A matinha da propriedade tem muitas espécies madeireiras, que são usadas para cerca e como lenha. Muitas vezes não tem nem que cortar, a própria natureza se encarrega disso deixando os galhos caírem. De fora vem a torta de mamona para o café, a farinha de trigo, o macarrão, o arroz e os botijões de gás.
nossa Roça Agosto de 2006 - nº 12
Construindo uma propriedade agroecológica
Experiências da agricultura familiar da Zona da Mata de Minas Gerais
Visita à casa do Abatiá e Aninha Aninha e Abatiá Paranhos são casados e vivem em Tombos, na comunidade Serra dos Quintinos. Eles têm três filhos: Eduardo, Daniela e Daniane. A família sempre trabalhou e fez os planos para a sua propriedade juntos. Na propriedade há ainda um aproveitamento difícil de quantificar que é dos microrganismos que estão trabalhando no solo e das minhocas que ajudam na nutrição das galinhas. E isso só acontece porque na propriedade não há o uso de agrotóxicos. Outra coisa importante é o aumento da água devido ao manejo do mato que mantém a cobertura do solo e a proteção da nascente. Para a família, tendo variedade o agricultor/a garante sua autonomia e evita que outras pessoas coloquem preço nos seus produtos. Se hoje não conseguir vender um produto ao preço que acha justo, pode esperar esse preço melhorar, já que na propriedade há uma grande variedade e a família não tem aquela necessidade imediata de vender um produto como acontece com muitos agricultores/as que não têm variedade em sua propriedade.
Abatiá foi trabalhador assalariado durante 26 anos. Em 1982, Abatiá, Aninha e os irmãos conseguiram comprar a propriedade tão sonhada. Hoje a família possui uma propriedade com nove alqueires sendo que seis são do casal. Em 1993 o casal mudou para a propriedade e construíram aos poucos a casa da família. Atualmente, na propriedade tem também a casa do pai do Abatiá, de um dos irmãos e estão construindo um curral. O planejamento da propriedade é muito importante para que consigam realizar o que desejam. Assim, eles registram todos os gastos e todos os ganhos além de controlar direitinho fatos importantes para a propriedade, como por exemplo, a época em que uma vaca ficou prenha para acompanhar a gestação e não correr o risco de deixá-la no pasto na época do parto. Fazendo isto a família tem como saber onde precisa investir e quais as atividades rendem mais em cada época do ano.
Contato com a família: STR DE TOMBOS -Tel: (32) 3751 1456 ASSOCIAÇÃO telefax (31) 3892 2000 REGIONAL DOS Rua Benvindo dos Anjos TRABALHADORES Macedo nº79 - Araponga - MG e-mail: cta@ctazm.org.br RURAIS DA ZONA DA MATA - MG cep 36594- 000 http://www.ctazm.org.br tel: 31 3894 1152 centro de tecnologias alternativas da zona da mata
Apoio: FUNBIO - SAF/MDA PDA /MMA - CNPq - EED FUNDAÇÃO FORD
aregional@ig.com.br
Boletim produzido pela equipe do Programa de Formação de agricultores e agricultoras do CTA-ZM - Tiragem 1000 cópias
Na propriedade da família nunca usaram agrotóxicos e sempre buscaram alternativas para que não fosse preciso o uso de produtos químicos. A família afirma que trabalhar com agroecologia traz grandes benefícios. Aninha diz que com a melhoria do ambiente na propriedade (qualidade e cobertura do solo, água, esterco etc.) conseguem produzir tudo que a família precisa. E para eles isso ajuda na sustentabilidade da família e da propriedade. Traz maior autonomia! Hoje não utilizam nenhum produto químico para tratar da família nem dos animais. A qualidade de vida aumentou muito!
Organização da propriedade A propriedade da família é diversificada e bem integrada. Tudo está ligado e tudo é aproveitado! Tem criação de vaca de leite, gado para abate, porco, peixes, galinhas e frangos. Além disso, tem horta, frutas, cana, milho, feijão, café, pasto, capineira e mata. Do curral sai o esterco para adubar a horta, o canavial, o milharal, a capineira e a lavoura de café. Do curral também sai o leite e a carne para alimentar a família. Além disso, o leite também é vendido na rua e o gado na região. Para uso da propriedade tem ainda a urina da vaca, usada na pulverização e o leite, usado para fazer o biofertilizante Super Magro. Na horta tem cebola, beterraba, salsinha, cebolinha, couve, taioba, manjericão, quiabo e tantas outras coisas de acordo com a época, inclusive muitas plantas medicinais. Quem geralmente cuida da horta é a Aninha, que usa o que produz na horta para fazer o tempero que vende no comércio, na Associação Local e para merenda escolar. O esterco do porco é usado na horta por ser um dos melhores adubos que existem. Assim a horta fica bem nutrida e o esterco não polui as águas do córrego que servem para outras famílias também. A cana é para o consumo das galinhas, dos porcos e das vacas. Uma parte vai para fora onde é beneficiada e transformada em cachaça e açúcar para serem vendidos. O açúcar é também consumido pela família.
Os peixes são tratados com fubá, farelo de arroz, banana verde e com as folhas que sobram da horta. Hoje estão plantadas algumas frutas nas margens do poço que no futuro vão servir de alimento para os peixes.
No galinheiro tem plantas medicinais cultivadas ao redor da cerca que servem de comida e remédio para as galinhas. As galinhas passam a maior parte do dia soltas e se alimentam dos restos da horta, da cana e um pouco de milho. Além de produzir ovos, as galinhas fazem ainda o controle dos carrapatos e espalham o esterco do gado. As vacas comem somente pasto, que é dividido em piquetes e bem manejado. Quando o capim de um piquete fica baixo o gado vai para outro. Assim o pasto é usado em rodízio, desta forma ele descansa garantindo pasto bom quase o ano todo. Além disso, as vacas ficam bem alimentadas porque estão sempre comendo capim novo e a produção de leite também fica melhor! Na época da seca as vacas são alimentadas com capim, milho e cana. Para complementar a alimentação é dada leucena, planta rica em proteínas, para todas as criações.