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Dois dedos e neurônios: as práticas culturais dos jovens em regime multimídia 1
Sylvie Octobre2
As práticas culturais dos jovens provocam ora reações fascinadas, – por suas aptidões “naturais” para dominar tecnologias e para “inventar” modos de apropriação – ora “pânicos morais”, resultantes da sucessão de estigmatizações, - Games, computador e internet – condensados em um medo compartilhado de vícios, exposições e perversões. Compreender a situação contemporânea das relações entre juventude e cultura pressupõe uma reflexão sobre as formas como são considerados estes dois campos e suas relações. O “novo” interesse direcionado para os jovens é fruto de uma mudança demográfica – uma juventude rara em um contexto de aumento da esperança de vida – que modificou a ligação intergeracional na sucessão das gerações e o olhar sobre as idades da vida; do desenvolvimento corelato de uma conjugalidade ligada à criança “do desejo” que vê a expansão de uma nova relação educativa, mais relacional do que contratual; da importância crescente da infância como fator econômico, há um bom tempo já reconhecido e utilizado pelo marketing, inclusive o cultural. Cabe acrescentar que o novo interesse pela juventude se desenvolve em um contexto paradoxal. De um lado, as condições objetivas da juventude se tornaram mais difíceis – estagnação decorrente da massificação escolar, “pane” do elevador social, dificuldades de inserção no mercado de trabalho que condicionam frequentemente o acesso a outras formas de independência (habitação, conjugalidade, etc.) – e definem a juventude como um “problema”. Por outro lado, a juventude é um “valor”, associado à noção de recurso. Enfim, a modernidade é caracterizada por uma forma de culturalização das relações interindividuais: os consumos culturais estão omnipresentes, especialmente a música, e os jogos de combinações de gostos moldam as identidades sociais preenchendo o papel que antes pertencia ao status profissional, ao nível do diploma ou ao status familiar. Essa culturalisação ocupa um espaço importante na juventude no momento da construção identitária, os objetos culturais tornando-se suportes de experimentação, de validação e de contradição identitária. Os contornos destas culturas jovens são múltiplos e se reúnem em torno de certos traços comuns que funcionam como um capital cultural geracional amplamente irrigado às indústrias 1
Esse texto foi parte da apresentação de Sylvie Octobre, durante a mesa “Dois dedos e neurônios: as práticas culturais dos jovens no regime midiático.” no Encontro Internacional Públicos da Cultura, realizado em novembro de 2013. O texto foi traduzido por Sylvie Cazzamini Giraud. 2 Socióloga e pesquisadora do Départament des études, de la prospective et des statistiques (DEPS) do Ministério da Cultura e Comunicação da França. É especializada em práticas culturais e públicos da cultura, especialmente para crianças e jovens, além de examinar aspectos de gênero no comportamento cultural. Entre suas obras constam os Anais do Simpósio Infância e Culturas e Lazer Cultural de 6 a 14 amnos.
2 culturais. Como eles se articulam ao vínculo intergeracional em torno da transmissão do saber, da cultura e dos gostos? E quais são as questões que estas relações deixam em aberto às políticas culturais ditas de “educação artística e cultural?”.