Nossa Roça nº 10: O Sistema Agroflorestal do Alexandre e da Josiane

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nossa Roça dezembro 2005 - nº 10

O Sistema Agroflorestal do Alexandre e da Josiane

Experiências da agricultura familiar da Zona da Mata de Minas Gerais

Nós chamamos de sistema agroflorestal quando deixamos árvores na lavoura e não capinamos o mato, só roçamos.

Árvores no SAF do Alexandre e Josiane

Alguns pensamentos do Alexandre: § O agricultor e a agricultora tem que pensar no futuro: ter a terra boa sempre, sem erosão, sem ser lavada.

“No mais seco terreno, o capim-gordura inunda o pasto de oleoso aroma, catingueiro de atrair vacas, afugentar cobras mais carrapatos.

§ Os apreendizados com o SAF, como por exemplo, não capinar o mato e deixar árvores na lavoura, também servem para o café orgânico

Seu pendão violáceo, balançante ao vento, garante leite e carne com fartura, (...)Esse gado todo vive a custa dele.”

§ Para lidar bem com as plantas a gente tem até que conversar com elas.

Carlos Drummond de Andrade

§ Para mexer com SAF e orgânico é preciso estar sempre olhando, observando, acompanhando e aprendendo. Por isto, é bom ter o sistema orgânico e o SAF mais perto de casa. Quem tiver o químico pode até ser mais longe.

telefax (31) 3892 2000 e-mail: cta@ctazm.org.br http://www.ctazm.org.br centro de tecnologias alternativas da zona da mata

Apoio: FUNBIO - SAF/MDA - PDA /MMA - CNPqEED - FUNDAÇÃO FORD

ASSOCIAÇÃO REGIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS DA ZONA DA MATA - MG

Rua Benvindo dos Anjos Macedo, nº79 Araponga - MG - cep 36594- 000 tel: 31 3894 1152 cta-araponga@tdnet.com.br

Boletim produzido pela equipe do projeto de extensão: Sistemas Agroflorestais na Zona da Mata de Minas Gerais: sistematizar experiências para apreender lições. Parte II: Difusão participativa de aprendizados. Programa Teia (MEC/SESU) Departamento de Solos Universidade Federal de Viçosa Coordenação Geral: Irene Cardoso Equipe técnica: Helton Nonato, Maria Alice Mendonça, Gisele Piccirilli, Davi Gjorup Tiragem 1000 cópias

Alexandre é um jovem agricultor da cidade de Divino, filho do Sr. Juarez e da Dona Ester. Recentemente casou-se com Josiane e moram na comunidade da Serra dos Carolas. Ele sempre foi interessado pelos assuntos ligados ao meio ambiente e foi pensando em aumentar o número de árvores na propriedade da família que começou Alexandre e Josiane participando do PFA em Araponga a trabalhar com um sistema agroflorestal (SAF) mais ou menos há 10 anos . Diferente de outros experimentadores, Alexandre iniciou seu experimento a partir de uma capoeira. Hoje com o SAF bem estabelecido, os resultados já aparecem com o café bonito e com boa produção. Atualmente, ele está no processo de conversão para o café orgânico.

O aprendizado O Alexandre aprendeu muito experimentando diferentes árvores até encontrar aquelas que mais se adaptaram com o café. Começou com uma área grande, mas depois passou para uma área menor. No início chegou a ter muitas árvores, o que sombreou demais o café. Num primeiro momento o café ficou verdinho junto com as árvores, mas na época de seca viu que não desenvolvia bem. Fez a poda e o café ficou bonitão, mas ainda sem produzir.

Bananeiras e outras árvores no SAF

SAF bem estabelecido com café e muitas árvores

Para produzir mesmo fez uma poda bem drástica, o que resultou em maior entrada de luz e matéria orgânica no sistema. Hoje as árvores encontram-se na maioria com uma altura média de 5 a 10 metros, bem mais altas que o café. Ele poda as árvores e deixa o material da poda sobre o solo. Ele não capina só roça o mato. O solo está todo coberto com o material da poda e com o mato, o que permite observar um solo mais fresco com mais material orgânico e menos erosão.


Recomendações para quem quiser implantar um Sistema Agroflorestal

A propriedade agroecológica

Nas ruas do café ele planta feijão-de-porco, Lab-lab, abóbora, sojinha e mamona

O Alexandre está conduzindo com atenção especial duas áreas de café com árvores: uma com 1.000 pés e outra com 600 pés de café. As duas estão em conversão para o orgânico. As lavouras dele estão a 1.064 m de altitude, têm espaçamento de 3,5 x 1,5 m e possuem mais ou menos 100 árvores, conferindo um bom sombreamento da área. A área é soalheira, pega o sol da manhã de frente e em dezembro, sol o dia todo. Sua produção medida para os 1600 pés de café foi de 13 sacas. O café do SAF apresenta uma qualidade muito melhor do que o café convencional. Deu bebida mole. Além das árvores maiores, nas ruas do café ele planta algumas linhas de feijão-de-porco, lab-lab, abóbora, sojinha e mamona.

Ele deixa o mato como joão-leite, picão e caruru crescerem também. Tem bastante banana e mamão, o que atrai muitos bichos da mata como jacu, coelho e quati. Tem até um pé de palmito plantado pelo jacu! Que beleza! Ele faz mudas de árvores, mas a maioria das árvores no meio do café nasceu lá e ele só cuidou delas. Do SAF que conduz já retirou muita lenha para a casa e madeira para fazer a tulha, o chiqueiro e pequenos consertos. Também colheu banana-maçã, laranja e lima na mesma área. Ele acredita que a água aumentou com a presença das árvores na propriedade.

Café do Alexandre e Josiane, uma experiência que deu certo

- Normalmente a poda é na época da seca, depois da panha do café.

- É muito importante fazer análise do solo para verificar a condição dos nutrientes que as plantas precisam.

- Não pode deixar as copas das árvores se entrelaçarem. As copas podem só encostar umas nas outras.

- Deve-se pulverizar com super-magro e urina de vaca para fortalecer a planta.

- Após a poda, deve-se deixar o material decompor no lugar que caiu e só depois que começar a apodrecer trazer para a saia do café.

Café de qualidade

- Quando os galhos são muitos ou estão muito próximos do café tem que podar.

Espécies que mais utiliza no SAF O sistema dele é bem diversificado. Ele gosta muito do açoita-cavalo, ipê preto e da maria-preta. Estas árvores têm raízes profundas e não prejudicam o café. Elas também deixam as folhas caírem na época da florada, o que diminui o trabalho com a poda e deixa entrar mais luz para o café florir. No meio da lavoura ele também tem leiteira, ipê-roxo, ipê-amarelo, tambu, cedrinho nativo, capoeira-branca, crindiúva, pau-brasil, maria-preta, papagaio, flor-de-maio, abacate, banana, laranja, manga, limão, graviola, ameixa, ingá, fruta-do-conde (biriba) e acerola.

Espécies que eliminou porque não deram bons resultados Ele eliminou a brauninha, a braúna-parda , o angico-vermelho, a tajuba, o bico-de-pato, o jacaré e a canela. O angico e o jacaré, por exemplo, possuem as raízes muito superficiais e competem com o café. O café próximo à braúna-parda apresentou uma doença ficando todo avermelhado.

- No caso das espécies que não perdem as folhas, tem que podar a copa também.

- Se você trabalha sozinho, é melhor começar com um SAF com 600 a 1.000 pés de café. No início o SAF exige mais mão-de-obra. Depois que está estabelecido o trabalho é tranquilo e na sombra.

- Aquelas espécies que perdem as folhas devese cortar só os galhos próximos do café. No geral poda-se só os galhos baixos e deixa a copa por cima.

- O número de árvores no sistema varia. No início da implantação de um SAF pode ter muitas árvores, mas quando elas vão crescendo tem que ir raleando.

Encontrando alternativas para os problemas Adquirir esterco de gado às vezes é bastante complicado. É preciso saber da sua origem, da saúde do animal, dos remédios aplicados. Às vezes fica até difícil de transportar dentro da própria propriedade. Por conta destas dificuldades Alexandre comprou algumas cabeças de gado e construiu bem próximo das lavouras um pequeno curral onde cerca o gado. Assim fica mais fácil juntar o esterco e transportar para os lugares mais altos.


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