolo, slogan, embalagens etc. No Brasil, o órgão responsável pelo registro da marca é o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), vinculado ao Governo Federal. A marca é mais do que o produto, ou, na visão de Randazzo (1996 , p. 24): “a marca é ao mesmo tempo uma entidade física e perceptual”. O aspecto físico desta, que pode ser encontrado na prateleira do supermercado, no site ou de qualquer outro ponto de venda, diz respeito ao produto propriamente dito, sua embalagem e rotulagem. É geralmente estático e finito. Entretanto, o aspecto perceptual de uma marca existe no espaço psicológico – na mente do consumidor. É, portanto, dinâmico e maleável e não acessível diretamente. Algumas marcas obtêm um nível de diferenciação tão forte que se transformam em metonímia4 de uma classe de produtos ou serviços. Exemplos: Bombril para designar lã de aço, Gillette para lâmina de barbear, Xerox para cópias reprográficas e tantas outras. Sem marca, um produto é uma coisa – uma mercadoria, um saquinho de café, um calçado ou uma latinha de molho. Para a maioria das categorias de produtos, a percepção que o consumidor tem de um produto genérico, sem marca, tende a ser dominada pela condição de coisa do produto, por seus atributos e benefícios meramente funcionais, desprovendo-o de sua carga emocional e simbólica. No entanto, embora seja verdade que o consumidor geralmente percebe o produto genérico, sem marca, como entidade física, uma coisa, a maioria dos produtos também tem um aspecto psíquico latente, uma mitologia latente de produto. A percepção da existência da mitologia latente de um produto varia de produto para produto e de consumidor para consumidor. Entretanto, se os consumidores têm alguma consciência da mitologia do produto, geralmente ela não é muito evidente – é mesmo oculta. Ela se encontra abaixo do limiar da consciência do consumidor na subjetividade no inconsisciente e age como uma erosão sígnica em relação à marca.
4 A metonímia é uma figura de retórica que consiste no uso de uma palavra fora do seu contexto
semântico normal por ter uma significação que tenha relação objetiva, de contiguidade, material ou conceitual, com o conteúdo ou o referente ocasionalmente pensado.
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A mitologia latente do produto vai além de seus atributos físicos, benefícios e uso, ela abrange a totalidade das percepções, crenças, ritos, experiências, usos e sentimentos associados com o produto/serviço. A mitologia latente do produto decorre das experiências do consumidor com o produto genérico e, também, com a história, a cultura, os fatos e as fantasias que o cercam. Proporciona, às vezes, notáveis descobertas acerca de como o consumidor percebe o produto e esclarece as suas motivações para usá-lo, por exemplo. Ela é importante porque, muitas vezes, constitui a base para formar e manter uma forte e duradoura “mitologia de marca”. Essa mitologia é amplamente explorada pelos produtores de perfume, ao perceberam que “vendem” beleza, sedução, aceitação, elegância, magia e não uma substância para atribuir “cheiros agradáveis” às pessoas. Vale salientar que há algumas categorias de produtos em que a mitologia de produto não está latente; ocupa o primeiro plano na mente nas pessoas. Por exemplo, champanhe e charutos são categorias de produtos que tendem a ser dominados por suas mitologias de produto. Quando os consumidores compram um produto como champanhe, estão comprando uma sedutora fantasia, tanto quanto um produto tangível. Comprar e consumir um Cohiba (charuto cubano) ou tomar um Veuve Clicquot (champanhe criado em 1772 por Philippe Clicquot) são experiências ritualísticas e altamente sedutoras que representam muito mais do que simplesmente fumar ou “matar a sede”.
Garrafa de Veuve Clicquot, fonte mitologia de produto/marca.
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A entropia marcária O fenômeno da entropia tem sua origem vinculada à física e diz respeito a uma lei da termodinâmica que se refere à perda de energia em sistemas isolados, levando-os à degradação. Na Biologia, o conceito é utilizado como a medida da variação ou da desordem de qualquer sistema. A entropia (do grego, entrope), que etimologicamente significa transformação, pode ser entendida como uma medida de desordem ou de imprevisibilidade da informação, certa tendência à degradação, à desintegração e até ao desaparecimento. O termo também é amplamente usado na Teoria dos Sistemas apropriado aos estudos da Administração de Empresas. Nessa perspectiva, a organização é vista como um sistema e, portanto, está sujeita à perda de energia, à desordem e à degradação – entropia. As implicações dessa abordagem estão no entendimento da organização como um constitutivo de elementos e recursos organizados que operam em relação de interdependência. A lei contrária à entropia, que também vem da física, é a entropia negativa, ou seja, o suprimento da energia adicional para que o sistema não entre em desordem. Assim, quando aplicamos à linguagem administrativa, a entropia negativa é a informação. A informação permite a homeostasia do sistema, seu equilíbrio, trazendo-o ou mantendo-o em ordem, “contrariando” sua tendência ao desgaste. Transportando o entendimento da organização como sistema para as marcas, percebemos que estas também se constituem em sistemas. Seus elementos constitutivos vão desde seu nome, logotipo, slogan, forma, cores, até todo seu sistema publicitário que lhe dá sustentação e o discurso sociocultural dos executivos e da organização que lhe deu origem. Trata-se, assim, de um sistema bastante complexo, com componentes tangíveis e também de grande carga subjetiva, portanto, de difícil controle e mensuração. Se a marca é um sistema, ela – assim como todos os outros – tende ao desgaste pela sua suscetibilidade entrópica. Diante disso, percebemos que, se não injetarmos constantemente energia na marca, ela perde sua atratividade, sua pregnância, desgasta-se, degrada-se e pode desaparecer. Essa “energia” está aqui revestida do investimento em comunicação e expressão marcária irrefutáveis, principalmente nos mercados altamente competitivos. A marca deve estar constantemente presente se autorreferenciando. Lembrando que a marca não
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é um ente natural, mas sim uma construção sociocultural, uma dialogia e, portanto, não está provida de condições de se autoalimentar, há que se prover esse “abastecimento” com investimento publicitário e promocional que permitam a construção de vínculos com as pessoas continuamente. A entropia marcária pode ter sua origem na presença e no investimento de um concorrente. Assim, se um competidor passa a “cuidar” de sua marca de maneira vigorosa e “você” não o faz, naturalmente com o tempo sua marca se esvai. Outro fenômeno é o da insistência em padrões de comunicação já desgastados, que ocorre quando uma marca não se atualiza em relação ao seu público-alvo. Ela deve incorporar as tendências de sua época e as mudanças socioculturais do público para a qual deve manter seu diálogo. Um exemplo desse cuidado foi o lançamento do carro Ford Ka no final dos anos 1990. O lançamento do produto, bastante arrojado, tinha por principal objetivo trazer jovialidade à marca Ford, que estava desgastada e envelhecida. Esse é um tipo de estratégia, mas às vezes alterações na logotipia ou na abordagem publicitária, incorporando o espírito do tempo, são suficientes para se manter “em linha” com seus consumidores. Cuidar da marca, envolvê-la em ambientações estrategicamente planejadas, revesti-la de modernidade sem perder seus traços de memória distintiva, agregá-la a situações agradáveis, prazerosas, responsáveis e edificantes, até mesmo hedonísticas em algumas situações (nem todas são adequadas), e calibrar seu discurso com o público, talvez seja o caminho para se chegar à entropia negativa, ou seja, ao equilíbrio sistêmico de seus elementos, evitando a degradação. A marca é um sistema complexo e vivente e como tal requer monitoramento e renovação constantes. Ela tende à entropia mais rapidamente quando deixa de produzir significações afinadas com o seu público. A marca é a convergência semiótica de elementos reticulares resultante de uma negociação constante entre os diversos atores sociais do processo comunicacional.
Decisões de marca Decisão está sempre vinculada à ideia de tomar partido, julgar e resolver. Assim, a primeira decisão de marca que uma organização deve tomar é usá-
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-la ou não em cada uma de suas linhas de produtos. Sua não utilização leva às chamadas marcas ou produtos genéricos, normalmente commodities de pouca ou nenhuma diferenciação, acarretando menores custos de embalagem, de divulgação e de monitoramento. Em contrapartida, a utilização de marcas incorre em muitos custos adicionais altos, principalmente da perspectiva comunicacional, mas pode trazer vantagens para a empresa, desde que seus elementos constitutivos sejam entendidos, rigorosamente gerenciados e comunicados. A análise da importância que a marca pode assumir perante os consumidores, seus reflexos na empresa e as condições básicas para sua utilização deve pautar o processo decisório “marca versus não marca”. Do ponto de vista dos consumidores, o uso de marcas pode oferecer uma série de vantagens:
ÙÙ A marca identifica a origem do produto e, portanto, protege o consumidor A existência de marcas conhecidas possibilita a seleção de produtos e a sua comparação, classificação por faixa de preço, qualidade etc. É comum que os consumidores se disponham a adquirir um produto um pouco mais caro de marca já conhecida que um produto mais barato e de marca desconhecida. A segurança, e não a economia, é, muitas vezes, fator decisivo na compra. Muitos consumidores valorizam mais o status simbólico sinalizado pela marca que os benefícios funcionais constitutivos do produto concreto. Para nós brasileiros, deparar-se com um anúncio de Havaianas quando estamos no exterior traz um imenso conforto, pois sabemos o que vamos encontrar e, portanto, estamos protegidos do diferente e do estranho, sensações comuns e frequentes em situações desse tipo.
ÙÙ A marca facilita a compra e reduz o tempo de decisão A marca minimiza os esforços com pesquisas comparativas em grande parte das situações de compra e para quase todos os produtos. Os consumidores reduzem o tempo de escolha por já possuírem um posicionamento perceptivo a respeito da marca. Por exemplo, uma dona de casa que não compra as diversas opções disponíveis de sabão em pó, e, sim, a marca tradicional.
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Comprar uma marca de qualidade, que está no mercado há anos é confortável, seguro e rápido: “eu sei o que estou levando para casa”.
ÙÙ A marca confere status diferenciado A marca é uma espécie de “máquina” de produzir significações e, nesse sentido, opera na construção de um determinado locus social e estilos de vida. Ao usarmos e consumirmos um determinado produto de certa marca, estamos nos posicionando socialmente, estamos declarando quem somos, do que gostamos, o que valorizamos, e assim por diante.
ÙÙ A marca é pertença O consumo também é uma forma de acesso e de pertencimento social. No caso brasileiro, esta dimensão é particularmente relevante. Vivemos na última década uma importante transformação demográfica econômica que se materializou na ascensão de aproximadamente 40 milhões de brasileiros à chamada classe média. Consumir passa a ser uma forma de pertencimento, uma vez que o não consumo era apartação. Não é diferencial social necessariamente é pertencimento: “agora sim, posso consumir, logo existo”. Apesar das aspas, essa é uma importante realidade em uma estrutura social e psíquica de um país capitalista e em desenvolvimento, como é o nosso caso e de tantos outros países na América Latina. As principais vantagens do uso de marcas para as organizações estão diretamente ligadas ao que elas proporcionam às pessoas às quais se destinam. As empresas não dariam tanto peso às marcas se seu público-alvo não fosse sensível a elas. Algumas vantagens para as organizações podem ser observadas a seguir: ÙÙ protegem o produto contra imitações ou, pelo menos, tentam; ÙÙ diferenciam, identificam e localizam o produto no ponto de venda e na esfera social; ÙÙ satisfazem e estimulam a compra repetida, podendo gerar fidelidade;
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ÙÙ possibilitam, invariavelmente, maiores margens de lucro, sobretudo as de posicionamento premium ou luxo; ÙÙ possibilitam extensões (no caso de marcas fortes), como explorado pela Harley-Davidson: motos, roupas e acessórios; ÙÙ permitem segmentação, como amplamente explorado pela Unilever: sabões em pó, xampus e sabonetes que cobrem toda a amplitude do mercado, por meio de marcas e de preços diferenciados). ÙÙ Controem a ponte; são mediadores entre as ofertas e as pessoas Marcas vigorosas podem ainda beneficiar a empresa ao facilitar o lançamento de novos produtos, como o Ninho Soleil®, iogurte da Nestlé®, que teve sua introdução no mercado facilitada pela imagem austera e altamente positiva da marca de leite em pó Ninho®. A empresa pode também usar seu próprio nome como marca, decisão particularmente importante para produtos industriais, cuja identificação individual é mais difícil. Nesse caso, é interessante passar, por meio dela, a personalidade global da empresa de forma positiva. A imagem de uma organização de porte e bem-sucedida projeta uma impressão positiva da empresa e seus produtos para os consumidores. Quando analisamos a dicotomia “marca versus não marca”, temos de analisar também algumas condições para o seu uso, que passam por demanda, qualidade, distribuição e ponto de venda. A demanda do produto deve ser suficientemente grande para que ele proporcione, ao preço de mercado, uma margem satisfatória, considerando os custos adicionais de registro, embalagem, rotulagem, comunicação e gerenciamento da marca. É claro que não estamos nos referindo aqui a mercados de nicho, ou o ponto central não é necessariamente a quantidade, mas sim o compartilhamento de características de comportamento de compra passíveis de serem atendidas. A qualidade do produto deve ser a melhor possível ao preço de mercado, proporcionando valor a ele. A agregação efetiva de valor ao produto só se dá quando o consumidor percebe a qualidade ou a diferenciação. De nada
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adianta o discurso da empresa sobre a qualidade, mas, sim, se esta é percebida e valorizada pelos consumidores. A marca deve ser facilmente identificável no produto, na embalagem ou no rótulo. Se ela não for visível, muito de seu valor em termos de distintividade e prestígio poderá ser perdido. Alguns produtos requerem engenhosidades na colocação da marca. Produtores de ovos, de bananas ou de maçãs inserem suas marcas diretamente no produto. Grandes fornecedores de carne colocam suas identidades visuais em embalagens fílmicas transparentes ou em etiquetas metálicas para o consumo em larga escala. Fabricantes de porcas e parafusos nos Estados Unidos identificam a marca do produto com etiquetas autocolantes em embalagens de celofane. A marca e o produto, portanto, devem estar sempre amplamente disponíveis. Deve-se evitar ao máximo a situação em que o consumidor procura por um marca e não a encontra, o que pode gerar decepção, dissonância cognitiva e sua subsequente substituição por uma do concorrente. Com o acirramento da competição, a distribuição e a reposição do produto no ponto de venda são condições essenciais de permanência no mercado. Além disso, deve ser possível manter um nível mínimo de controle ou influência sobre a colocação e a exposição do produto no ponto de venda para permitir a necessária visibilidade à marca. Daí decorrem todas as ações de merchandising no PDV. Há alguns anos, o varejo transferiu à indústria a responsabilidade integral sob o ponto de venda. As indústrias mantêm, principalmente nas grandes redes varejistas, no ponto de venda, profissionais especializados para garantir não só a adequada reposição, como também a melhor utilização das técnicas de merchandising e, até mesmo, “consultoria” ao consumidor no momento da compra. Após análise mais detalhada dos impactos de se ter ou não uma marca, a organização ou pessoa que decidir por criá-la deve voltar-se para as opções estratégicas genéricas que envolvem sua utilização. As alternativas básicas são: marca guarda-chuva (umbrella brand), marca individual e marca mista.
A marca guarda-chuva A estratégia de marca guarda-chuva é adotada por empresas que atuam em diversificados setores da economia, como a Mitsubishi, por exemplo, ou a
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Sadia. Essas empresas utilizam uma mesma marca para quase todas as linhas ou todos os produtos em uma ou mais linhas, visando à proteção de novos lançamentos. A estratégia “guarda-chuva” traz, evidentemente, vantagens e desvantagens para a organização que a adota. Analisaremos a seguir cada uma delas.
Vantagens
Desvantagens
Possibilita custos mais baixos para o
A principal desvantagem é o fato de que
lançamento de novos produtos por não
um fracasso de vendas ou um produto
haver necessidade de pesquisa de no-
identificado como de qualidade inferior
mes, cores, registro e esforço adicional
ao já construído pela marca podem arra-
de comunicação necessários para tor-
nhar a reputação de todos os demais pro-
nar a marca amplamente conhecida e
dutos e, consequentemente, da empresa.
posicioná-la de modo adequado. Nesse caso, o novo produto assume o posicionamento já presente na mente dos consumidores. Potencialmente promove boas vendas
A introdução de categorias de produtos
em caso de marcas fortes e bem es-
claramente distintos ou de qualidade infe-
tabelecidas. Quando o novo produ-
rior sob o mesmo guarda-chuva pode não
to vem perfeitamente integrado aos já
só não trazer benefício algum ao novo
existentes, isso constitui uma grande
produto, como ainda destruir ou arranhar
vantagem.
o prestígio dos produtos já estabelecidos, contribuindo para intensificar a entropia da marca.
Nos momentos em que se opta por uma marca guarda-chuva para muitas linhas de produtos, é comum que o nome da empresa seja usado como guarda-chuva para todos ou para grande parte dos produtos, como no caso mencionado da empresa e dos diversos produtos Sadia (frango resfriado, congelado, nuggets, embutidos, pizzas etc.). Outras empresas, no entanto, preferem ter mais de uma marca guarda-chuva, com um posicionamento claramente distinto do primeiro, muitas vezes funcionando como “marca de família de produtos”, ou simplesmente buscando satisfazer a outro segmento do público-alvo. Isso evita que os
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produtos existentes sejam prejudicados por uma extensão inadequada do guarda-chuva. É possível ter também marcas guarda-chuva por linha de produtos, pretendendo-se, com essa estratégia, tirar partido da sinergia possível entre os produtos sempre que se considerar adequado o uso de uma marca existente para introdução de novos produtos. O uso de marcas guarda-chuva por linha de produtos é mais flexível que a utilização de um só guarda-chuva para todos os produtos da empresa, permitindo a sinalização de faixas de preço e/ou qualidade diferentes, categorias de produtos não relacionadas e posicionamentos claramente distintos. Muitas empresas conscientes de seu nome forte, sinônimo de qualidade, credibilidade e prestígio acrescentam outras marcas, em vários graus de intensidade, à própria marca guarda-chuva que criaram.
As marcas individuais Como o próprio termo sugere, a estratégia de marca individual é adotada pelas organizações que pretendam ter marcas específicas para seus produtos. Analisaremos essa estratégia com base em vantagens e desvantagens proporcionadas pela sua adoção:
Vantagens
Desvantagens
Flexibilidade e menor rigidez na escolha do nome que melhor se adapte às características, aos atributos, ao público consumidor, ao contexto, à época e/ ou ao posicionamento do produto.
É necessário investir em criação e pesquisa para, por exemplo, a escolha de nomes. Na ausência de pesquisas, corre-se maior risco. Despesas com registro de marcas e investimentos direcionados aos esforços de comunicação para lançar, promover, posicionar e proporcionar reconhecimento às novas marcas são também custos adicionais.
(continua)
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(continuação)
Vantagens
Desvantagens
Possibilidade de manutenção dos movimentos de downtrading ou uptrading (migração do consumidor para marcas mais baratas/inferiores ou para marcas mais caras/superiores) entre as marcas da empresa, minimizando perdas de participação de mercado da linha ou da empresa como um todo.
Pouco ou nenhum proveito da reputação e da imagem já construída da empresa ou de outros produtos de sucesso. É quase como começar de novo a cada lançamento, com todas as condicionantes de “partir do zero”. Uma construção por fazer.
Se o novo produto não obtiver o sucesso esperado, não haverá comprometimento de outros produtos ou da reputação da empresa. Estabelece-se certa dependência que garante o distanciamento e a não contaminação.
O posicionamento equivocado da nova marca pode redundar em canibalização, possivelmente superior à parcela de mercado roubada da concorrência.
Possibilita maior ocupação de espaço no ponto de venda. Otimiza a segmentação de mercado, promovendo a sensação de “personalização”. Proporciona a sensação de inovação e modernidade para o consumidor. Gera uma saudável competição interna, levando a uma maior eficácia: cada marca tem sucesso – ou não – por seus próprios méritos.
No mercado brasileiro de produtos de limpeza, marcado pelo oligopólio, a profusão de marcas induz o consumidor a pensar em vários fabricantes com características diferentes, quando, na verdade, apenas poucos grandes concorrentes detêm quase a totalidade das marcas disponíveis nas prateleiras
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dos supermercados. Observando o segmento de sabão em pó, por exemplo, constatamos que, atualmente, as principais marcas são: OMO, Brilhante, Minerva, Surf, Ariel, Ace, Ypê e Tixan. Dessas, as quatro primeiras são controladas pela Unilever; as duas seguintes, pela Procter & Gamble, e as duas últimas são marcas da Química Amparo. Os exemplos apresentados ilustram de forma apropriada como as marcas individuais possibilitam maior segmentação do mercado. Essa estratégia busca ainda minimizar a perda de participação da empresa nos casos de downtrading e uptrading, trocando a perda de participação por canibalização.5 O consumidor compra outras marcas sem saber necessariamente que os produtos são fabricados e comercializados pelas mesmas corporações.
As marcas mistas A decisão de utilização da marca mista busca personalizar os produtos sem abandonar o aval de uma marca guarda-chuva, que pode ou não ser o nome da empresa. As consequências dessa postura são a combinação das vantagens – e também das desvantagens – do uso de marcas guarda-chuva e individuais. A primeira importante vantagem é o fato de o produto poder se tornar conhecido na sua individualidade e ainda contar com o aval da marca guarda-chuva e/ou do nome da empresa, que pode facilitar, agilizar e diminuir consideravelmente os custos de lançamento. Assim quando a Bombril lançou o amaciante de roupas Mon Bijou, os investimentos no lançamento não seriam os mesmos se não se colocasse o produto sob a “proteção” e a carga simbólica já construída da marca Bombril. Uma desvantagem é que se o produto, apesar do guarda-chuva, não obtiver aceitação ou imagem favorável, poderá prejudicar outros produtos sob a mesma marca ou imagem da empresa. Apresentamos a seguir algumas variações das escolhas possíveis para utilização da marca:
5 Termo empregado no marketing à introdução de um novo produto/marca que tomará parte do
share (participação) de um produto já existente do mesmo fabricante.
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ÙÙ Marca do produto + marca da empresa Nesse caso, a empresa, além de ter uma marca registrada para o produto, acrescenta na embalagem ou rótulo sua própria marca, que funciona como um abrigo de reconhecimento e credibilidade, como faz a Nestlé® com os biscoitos Calipso® ou Bono®, em que a marca da empresa (Nestlé®) está presente, porém agregada à marca do produto (Calipso®/Bono®). Temos ainda o caso da Scotch-Brite como marca de esponja sintética e a 3M como marca da empresa fabricante. Outro exemplo é o caso dos confeitos de chocolate da marca Rocklets, que se apresenta agregada à marca Arcor, empresa que lhe deu origem.
ÙÙ Nome do produto + marca da empresa Nessa alternativa, a empresa cria um nome singular e específico para o produto e o registra como marca, na medida do possível, vinculando-o ao nome da empresa, que faz o papel de guarda-chuva. Assim procede a Kellogg’s, que segue essa política com Choco Krispis, Granola, All-Bran e Sucrilhos, todas como marcas registradas no Brasil, acrescidas da marca Kellogg’s nas embalagens. Entretanto, no caso dos produtos Rice Krispis, que significa “flocos crocantes de arroz”, e Corn Flakes (“flocos de millho”), por se tratar de expressões de uso comum, não podem ser protegidos por registro; o que diferencia o produto da Kellogg’s do da concorrência é o guarda-chuva institucional da empresa. Para estabelecer uma diferenciação com o produto Corn Flakes de uma rede varejista, a Kellogg’s registrou a figura do galo e estampou a frase “O original e o melhor” na embalagem, conseguindo distinguir-se nas prateleiras.
ÙÙ Nome do produto/linha/coleção + marca guarda-chuva Amplamente utilizada na indústria da moda, essa estratégia tem como prática a utilização da marca, muitas vezes o nome do próprio estilista, operando como uma espécie de aval, enquanto outro nome identifica o produto, linha ou coleção: Coleção de Verão Giovanni Versace, Gucci, ou o recente lançamento da linha verão 2016 “Go Back” de Reinaldo Lourenço.
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ÙÙ Nome ou marca do produto + marca guarda-chuva + marca da empresa Com a utilização dessa estratégia, é possível permitir que o produto seja ao mesmo tempo individualizado e identificado com o restante da linha, além de contar com o reforço do guarda-chuva institucional. A linha de cafés solúveis da Nestlé® exibe duas marcas em seus rótulos: os nomes individuais – Original e Matinal –, alguns registrados como marcas; e a marca Nescafé®. Além disso, apesar de não haver destaque para a marca Nestlé®, a transposição das palavras Nescafé® e Nestlé® traz sua presença mesmo que subjetiva: “qualidade Nestlé®”, bastante visível na embalagem. Essa estratégia também vinha sendo utilizada quando a Nestlé® agregou a marca São Luiz aos biscoitos doces e a marca Bono® a seu biscoito redondo de chocolate. A mesma embalagem trazia em letras menores: “todos os produtos São Luiz se beneficiam da experiência da Nestlé® em produzir alimentos de qualidade em todo o mundo”.
ÙÙ Marca da empresa + marca do produto = nome do produto Essa é uma categoria razoavelmente incomum no mercado. O caso exemplar é o do Catupiry, em que a marca diz respeito à empresa fabricante do produto e também à marca deste. No entanto, nesse caso ocorre o fenômeno da metonímia, em que a marca do produto passa a ser sinônimo da categoria ou até um tipo de produto (um determinado queijo pastoso). Todos nós pedimos pizza de frango com Catupiry, pois simplesmente não há um nome para essa categoria específica de queijos pastosos. Fenômeno mercadológico semelhante ocorre com as marcas Gillette e Xerox no Brasil, ambas tornaram-se metonímias, representando – ainda que parcialmente – a categoria dos produtos/serviços aos quais pertencem.
Estratégias das marcas A cada dia surge uma enxurrada de marcas no mercado. Da mesma maneira, a cada ano desaparecem milhares de marcas, mas novamente surgem
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muitas outras, em um ciclo ininterrupto e desenfreado. Em um supermercado médio, no Brasil, de acordo com o Instituto Nielsen, podemos encontrar mais de 20 mil marcas individuais. Na década de 1970, esse número não passava de 5 mil. A necessidade de classificar, inventariar e codificar as mercadorias existe desde o surgimento do comércio. Nos anos 1970, criou-se pela primeira vez uma metodologia, chamada código de barras tipo European Article Numbering Association (EAN), a qual, posteriormente, com a adesão de vários outros países, passou a chamar-se International Article Numbering, com as mesmas siglas. De forma simplificada, o código de barras é uma série de linhas paralelas e espaços de diferentes espessuras que determinam as informações codificadas. O código de barras adotado no Brasil permite identificar até 100 mil itens de 5 mil empresas e mais de 10 mil itens de 40 mil empresas, perfazendo um total de 900 milhões de itens. Nos Estados Unidos e no Canadá, utiliza-se o Universal Product Code (UPC), que permite a identificação de bilhões de produtos. O US Patent Office (<http://www.uspto.gov/>) , órgão norte-americano responsável pelo registro de marcas, equivalente no Brasil ao Inpi, tem mais de 1 milhão de marcas em seus registros, e cerca de 30 mil novas marcas são registradas a cada ano. Apenas para exemplificar a dimensão desses dados, existem registrados mais de 450 marcas de carros e nove tipos diferentes de Coca-Cola: a própria Coca-Cola, Coca-Cola Classic, Caffeine Free Coke, Caffeine Free Classic Coca-Cola, Diet Coke, Caffeine Free Diet Coke, Cherry Coke, Diet Cherry Coke e Coca Light. E o mais interessante é que, até meados da década de 1970, havia apenas o registro singular da marca Coca-Cola. No Brasil, mesmo com a crescente onda de aquisições, fusões e consolidações, o valor das marcas faz que, na maioria das vezes, os grupos e holdings resultantes mantenham as marcas das empresas absorvidas, exponenciando o número de marcas disponíveis no mercado, apesar da concentração do fornecimento. Um exemplo destacado no Brasil foi o caso da Ambev, que aglutinou importantes marcas de cerveja: Brahma, Antártica, Skol, Original, Stella Artois, Bohemia, Polar etc.
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Tudo isso leva a um inevitável processo de multiplicação das marcas – no mundo e no Brasil –, mesmo considerando o valor dos investimentos em lançamentos de novas marcas. Também o ambiente digital fez crescer as marcas, sites, blogs, aplicativos etc. As razões para o alto índice de proliferação de produtos e de marcas são inúmeras. Apresentaremos algumas delas:
ÙÙ necessidade de segmentação de mercados e de preenchimento de espaços decorrentes do acirramento da concorrência; ÙÙ objetivos competitivos tradicionais, tais como: ser o primeiro, superar a concorrência, ampliar o market share, obter mais lucro etc. ÙÙ necessidade de inovações constantes: novas tecnologias, novos ingredientes, mudanças de formato, tamanho, cor, apresentação, sabores etc.; ÙÙ expansão para novos mercados e a consequente necessidade de novos posicionamentos; ÙÙ consumidores com amplo poder de escolha e, portanto, mais exigentes; ÙÙ alterações no ambiente competitivo (oportunidades e ameaças); ÙÙ exigências legais ou governamentais; ÙÙ concorrência interna e/ou canibalização, especialmente em empresas adeptas do uso de marcas individuais; ÙÙ aproveitamento de oportunidades; ÙÙ complexificação das relações com os atores comerciais; ÙÙ novas alternativas de comercialização e distribuição, tendo o comércio eletrônico via Internet e as redes sociais digitais se constituído em um grande impulsionador; ÙÙ necessidade de barateamento da embalagem para diminuir o preço e aumentar a competitividade, dentre outras razões de ordem financeira. ÙÙ o contexto digital.
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As marcas se multiplicam nas empresas, no mercado, no varejo, nos códigos de barras e na mídia em geral, mas nem tanto assim na mente do consumidor. A razão é simples: o cérebro humano é seletivo. Há um limite de registros de marcas para o qual a tecnologia ainda não inventou uma expansão de memória. Por isso, na maior parte das vezes, uma marca nova só pode conquistar uma posição na mente do consumidor se “retirar” uma concorrente. Ocupar o mesmo espaço é física e simbolicamente difícil.
Extensão de marcas As marcas também possuem uma realidade econômica bastante complexa para as empresas. Trata-se indiscutivelmente de um elemento de diferenciação. Optar por uma estratégia de extensão é transformar uma marca forte em uma marca guarda-chuva, ou abrir espaço em uma marca guarda-chuva para mais um produto ou linha. A empresa investe em uma marca por acreditar que seu sucesso será transferido para novos produtos, dentro da mesma categoria ou em categorias relacionadas, lançados sob a proteção do mesmo guarda-chuva. Cegarra e Merunka (1993, p. 53) trazem uma definição de extensão de marca que inclui a necessidade de se ter uma diferença “real” de natureza ou função para que seja possível tal extensão: L´extension de marque est l´utilisation d´un nom de marque déjà connu sur un produit qui présent une différence de nature (caractéristiques physiques) et de fonction (valeur d´usage, bénéfices consommateurs) significative par rapport aux produits d´origine.6
Exemplos como os explorados pela Nestlé® com a marca Prestígio® revelam a eficácia da extensão das marcas. Originariamente, a marca Prestígio® designava um chocolate com recheio de coco e leite condensado; no entanto, com a força da marca, baseada em grande investimento publicitário, foi possível estendê-la ao sorvete e, posteriormente, ao biscoito, aumentando a
6 A extensão de marca é a utilização de um nome de marca [é possível excluir para evitar a repetição
de “marca?] já conhecido para um produto que apresenta uma diferença significativa de natureza (características físicas) e de função (valor de uso benefícios [uso de benefícios?] aos consumidores) em relação aos produtos de origem.
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penetração da marca na mente dos consumidores. Do ponto de vista do consumidor, o ganho também é notável, uma vez que, quando compramos um sorvete Prestígio, estamos seguros de que a experiência de consumo deverá ser a mesma vivenciada quando da aquisição do já consagrado chocolate Prestígio. Nesse sentido, o consumidor sente-se seguro e à vontade porque já conhece o que vai experimentar. A combinação destes dois critérios – níveis de semelhança ou diferença das categorias de produtos em teste – em uma tabela de dupla entrada permitiu a elaboração de uma taxonomia das possibilidades de desenvolvimento de uma marca.
Classificação das extensões Função
Idêntica
do produto
Diferente
Idêntica
Diferente
Complemento de tipos
Extensão de tipos
Extensão de marcas
Extensão de marcas
Fonte: Les Extensions de marque... (Cegarra e Merunka, 1993, p. 54.)
A concepção clássica da marca, ao basear-se em uma relação unívoca entre esta e um produto que a materializa como uma “promessa”, reduz o âmbito da extensão, no máximo, ao desenvolvimento desse mesmo produto, sem que a sua natureza e função sejam alteradas. A adoção de uma política de extensão de linha ou complemento de tipo, como opção estratégica defensiva na distribuição (pelo maior espaço de exposição obtido) e em face do consumidor (pela otimização do nível de conhecimento adquirido), justifica-se pela aversão ao risco manifestada pela empresa diante de decisões de extensão que o incrementem, tanto mais quanto maior for a distância entre a marca original e as novas categorias de produto. O esforço encontra-se, então, na incorporação no produto central – e na sua marca – de novos tamanhos, modelos ou sabores, ou integrando no novo produto um componente do produto original da marca. Essa categoria é bastante apropriada, especialmente em nível institucional. Um bom exemplo é o caso da Bombril, que estendeu sua marca principal – Bombril –, até então marca exclusiva da lã de aço, para outros produtos relacionados à limpeza: esponja sintética, Multiuso Bombril e Multilimpeza
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Bombril. É claro que, com a extensão da marca, amplia-se também a proteção legal da marca original, talvez principal objetivo no caso dos gestores da Bombril. Havia uma possibilidade de generalização ou banalização da marca, pois há muito Bombril é metonímia do produto, condição que inevitavelmente favorece a perda de exclusividade de uso da marca. Atualmente, a Bombril utiliza sua marca na lã de aço e na esponja sintética. Também no mercado de moda, as etiquetas e grifes são guarda-chuvas que podem significar uma determinada imagem, qualidade, status elevado ou exclusividade, em diferentes faixas de atuação, como nos casos de Hermès (marca existente no mercado desde 1837), Calvin Klein, Gap, Zara, Kenzo, M. Officer, Salvatore Ferragamo, dentre outros. Uma empresa pode, ainda, diversificar sua oferta de produtos caucionados por uma única marca, acrescentando-lhe produtos complementares (extensão de tipos), fazendo variar a sua função (benefícios ou segmento de mercado a que se destina), sem modificar a natureza do produto original, ou reposicionando um produto de características distintas que cumpre a função do produto original, como, por exemplo, creme dental e escova de dentes Colgate, ou ainda, creme dental, fio dental, escova e antisséptico bucal Kolynos. Desse modo, o campo de aplicação de uma extensão de marca, por oposição às extensões de linha e tipo, circunscreve-se, exclusivamente, a situações em que a natureza e a função do novo produto sejam claramente distintas das que identificam os produtos restantes da marca. O sucesso da extensão de marcas depende essencialmente: ÙÙ do histórico de investimento institucional, especialmente no caso da utilização do nome da empresa com marca guarda-chuva; ÙÙ da experiência prévia de utilização da marca em questão, ou de outras, como guarda-chuva; ÙÙ da força da marca a segmentar ou do nome/marca da empresa; ÙÙ da total adequação do posicionamento atual da marca versus o planejado para o novo produto; ÙÙ da autoridade e notoriedade da marca.
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Essa estratégia visa, com base no posicionamento original da marca, tornar a introdução de novos produtos mais simples, rápida e bem-sucedida, assim como menos dispendiosa. Nos casos em que são grandes as possibilidades de se tornar um efeito sinérgico positivo, essa pode ser uma alternativa preferível ao lançamento de um produto sob a chancela de uma marca completamente diferente. Se pensarmos que até poucos anos atrás a Mont Blanc era uma legítima produtora de canetas e de lapiseiras de grande visibilidade e valor agregado, não imaginaríamos que nos depararíamos com uma extensão de marca que atualmente envolve desde abotoaduras, clipes de gravata a cintos, pastas, agendas, óculos, carteiras, entre outros. Uma das maiores motivações para essa decisão é o aspecto financeiro. Souza e Nemer (1993, p. 40) estimam que o estabelecimento de uma nova marca no mercado pode demandar de US$ 80 milhões a US$ 150 milhões, variando de acordo com a categoria do produto e o mercado para o qual será destinado, além das mídias a serem utilizadas. Da perspectiva mercadológica, se a estratégia for acertada, o sucesso do novo produto poderá ser antecipado a um custo bem menor. Outras implicações, como vendas maiores e ampliação da chamada autoridade da marca, serão maximizadas. Também contribui para eliminar os obstáculos que a distribuição impõe quando se trata de aceitar um novo produto, particularmente difícil em novos mercados. Se a estratégia não for acertada, poderão ocorrer “arranhões” na imagem da marca, prejudicando os produtos sob sua proteção. Outro fenômeno é o da canibalização dos produtos existentes ser maior que o ganho de share do novo produto. Nos casos de lançamentos como as chamadas “versões melhoradas” tipo “plus”, “super”, “novo”, “ultra”, sem um real atributo adicional percebido pelo consumidor, esse fenômeno de canibalização poderá ser maior que o ganho de participação do novo produto.
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Generalização em categoria completamente diferente: refrigerante/roupas.
A generalização semântica como fundamento A generalização semântica é uma teoria segundo a qual a mensagem emitida por um produto é transmitida à marca por um processo de abstração, e desta a um novo produto. Hartman et al. (1990, p. 122) explicam essa transferência de acordo com esta sequência: “um indivíduo transfere o significado de um objeto aos signos associados a esse objeto que, por sua vez, são transferidos a um novo objeto que possua o mesmo signo”. Ora, essa deslocação prova a capacidade de generalização da marca, ou seja, a posse de dimensões perceptíveis que podem ser ampliadas, transbordadas, transferidas ou compartilhadas. Considerando que a base operativa do comportamento do consumidor não seja exclusivamente a similaridade, mas, sobretudo, a projeção eficiente dos atributos funcionais e benefícios emocionais da marca que para ele têm valor, o princípio da generalização permite viabilizar a extensão de marca pelos processos que superam os limites da mera implementação (por parte da empresa) e identificação (por parte do consumidor) de similaridades entre a categoria da marca e a sua extensão.
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A compreensão dos princípios que estruturam o conceito de generalização permite, então, visualizar como o consumidor transforma as suas percepções em conjuntos de significantes, que determinarão comportamentos, decisões de compra e afetos. Acresce que a propensão do consumidor em generalizar, isto é, em transferir aprendizagens acumuladas para novas situações com que se depara, permite que ele se adapte à dinâmica dos mercados atuais, bem como às atualizações marcárias. Nesse enquadramento, quando confrontado com novos produtos/serviços de elevada complexidade, a posse de informação previamente acumulada e avaliada possibilita ao consumidor reduzir o tempo necessário à decisão de compra, bem como o nível de risco inerente. Nessa perspectiva, o princípio de generalização semântica contribuirá para a simplificação do processo de avaliação do consumidor, na medida em que cada novo estímulo (novo produto ou serviço) não lhe exige que proceda a julgamentos separados. Aqui, destaca-se o princípio da familiaridade que fundamenta a generalização semântica. A vivência, o conhecimento e o reconhecimento de uma marca como familiar possibilitam que esse “conforto psicológico” se estenda a outras ofertas dessa mesma marca. Howard e Sheth (1969) sugeriram que se deve diferenciar entre generalização física e generalização semântica, segundo a natureza dos estímulos que forem dominantes. A generalização física associa-se a estímulos de natureza objetiva, provenientes da similaridade imediata na forma e na aparência dos produtos; a semântica pode, simplesmente, ocorrer em razão da analogia de significados que os estímulos forem capazes de estabelecer entre si. O primeiro nível de generalização pode conduzir à escolha de uma marca alternativa (quando a marca não está disponível, por exemplo), na medida em que os atributos relevantes de seu produto se assemelhem mais aos da marca ausente. O segundo, ao edificar-se sobre atributos conotativos e/ou simbólicos, impede escolhas por substituição, convertendo-se, assim, em uma excelente oportunidade para ampliação do território da marca.
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Nesse sentido, como geradora de estímulos, a marca potencializa, pela extensão, um processo de categorização fundamentado no princípio de generalização semântica. Tendo em conta que o consumidor organiza todo um conjunto de informações provenientes dos vínculos que estabelece entre os diferentes níveis de imagem e demais contatos sensíveis, a tendência geral esperada é que, nos casos em que possua uma imagem favorável da marca original, sobrevalorize os seus produtos, em decorrência do “efeito halo”.7
Marcas múltiplas Lançar mão de marcas múltiplas não é tarefa fácil, especialmente na perspectiva da gestão da comunicação. A ênfase está em dar “vida própria” e independente a cada produto da empresa, atribuindo-lhe uma marca, uma identidade específica e singular. Nesse caso, a associação marca-produto é muito forte e o posicionamento da marca coincide rigorosamente com o do produto, mas não necessariamente com o da empresa, que, às vezes, não é sequer reconhecida como fabricante do produto/marca em questão. Nas empresas que adotam essa estratégia, as marcas vencem ou fracassam por seus próprios méritos. As organizações que fazem uso desse tipo de estratégia preferem, de modo geral, não enfatizar o nome da empresa na comunicação e na embalagem do produto, embora essa identificação seja, na prática, feita com diferentes gradações segundo objetivos estratégicos distintos. Essa estratégia parece mais utilizada pelas indústrias de alimentos e de produtos de higiene e limpeza, muitas vezes coexistindo com marcas guarda-chuva das próprias empresas e da concorrência. A Unilever, internacionalmente, tem uma política bem definida de marcas múltiplas, identificando muitas vezes discretamente a divisão responsável e/ou a empresa na embalagem da maioria de seus produtos. No 7 Wu e Petroshius (1987, apud Serra e Gonzalez, 1998, p. 72) descrevem o “efeito halo” como “a
tendência em avaliar os traços particulares de um objeto segundo a impressão global que um indivíduo dele possua”. No entanto, apesar da aproximação de valores, os objetos/produtos mantêm sua independência objetiva.
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setor de higiene e limpeza, a Procter & Gamble também se destaca pela utilização bem-sucedida de marcas múltiplas. Um bom exemplo é o de Ivory, lançado há quase 120 anos. Quando a P&G decidiu lançar um detergente, e, ao adicionar “liquid” ou “plus” à marca do produto, preferiu chamá-lo de Tide para não alterar o posicionamento de Ivory na mente do consumidor. Ambas são marcas de sucesso até hoje nos Estados Unidos e na Europa. O que geralmente favorece a utilização das marcas múltiplas é: ÙÙ a ausência ou pouca história de investimentos em imagem institucional, intencional ou não; ÙÙ a experiência anterior bem-sucedida na introdução de marcas individuais; ÙÙ a grande variedade de categorias de produto, linhas e/ou versões muito específicas; ÙÙ demonstração de potência no mercado: variedade e abrangência para os consumidores e barreira de entrada aos competidores; ÙÙ a crença na competição interna como fator motivador e propiciador de eficácia; ÙÙ a crença no posicionamento preciso e singular como fator crítico de sucesso. A utilização de marcas múltiplas visa fazer de cada marca/produto individual um negócio competitivo dentro da própria empresa e, externamente, manter as posições conquistadas, como acontece, por exemplo, com as marcas de amaciantes Comfort e Fofo da Unilever, que possuem posicionamentos distintos e equipes diferenciadas de gestão. Utilizar ou não marcas múltiplas é uma questão estratégica e as implicações devem ser rigorosamente mensuradas. Analisemos as principais implicações mercadológicas da utilização de marcas múltiplas.
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Primeiro deve-se ter de forma bastante clara que uma marca bem-sucedida não garante o sucesso do próximo lançamento. Em contrapartida, um fracasso não prejudica as marcas bem posicionadas, atingindo a imagem da empresa tão somente na proporção em que esta identifica ou associa sua imagem à nova marca. Novas marcas soam para o consumidor como inovações, com boas chances de conquistar o público líder de opinião. O perigo de uma canibalização muito forte dos produtos existentes é reduzido em razão do posicionamento muito específico de cada marca. As marcas tendem a demorar mais para se firmar no mercado, mas seu ciclo de vida tende a ser mais longo, assim como as posições conquistadas tendem a ser mais sólidas. Outra implicação fundamental diz respeito aos investimentos em comunicação que são mais altos. Cada marca deve ser comunicada de acordo com seu posicionamento e público, o que requer estratégias, linguagens e veículos específicos.
Extensão de linhas Essa estratégia é compatível tanto com a extensão de marcas quanto com a estratégia de marcas múltiplas, uma vez que não implica novas marcas ou novos produtos. Ela consiste em novas apresentações, modelos, tamanhos, formatos ou embalagens de um produto já existente. Esse desdobramento de produtos é muito comum nas indústrias de alimentos, bebidas, farmacêuticas e cosméticos. Na indústria do vestuário, por razões óbvias, os diferentes tamanhos são uma necessidade, não caracterizando, portanto, uma extensão de linha. Mas as variações de um mesmo modelo ou as extensões de uma coleção se encaixam nessa estratégia. Considerações que favorecem a utilização da extensão de linha: ÙÙ produtos divisíveis e/ou que permitam múltiplas apresentações ou tipos de embalagem; ÙÙ produtos que permitam variações de forma, tamanho, padrão e cor, como carros, vestuário, fogões etc.;
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ÙÙ existência de marcas fortes, sejam elas individuais ou guarda-chuvas; ÙÙ boa capacidade instalada, que permita expansão da produção; ÙÙ linha de produção flexível, especialmente em relação às adaptações de forma, quantidade e ingredientes ou componentes.
A extensão de linha visa tornar uma linha de produtos a mais completa possível, acompanhando a tendência de alteração progressiva dos hábitos de compra, estilos de vida, consumo ou utilização de segmentos significativos do target, posicionando a empresa ou marca de forma dinâmica e diversificada na mente do consumidor. Essa estratégia é mais eficaz quando se antecipa à concorrência, retirando-lhe participação ou consolidando posição por meio de inovações que tornem a compra do produto mais prática e seu consumo mais adequado, ou que proporcionem maior prestígio ao consumidor. Algumas implicações mercadológicas do uso de extensão de linhas são:
ÙÙ o reforço do posicionamento e ampliação da participação de mercado em função de extensões de linha, se bem pesquisadas, planejadas e implementadas; ÙÙ a extensão pura e simples, sem representar uma vantagem percebida e, acima de tudo, valorizada pelo consumidor, podendo significar maior custo operacional (criação/produção de novas embalagens, conversão de linhas de montagem) sem a esperada contrapartida nas vendas e, consequentemente, nos lucros; ÙÙ a introdução de embalagens de maior capacidade, com acréscimos criteriosos, podendo aumentar o consumo total do produto, desde que haja um benefício de valor perceptível para o consumidor, seja em custo-benefício, seja em praticidade;
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ÙÙ as embalagens alternativas podem permitir uma menor dependência de fornecedores oligopolizados, concentrados ou cartelizados; ÙÙ a extensão de linha pode conquistar novos consumidores pela atração a uma determinada especificidade ainda não existente no mercado. Exemplo: amaciante que combate o cheiro de bolor nos tecidos.
Extensão de imagem A extensão de imagem consiste na ampliação de marcas que extrapola os limites da categoria original do produto. Equivale a “esticar” o guarda-chuva da marca, estendendo uma imagem mais ampla a outras categorias não diretamente relacionadas, para as quais a autoridade da marca possa – pelo menos teoricamente – ser transferida. Essa estratégia é essencial no negócio de licensing (licenciamento). Um exemplo interessante é o licenciamento da marca da modelo, atriz e apresentadora Ana Hickmamn. A marca AH compreende atualmente 13 linhas de produtos licenciados para dez empresas diferentes, e que são negociados em 48 países. São mais de 3 mil produtos, como relógios, óculos, semijoias, vestuário, itens de moda praia e acessórios para cabelos. Apenas com a linha de esmaltes, ela vendeu 6 milhões de unidades no ano de 2014. Outro exemplo são os licenciamentos e parcerias de marca da ubermodel brasileira, Gisele Bundchen, estendida para sandálias, chinelos de praia (com a marca Ipanema) e lingerie (junto com a Hope). A extensão da imagem também pode ser verificada, como no caso da criação da grife Senna, do piloto brasileiro morto em 1994 nas pistas de Ímola, na Itália, e posteriormente da Fundação Ayrton Senna. Sua imagem de sucesso, precisão, obstinação e seriedade foi, evidentemente, estendida não só aos produtos Senna, como à Fundação e aos projetos sociais por ela apoiados. O sucesso da estratégia de extensão de imagem geralmente depende de:
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ÙÙ histórico de investimento institucional na marca; ÙÙ experiência anterior de uso e gestão da marca em questão, ou de outras, como guarda-chuva; ÙÙ força da marca, da empresa ou da pessoa; ÙÙ adequação do posicionamento atual da marca em contraposição ao planejado para o novo produto; ÙÙ possibilidade bem-avaliada de expansão da autoridade (poder) da marca. A extensão de imagem visa usufruir do posicionamento da marca perante o consumidor, no que se refere a agilizar o lançamento bem-sucedido de novos produtos, com o mínimo de investimento em comunicação, “pegando carona” em uma imagem forte. Na hipótese de ser possível a extensão da autoridade da marca sem prejuízo ao produto original, esta pode ser uma opção atraente em relação ao lançamento de um produto com uma nova marca. No entanto, trata-se de uma estratégia de alto risco, em que os retornos podem ser altos e os fracassos, grandes. A utilização da extensão de imagem tem as seguintes implicações mercadológicas: ÙÙ o sucesso do produto pode se dar relativamente rápido e com baixo nível de investimentos adicionais; ÙÙ a marca pode se fortalecer, ampliando sua autoridade; ÙÙ a empresa pode obter um incremento global de vendas e participação de mercado no curto e médio prazos; ÙÙ a ocorrência de ampliação da proteção legal da marca original; ÙÙ os problemas com a imagem que deu origem à extensão impactam de forma imediata e negativa nos produtos licenciados. A respeito da questão “problemas com imagem”, destaca-se no contexto brasileiro o caso do então apresentador de programa de auditório do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), Gugu Liberato, que esteve envolvido em uma situação de possível fraude durante um de seus programas. Suspeitava-se
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que um quadro de seu programa havia sido produzido intencionalmente com testemunhas falsas; isso, agregado ao fato de serem supostamente membros de uma então facção criminosa paulistana, o Primeiro Comando da Capital (PCC), constituía-se como um agravante da situação. Ocorre que a empresa Nestlé® vinha utilizando sistematicamente a imagem de Gugu para comunicar sua megapromoção de sorteios de casas, por ocasião de seu aniversário de fundação no Brasil. Certamente houve um grande problema no momento em que a imagem de Gugu e sua reputação foram fortemente atacadas, ainda que pesquisas não tenham sido divulgadas, o “desastre” para a imagem estava feito. A austeridade da Nestlé® não “combinava” com uma dúvida a respeito da reputação de um “porta-voz” importante. Uma das decisões da empresa foi lançar um comercial publicitário para televisão protagonizado pela apresentadora do programa da Rede Globo “Mais Você”, Ana Maria Braga, e seu mascote, o Louro José. Ambos, no momento e ainda hoje, preservam sua credibilidade e empatia com boa parte do público brasileiro.8
Copaternidade A copaternidade consiste em associar duas marcas em benefício de uma terceira que se pretende criar. As marcas podem ser de propriedade de uma mesma empresa ou não. É uma tendência relativamente recente, de cunho promocional e, por isso mesmo, com bastante potencial para ser explorada. No Brasil, há exemplos mais antigos, como o Mix Vigor e o Pauli Croc, que apresentam os cereais Kellogg’s associados aos iogurtes produzidos pela Vigor e pela Pauli. A marca Kellogg’s, embora não conste no nome do produto, está presente na embalagem. A copaternidade tem um potencial enorme a ser explorado por varejistas e fabricantes na área de marcas exclusivas. A exibição de uma marca do varejista lado a lado com a do fabricante pode reforçar a imagem de exclusividade e qualidade da primeira, aliando-a ao reconhecimento, credibilidade, familiaridade e aceitação da segunda. As principais considerações para o sucesso dessa estratégia são:
8 Fonte: http://www.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u82801.html
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ÙÙ ter marcas fortes, com grande autoridade em suas principais categorias de atuação; ÙÙ possuir produtos complementares ou suplementares, que possam se combinar ou se associar para formar um terceiro. A copaternidade visa criar, a partir de marcas já conhecidas, uma terceira que, desde seu lançamento, seja tão forte ou mais que as marcas que a originaram. A tendência de que dessa combinação seja lançado um produto novo no mercado é bastante grande, de forma a ampliar a área de atuação e o mercado da(s) empresa(s) envolvida(s). Uma condição essencial para o sucesso desse tipo de marca é a existência de sinergia entre os produtos e/ou marcas participantes. Outra forte motivação é a possibilidade de divisão de despesas de fabricação, marketing, vendas e distribuição em caso de associação de empresas. Há também os possíveis efeitos da curva de experiência e economia de escala, visto que cada empresa entra com o que faz melhor em quantidades maiores que as atuais.
Hierarquia e registro das marcas Como observamos na definição de marca, uma de suas características é permitir a identificação de um produto, ideia ou empresa. Essa identidade vai permitir certa proteção e individualização do objeto que está impregnado por ela. Para que a marca efetivamente proteja o produto é necessário que haja respaldo legal. No Brasil, como vimos, esse respaldo é obtido por meio do registro da marca no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), órgão subordinado ao Ministério da Indústria e Comércio ou equivalente. A obtenção do registro no Inpi atribui à marca o status de “marca registrada”. Essa proteção legal confere ao proprietário da marca direitos exclusivos sobre sua utilização. Pode ser um nome, logotipo, logomarca, símbolo ou qualquer representação que possa identificar a empresa, o produto ou serviço, desde que a legislação pertinente o(a) reconheça como passível de
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registro. Concedido o registro, a marca passa a ser propriedade exclusiva da empresa que a utiliza ou pretende utilizá-la. Souza e Nemer (1993, p. 6) apresentam as funções primordiais das marcas registradas: ÙÙ distinguir os produtos e serviços de uma empresa; ÙÙ indicar a fonte ou origem de produtos e serviços; ÙÙ representar o valor intrínseco da empresa proprietária da marca registrada e servir como indicativo de qualidade de seus produtos e serviços. Para fins legais, há uma hierarquia, uma relação de subordinação entre as marcas, em ordem decrescente: ÙÙ marcas inventadas; ÙÙ marcas arbitrárias; ÙÙ marcas sugestivas; ÙÙ marcas descritivas; ÙÙ marcas genéricas. As marcas inventadas são as mais fortes para registro por não apresentarem um sentido anterior na língua. Seus direitos à proteção são mais óbvios pela originalidade incontestável. Normalmente são palavras que não possuem uma existência, tampouco carga simbólica já estabelecida na mente das pessoas. Podemos citar como exemplos as marcas Zoomp e Santal. As marcas arbitrárias também são muito fortes, pois criam uma conexão entre a marca e o objeto que representa, sem uma correlação imediata, são discriminatórias. O clássico exemplo é o da Apple, e toda a sua comunicação visual, por representar computadores. A relação entre maçã mordida e computadores não é imediata. A maçã, para além de ser uma fruta, possui vários significados simbólicos. No cristianismo, é vista como o fruto
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proibido. É símbolo dos desejos e tentações terrestres também na mitologia grega. Como fruto da árvore do conhecimento, a maçã representa a divina sabedoria. Nenhum desses significados possui uma relação imediata com uma fábrica de computadores ou com o produto. Não há uma relação entre o significado original do símbolo e o produto representado. Outro exemplo a ser lembrado é do Camel, termo que representa o animal camelo e uma famosa marca de cigarros norte-americana. Outro, ainda, é o do tradicional elefante verde da Cica. As marcas sugestivas constituem também marcas fortes, porém possuem menos vigor em relação às anteriores. Como o próprio termo expressa, são marcas que sugerem, indiciam, o uso ou o atributo do produto. A marca Kibon, por exemplo, utilizada pela indústria de alimentos, sugere sabor agradável. A marca Neve, de papel higiênico, remete a alvura, textura delicada, limpeza – atributos essenciais para produtos de higiene pessoal. Sadia propõe saúde e sabor, relação imediata com produtos alimentícios. Ou ainda a marca Superbom, proveniente de uma indústria de alimentos naturais de origem adventista, que fabrica sucos, mel, maionese, geleias etc. Legalmente, as marcas que podem apresentar mais problemas para registro são as descritivas. Essas marcas procuram explicar ou descrever a natureza do produto ou serviço ou, ainda, seus benefícios. São estratégias que visam facilitar a comunicação com o consumidor. Porém, inúmeros produtos e serviços podem apresentar os mesmos benefícios. Bombril é um exemplo a ser citado: descreve o resultado da utilização do produto, bom brilho, que diz respeito a um produto de limpeza, lã de aço. Stop & Shop também se enquadra na categoria descritiva, pois se utiliza do termo em inglês – que significa “pare e compre” –, descrevendo a ação do consumidor, uma vez que se trata de uma loja de conveniência. As marcas descritivas podem gerar problemas de registro por apresentarem características físicas ou atributos do produto. Elas podem, portanto, não desempenhar satisfatoriamente as funções-chave de indicar a fonte ou origem do produto e distingui-lo dos concorrentes.
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ullstein bild/Getty Images
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Embalagem do cigarro Camel.
As marcas genéricas, por sua vez, dividem-se em dois grupos: ÙÙ as que são genéricas a partir de sua concepção, como goiabada, marmelada e outros itens que não apresentem qualquer sinal que os diferencie; ÙÙ as que se tornaram genéricas por sua “vulgarização” ou popularização, como “tênis”, marca originalmente registrada pela São Paulo Alpargatas, que perdeu seu direito à proteção por ter ingressado no linguajar popular como sinônimo de “calçado esportivo”. A generalização da marca, no segundo caso, dá-se à revelia da empresa, por descuido ou uso inadequado, por exemplo: a marca tornou-se tão popular que passou a ser utilizada como sinônimo do produto, vulgarizando-se. Quando isso ocorre, a empresa arrisca-se a ver sua marca cair no domínio
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público, podendo ser usada como nome do produto, lado a lado com a marca de outra empresa, o que provoca a perda de todo o investimento de anos na formação e manutenção de sua imagem. No mercado internacional, algumas marcas já perderam o direito à proteção legal exclusiva em função de sua popularização. São exemplos: Aspirina, Celofane, Modess, Chicletes, Cotonetes, entre outros. Além das marcas descritivas e genéricas, há outras categorias consideradas fracas do ponto de vista legal, devendo ser evitadas sempre que possível. Essas categorias, além de serem consideradas não distintivas, normalmente não se prestam à função de identificar a fonte ou a origem do produto. As mais comuns são: ÙÙ nomes laudatórios, como termos excessivamente elogiosos, adjetivos etc., como, por exemplo, Dengosa, Fascinante, Beleza etc.; ÙÙ nomes geográficos, como “A Paulistana”, “O Italiano”; ÙÙ sobrenomes comuns, como, por exemplo, “da Silva”; ÙÙ letras e numerais, especialmente quando desconectados de um significado explícito.
Marca de alto renome Dentro desta concepção legal das marcas, destaca-se também o conceito de “marca de alto renome”. Segundo o Inpi, marcas de alto renome são aquelas amplamente conhecidas pela população, que merecem, portanto, uma proteção especial que engloba todas as classes de serviços e produtos. Em recente revisão geral desta matéria, pouco mais de 15 marcas mantiveram o estatuto de “alto renome” no Brasil. Podemos citar as marcas Pirelli (mista), Hollywood (nominativa), 3M (nominativa), Kibon (nominativa), Natura (nominativa), Moça (nominativa), Bombril (mista), Barbie (nominativa) e Fusca (nominativa). A lista completa poderá ser consultada no site do Inpi. Certamente, a condição de “alto renome” amplifica a proteção legal da marca, no sentido que ocorre o reconhecimento oficial de seu transbordamento mercadológico. A marca de alto renome é muito mais que um sinal
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que identifica e diferencia produtos ou serviços, é, sim, um signo da cultura em diálogo permanente com as pessoas que compartilham seus códigos. Facilita a expressão da identidade de seus públicos e auxilia no entendimento dos valores sociais e favorecem o entendimento e as conquistas aspiracionais. Um conceito coadjuvante ao alto renome é a marca ícone, muito bem explorada nas reflexões de Douglas Holt (2006) em seu livro A marca ícone. No próximo capítulo, faremos uma reflexão mais aprofundada a respeito do nome das marcas, com abordagens semióticas, mercadológicas e antropológicas que auxiliarão na identidade da marca e também no seu registro.
Livre-docente em Ciências da Comunicação pela ECA - USP. Pós-doutora em Design Thinking pela Stanford Univesity e em Comunicação pela Universidad de Murcia, Espanha. Doutora em Comunicação e Semiótica e Mestre em Administração pela PUC SP. Professora da ECA USP, no Programa de Pós-Graduação em CIências da Comunicação e no curso de graduação em Publicidade. Professora da PUC SP. Líder do GESC3 - Grupo de Estudos Semióticos em Comunicação, Cultura e Consumo (CNPq/USP). Editora da revista Signos do Consumo. Coordenadora do GT Publicidade e Propaganda da Intercom (2014/2016). Presidente da ABP2 -- Associação Brasileira dos Pesquisadores em Comunicação (2015/2017). Vice-chefe do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da ECA USP. Fundadora e pesquisadora da Casa Semio. Semioticista com 20 anos de experiência em projetos e análises semióticas para as principais empresas e marcas brasileiras e internacionais.
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Clotilde Perez A segunda edição do Signos da Marca traz uma cuidadosa atualização e adensamento dos conceitos centrais da comunicação e gestão das marcas, no contexto da sociedade contemporânea, alicerçada na transitoriedade, tecnologia naturalizada e identidades midiatizadas. Amplia o entendimento das expressões e sensorialidades marcárias na busca de compreender e apontar caminhos possíveis para os gestores das marcas no sentido de potencializarem sua força comunicacional e, portanto, capacidade de construirem vínculos com os consumidores-alvo.
C l o t i l d e P e r e z Signos da Marca
Sobre a autora
Signos da marca
Outras obras O PODER SUGESTIVO DA PUBLICIDADE – Uma análise semiótica Roberto Chiachiri MASCOTES: semiótica da Vida Imaginária Clotilde Perez ESTRATÉGIAS SEMIÓTICAS DA PUBLICIDADE Lucia Santaella e Winfried Nöth MAPA DO JOGO Lucia Santaella e Mirna Feitoza
Signos da marca Clotilde Perez
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