O Brasil não merece esse retrocesso, Pernambuco não ficará calado

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O Brasil não merece esse retrocesso, Pernambuco não ficará calado. CARTA DA ARTICULAÇÃO NO SEMIÁRIDO DE PERNAMBUCO (ASA/PE) Nós, da Articulação Semiárido Brasileiro em Pernambuco, assistimos indignados e indignadas à panaceia, o circo armado pelas forças conservadoras na Câmara dos Deputados, em Brasília, para convencer brasileiros e brasileiras de que o pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff precisava ser aceito. Os discursos favoráveis ao impedimento, no último domingo, não apresentaram elementos que tivessem sustentação jurídica e o que se viu foi o baixo nível da nossa representação parlamentar. Dilma é acusada das chamadas "pedaladas", que são atrasos nos repasses da União para bancos públicos pagarem benefícios de programas do governo – como o Pronaf, Bolsa Família, FIES e Seguro Safra. No entanto, é de conhecimento público que as "pedaladas" eram praticadas em governos anteriores a Dilma e também por governadores de Estado e prefeitos de todo o país. No domingo, no entanto, muitos justificaram seus votos pelos filhos, pela família, pela tia, pelo pai e mãe, pela igreja e até pelos torturadores do regime militar como toda a população ouviu do Deputado Jair Bolsonaro, do PSC/RJ. O nome de Deus foi lançado em vão por muitos parlamentares, como se Ele compactuasse com essa articulação política que não disfarça o machismo e misoginia, contra a Presidenta que já passou por situações duríssimas na luta contra a Ditadura. O que se viu foi uma vergonha nacional, e não um julgamento isento. Não podemos esquecer que a grande maioria dos parlamentares que votaram favoráveis ao impedimento fazia parte da base aliada do governo como é o caso dos parlamentares do PMDB, PP, PR e do PSB. O partido de figuras importantes como o ex-governador Miguel Arraes, cassado pela Ditadura em 1964, mudou de lado. Parlamentares que tanto se beneficiaram eleitoralmente das políticas sociais e da popularidade das gestões Lula e Dilma, como os sertanejos Gonzaga Patriota (PSB) e Fernando Bezerra Filho (PSB), para continuarem ocupando cargos no Governo Federal, capitaneados por aqueles que nunca aceitaram a derrota nas urnas e pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB), querem agora tirar da presidenta o mandato conquistado nas urnas. Parece-nos não ter sido novidade ver a bancada do agronegócio fechar questão a favor do impedimento da presidenta. Para quem trabalha em defesa da agricultura familiar no Brasil – responsável pela produção de 70% dos alimentos que servem à nossa população – sabe que existe sim um conflito no campo, pois cada vez é mais urgente a reforma agrária; a cada dia os agricultores, agricultoras e consumidores/as sofrem mais com doenças relacionadas aos agrotóxicos. Em contrapartida, a Agroecologia melhora os rendimentos de quem produz e com a assessoria técnica e extensão rural diminui, então, a força das grandes empresas de veneno e das sementes transgênicas e agrotóxicos.


É preciso reconhecer, por mais discordâncias que tenhamos de posições do Governo Federal, que a primeira gestão de Dilma Roussef foi a que mais recursos investiu nos programas de convivência com o Semiárido para construção de cisternas de placas, que já possibilitaram melhorias de vida para 1 milhão de famílias no nosso Semiárido. Poucos foram os parlamentares que se pronunciaram em nome da agricultura familiar, então fique claro que o SIM do agronegócio, do machismo, da homofobia e da intolerância religiosa não representa os povos do Semiárido de Pernambuco. Estamos do outro lado, defendendo políticas sustentáveis para o campo, como o Programa Água para Todos, a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, o Minha Casa Minha Vida Rural, o PRONAF e a ATER Agroecológica públicas e de qualidade. Não nos representam os 18 parlamentares pernambucanos, inclusive alguns que representam cidades do nosso Semiárido, votarem a favor da cassação da presidenta Dilma Rousseff. E o deputado federal Bruno Araújo, do PSDB, ficar famoso por ter dado o voto 342 e chorado, principalmente por sabermos que o nome dele já era conhecido em Pernambuco por estar envolvido em tráfico de influência na cidade de Sanharó (como denunciou o Jornal do Commercio) e também apareceu na lista do Caixa 2 da Odebrechet. O próprio presidente da Câmara, Eduardo Cunha, assim como muitos outros deputados que votaram pela cassação, também é acusado de corrupção, está na lista da Odebrecht e tem contas na Suíça com dinheiro não declarado e oriundo de propinas. Esse processo anti-democrático tem gerado repercussão extremamente negativa no exterior e diminuído a confiança internacional em relação aos rumos do Brasil. A lição que tiramos disso tudo é que não podemos baixar a guarda. Que no campo e nas cidades a rua sempre foi nosso lugar de reivindicar, de lutar, de resistir e de garantir nossos direitos. Mais do que nunca ela precisa ser ocupada. Os movimentos sociais e sindical deste país precisam ocupar praças e ruas para dizer que NÃO VAI TER GOLPE. Nós, que fazemos a ASA Pernambuco, convocamos a todos e todas a defender nossa Democracia, a defender nossos direitos, a defender nosso país de um golpe orquestrado pelos que não aceitam os resultados das urnas. E reafirmamos nossa histórica posição em favor da Democracia e em defesa da Vida no Semiárido, e contra qualquer ameaça aos direitos conquistados pelos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil. Por tudo apresentados, a Articulação no Semiárido de Pernambuco. Pernambuco, 22 de abril de 2016.


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