Agroecologia:
integrando a propriedade e construindo uma vida mais feliz
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Viçosa, 2006 Dezembro de 2006, Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata Sítio Alfa, Violeira, Zona Rural CX. Postal 128 – CEP 36570 000 Viçosa – MG TEL.: (31) 3892-2000 www.ctazm.org.br cta@ctazm.org.br Esta apostila foi produzida a partir das vivências e das contribuições dos/as agricultores/as e técnicos/as envolvidos/as no Programa de Formação de Agricultores/as, durante o encontro “Integração de Sistemas em Propriedades Agroecológicas” realizado em Tombos – MG em Dezembro de 2006. Agricultores/as: Ana Terra Bianquini, José Cláudio dos Santos, Sérgio Corrêa, Maria Elisa Assis Santos, Edinilson Valente Lima, Gerlúcia Cândida, Fábio Vitor da Silva, Geraldo Aparecido da Silva, João Batista, Carina Eliziana da Silva, Cláudio Evásio Batista, José Carlos Gomes, Nilza Maria Oliveira, Donival Gonçalves Martins, João dos Santos, Vânia Moreira, Omar Campos e Paulo Sérgio Gomes. Técnicos/as: Romualdo Macedo, Breno Mello, Simone Ribeiro e Fernanda Monteiro. Técnico convidado: Romeu Leite. Registro: Raquel Brás, Laida Morena e Flávia Imaculada. Diagramação: Fernanda Monteiro e Simone Ribeiro. Revisão: Márcia Yoshie Kasai Texto Final: Breno de Mello Silva, Simone Ribeiro, Fernanda Monteiro e Romeu Leite.
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Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata SOMOS UM GRUPO BEM GRANDE DE COMPANHEIROS E CADA UM DÁ A MÃO AO OUTRO.
O CTA - Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata é uma organização não governamental com sede em Viçosa, criada em 1987 por lideranças sindicais, técnicos, professores e pesquisadores comprometidos com a construção de um modelo de desenvolvimento rural sustentável adequado para a Zona da Mata de Minas Gerais. O desenvolvimento sustentável que estamos construindo tem como base a estabilidade ecológica com manutenção da capacidade de produção para as futuras gerações, com igualdade na distribuição dos benefícios gerados por essa produção, com a participação e o fortalecimento das organizações dos agricultores e com a participação e com equidade nas relações de gênero.
PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE AGRICULTORES/AS
Este é um programa que abrange 10 municípios da zona da mata. O objetivo é criar as condições necessárias (técnicas e materiais) para que agricultores/as que já estão envolvidos/as com a produção em sistemas agroecológicos possam trocar suas experiências entre si e com técnicos/as sobre a produção, o beneficiamento e até a comercialização de café em sistemas orgânicos. Nossos parceiros são: Associação Regional dos Trabalhadores Rurais-ZM, Associações de Agricultores Familiares-ZM, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais- ZM, Epamig-Centro Tecnológico ZM e Universidade Federal de Viçosa.
OUTROS PROGRAMAS DA ENTIDADE Conservação da Mata Atlântica na Serra do Brigadeiro Desenvolvimento Local Associativismo e Comercialização Desenvolvimento Institucional Promoção Pública da Agroecologia
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Visita à casa do Abatiá e Aninha Aninha e Abatia Paranhos são casados e vivem em Tombos, na comunidade Córrego dos Quintinos. Eles têm 3 filhos: Eduardo, Daniela e Daniane. A família sempre trabalhou e planejou tudo da propriedade juntos. Para eles os problemas que existem nas famílias acontecem muito por causa da falta de diálogo. Quando o diálogo acontece a propriedade e família andam bem! O Abatiá foi parceiro durante 26 anos, sendo que uma das propriedades que tocava de parceria com o pai e os irmãos é onde vivem atualmente. Quando jovem já havia morado próximo a essa área com os pais. Em 1982 Aninha e Abatiá junto com os irmãos e o pai conseguiram comprar a propriedade tão sonhada. Naquele ano compraram 2 alqueires de terra e mais recentemente compraram 9 alqueires. Desses 9 alqueires 5 são do Abatiá e da Aninha e os outros 4 são dos irmãos dele. No início a água da propriedade era muito pouca. Foi quando a família decidiu cercar as nascentes e a água aos poucos voltou. Hoje a água da nascente da propriedade abastece 5 famílias! Em 1993 mudaram para a propriedade e foram construindo a casa da família aos poucos. Hoje já construiu uma casa para o pai e agora está construindo um curral aos poucos. Para a família o problema de muitos/as agricultores/as é querer fazer as coisas na propriedade copiando o que o outro faz. Para ele o que tem que acontecer é cada um criar o seu próprio processo de evolução e ir fazendo aos poucos. O planejamento da propriedade é muito importante para que esse processo de evolução aconteça bem. Por exemplo, na sua propriedade não produz arroz devido o relevo que é cheio de morros, mas produz uma quantidade boa de cana que dá para tratar do gado e produzir cachaça. A cachaça é vendida e o dinheiro é usado para comprar o arroz e alguns poucos produtos que a família compra, já que a propriedade é muito diversificada não tendo que comprar quase nada fora. Desde quando compraram a propriedade nunca usaram agrotóxicos e sempre trabalharam voltados para a agroecologia, buscando alternativas para o uso dos produtos químicos. Mas Abatiá conta que quando trabalhava como empregado usava agrotóxicos porque era obrigado e quando conseguiu comprar sua terra decidiu que nunca mais iria usar. Muitas pessoas perguntam se os produtos sem agrotóxicos têm um maior valor no mercado e eles dizem que não. Para o casal essas pessoas não vêem vantagem em deixar de usar agrotóxico se o produto continua com o mesmo preço, pois para muitas pessoas o que importa é o quanto ganham. Para a sua família a agroecologia traz grandes benefícios. Além de não ter que gastar com remédios para tratar as doenças dos animais, que muitas vezes aparecem devido o uso de produtos químicos, deixam de buscar produtos fora da propriedade. Muitas pessoas criticam as práticas que a família usa na propriedade, mas eles não abrem mão dessas práticas alternativas e pensam que todas as pessoas deveriam experimentar para conhecer os benefícios que elas trazem. Aninha contou que com a melhoria do ambiente na propriedade conseguem produzir quase tudo que a família precisa. E para eles isso ajuda na sustentabilidade da família e da propriedade. Traz 4
maior autonomia! Hoje não utilizam nenhum produto químico para tratar da família nem para tratar dos animais. A qualidade de vida aumentou muito! Organização da propriedade A propriedade da família é diversificada e bem integrada, tudo está ligado e tudo é aproveitado! Tem criação de vaca de leite, porco, peixes, galinhas e frangos. Além disso, tem horta, frutas, cana, milho, feijão e café. O esterco do porco é usado na horta por ser um dos melhores adubos que existem. Assim a horta fica bem nutrida e não polui as águas do córrego que servem para outras famílias também. Afinal devemos cuidar do meio ambiente! Na horta tem cebola, beterraba, salsinha, cebolinha, couve, taioba, manjericão, quiabo e tantas outras coisas de acordo com a época. Quem geralmente cuida da horta é a Aninha, que usa o cheiro verde, a alfavaca produzida na horta para fazer o tempero que vende no comércio e na Associação Local em Tombos. Os peixes são tratados com fubá, farelo de arroz, banana verde e as folhas que sobram da horta. Hoje estão plantadas algumas frutas nas margens do poço que no futuro vão servir de alimento para os peixes. No poço tem a Santa Luzia, planta aquática que não deixa a água esquentar. No galinheiro sempre tem plantas medicinais cultivadas ao redor da cerca que servem de comida e remédio para as galinhas. As galinhas passam a maior parte do dia soltas e se alimentam dos restos da horta, cana e um pouco de milho. Além de produzir ovos (30 dúzias por mês), as galinhas fazem ainda o controle dos carrapatos do gado e espalham o esterco do gado. As vacas comem somente pasto que é dividido e bem manejado. Quando acaba o capim de um piquete o gado vai para outro piquete. Assim os pastos são usados em rodízio, desta forma eles descansam garantindo pasto bom quase o ano todo. Além disso, as vacas ficam bem alimentadas porque estão sempre comendo capim novo e a produção de leite também fica melhor! Na época da seca as vacas são alimentadas com milho e cana. Para complementar a alimentação é dada leucena, planta rica em proteínas, para todas as criações. Para a família, tendo variedade o/a agricultor/a evita que as pessoas coloquem preço nos seus produtos. Se hoje não conseguir vender um produto ao preço que acha justo pode esperar esse preço melhorar, já que na propriedade há uma grande variedade e a família não tem aquela necessidade imediata de vender um produto como acontece com muitos/as agricultores/as que não tem variedade em sua propriedade. Hoje o que a família compra fora é a farinha de trigo, o macarrão, dois bujões de gás por ano e o arroz. Na propriedade têm muitas espécies madeireiras que usa como lenha, muitas vezes não tem nem que cortar, a própria natureza se encarrega disso deixando os galhos caírem.
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Fluxo dos subsistemas da propriedade do Abatiá e da Aninha Casa: Da casa saem os restos de comida que são colocados para os peixes, para as galinhas e para os porcos. Curral: Do curral sai o esterco para adubar a horta, o canavial, o milharal, a capineira e a lavoura de café. Do curral também sai o leite e a carne para alimentar a família. Além disso, vende leite na rua e gado na região. Para uso da propriedade tem ainda a urina da vaca, usada na pulverização e o leite, usado para fazer o Super Magro. Galinheiro: O esterco das galinhas é jogado na horta e nas árvores do pomar. Os ovos são para venda e para consumo da família. Peixes: Os peixes são para o consumo da família. Chiqueiro: Os porcos são para o consumo da família. Horta: As verduras e legumes são para o uso da família e venda na Associação. O que sobra vai para as galinhas, porcos e peixes. Da horta saem ainda o cheiro verde (salsinha e cebolinha) e a alfavaca que são usados na fabricação do tempero que é vendido na cidade. Milho: O milho vai para a casa na forma de fubá e na época da seca é dado para o gado, os porcos e as galinha. Cana: A cana é para o consumo das galinhas, dos porcos, das vacas e parte vai para fora onde é beneficiada e transformada em cachaça e açúcar para serem vendidos. O açúcar é também consumido pela família. Pomar: Do pomar saem as frutas que são para o consumo da família, para as criações e ainda para a venda. Café: É para o consumo da família e quando produz uma quantidade maior vende. Capineira: O capim é para o consumo do gado. Capoeira: Da capoeira sai lenha para a casa e cerca para a propriedade De fora: De fora vem a torta de mamona para o café, a farinha de trigo, o macarrão e os botijões de gás. Esse tanto de entradas e saídas dá uma idéia do quanto a propriedade está integrada. Chamamos isso de fluxo da propriedade e quanto mais seta pra lá e pra cá mais integrada está a propriedade e, provavelmente, mais agroecológica e sustentável! Na propriedade há ainda um fluxo difícil de quantificar que é dos microrganismos que estão trabalhando no solo e as minhocas que ajudam na nutrição das galinhas. E isso acontece, já que na propriedade não há o uso de agrotóxicos. Outra coisa importante para se observar é a cobertura vegetal do solo que aumenta a infiltração de água e garante essa água para o uso da propriedade e de mais 5 famílias. Não podemos esquecer do sol, que todos os dias faz seu papel fundamental em nossas vidas e dos outros seres vivos também! O Abatiá contou que teve um lucro de mais de R$ 9.000,00 nos últimos 9 meses com a venda de produtos, fora o que ficou para a família e o deixou de ser comprado. Com a venda dos produtos, no decorrer dos últimos anos, já conseguiu comprar 2 casas na cidade que são alugadas gerando renda par a família. 6
Veja quantas setas saem da propriedade! Portanto é muito importante conhecer o fluxo da propriedade, percebendo se há uma maior entrada ou saída de produtos e recursos da propriedade. Pode ajudar também a planejar melhor a propriedade trazendo cada vez mais autonomia e sustentabilidade para a família!
Agroecologia x Agricultura Orgânica No encontro fizemos uma discussão sobre o que é agroecologia e o que é o orgânico. O Abatiá deu seu exemplo, ele se considera orgânico e agroecológico. É orgânico por causa da certificação e agroecológico por causa da forma que trabalha desde quando conquistou sua propriedade com a família. Muitos/as monitores/as se consideram em transição. Um dos monitores disse que não tem mais o pensamento de ter toda a propriedade orgânica, pensa mais em ter uma propriedade agroecológica integrada não priorizando o mercado. Uma das dificuldades dos/as agricultores/as com relação ao orgânico, está ligada à certificação, que colocava que ao longo do tempo toda a propriedade deveria ser orgânica. Muitos/as são parceiros/as e não conseguem certificar toda a propriedade. Além disso, há dificuldade de conseguir tanta matéria orgânica para aqueles que são proprietários. Durante a discussão foi colocado que o orgânico visando o comércio é uma troca de pacotes do convencional para o orgânico porque traz insumos externos (matéria orgânica) 7
e a propriedade não está integrada. Para os/as monitores/as ser agroecológico/a é mais importante do que ser orgânico. O Romeu, que veio de São Paulo, cidade que hoje é o ninho do agronegócio orgânico certificado, diz que há um conflito entre o que é orgânico e o que é agroecológico no Brasil todo. Ele acha que isso acontece porque estes conceitos ainda estão em construção. Por enquanto o que está claro é que existem dois modelos de agricultura: um voltado mais para o lucro e o outro com uma visão mais integrada, preocupado com o meio ambiente e as relações sociais. Para nós a certificação orgânica é uma estratégia de comercialização que cada um/a escolhe se quer ou não. No início da transição muitos/as agricultores/as investiram na produção orgânica pensando no lucro e hoje estão voltando atrás e repensando essa estratégia. Qual é a diferença entre uma propriedade agroecológica e uma convencional? Em uma propriedade convencional o/a agricultor/a visa o lucro, não se preocupa com o meio ambiente, com os vizinhos e com ele/a mesmo/a. A propriedade convencional depende muito de insumos externos e não está diversificada e integrada. A agroecologia não é apenas não usar veneno! Na propriedade agroecológica o/a agricultor/a tem uma conscientização e uma preocupação maior com o coletivo e com o meio ambiente vendo a propriedade como um todo, como uma coisa só onde tudo está ligado e é bem diversificada. O manejo da lavoura agroecológica é muito diferente da convencional porque cuida do solo ao invés de apenas adubar a planta e pensa a propriedade como um organismo vivo único. Alguns monitores/as disseram que o PFA teve suas dificuldades, mas apesar disso criou essa visão do coletivo. O programa conseguiu ainda unir os/as monitores/as em torno de uma ideologia. Na agricultura convencional não existe essa amizade, essa integração, só se busca o lucro, diferente da agroecologia que busca muito mais do que isso. Os/as monitores/as estão hoje na construção desse processo e na busca desse caminho agroecológico. Uma das monitoras acha que antes de ser agroecológico tem que ser orgânico. No orgânico buscam-se insumos fora da propriedade e com o passar do tempo e a melhoria das condições do solo e da propriedade não é mais preciso buscar nada fora, sendo então a propriedade sustentável e então agroecológica. Outros colocaram que é o contrário, primeiro deve-se pensar em ter a propriedade em um manejo agroecológico e depois que o solo estiver melhor e tudo estiver mais integrado pode-se pensar em orgânico de uma forma mais autônoma, sem depender tanto de insumos externos. É importante para a agroecologia e, portanto, para a sustentabilidade, potencializar os fluxos internos da propriedade estando a propriedade cada vez mais integrada. Tem que se buscar ser auto-suficiente mesmo tendo, algumas vezes, que comprar produtos fora da propriedade, mas pensando sempre em fortalecer o sistema e ser cada vez mais autônomo/a. O trabalho que está sendo feito pelo grupo hoje é uma transição para a agroecologia! O que o grupo aprendeu no programa foi respeitar todo o sistema, buscar a 8
integração e a sustentabilidade da propriedade, sabendo que esse processo não tem fim. Melhorar a propriedade agroecológica é uma busca constante, procurando reduzir as entradas e aumentar as saídas de produtos. E a sustentabilidade que se busca é relativa ao meio ambiente, à economia da família e ao equilíbrio das relações de gênero e geração. O desejo é atingir a sustentabilidade, por isso o/a agricultor/a deve se preocupar com esse fluxo de entrada e saída de produtos e de recursos da propriedade. Um grande problema para os/as agricultores/as que estão envolvidos com o movimento é a falta de tempo para se dedicar a esse processo de transição para a agroecologia. A discussão sobre o que entendemos por agroecologia é rica, mas para que o trabalho possa acontecer nos municípios é preciso haver clareza desta idéia dentro do PFA evitando conflitos nos municípios. É preciso construir uma linguagem mais acertada que esteja mais próxima do processo que vem acontecendo nos municípios. Para os/as monitores/as o que se deve criar é condições para que o processo de sustentabilidade seja uma prática buscada pelos/as agricultores/as e não uma troca de pacotes como aconteceu com o orgânico na região. É importante discutir agroecologia para mudar o olhar do/a agricultor/a para a diversidade e para a integração da família e da propriedade. Ser agroecológico é buscar a autonomia, procurar depender de poucas coisas que venham de fora da propriedade. A falta de sustentabilidade submete o/a agricultor/a ao mercado. Não sendo sustentável o/a agricultor/a não tem a opção de guardar seu café ou outro produto para vender na melhor hora, porque precisa daquele recurso externo já que precisa buscar muitas coisas fora da propriedade. Hoje o/a agricultor tem que buscar cada vez mais a sustentabilidade da propriedade e passar a pensar em uma atividade como o café como mais uma atividade dentro da propriedade e não como a única fonte de renda. A diversificação deve ser planejada e que não se deve diversificar somente a produção, mas a renda também. Assim sendo é necessário trabalhar a comercialização e/ou troca dos outros produtos também. No fluxo da propriedade deve-se buscar um equilíbrio entre as setas que entram e que saem da propriedade. Conhecendo a experiência do Serginho e Maria do Rosário A propriedade da família é bem diversificada com várias plantas e animais. São muitas árvores e no meio do cafezal tem 3.600 pés de várias espécies de banana, que trazem renda e entram como ingrediente na ração dos animais. Tem também milho, feijão, cana, mandioca, horta e frutas. A propriedade é cercada com capim napiê como barreira física para proteção. Parte dos alimentos é para consumos da família e dos animais e parte vai para comércio local. Há gansos e patos e os pintinhos e patinhos ficam com as mães. Os coelhos comem a mesma ração dos porcos e à noite comem capim ou outros matos. Serginho disse que é importante observar como os animais se comportam na natureza e fazer parecido para ter animais mais felizes. Tem cinco poços de peixes tilápia e grande diversidade de plantas na porta da cozinha.
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Os poços dos peixes são de água de mina e do córrego, sendo a água bastante limpa. Serginho descobriu que os peixes precisam de um pouco de estrume de galinha e ele fazia isto inconsciente, mas ele alertou que tem que ser pouco senão intoxica os peixes. A ração de peixe é: casca de pupunha, banana, casca de maracujá e fubá. Também tem uma escada de pneus feita com intenção de aproveitar este recurso que era abundante e também por preocupação de não poluir o meio ambiente. Os canteiros da sogra são feitos de garrafa pet. De uns seis meses para cá, Serginho e sua família estão organizando melhor a propriedade. Quando perceberam que não estava dando certo comprar tantos insumos, começaram a aproveitar os próprios recursos e mudaram muita coisa na propriedade. Serginho acredita que a família está bem mais saudável depois das mudanças! Agora a mata em cima do morro tem trilhas para caminharem. Aumentaram a criação animal e todo o esterco dos animais é coletado e utilizado para fazer o composto possibilitando que toda propriedade seja orgânica sem depender de composto comprado. De acordo com Serginho a propriedade está cada vez mais integrada e o solo está cada vez mais sadio! O chiqueiro está produzindo porcos com 80% de carne e 20% de gordura graças a um reprodutor caipira de 16 arrobas que ele comprou no CTA. Ele ainda acha que este não é o sistema ideal porque está perdendo muito esterco. O chorume sai do chiqueiro e cai direto em uma caixa de 2500L. Dentro desta caixa ele coloca também 100L de vinhoto, homeopatias, cama de galinha e 1,5L de biogel. Ele usa uma bomba para jogar esse chorume no composto.
Todo o chorume é coletado e escorre para a caixa pelas canaletas.
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Nesta caixa o chorume fica armazenado para depois ser bombeado pelo cano até o composto.
A parte sólida é retirada com uma pá e separada. Por volta de fevereiro passam o esterco numa peneira e guardam em sacas na tulha (separado do café) para depois jogar na lavoura de café. As galinhas agora estão cercadas para aproveitar seu esterco. Os coelhos da sua propriedade estão produzindo 60 kg de esterco por semana que também é juntado para ir para a lavoura. Sábado é dia da família ensacar todo o esterco da propriedade para depois usar na lavoura. A receita de composto do Serginho é feita com cama de galinha, palha de café, cana picada embaixo da cama de galinha, capim napiê picado, folha de bananeira, chorume enriquecido (com vinhoto, homeopatia e biogel) e água de carvão (coloca o carvão de molho). Para roçar o cafezal ele utiliza uma roçadeira elétrica que corta o mato. O filho faz os berços e a esposa vai plantando o milho e o feijão. Ele acha a máquina muito prática porque pode deixar os matos que considera interessante e economizar o seu tempo, “tem muito para roçar e pouca mão-de-obra disponível”. A roçadeira também é utilizada na colheita do café e assim diminui pela metade o tempo de colheita. Serginho disse que simplificou o seu serviço e também está conseguindo manter o solo sempre coberto de palha porque depois que passa com a roçadeira as podas ficam espalhadas pela lavoura. Este pode ser um bom investimento e um bom uso da mecanização na propriedade! Serginho contou que a família está economizando e aproveitando melhor os próprios recursos, já que antes jogava fora o chorume poluindo as águas e não usava o esterco dos coelhos e galinhas. Os 24 porcos vão dar 24 toneladas de esterco. O lucro está na economia de esterco que ele não precisa mais comprar. Dia sim, dia não limpam o chiqueiro. Todo sábado raspam as camas das galinhas e dos coelhos e aproveitam tudo. “Eu quero aprender mais e quero ter vacas também, para produzir leite e queijo e por causa do estrume também”. Ele diz também que tudo precisa de investimento, mas se for demais não vale a pena. Quando o cunhado quis plantar banana no cafezal, ele disse que resistiu no início porque tinha a cabeça muito fechada, mas hoje consegue perceber o valor disso e já estão tirando lucro.
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Dessa forma a família fortaleceu a propriedade, aumentando a diversidade e assim a autonomia! CRIAÇÃO ANIMAL História do Romeu Romeu e mais cinco amigos compraram um terreno em Jaguariúna, São Paulo, em 1987, onde começaram a produzir hortaliças e ovos sem produtos químicos. Para comercializar iam batendo de porta em porta para divulgar seus produtos e conquistar consumidores. Com o tempo a idéia foi dando certo e eles foram diversificando cada vez mais a propriedade. Atualmente 28 pessoas vivem na propriedade e dependem da produção para viverem. Hoje produzem cerca de 60 produtos (verduras, cogumelos, legumes, mel, ovos, queijos etc.). Todos/as dedicam seus esforços para o bom funcionamento da fazenda e ele diz que é muito trabalho, muito planejamento. Todas as decisões da comunidade são tomadas em grupo e enquanto não chegam a um consenso não acaba a discussão, mesmo que isso dure dias. A propriedade tem 60 hectares, sendo que metade é mata. Criam galinhas (são 6 mil galinhas poedeiras), porcos e vacas, além de plantarem de tudo um pouco. Também têm um SAF com frutas. São conhecidos/as, na região, como os donos/as das galinhas felizes. Há algum tempo eles/as trabalharam vendendo seus produtos para um supermercado. Essa experiência durou dois anos, mas não deu certo e então eles/as voltaram a fazer apenas entregas de produtos nas casas das famílias compradoras. No total são três Kombis por dia que entregam um total de 800 cestas de produtos variados por semana. Os/as consumidores/as escolhem os produtos que querem a cada semana de acordo com os produtos disponíveis em cada época. Uma vez por mês fazem uma reunião com os/as consumidores/as na fazenda para conversar, ouvir reclamações, plantarem juntos e anotar sugestões. Romeu disse que vivem muito bem e com um padrão de vida muito bom! Ele disse que não só os/as agricultores/as do PFA estão discutindo o que é agroecologia. “A agroecologia está sendo construída”! Contou também que viveram uma grande crise alguns anos atrás quando só estavam preocupados em produzir orgânico para o mercado e deu tudo errado. Então pararam, repensaram a estratégia e a postura e mudaram. Hoje a propriedade é completamente diferente! Os produtos são certificados e a certificação é participativa feita através da Associação de Agricultores Naturais da região. O selo é aceito pelos/as consumidores/as, que é o que realmente importa no processo de certificação. Romeu explicou que hoje a fazenda é orgânica não no sentido de agronegócio, mas sim no sentido da integração orgânica, ou seja, entendem a propriedade como um todo onde tudo está ligado como um ser vivo. Assim como estamos pensando a agroecologia!
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Depois de conhecermos a história do Romeu, vamos agora resgatar um pouco da conversa com ele! Antes de a agricultura começar só havia florestas na nossa região. Quando a agricultura começou várias transformações aconteceram e até hoje acontecem. Essas transformações podem ser mais ou menos agressivas, depende do que e como se faz com o meio ambiente onde vivemos e produzimos. Quanto menos agressivas forem as transformações, mais sustentável será a propriedade. Para entendermos um pouco melhor essa idéia vamos pensar no ciclo da vida dos seres vivos. Na natureza temos os seres vivos que produzem alimentos (plantas), os seres vivos que se alimentam de plantas ou animais menores (insetos e animais) e os seres vivos que decompõem os restos de plantas e animais mortos (os organismos do solo e microrganismos).
Ciclo da vida
Esses seres vivos estão sempre presentes no meio ambiente e devem estar em equilíbrio para que a natureza esteja equilibrada. E assim vivem uns comendo os outros para viverem de uma forma sustentável.
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Veja a quantidade de seres vivos que vivem em 1 hectare de solo:
Nem sempre enxergamos os seres vivos do solo, mas estão todos lá, trabalhando e enriquecendo o solo. Os insetos também trabalham muito. Uma joaninha come 30 vezes o peso dela se alimentando de pulgão todos os dias e nós não percebemos isso. Joaninhas são inimigas naturais do pulgão e tem a tarefa de controlar a população dele. Cada um faz seu trabalho e cuida da natureza! Muitas pessoas jogam veneno nas lavouras achando que estão combatendo os pulgões, mas na verdade estão acabando com as joaninhas também. Aí a Joaninha não vai mais controlar os pulgões e eles logo vão crescer de novo e comer toda a horta, ainda mais se for uma monocultura. Isso acontece com outros insetos e animais também. Na natureza tudo está ligado ou integrado trazendo um equilíbrio natural. Ela nos ensina que dessa forma é sustentável e por isso a produção agroecológica procura aprender com a natureza. Cada vez que se joga veneno ou planta uma monocultura ocorre desequilíbrio. Portanto o ideal é ter diversidade de plantas, insetos e animais na propriedade e não usar agrotóxicos! Além disso, devemos pensar que nós somos o que comemos. Basicamente nosso corpo se forma através da comida, assim se comemos veneno seremos pessoas envenenadas. Uma terra degradada produz alimentos degradados e conseqüentemente pessoas degradadas. O contrário também é verdadeiro porque terra saudável produz alimento saudável e seres humanos saudáveis. Alimento saudável é aquele que não tem veneno e que foi bem cuidado recebendo o carinho de quem produziu, como por exemplo, galinhas bem cuidadas e felizes. As galinhas são felizes porque recebem sol, ficam soltas parte do dia para ciscar e namoram os galos. 14
A propriedade deve ser toda integrada para ser mais sustentável, como é o caso da família do Serginho e do Abatiá. A nossa alimentação também deve ser integrada com o ambiente em que vivemos e bem equilibrada tendo de tudo um pouco.
Este desenho indica as quantidades que devemos consumir: a base da pirâmide são os alimentos que devem ser mais consumidos e a ponta da pirâmide são os alimentos que devem ser consumidos com cuidado. Os alimentos têm diferentes funções no nosso organismo e se faltar algum a pessoa pode adoecer. A mesma coisa acontece com os animais. A proteína é o alimento mais importante para a criação animal. Como o Brasil tem uma quantidade muito baixa de minerais no solo e os animais que criamos (galinha, vaca, porco, cabra e ovelha) precisam de muita proteína, temos que tratar deles. Esses animais não são daqui, vieram de outros lugares onde os solos são mais ricos e acostumaram com alimentos mais ricos em proteína, por isso são tão exigentes. Eles ainda estão se adaptando no Brasil e isso leva muito tempo, por isso precisam de ajuda e de cuidado. São animais exóticos, animais adaptados para nossa realidade, mas que não são brasileiros e por isto não conseguem viver naturalmente aqui. Estes animais necessitam de maior observação e melhores cuidados, principalmente com a alimentação porque acaba faltando nutrientes. É por isso que fazemos lugares para viverem e damos rações para eles! A integração na propriedade agroecológica é dos animais e plantas. Dessa forma busca-se o mínimo de coisas de fora e tudo está ligado. A produção animal agroecológica deve procurar seguir os seguintes princípios: • Não confinar ou prender totalmente os animais; • Diversificar a ração quando for necessário usar; • Não colocar antibióticos e hormônios na ração; • Utilizar o pasto em rodízio, dividir o pasto em parcelas ou piquetes para melhor produção e uso do capim;
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Trabalhar com medicina alternativa nos animais e tratá-los bem para prevenir doenças.
Observações: - Geralmente problemas reprodutivos dos animais são relacionados a carências alimentares, principalmente falta sal mineral de boa qualidade que não deve faltar nunca. Devem ser observados e se o problema se prolongar muito tem grande probabilidade de ser genético podendo ser transmitidos aos filhos. Pode-se tentar tratar com homeopatia. - Alguns produtos alternativos podem ser usados para desinfetar o ambiente do animal como por exemplo: misturar água (24 litros), cal hidratada (1,8 quilos) e creolina (12 ml) e aplicar no local de criação dos animais.
GADO DE LEITE Visita ao curral do Tonho e do Abatiá Nessa visita vimos quais os cuidados na hora da ordenha e com os animais na propriedade. Cuidados na ordenha A higiene durante a ordenha das vacas é prevenção de doenças e cuidado com o leite. Para ordenhar é interessante ter duas pessoas da família trabalhando juntas – uma só para amarrar e a outra só para ordenhar, se não contamina as tetas com sujeira e também o leite. O primeiro passo é amarrar as pernas de trás e o rabo da vaca e colocar o bezerro para mamar e amaciar o leite. O bezerro deve ser bem cuidado e não receber pancadas na hora da mamada, porque senão pode vir a se tornar um animal nervoso. Deve-se tirar o bezerro com a mão sem puxar, com cuidado para não machucar a teta da vaca. O próximo passo é limpar as tetas com água e depois passar um papel higiênico (descartável) sem repetir o lado do papel nas tetas para não levar mamite de uma teta para outra. E atenção: não se pode usar o mesmo papel para mais de uma vaca. Cada vaca deve ter o seu para não passar mamite de uma vaca para outra. Deve-se ter um vidro com água pura e outro com água clorada (100mL de água sanitária para 10 litros de água ou 10ml de água sanitária para 1 litro de água). Lavar as mãos com água pura e, em seguida com água clorada. Enxugar as mãos com papel higiênico e a partir daí não encostar as mãos limpas no animal para a sujeira não passar para as tetas, causando doença na vaca e contaminando o leite. Em seguida faz-se o teste de mamite com uma caneca escura. A mamite é causada por uma bactéria que entra nas tetas através da sujeira causando inflamação. A vaca tenta se defender com anticorpos que é o pus que se vê saindo das tetas durante a ordenha. Se não cuidar durante os três primeiros dias pode até perder a teta. Para fazer o teste esguichar 2 jatos de leite com cada teta na caneca de plástico, balançar e ver se tem grumos de pus – parece que o leite está talhado. Se alguma teta der problema 16
todo o leite daquela vaca está comprometido. Nesse caso o leite deve ser descartado ou dado para criação. Abatiá e Tonho estão dando a homeopatia Staphilococcus para vacas com mamite. Também fazem massagem no peito da vaca usando 1L de água quente com 5 ml de querosene para desfazer o nódulo. Fazer isso durante 3 dias, se não funcionar é porque já perdeu a teta. Depois de realizada a ordenha coloca-se iodo com um copo ou chá de tansagem com confrei nas tetas e deixa por dois minutos. Aí traz o bezerro novamente para mamar. No caso do chá, ele é bom também para o bezerro, pois a tansagem é boa para tratar infecção e o confrei para anemia. Quando termina de tirar o leite as tetas estão abertas, se a vaca deitar entram bactérias que causam a mamite. Então dá alimento para que a vaca fique de pé se alimentando por pelo menos 2 horas (tempo que leva para as tetas fecharem). Caso não vá tratar com ração pode deixar a vaca amarrada e dar restolho de milho com terramicina (que previne infecção) ou com 2 dentes de alho (para prevenir contra carrapato e vermes). Só depois desamarra a vaca. Aquelas vacas que estão com mamite devem ser ordenhadas por último. Abatiá esclareceu que muitas coisas podem dar mamite: picada de marimbondo, arame farpado, algum machucado. Quando a teta tem mamite, não pode deixar o bezerro mamar nela, porque pode contaminar as outras tetas. Importante: tirar o leite da teta doente por último. O leite salgado também é indicativo de mastite. Cuidados com o bezerro O bezerro deve mamar até 60 dias antes do próximo parto de sua mãe. Não se deve passar esterco nas tetas para desmamar o bezerro, basta separar, pois ao esterco contamina as tetas e o leite. Para facilitar o desmame separar o bezerro da mãe parte do dia desde o nascimento até 3 meses de idade, só ficando com ela pela manhã. Depois de 3 meses de idade, só deixar com a mãe na hora de mamar. Na hora do bezerro mamar é aconselhável fazer com que ele mame nas 4 tetas, pois se mamar só em uma teta pode diminuir o leite e a vaca pode até mesmo perder a teta. Se for fazer a reserva de uma teta para ele mamar, então reserve 1 a cada dia. Também pode ser utilizada a focinheira, mas é preciso observar se não está machucando a vaca. O bezerro pode mamar até chegar a 7 meses de idade, pois nesta época a vaca já está a 60 dias do próximo parto e deve ser seca. Após 21 dias de parida a vaca tem cio e pode ser enxertada novamente. Para curar o umbigo também está usando sumo de confrei com tansagem ou iodo. Planejamento É importante ter claro o objetivo para se planejar corretamente. E o planejamento da pastagem, capineira, curral e materiais são fundamentais. Pensar quem da família tem dom para tirar leite é também importante, pois não se pode pensar só em lucro, porque acaba não fazendo produto de qualidade. A família tem que estar integrada como um todo, pois quem não gosta do que faz não faz com zelo, não faz manejo de prevenção. O tempo é curto mas fazer manejo de prevenção é também fazer economia. 17
Tem lugares da propriedade que não vemos o tempo todo, por isso é bom dividir em piquetes e planejar. Controlar o gado, fazendo anotações de cada animal sobre sua produção, reprodução e outras observações como doenças é muito importante para se ter um rebanho sadio. Se não fizer esse controle pode acontecer como em muitas propriedades, onde quem avisa que nasceu uma cria é o urubu. E a partir da parição de uma vaca podese programar a venda do leite. É preciso ter produção constante para não perder os fregueses, estão tem que planejar. Alimentação A alimentação do gado não deve ser somente pastagem. É preciso também ter cana com uréia na época da seca e sal mineral o ano todo. Caso não tenha picadeira de capim na propriedade pode-se pensar em parcerias com vizinhos. Na época da seca usar cana com uréia ou com capim (neste caso a proporção é de meio a meio) para tratar do gado. No caso da uréia é preciso verificar qual a quantidade correta, porém para criação orgânica de gado não é permitido o uso da uréia. A parte mais nutritiva é a ponteira da cana. De acordo com Abatiá, as vacas já sabem onde ele deixa a cana e vão comendo do jeito que elas querem e a água da cana também é muito boa na seca. Sal mineral Há uma cartilha do CTA sobre o assunto que pode ser adquirida pelo/a agricultor/a . Uma boa dica é fazer o sal em mutirão para facilitar o trabalho e estar sempre conversando com os/as companheiros/as sobre o assunto. Deve-se misturar 2 Kg de sal comum para cada 1 Kg de sal mineral. Depois de bem misturado o sal deve ser colocado em côcho coberto e oferecido à vontade para o gado. Nos primeiros dias o gado vai comer muito sal, mas depois de um tempo passa a comer menos. Manejo do pasto É aconselhável dividir o pasto em piquetes, se não o gado roda toda a área para se alimentar matando muito capim e estragando outros porque não tem descanso para a planta crescer. Fazendo a divisão os animais vão se alimentando em um piquete de cada vez. Procurar dar 30 dias de descanso para cada piquete. Além disso, neste tipo de manejo o gado aduba o piquete cada vez que está pastejando nele, pois todo o gado se concentra em um piquete por vez. Também é importante os piquetes irem até o alto do morro porque na época das águas os animais gostam de subir para não ficar na baixada alagada. Uma lotação de animais aconselhável para a Zona da Mata, segundo Abatiá, seria de 1 cabeça por hectare em locais mais morrados e de 3 cabeças por hectare em locais mais baixos. Eles têm 33 cabeças, uma por hectare, o que equivale a três cabeças por alqueire. Ele lembrou que é bom não deixar baixar muito o pasto porque o capim com menos de 15 cm de altura do chão é muito difícil de recuperar e que cada um/a deve observar sua área para adequar a quantidade de animais. 18
É interessante deixar um capoeirão no alto do pasto, pois em certa época do ano o gado tem necessidade de erva, então ele vai até lá e busca (é uma prevenção própria). Para formar pasto pode utilizar capim-gordura, jaraguá, braquiária que quiser etc. Não é bom oferecer só uma opção. É bom que o pasto seja diversificado, se não o gado enjoa e também porque pouca variedade de alimento facilita adoecer. Trabalhar na prevenção é melhor. Ter leguminosas nativas no pasto é muito bom. Para isso é necessário conhecer bem as plantas e fazer uma bateção de pasto seletiva deixando as leguminosas nativas que ajudam a adubar o pasto e são alimento para o gado. Também pode plantar outras leguminosas que se queira para diversificar o pasto. Algumas leguminosas nativas são: sojinha, amendoim-do-mato e fedegosinho. Uma leguminosa que pode ser plantada é a leucena, devendo ser manejada. Para plantar a leucena ferva suas sementes por 2 minutos, seque em jornal e plante em sacolinhas. O Tonho também lembrou que é bom deixar árvores no pasto, pois tem algumas que não sabemos a utilidade, mas os bois sabem. O importante é manejar as árvores porque a jaca, por exemplo, é boa verde, mas madura pode intoxicar o animal. As vacas gostam de comer fruta-do-lobo, manga, laranja e goiaba e quando pegam do chão não tem problema, mas quando pegam direto das árvores podem se engasgar e morrer. As árvores no posto devem ser manejadas para que a copa fique alta e o gado não pegue frutas diretamente do pé e engasgue. Manejo da capineira A capineira deve ser cortada 3 vezes por ano, pois se o capim crescer demais perde proteínas e passa a ser bem menos nutritivo para o gado. Quando atinge de 1 a 1,40 metro de altura ele pode ser cortado para trato e/ou para muda. Cuidados com o rebanho Quando uma vaca passa mais de um ano sem reproduzir pode ser por falta de sal mineral. Antes o solo era rico e não faltava nutrientes para o gado, hoje faltam nutrientes no solo então tem que repor esses nutrientes através do sal mineral, que pode ser feito em mutirão. Vacas que produzem muito têm que ter capim e sal mineral, se não podem ter problemas. Agora vamos conhecer algumas receitas alternativas que Tonho e Abatiá usam na propriedade da família:
Erva venenosa:
O inchaço do rúmen (estômago da vaca) é causado pela toxina da erva que ataca todo o sistema do animal. Seu veneno cai no sangue e vai para todo o corpo do animal. Para tratar deve-se primeiro furar a barriga com uma agulha grande fincando no lugar que está inchado. Tem que ser na hora, bem rápido. Em seguida mistura água com terra de barranco (bem do meio do barranco e tira a areia) ou de formiga não venenosa e dá para o animal. Depois vai lavando com água para limpar, ou seja, dá bastante água para o animal. 19
Se passarem muitos dias pode ser que não recupere mais. Então é preciso ser bom observador, conhecer o animal. O berro é uma boa maneira de saber como o animal está. Não pode ter preguiça, pois pode acontecer a qualquer hora.
Vermes:
Pode utilizar alho no sal ou no restolho de milho, folhas tanschagem e de bananeira.
Carrapato, berne, mosca do chifre e bicheira nova:
Utilizar 200 gramas de fumo em 1 litro de álcool e uma mão de folha de pêssego. Deixar por 8 dias. Depois retira 200mL desta mistura, coloca em 2 litros de óleo queimado puro e pincela o lombo do animal. Ou então, coloca 200mL da mistura para cada 2 litros de água para utilizar a bomba de pulverização. Homeopatia: estão usando auto-nosódio de carrapato, berne e mosca de chifre. A única matriz de fora é o staphilococcus para mamite.
Para a vaca dar cio:
Pegar meio litro de caldo de feijão (da primeira fervura) e um punhado de folha de mexerica e de mentrasto (uma mão de cada). Coloca as folhas para ferver no caldo de feijão e depois oferece para as vacas.
Diarréia:
Pegar um punhado de carvão de jacaré moído e um punhado de brotos de goiabeira (uma mão de cada). Ferver e oferecer para os animais. Para o bezerro deve-se dar meio copo duas vezes por dia. Para vacas e bois deve-se dar um copo duas vezes por dia. Outra opção é pegar terra de barranco, colocar na água por 30 minutos em repouso e depois colocar próximo ao bezerro para que ele beba.
Pneumonia:
Usar chá de saião e broto de assa-peixe. Deve-se tomar cuidado com o local onde os bichos estão ficando, para que não seja muito frio.
Retenção de placenta:
Pegar um punhado de cafezinho-do-mato e um punhado de erva-cidreira e colocar para ferver. Depois coar e oferecer 600ml para a vaca por três dias. Outra opção é pegar uma garrafa de 600ml de plástico, encher ¼ da garrafa com cinza colocar 3 colheres de sal e completar com água. Depois oferecer para a vaca.
Picada de cobra:
Não se deve amarrar ou cortar o local, nem utilizar querosene, álcool, urina ou fumo, pois além de não resolver o problema pode intoxicar o animal. O local da picada incha, o animal arregala os olhos e sai salmoura pelas ventas. Pode sair sangue do local da picada. 20
É importante fazer o animal tomar bastante água para diluir o veneno e providenciar o soro antiofídico urgente para aplicar mantendo o animal em repouso até que o soro chegue. Se a picada for de jararaca o melhor soro é o antibotrópico. Se for de cascavel deve ser o soro anticrotálico. Já se for de coral verdadeira é o soro antielapídico. Caso a pessoa não saiba qual cobra picou o animal conseguir um soro completo. Para ajudar pode-se colocar leite de mamão sobre a picada, ou espremer sumo de taioba, ou colocar rodelas de batata-doce, ou colocar um pouco de óleo de copaíba sobre o local. Mas o melhor remédio é o soro! Outras formas de prevenir e cuidar: • Folhas de acerola previnem contra anemia; folhas de goiabeira previnem contra diarréia; folhas de aroeira previnem contra diarréia e são antibióticos. Portanto plantar essas árvores próximas ao curral é bastante interessante. • Para animais muito medrosos e nervosos, estão usando a homeopatia Arnica Montana. • Em uma vaca que estava com sangramento funcionou um ferro quente que ele passou e estancou o sangue. Outra receita do Abatiá para estancar hemorragia é usar pasta de picuma com açúcar mascavo. • Todos os dias colocam dois dentes de alho no sal para prevenir doenças. • Pra secar a vaca, quando o bezerro não quer largar, coloca a focinheira (que machuca a vaca). • Mocha os bezerros com ferro quente. Existe uma pomada ácida muito forte que pode ser usada, mas deve-se ter cuidado para não escorrer porque machuca o bezerro. O período ideal da mochação é o primeiro mês, quando o chifre está nascendo. É só matar as células em volta dos botões de chifre, não precisa machucar o animal. • Ele está pensando em pulverizar pau d’alho nos bichos para controlar carrapatos e bernes, as folhas de pau d’alho podem ser usadas como alho. Vacinas:
Febre aftosa:
Sintomas: forma ferida na boca, nos cascos e nas tetas. Causa baixa produção de leite e de carne. Tratamento: prevenir vacinando todos os animais de quatro em quatro meses. Se não vacinar, não consegue receber a ficha de controle do IMA e aí não pode comercializar animais porque não consegue tirar a guia.
Mal do ano:
É o mesmo que carbúnculo. Ataca principalmente animais jovens. Sintomas: o animal espicha os pés e as mãos. E quando se passa a mão no seu corpo parece que tem espuma de sabão (ringe). Os olhos ficam virados. Falta de apetite, febre e manqueira. O animal pode morrer em 36 horas. 21
Tratamento: o tratamento é preventivo, então para prevenir o gado deve ser vacinado aos 4 meses e também aos 8 meses de idade. Pode-se utilizar uma agulha fininha, puxa a pele, injeta a vacina e volta a seringa lentamente para que a vacina não retorne.
Raiva:
É causada por um vírus. Sintomas: o animal (ou criação) fica cambaleando, arregala os olhos, baba e treme. Se colocar a mão na boca dele pega a doença. Tratamento: o tratamento é preventivo, então para prevenir é preciso vacinar o gado. É importante que se tire dose por dose do frasco para vacinar cada animal ao invés de tirar uma dose muito grande de uma só vez para vacinar muitos animais, se não o vírus da vacina pode morrer. Para saber se o animal está com raiva pode-se fazer o teste do biodigital. O criador deve levar 3 fios de cabelo do rabo do animal, segurar em sua mão e fazer o teste. Tratar com a planta indicada pelo teste.
Tuberculose:
O/a criador/a pode ser contaminado se beber o leite da vaca doente. Sintoma: o animal fica triste, passa a não se alimentar direito, emagrece. Pode ter tosse seca, respira com dificuldade. Tratamento: prevenir aplicando a vacina BCG.
Brucelose:
Esta doença atinge principalmente as fêmeas. Pode passar a doença para o/a criador/a. Sintomas: a fêmea não pega cria, pode abortar. Os machos doentes não geram filhos. Em caso de aborto é bom levar o feto para fazer exame para descobrir se a fêmea está doente, se estiver deve ficar separada dos outros animais. Tratamento: prevenir vacinando as fêmeas de 3 a 10 meses de vida com a vacina B19. Basta uma dose para proteger os animais. Após vacinar marcar a cara das fêmeas com ferro quente indicando o ano em que foi vacinada, por exemplo V5 = vacinada em 1995. Se não vacinar, não consegue receber a ficha de controle do IMA e aí não pode comercializar animais porque não consegue tirar a guia.
Leptospirose
A transmissão ocorre principalmente por urina de rato na água ou no alimento do animal. Pode passar para o/a criador/a. Sintomas: febre alta, palidez e falta de apetite. A fêmea pode abortar e diminui o leite e talha. Tratamento: Prevenir através da vacina, que pode ser dada a partir dos 4 meses de idade devendo ser repetida 1 vez por ano.
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Vacina não é remédio, mas previne as doenças que podem causar morte de animais. Por isso é melhor prevenir do que remediar! Tonho chamou atenção para a importância do carinho com os animais e lembrou que usam formas alternativas para tratar os animais, mas não deixam de vacinar o rebanho. Abatiá lembrou da importância de sempre trocar conhecimentos com outras pessoas para aprender mais. E também de respeitar os dons de cada pessoa da família, porque animais exigem cuidado, por isso tem que gostar para criar! Conversa com Romeu sobre a visita e os cuidados com o gado A medicina preventiva para tratar dos animais antes deles ficarem doentes evita perda de animais ou de produção. Origem e hábitos do gado Os bovinos vieram de 2 origens: os que não tem cupim como o holandês veio da Europa e os de cupim (gir, nelore guzerá etc) são os zebuínos que vieram da Índia. Os animais europeus são originados de locais mais frios, sendo menos resistentes ao calor e aos parasitas. Também são mais exigentes na alimentação e por isso têm dificuldades de se adaptarem a serem criados soltos no pasto. Esses animais precisam de maiores cuidados, mas se forem bem cuidados produzem bastante. Já os zebuínos são mais rústicos e não necessitam de tantos cuidados, mas produzem menos. Então o ideal é fazermos cruzamentos como o girolando que é bem adaptado às condições de pasto e mantém uma boa produção. Devemos lembrar sempre que o gado é um animal de fora que está cada vez mais se adaptando ao Brasil. Todo ano, especialmente na seca, quando o gado está lambendo muito, é um sinal de carência mineral, por isso é importante usar sal mineral sempre. O gado é ruminante e tem a característica de comer folhas. Precisamos lembrar disto na hora de pensar os consórcios de pastagem. Um amigo do Romeu, por exemplo, solta a vaca no cafezal para comer o mato e estercar, mas tem que observar pois ele vai comendo os matos sucessivamente até chegar no café, então ele tem que ser tirado antes disso. Consorciar o gado com outras culturas é muito interessante, vale a pena experimentar! Numa agrofloresta a vaca não sabe o que ela tem que comer, então pode dar muito prejuízo. Tem que observar para ver qual vegetal ela come primeiro, dando atenção para a seqüência dos vegetais que ela gosta de comer. A vaca consome 100g por dia de sal mineral, e é mais conveniente fazer o sal mineral em casa do que comprar pronto. É interessante fazer a análise de solo para saber o que está faltando no capim para completar através do sal mineral e da ração (caso se queira dar ração ao animal). Mamite Nem toda mamite é visível, portanto tem que tomar cuidado na hora de limpar as tetas. O Romeu usa toalha dobrada ao invés de papel higiênico, passando cada parte da toalha em uma teta e uma toalha pra cada vaca. A toalha deve ser sempre lavada. A teta 23
deve ser limpa sempre do alto pra ponta, porém pegando mais a ponta pra não carregar a sujeira do peito. Depois de tirar o leite tomar o cuidado de fechar a teta. Romeu usa iodo com glicerina, mas disse que vai experimentar a mistura do Abatiá. A entrada de bactérias nas tetas é a razão mais comum para o surgimento de mamite nas vacas. Outra dica dada pelo Romeu foi de não deixar leite na teta porque apodrece lá dentro e infecciona. Retenção de placenta Normalmente isto acontece por carência mineral, portanto é bom ver se a vaca está bem alimentada. Quem quiser tentar tirar a placenta deve fazer com bastante cuidado para não ferir a vaca e sempre usar luvas porque se a vaca tiver brucelose pode causar aborto nas mulheres e esterilidade nos homens. Coloca-se a luva de inseminação artificial e chega até o ponto de encontro de útero e placenta onde tem uns botões juntando os dois. Então, com muito cuidado, solta os botões e tira a placenta. Se você perceber que está difícil não faça força! Amarre um pedaço de pau na placenta do lado de fora da vaca e deixe a placenta cair sozinha. Depois faça uma lavagem no útero com chá de camomila usando uma manguerinha para chegar lá dentro. Vermífugo Esta preocupação só é necessária com os bezerros. As dicas são: caule de bananeira picado no cocho toda semana e alho no sal, que também ajuda a combater o berne e carrapato. Alimentação do gado Os capins antigos (colonião, napiê, jaraguá, gordura, angola) são muito bons para o gado. A braquiária é o único capim pouco recomendado porque dá muito trabalho e não é muito nutritivo. O capim colonião e napiê são muito bons para capineiras, mas não pode deixar crescer muito porque vai perdendo os nutrientes quando vai ficando duro. Já os capins jaraguá, gordura e angola são mais resistentes ao pisoteio e de mais fácil germinação, por isso são indicados para formar pasto. Preste atenção no que o gado gosta de comer: o capim gordura é seu alimento preferido. É muito importante ter uma diversidade de plantas no pasto, uma grande variedade de capins, pois melhora a alimentação do gado. É mais fácil consorciar os capins de touceira. Consorciar capins de estolão e capins que possuem sementes com alto poder de germinação é mais difícil. O que se pode fazer é aproveitar o pasto que se tem, pois normalmente já há grande variedade de plantas, e ver onde dá para introduzir outros capins. Outra dica importante é observar os capins da região, os que melhor se adaptam. Uma boa opção é consorciar capim com leguminosas porque aduba a pastagem com nitrogênio e alimenta a vaca com proteína. Capins muito agressivos como a braquiária são mais difíceis de consorciar. O amendoim forrageiro é uma boa planta para consorciar porque é mais nutritivo e resistente. Algumas combinações: amendoim forrageiro com 24
capim angola, capim Jaraguá com amendoim forrageiro e soja perene. É preciso experimentar e lembrar que observando a natureza podemos aprender com ela! Muito gado no pasto pode dar problema de compactação do solo, por isso deve-se ter atenção com a lotação, rodízio dos piquetes para descanso e tempo de pastejo em cada piquete. Pastejo muito demorado degrada o pasto. O ideal é ter bastante diversidade de capins e frutas no pasto, desde que tome cuidado para que os bichos não engasguem. A banana é a melhor fruta, pois tanto a fruta como as folhas são vermífugas para os animais, e a história que a banana faz diminuir o leite é mentira. Milho e soja também são muito bons, mas aí entra uma questão de custo. Nem todos/as podem fornecer estes recursos para os animais. A cama de frango para o gado está proibida no Brasil hoje porque o controle deve ser muito rigoroso para dar certo. Já a cana na época da seca é excelente. A palha de milho possui fibra, potássio e cálcio, sendo boa para digestão e para limpar o aparelho digestivo dos animais, principalmente das galinhas. O gado consegue absorver mais coisas da palha porque ele realiza a digestão duas vezes, já a galinha tira só a fibra. Deve-se procurar um equilíbrio entre a quantidade de material seco e de material verde oferecida ao gado, pois pode acontecer do animal confinado (preso o tempo todo) ficar empanzinado ao comer grande quantidade de material seco. Receita do Sal Mineral que usam na propriedade do Romeu - 30 kg de farinha de osso: é necessário ter certeza de que os ossos vêem de animais sadios e pode-se colocar os ossos no forno e aquecer bem (100o.C) antes de moer para não causar doenças aos animais. - 1,5 kg de alho; - 3 kg de enxofre; - Folhas de eucalipto; - 100 kg de sal comum. Pode-se acrescentar outras ervas para usar no sal ou na ração como a tanchagem, camomila, erva cidreira e outras que já se tenha experiência para a prevenção de doenças, como por exemplo, folhas e dentes de alho. Capineira Os capins napiê e colonião são de rápido crescimento e dão muita massa, por isso normalmente são plantados para serem utilizados no inverno como capineira. São de touceira e não agüentam o pisoteio. Devem ser cortados e levados para o gado ao invés de fazer pasto com eles. Na época da seca podem ser misturados com a cana dispensando o uso da uréia.
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Observação: se sabemos quanto de esterco uma vaca, ou galinhas produzem por dia, é possível planejar o uso do esterco para adubar a propriedade. Veja as quantidades: Animal Galinha (100 galinhas) Bode (01 animal) Boi (01 animal) Peru (100 perus) Porco (água de limpeza do chiqueiro de 01 animal)
Quantidade por dia 10 Kg 08 Kg 35 a 40 Kg 20 Kg 15 Litros Fonte: FAO
Plantas ou alimentos que podem ser tóxicas para os animais: Existem algumas plantas que podem ser tóxicas para os animais como, por exemplo: Algodão-bravo, Maria-mole, Figo-bravo, Barbatimão, Fedegoso, Mamona, Timbó, Samambaia e Erva do mato ou Cafezinho. Entretanto, devemos observar quais das plantas existentes em nossa região podem fazer mal aos animais. Para tratar o animal é bom levá-los para a sombra e pode-se usar a receita do Abatiá.
GALINHAS Origem e hábitos das galinhas A galinha é originária da Ásia. É um bicho pequeno, com bico, penas, quatro dedos, vive na parte baixa da mata, cisca insetos e minhocas e pasta muito. Têm um controle sobre o solo muito grande e uma visão fraca no escuro, por isso dorme cedo. Dorme empoleirada porque assim sente-se mais protegida. A noite é aconselhável prendê-las porque são muito vulneráveis a predadores. Outras aves O manejo de patos, marrecos e perus é parecido com o das galinhas. Entretanto os patos e marrecos precisam de local com água. Os perus têm origem européia e as galinhas da angola têm origem na África. Estes animais são mais sensíveis ainda porque vieram mais recentemente para o Brasil. Ainda estão menos adaptados que as galinhas comuns, eles adoecem mais facilmente embora a galinha d’angola seja bem resistente pois veio de um ambiente rústico da África. Manejo das galinhas No galinheiro dele, as galinhas ficam presas até às 10hs da manhã. Às 11hs recolhe os ovos e deixa-as saírem para ciscar. Às 16hs coloca milho e ração no galinheiro para atraí-las de volta e deixa elas presas até o dia seguinte. Elas já se acostumaram a voltar neste horário para o galinheiro. O Romeu explicou o porquê de alimentá-las neste 26
horário: o alimento é o combustível do animal, quando os animais comem a temperatura deles aumenta naturalmente. Então se der comida de manhã vai esquentar demais o corpo das galinhas porque o sol está muito forte, e isso as prejudica. “Só esse manejo faz muita diferença para o animal e evita muitas doenças, então não vamos precisar usar tantos remédios, mesmo que sejam caseiros”. Romeu não usa nada para prevenir doença e disse que produz o ano todo. Faz parte da natureza da galinha dormir empoleirada e para a saúde dela é muito importante porque a ventilação é melhor. Dormir no chão causa problemas respiratórios por causa da proximidade com o esterco no chão. Além disso, deixar as galinhas presas é bom para aproveitar o esterco e para protegê-las. A galinha demora 24hs para pôr o ovo. Parte dessas horas é para fazer a casca, por isso gasta muito cálcio. A galinha põe um ovo por dia. É descendente dos répteis e ela mantém algumas características como a troca de penas, assim como cobras e lagartos trocam as escamas. Quando isto acontece a produção cai. Isso ocorre no período do ano em que os dias são mais curtos. É muito importante que a galinha não fique estressada no momento do chocar ou colocar ovos. Se a galinha se assusta quando está botando pode interromper a postura. Na propriedade do Romeu eles têm o costume de bater na porta do galinheiro para avisar que tem gente chegando na hora de colher ovos. Preferem o ninho coletivo porque as galinhas ficam muito felizes de sentar onde já tem ovos e isso as estimula a botar. Mas para chocar é melhor um ninho individual. É normal a galinha comer o ovo quando ele é deficiente ou está quebrado, mas ela pode viciar. A galinha prefere um lugar mais escuro para botar e isso é bom porque ela não enxerga os ovos quebrados e não tem perigo de viciar. Assim o ninho é tampado com uma cortina. Para prevenir doenças no ninho deve-se limpar sempre e tirar todas as cascas depois do nascimento dos pintinhos. De tempos em tempos o ninho deve ser reformado. O capim às vezes favorece a proliferação dos piolhos nos ninhos porque eles ajudam a esquentar. Para controlar isto devemos fazer sempre a desinfecção dos ninhos após o nascimento dos pintinhos, retirando o resto de ovos e desinfetando. As vantagens de soltar as galinhas são: fazem o roçado em volta da casa, se alimentam melhor e não estressam. Como saber se uma galinha está botando ou não? Para ver se a galinha está botando observar se o canto do bico e as pernas estão muito amarelos. Caso esteja muito amarelo não está botando porque quando ela está botando normalmente o amarelo vai para o ovo. Se a galinha não está botando a cor fica acumulada no corpo. Se a crista está muito vermelha também pode ser um sinal de que a galinha não está botando. Podemos também olhar a distância entre os ossos da cloaca: • Se a distância estiver maior do que dois dedos é sinal de que a galinha está botando.
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Se distância for menor que dois dedos é sinal de que não está botando direito. • Distância de um dedo e meio é sinal de que está botando pouco. • Distância de um dedo é sinal de que a galinha não está botando. Uma ótima dica é escolher a galinha que estiver botando menos para comer ou para vender. •
O galinheiro Com relação ao espaço para cada galinha deve-se pensar em quatro metros por galinha ao ar livre e um metro quadrado por uma galinha e meia num espaço fechado. A relação de galinhas por galo é de 15 a 20 galinhas para um galo. Quando as galinhas estão botando e comendo os ovos é sinal de que estão estressadas, pode ser por falta de espaço. Basta comerem os ovos duas vezes para ficarem viciadas e comerem sempre. Quando vamos construir um galinheiro é necessário que nos preocupemos com a ventilação (não pode ter paredes de tijolos altas) e a posição do sol, as galinhas precisam de sol porque elas só ciscam jogando o cisco do lugar claro para o escuro. O sol higieniza o galinheiro e elas ciscam mais.Devemos deixar o galinheiro mais aberto do lado que venta mais e do lado onde está a face norte para permitir a entrada do sol. As instalações devem ser adequadas ao tipo de criação que se deseja fazer mais intensiva para comercialização ou somente para alimentação da família, com pouca sobra, podendo ter um mínimo de área coberta e criar as galinhas mais soltas. Sempre que possível utilizar materiais da própria propriedade para construir o galinheiro. Para quem vai começar o galinheiro pode ser feito em locais “virgens” que não tenham sido usados antes para criação de aves. A temperatura do local não deve variar muito, nem muito frio e nem muito calor. Locais secos que não sofrem inundações como baixadas são ideais. É interessante ter proteção natural contra ventos fortes como árvores que também protegem do sol forte. A água deve ser de boa qualidade. Pode ser interessante que o galinheiro fique localizado mais afastado da casa e da movimentação para as galinhas terem tranqüilidade. O cocho e o bebedouro devem estar localizados entre 15 e 20 centímetros do chão. Os ninhos coletivos podem ser de 50 centímetros de comprimento por 60 centímetros de largura. Os individuais podem ter 20 centímetros de comprimento e 20 de largura. Sendo que os dois tipos de ninho devem ter 20 centímetros de profundidade. O galinheiro móvel Uma opção de manejo das galinhas é utilizar o galinheiro móvel, onde as galinhas ficam presas em um pequeno cercado e assim que acabam de ciscar aquela área muda-se o galinheiro de lugar. Nesse galinheiro coloca-se comedouro para ração, bebedouro para água, ninho e poleiro. Tem telhado para as galinhas se abrigarem do sol e do sereno e tela para cercar. Não se coloca fundo para que as galinhas cisquem.
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A quantidade de galinhas de postura deve ser observada. Em geral se utiliza de 4 a 5 galinhas por metro quadrado. Para frangos de engorda pode ser 8 animais. Mas lembrese que o mais saudável é criar livre durante o dia. Essa opção pode ser usada para adubar áreas que se queira e para quando não se tem muito espaço para criar galinhas e frangos.
Detalhes do Aviário Móvel: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
Telhado Tela de Arame Base de Madeira Ninho Poleiros Ração Água
Veja exemplos de galinheiro móvel. O ciclo da galinha e a choca O ciclo hormonal das galinhas é de 47 dias. Elas botam de 10 a 15 dias e depois entram no choco naturalmente. O choco dura em média 21 dias, período em que a galinha fica sem botar. Quando a galinha está neste estado a sua temperatura aumenta devido a hormônios. Tudo que ela come neste período se transforma em combustível para aquecer o ninho. Nesta época ela se alimenta pouco, portanto quando queremos que ela choque os ovos temos que levar comida e água para elas. Quando não queremos que a galinha fique choca podemos tirar ela do ninho e colocar num local separado por três dias. Este local pode ser separado por uma tela para que a galinha choca possa ver as outras botando e aí 29
ela volta a querer botar. Nas roças utiliza-se também mandar as galinhas chocas ficarem uns dias com os vizinhos. A média de ovos que a galinha pode chocar é de 12 a 15 dependendo do tamanho da galinha. Observa-se também que já existe certa diferença no comportamento das galinhas, umas são melhores chocadeiras e outras melhores botadeiras. Podemos colocar algumas para chocar e outras para botar de acordo com a aptidão delas e com nossos objetivos. Na prática a galinha chocadeira sempre irá botar alguns ovos no intervalo das ninhadas de choco e a galinha botadeira inicia o choco, mas abandona naturalmente por não ser persistente. O cuidado com os pintinhos Como as galinhas não se dão bem com a umidade os pintinhos têm maior dificuldade em sobreviver em tempos frios, portanto na época de calor há menos perda de pintinhos. Durante o período de janeiro a abril podemos soltar as galinhas com os pintinhos que não haverá tanta morte, mas no período frio é necessário que eles permaneçam um tempo em um local mais quente. Esse local quente pode ser a mãe substituta caso for necessário. Na propriedade do Romeu eles fazem assim: A mãe substituta só é utilizada em caso das ninhadas não serem criados pela própria mãe, a mãe substituta é toda forrada com pano (sacos) e rodeada por uma cortina de pano que imita as asas das galinhas, os pintinhos podem entrar passando por baixo dessa cortina.
Desenho da mãe substituta.
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Foto da mãe substituta. O aquecimento com composto orgânico é feito da seguinte forma: embaixo da mãe substituta se faz um buraco de 1 metro de largura por 0,5 metro de comprimento e 30 centímetros de profundidade. Coloca-se dentro desse buraco uma camada de 10 centímetros capim. Em cima do capim coloca uma de 10 centímetros de esterco seco de vaca. Em cima do esterco coloca uma última camada de palha de arroz e forra com um pano (ou sacos). Depois joga 5 litros de água um dia antes de colocar os pintinhos para dar tempo de aquecer. Isto será suficiente para aquecer os pintinhos por 3 dias, caso esteja muito frio e seja necessário aquecer por mais tempo jogar mais água a partir do 4o. dia e repetir de 3 em 3 dias. Os pintinhos permanecem neste local durante 20 dias antes de serem soltos. Esta opção é melhor do que a lâmpada porque distribui melhor o calor e tem menor gasto de energia podendo ser utilizado em locais onde não existe energia elétrica. Raças de galinhas As raças de galinha mais usadas na Zona da Mata mineira são a Caipira, a Índia, a Garnizé e a Nanica. A galinha índia é muito brava, briga muito, mas é uma boa opção para quem quer criar galinha solta, pois é mais resistente e não deixa gavião pegar os pintinhos. No galinheiro da sede do encontro tinha um galinheiro. Vamos lembrar os seus problemas e aprender com eles: - A instalação é muito quente porque é muito baixa e tem telha de amianto. É melhor usar telha de barro. - Como ela ficam presas o tempo todo já mostram sintomas de estresse, de canibalismo principalmente. O espaço deve ser maior. 31
- O poleiro estava muito alto e reto, o ideal é o modelo escada. O bebedouro era muito baixo e sujo, o ideal é 20 cm do chão. Doenças Há muitas receitas alternativas, mas devemos lembrar que podemos acabar só mudando os insumos (pacotes). Na verdade é interessante fazer o possível para não precisar de receitas tratando os animais para que eles não fiquem doentes, por isso é importante entender melhor sobre os animais conhecendo sua história. O gogo é um verme. O peru é um portador de gogo, então é bom separá-lo das galinhas para não haver transmissão. Para tirar o gogo pode-se enfiar uma pena ou o próprio dedo na goela da galinha. Pingar umas gotas de limão na goela antes de tirar o verme ajuda a soltá-lo, o limão na água de beber também previne. Há uma doença conhecida popularmente como vento no papo que é causada por uma bactéria que faz o papo da galinha encher. O tratamento para esta doença pode ser feito colocando própolis e limão no bebedouro. Em caso de ocorrer a doença colocar 1 limão e 30 gotas de própolis para cada 100 galinhas, usar para os pintinhos também. Isto só deve ser usado quando houver os sintomas. Quando esta doença ocorre uma vez no galinheiro, normalmente volta a aparecer. A bactéria é transmitida pelas fezes das galinhas. Por isso é muito importante limpar o galinheiro. Outras indicações – Plantas Medicinais indicadas para aves: Planta Uso Parte da planta Alho Verminose, bulbilhos antibiótico, repelente (carrapato e piolho). Babosa Cicatrização e Folhas inflamação. Bananeira Citronela
Verminose diarréia. Repelente.
Erva de Santa Maria
Verminose repelente.
Eucalipto
Infecções respiratórias, desinfetante verminose.
e Folhas e tronco Folhas
Forma de preparo Inteiro, macerado, na água, extrato alcoólico, em pó associado com enxofre, no sal ou ração. Suco puro, ungüento, pomada e gel associado com mel. Natural.
Colocar na cama, no ninho, no pasto ao redor do galinheiro. e Folhas e sementes Macerada, pó das folhas secas, na ração ou misturada a outras, espalhada na cama. Folhas Pó. e
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Goiabeira
Diarréia adstringente.
Hortelã Miúda
Antiparasitária, sedativa, digestiva, analgésica, tônica e anestésica. Expectorante infecção e inflamação. Infecção respiratória, resfriado e “gogo”. Febre, diarréia, “gogo” e verminose.
Hortelã Pimenta
Limão
Melão de São Caetano
Mentrasto Nim Tansagem Poejo Pitangueira
e Broto, casca
Folhas
caule
e Ferver o broto, pó das folhas secas na ração associadas com o pó de carvão e soro caseiro. Infusão, extrato misturado aos alimentos verdes ou restos de comida.
Folhas
Xarope, ferver as folhas associada com Saião. Fruto Suco batido no liquidificador com água e alho. Planta inteira, Macerado ou ferver a sementes planta inteira associada à erva de Macaé. e Folhas e flores Ferver as folhas e flores. e Folhas e sementes Macerado, óleo, pó, infusão. Folhas Infusão e tintura.
Verminose digestivo. Verminose piolhos. Infecções respiratórias. Broncodilatador e Folhas digestivo. Febres. Folhas
Infusão. Ferver as folhas.
Vamos conhecer outras receitas usadas na Zona da Mata:
Vermes
Folha de mamão e banana, uma gota de creolina na água e limão e alho no fubá. Folhas de terramicina e na água umas gotinhas de creolina.
Bouba aviária (caroço)
É causada por um vírus que ataca principalmente os pintinhos embora os adultos também possam ter a doença. A transmissão se dá através do mosquito ou por contatos entre as aves. Surgem caroços na cabeça, placas amareladas na boca e na garganta, seguido de escorrimento nasal. A vacinação é a medida mais eficiente para não ter o problema. Caso for tratar pode-se usar óleo de cozinha ou gordura de porco com gotas de limão quente. Para prevenir este problema e outros colocar gotas de própolis na água
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(para ter certeza de que todas vão beber esta água colocar um pouco de sal a mais na comida e fazer com que fiquem com bastante sede). Para tratar o caroço pode-se usar Melão de São Caetano, tintura de Thuya ou homeopatia de Thuya CH4
Gogo
Para controlar o gogo no galinheiro bombear água com creolina, limpar todo o galinheiro e usar o limão nas galinhas.
Desinfetar galinheiro:
Usar bezencrol para desinfetar o galinheiro. Jogar cal nas paredes do galinheiro.
Febre:
Socar Melão de São Caetano e misturar com fubá, terramicina e tiririca.
Catapora (verrugas) do pintinho:
Utilizar a homeopatia de Tulha Cipestre para curar. O mamão verde ralado e o limão no fubá previnem as verrugas.
Diarréia branca
Utilizar melão de São Caetano para curar.
Piolho de galinha:
Para evitar deve-se forrar o ninho com folha de fumo, arruda ou melão de São Caetano, folha de Santa Bárbara. Outros cuidados: • Dar casca de ovo queimada para repor o cálcio. • Colocar sumo de arnica e assa peixe na areia quando as galinhas estão presas ou na água quando estão soltas e dar este sumo para os porcos também. • Terramicina com hortelã como antibiótico. • Quando há problema na produção de ovos, dar sal com fubá, limão e uma pitada de calcário calcítico umedecido. Algumas pessoas do grupo criam galinhas soltas e outras criam presas. Mas em geral as pessoas deixam soltas de dia e presas à noite. “As galinhas caipiras quando criadas soltas procuram elas mesmo os seus remédios e por isto são mais difíceis de adoecer. Quando a galinha é criada presa se você solta ela sai comendo tudo pela frente, mas se você cria solta ela se equilibra melhor com o sistema.” As galinhas que ficam soltas acabam chocando no mato e aí é mais arriscado porque outros bichos podem pegar os ovos.
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PORCOS Origem e hábitos dos porcos O porco é também um animal exótico, vindo da China. É da mesma família que a queixada, a capivara e a anta. Um dos seus hábitos é fuçar a terra e por isto ele possui aquele focinho com dois buracos. Ele faz isto porque precisa de minerais, come terra e fuça procurando minhocas e principalmente raízes, “mandioca é muito bom para eles”. Os porcos também gostam de barro e de água, “não precisa ser água suja”. Eles possuem muitos ácaros que fazem se coçar e por isto ele gosta de ir à água, ir ao brejo. Ele também vai se refrescar na água porque tem uma capa muito grossa de gordura e sente muito calor. Se você dá condições de espaço para o porco, ele mesmo separa o lugar de dormir e o local de se refrescar. No local de dormir ele não esterca, nem urina. Outra coisa boa é utilizar um volume grande de serragem, uma camada de 15 a 25 centímetros, para que eles tenham uma parte seca para dormir. Para isto usa-se também a palhada, cobrindo toda a parte fechada do chiqueiro e absorvendo o chorume. Fica um bom material para adubar! Na comunidade do Catuné, em Tombos, tem algumas pessoas usando o sistema de colocar pó de serra dentro do chiqueiro. Esse sistema evita o mau cheiro e que o porco fique em contato com a umidade. “Os porcos precisam de uma parte fechada para abrigo e de um lugar para ele sair e tomar banho. É extremamente necessário que o porco tenha uma parte seca para dormir e uma parte com água para aliviar dos ácaros e do calor. As galinhas ao contrário não gostam de umidade, o que pode provocar doenças nelas, mas também não gostam de sentir calor. Já os porcos não se importam com o calor, mas precisam da água.” Ao se construir um local para criar animais deve-se levar em consideração as características que o animal possui, observando seus hábitos. É preciso ter cuidado para não contaminar o meio ambiente com as fezes dos porcos. “O sistema do Abatiá possui uma característica interessante. Ele colocou o poço de peixe acima do chiqueiro e após o chiqueiro a horta. Dessa forma usa bem o esterco do porco que é muito rico em nutrientes e não polui os córregos.” Não é aconselhável que se utilize o chorume para adubar as verduras da horta porque pode dar doenças. O ideal é fazer o biofertilizante líquido deixando fermentar primeiro em tambor fechado. Mesmo assim é melhor colocar o biofertilizante na terra e não diretamente sobre as plantas. Consórcio de peixes e porcos Quando o chiqueiro fica acima do poço utilizando-se das fezes dos porcos para alimentar os peixes, deve-se respeitar a proporção de 100 peixes para um porco (1 kg de peixe para 3kg de porco). Esta quantidade de peixes deve ser menor durante o inverno. Para calcular a quantidade aproximada de peixes em um poço utiliza-se uma rede, depois se conta a quantidade de peixes e multiplica-se pela área. Assim podemos saber quantos porcos serão suficientes para alimentar aquela quantidade de peixes. 35
O chorume não pode de nenhuma maneira ser jogado direto nos cursos de água, porque causa poluição. Pode-se jogar anteriormente em um poço de água com plantas aquáticas para filtrar antes de seguir para o curso de água. Pode-se também jogar no poço para alimentar os peixes desde que observadas a quantidade listada acima. Já o estrume de galinha não é aconselhável para alimentar peixes porque ele possui muito nitrogênio, o que causa uma fermentação rápida podendo matar os peixes. O chiqueiro Na propriedade do Romeu utilizam a baia dos porcos inclinada para o chorume cair primeiramente em um canal e depois em uma caixa. Assim depois eles utilizam quando e quanto quiserem para fazer biofertilizante. O Serginho também faz isso para produzir composto orgânico. Os porcos de engorda, os porcos de recria , os solteiros desmamando, a matriz reprodutora e o cachaço ficam separados uns dos outros. Todo o esterco é aproveitado. O bebedouro para os porcos não deve ser em locais muito inclinados. O porco chupa, então é bom utilizar bebedouros em forma de chupeta. Já a galinha precisa levantar o pescoço para engolir porque a goela dela é no céu da boca então o bebedouro dela deve ser um pouco mais alto com 20 centímetros de altura do chão. Dentro da agroecologia questiona-se criar os porcos sempre presos. É fato que o porco confinado irá engordar mais rápido, mas esta é a mesma lógica que as granjas adotam ao manterem a lâmpada sempre acesa, ou cortarem o bico das galinhas. O semiconfinamento com uma área fechada para abrigar o porco e outra parte aberta para ele se movimentar com água para se refrescar é o ideal. Alimentação dos porcos Pode tratar dos porcos sem ração, dando somente dos restos das hortas e das casas. Podemos aproveitar as características que o animal já possui como o costume de fuçar e soltá-los nas áreas em que se colheu mandioca, abóbora e inhame. Assim ele vai comendo as folhas que ficaram no local e já vai fertilizando o solo com as fezes e afofando ao fuçar. Raças de porco e produção de filhotes É importante fazer uma seleção de porcos que se dão bem com as características da região, descartando os que não se adaptam bem. Quando vamos colocar uma porca para criar devemos observar a quantidade de tetas. A porca devem ter tetas finas, compridas, separadas e no mínimo 14. O tamanho da anca da porca deve ser grande e o comprimento da porca que também deve ser grande. Cortar os dentes dos porquinhos não é uma regra, corta-se somente se estiverem machucando a porca e atrapalhando a amamentação. Normalmente nos porcos das raças Sorocaba, Piau-piau, Junqueira e Piripitinga não é necessário cortar os dentes, entretanto estes são porcos que possuem muita gordura, mas hoje a carne é que vale 36
mais e não a gordura. Na raça Sorocaba é mais fácil separar a gordura da carne. Na região da Zona da Mata mineira é necessário que o porco seja cruzado para que não adquira muitas doenças.
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Vamos agora lembrar de mais dicas do grupo: Para uma porca que está tendo problemas para comer pode-se dar sementes torradas (melancia, mamona, guandu, crotalária, mamão, pepino, feijão, milho, abóbora). Usa cinza de sabugo e casco de tatu torrado na alimentação dos porcos “aguados”. Quando o porco não quer comer: dar inhame, cinza e sal. Serve também para limpar o pêlo do porco. Quando os porcos enfraquecem pode-se dar uma mistura de chá de cafezinho-domato com carqueja. Também usar chá de batatinha do mato para prevenir e curar doenças. Para ajudar na engorda dos porcos usar o sal torrado com sabugo de milho. “Se o porco está empestiado e pára de engordar é só amarrar ele no brejo por uns dias que ele fica feliz”. Para espantar os mosquitos do chiqueiro dar banho de creolina ou colocar uma trouxinha de cravo da Índia.
Diarréia:
Para tratar da diarréia dos porcos usar chá de fel-da-terra.
Vermes
Usar folha de bananeira, folha de terramicina, folha de chuchu, Santa Maria, semente de abacate e de picão, intercalados com a comida. O mamão inteiro ou semente de abóbora também é bom. Sal torrado com a folha de bananeira e mamão cru ou cozido também pode ser usado. Além disso, usa-se urina humana com cinza e leite.
Chiqueiro
Alguns monitores aproveitam locais com mais pedras e passam cimento para fazer o chiqueiro, outros racham imbaúba para fazer o local dos porcos dormirem e o resto do chiqueiro é no chão. “Tem que ter uma parte enxuta e coberta para o porco dormir porque senão ele não consegue deitar nos locais pisoteados, devido aos buracos”. Algumas pessoas disseram que dá para criar o porco na corrente e assim é bom porque faz rodízio do local onde o porco vai ficar. Comentaram que existe um modelo de chiqueiro móvel bom para controlar a braquiária do brejo.
Castração:
Fornecem terramicina e hortelã como antibiótico dias antes de capar. Após castração usam sabugueiro para não dar febre e também como diurético. “É bom colocar os porcos para esponjarem no barro para evitar sangramento no corte”. 37
Também pode usar a borra própolis, sumo de Macaé, ou própolis assim que castram para cicatrizar.”Água de sal com limão também é bom para ajudar na cicatrização”. Para tratar bicheira de capadura usa a folha de pêssego ou a creolina.
Cio:
Usam chá de mentrasto para a porca entrar no cio. Quando a porca está para parir levam ela para o brejo.
Pulmão ruim:
Assa peixa, confrei, barbaço e cambará de lixa.
Coceira dos porcos:
Para combater a coceira dos porcos dá banho com 1 colher de sopa de creolina e 3 tampinhas de água sanitária para cada 4L de água. Uma outra coisa para combater a coceira é a homeopatia Psurinum CH30 no bebedouro dos porcos. ALIMENTAÇÃO ANIMAL Quando se pensa em alimentação deve-se pensar primeiro do que é feito o alimento. Todo alimento é formado de: • Proteína • Carboidrato/açúcares • Gordura • Vitaminas e sais minerais • Água Quando o alimento entra no corpo do animal e do ser humano também, o carboidrato e a gordura dão energia para o corpo funcionar. A água hidrata o corpo. As proteínas vão construir o corpo (músculos, cabelo, casco) e o produto (ovo, leite, carne). E as vitaminas ajudam no funcionamento do corpo e na construção do produto também.
Energia
As fontes energéticas são normalmente as coisas com as quais podemos fazer farinhas como: arroz, milho, inhame, batata, banana. Assim como as coisas que possuem muito açúcar como: beterraba e cana de açúcar. Não devemos deixar os alimentos no sol, principalmente a mandioca porque pode haver fermentação causando a morte dos animais. Devemos usar tudo seco para fazer as rações. A energia é necessária para digerir, reproduzir, manter a vida e para realizar todas as atividades, exercícios.
Proteína
As fontes protéicas são obtidas principalmente de produtos de origem animal, bichos como minhocas também são ótimas fontes de proteína. O farelo de soja, a tanchagem, o amendoim, o girassol, a leucena (folhas e grãos) e demais leguminosas que 38
produzem grãos também são boas fontes de proteína vegetal. Outra rica fonte de proteína é o lobrobô seco. Algumas leguminosas precisam ter os grãos torrados se forem ser oferecidos em grãos para os animais, pois podem conter substâncias tóxicas. Se for usar o farelo não é necessário. Para fazer a ração devemos usar sementes maduras e secas, descartando as sementes verdes. Não se recomenda dar feijão de porco cozido para os porcos porque pode causar problemas digestivos. A semente de abóbora seca é excelente fonte de proteína e também vermífugo. A proteína é necessária para a produção, para que as aves botem e para aumentar a quantidade de carne dos animais.
Minerais
Os minerais são encontrados basicamente nas folhas, assim como as vitaminas. São essenciais para a manutenção da saúde e para manter as funções vitais: visão, respiração etc. Portanto, a energia faz a galinha ovular e botar. A proteína faz com que os ovos cresçam, é a matéria prima do ovo. Já para o porco crescer e criar carne ele precisa de proteína. Se fornecermos somente energia este excesso de energia vira gordura, assim o porco engorda em gordura e não a carne. Na nossa alimentação o macarrão, o arroz, o angu, enfim os cereais são energéticos; o feijão e a carne são proteína e os legumes e verduras possuem vitaminas e minerais. Tipos de alimentos Os animais se alimentam de: • Capins e cana em grande volume. Esses alimentos têm muita água e fibras, por isso são chamados de VOLUMOSOS. • Grãos (como milho, feijão e soja), mandioca, inhame e outros que têm muita energia ou muita proteína concentrada porque tem pouca água, por isso são chamados de CONCENTRADOS. Tanto os alimentos volumosos quanto os alimentos concentrados possuem energia, proteínas e minerais em diferentes quantidades para alimentar os animais. Além disso, têm os restos de comida que são bem equilibrados de proteína e energia. Os porcos podem ser tratados com restos de comida e restos de pomar e horta para engordarem bem. As galinhas podem ser tratadas com restos de horta, um pouco de milho e cana, e deixar ciscar no terreiro como o a Aninha e o Abatiá fazem. Como vimos as galinhas dele estão botando 30 dúzias de ovos por mês e estão sadias. Se alguém tiver interesse de acelerar a engorda do porco ou aumentar a produção de ovos para comercializar passa a ser interessante utilizar ração. Se for só para consumo da família não é necessário dar ração, basta cuidar bem. Já as vacas podem ser tratadas apenas com capim nas águas e cana misturada com capim de corte na seca que a produção será boa para a venda. Mas os pastos devem ser
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bem cuidados e utilizados fazendo rodízio como já vimos na visita ao Abatiá e Tonho, se não os pastos ficam degradados difíceis de recuperar. Ração Quando pensamos em misturar alimentos diferentes e fazer uma ração temos que equilibrar a quantidade de energia e de proteínas que os materiais/alimentos utilizados têm. Também vamos considerar o alimento seco e pesado na balança para calcularmos quantos quilos de cada um vai entrar na ração. Por isso os alimentos devem ser secos na sombra antes de fazer a mistura. Existem dois tipos de ração: • ração de manutenção, que serve para repor a energia que gastam todos os dias e manter os animais; • a ração de produção, onde precisamos colocar mais nutrientes para que eles possam produzir, principalmente proteínas. Como a ração só vai ser utilizada se for para aumentar a produção, nossa maior preocupação será com a proteína porque ela é a principal responsável pela produção de ovos e carne. E o porco ou a galinha também recebem restos de casa, da horta e cana, por isso vamos pensar na ração de produção. Vamos agora saber quanto de energia e de proteínas os animais precisam por dia para produzirem: Necessidades médias de proteína e energia para animais em produção Animais Proteínas Energia (kcal) Suínos: crescimento e 18% 3300 lactação Suínos: terminação 14% 3200 Galinhas: crescimento e 19% 2900 engorda Galinhas: postura 17% 2750 Bovinos: engorda 16% 3400 Bovinos: leite 18% 3700
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Agora vamos saber quanto de proteína e de energia os alimentos dos animais oferecem: Matéria-prima para Proteína (percentagem) ração Cana de açúcar 3% Milho em grão 10 % Milho com sabugo 8% Milho em canjiquinha 11 % Soja em grão 38 % Soja em farelo 47 % Mandioca raspada 4,3 % Mandioca em farelo 1% Amendoim Forrageiro 46 % Feijão de porco / Guandu 23 % / Lab-lab Soro de leite 0,13 % Tanchagem 59 % Trigo em farelo 16 % Batata doce 7,4 % Minhoca 38,8 % Capim Napiê 10,7 % Braquiária 2,3 % Folha de mandioca 35,2 % Banana 1,5 % Inhame 11,21 % Palha de café 5,5 % A cinza e a terra de formiga são fontes de minerais.
Energia 457 70 65 65 25 32 84 79 24 57 70 05 57 114 46,4 51 49 33 102 66 25
Para cada 100 kilos do alimento seco temos a quantidade de kilos de proteína da tabela. E quando juntamos os alimentos vamos calculando a quantidade de proteína de cada um dos alimentos secos até chegar na quantidade necessária por dia. Só fazemos a conta da ração para os alimentos ricos em proteína, os pobres em proteína não entram na conta. A partir de um exemplo de ração faremos o cálculo de proteína necessário para os animais nas diferentes etapas de desenvolvimento. Neste exemplo estamos tratando sobre a necessidade protéica para uma ração de produção, que serve para que os animais produzam carne e ovos.
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Exemplo da Elisa: Elisa faz uma ração para porcos e galinhas em qualquer fase dessa forma: Produto Quantidade do Valor de proteína Total (quantidade de alimento utilizada da tabela de cima quilos do alimento na ração (KG) (%) multiplicada pelo valor de proteína que ele tem) Fubá de milho 90 9 (90 Kg x 9%) = 810 Cana-de-açúcar* 05 Pobre de proteína _ Mandioca 20 Pobre de proteína _ Banana** 20 Pobre de proteína _ Sal comum*** 04 Pobre de proteína _ Cinza**** 02 Pobre de proteína _ Farelo de trigo 40 18 (40Kg x 18%) = 720 Casca de ovo aleatório Pobre de proteína _ moído***** TOTAL 181 _ (810 + 720) = 1530 *A cana-de-açúcar assim como a mandioca e a banana são alimentos energéticos e servem para manutenção da vida. Possuem valores de proteína pobre e por isso não entram no cálculo **A banana possui muitos minerais e vitaminas, sendo uma ótima fonte de potássio. ***O sal é fonte do mineral cloreto. **** A cinza é uma fonte de potássio. *****A casca de ovo também é fonte mineral, fornece cálcio. Continuando a conta: Dividindo o total de proteína (1530) pelo total da quantidade de ração (181 kg) obtemos o valor da quantidade de proteína bruta por quilo de ração: 1530 : 181 = 8,45% de proteína bruta em cada quilo de ração. Analisando o resultado observamos que Elisa está fornecendo muita energia para os animais e se ela quiser explorar melhor a capacidade de produzir deles para vender ela deverá fornecer mais proteína. Para uma galinha de postura ela está fornecendo metade da proteína necessária e por este motivo as galinhas dela estão botando apenas 50% do que poderiam. Como a produção é apenas para o consumo familiar o tanto que as galinhas estão botando é suficiente, mas se o objetivo for comercializar é melhor investir em mais proteína. As galinhas de corte precisam mais ainda de proteína. Criar minhocas para fornecer para as galinhas pode ser uma boa alternativa de fonte de proteína. Outra observação sobre a ração utilizada pela Elisa é que ela está colocando muito sal e o excesso de sal para o gado pode causar aborto. 50 gramas de sal para cada 100 quilos de ração são suficientes. 42
Para vacas e bois, considerando que já recebem mistura de sal com mineral a vontade no cocho, não é preciso dar mais. Em relação aos porcos, com esta ração os leitões vão demorar um pouco mais para crescer porque a porca em lactação precisa de mais proteína do que está sendo oferecido na ração. Portanto apesar das fontes energéticas serem mais fáceis de encontrar em nossas propriedades sempre é necessário e bom investir um pouco mais nas fontes de proteínas se quisermos produzir para vender. Então vamos analisar outro exemplo: Paulinho oferece a seguinte ração para seus porcos: Produto Quantidade do Valor de proteína alimento utilizada da tabela lá de na ração (KG) cima (%)
Total (quantidade de quilos do alimento multiplicada pelo valor de proteína que ele tem) Fubá de milho 57 9 (57 x 9) = 513 Farelo de arroz 20 13 (20 x 13) = 210 Sal mineral * 02 _ _ Sal comum * 01 _ _ Farelo de soja 20 41 (20 x 41) = 820 TOTAL 100 _ (513 + 210 +820) = 1593 *O sal mineral e o sal comum são fontes minerais, não entram neste cálculo. Todos os outros alimentos são ricos em proteínas e entram na conta. Portanto: 1593 : 100 = 16% de proteína bruta para cada quilo de ração. 16% de proteína está entre a média necessária para porcos em crescimento (o necessário é 18%) e em terminação (o necessário é 14%). Ele deve diminuir a quantidade de sal que está acima do necessário. Outra dica é utilizar o farelo de trigo, que possui 17% de valor protéico, ao invés do farelo de arroz, que possui 13%, uma vez que o farelo de trigo também tem a vantagem de ser mais barato. Devemos refletir que não é possível fornecer apenas um alimento, mas é sempre bom nos preocuparmos com a quantidade de proteína porque é normalmente o que falta na alimentação dos animais. Uma boa fonte de proteína e que não se tem o costume de utilizar é a folha de mandioca, pois ela possui 28% de proteína. Até mesmo porque usamos a raiz para nossa alimentação, assim aproveitamos também outras partes da planta. O ideal é fazer uma
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farinha das folhas, mas se for muito difícil podemos cortar as folhas de vez em quando e oferecer aos animais e a brotação é rápida. Agora atenção: não podemos usar mandioca brava e nem as folhas da mandioca mansa enquanto o pé estiver novo, com menos de 50 centímetros. Outra dica: se a soja for transgênica, o farelo de soja também vai ser e pode contaminar os animais!!!! Tirando dúvidas: • Se dermos proteínas além do necessário pode causar algum problema? O maior problema vai ser o custo, porque a proteína é mais difícil de obter nas propriedades do que a energia. No caso da galinha ela pode acabar engordando demais e parando de botar porque ela cria gordura no ovário. Quanto de ração devemos fornecer diariamente para uma galinha em postura e para engorda? O máximo de ração que deve ser oferecida diariamente para as galinhas é 100 gramas. •
E para porcos em engorda? Pode variar entre 1 quilo e 2,5 quilos. Os porcos precisam de mais alimentos energéticos que as galinhas. •
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E para os animais em crescimento? Varia, à medida que eles crescem podemos aumentar um pouco a quantidade.
É necessário usar ração? Não precisamos utilizar se oferecemos outros tipos de alimento que atendam as necessidades dos animais. •
As quantidades diárias de ração que devem ser oferecidas para cada animal nas diferentes fases de vida estão na cartilha do CTA.
Visita ao Dadinho e Cida Cida e Dadinho vivem em Pedra Dourada, perto de Tombos e há oito anos conquistaram sua propriedade. Desde sempre buscam a diversidade da propriedade. Hoje possuem um sistema bastante equilibrado. Na fala do Dadinho eles estão “ricos” porque têm seu pedaço de terra e não devem nada a ninguém, além de terem de tudo um pouco e venderem muitos produtos. Eles têm 3 filhos. Todos/as participam do trabalho da família.
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Eles levam seus produtos para feira duas vezes por semana em Pedra Dourada. Antes também vendiam em Tombos, mas acharam melhor deixar a vaga de lá para outra pessoa e vender na feira da própria comunidade. No início foi difícil, levavam todos os produtos de carrinho de mão até o ponto do ônibus para ir à feira e não vendiam quase nada. Mas não desistiram e hoje estão vendendo muito bem! Na propriedade deles nada se perde, eles fazem o monitoramento econômico de tudo na propriedade. O produto que mais gera renda ultimamente é a banana. São três mil pés! A produção é vendida para APAT, para CONAB e na feira. Os cachos que ficam muito magros são cortados e viram adubo e comida de passarinho. Ele deixa a bananeira virar touceira, não corta os filhotes, assim elas demoram mais para começarem a produzir. A banana nanica está sendo vendida por R$2,50, a prata por R$6,00 e a da terra por R$8,00 a caixa. Hoje em dia um pé de café está rendendo no máximo R$1,00. Na feira vendem em torno de 50 produtos, sendo muitos deles frutas. “Levamos tudo que é comestível para a feira, mas o principal são as hortaliças, a banana e o café”. Só na horta cultivam mais de 30 variedades. Usam esterco de boi e de galinha da própria propriedade para adubar a horta. Segundo o casal muitas das plantas que existem lá nasceram sozinhas. São doze hectares tocados somente pelo casal e suas duas filhas que também estudam fora. Eles aproveitam todo o tempo que podem para plantar. Disseram que hoje estão bem porque estão tendo mercado para comercializar a produção. “A feira existe há dois anos e no início eram dez feirantes, mas hoje são em torno de três feirantes”. Outra coisa interessante é que construíram uns cinco currais no meio da plantação. Cada lugar tem um curral, Dadinho não traz a vaca para tirar o leite é ele que vai atrás dela nos currais e mesmo assim se a vaca não for para o curral ele não tira o leite no dia. Os bezerros ficam na corda entre as plantas para comerem o mato e fazerem a roçada naturalmente. O café é todo integrado com frutas, especialmente bananas. Uma parte do cafezal é orgânica e a outra parte é adubada porque fica próxima da lavoura de um vizinho que utiliza agrotóxico e, portanto, não conseguem controlar. Em 2004 o café deles deu bebida mole e ficou em quarto lugar no concurso de Qualidade de Bebida da EMATER. Na propriedade tem também animais selvagens que tiveram problemas em ficar na mata, a Siriema, o urubu doente e o ouriço sem mãe, que são cuidados com muito carinho pela família! Eles tem uma grande preocupação com o meio ambiente e todos os seres que nele vivem! Assim, a família tem uma propriedade bem diversificada e integrada e nada é desperdiçado. Graças ao ânimo deles insistiram na feira hoje estão comercializando de tudo. E toda a família trabalha unida!
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