Nossa Roça nº 8 - O sistema agroflorestal do Angelo e da Lourdes

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nossa Roça dezembro 2005 - nº 8

O Sistema Agroflorestal do Ângelo e da Lourdes

Experiências da agricultura familiar da Zona da Mata de Minas Gerais

Nós chamamos de sistema agroflorestal quando deixamos árvores na lavoura e não capinamos o mato, só roçamos. O Ângelo e a Dona Lourdes moram na comunidade dos Lanas, em Araponga. Eles começaram a experiência agroecológica em 1995 a partir de uma reunião em Praia D´anta. Implantaram o sistema agroflorestal (SAF) em uma área de café de 15 anos, de aproximadamente 1 ha, com 1.200 pés de café e com espaçamento de 3,0 X 1,5 m. Na época, com a introdução das árvores o café foi recepado. Antes de plantar as árvores, ele conta que Ângelo e a Lourdes na propriedade havia muita erosão na área que é muito amorrada. Hoje eles têm aproximadamente 200 árvores nesta área. Antes do início da sua experiência, já tinha um vizinho que possuía algumas embaúbas no meio da lavoura. Enquanto outros agricultores adensaram e diversificaram muito o SAF, o Ângelo e a Lourdes fizeram diferente, implantaram um modelo mais simples com fedegoso, papagaio, capoeira branca e abacate. Quando viram que ficava muito adensado foram raleando. Hoje o SAF apresenta muitos pés de abacate, assim como toda a propriedade. No início, usavam um pouco de adubo químico no café. Hoje esta área é de café orgânico.

Como estão os pés de café e a produção? O café do sistema agroflorestal apresenta folhas grandes e verdes e é mais bonito que o convencional. O café fora do sistema apresenta mais pragas e doenças. As árvores ajudam a segurar o vento e diminuir a erosão, segurando a água no solo. Este ano o café do SAF teve um produvidade maior que o café de fora do sistema, mas ano passado foi o contrário. A produção deste ano foi de 4 sacas, 15 arrobas, mas a área é tão amorrada que sem as árvores o café teria As árvores protegem o solo da erosão produzido menos. As árvores têm muitas utilidades, até a quantidade de lagartos aumentou. Além de café, o SAF produz abacate, que eles vendem uma parte, consomem um pouco, dão para o gado e porcos, e fazem sabão. O restante do abacate ainda vira adubo, volta para o café, depois de incorporar na terra. Nada se perde. Não existe mais erosão na área, a terra fica segura, devido ao material vindo das árvores, como folhas e galhos que cobrem o solo. Eles não capinam, só roçam o mato. Isto também ajuda a evitar a erosão.


Como é o manejo do Sistema Agroflorestal? O Ângelo faz a poda das árvores para não deixar o café ficar muito sombreado. A poda é feita geralmente a cada 6 meses. Para podar o SAF ele gasta 2 dias de serviço com ajuda dos companheiros. Usa uma escada para podar os galhos mais altos. Corta os galhos, pica e espalha sobre a terra. Ele não deixa a copa de uma árvore encontrar muito com a copa de outra árvore. Ele levanta a copa das árvores para elas ficarem acima do pé de café. A colheita do café é realizada no pano e as árvores não atrapalham. O Ângelo gosta do abacate no meio do café, porque é rústico e dá fruta que tem várias utilidades.

O Ângelo poda as árvores quando estão fazendo muita sombra

Mas também gosta de plantar ingá, bananeira e outras árvores como papagaio, cedro, fedegoso, capoeira-branca, açoita-cavalo, ameixa, caroba, embaúba e alecrim-do-mato. A embaúba ele tira do mato, corta o guião e planta. Em 2001 ele adubou o café do SAF com cama-de-frango. Já em 2002 e 2003 utilizou esterco de gado. Quer aplicar novamente cama-de-frango. Além disso, aplica supermagro misturado com urina de vaca de 2 a 3 vezes por ano e joga palha de feijão 1 vez por ano. Prefere as árvores que perdem as folhas na época seca, que coincide com a época da florada, quando o café precisa de mais luz.

Serviços do SAF

Eles colhem do SAF: banana, café, soja, abacate e cana-de-açucar

Presença e participação do Ângelo

O Ângelo sempre participou dos encontros, reuniões, discussões e visitas a outras propriedades. Acredita que aprendeu bastante coisa e hoje é ele quem ensina a gente. Sua lavoura agora tem produção orgânica! telefax (31) 3892 2000 e-mail: cta@ctazm.org.br http://www.ctazm.org.br centro de tecnologias alternativas da zona da mata

Apoio: FUNBIO - SAF/MDA - PDA /MMA - CNPq EED - FUNDAÇÃO FORD

No SAF o Ângelo e a dona Lourdes conseguem obter, por enquanto, café, soja, abacate, cana-deaçúcar, madeira, ingá e banana. Estes produtos eles consomem e ainda vendem. Eles dizem que dali também retiraram muito conhecimento para o uso na propriedade. Hoje eles têm árvores em outras áreas de café e em toda a propriedade. Em uma das áreas de café, o Ângelo vai plantar mamona. Eles têm ainda uma área plantada com candeia, para futuros usos na propriedade ou até mesmo para vender. É como se fosse uma reserva, uma poupança. ASSOCIAÇÃO REGIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS DA ZONA DA MATA - MG

Rua Benvindo dos Anjos Macedo, nº79 Araponga - MG - cep 36594- 000 tel: 31 3894 1152 cta-araponga@tdnet.com.br

Boletim produzido pela equipe do projeto de extensão: Sistemas Agroflorestais na Zona da Mata de Minas Gerais: sistematizar experiências para apreender lições. Parte II: Difusão participativa de aprendizados. Programa Teia (MEC/SESU) Departamento de Solos Universidade Federal de Viçosa Coordenação Geral: Irene Cardoso Equipe técnica: Helton Nonato, Maria Alice Mendonça, Gisele Piccirilli, Davi Gjorup Tiragem 1000 cópias


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