Tendências de evolução das práticas culturais dos portugueses no contexto europeu

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Tendências de evolução das práticas culturais dos portugueses no contexto europeu1

Rui Telmo Gomes2 Resumo Ao longo das últimas duas décadas, as práticas culturais dos portugueses passaram por transformações importantes. Por um lado, constata-se uma tendência de crescimento e aproximação a padrões europeus de consumo. Observa-se também, tal como noutros países, uma alteração dos hábitos em função da "revolução digital". Por outro lado, os efeitos das atuais políticas de austeridade vêm pôr em causa essa evolução e acentuar a posição semiperiférica do país na Europa.

Apresentação palestra: Propõe-se uma reflexão sobre a crescente diversidade de formas de lazer dos portugueses – visível, por exemplo, na relativa generalização do uso de suportes digitais, bem como numa certa espetacularização de modos de vivência do espaço público e de promoção de culturas urbanas em cidades médias fora das duas principais áreas metropolitanas do país. Em contraponto a estas mudanças, considera-se ainda a persistência de factores de desigualdade social na fruição dos “tempos livres”. Ao longo das duas últimas décadas verificaram-se importantes transformações dos lazeres culturais dos portugueses. Uma primeira tendência de mudança, de maior amplitude e mais claramente identificável, é o crescimento global das práticas culturais ocorrido entre os anos 1990 e 2000. Uma segunda tendência, é a coexistência de movimentos cruzados de consolidação, estagnação e decréscimo das mesmas práticas ao longo da primeira década do novo século. Condicere-se a clássica distinção no domínio da sociologia da cultura entre práticas domésticas e de saída. Numa fase de crescimento económico, as famílias portuguesas aproveitaram a desenvolvimento das tecnologias digitais para adquirir também equipamentos domésticos culturais (por exemplo, televisão por cabo e computador), tendo por resultado uma 1

Esse texto foi parte da apresentação de Rui Telmo Gomes, durante a mesa “Tendências de evolução das práticas culturais dos portugueses no contexto europeu.” no Encontro Internacional Públicos da Cultura, realizado em novembro de 2013. 2 Doutor em Sociologia pelo Instituto Universitário em Lisboa. Compõe o conselho diretivo e é pesquisador permanente do Observatório de Actividades Culturais (OAC) de Portugal. Tem diversas pesquisas realizadas, como Grandes Eventos – Inquérito aos Públicos do Porto. Atualmente desenvolve, no âmbito do OAC, a pesquisa Estilos de vida e mercados “subterrâneos” das bandas de música juvenis.


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progressiva massificação de suportes e de conteúdos comunicacionais, culturais e lúdicos consumidos em casa. Poder-se-ia pensar que a generalização dos novos suportes digitais se traduziria numa quebra automática das práticas de saída. Porém, não foi o que aconteceu, pelo menos até meados da década de 2000. Até essa altura, observa-se um crescimento simultâneo de práticas culturais domésticas, de saída e baseadas no digital.. Os indicadores disponíveis sugerem que a tendência global de crescimento das práticas culturais de saída dos portugueses teria ainda uma margem de progressão adicional. Mas, pelo contrário, se observam sinais mais ou menos intensos de recuo. Para lá dos efeitos da crise financeira e económica iniciada em 2008 e das suas implicações sobre o rendimento das famílias, são relevantes outros fatores estruturais na comparação entre o perfil do lazer cultural em Portugal e noutros países europeus. Um dos mais importantes prende-se com o nível de qualificação escolar. De facto, quando se considera apenas os segmentos mais escolarizados da população, com formação de nível superior, a prevalência das práticas culturais supera a média europeia. Portugal é, neste aspeto, dos países em que a desigualdade escolar é amplificada pela desigualdade das formas de lazer.

Workshop Os muitos nomes e retratos dos públicos da cultura3 Afinal o que são "públicos" na pesquisa sobre cultura? Neste workshop, propõe-se um roteiro que passa em revista: questões conceptuais, relativas a temas como "públicos vs. nãopúblicos", "democratização cultural" e "participação cultural"; estratégias de pesquisa, desde a produção de indicadores estatísticos, até aos inquéritos às práticas culturais e às metodologias qualitativas de observação no terreno; perspetivas comparadas a nível internacional. Consideram-se por fim as tendências de pesquisa mais recentes e as suas implicações na definição de políticas públicas.

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Esse texto foi parte da apresentação de Rui Telmo Gomes, durante o laboratório “Os muitos nomes e retratos dos públicos de cultura.” no Encontro Internacional Públicos da Cultura, realizado em novembro de 2013.


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