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Não existe o que chamamos de visitante: pesquisa, colaboração e transformação institucional1
Carmem Mörsch 2
Pesquisa realizada em instituições culturais, especialmente em museus e galerias é (pelo menos na Europa) frequentemente entendida como uma pesquisa exclusivamente feita por visitante. Constatei isso concretamente quando realizei um projeto de pesquisa de ação participativa em colaboração com educadores em Documenta 12 em 2007, quando era continuamente mencionada e apresentada como alguém que estava realizando "pesquisa feita por visitante" ao ser convidada a apresentar este projeto em conferências. Ironicamente estava realmente ocorrendo uma pesquisa paralela feita por visitante na d12, realizada pela Universidade de Kassel. Criando um exemplo para entender diferentemente a pesquisa nessa situação, nossa própria apresentação se posicionou em silêncio contra essa afirmação. Gastei sempre aproximadamente 2 minutos de meu precioso tempo de apresentação em conferências, para explicar a razão pela qual nos NÃO estávamos realizando uma pesquisa como visitante. Minha hesitação ao encarar pesquisa como visitante, baseada em minha própria experiência como pesquisadora e profissional da cultura, tem razões históricas e epistemológicas que podem ser esboçadas em resumo na apresentação. Minha suspeita é que o fato de focalizar fortemente e quase que exclusivamente nela, tem efeitos específicos sobre (e é ao mesmo tempo um efeito de) como museus e galerias são considerados e as possíveis relações com seus potenciais usuários e interessados: eles atuam como fornecedores de determinados bens de consumo e mercadorias e serviços imateriais na sociedade de conhecimento (pós) capitalista. Sua principal função relativamente às suas audiências é de medi-las e "entende-las melhor" para desenvolver estratégias realçadas de venda rotuladas como "propriedade" e "participação". Essa pode ser a maneira dominante, porém não a única, de conceber museus e galerias e suas possíveis funções na sociedade. Baseado em exemplos de projetos realizados pelo IAE (como pesquisa sobre educação Documenta 12 e o projeto de pesquisa e desenvolvimento "Educação de Galeria em Transformação") e outros, o documento apresenta caminhos alternativos à pesquisa e 1
Esse texto foi parte da apresentação de Carmen Mörsch, durante a mesa “Não existe o que chamamos de visitante: pesquisa, colaboração e transformação institucional”, no Encontro Internacional Públicos da Cultura, realizado em novembro de 2013. O texto foi traduzido por Velimir Vranjac. 2 Artista e educadora, pesquisa educação em museus como prática crítica e colaborativa. Em 2009, foi responsável pelo projeto educativo da Documenta 12. Trabalhou como professora e pesquisadora na Faculdade de Ciências Culturais na Universidade de Ossietzky (Oldenburg, Alemanha). Atualmente, é responsável pela área de pesquisa do Instituto de Arte e Educação, na Universidade de Artes de Zurique (Suiça).
2 desenvolvimento em museus e galerias, focalizando o papel que a colaboração baseada em arte e pesquisa, especialmente no campo de educação em museus e galerias, pode ter para ampliar a função dessas instituições como participantes proativos em suas respectivas sociedades. No final do dia chega-se à questão sobre em que tipo de instituições culturais desejamos viver e se nosso trabalho é feito para ajudar esse tipo de instituição a tornar-se uma realidade.