Monografia sobre Agrofloresta, de Isabela Steuer - UFRPE

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA FLORESTAL CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL

Isabela Regina Wanderley Steuer

Caracterização de um Sistema Agroflorestal em uma Pequena Propriedade na Região Metropolitana do Recife

Recife, Pernambuco – Brasil 2014


UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA FLORESTAL CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL

Isabela Regina Wanderley Steuer

Caracterização de um Sistema Agroflorestal em uma Pequena Propriedade na Região Metropolitana do Recife

Characterization of an Agroforestry System on a Small Property in the Metropolitan Region of Recife

Monografia submetida ao Departamento de Ciência Florestal do curso de graduação em Engenharia Florestal

da

Universidade

Federal

Rural

de

Pernambuco, como requisito da disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do grau de Engenheira Florestal. Professor Orientador: Dr. Tadeu Jankovski

Recife, Pernambuco – Brasil 2014 2


UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA FLORESTAL CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL

Isabela Regina Wanderley Steuer

Caracterização de um Sistema Agroflorestal em uma Pequena Propriedade na Região Metropolitana do Recife Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao Departamento de Ciência Florestal da Universidade Federal Rural de Pernambuco, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Engenheira Florestal.

Data da Aprovação: 5 de agosto de 2014

___________________________________ Orientador Prof. Dr. Tadeu Jankovski

__________________________ Membro da Banca Examinadora Prof. Dr. Silmar Gonzaga Molica

__________________________ Membro da Banca Examinadora Prof. Dr. Jorge Roberto Tavares de Lima 3


“No início tudo era pela família e para a família, pela sua honra e seu respeito...depois foi por mim, pela minha luta e reconhecimento de todo o meu esforço...hoje é pela gratidão por todas as oportunidades vivenciadas e a honra de ter conhecido, aprendido e trabalhado com todas as pessoas que passaram nessa minha etapa de vida... agora é a certeza que tudo vai dar certo”

Dedico este Trabalho a Deus Seu Jones e Dona Lenir, pelo seu exemplo de vida e de ser humano

4


Agradecimentos Na minha caminhada para me tornar Engenheira Florestal, tive muito apoio das pessoas que acreditaram em mim e me ajudaram a passar pelos altos e baixos no meu crescimento pessoal e profissional, as quais me fortaleceram na minha formação acadêmica e, por isso, tenho que agradecê-los. Agradeço a Deus, por ter me dado força em todos os momentos, principalmente nos mais difíceis e me iluminado nas decisões que mais precisei; a minha família que esteve presente em toda minha vida, me ajudando com palavras e fraternidade; ao meu eterno amado e amigo, Diogo Passos, pelo ombro amigo, porto seguro e por toda ajuda na escrita da minha monografia; as minhas turmas 2009.01 e 2009.02; aos meus amigos que conquistei ao decorrer do curso, em especial Valdemir Silva, Adriana Miranda, André Pageú, Murilo Carvalho, Lucicleiton Melo, Cecília Lira, Izabelle Rezende, Anderson Coutinho, Magda Flor e Ana Karla; ao Diretório Acadêmico de Engenharia florestal e a ABEEF, que me proporcionou muitas alegrias e orgulho pela minha caminhada de fortalecimento como cidadã e Engenheira Florestal; Tenho honra e prazer de agradecer à Universidade Federal Rural de Pernambuco pela minha formação acadêmica; ao Departamento de Ciência Florestal pela oportunidade de crescimento profissional, em especial aos meus professores pela contribuição nas etapas de aprendizagem, como ao Professor Marco Passos, pelo meu primeiro estágio no Laboratório de Análise de Sementes Florestais; a Professora Maria Rita, ao estágio no Laboratório de Botânica Aplicada ; ao Professor Levy Paes, pelo estágio no Laboratório de Bioquímica Vegetal; a Professora Ana Carolina, pela maravilhosa experiência no Programa de Educação Tutorial, onde vivenciei momentos especiais e conhece pessoas extraordinárias; a Professora Soraya El-Deir e aos meus amigos do Grupo de Gestão Ambiental em Pernambuco, pelas fantásticas viagens e aprendizados; ao Professor Fernando Joaquim, pela confiança e credibilidade ao meu trabalho no Núcleo de pesquisa em Direito e Sociedade; ao Professor e sempre orientador, Marcelo Nogueira, pela paciência, apoio e confiança, depositados em mim na realização do meu ESO; Não posso esquecer-me do meu querido Professor Tadeu Jankovski pela maravilhosa orientação ao meu Trabalho de Conclusão de Curso. Sua dedicação e esforço ao meu trabalho aquecem meu coração e enche-me de gloriosas memórias, por sua credibilidade e confiança no meu crescimento profissional e na minha trajetória. Tenho que agradecer de coração aos meus queridos novos amigos, Seu Jones e Dona Lenir. Nunca esquecerei a simpática recepção de braços abertos e total contribuição ao meu trabalho. Meu muito obrigado a todos!!!

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Resumo As evidências atuais de insustentabilidade impostas pelo modelo de agricultura convencional no processo histórico de exploração dos recursos naturais pelo homem, em que a maior parte das tecnologias são ineficientes para a manutenção integral de ecossistemas naturais, levam a uma necessidade de mudança na forma de produção agrícola e uso da terra. Os Sistemas Agroflorestais surgem como na forma mais racional de manejo do solo, por ser capaz de manter o equilíbrio ecológico com eficácia. Este trabalho busca discutir os sistemas agroflorestais como alternativa de produção sustentável, em que o Engenheiro Florestal se torna um importante ator para evidenciar práticas com base nos princípios agroecológicos, com benefícios sociais, cultural, político, econômico e ambiental, principalmente para os agricultores em pequenas áreas. Neste sentido, foi realizado um estudo de caso numa pequena propriedade familiar de um hectare na região metropolitana do Recife, no município de Abreu e Lima do Estado de Pernambuco, onde se implantou, a partir de 1994, um sistema agroflorestal. Foram realizadas visitas de campo para a coleta de dados utilizando o Diagnostico Rápido Participativo, observações in loco e registros fotográficos no quintal agroflorestal da propriedade do Sr. Jones Severino Pereira e Sra. Lenir Pereira, denominada Sítio São João. Também foi estudado o Espaço Agroecológico das Graças em Recife, para conhecer sua organização, o perfil socioeconômico dos consumidores e os produtos agroecológicos comercializados. Os resultados obtidos com o estudo demonstram que o quintal agroflorestal pode ser uma alternativa de produção ecologicamente sustentável e rentável na agricultura familiar, proporcionando melhoria na qualidade de vida de todos os envolvidos, tanto agricultores quanto consumidores. Palavras-chave:

Quintal Agroflorestal; Feira Agroecológica; Propriedade Familiar; Bioma Mata Atlântica.

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Abstract The current evidence of unsustainability imposed by conventional agriculture model in the historical process of exploitation of natural resources by man, where most of technologies are inefficient for the system maintenance of natural ecosystems, leading to a need for change in the form of agricultural production and land use. The Agroforestry emerge as the most rational soil management, by being able to maintain the ecological balance effectively. This paper discusses agroforestry as an alternative for sustainable production in the Forester becomes an important actor to highlight practices based on agroecological principles with social, cultural, political, economic and environmental benefits, especially for small farmers. A case study was conducted in a small family property in the Recife metropolitan area in the municipality of Abreu e Lima of the State of Pernambuco, where it was implanted in 1994 an agroforestry system. Field visits to collect data using Participatory Rapid Appraisal, in situ observations and photographic records were made in the homegardens agroforestry owned by Mr. and Mrs. Jones Severino Pereira Pereira Lenir, also called Graรงas Agroecological space in Recife, was studied thanks to the know your organization, the socioeconomic profile of consumers and commercialization products. The results from the study demonstrate that homegardens agroforestry can be an alternative ecologically sustainable and profitable production on family farms, providing improvement in the quality of life for all involved, both farmers and consumers.

Keywords:

homegardens

agroforestry;

Agroecological

Fair;

Family

owned;

Atlantic Forest biome.

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Lista de Figuras

Figura 1

Pagina Localização do município de Abreu e Lima, Zona da Mata Norte de Pernambuco,

onde

se

situa

a

comunidade

rural

de

Inhamã................................................................................................... 2

35

Melhoria do solo devido a implantação do sistema agroflorestal no Sítio São João. (A) Solo da área testemunha demonstrando como se encontrava antes do sistema agroflorestal; (B) Aspecto atual do solo alguns anos após a implantação do sistema agroflorestal.......................................................

3

Mapa falado utilizado para caracterizar a propriedade do Sítio São João.........................................................................................................

4

44

Barraca da família em estudo, onde são comercializados os produtos do sistema agroflorestal

no Espaço Agroecológico das Graças,

em

Recife........................................................................................................

6

42

Fluxograma comercial apresentando os principais tipos de produtos vendidos e locais onde são comercializados............................................

5

41

48

(A) Aspecto característco do siatema em estudo (B) Material resultante da poda em espécies arbóreas com finalidade de enriquecimento do solo no Sítio São João..........................................................................................

7

Aspecto geral do Espaço Agroecológico do bairro da Graças, em Recife – PE............................................................................................................

8

52 55

Localização dos principais bairros residências dos consumidores que frequentam o Espaço agroecológico das Graças e sua respectiva representatividade.....................................................................................

9

57

Principais fatores que motivam a frequência e consumo dos produtos agroecológicos no Espaço Agroecológico das Graças..............................

59

8


Lista de Tabelas Tabela 1

Pagina Diferenças

entre

a

Agricultura

Convencional

e

a

Agricultura

Agroecológica................................................................................................... 2

Principais produtos consumidos e comercializados na propriedade do Sítio São João.......................................................................................................................

3

16 46

Comparação dos preços em dois supermercados no Bairro das Graças em Recife, de alguns produtos produzidos de forma convencional e os encontrados na feira agroecológica das Graças ................................................

61

9


Sumário 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 11 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1.

Desenvolvimento Agrário Brasileiro..........................................................................13

2.2.

Produção Agrícola com Princípios Agroecológicos...................................................14

2.3.

Sistemas Agroflorestais: Alternativa de Desenvolvimento Sustentável.....................18

2.4.

Aspectos Sociais, Culturais, Econômicos e Ecológicos dos Sistemas

.....Agroflorestais..............................................................................................................20 2.5.

Limitações dos Sistemas Agroflorestais.....................................................................23

2.6.

Classificação dos Sistemas Agroflorestais..................................................................24 2.6.1. Classificação com Base Estrutural..................................................................25 2.6.2. Classificação Funcional..................................................................................25 2.6.3. Classificação Ecológica..................................................................................26 2.6.4. Classificação Socioeconomico .......................................................................26

2.7.

Principais Sistemas Agroflorestais.............................................................................26

2.8.

Agroflorestas no Bioma Mata Atlântica.....................................................................30

2.9.

A importância das Feiras Agroecológicas para o Desenvolvimento

.....da Agrofloresta............................................................................................................32 3. MATERIAIL E MÉTODOS 3.1.

Caracterização da Área do Estudo..............................................................................35

3.2.

Coleta e Analise dos Dados........................................................................................36

3.3.

Diagnóstico Rápido Participativo...............................................................................37

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1.

Caracterização Agroflorestal no Sítio São João..........................................................39

4.2.

Comercialização de Produtos Agroflorestais no Espaço Agroecológico

......do Bairro das Graças..................................................................................................53 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................62 6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA................................................................................................63 7. ANEXOS........................................................................................................................................70

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1. INTRODUÇÃO A degradação dos recursos naturais tem sido consequência de uma intensa exploração desordenada resultante da ação antrópica, que incluem o extrativismo florestal e a agricultura convencional, baseada na monocultura e nos pacotes tecnológicos. Como consequência, resultam em grandes extensões de terras improdutivas, promovendo degradação rápida e significativa da qualidade do solo, afetando também os recursos hídricos e a redução de oferta de produtos florestais. Essa realidade, constante no Bioma Mata Atlântica, tem ocorrido desde o início da colonização do Brasil, em que seu espaço era ocupado progressivamente por atividades agrícolas, industriais e por núcleos urbanos. Grande parte dos remanescentes da Mata Atlântica, atualmente, se encontra fragmentada, tendo como um dos desafios aliar o uso e ocupação do solo e dos recursos naturais com o objetivo de conservação e preservação do meio ambiente nas propriedades remanescentes deste bioma de elevada biodiversidade. Para preservar este bioma, são necessárias adoções de novos sistemas de produção que sejam compatíveis com a diversidade dos ecossistemas locais e diferentes condições ambientais, que aliem a produção de alimentos à base dos princípios da agroecologia com a produção rural sustentável e recuperação da biodiversidade, considerando conhecimentos técnicos e tradicionais, para proporcionar melhor qualidade de vida para a sociedade e para os produtores rurais, nos aspectos econômico, ambiental e social. Nessa perspectiva, o sistema agroflorestal destaca-se como modelo de agricultura sustentável, sendo a forma mais racional de produção, por ser capaz de manter o equilíbrio ecológico com a eficácia no uso da terra. Entre os benefícios de seu uso, cita-se a conservação do solo e da água, redução ou eliminação do uso de fertilizantes e defensivos agrícolas e adequação de pequena produção para a recuperação de fragmentos florestais e matas ciliares. Além disso, este sistema também constitui uma fonte de alimentos de subsistência, presta serviços ambientais, fornece insumos internos à propriedade, melhorando as condições socioeconômicas para o pequeno agricultor. Gera variedade e diversidade de produtos, em que o excedente pode ser comercializado em feiras agroecológicas, sendo uma oportunidade de acessar um mercado diferenciado, gerando renda ao longo do tempo às famílias de agricultores. Segundo Drumond (2000), o principal diferencial desse sistema, em relação aos sistemas ortodoxos, é o fornecimento de numerosos tipos de práticas com utilizações de distintas espécies, em propriedades com diferentes escalas, segundo o tamanho das mesmas e o nível socioeconômico de seus proprietários. 11


Atualmente, é possível encontrar sistemas agroflorestais no bioma Mata Atlântica devido à simplicidade e tendência natural do comportamento das formações vegetais, chamando atenção dos agricultores, técnicos de campo, gestores de políticas públicas. Neste sentido, cada vez mais, os SAFs estão presentes em propostas específicas para o desenvolvimento rural sustentável. Segundo Oliveira (2011), o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), a Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428/ 2006), a Resolução CONAMA (nº 388/ 2007), a Lei da Agricultura Familiar (Lei nº 11.326/2006) e as legislações estaduais representam as principais legislações vigentes a respeito dos Sistemas Agroflorestais na Mata Atlântica, podendo ser trabalhada na regularização ambiental da propriedade rural como as Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL), sendo uma ótima oportunidade de trabalho para os engenheiros florestais interessados nesta temática. O objetivo deste trabalho é apresentar um estudo de caso da produção, beneficiamento e comercialização de produtos florestais oriundos de um sistema agroflorestal em uma pequena propriedade na Região Metropolitana de Recife, situada no Bioma Mata Atlântica.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1.

Desenvolvimento Agrário Brasileiro

A agricultura surgiu na pré-história, em torno de 12.000 a.C., quando os primeiros agricultores produziam alimentos de forma contínua e em consorcio com a criação de animais. No Brasil, a agricultura já existia antes do descobrimento, praticada pelos povos indígenas que viviam no litoral, alimentando-se basicamente de caça, pesca e diversas raízes. Com a chegada dos colonizadores europeus no século XVI, começa a devastação da vegetação litorânea brasileira, quando se deu início a exportação do pau-brasil e de outras culturas, como a cana-de-açúcar, pecuária extensiva, passando pelos ciclos do ouro, até os grandes cultivos de café (VASCONCELOS, 2007). Segundo Veiga (1991), “a agricultura moderna nasceu durante os séculos XVIII a XIX em diversas áreas da Europa, devido ao intenso processo de mudanças tecnológicas, sociais e econômicas, que hoje chamamos de Revolução Agrícola”. Por volta dos séculos XVIII a XIX, ocorreu a primeira revolução agrícola, pela intensiva adoção de sistemas de rotação de culturas, e por uma pecuária mais integrada com a agricultura. No final do século XIX e início do século XX, começa a escassez de alimentos na Europa, levando a necessidade de uma série de descobertas científicas e de avanços tecnológicos, surgindo, assim, o advento dos fertilizantes químicos, melhoramento genético, máquinas e motores à combustão, possibilitando o progressivo afastamento da produção animal e vegetal, marcando o início de nova fase da história da agricultura, a segunda revolução agrícola. Nesta fase, consolidava-se o padrão produtivo atual, denominado agricultura "convencional" ou "clássica", baseado no uso intensivo de insumos industriais, que se intensificou após a Segunda Guerra Mundial culminando, na década de 1970, com a chamada Revolução Verde (EHLERS, 1994 & VASCONCELOS, 2007). Historicamente, todas as atividades agrícolas exploradas e desenvolvidas no Brasil acompanhavam, de certa forma, os avanços e demandas ocorridos na Europa, principalmente devido à economia girar em torno de uma agricultura de exportação. Para acompanhar as mudanças no âmbito da globalização, a partir das décadas de 1950 e 1960, houve longo período de transformações no modelo produtivo brasileiro. Para poder competir no mercado agrícola mundial, ocorreu a abertura econômica, impulsionada pelos órgãos governamentais e incentivada pelas organizações internacionais. O modelo de produção foi baseado na revolução verde, trazendo modificações no ensino, pesquisa e extensão, na estruturação do crédito rural, no subsidio aos custeios agrícolas, resultando em grandes transformações no ambiente social, econômico e ambiental (ROCHA, 2006 & VASCONCELOS, 2007).

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A expansão da modernização da agricultura brasileira resultou num crescente processo de mudanças e problemas no âmbito social e ambiental, como a elevada perda de biodiversidade de espécies cultivadas, a eliminação de sistemas tradicionais de produção agrícola e até conversão dos ecossistemas naturais em monoculturas agrícolas e pastagens (VIANA, et al., 1998). Segundo Primavesi (1992), a modernização da agricultura não resultou apenas em elevado aumento na produção, mas também em enormes danos em outros importantes fatores da produção agrícola, como: desmatamento de novas áreas; problemas com erosão do solo; perda da fertilidade do solo; poluição e assoreamento de rios e encostas; degradação de fontes de água (nascentes e aquíferos subterrâneos); redução da biodiversidade e fragmentação dos biomas (devido às monoculturas); contaminação de recursos naturais; êxodo rural; aumento de pestes e fitopatologias; destruição das comunidades ecológicas; poluição atmosférica; uso intenso dos energéticos fósseis levando à previsão do consequente fim das reservas naturais; contaminação dos animais silvestres e dos agricultores por agrotóxicos; Com a expansão deste modelo produtivo, configurou-se crescente processo de exclusão social de agricultores familiares, devido à progressiva substituição da mão de obra rural pela mecanização intensiva da produção, sendo que os pequenos produtores não foram capazes de acompanhar o nível de inovação e padronização tecnológica estruturados no âmbito do chamado agronegócio. Além disso, as novas tecnologias inadequadas para esses produtores os excluía do acesso ao crédito, à informação, ao apoio técnico e a outras vantagens (WEID; ALTIERI, 2002 & MEDEIROS, et al., 2002). Outra consequência gerada pela exclusão social no campo foi seu reflexo no meio urbano, pois, com a crescente agricultura convencional no meio rural brasileiro, aumentou a concentração fundiária, desconsiderando a diversidade rural e as classes de agricultores menos favorecidos. Como resultado desses processos de ocupação das áreas rurais, os trabalhadores não encontraram possibilidades de prosperar na área urbana, resultando na favelização das cidades, o que veio a intensificar a quantidade de trabalhadores rurais sem terra e sem trabalho (ROCHA, 2006). 2.2.

Produção Agrícola com Princípios Agroecológicos

No meio rural do Brasil, é possível identificar dois distintos modelos de produção agrícola, representados pelo modelo de agricultura convencional e o modelo de agricultura tradicional. A agricultura convencional é um conceito usado após a expansão e modernização da agricultura brasileira pela introdução da Revolução Verde, onde prevalece à busca da maior produtividade pela utilização intensa de insumos para obtenção de maior retorno financeiro no menor tempo de investimento. É um sistema conhecido como agronegócio, caracterizado pelas monoculturas 14


praticadas em grandes extensões de terra, que proporciona, a curto prazo, significativos aumentos da área plantada, trazendo resultados econômicos visíveis pela eficiência do arsenal tecnológico, mas, por outro lado, em pouco tempo, resulta na degradação de grandes superfícies e severa erosão da biodiversidade (FERRAZ, 1997 & SOUZA, 2005 & RUSSO;PÁDUA, 2001). Segundo Ehlers (1994), a Revolução Verde, “fundamenta-se na melhoria do desempenho dos índices de produtividade agrícola, por meio da substituição dos moldes de produção locais ou tradicionais, por um conjunto bem mais homogêneo de práticas tecnológicas, ou seja, de variedades vegetais geneticamente melhoradas, muito exigentes em fertilizantes químicos de alta solubilidade, agrotóxicos com maior poder biocida, irrigação e motomecanização”. Este modelo tem avançado em várias regiões do país, introduzindo uma estrutura fundiária economicamente inviável, ambientalmente incorreta devido à degradação dos ambientes naturais e dos ecossistemas, onde os compartimentos bióticos e abióticos se encontram em estado de fragilidade crítica e socialmente injusta (MARTINS, 2013). Por outro lado, temos a agricultura tradicional representada pela agricultura familiar, que, segundo Martins (2013), é pouco representativa em termos de extensão do uso das terras agricultáveis, mas é a que mais alimenta a população do país. Esta, ao contrário do agronegócio, tem pouco apoio do Estado, de programas e políticas públicas e créditos bancários, o que motiva os agricultores a interromper sua produção para buscar outro meio de vida nos grandes centros urbanos. Apesar de representar uma forma menos agressiva de se cultivar a terra e uma distribuição mais justa de terras no país, a agricultura familiar necessita ainda de sistemas de produção apropriados à sua capacidade de investimento, ao tamanho proporcional da terra e ao tipo de mão de obra empregada (ARMANDO et al., 2002). Segundo Caporal e Costabeber (2004), é necessária a difusão de propostas com premissas para a utilização de métodos e técnicas que respeitem os limites da natureza, para que os futuros modelos de produção a serem pensados não se ocupem apenas da produção, mas sim no ganho para a sociedade e ecossistemas. Dentre essas propostas, Rocha (2006) destaca a necessidade de uma agricultura capaz de: a) causar o mínimo de impactos ambientais e reduzir ao máximo o uso de poluentes químicos na forma de insumos; b) manter a qualidade do solo, da água e valorizar a conservação da biodiversidade; c) otimizar a produção pelo uso de insumos internos, ciclagem de nutrientes e conservação da base de recursos; d) satisfazer as necessidades alimentares e produção de excedentes para geração de renda; e) desenvolver tecnologias e práticas adequadas às necessidades sociais das famílias e comunidades rurais e que possibilitem o controle local dos recursos agrícolas. 15


Um modelo de produção que atinja as propostas apresentados pelos autores Rocha, Caporal e Costabeber e que tenha pouca ou nenhuma dependência de agroquímicos, aliado a troca de saberes científicos com saberes locais, é representado como uma agricultura agroecológica, que, pela definição de Hecht (2002), "representa uma abordagem agrícola que incorpora cuidado especial relativo ao ambiente, assim como aos problemas sociais, enfocando não somente a produção, mas também a sustentabilidade ecológica do sistema de produção". Segundo os autores Vasconcelos (2007) e Altieri (1989), a agroecologia considera os sistemas produtivos como unidade fundamental, em que todos os processos e relações são analisados como um todo, pois está fundamentada em princípios que respeitam os aspectos ecológicos, culturais, sociais e econômicos da produção e sua sustentabilidade. Os autores Beus e Dunlap (1990) fazem uma comparação das diferenças entre os dois sistemas de produção agrícola apresentados na Tabela 1, enfatizando os benefícios da agroecologia. Tabela 1.

Diferenças entre a Agricultura Convencional e a Agricultura Agroecológica. Fonte: Adaptação de Beus e Dunlap (1990). Agricultura Convencional

Agricultura Agroecológica

Exploração

Conservação

· Altos custos de externalidades que não são · contabilizados;

Baixos

custos

das

externalidades,

sendo

considerados e contabilizados;

· São mais valorizados os benefícios de curto do que · A maioria dos resultados são a longo prazo, mas às consequências de longo prazo;

igualmente considerados os de curto e longo prazo;

· Baseia-se em uso bastante intenso de recursos não · Baseia-se nos recursos renováveis e os não renováveis e fosseis;

renováveis são conservados;

· Elevada produtividade, mantendo o elevado · O consumo é de acordo com a demanda real, sem crescimento econômico;

desperdício,

beneficiando

futuras

gerações;

· Produz à medida que degrada o ambiente;

· Produz à medida que recupera e mantém a saúde

· Acréscimo gradual de adubos químicos e do solo e do ecossistema; agrotóxicos;

· Acréscimo gradual de adubos orgânicos;

· Elimina os problemas por meio de “cidas” · Equilibra os problemas por meio de probióicos; (herbicidas, inseticidas, fungicidas etc); Especialização

Diversidade

· Base genética estreita, com pouca diversidade e · Ampla base genética, com alta diversidade e variação;

variação;

· Plantas cultivadas em monocultivo contínuo;

· Plantas cultivadas em policultivo;

· Isolamento de culturas e animais;

· Várias culturas em rotação complementar;

16


· Sistemas de produção padronizados;

· Integração de culturas e animais;

· Ciência e tecnologia especializada;

· Sistemas de produção localmente adaptadas;

· Centrada na produção quantitativa;

·

Ciência

e

tecnologia

interdisciplinares

e

orientadas para os sistemas; · Centrada na produção qualitativa; Dominação da Natureza

Harmonia com a Natureza

· Natureza consiste em recursos a serem explorados e · Natureza deve ser utilizada respeitando seus dominados pelo homem; ·

Alimentos

altamente

limites; processados

industrializados;

e ·

Imitação

dos

ecossistemas

naturais

(ex.:

agrofloresta);

· Alimentos adicionados de substâncias químicas e ·

Alimentos

minimamente

processados,

e

nutrientes artificiais, resultando numa nutrição naturalmente nutritivos, resultando numa nutrição humana incompleta;

humana completa;

· Menor sabor e aroma;

· Maior sabor e aroma;

Competição

Comunidade

· Falta de cooperação e interesses pessoais;

· Maior cooperação, preservação das tradições,

· Tradições e cultura rural abandonada;

saberes e cultura rural;

· Os recursos naturais são usados como negócio, com · Agropecuária deve ser uma forma de vida, assim ênfase na alta velocidade de produção e lucro;

como um negócio;

Dependência

Independência

· Unidades de produção e tecnologia de larga

· Unidades de produção e tecnologia em pequena

escala;

escala;

· Uso intensivo de capital e baixa necessidade de · Uso reduzido de capital e alta necessidade de de contratação de mão de obra;

mão de obra familiar e comunitária;

· Elevada dependência em fontes externas de

· Dependência reduzida de fontes externas de

energia como petróleo, insumo e crédito;

energia, insumos e crédito;

· Consumismo e dependência no mercado;

·

· Ênfase dada à ciência, especialistas e experts;

potencialidade e capacidades locais;

· Pouca dependência de políticas públicas;

· Alta dependência de políticas públicas;

Ênfase

Centralização ·

Produção,

processamento

nacional/internacional;

ao

conhecimento

pessoal,

Descentralização e

marketing · Produção, processamento e marketing mais regionalizados/local;

· Menor número de produtores, controle concentrado · da terra, dos recursos e do capital;

dada

Maior

número

de

produtores,

controle

descentralizado da terra, dos recursos e do capital;

Diante deste cenário, fica claro que o modelo vigente de produção está desequilibrando o ambiente e ocasionando mudanças nos cenários sociais e econômicos, sendo imprescindível 17


repensar o paradigma da sociedade moderna de produção e consumo, em direção a uma agricultura que considere os conhecimentos tradicionais, tomando por base os princípios da agroecologia e do desenvolvimento rural sustentável (ROCHA, 2006). Segundo Altieri (2004), é necessário a construção concreta de práticas sustentáveis e tecnologias limpas, que visem qualidade ambiental pelo uso de recursos locais, pela promoção da diversidade biológica, pela recuperação ambiental, e a segurança alimentar, bem como a garantia de igualdade de acesso a praticas, conhecimento e tecnologias adequadas à promoção da vida. Dentre os modelos alternativos, ou tecnologias agroecológicas sustentáveis, destacam-se os sistemas agroflorestais, que, segundo Silva (2008), “apresentam grande potencial para a implementação de estratégias voltadas para um desenvolvimento sustentável, pela conservação do solo e da água, pela redução e até mesmo, eliminação do uso de fertilizantes e defensivos agrícolas, pela adequação a pequena produção, conservação da biodiversidade e a recuperação de fragmentos florestais e matas ciliares”. 2.3.

Sistemas Agroflorestais: Alternativa de Desenvolvimento Sustentável

Na atualidade, um dos maiores desafios é proporcionar o desenvolvimento econômico aliado à sustentabilidade, principalmente na agricultura. Segundo Pollmann (2008), mais que apresentar um sistema de produção, desenho de consórcios, regras e conselhos de manejo, se deve repensar a postura do homem relacionado ao ambiente e apontar conceitos fundamentais e propostas metodológicas que possibilitem a elaboração dos sistemas sustentáveis. Os Sistemas Agroflorestais, segundo King e Chandler (1978), é um nome coletivo para sistemas sustentáveis de uso da terra e manejo dos recursos naturais, em que combina, de maneira simultânea ou em sequência, a produção de cultivos agrícolas com plantações de árvores frutíferas, florestais e/ou animais, utilizando a mesma unidade de terra e aplicando técnicas de manejo que são compatíveis com as práticas culturais da população local, de forma ecologicamente desejável, de modo que se obtenha os benefícios das interações ecológicas e econômicas resultantes. Os sistemas agroflorestais estritamente científicos, segundo Nair (1993), devem destacar quatro características comuns, a saber: 

O sistema agroflorestal normalmente envolve duas ou mais espécies de plantas, tendo pelo menos a representante lenhosa perene;

Um sistema agroflorestal tem sempre duas ou mais saídas;

O ciclo de um sistema agroflorestal é sempre maior que um ano;

18


Deve-se considerar que, até mesmo um sistema agroflorestal simples, é mais complexo, ecologicamente (estrutural e funcional) e economicamente, do que um sistema em monocultivo.

Segundo Moura (2009), os sistemas agroflorestais otimizam os processos químicos, físicos e biológicos do ecossistema, melhorando as condições ambientais, sendo a forma mais racional de exploração, capaz de manter o equilíbrio ecológico com a máxima eficácia no uso da terra, por respeitarem os princípios básicos de manejo sustentável dos agroecossistemas. De acordo Gotsch (1996), os sistemas agroflorestais são uma tentativa de harmonizar a atividade agrícola com os processos naturais dos seres vivos. Com esse pensamento, Abdo et al (2008) confirma que a agrofloresta pode ser divulgada como modelo de exploração que contribue para a sustentabilidade da exploração agrícola atual. Através de pesquisas e vivências agroecológicas, as práticas agroflorestais tem se mostrado cada vez mais importantes no Brasil como estratégia-piloto de desenvolvimento sustentável em ecossistemas ameaçados (VIVAN; FLORIANI, 2006). Segundo Viana et al (1997), isso se deve por conseguir transformar atividades de produção degradantes em regenerativas, devido à aproximação com os ecossistemas naturais em estrutura e diversidade. Neste panorama, é possível reconhecer que os sistemas agroflorestais (SAFs) preenchem muitos requisitos da sustentabilidade, que segundo os autores Torquebiau (1989) e Moura (2009), é devido às suas características de inclusão de árvores no sistema produtivo; ao uso de recursos locais e práticas de manejo; à produção diversificada aliada à conservação dos recursos naturais; ao embasamento em princípios que envolvem aspectos ecológicos, econômicos e sociais; à capacidade de manter o potencial produtivo para as gerações futuras. Segundo Nair (1993), são três atributos característicos de todos os sistemas agroflorestais servindo de base para sua avaliação: Produtividade Todos os sistemas agroflorestais têm como objetivo manter ou aumentar a produção de produtos preferenciais, bem como a produtividade da terra. O aumento da produção nos sistemas agroflorestais pode ser alcançado pelo uso racional das condições que irão promover o crescimento das plantas e uso mais eficiente dos recursos naturais (espaço, água, solo, luz, etc), pelo incremento de produção dos cultivos intercalares, entre plantas arbustivas ou arbóreas, sem a dependência de fontes externas, e pela melhoria da eficiência no uso da mão de obra.

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Sustentabilidade Os sistemas agroflorestais conservam o potencial de produção de seus recursos através dos efeitos benéficos da diversidade biológica, promovida pela presença de diferentes espécies vegetais que exploram nichos diversificados dentro do sistema, devido funções complementares no ambiente, contribuindo para a conservação da fertilidade do solo sem causar danos ambientais, como as lenhosas perenes em associação com plantas herbáceas e a interação entre as espécies mantendo a produtividade a longo prazo. Aceitabilidade Qualquer que seja o modelo proposto ou as tecnologias agroflorestais introduzidas em novas áreas, é de fundamental importância que devam estar de acordo com as práticas agrárias locais e que sejam aceitos pela comunidade onde são implantados e qualquer tipo de melhoramento e sugestão deve conter a participação da comunidade local. Além das características citadas acima, Conway (1987) destaca outra propriedade inerente à sustentabilidade dos agroecossistemas: Autonomia Esta relacionada ao grau de integração do agroecossistema refletido no fluxo de materiais, energia e informação as partes constituintes e entre o sistema e o ambiente externo, com certo grau de controle sobre estes fluxos. A autonomia é avaliada na medida em que o agroecossistema possui a capacidade interna para administrar os fluxos necessários à manutenção da produção ou demanda de recursos externos para manter a produção, sem depender tanto de insumos externos. Segundo May (2008), para analisar a sustentabilidade de um SAF, devem ser examinados todos os elementos que o compõem conjuntamente, considerando suas interelações produtivas e ecossistêmicas, ligadas aos benefícios sociais gerados. Dessa forma, os sistemas agroflorestais podem ser considerados uma das alternativas de manejo racional dos recursos naturais renováveis, pois, além de equacionarem os principais impactos negativos da agricultura sobre o ambiente, oferecem também possibilidades de mudança e independência nos aspectos sociais, econômicos, cultural e políticos de grande parte dos agricultores brasileiros.

2.4.

Aspectos

Sociais,

Culturais,

Econômicos

e

Ecológicos

dos

Sistemas

Agroflorestais O sistema agroflorestal pode ser conceituado um sistema agrícola autossustentável por atender as demandas sociais e culturais, sejam elas regionais ou locais; por gerar renda monetária aos

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agricultores, bem como prestar serviços ambientais, constituir fonte de alimentos, insumos internos à propriedade e bens para o consumo familiar rural (MOURA, 2009; MAY, 2008). O Conselho Internacional de Pesquisas em Agroflorestas (ICRAF, 1997) sugere que as agroflorestas são capazes de minimizar de forma significativa alguns desafios socioambientais do mundo atual, devido às vantagens e aos benefícios dos sistemas agroflorestais em quatro aspectos básicos, o social, o cultural, o econômico e o ecológico, que serão descritos a seguir. Função social Os sistemas agroflorestais, quando comparados a monoculturas, geralmente produzem mais serviços e produtos para o consumo humano, tanto pela utilização de grande diversidade de espécies quanto pelas diferentes alternativas de consorciação em uma mesma área, assegurando alimentação mais saudável, proporcionando segurança alimentar e melhoria da qualidade de vida dos produtores rurais (SILVA, 2008; SABIÁ, 2006). Segundo Macedo (2000), quando um sistema agroflorestal é implantado em um determinado local ou região, necessita-se, para seu manejo, uma gama variada de mão de obra, gerando maiores oportunidades de emprego, devido ao aumento da demanda de mão de obra, pela diversidade de produção agrícola, florestal e animal, proporcionando a fixação do homem no campo. Além disso, segundo Walker et al (1994), a agrossilvicultura assegura a sustentabilidade econômica, pela produção de bens de origem vegetal, o que permite a participação no mercado e acumulação de riqueza ao longo do tempo, reduzindo a pobreza e evitando a incorporação de novas áreas de floresta à agricultura, alem de evitar a contínua migração de produtores rurais a novas áreas ou aos centros urbanos. Outro destaque, segundo Müller et al (2003), é o plantio e a conservação das espécies arbóreas medicinais e frutíferas, que exercem importante função social nos sistemas agroflorestais, pois podem constituir forma de maximizar a diversidade dos produtos, contribuindo para a saúde do consumidor. Função Cultural O planejamento de um SAF reconhece os conhecimentos e os valores dos agricultores e os tradicionais sistemas de agricultura e, na sua implantação, são atribuídos às tecnologias agroecológicas com o intuito de resgatar e usar esta sabedoria na elaboração de novos modelos de agricultura (ROCHA, 2006).

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Função Econômica A alternância da produção e a diversificação de produtos ao longo do ano podem contribuir tanto para a subsistência da família quanto sua comercialização em mercados ou feiras, que, segundo Sabiá (2006), pode aumentar e melhorar a distribuição da renda familiar, permitindo uma maior estabilidade econômica. Silva (2008) enfatiza que os sistemas agroflorestais apresentam um fluxo de caixa mais favorável para os produtores, pois a produção e a comercialização de diversos produtos contribuem para a agregação de mais receitas ao longo do ano. Para diminuir os investimentos na implantação do sistema agroflorestal, aconselha-se que, na escolha das espécies, deva-se considerar um estudo de mercado, para detectar os produtos de maior aceitação pelos consumidores em determinadas épocas do ano. Barros (2005) comenta que a vantagem de se utilizar o SAF em pequenas propriedades, é o baixo custo de implantação e manutenção que podem ser mantidos em limites aceitáveis. Função Ecológica Os sistemas agroflorestais, quando devidamente planejados, segundo Moura (2009), possibilitam a melhoria da estrutura dos solos; aumentam a disponibilidade e a ciclagem de nutriente, sobretudo daqueles facilmente lixiviados, como cálcio (Ca), potássio (K) e enxofre (S); diversificam a produção de alimentos, madeiras e outros produtos úteis ao homem; e produzem cobertura morta, reduzindo a necessidade de adubação inorgânica. Muller et al (2003) destaca, dentre os inúmeros benefícios ambientais, a conservação dos remanescentes florestais pelo cultivo de espécies arbóreas de valor ecológico (proteção e alimentação á fauna, espécies endêmicas e espécies em extinção); e a conservação de nascentes e cursos d′ água. Dias Filho (1998) enfatiza que os SAFs podem desempenhar papel importante na recuperação de áreas em vias de degradação, pois se pode utilizar espécies pouco exigentes quanto às condições edáficas e capazes de melhorar a capacidade produtiva dos solos. Entretanto, Vaz da silva (2002) afirma que somente usar esta função em pequenas propriedades, onde existe área agrícola disponível, não é suficiente para sua sustentação econômica. Os sistemas agroflorestais apresentam benefícios ambientais, segundo Moura (2009), na manutenção de ciclos importantes como o da água e do nitrogênio, além de ser eficiente reservatório de gás carbônico (CO²) e redutor dos riscos ecológicos, pela diminuição do crescimento de plantas invasoras, altamente exigentes em luz.

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2.5.

Limitações dos Sistemas Agroflorestais

Silva (2008) comenta que, nos últimos anos, os sistemas agroflorestais são apresentados como alternativa viável para promover mudanças ambientais, econômicas e sociais, porém, em algumas regiões brasileiras, podem-se encontrar empecilhos no desenvolvimento da agrossilvivultura, limitando a atividade economicamente atrativa e incorporada aos interesses dos diferentes segmentos da sociedade. Vários autores, como Macedo (2000), Dubois, et al (1996) e Lunz; Franke (1998) consideram que os principais fatores limitantes para a plena expansão e utilização racional dos sistemas agroflorestais estão ligados aos seguintes fatores: 

Dificuldade em encontrar estudos econômicos que comprovem sua viabilidade;

Conhecimento

limitado

dos

agricultores,

pesquisadores

e

técnicos

sobre

a

agrossilvicultura, evidenciando a necessidade de mais pesquisa científica sobre o tema; 

Falta de pessoal técnico qualificado para promover a instalação e o manejo adequado destes sistemas;

Pouca divulgação técnica de suas potencialidades junto aos organismos responsáveis pela definição das prioridades da política florestal brasileira, e número reduzido de políticas públicas e créditos para o incentivo do desenvolvimento dos sistemas;

Falta de tradição dos agricultores, tornando difícil a extensão e implantação desse sistema na maioria das regiões do país;

O manejo dos tratos culturais são mais complexos, complicados e diversificados (limpezas seletivas, podas, desbastes, técnicas específicas de colheita e armazenamento), exigindo técnicas apropriadas que muitos produtores ainda não utilizam;

A recuperação econômica dos investimentos pode demorar mais tempo, devido ao mercado limitado para alguns produtos, os quais não são absorvidas em grandes quantidades, o que sugere a formação de associações para viabilizar a comercialização.

Montagnini (1992) afirma que a pesquisa e a difusão de SAF′s não são tarefas fáceis, no entanto, a grande diversidade de técnicas, as experiências possíveis e seu importante papel nos planos de desenvolvimento, e na proteção dos recursos naturais fazem com que estes empreendimentos sejam cada vez mais atrativos e promissores.

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2.6.

Classificação dos Sistemas Agroflorestais

Para compreender os planos de ação e avaliar os experimentos da agrossilvicultura, é necessária a existência de uma classificação de acordo com alguns critérios comuns. De forma geral, segundo Nair (1993), a classificação tem como objetivo principal fornecer uma forma prática de sistematização e análise das informações existentes dos sistemas, que, para qualquer classificação, devem: 

Organizar uma maneira lógica de agrupar os principais fatores dos quais a produção do sistema dependerá;

Indicar como o sistema é gerido (apontando possibilidades de intervenções de gestão para melhorar a eficiência do sistema);

Oferecer flexibilidade no reagrupamento da informação;

Ser facilmente compreendidos e manipulados (prática).

A partir da classificação proposta por Nair (1993), os sistemas agroflorestais podem ser classificados de acordo com os seguintes critérios: Base estrutural Refere-se à composição dos componentes, incluindo a disposição espacial do componente lenhoso, estratificação vertical de todos os componentes e a disposição temporal dos diferentes componentes. Base funcional Refere-se a principal função ou papel do sistema, geralmente fornecido pelos componentes lenhoso, que pode ser um serviço de proteção, de quebra-vento e conservação dos solos. Base socioeconômica Refere-se ao nível da gestão ou a intensidade ou escala de metas de gestão e comercialização. Base ecológica Refere-se à condição ambiental e adequação ecológica dos sistemas, com base no pressuposto de que certos tipos de sistemas podem ser mais apropriados para certas condições ecológicas, podendo haver diferentes conjuntos de sistemas agroflorestais. A classificação citada acima não é independente ou exclusiva, mas pelo contrário, têm de ser interligada desde as bases estruturais e funcionais, se relacionando com a natureza dos componentes lenhosos no sistema e desde a estratificação socioeconômica e ecológica pelas condições locais.

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2.6.1. Classificação com base estrutural: Baseado na natureza dos componentes Existem três componentes básicos que são gerenciados pelo usuário da terra nos sistemas agroflorestais: • Componente florestal: representado pelas árvores ou arbusto perene; • Componente agrícola: representado pelas ervas, plantas herbáceas e espécies de pastagens; • Componente animal: representado pelos animais de pequeno ou grande porte; Segundo Nair (1993), esta categorização de sistemas pode ser apresentada em três tipos principais: 1. Sistemas Silviagrícolas: caracterizados pela combinação e associação de espécies florestais, arbustos ou palmeiras, com culturas agrícolas anuais ou perenes, numa mesma área; 2. Sistemas Silvipastoris: caracterizados pela combinação de cultivos florestais, arbustos ou palmeiras, com plantas forrageiras herbáceas e animais; 3. Sistemas Agrossilvipastoril: caracterizados pela combinação de cultivos florestais, cultivos agrícolas e criação de animais, numa mesma área, de forma simultânea ou escalonada no tempo. Baseado no arranjo dos componentes Segundo Nair (1993), o arranjo dos componentes refere-se às combinações de várias espécies de plantas do sistema, envolvendo as dimensões de espaço e tempo. O arranjo espacial esta relacionada à forma como as plantas estão dispostas no terreno dos sistemas agroflorestais, em que os componentes podem variar de modo a ficarem densos ou esparsos. As espécies podem estar em zonas ou faixas de diferentes larguras, tendo várias escalas, que variam de arranjos microzonal para os macrozonal. O arranjo temporal esta relacionado às combinações cronológicas dos componentes do sistema agroflorestal, podendo assumir várias formas, como permanente ou temporal e simultâneo ou sequencial, em que cada combinação varia na escala temporal. Para isso, é necessário ter conhecimento e informações das espécies a serem utilizadas, aliadas ao seu período correto de cultivo, tendo em vista as técnicas a serem usadas e as responsabilidades das tarefas no sistema. 2.6.2. Classificação funcional: Levando em consideração os princípios da sustentabilidade e os componentes dominantes da propriedade, com base em sua avaliação das opções disponíveis, podem-se considerar dois principais tributos dos sistemas agroflorestais, a produção e proteção, em graus variados. A agrofloresta tem a função produtiva quando produz um ou mais produtos que normalmente atendem às necessidades básicas. Isso se deve, em grande parte, à natureza polivalente dos componentes constantes em associação, como, por exemplo, a produção de madeira para habitação e energia; 25


alimentos, como frutos; matérias primas, como sementes e forragem. Além da função de proteção, como quebra vento e sombreamento (NAIR, 1993). 2.6.3. Classificação ecológica É possível encontrar várias descrições e recomendações de tecnologias agroflorestais relacionadas às condições ecológicas específicas de diferentes climas geográficos, pois regiões semelhantes ecologicamente podem ser encontradas em diferentes locais e podem ser encontrados sistemas agroflorestais em zonas ecológicas similares ou em diferentes regiões geográficas. Segundo Nair (1993), as principais regiões ecológicas que representam terras tropicais e subtropicais onde existem os sistemas agroflorestais ou que tenham potencial, são várzeas úmidas e sub úmidas, regiões semiáridas e áridas e terras altas tropicais. 2.6.4. Classificação socioeconômica Segundo Nair (1993), os sistemas agroflorestais podem ser classificados pelos critérios socioeconômicos, levando em consideração dois padrões: a escala de produção, podendo ser comercial ou intermediário ou de subsistência; e o nível de gestão tecnológica, podendo ser alto, médio e baixo, considerando o uso de tecnologia, entrada e saída de insumos. O termo comercial é utilizado quando o principal objetivo do sistema é a produção de mercadoria ou de produtos para venda, em que normalmente a escala de produção esta em média a grande propriedade, podendo ser privado ou em corporativas. Os sistemas agroflorestais geralmente são intermediários, ou seja, estão entre as escalas comerciais e de subsistência, como, por exemplo, aquelas em que predomina um grande número de árvores frutíferas. Normalmente ocorrem em propriedades de médio a pequeno porte, onde o dinheiro precisa satisfazer as culturas e atender a necessidades alimentares da família. Agrupar os sistemas agroflorestais de acordo com os critérios socioeconômicos e de gestão facilita a estratificação do sistema em um plano de ação, de acordo com as características do agricultor, com o propósito de ser útil num planejamento objetivo e no desenvolvimento de sistemas adaptados a dada situação (NAIR, 1993). 2.7.

Principais sistemas agroflorestais

Segundo Nair (1993), um sistema agroflorestal é um exemplo específico de uma prática local, com arranjo distintivo de componentes no espaço e no tempo, caracterizado pelo ambiente, espécies vegetais utilizadas, seu arranjo, gestão e funcionamento socioeconômico, onde ocorre o plantio consorciado de espécies florestais, agrícolas e/ou animais. Muitos dos sistemas agroflorestais tradicionais, depois de adotados, sofrem modificações em função das características e condições de uso local. Neste sentido, existem centenas de sistemas 26


agroflorestais com distintos manejos, serão mencionados e descritos a seguir os sistemas mais usuais e mencionados pela literatura. Pousio Melhorado Segundo Dubois (2008), este sistema pode ser definido como um período de descanso da terra entre os períodos de produção agrícola, em que, quando termina um período de produção agrícola cessam todas as atividades na terra, incentivando o aparecimento de espécies florestais pioneiras, conduzindo à formação de capoeira. É um sistema que se originou devido à prática centenária da agricultura nômade, com o principio de recuperar mais rápido a área agrícola em descanso. Esta ação se efetiva pela indução da regeneração natural ou plantio e semeadura de espécies melhoradoras do solo, no último ano de cultivo agrícola, acelerando a recuperação do solo, reduzindo os custos dos insumos agrícolas e reduzindo-se a rotação, além de se obter em outros benefícios da área em repouso. Taungya Neste sistema, são plantadas espécies agrícolas de ciclo curto nas entrelinhas de um plantio tradicional de mudas, de uma ou mais espécies madeireiras. O componente florestal normalmente possui finalidade comercial (madeira, fibra, carvão), já o componente agrícola é composto por culturas de subsistência, que são cultivados durante os dois a três primeiros anos do reflorestamento. A finalidade inicial deste sistema é diminuir o custo de implantação e manejo da floresta comercial, pela produção agrícola, além do plantio florestal se beneficiar das capinas e adubações dos cultivos agrícolas. O sistema também possibilita a recuperação de áreas degradadas com baixo custo, como áreas de proteção permanente (ALVES, 2009; DUBOIS, 2008; DUBOIS, et al, 1996). Cultivo em Aleias Segundo Dubois et al (1996), neste sistema de produção, os cultivos agrícolas são conduzidos em faixas de 2 a 6 metros de largura, separadas por barreiras vivas, constituídas por uma ou mais fileiras densas, plantadas com espécies perenes adubadoras, periodicamente podadas ou rebaixadas. As espécies perenes utilizadas são arbóreas ou arbustivas com elevado potencial de enriquecimento do solo. A produção agrícola em aleias é vantajosa em pequenas propriedades, onde não existem mais condições de regenerar a terra com capoeiras de longa duração e, em regiões de colinas, onde se cultivam ladeiras em solos apresentando riscos de erosão, pois as faixas de espécies perenes reduzem este processo.

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Capoeira Enriquecida Segundo Vieira (2006) é um dos primeiros passos para a transformação da agricultura de derruba e queima em sistemas sustentáveis de uso da terra, ou seja, espécies de rápido crescimento, em geral leguminosas, funcionam como bancos de biomassa em tais sistemas. Esse sistema consiste na melhoria das áreas de capoeiras tradicionais, por meio da introdução de espécies de enriquecimento ou intervenções (desbaste e corte de cipós). É utilizado principalmente para antecipar e recompor o potencial produtivo do ecossistema, regenerando o solo, melhorando suas características químicas, físicas e biológicas, bem como as condições de sobrevivência dos produtores, pela melhoria da renda familiar (SILVA, 2008). Quintas Agroflorestais É uma área de produção localizada perto das casas, onde se cultivam árvores, plantas frutíferas, medicinais, condimentares, ornamentais, alimentares, hortaliças e/ou animais. Além de produzir vários produtos, o sistema promove a proteção á superfície do solo e a reciclagem de nutrientes, sendo adaptável a todas as condições ecológicas, em especial, a regiões com alta densidade populacional (NAIR, 1990). Este sistema envolve espécies para diversos fins, apresentado alto grau de sustentabilidade, sendo utilizado tradicionalmente em muitas regiões sob condições econômicas, sociais e ecológicas diversificadas, pelo alto grau de aceitabilidade social. Esta diversidade apresenta certa estabilidade a flutuações e inseguranças do mercado, reduzindo os riscos de perda da produção (FERNANDES, et al, 1993). É um sistema associado à subsistência, mas o excedente é comercializado, permitindo uma renda suplementar para a família. A principal característica desse sistema é a diversidade de componentes de uso múltiplo, que fornece produção variada de alimentos e outros produtos úteis durante o ano todo (SILVA, 2008). Conforme Montagnini (1992) e Fernandes et al (1993), este sistema promove elevado grau de sustentabilidade, pela boa reciclagem de nutrientes e redução da erosão em função da cobertura do solo. Ecologicamente é semelhante aos ecossistemas naturais, devido a grande diversidade de espécies, alta capacidade de captura de energia solar, mecanismos de controle biológico e uso eficiente do espaço. Segundo Dubois et al (1996), existem vários tipos de quintais agroflorestais, alguns são tipicamente domésticos, sendo manejados, quase que exclusivamente, para fins de subsistência, pois a maior parte da produção serve para alimentar o agricultor e sua família. Outros, em áreas próximas à centros de comercialização, geram produtos tanto para a subsistência do agricultor como

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para a venda, visando aumentar a renda familiar. Existem também diferenças na estrutura dos quintais, alguns são organizados em canteiros bem delimitados; outros apresentam aspecto desordenado onde as espécies parecem estar misturadas ao acaso. De acordo com Dubois (2008), nas extensas áreas desmatadas do bioma Mata Atlântica, os quintais estão cada vez mais difíceis de serem encontrados e cada vez menores, muitas vezes até ausentes nas propriedades rurais, sendo mais frequentes as hortas familiares enriquecidas com algumas frutíferas perenes. Mesmo na seção setentrional (mais ao norte) da Mata Atlântica, onde os quintais agroflorestais são comparativamente mais frequentes, eles são pequenos e pouco diversificados quanto à sua composição, sendo muito difícil de encontrar quintais com mais de uma dúzia de espécies perenes alimentícias, incluindo frutíferas. Neste sentido, recomenda-se seis linhas de atuação para incentivar os quintais agroflorestais na agricultura familiar, sendo elas: intercâmbios entre agricultores familiares de uma mesma região; parceria com os serviços de extensão rural; criação de quintais nas escolas rurais, podendo contribuir na melhoria da merenda escolar, tendo as crianças oportunidade de aprender como produzir mudas das espécies preferidas e introduzi-las nos quintais agroflorestais, favorecendo a melhoria da alimentação e da saúde nas zonas rurais; capacitação das mulheres do meio rural em beneficiamentos e receitas, possibilitando melhor aproveitamento das espécies alimentícias dos quintais. Cerva viva e Quebra vento São sistemas que se associam a um ou mais sistemas de produção na propriedade, tendo, como finalidade principal, a delimitação de lotes ou proteção contra o vento, ou ambas, associado a outros objetivos secundários, como produção de lenha, madeira, forragem, mel, além dos benefícios ambientais das árvores (ENGEL, 2003). Para Silva (2008), as cercas vivas são linhas de árvores ou arbustos utilizadas com o objetivo de delimitar determinada área, sendo implantadas, basicamente, por estacas grandes que enraízam facilmente. As cercas vivas se destacam pela possibilidade de obtenção de diversos produtos (forragem, lenha, mourões, estacas, adubo etc.); proteção aos cultivos e animais contra o vento; delimitação de áreas de cultivo (café, cacau, laranja etc.). Além disto, apresentam maior durabilidade, se comparados as cercas tradicionais, e praticamente não requerem manutenção, se forem bem manejadas. De acordo com Dubois (2008), as cercas vivas, além de sua finalidade imediata, podem atuar como abrigos para aves que exercem o controle biológico de insetos. Cercas vivas adensadas podem diminuir os efeitos nocivos do vento, além de impedir a passagem de animais e de pessoas.

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Silva (2008) define quebra-ventos como fileiras de árvores plantadas no sentido de cortar a direção dos ventos dominantes, formando barreiras para diminuir a sua velocidade ou modificar sua direção. Quando plantamos árvores para se obter uma cortina florestal, devemos usar espécies de valor econômico para alcançarmos duas finalidades: cortar a velocidade dos ventos e, ao mesmo tempo, ter uma fonte de renda alternativa. Engel (2003) afirma que a escolha das espécies é um ponto fundamental no manejo de cercas vivas e quebra ventos, podendo ser usadas espécies lenhosas, cactáceas, bromeliáceas, ou qualquer espécie que se adapte ao local, mas dando preferência a espécies de crescimento rápido, com flexibilidade da copa e sistema radicular bem desenvolvido, altura elevada, densidade semipermeável da copa, boa capacidade de rebrota, usos múltiplos, e bom conhecimento silvicultural, para que seja possível a elaboração de um plano de manejo pelo produtor em função de seus objetivos. 2.8.

Agrofloresta no Bioma Mata Atlântica

Devido à intensa degradação da Mata Atlântica pelo uso desordenado do solo e sua progressiva ocupação pelas atividades agrícolas, industriais e por núcleos urbanos, a Mata Atlântica é considerada, atualmente, uma das florestas mais ameaçadas de extinção. Segundo a SOS Mata Atlântica (2007), este bioma, originalmente, ocupava cerca de 15 % do território brasileiro, com uma área em torno de 1.2 milhão Km², mas hoje, restam apenas 7% da área original. A Mata Atlântica é constituída por um conjunto de ecossistemas que ocupam faixas de larguras muito variáveis ao longo da região litorânea, abrangendo planaltos e serras do interior do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul (MACIEL, 2007). Devido às suas dimensões, segundo Dubois (2008), a Mata Atlântica é formada por ecossistemas bastante diferenciados entre si, caracterizadas, principalmente, pelas condições locais de clima e relevo. Pela sua elevada biodiversidade e pelo desafio de proporcionar um desenvolvimento economicamente

viável,

ecologicamente

correto

e

socialmente

justo,

é

necessário

o

desenvolvimento de projetos, legislações e de manejo ativo de novos sistemas de produção para proteger a Mata Atlântica ao avanço das atividades antrópicas. Atualmente, no Bioma Mata Atlântica, segundo Dubois (2008), podem-se encontrar sistemas agroflorestais em muitas propriedades agrícolas familiares, sejam eles tradicionais ou não, com o intuito de diversificar a produção e intensificar a renda. Praticamente, é impossível encontrar dois SAFs estritamente iguais, pois cada agricultor implanta e maneja uma ampla variedade de arranjos considerando dois fatores: as características locais de clima, solo e topografia de sua região; e conhecimentos diferenciados diretamente ligados às suas necessidades de segurança 30


alimentar e às demandas do mercado. Grande parte das agroflorestas implantados com o apoio de organizações não governamentais de Assistência Técnica de Extensão Rural seguem os princípios da agroecologia, buscando potencializar a transição de modelos simplificados para modelos com conjuntos de dois ou mais estratos, que são mais complexos em termos de manejo e de estrutura horizontal e vertical, por meios de estratégias participativas e sistêmicas. No Brasil, assim como em muitos países tropicais, encontram-se basicamente duas categorias de sistemas agroflorestais, que, segundo o Manual Agroflorestal para Mata Atlântica (2007), podem ser descritas como: Consórcios Agroflorestais Estáticos São aqueles onde o manejo e outras intervenções realizadas pelo agricultor praticamente não modificam a composição nem a estrutura do consórcio agroflorestal. O sistema cabruca, os cafezais sombreados orgânicos do Ceará e os sistemas silvipastoris se encaixam, de modo geral, nesta categoria. Sistemas Agroflorestais Sucessionais ou Dinâmicos São consórcios manejados com podas periódicas planejadas nos estratos dominante e codominante de sistemas multiestratificados; manutenção e modificações da composição das plantas de cobertura e das espécies perenes comerciais ou adubadoras. Quando um SAF dinâmico apresenta um alto nível de biodiversidade envolvendo espécies florestais nativas ele se aproxima do conceito de sistema agroflorestal regenerativo ou SAFs regenerativos análogos. As espécies cultivadas ou mantidas nas agroflorestas do bioma Mata Atlântica são as mais diversas possíveis, pertencendo, segundo Dubois (2008), pelo menos a um dos seguintes grupos: Espécies prioritárias São as espécies utilizadas para o autoconsumo da família, considerando a segurança e a soberania alimentar da família agricultora, em diversidade e qualidade, e para a geração e apropriação da renda (beneficiamento e comercialização). Para tanto, é indispensável incluir, como componentes, as espécies com capacidade de gerar ingressos no curto, médio e longo prazo, como as espécies anuais, persistentes ou perenes. Espécies de serviço São espécies (preferencialmente perenes ou semiperenes) funcionais na prestação de serviços das espécies florestais ou seus efeitos no sistema produtivo, principalmente em termos de sustentabilidade ambiental, pela conservação de solo e da água, melhoramento da fertilidade e

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aumento das atividades biológicas do solo, melhoria das condições de microclima às plantas e animais e o controle biológico de pragas e doenças. É importante destacar que, mesmo considerando uma divisão de funcionalidade das espécies florestais, na prática isso não ocorre de forma individual ou isolada, mas por meio de uma integração dessas funções, em que as espécies instaladas se complementam para melhor otimização dos serviços prestados, criando uma rede complexa de adaptação natural. Nesta categoria, pode-se também considerar as plantas repelentes que ajudam a controlar determinadas pragas e, eventualmente, as doenças das espécies prioritárias; plantas adubadoras; as plantas indicadoras, em que determinadas espécies de plantas podem ajudar o agricultor (DUBOIS, 2008). Segundo Dubois (2008), no Bioma Mata Atlântica, são dadas preferências às espécies de uso múltiplo, ou seja, quando pertencente aos dois dos grupos citados acima, sendo preferencialmente usadas muitas espécies florestais nativas frutíferas. Além disso, são utilizadas para melhorar a produtividade em sistemas agropecuários, como, por exemplo: a. Implantação de cercas vivas e/ou uso de mourões vivos; b. implantação de quebra-vento e/ou de aceiros arborizados; c. plantio em linha de árvores de crescimento rápido para indicar os limites de uma propriedade rural ou os limites entre suas unidades de produção; d. introdução de faixas arborizadas de proteção (modelo “box”); e. uso de tutor vivo (substituindo a estaca ou vara enterrada no solo para amparar uma planta que requer “apoio”). Dentre os sistemas agroflorestais mais praticados e desenvolvidos no bioma Mata Atlântica, é destacado, pelo Manual Agroflorestal para Mata Atlântica (2007) e por Dubois (2008), o uso tradicional do pousio florestal; quintais agroflorestais familiares; cacauais arborizados ou sistema cabruca; cafezais sombreados; sistema silvibananeiro; SAF de erva-mate; o sistema faxinal; citricultura agroflorestal na região de Montenegro no Rio Grande do Sul; produção de piaçaba em agrofloresta; sistema Taungya e sistema silvipastoris.

2.9.

A importância das Feiras Agroecológicas para o desenvolvimento da

Agrofloresta Nos últimos anos, a forma como são produzidos os alimentos tem ganhado destaque na mídia, pelas matérias divulgadas e por novas pesquisas que abordam a problemática relacionada com a qualidade dos alimentos, em que se destaca a contaminação dos alimentos produzidos em sistemas convencionais brasileiros pelo uso de agrotóxicos. 32


Diante de uma nova perspectiva de informações com maior transparência, Neutzling et al (2010) afirma que o comportamento individual dos consumidores de alimentos vem passando por mudanças, principalmente relacionadas aos aspectos sociais e culturais, que visam a longevidade e qualidade de vida por meio de alimentos mais saudáveis, além da saúde ambiental do planeta. Perante este cenário, é visível a crescente demanda do consumidor por produtos orgânicos com base agroecológica. Segundo dados de Karan et al (2003), em 2001, eram 16 milhões de hectares de terras cultivadas no sistema de produção de alimentos orgânicos no mundo; em 2002, a área era de 17 milhões de hectares e, segundo dados da FAO (2013), em 2009, já ultrapassava 38 milhões de hectares. Em 2004, o mercado mundial de produtos orgânicos movimentou cerca de US$ 26,5 bilhões, desses o Brasil foi responsável por produzir US$ 100 milhões, ou seja, 3,77% do rendimento movimentado mundialmente. O Brasil é considerado o 6º maior em volume de orgânicos no mundo, mas esse volume expressivo representa apenas 1% das vendas mundiais, com registro de US$ 250 milhões em vendas, no ano de 2006. Apesar do crescimento do mercado de cerca em 25% ao ano, o Brasil ocupa o 34º lugar entre os países exportadores de produtos orgânicos (MORO 2007; OLTRAMARI, 2001; BATAGHIN et al, 2012). Esses dados demonstram que o mercado de produtos orgânicos com base agroecológica é bastante expressivo e apresenta-se como uma proposta duradoura e autossustentável, pois ajudam a impulsionar não somente a expansão desses produtos, mas a melhoria das condições de vida dos agricultores familiares, que são, em grande parte, os responsáveis por sua produção. Segundo Darolt (2002), existem basicamente dois tipos de consumidores de produtos orgânicos. O primeiro tipo são os consumidores mais antigos, que estão motivados por estarem mais informados e são exigentes em termos de qualidade biológica do produto. O segundo tipo é o consumidor das grandes redes de supermercados, que por sinal ainda é um público pouco estudado pela literatura. Segundo a Rede de Agricultura Sustentável (2014), o estado de Pernambuco possui a maior concentração de feiras agroecológicas do Brasil, com 39 feiras, sendo 43,6% encontradas em Recife, principalmente na zona Norte da Região Metropolitana; seguidos pelo Rio Grande do sul, com 28 feiras, São Paulo e Sergipe, com 23 feiras cada. SERTA (2014) confirma que o Polo da Agricultura Orgânica de Pernambuco registrou, em 2009, um volume de vendas que chegou a R$ 468.829,80, uma média de R$39.069,15 de produtos comercializados por mês. Segundo Verona et al (2009), no contexto brasileiro, as feiras surgiram como estratégia de divulgação e massificação dos produtos agroecológicos, proporcionando canal perfeito para

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viabilização da proposta agroecológica que, em sua maioria, é baseada em princípios da economia solidária. As feiras constituem um espaço de comercialização, em que os agricultores vendem seus produtos diretamente ao consumidor, fugindo ao esquema usual dos programas comerciais comuns, como os supermercados, sendo uma alternativa que possibilita o aumento do lucro dos feirantes, por não haver interferência de intermediários (SILVA, 2006). Na perspectiva de Schultz (2001), as feiras agroecológicas aproximam os produtores rurais dos consumidores finais, proporcionando, para ambas as partes, trocas de experiências e saberes que estimulam uma nova forma mais ecológica da agricultura. Godoy e Anjos (2007) enfatizam que as feiras são um espaço de comércio com mais honestidade e qualidade, pelo elevado nível de confiança entre os próprios feirantes e os consumidores, resultando em maior vantagem competitiva para ambos, sobretudo pelo aspecto biológico dos alimentos. Desempenham também, um papel fundamental na consolidação econômica e social da agricultura familiar, provocando mudanças e reconversão no setor de pequenos e médios agricultores. De acordo com Maluf (2004), as feiras expressam o cultivo tradicional de uma região, refletem hábitos de consumo peculiares, guardam relação com uma dada base de recursos naturais, preservam as características da produção artesanal. Diante de tanto crescimento e expansão, a comercialização da produção agroecológica, segundo Karan e Zoldan (2003), ainda é considerada difícil, pois atinge um segmento restrito de mercado e específico de consumidores que estão dispostos a pagar preços mais elevados pelos produtos ofertados. Para manter a feira dentro da cultura de consumo da população, a agricultura familiar precisa proporcionar alta diversidade de produtos com disponibilidade constante. Para isso, é necessário incorporar na propriedade atividades que estejam ligadas a um modo de produção sustentável. Para isso, os Sistemas Agroflorestais apresentam grande potencial para a implementação de estratégias voltadas para um desenvolvimento sustentável, tanto que se podem encontrar componentes agroflorestais na grande maioria das propriedades agrícolas familiares, principalmente nas pequenas propriedades.

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3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1.

Caracterização da Área de Estudo

A pesquisa foi realizada na propriedade do seu Jones Severino Pereira e dona Lenir Pereira, denominada Sítio São João, na comunidade Inhamã que fica localizada no município de Abreu e Lima, Região Metropolitana do Recife. Segundo o CPRM (2005), o município limita-se ao norte com os municípios de Igarassu e Araçoiaba; ao sul, com os municípios de Paulista e Paudalho; a leste, com Paulista e, a oeste, com os municípios de Paudalho e Tracunhaém, como representado na Figura 1.

Figura 1

Localização do município de Abreu e Lima, Zona da Mata Norte de Pernambuco, onde se situa a comunidade rural de Inhamã. Fonte: Cordeiro, 2008.

A escolha da propriedade para o estudo foi devido sua referência regional na agrofloresta, existindo parceria entre a universidade e a família que administra o espaço; e, por ser próxima de Recife, facilitando o deslocamento para as visitas e coleta dos dados. A comunidade Inhamã está situada a poucos quilômetros do centro de Abreu e Lima e do município de Igarassu, que, segundo Cordeiro (2008), ocupa uma área de aproximadamente 157.800 ha e é constituída por parcelas de assentamentos rurais em área circundada por antigas e históricas propriedades. Por situar-se muito próxima à capital, a urbanização tem sido acelerada, assim como o processo de êxodo rural, devido às poucas oportunidades de empregos nas atividades de prestação de serviços em indústrias e empresas. De acordo com o censo IBGE (2010) e Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013), Abreu e Lima tem área territorial de 126,193 km², com uma população residente total de 94.429 habitantes, com estimativa, para o ano 2013, de 97.786 habitantes, sendo que 86.625 pessoas 35


(91,74%) habitam na zona urbana e 7.804 pessoas (8,26%) residem na zona rural, resultando numa densidade demográfica de 748,29 hab/km2. O clima da região é do tipo Tropical chuvoso com verão seco. Os solos, de modo geral, são profundos e de baixa fertilidade natural. A vegetação original é predominantemente do tipo Floresta subperenifólia com partes de Floresta subcaducifólia e cerrado/ floresta, que se encontram reduzida a fragmentos de menos de 20 ha, intercalados por roçados e as áreas ocupadas por edificações (CORDEIRO, 2008; CPRM, 2005). Segundo o CPRM (2005), os principais setores de atividades econômicas formais no município são: indústria de transformação, serviços industrializados de utilidade pública, construção civil, comércio e serviços, agropecuária, extração vegetal, caça e pesca. Cordeiro (2008) enfatiza que a cidade possui comércio variado e parque industrial aquecido devido à urbanização crescente, tendo como principal atividade a prestação de serviços. Em contrapartida, a agricultura familiar tradicional ainda é a única fonte de renda e sobrevivência de muitos moradores rurais que cultivam frutas e verduras, além de pequenas criações de suínos, bovinos e aves. Todos esses produtos são comercializados em grande parte na feira livre da cidade e também de cidades vizinhas. 3.2.

Coleta e Analise de Dados

Para o desenvolvimento desta pesquisa, primeiramente, fez-se a escolha do tema e área a ser estudada. A seguir, realizou-se revisão bibliográfica para a apropriação e aprofundamento dos conhecimentos relacionados ao tema, para se ter subsídios literários e técnicos. Então, realizou-se visitas a campo, observações in loco e registros fotográficos para a coleta de dados da atual situação de produção de produtos florestais de um quintal agroflorestal. No final, estudou-se os meios de sua comercialização, em particular na feira agroecológica das Graças. Ambos foram feitos usando Diagnóstico Rápido Participativo por meio de Metodologias Participativas e questionários. Para analisar os dados coletados e atingir os objetivos propostos desta pesquisa foi utilizado a abordagem metodológica qualitativa e o método de análise descritiva, sendo primeiramente transcrito todo o áudio das entrevistas. A pesquisa qualitativa não procura medir e quantificar os eventos estudados, e não emprega instrumental estatístico na análise dos dados, pois não se preocupa com a representatividade numérica, mas sim com o aprofundamento da compreensão do tema abordado, buscando explicar o porquê das coisas e o que convém a ser feito. A pesquisa envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos, pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos da situação em estudo (GOLDENBERG, 1999; SILVA, 2010; GERHARDT & SILVEIRA, 2009). 36


A analise descritiva é aquela com que o pesquisador observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos sem o objetivo de comprovar ou refutar hipóteses exploratórias, a partir de técnicas padronizadas de coleta de dados, como questionário e observação sistemática. A pesquisa busca a enumeração e ordenação dos dados, visando o conhecimento do comportamento e descrever as características de determinada população, fenômeno ou o estabelecimento de relações entre as variáveis (ALYRIO, 2008; ALMEIDA, et al, 2009; GIL, 1986). Para a análise descritiva, as variáveis investigadas foram tabuladas e os dados obtidos analisados com auxílio de gráficos, de acordo com as porcentagens referentes às perguntas formuladas e ao número de entrevistados durante a realização da pesquisa. 3.3.

Diagnóstico Rápido Participativo (DRP)

O Diagnóstico Rápido Participativo foi realizado no Sítio São João, utilizando metodologias participativas e questionários na propriedade familiar, como forma de obter dados visando à caracterização de sua propriedade, como também proporcionar uma reflexão das atividades realizadas, em busca de soluções dos problemas identificados; na Feira Agroecológica das Graças foram realizadas entrevistas com os consumidores para o estudo do seu perfil. O Diagnostico Rápido Participativo (DRP) segundo Amâncio et al (2005), foi criado para sanar problemas graves nas áreas de pesquisa e de difusão de tecnologias agrícolas, em que desníveis socioculturais impossibilitam a relação adequada entre produção científica e saber-fazer dos agricultores, ou seja, pode ser considerado como o conjunto de técnicas e ferramentas que permite com que as comunidades façam o seu próprio diagnóstico e autogerenciem seu planejamento e desenvolvimento A decisão pela utilização do DRP na pesquisa foi pelas seguintes características (FREUDENBERGER, 1994; VERDEJO, 2006): a) ser participativo; b) ter rapidez e agilidade; c) ter baixo custo operacional; d) respeitar a sabedoria e a cultura do grupo; e) analisar a comunidade ou propriedade; f) analisar e entender as diferentes percepções;

g) proporcionar visualização

imediata dos assuntos tratados. Além disso, o Diagnóstico Rápido Participativo auxilia na obtenção de informações mais próximas da realidade, pois, segundo Whiteside (1994), interage diretamente com os produtores num processo de comunicação participativa. Essa participação é possível pelas técnicas ou ferramentas específicas que compõem esta metodologia, pois, segundo Amâncio et al (2005), permite obtenção de informações críticas, representativas e balizadas pelos pontos de vista dos participantes, expostos no momento da pesquisa através de dinâmicas, o que evita o desinteresse ou o discurso previamente elaborado pelo público alvo. 37


Diagnóstico Participativo do Sítio São João Foi utilizado Questionário Semi Estruturado aos proprietários do sistema agroflorestal investigado, sendo toda a entrevista gravada, para obter, de forma geral, informações sobre suas atividades agroflorestais, a partir de um roteiro organizado em seis blocos de aspecto a serem abordados, como: histórico e caracterização da propriedade; composição da família e força de trabalho; sistema de produção, beneficiamento e comercialização; situação econômica da unidade familiar; recursos naturais e práticas agroflorestais; perspectivas futuras (ANEXO A). Ao todo, foram feitas duas visitas no sítio, nas datas 16 e 30 de junho, resultando em 5 horas de gravações. Para enriquecer os dados, foram realizadas três metodologias participativas com os proprietários, com o uso de cartolinas e registro fotográfico, como o Mapa Falado da Propriedade, em que se mostra todos os detalhes produtivos e de infraestrutura social da propriedade; o Fluxograma comercial, que é um diagrama que expõe todos os fluxos comerciais, permitindo uma análise da eficiência, as debilidades e os potenciais comerciais da propriedade; e a Árvore de encadeamento lógico, que analisa a relação causa-efeito de vários aspectos de um problema previamente determinado, com a intenção de identificar e analisar um problema, tendo por finalidade estabelecer as causas primárias em busca de soluções. Caracterização do Espaço Agroecológico do Bairro das Graças Na perspectiva de conhecer as preferências e expectativas dos consumidores que frequentam o Espaço Agroecológico das Graças em Recife, fez-se o estudo do perfil do consumidor, como uma importante estratégia de acompanhar as mudanças de mercado e de comportamento da população. Nesta Feira, foi realizada a Entrevista Estruturada direcionada ao consumidor nas datas 14 a 21 de junho, até atingir uma amostragem aleatória de, no mínimo, 40 entrevistados. Ao todo, foram entrevistados quarenta e sete consumidores, em que foram respondidos uma série de perguntas preestabelecidas, dentro de um conjunto limitado de categorias com respectivas respostas, afim de obter informação quantificável para estabelecer frequências que permitam um tratamento descritivo posterior. Os aspectos abordados sobre o perfil do consumidor foram: gênero; bairro; grau de instrução; área de trabalho; faixa etária; nível de renda; frequência e disponibilidade de compras na feira; produtos comprados; motivos de frequentar esta feira; forma como conheceu a feira; valor mensal gasto em produtos agroecológicos/ agroflorestais; possíveis fatores que dificultam o consumo desses alimentos; disposição de pagar preço maior por esses alimentos (ANEXO B).

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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES São apresentados neste trabalho os dados coletados de forma qualitativa e descritiva da pesquisa em dois momentos seguidos da análise dos mesmos atendendo aos objetivos do estudo. No primeiro momento, serão apresentados os dados coletados no Sítio São João, com o auxílio de gravações através do roteiro da entrevista semi estruturada, sendo complementada pelos dados observados pelas metodologias participativas. No segundo momento, serão apresentados os dados coletados na Feira Agroecológica das Graças sobre o perfil dos consumidores, assim como, o histórico e caracterização da feira. 4.1.

Caracterização Agroflorestal no Sítio São João

A. Histórico e Caracterização da Propriedade A comunidade Inhamã onde o sítio é localizado existe a mais de 80 anos, o qual pertencia ao grupo empresarial Lundgren. Naquela época, as pessoas que moravam e trabalhavam na região pagavam uma espécie de imposto anual para produzir nos moldes da agricultura convencional, o milho, macaxeira, batata doce e principalmente a mandioca, para a subsistência familiar. Existiam também na região três casas de farinha, que funcionavam com a produção de mandioca dos trabalhadores que ali viviam. Para a conquista da terra se envolveram alguns sindicatos, teve a atuação da igreja, com o apoio de Dom Helder Câmara, Adolfo Pérez Esquivel, que na época era o prêmio Nobel da paz, e a Pastoral da Terra. Depois de muita luta e esforço, o INCRA desapropriou as terras do grupo empresarial, dividindo em aproximadamente 50 parcelas de 3 há, distribuídas as famílias que moravam nos municípios de Abreu e Lima e Igarassu. Devido à plantação exaustiva pelo sistema de produção em monocultivo, o solo ficou improdutivo, somente produzindo com a utilização de adubação, que geralmente era esterco de galinha ou adubo químico ou os dois juntos. Outra problemática era a qualidade e quantidade dos alimentos produzidos, pois nem supria a necessidade da própria família, formando um ciclo vicioso em que, para produzir, precisava-se de adubação e, para ter a adubação, precisava-se de dinheiro e, para ter dinheiro, tinha que ter produção. Seu Jones até comenta “se plantava por plantar, mas o resultado bom não se tinha para cultura anuais, e as culturas permanentes a produção era quase que nada”. Em 1988, seu Jones participou do curso de apicultura promovido pela Educater, Projeto de Tecnologia Alternativa (PTA) e Associação Menonita de Assistência Social (AMAS), voltando do curso, como ele mesmo diz, “com a cabeça cheia de ideias e duas colmeias vazias para começar a 39


criar abelha”. Ainda no mesmo ano, seu Jones conseguiu juntar um grupo de quatro famílias que viram nas abelhas oportunidade de conseguir um ótimo alimento para compor sua mesa e uma forma de renda, pois, com a venda do mel excedente, conseguia-se cobrir sua própria despesa e ainda ajudava na renda familiar. Com a participação em vários cursos de apicultura, sua família foi adquirindo muita experiência neste assunto, se tornando um referencial na região, tanto que, segundo Lima et al (2012), formaram o Nectarmel, grupo de apicultura que, em pouco tempo, conseguiu um bom número de colmeias e uma boa produção. Entretanto, enquanto sua família tinha sucesso na apicultura, a agricultura se encontrava numa situação complicada. Por isso, em todas as reuniões de avaliação e planejamento da apicultura com a presença dos técnicos do PTA (que depois se institucionalizou tornando-se o atual Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá), tinham uma cobrança dos proprietários com relação a alguma prática na agricultura. Em 1993, o Centro Sabiá fez uma reunião com todas as quatro famílias participantes, com o propósito de decidir o que fazer na propriedade em relação à agricultura, visando um planejamento de ação para o ano seguinte. Em 1994, foi realizado um diagnóstico somente na propriedade de seu Jones e dona Lenir, pois foi à única família que permaneceu no projeto, para saber as causas da improdutividade. Neste mesmo período, o Centro Sabiá foi convidado para participar de um seminário de Agroecologia no Ceará, tendo como instrutor o suíço Ernest Gousht, que trabalhava a mais de 10 anos com agrofloresta no sul da Bahia, sendo este seminário o estopim para o convite e a primeira experiência do Centro Sabiá no desenvolvimento de uma agrofloresta. Antes de começar o sistema agroflorestal, na propriedade existia um bananal e um coqueiral totalmente improdutivo, alguns pés de jaca, manga, abacate e solo completamente degradado. Para o desenvolvimento da agrofloresta, segundo seu Jones “foi arrancado todo o bananal, picotado e distribuído na terra, feito poucas podas e o plantio de mudas de abacaxi, mamão, banana, sementes de Leucena e chamamos isso de agrofloresta”. Ainda em 1994, seu Jones participou de um seminário de agrofloresta em Bom Jardim no Agreste de Pernambuco. Com os novos conhecimentos adquiridos no seminário, após três meses de implantação, foi realizada uma avaliação do sistema e reconheceram que tinham cometidos alguns erros, tanto que afirma “nos três primeiros anos da experiência errou mais do que acertou, não tendo resultado”. Em 1997, foi realizada uma nova avaliação e planejamento para o próximo ano, com metas e distribuição de tarefas, tanto para a família (incluindo os filhos) quanto à instituição que assessora a propriedade. A partir daí, no final de 1998, após uma nova avaliação, percebeu-se que, em um único ano, houve mais avanço que nos três primeiros anos. Mesmo com este avanço, somente teve o apoio 40


do Centro Sabiá, tanto que fala “os vizinhos passava aqui muitas vezes, afastava a cerca olhava e dizia esse camarada endoido, como é que pode plantar pé de árvore dentro do roçado desse jeito aí, tudo cheio de mato”. Com a família não foi diferente, ele fala o que os irmãos pensavam e transparecia “esse camarada só quer estar envolvido com o pessoal do Sabiá e o sítio se enchendo de mato”. Segundo seu Jones, todo o conhecimento adquirido nesta primeira experiência agroflorestal foi aprendido na prática, como ele mesmo diz “apreendendo fazendo”, sendo um aprendizado de via dupla, tanto para a família quanto para o Sabiá, da plantação de mudas às podas para o manejo do sistema. Isso se deu devido ao escasso conteúdo da agroecologia na época, aliado à facilidade de acesso a sua propriedade, e a pretensão de fazer o Sítio São João como referência agroecológica. Dentre os avanços da agrofloresta, podem-se destacar as mudanças na qualidade e quantidade das frutas que eram produzidos na propriedade, proporcionando melhoria na qualidade de vida familiar, principalmente no equilíbrio do solo, como demostrado na Figura 2.

(A

Figura 2.

(B

Melhoria do solo devido a implantação do sistema agroflorestal no Sítio São João. (A) Solo da área testemunha demonstrando como se encontrava antes do sistema agroflorestal; (B) Aspecto atual do solo alguns anos após a implantação do sistema agroflorestal.

Também é considerado um avanço a decisão dos filhos em se formar técnico agrícola, além da mudança em sua vida como ele fala “eu jamais imaginava que aquele canto de terra começando com aquelas atividades acanhada chegava ao ponto de hoje. No passado eu que tinha vergonha de

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falar que era agricultor hoje eu sinto prazer e faço questão de dizer que defendo esta proposta de trabalho, e isso a moeda não paga”. Para complementar as informações da propriedade, foi uilizado o mapa falado (Figura 3), para auxiliar nas informações exploratórias, com o bjetivo de discutir e analisar todas as informações da propriedade numa visão espacial do local; obter informações gerais da realidade; conhecer a percepção do bem-estar da família; identificar a infraestrutura da propriedade, de um modo geral, pela localização dos recursos naturais, e estratificação de ambientes.

Figura 3.

Mapa falado utilizado para caracterizar a propriedade do Sítio São João

O sítio São João, como seu Jones chama, é “sítio de herdeiros”, em que cada família deixa uma parte para seus filhos e netos. Quando seus pais faleceram, a propriedade de 3 ha foi dividida entre os cinco irmãos, ficando a maior parte com ele, aproximadamente 1 ha, por ter se dedicado mais ao seu pai doente. De modo geral, sua propriedade é distinta em duas áreas, a de chão, com pequenos declives, e a parte da várzea, que é alagada. Anexo à casa, existe uma área de serviço, que dona Lenir utiliza para lavar a roupa da família, assar os produtos e sub-produtos que são beneficiados no forno e fogão a lenha, e deposito de lenha e cinza a ser posteriormente utilizado.

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Neste quintal estão presentes também algumas árvores como a Ubaia, Pau-Brasil, Pitombeira, Carambola, Mangueira e Seringuela. Além disso, existem 3 caixas de colméias espalhadas na propriedade, sendo duas de abelhas Italiana e uma da abelha Uruçu. Ao lado esquerdo da casa, encontra-se uma área utilizada como sementeira para a produção de mudas frutíferas e plantas ornamentais em conjunto com a agrofloresta, tanto para a venda nas feiras como para a plantação das especies direcionadas para a manutenção do sistema agroflorestal. Ao lado direito da propriedade, encontra-se a área da varzea. Esta área é alagada por estar ao lado do rio Inhamõ, que faz divisa entre os municipios Abreu e Lima e Igarassu. Nesta área, encontra-se o açaizal e algumas outras espécies frutíferas como a jaqueira, mangueira, caja, fruta pão, pupunha e o cacau. B. Composição da Família e Força de Trabalho Seu Jones nasceu em 1959, em Abreu e Lima e dona Lenir nasceu em 1960, na Paraíba. Sua família é composta por uma filha, um filho e quatro netos. A filha Verônica, nascida em 1982, é técnica agrícola formada no CODAI e geografa formada na UFPE. Atualmente é professora em duas escolas, em São Lourenço da Mata e Camaragibe, e esta se organizando para morar na propriedade até ao final deste ano com seu marido e seus dois filhos, para lecionar nas escolas próximas da comunidade O filho Juvenal, nascido em 1981, também é técnico agrícola formado no CODAI e esta finalizando o curso de Biologia a distância pela UFPE. Mora na propriedade com sua mulher e um casal de filho e trabalha dando acessoria em organizações não governamentais. Com relação a força de trabalho, no começo do desenvolvimento do sistema, havia mais envolvimento dos filhos, que hoje està reduzido por estarem casados, com filhos e trabalhando fora da propriedade. Quando questionado sobre o interesse dos filhos em continuar na propriedade e nas atividades do sistemas agroflorestal, seu Jones comenta que, até o momento, os filhos não demostraram interesse, tendo como argunto que eles são jovens e estão interessados em consolidar primeiramente sua carreira profissional. Para dona Lenir, os filhos num futuro próximo, vão participar ativamente do sistema agroflorestal nos dois sítios. C. Sistema de Produção, Beneficiamento e Comercialização Atualmente a família possui duas propriedades, o Sítio São João, localizado em Abreu e Lima, em que são encontrados os produtos florestais, as plantas medicinais, as plantas ornamentais e as plantas nativas; e o Sítio das Abelhas, localizado no Assentamento Pitanga I, na àrea III, na

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parcela II, onde esta se instalando um novo sistema agroflorestal. Nos dois sítios também são encontrados produtos apícolas com boa produção de mel. Na propriedade familiar, de forma geral, existe uma divisão de tarefas, em que seu Jones é responsavel pela manutenção das duas propriedades e dona Lenir pelo beneficiamento e comercialização dos produtos oriundos dos sistemas agroflorestais no Espaço Agroecológico das Graças e de Boa Viagem, por encomendas, como aniversários, festas e eventos; ONG´s e nos intercâmbios na propriedade, como demostrado na Figura 4.

Figura 4.

Fluxograma comercial apresentando os principais tipos de produtos vendidos e locais onde são comercializados

Seu Jones despende seu tempo de trabalho nas atividades de produção, manejando o sistema agroflorestal das duas propriedade ou se ocupando com intercâmbios em sua propriedade ou viajando para dar apoio em outras propriedades. Quando trabalha em sua propriedade, seu Jones se dedica, em média, 8 horas por dia no manejo de seu sistema agroflorestal, em que as principais atividades são as podas em prol do produto priorizado para a produção, capina, colheita de frutos e sementes, e plantio diversificado das espécies de interesse quando há espaço no sistema. O papel de dona Lenir é muito importante, pois, além das tarefas domésticas, como cozinhar, arrumar a casa e dar apoio na criação dos netos, ela é responsavel pelo trabalho de

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beneficiamento e comercialização de toda a produção advinda do sistema agroflorestal. Para dar conta de todos os produtos beneficiados, existe a ajuda de sua nora Yara e mais duas pessoas da comunidade como mão de obra temporária, e na comercialização recebe apoio do filho Juvenal. As atividades de dona Lenir contribui para o avanço da variedade dos produtos comercializados, em que o beneficiamento agrega diversidade, durabilidade e valor aos produtos. Esta afirmação esta de acordo com May (2008), para quem a comercialização de produtos beneficiados oferece vantagens, já que os produtos beneficiados são menos perecíveis, podendo ser armazenados e vendidos num período mais atrativo ou quando aparece um comprador oferecendo um preço mais justo. Quanto ao genero, é percebido que existe uma divisão de trabalho entre dona Lenir e seu Jones, mas não de forma machista e patriarcal, mas sim como ele mesmo chama “um dom natural”, em que ele tem mais experiência em produzir no campo e ela tem experiência em transformar os produtos. Uma coisa importante que ele enfatizou foi a importância da presença dos dois unidos no trabalho da propriedade, tanto que ele fala “a agricultura familiar é a família se envolvendo”. Seu Jones enfatizou o quanto é importante ter a diversidade de plantas com uma grande variedade de produtos e sub-produtos no sistema, pois mesmo que não esteja na safra de um determinado fruto, sempre tem algo para levar à família. Um exemplo claro foi o da banana, que, segundo ele, “se tiro um cacho de banana, se for depender de mim como agricultor, vou esperar amadurecer e comer no café da manhã, mas, se chegar na mão de Lenir ela pode transformar em doce em calda, doce em corte, doce pastoso, chips de banana, barra de banana, num bolo de banana e numa passa de banana, só ai já são sete formas diferente com um só produto”. Fica também claro a importância da durabilidade à agregação de valores nos produtos, como ele exemplifica “uma coisa é tirar o cacho de banana para comer essa semana e na próxima semana esta podre, mas se ela transforma em doce em calda tenho 6 meses de durabilidade. Outra importante é o valor, pois uma palma de banana na feira custa em média 2 reais e ciquenta centavos, dependendo da banana, e, se transforma em doce uma palma de banana por 12 reais”. De acordo com Andrade (2009) e EcoDebate (2010), no inicio do sistema o Sítio São João tirava 500 cocos dos mesmos 40 pés que antes davam no máximo 70. Hoje se produz 13 mil quilos de alimentos garantidos por mais de 75 espécies de plantas, representadas por 17.780 especímes, em que 739 plantas estão produzindo e 2.280 plantas ainda tem o potencial de produção. Estima-se a retirada de 40 metros cúbicos de madeira por ano, resultantes de podas para o manejo do sistema, madeira esta que, segundo ele, “abastece o forno que cozinha os produtos que se beneficia, e ainda tem a cinza que agente colhe e coloca tanto na sementeira quanto em algumas plantas, por ser rico em potássio”. 45


Todos os produtos florestais e apículas das duas propriedades da família seguem uma ordem de consumo, tudo que se produz primeiramente garante a subsistência da família, e o que excede vai para o beneficiamento para consequente comercialização e venda, como apresentados na Tabela 2. Tabela 2.

Principais produtos consumidos e comercializados na propriedade do Sítio São João Espécies

Nome vulgar

Destino

Produtos e Beneficiamento

Nome científico

Açai

Euterpe oleracea

V; C

Polpa; Geleia; Suco; Licor

Abacate

Persea americana

V; C

In natura

Acerola

Malpighia emarginata

Abacaxi

Ananas comosus L.

C V; C

Merril Abiu

Pouteria caimito

Banana

Musa spp

In natura e Suco Doce em calda; Licor; In natura

C V; C

In natura Bolo; Doce em calda; Doce em corte; Doce cremoso; Farinha Chips; Barra; Passa

Batata doce

Ipomoea batatas

C

In natura

Cacau

Theobroma cacao L.

C

Polpa e Amendoas

Caju

Anacardium occidentale

V; C

Mel; Carne; ; Passa; Doce; Castanha

Coco

Cocos nucifera L.

C

Picole; Papa; Cangica

Carambola

Averrhoa carambola L.

V; C

Suco; Passa; In natura

Capim Santo

Cymbopogon citratus

V; C

Suco

D.C. Stapf Dendê

Elaeis guineensis Jacq.

C

Manteiga; Azeite; Oleo

Fruta pão

Artocarpus altilis

C

In natura

Jaca

Artocarpus beterophyllus

V; C

Lam.

Doce em calda; Doce cremoso; Carne de jaca para pasteis, hamburguer e bolinho salgado; In natura,

Jenipapo

Genipa americana L.

V

Jambu

Acmella oleracea

Juazeiro

Ziziphus joazeiro Mart

V

Pó para pasta de dente

Laranja

Citrus sinensis L.

C

In natura

V; C

Licor e Lambedor In natura

Osbeck.

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Limão

Citrus Limonium

C

Manga

Mangifera indica L.

V; C

Doce cremoso e In natura

Maracujá

Passiflora edulis Sims

V; C

Suco; Licor; Geleia

Macaxeira

Manihot esculenta Crantz

V; C

Bolo e Pão

Mamão

Carica papaya L

V; C

In natura e Doce em calda

Pupunha

Bactris gasipaes Kunth

C

Cuscuz; Broa; In natura

Pitanga

Eugenia uniflora. L

C

In natura e Suco

Ubaia

Eugenia uvalha

V; C

In natura

Suco; Geleia; Licor

V = venda C= consumo Seu Jones classifica as plantas de acordo com a funcionalidade para sua familia e no sistema agroflorestal, como: as adubadoras, que servem para a manutenção do sistema e manter o equilibrio nutrional do solo; cultura de produção, representada pelas culturas permanentes, de ciclo médio e curto como a macaxeira; produção de espécies arboreas, que produz alimento para sua família e venda, que na sua maioria são as frutiferas como manga espada, acerola, sapoti, seringuela; de proteção contra vento e intemperies; especies para a produção de mudas de plantas frutiferas, como açai, pupunha, ubaia e abacaxi, e as plantas ornamentais, como begônia e palmeiras; ervas medicinais, como hortelã grauda, chambá, colônia e capim santo; plantas nativas, que servem para fornecer lenha e manutenção de forma geral da fauna que interfere indiretamente na agrofloresta, destacando-se pau-brasil, pau-d´arco, ipê, munguba, cupiúba, arueira, ingai, juazeiro e dendê; e os produtos apícolas, como mel com propolis e pomada com propolis. O transporte dos produtos para comercialização nas feiras é realizado pelo carro da família adaptado com reboque. Os produtos comercializados, na maioria, são oriundos das árvores frutíferas em grande variedade in natura e respectivos produtos, como bolos, doces, pães, pasteis, geléias, licores, mel, extrato de própolis, suco, polpa e farinha (Figura 5). Cada produto tem um tempo mínimo de validade, estes podem ser de curta data de validade, como bolos, pães e pasteis, que são produzidos na sexta-feira para serem comercializados no sábado ou produtos de durabilidade maior, que são produzidos de segunda a quarta, como polpa de fruta, geléia, licor e doces. A escolha das espécies a serem plantadas e cultivadas no sistema, segundo seu Jones, é feita de duas formas, primeiro se faz uma avaliação das condições ambientais da área para saber o que pode-se plantar, depois se faz uma lista de possíveis produtos. Toda avaliação é feita pelas plantas indicadoras, como ele mesmo diz “tem aqueles vegetais indicadoras de solo fertil, de solo intermediário e solo fraco, com isso eu já vou saber quais são as culturas que vão se adaptar

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aqueles tipos de solo”. Com essas informações, a lista apresenta as espécies priorizadas para abastecer as necessidades de sua família e para abastecer a demanda do mercado.

Figura 5.

Barraca da família em estudo, onde são comercializados os produtos do sistema agroflorestal no Espaço Agroecológico das Graças, em Recife.

A principail fonte de renda da família é proveniente do açai, que, segundo seu Jones, é encontrada em abundância, com produtividade de 8 a 10 sacos por semana (60 a 100 kg de polpa), garantindo uma boa renda à família. A dona Lenir destaca a jaca verde, com uma produtividade semanal entre 20 a 30 frutos, sendo muito utilizada como carne nos pasteis vendidos na feira e, estando madura, é feito o doce ou vendida in natura, mas enfatiza que precisam encontrar outras formas de beneficiamento para evitar seu desperdicio, devido a grande quantidade produzida. Outros produtos destacados são a banana, com produtividade de 150 cachos por mês; o cacau, que tem papel importante na subsistência da família, sendo encontrados na propriedade em torno de 200 pés; o abacate, que, além do consumo próprio é muito procurado e vendido in natura nos Espaços Agroecológicos; o jenipapo, pelos licores e lambedores; a manga maranhão, de grande procura, principalmente quando esta na safra; o caju, é muito procurado e apreciado, pois tudo dele se aproveita, mas, segundo seu Jones, na região a produtividade esta decaindo, atendendo somente o consumo familiar. 48


Para conhecer as problemáticas, tanto na propriedade quanto nas feiras, que dificultam o desenvolvimento do sistema e, consequentemente, a comercialização dos produtos, foi realizada por metodologia participativa a árvore de encadeamento lógico. Um problema destacado é a variedade de produtos, devido ao insuficiente manejo do sistema por causa da pequena oferta de mão de obra. Esta deve ser capacitada por atuar num sistema diferenciado e monitorado, pois muitos estão interessados só no dinheiro e fazem um trabalho incompatível com o sistema. O manejo mais intenso e apropriado, resulta na redução da produtividade, e, consequentemente produtos insuficientes para atender a demanda dos clientes. Outra

problemática apontada é a falta de planejamento coletivo e individual dos

agricultores, o que pode ter o efeito de encarecer ou baratear os produtos. A dificuldade de seguir um planejamento de produção, segundo Darolt (2002), está relacionada a um conjunto de fatores, como a falta de organização dos pequenos agricultores, a falta de treinamento na área gerencial, a falta de estrutura para lidar com o clima e o desconhecimento técnico-agronômico. O horário da feira pode resultar na perda de interesse do cliente em frequentar a feira e a falta de local apropriado para guardar o material da feira, também foram apontados como problemas enfrentados pelos feirantes. Seu Jones destaca dois aspectos importantes como soluções, um deles é o envolvimento de toda a família nas atividades com maior compromisso e responsabilidade, pois ele mesmo diz, “cada um com seu dom e talento se envolvendo ou na questão da produção ou no processamento, ou na comercialização, distribuindo as tarefas e isso se organiza no planejamento”. Outro é o planejamento anual das atividades, para adequar à cultura no periodo correto, resultando em uma variedade de culturas e disponibilidade de produtos. Em suas palavras “o planejameno é super importante e indispensável para o avanço do sistema”. Outras soluções destacadas são a realização dos multirões de agricultores para o trabalho e a troca de conheimento na forma de produção; melhorar a infraestrutura da feira, pelo maior apoio da prefeitura e decisões nas assembleias, além do incentivo para a criação de novas feiras no bairros em que não existem, para atender uma demanda crescente de pessoas com mais sensibilidade sobre a temática. D.

Situação Econômica da Unidade Familiar

A renda da família, em sua maioria, é proveniente da comercialização dos produtos nos Espaços Agroecologicos, somada com os intercâmbios, aposentadorias e eventos em que participam. Os intercâmbios tem um importante papel na renda da familia, devido a dedicação e

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atenção da família à visitantes às suas atividades na propriedade, por meio de um acordo entre sua família e o Centro Sabiá de cobrar uma taxa de R$ 20 reais por hora. Os intercâmbios são feitos com universidades, como UFPE e UFRPE, escolas técnicas, ONG´s, orgãos governamentais, funcionários do estado, de outros países como do Haiti e, dos estágios. Além de conhecer o histórico da propriedade e seu sistema agroflorestal, fica a critério do grupo a adição de um almoço agroecológico cozinhado por dona Lenir durante a visita, com o preço de R$ 15 reais por pessoa. Toda comida é proveniente do próprio sítio, como a famosa carne de jaca, os sucos das polpas produzidas no sítio e sobremesa como os doces. Segundo seu Jones, os intercâmbios são também um avanço da agrofloresta, pois, desde 1999,

mais de 5 mil pessoas já passaram em sua propriedade. Para ele, as visitas em sua

propriedade de outros países e regiões do Brasil, são motivo de comemoração, pois, “me sinto muito feliz por poder estar contribuindo com esse projeto de vida, porque tudo isso é em prol da vida de um modo geral, vegetal, animal e humana sobre tudo, por ser a vida mais beneficiada com tudo e pelo próprio projeto de Deus”. Segundo Lima et al (2012), o sucesso do agroecoturismo na propriedade de seu Jones e dona Lenir é uma realidade. Na área correspondente à agrofloresta, são conduzidos trilhas ecológicas visando a sensibilização ambiental, e o entretenimento dos visitantes, mesmo que estes tenham um propósito educacional. Com isto, os aspectos da cultura e dos costumes tradicionais da família mantêm-se vivos, o que representa um fator de extrema atratividade para o turista que busca o meio rural. As viagens para outras propriedades é fruto de seu trabalho como sócio e diretor presidente do Centro Sábia, que requerem tempo de participação em assembleias e apoio a outros agricultores que estão no início da agrofloresta. Este cargo se deve ao estatuto do Centro Sabiá, em que a diretoria é formado por agricultores que estão mais envolvidos nos trabalhos e em defesa do sistema agroecológico. Tudo o que é produzido nas duas propriedades é consumido pela família, produtos que não estão no sistema são comprado na propria feira ou trocados por outros produtos também na feira Os alimentos como a carne, arroz e feijão são comprados nos supermercados, sendo gasto por semana em torno de R$ 100 reais. Quando sobram produtos pereciveis na comercialização da feira, estes são trocados entre os feirantes ou distribuidos para famílias na comunidade que não os possuem e os que tem maior validade voltam a feira até serem vendidos. Com relação a produtividade do sistema, dona Lenir confirma que a atual situação do sistema agroflorestal não é suficientemente grande e produtivo para a familia. Já seu Jones afirma que está satisfeito com a produção da propriedade. Dona Lenir ainda fala que, para ela, “o sistema 50


agroflorestal ainda é a maior fonte, maior produção e trabalho para uma familia agricultor viver. Quando se junta todo mundo para produzir e plantar com a nossa mãe natureza que oferece e dá tudo para trabalhar e viver é o suficiente, mas é preciso que tenha manejo”. O Centro Sabiá fez uma pesquisa sobre a renda famíliar proveniente das atividades do sistema agroflorestal, permitindo comparar a evolução da renda familiar em 4 anos. No período de 1998 e 1999, a família de seu Jones tinha uma renda mensal de R$ 573,50, passando para R$ 1.291,00 em 2003, representando crescimento de 125% em sua renda mensal (SABIÁ, 2006). Segundo seu Jones, na epoca da pesquisa, recebia-se em torno de 4 a 5 salarios minimos, hoje ele mesmo afirma que deve-se conseguir entre 5 a 7 salários minimos. O aumento de renda é um dos principais avanços do trabalho com a agrofloresta e a comercialização nos espaços agroecológicos, proporcionando maior estabilidade econômica e conforto à família. A renda adicional é usada para investir no processo produtivo e na geração de novos produtos, por beneficiamento. E. Recursos naturais e práticas agroecológicas Dentre os recurso naturais do sistema, a água do Sítio São João é proveniente de um poço comunitário, com manutenção e operacionalidade feita pela Compesa, porém o sitio também possui um poço individual, mas que atualmente se encontra desativado. No sítio das Abelhas, existe problema de eletricidade e água. Seu Jones destaca que não usa nenhum insumo e adubação quimica, pois, todo o manejo utiliza os componentes do próprio sistema. As podas são realizadas no sistema em prol da cultura favorecida e de acordo com as necessidades das especiés a serem trabalhadas ou para abrir espaço para uma nova cultura. O material resultante serve como materia orgânica para adubar o próprio solo e para cobrir o solo dando proteção contra a erosão e evaporação. Um exemplo que seu Jones deu foi “se eu planto um pé de pau-brasil, eu nunca vou comer um fruto diretamente porque não vai produzir para mim, mas indiretamente sim porque a florada dele já vai alimentar as abelhas que eu crio, que vai servir de alimento para mim. Se eu for pensar só em mim eu não iria plantar ele porque eu não vou tirar nada daqui, mas ele beneficia as outras vidas. Também é uma leguminosa que tem o poder de contribuir com a nitrogenação do solo, alem da materia orgânica que ele vai soltar também para alimentar o solo. Então a gente pensa na vida, não somente a que produz para mim, pensando no meu eu, é pensando na vida de um modo geral”. Além disso, seu Jones retira as plântulas da regeneração natural para produzir mudas de boa qualidade para serem reutilizadas no próprio sistema, não tendo gastos, e também podem servir

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como produto de comercialização. As principais funções no plantio de árvores no sistema agroflorestal é o fornecimento de alimentos, obtenção de madeira resultante da poda para o beneficiamento dos alimentos, proteção contra o vento pela cerca viva e adubação do solo. Outro recurso importante, é a mudança da qualidade do solo, que atualmente é considerado como muito bom. Para sua manutenção é feito a cobertura verde e adubação verde pelas proprias folhas e componentes da planta que cai no solo, fazendo a reutilização de todos os componentes da propriedade a partir do manejo, como se fosse um ciclo (Figura 6).

(A

Figura 6.

(B

(A) Aspecto característco do siatema em estudo (B) Material resultante da poda em espécies arbóreas com finalidade de enriquecimento do solo no Sítio São João.

Segundo dona Lenir, os sistemas agroflorestais tem várias vantagens como seu manejo dá menos trabalho que a lavoura tradicional; proporciona maior retorno econômico pela diversidade, qualidade e quantidade de produtos o ano todo; tem garantia de renda pelo mercado consumidor mais fiel, pois as pessoas que consumem na feira estão a procura de qualidade de vida; e garantia de abastecimento da propriedade. Alem disso, foi enfatizado que a propria floresta é uma poupança para o futuro. Seu Jones também destaca o repovoamento de animais que antes não estavam presentes na propriedade, como os saguins, raposas, preguiças, lagartos, como o teju, gaviões, entre outros, retomando assim a relação homem natureza e um avanço na diversidade tanto na fauna e flora. Ele comenta “eu nasci aqui e hoje tem passaro que canta aqui e se me perguntar que passaro é esse eu não sei, quer dizer eles voltaram”. Ele tambem destaca a produção em abundancia de culturas que não são da região, como o açai, cacau e pupunha.

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Isso se deve a sua mudança de percepção em relação a natureza e ao solo, e isso se pode perceber pela sua fala “para mim hoje o solo é a principal vida, no passado pouco me importava quebrar uma planta de qualquer jeito, plantar de qualquer jeito e não me interessava matar um animal porque pouco me importava. Hoje temos uma preocupação completamente diferenciada para começar com a vida do solo, que para nós é um ser vivo, da qual todos os seres do planeta dependem dessa vida. O comer que tu come, a água que tu bebes, o ar que tu respiras e a roupa que tu vestes, tudo depende de como esta a vida do solo. Se esta vida esta na UTI, como estara nós, que dependemos dela? Por isso essa vida é mais importante que minha vida, porque a minha depende dela”. F. Perspectivas futuras Seu Jones tem o desejo de aumentar o açaizal na parte da várzea; aumentar a produtividade e variedade advinda da apicultura, explorando o pólen, pois atualmente somente trabalha com a própolis e mel. Antes da agrofloresta, se criava gado, peru e cabra, além do plantio tradicional. Depois da agrofloresta, teve a criação de galinha, coelho, codorna para consumo de ovos, mas não deu certo por falta de manejo. Por isso, os dois gostariam de voltar a reativar o galinheiro para o consumo de ovos e da carne, alem de proporcionar esterco serverindo como adubação. E já teve a proposta de criar peixe, mas por falta de mão de obra não vingou.

4.2.

Comercialização de Produtos Agroflorestais no Espaço Agroecológico do Bairro das Graças

A. Histórico e Caracterização Com o avanço do movimento da agroecologia e agrofloresta no estado de Pernambuco aliado às discussões e iniciativas que já aconteciam no âmbito do Centro Sabiá, surgiu um Espaço Agroecológico1 para a comercialização dos produtos de agricultores de Bom Jardim, Gravatá, Chã Grande e Abreu e Lima (SABIÁ, 2006). Em outubro de 1997, o Centro Sabiá, junto com outras organizações parceiras que trabalhavam também com a agricultura alternativa, fundou o Espaço Agroecológico das Graças no dia Mundial da Alimentação, no Parque da Jaqueira, em Aflitos. Segundo seu Jones, a estreia da

1 Espaço de encontro, de atividades culturais, artísticas e de comercialização da produção agroecológica.

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feira deu um bom público, pois a área era bastante visitada e as pessoas que frequentavam o local ficaram encantadas com os alimentos in natura, como verduras, frutas, tubérculos e produtos beneficiados. Segundo o Sabiá (2006), as primeiras feiras comercializaram 49 tipos de produtos, que é considerada uma boa diversidade em quantidade razoável. Entretanto, a prefeitura não deu apoio à feira e os agricultores foram expulsos do local devido à lei municipal da cidade do Recife, que proíbe a realização de feiras em praças públicas. A feira se mudou diversas vezes, até se consolidar na Rua Souza Andrade, no bairro das Graças, Recife/PE, a partir de 2000, após diversas negociações entre a instituição com a prefeitura. Este ano, a feira completa 17 anos, se tornando um referencial para outras feiras que acontecem no Estado. Depois da feira das Graças, o Centro Sabiá fundou, em 2001, o Espaço Agroecológico do Bairro de Boa Viagem, devido a cobrança dos clientes deste bairro. A feira é constituida pelos mesmos produtores e produtos, tendo os mesmos objetivos. Seu Jones confirma que a feira é um espaço muito importante, como ele mesmo diz, “tirar um publico de classe media alta, num dia de sabado, para ir a uma feira livre de 3 horas da manhã não é por acaso, eles vão porque sabem que é garantido a produção”. Os consumidores chegam cedo para garantir seu produto, pois o numero de agricultores não é suficiente para a demanda do público. Hoje cada agricultor que está na feira tem uma Organização Não Governamental e uma Associação Agroecologica dando acessoria. Segundo Sabiá (2006), para garantir o bom desenvolvimento da experiência, desde o início, o grupo se preocupou em estabelecer uma dinâmica de reuniões e encontros para a tomada de decisões referentes ao Espaço Agroecológico. Durante os anos de 1999 e 2000, com o resultado de diversas assembléias, criou-se o Regimento Interno do Espaço Agroecológico. Segundo Sabiá (2006) “o regimento foi uma construção a partir do dia-a-dia dos agricultores, além de esclarecer dúvidas, também é considerado uma importante ferramenta para o crescimento do trabalho, não só da comercialização, mas também daquele realizado em cada município pelas organizações e associações em relação à produção, sempre baseada em propostas ecologicamente sustentáveis”. O regimento é como uma cartilha, com objetivos, princípios e normas que devem ser seguidos por todos. É um documento de referência para solucionar conflitos e outros problemas ou entraves que surjam ao longo do percurso, em que qualquer agricultor que fuja dos criterios sofre punições, que, dependendo da gravidade, pode deixar de fornecer o seu produto por um determinado periodo na feira ou até ser expulso da mesma. Um aspecto importante do regimento destacado pelo Sabiá (2006) , é a questão da política de preços implantada nos Espaços Agroecológicos, em que todos os participantes da feira venderão

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seus produtos com um preço justo que não varie bastante durante o ano. Há uma variação de preço máximo e mínimo que reflete as diferenças em tamanho e quantidade da mercadoria. Um diferencial da feira é que os agricultores tem um jogo aberto com os clientes e uma relação, como ele mesmo diz, “relação de família”. Seu Jones fala “ essa feira veio completar justamente isso, todo o consumidor que vai ali tambem estão investindo na vida igual a nos, pois tambem estamos investindo na vida, ele quer oferecer o melhor para sua familia e nos tambem. Existe a relação de preocupação tanto do cliente com o produtor quanto do produtor com o cliente uma relação criada numa feira livre”. Com relação à estrutura da feira, as barracas foram adquiridas pelos agricultores, de forma individual ou em parceria entre duas ou três famílias. Em cada barraca, são dispostos seus respectivos produtos, que é uma grande variedade de frutas; hortaliças; cereais; pães, bolos, bolachas e pasteis; leite e derivados; mel e derivados; produtos de origem animal; bebidas e sucos; ervas medicinais. Alguns agricultores disponibilizam seus produtos na rua, formando corredores com caixas, e outros armam uma tenda com mesas e cadeiras para os consumidores ficarem mais a vontade, como demostrado na Figura 7.

Figura 7.

Aspecto geral do Espaço Agroecológico do bairro da Graças, em Recife – PE.

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Com relação ao aspecto visual, os agricultores e agricultoras preocuparam-se com a aparência das barracas e de si mesmos, adquirindo toldos, toalhas e saias padronizadas, o que trouxe aspecto mais limpo e agradável ao ambiente. Segundo Sabiá (2006), os feirantes devem estar trajados com batas padronizadas, contendo a marca do Espaço, com bonés e crachás, que é uma forma prática de identificação para os clientes, além de ser uma norma do regimento interno. B. Estudo do perfil do consumidor De acordo com Sabiá (2006), em 2000, o maior público que frequentava o Espaço Agroecológico das Graças eram as mulheres, representando 60% dos consumidores. Após 14 anos é possível observar que houve uma mudança na perspectiva cultural de participação da feira, pois por meio dos dados obtidos, 53% dos consumidores entrevistados eram do sexo feminino e 47% do sexo masculino, não existindo predominância de gênero nos frequentadores da feira. Este dado mostra que houve uma maior participação do sexo masculino, mesmo sendo ainda observada a maior participação da mulher, pois, culturalmente quem adquire alimentos para o lar é a mulher. Esta afirmação pode ser observada na pesquisa de Silva et AL (2008), sobre o perfil de consumidores de produtos orgânicos em uma feira agroecológica de Recife, em que as mulheres também correspondem a 60% dos consumidores desses produtos. Para o estudo do perfil socioeconômico dos consumidores, foram considerados os bairros residenciais dos clientes. A cidade do Recife, segundo Fernandes e Cunha (2011) possui 94 bairros, sendo que destes foram citados 18 bairros pelos consumidores, incluindo as cidades de Olinda, Jaboatão, Camaragibe e Paudalho. Pode-se notar que o Espaço Agroecológico recebe uma grande diversidade de consumidores de variadas cidades do estado de Pernambuco, mas a maioria dos entrevistados é da Zona Norte de Recife, principalmente dos bairros próximo à feira, sendo 19% das Graças, 15% da Madalena, 9% da Torre e Espinheiro, e 6% dos Aflitos e Parnamirim (Figura 8). Mas o Espaço Agroecológico também recebe consumidores de outros municípios, como Olinda (4%), Jaboatão (4%), Aldeia (4%) e Paudalho (2%).

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Figura 8.

Localização dos principais bairros residências dos consumidores que frequentam o Espaço agroecológico das Graças e sua respectiva representatividade.

Pela analise da distribuição da renda financeira (levando em consideração o valor do salário mínimo de R$ 724,00), constatou-se que 64% dos consumidores que frequentam a feira recebem acima de 6 salários mínimos, 19% recebem de 4 a 5 salários mínimos, 11% recebem 2 a 3 salários mínimos e 6% recebem até 1 salário mínimo. A partir desses resultados, observa-se a presença de um contingente expressivo de consumidores de estratos sociais elevados, podendo ultrapassar o valor de R$ 4.500,00 em sua renda familiar. Esses dados também podem ser verificados na pesquisa de Vasconcelos et al. (2005), em que, 60% dos consumidores de quatro feiras orgânicas do Recife possuíam um rendimento mensal médio entre 6 e 25 salários mínimos. Segundo Saabor (1999), a renda determina a qualidade da alimentação de uma família, pois a renda influencia na decisão de aquisição dos alimentos, sendo uma variável de grande importância para avaliação do perfil do consumidor. Um dos motivos que pode explicar a maior presença de estratos sociais elevados na feira é a localização privilegiada do Espaço Agroecológico, em que se encontram bairros nobres da cidade

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do Recife. Esse fator explica 79% dos clientes possuir 3º grau de escolaridade, em que 68% possuem curso superior completo, 4% possuem curso superior incompleto e 7% possuem pósgraduação; enquanto 21% tem ensino médio e 2% tem ensino fundamental. O elevado nível de escolaridade é confirmado na pesquisa do Sabiá (2006), em que 75% dos frequentadores tinham o 3º grau de escolaridade, em 2000. E também observado por Vasconcelos et al (2005), que verificaram 80% do público consumidor de produtos orgânicos em feiras do Recife possuíam curso superior completo. Segundo Barbé (2009), esta constatação resulta do fato de que pessoas com um nível de instrução mais elevado procuram obter informações do que estão consumindo e possuem maior facilidade de acesso aos meios de comunicação. Dos cursos superiores citados, destacam-se administração com 16%, Direito e Economia com 13%, Ciências contábeis com 8%, e Arquitetura, Estudos sociais, Engenharia e Medicina com 5%. Dentre os consumidores que frequentam a feira, 34% são aposentados, 32% trabalham no setor público, 15% são empresários, 7% são prestadores de serviços, 6% do lar, 4% trabalham na área industrial e 2% no comércio. Analisando a faixa etária dos participantes da pesquisa, 17% tinham idade de 26 a 35 anos, 11% tinham idades de 35 a 45 anos e 72% tinham idade maior que 45 anos. Este resultado explica que o consumidor de produtos agroecológicos e agroflorestais está na idade madura, em sua maior parte aposentada e com boas condições financeiras, e que possivelmente, por ter maior preocupação com a qualidade dos produtos, procura alimentação diferenciada e que seja menos prejudicial à sua saúde. Entretanto, a feira não tem atraído consumidores jovens. Infelizmente essa realidade não é somente no Espaço Agroecológico das Graças, mas em outras feiras do Recife, como apresentado por Vasconcelos et al. (2005), cerca de 80% dos consumidores de quatro feiras orgânicas na cidade tem a faixa etária entre 31 e 61 anos. Nota-se também que 47% dos consumidores frequentam a feira a mais de 4 anos, 85% dos consumidores compram na feira semanalmente e 13% algumas vezes mensalmente. Em alguns casos, foram constatados que existem consumidores que frequentam a feira desde sua inauguração, alguns a 10, 14 e 15 anos, demonstrando que, em sua maioria, o espaço Agroecológico mantém uma clientela fiel, mas tem atraído poucos novos consumidores, como comprovado, apenas 13% dos consumidores frequentam a feira a menos de 1 ano, o que a longo prazo pode ser preocupante. Para mudar esta conjuntura, pode-se melhorar a forma de divulgação da feira, pois constatou-se que 83% dos consumidores descobriram a feira por indicação de conhecido, 15% de forma espontânea e 2% por meios de comunicação como jornal. Quanto ao valor gasto por mês (R$), em alimentos agroecológicos e agroflorestais, é possível notar que 81% dos consumidores gastam acima de 71 reais por mês na feira, alguns consumidores gastariam este valor por semana, outros gastariam de 500 a 2000 reais por mês. 58


Dentre os principais produtos comercializados, destacam-se as hortaliças (32%), frutas (22%), leite e derivados (15%), pães, bolos e bolachas (10%), ervas medicinais (8%), mel e derivados (6%), bebidas e sucos (4%), cereais (2%) e produtos de origem animal (1%). O diagnóstico socioeconômico permitiu a obtenção de informações que identificassem os principais fatores que motivam as pessoas a frequentar e consumir os produtos agroecológicos da feira. Os quatros principais motivos do consumo é por uma alimentação saudável (37%), a qualidade dos produtos (25%), o receio de agrotóxicos (12%) e razões ecológicas (7%) (Figura 9). Segundo Sabiá (2006), os principais motivos dos consumidores comprarem no Espaço Agroecológico das graças é o fato dos produtos não conterem agrotóxicos (52%), possuírem boa qualidade (32%), amizade (6%), atendimento (4%) e comodidade (2%). A maior procura por uma alimentação saudável comparada pelo receio de agrotóxico, em 2000, pode ser justificado pelo maior acesso a informações dos consumidores acerca dos produtos agroecológicos pelos meios de comunicação em que são veiculados a produtos mais saudáveis por não conter agrotóxico.

Figura 9.

Principais fatores que motivam a frequência e consumo dos produtos agroecológicos no Espaço Agroecológico das Graças

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Além disso, pelo aumento nos últimos anos do mercado dos alimentos orgânicos e a preocupação dos consumidores com o desenvolvimento sustentável do planeta. Na medida em que o processo de produção de alimentos não degrada a natureza, indiretamente, o consumidor acaba contribuindo para sustentabilidade ambiental, social e, principalmente, econômica dos produtores rurais familiares (BARBÉ, 2009). Segundo Darolt (2002), existe uma tendência do consumidor orgânico privilegiar primeiramente os aspectos relacionados à saúde, ao meio ambiente e à questão do sabor e frescor dos alimentos orgânicos. Como consequência, 83% dos consumidores afirmaram que estariam dispostos a pagar a mais para adquirirem alimentos orgânicos. Isso pode ser notado nesta pesquisa e em outros trabalhos, como Vasconcelos et al. (2005), que afirmam que as razões mais citadas para consumir orgânicos nas feiras em Recife é serem mais saudáveis que alimentos cultivados convencionalmente e serem mais saborosos e vistosos. Silva et al (2008) afirmam também que, em Recife, as pessoas consomem os produtos orgânicos por motivo de saúde (60%) e preocupação com o meio ambiente (6,6%). Com relação aos principais motivos que dificultam manter dieta totalmente agroecológica e agroflorestal, 60% informaram ser o horário, 11% o preço e variedade de produtos, 9% o acesso à feira, e 6% a falta de divulgação. Comparando esses dados com os do Sabiá (2006), percebe-se que, em 14 anos aumentou a variedade de produtos e aumentou o preço dos produtos. O aumento dos preços pode ser explicado pelo fato dos agricultores não produzirem em escala suficiente grande para baixar o custo de produção. Segundo Darolt (2000), diversos fatores desencadeiam as diferenças de preços na comercialização dos produtos orgânicos, sendo importante acompanhar o processo desde a produção até a comercialização, pois o preço final ao consumidor costuma variar conforme o local de compra e o tipo de produto adquirido. Esses resultados estão de acordo com a pesquisa de Barbé (2009), que aponta como causa do baixo consumo, o preço mais elevado e a pouca disponibilidade da oferta; Neutzling et al (2010) citam o preço, a localização dos pontos de vendas, a disponibilidade e divulgação dos produtos; e Vasconcelos et al (2005), denotam a limitação da variedade de produtos, principalmente de frutas, e preço elevado. Em sua maioria os consumidores reclamam do horário da feira, pois, para conseguir os melhores produtos devem chegar muito cedo à feira. Alguns consumidores falaram que o preço da feira era mais caro comparado aos supermercados tradicionais, mas que vinham em maior quantidade, enquanto outros discordaram. Para isso, foi verificada a diferença de preços entre os produtos orgânicos e os convencionais em supermercados, como apresentado na Tabela 3.

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Tabela 3.

Comparação dos preços em dois supermercados no Bairro das Graças de alguns produtos produzidos de forma convencional e os encontrados na feira agroecológica das Graças.

Produtos Laranja Batata doce Banana prata Cebola Cenoura Inhame Limão Maracujá Repolho Tomate

Espaço Agroecológico R$/kg) 2,10 3,00 3,00 3,00 3,00 6,00 1,40 2,00 4,00 7,00

Supermecado A R$/kg) 2,68 4,98 3,90 3,18 3,88 9,20 2,58 5,88 5,98 8,48

Supermercado B (R$/kg) 2,48 4,99 4,98 3,59 3,49 4,99 2,48 3,99 8,09 6,79

Como pode ser visto, os produtos do Espaço Agroecológico das Graças possuem os preços mais acessíveis para os clientes, com a menor média de preços (3,45), seguido dos Supermercado B (4,6) e Supermercado A (5,1). A variedade dos produtos aumentou, pois, atualmente, são comercializados 245 tipos de produtos, que são divididos em três grandes grupos, as verduras e legumes (32%), frutas (26%) e beneficiados (42%). O grande problema para o acesso a feira está relacionado ao meio como o consumidor chega ao Espaço Agroecológico e a falta de espaço de estacionamento dos carros próximo à feira. Em minoria, os consumidores também entendem que os produtos agroecológicos são pouco divulgados e que deveria haver política de incentivo ao consumo, demonstrando os benefícios dos produtos à saúde humana. Essa divulgação ajudaria a trazer mais clientes, principalmente os mais jovens.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O sistema agroflorestal possibilita a autossustentabilidade do sítio, pois melhora a qualidade do solo, aumenta o número de espécies cultivadas, diversificando os produtos e subprodutos que melhoram a dieta alimentar da subsistência da família e aumentam a renda, mantendo a estabilidade econômica à família pela comercialização dos excedentes. O planejamento e manejo adequado do sistema agroflorestal, o envolvimento e compromisso da mão de obra familiar no processo, se mostraram um importante fator para o desenvolvimento do sistema agroflorestal. O trabalho da mulher tem um papel especial para o desenvolvimento do sistema agroflorestal, especialmente no beneficiamento dos produtos, que é visto como grande avanço, pois agrega diversidade, durabilidade e renda. Os intercâmbios são considerados um sucesso e contribuem na renda familiar, além de contribuir na sensibilização ambiental aos participantes, pois, além de manterem os costumes e tradição da família, elevam a autoestima dos proprietários, por serem reconhecidos pelo seu trabalho. Mesmo diante de seu potencial, ressente-se de maiores informações sobre os sistemas agroflorestais, bem como de espécies potenciais para aumentar sua diversidade, para obter dados sobre suas vantagens, para difundir as agroflorestas na agricultura familiar, e para adequá-los à legislação ambiental e pra garantir a qualidade dos produtos obtidos. A maioria dos consumidores do Espaço Agroecológico das Graças são mulheres que moram em bairros proximo a feira, recebendo uma renda financeira acima de 6 salários mínimos, de estratos sociais elevados que possuem curso superior, aposentados numa faixa etária superior de 45 anos e frequentam a feira semanalmente a mais de 4 anos. Os clientes do Espaço Agroecológico buscam produtos saudáveis sem agrotóxicos e de boa qualidade e confiam nas informações fornecidas pelos feirantes pela relação de confiança. O uso de metodologias participativas em trabalhos desta natureza são eficientes na obtenção de dados fiéis e conhecimento da realidade dos proprietários. Os resultados desta pesquisa permite as seguintes recomendações aos feirantes e sua administração: melhorar a infraestrutura, conciliar locais e horários mais apropriados aos consumidores e melhorar a divulgação da qualidade e diversidade dos produtos, para atrair ainda mais consumidores nas feiras agroecológicas.

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6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABDO, M.T.V.N; VALERI, S.V; MARTINS, A.L.M; Sistemas agroflorestais e agricultura familiar: uma parceria Interessante. Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária. São Paulo. v.1, n.1, p. 50-59. 2008. ALMEIDA, K.; FERREIRA, C. C. da; OLIVEIRA, R. S.; ALYRIO, R. D. Análise da evolução da metodologia utilizada nos Artigos publicados na revista: contabilidade & finanças – USP. In: SEMEAD: Empreendedorismo e Inovação. n. 12. 2009. São Paulo. Anais...São Paulo: XII FEA/ USP, 2009. ALTIERI, M. A. Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa. 2. ed. Rio de Janeiro: PTA-FASE, 1989. ALTIERI, M. A. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 4. ed. Porto Alegre: UFRGS. 2004. ALYRIO, R.D. Metodologia Científica. PPGEN: UFRRJ, 2008. ALVES, L.M. Sistemas Agroflorestais (SAF’s) na restauração de ambientes degradados. PGECOL. 2009. AMÂNCIO, C. O. G.; PEDINI, S.; AMÂNCIO, R.; AMÂNCIO, J. M. Diagnóstico Rápido Participativo como Instrumento Auxiliar na Gestão de Associações De Agricultores Familiares e Agências de Desenvolvimento. In: CONGRESSO SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, n. 43, 2005, Ribeirão preto. Anais... Ribeirão preto: XLIII Congresso da SOBER, 2005. ARMANDO, M.S.; BUENO, Y.M.; ALVES, E.R.; CAVALCANTE, C.H. Agrofloresta para Agricultura Familiar. Circular Técnica. CENARGEN - Embrapa, Brasília, n.16, 2002. ANDRADE, E. C. R. de; DANTAS, C. A.; SILVA, J. S.; SALIN, T. C.; MATTOS, J. L. S. Harmonia com o Meio Ambiente: Práticas de Manejo Agroflorestal. Revista Brasileira de Agroecologia v.4, n. 2, p. 2838-2841. 2009. ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL. Perfil do Município de Abreu E Lima, PE. 2013. Disponível em: <http://atlasbrasil.org.br/2013/perfil_print/abreu%20e%20lima_pe> . Acesso em: 13 jun. 2014. BARBÉ, L.C. Caracterização de consumidores e produtores dos Produtos agroecológicos / orgânicos em Campos dos Goytacazes – RJ. 2009. 77 f. Dissertação (Mestrado em Produção vegetal) – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Rio de Janeiro. 2009. BARROS, A. V. de. Produção de biodiesel a partir de sistemas agroflorestais em Vazante, Minas Gerais. 2005. 121 f. Tese (Doctor Science em Ciências Agrárias) - Universidade Federal Rural da Amazônia. Belém. 2005.

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PARA

MATA

ATLÂNTICA.

Apostila

1.

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69


ANEXOS

70


ANEXO A.

Roteiro da Entrevista semiestruturada realizada na propriedade familiar Espaço Agroecológico Sítio São João.

Bloco 1. Histórico e caracterização da propriedade  Histórico do uso da terra e todas as atividades desenvolvidas no local  Aonde e como tiveram a experiência em sistemas agroflorestais  Quantos terrenos possuem; como se caracteriza a propriedade Bloco 2. Composição da família e força de trabalho  Informações das pessoas da propriedade a. Número de pessoas da família? Quantas vivem na propriedade? Quantas vivem foram do lote? b. Composição familiar NOME

PARENTESCO

* 1 Municipal

2 Estadual

SEXO

3 Federal

IDADE

ESCOLARIDADE

4 Privada

TIPO *

5 Em parte pública, em parte privada

ou P (público) PR (privada)  Trabalho e ocupação OCUPAÇÃO

LOTE

FORA DO LOTE

OBS

TRABALHO TEMPO N. PESSOAS

Bloco 3. Sistema de Produção, Beneficiamento e Comercialização  Quanto à produção a. Quais as atividades produtivas desenvolvidas dentro do lote? Quanto cada atividade contribui para a composição da renda da família? Dentre essas atividades produtivas no lote, qual ou quais que possuem maior gasto? Porque? b. Porque escolheram essas atividades? c. Que insumos foram utilizados para a produção? d. Outras fontes de renda: pesca; empreitada; trabalho como diarista; emprego; comércio; empresa; aposentadoria; exploração florestal; outros e. Quais os principais problemas e entraves das principais atividades produtivas? É possível visualizar possíveis soluções para esses problemas?

71


 Sistema de Beneficiamento a.

Dentre essas atividades produtivas, alguma envolve algum processo de beneficiamento do produto? Qual?

b. Dentre as os produtos beneficiados, qual ou quais contribuem para a alimentação da família? c. Os alimentos consumidos pela família: Provém quase todos de produção própria / A maior parte é comprada de outros agricultores A maior parte é comprada em armazém ou supermercados / Metade produzida e metade comprados 

Sistema de comercialização

a.

Quanto a Comercialização

PRODUTOS

DESTINO DA

QUANTIDADE

DIFICULDADES

PREÇO MÉDIO

PRODUÇÃO

* Culturas de lavouras; Horticultura; Produtos florestais; Frutas; Cereais e derivados; Pães, bolos e bolachas; Açucares; Leite e derivados; Mel e derivados; Produtos de origem animal; Bebidas e sucos; Industrializados; Artesanais; Ervas medicinais Bloco 4. Situação econômica da unidade familiar  Quanto à produção e consumo de alimentos a. Dentre as atividades produtivas, qual ou quais contribuem para a alimentação da família? b. Qual a porcentagem da renda da família destinada para a compra de alimentos? c. Quais os principais alimentos comprados? É possível visualizar a produção desses alimentos dentro do lote? d. Existe a vontade de produzir mais alimentos no lote? Quais? Porque ainda não é possível? e. O Sr. se identifica melhor como? Camponês / empresário agrícola / trabalhador rural / produtor rural / colono / agricultor familiar Bloco 5. Recursos naturais e práticas agroecológicas  Quanto aos recursos naturais a. Qual a vantagem se vê em plantar sistemas agroflorestais? Dá menos trabalho que lavoura / Dá maior retorno econômico / Tem mercado certo / Dá para conciliar com trabalho fora de casa / Diversifica a produção dando garantia de retorno / Garante o abastecimento da propriedade / É uma poupança para o futuro 72


b. Como classificaria a qualidade do solo de sua propriedade? Ótimo / Muito bom / Bom / Médio / Razoável / Não muito bom / Ruim / Pobre / Fraco c. O que o Sr. observa e considera para dizer isso fatores? d. Faz alguma coisa para preservar o solo, se sim o que? Cobertura verde ou seca / Adubação verde / Adubação orgânica ou esterco / Preparo mínimo ou plantio direto / Manejo integrado de pragas ou invasoros e. Como é a água em sua propriedade, de onde vem? Rio / Açude / Represa / Riacho / Poço / Rede pública / Vertente natural f. O estabelecimento é suficientemente grande e produtivo para a família continuar aqui vivendo da agricultura por muitos anos? g. O que o Sr. vê de diferente na sua propriedade, em relação ao ambiente (solo, água e outros fatores da natureza) que não vê nas outras propriedades? h. Qual o interesse do plantio das árvores no sistema agroflorestal na propriedade? Fornecer alimento / Renda / Produtos para venda/ Remédios / Condimentos / frutos / Madeira / Alimento para animais / Material para artesanato / Lenha / Carvão / Proteção contra o vento / Adubar solo / Cerva viva / Embelezamento do quintal / Sombra para pessoas / Espécies para conhecer e experimentar etc i. As árvores nativas, quais se costumam utilizar.  Quanto às práticas de produção ecológicas/ agroecologia a. Quais são os principais insumos agrícolas utilizados no lote: adubos, defensivos....? Porque são utilizados? b. Quanto da renda é destinado para a aquisição desses produtos? c. Existe alguma prática de produção ecológica no lote, seja animal ou vegetal? Quais? Porque? d. Caso existe alguma prática ecológica, está satisfeito com os resultados? Porque? Bloco 6. Perspectivas futuras a. Está satisfeito com as atividades produtivas desenvolvidas no lote? Porque? b. Quais atividades tem vontade de desenvolver no lote e que ainda não é possível? Porque ainda não é possível? Está satisfeito com a renda da família?

73


ANEXO B.

Roteiro da Entrevista Estruturada realizada na Feira Agroecológica das Graças para conhecer seu perfil do consumidor

Sexo: Feminino

Masculino

Qual o bairro em que mora? Grau de instrução formal: Possui ensino fundamental

Possui ensino médio

Possui ensino superior completo

Possui ensino superior incompleto

Possui pós-graduação

Se possuir graduação, qual é seu curso? Em que setor você trabalha: Setor público

Prestador de serviço

Comércio

Aposentado

Empresário/autônomo

Indústria

Administradora do lar

Faixa etária: Menor de 18 anos

De 18 a 25 anos

De 26 a 35 anos

De 35 a 45 anos

Maior de 45 anos Distribuição de renda financeira: Até 1 salário mínimo (R$ 750)

De 2 a 3 salários (R$2.250)

De 4 a 5 salários (R$3.750)

Acima de 6 salários (acima de R$ 4.500)

A quanto tempo frequenta a feira? Menos de 1 ano

1 ano

2 anos

3 anos

4 anos

Acima de 4 anos Qual a sua disponibilidade para a compra na feira? Diário

Semanal

Mensal

Semestral

Anual

Produtos que são comprados: Hortaliças

Frutas

Cereais e derivados

Pães, bolos e bolachas

Açucares

Leite e derivados

Mel e derivados

Produtos de origem

animal

Bebidas e sucos

Industrializados

Artesanais

Ervas medicinais Motivo (razões) da compra: Qualidade do produto Diversidade de produtos Filosofia de vida

Preço

Higiene

Alimentação saudável Recio de agrotóxico

Facilidade de acesso na feira Razões ecológicas Influência da mídia

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Como conheceu a feira (divulgação): Divulgação nos meios de comunicação – Internet Televisão

Rádio

Indicação de conhecido

E-mail

Revista

Livro

Facebook

Jornal

Palestra/seminário/evento

Materiais informativos (cartaz)

Conheceu

espontaneamente Tem disposição de pagar a mais por alimento agroecológico? Não

Sim

Valor gasto por mês em alimentos agroecológico: De 11 a 30 reais

De 31 a 50 reais

De 51 a 70 reais

Acima de 71 reais Fatores que dificultam o consumo de alimentos orgânicos? Qualidade do produto Variedade de produtos

Preço Horário

Higiene Duração

Facilidade de acesso Divulgação

75


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