Congresso de Inovação 2017 - Megatendências 2050

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Editorial

MEGATENDÊNCIAS E VISÕES Construindo o amanhã O mundo passa por intensas transformações catalisadas pela tecnologia, o que afeta as dinâmicas da sociedade em seus diversos aspectos com impacto direto no dia-a-dia e na vida das pessoas. Disrupções tecnológicas, frequentes, tornam o antes inimaginável algo automaticamente incorporado ao nosso cotidiano. A revolução digital, a conectividade, os novos sistemas produtivos e a automação geram impactos em todas as dimensões das nossas vidas, permeando a educação e as relações pessoais e profissionais. Se por um lado a tecnologia proporciona conforto e eficiência, emergem incertezas sobre o que está por vir. Uma mudança de mentalidade, aberta ao novo e alinhada a uma agenda de futuro, que combine criatividade com visões e o domínio do processo inovador, lastreado pelo uso multidisciplinar de tecnologia, se revela essencial para o enfrentamento desta nova realidade com soluções disruptivas e de alto impacto para o desenho do futuro no qual queremos viver. São os elementos centrais do projeto de inovação da FEI, que busca preparar o jovem para ser um solucionador dos grandes desafios do amanhã. Nesse contexto, a realização de dois Congressos de Inovação e Megatendências 2050 - em 2016 com o tema Internet das Coisas e em 2017 sobre Cidade e Campo Inteligentes - tem levado a comunidade FEI a intensas reflexões sobre megatendências, visões e o nosso papel no amanhã; consolidando a cada dia nossa Instituição como uma comunidade visionária, provocada, inquieta e protagonista. Na edição 2017 discutimos cidades inteligentes, o campo inteligente e a integração destas inteligências, com foco na qualidade de vida e na centralidade do ser humano até 2050. Em destaque, a urbanização e o aumento da população gerando maior demanda por alimentos, energia e água, a descentralidade das cidades do futuro e as novas tecnologias para gestão de campo e cidade, a economia compartilhada e o novo conceito de propriedade, a

eletrificação da mobilidade, energias renováveis, conectividade e a redução das barreiras geográficas com a tecnologia aumentando a conexão entre as pessoas e mudando padrões sociais. O agronegócio foi destacado como grande diferencial e potencial do Brasil, país tropical com riqueza de fontes energéticas renováveis (como eólica, solar, etanol e biomassa) e recursos que, com o apoio da biotecnologia integrada à genética e robótica, podem garantir protagonismo internacional de longo prazo. Em discussões que foram da economia à política, ambiente e relações sociais, a automação, a robótica e a inteligência artificial apareceram como elementos-chave para a transformação do País, desejavelmente potencializadas pela tríplice-hélice da inovação e por profissionais bem preparados, flexíveis, empreendedores e inovadores. Recebemos mais de 50 autoridades, que dialogaram ricamente com aproximadamente 2.000 presentes e os mais de 4.000 internautas que prestigiaram o evento pelo streaming em 13 países na América, Europa e Ásia. Ficou evidente um cenário desafiador, mas muito promissor ao País, se transformarmos a tecnologia disponível em inovações de fato e com originalidade. A comunidade universitária saiu enriquecida, provocada, com muitas perguntas e inquietudes, mas muito inspirada. Nossos agradecimentos a todos os líderes presentes, docentes, alunos, colaboradores e convidados pelo ambiente tão enriquecedor. Fica cada vez mais evidente que na FEI o futuro não mais acontece, mas sim, se constrói! Com os votos de que os relatos e testemunhos a seguir sejam inspiradores e nos conduzam a ricas reflexões e visões, fica o convite para construirmos juntos o nosso amanhã! Boa leitura!

Gustavo H. B. Donato

Coordenador da Plataforma de Inovação FEI

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Sumário

A CIDADE INTELIGENTE

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SESSÃO DE ABERTURA

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VISÕES

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PAINEL 1

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PAINEL 2

Congresso de Inovação FEI 2017 debate cidade e campo inteligentes

Visões de um desenvolvimento futuro Visões da integração campo-cidade Uma viagem no tempo

Os desafios das cidades inteligentes em 2050

As soluções para mobilidade e conectividade

O CAMPO INTELIGENTE

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1º DIÁLOGO DE LÍDERES

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PAINEL 3

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PAINEL 4

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Para onde vai o agronegócio?

Alimentação e energia para o mundo

Produtividade e competitividade no campo

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CAMPO E CIDADE: INTEGRANDO SUAS INTELIGÊNCIAS

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FUTURE FLASH

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DIÁLOGO DE GERAÇÕES

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PAINEL 5

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2º DIÁLOGO DE LIDERES

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ENCERRAMENTO

O campo e a cidade inteligentes

Menos trabalho repetitivo, mais competências e reflexão

A gestão inteligente na integração campo-cidade

2050 e a qualidade de vida. Quais os grandes desafios dos profissionais do futuro?

Inspiração e confiança para o futuro

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RODAS-VIVAS

Círculos de debates geram reflexão

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APRENDIZADO EXTENSIVO E QUALIFICADO

Sessões técnicas

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Congresso de Inovação FEI 2017 aborda cidade e campo inteligentes Evento faz parte da Plataforma de Inovação FEI e discutiu as Megatendências 2050 sob a ótica do tema cidade e campo inteligentes

O Congresso Anual de Inovação FEI – Me-

gatendências 2050 realizado no Centro Universitário FEI, em São Bernardo do Campo, de 9 a 11 de outubro, reuniu autoridades, líderes empresariais, integrantes das esferas governamentais federal, estadual e municipal, jornalistas e especialistas que se dedicaram a debater com docentes e alunos da Instituição temas relacionados a cidade e campo inteligentes, tendo como principal foco a integração destes cenários para a melhoria da qualidade de vida. O Congresso é parte de um movimento institucional do Centro Universitário FEI de pensar o futuro e de promover o desenvolvimento de seus docentes e alunos sob essa perspectiva, incentivando para que eles sejam responsáveis pelas soluções dos grandes temas do amanhã. O evento faz parte da Plataforma de Inovação FEI, cuja iniciativa conta com atividades de preparação da comunidade FEI para que estejam aptos a lidar com as constantes mudanças no cenário brasileiro e global. A iniciativa, que está em sua segunda edição, gerou produtivas discussões sobre a cidade e o campo inteligentes para uma melhor qualidade de vida, lançou luz às expectativas e desafios do futuro e do papel do jovem universitário como agente de transformação nas decisões que serão tomadas em empresas e no governo, com vistas ao desenvolvimento do Brasil.

Cerimônia de abertura A cerimônia de abertura do Congresso foi realizada pelo reitor do Centro Universitário FEI, professor doutor Fábio do Prado, com a presença de autoridades, do presidente da Fundação Educacional Inaciana Pe. Sabóia de Medeiros, Padre Theodoro Peters, S.J.; do prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, e do secretário de estado de energia e mineração, João Carlos de Souza Meirelles, representando o Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin. Ao abrir o evento, o reitor do Centro Universitário FEI perguntou aos presentes qual a imagem que melhor representaria o futuro. Segundo ele, “os sinais do que está por vir já são visíveis, e seus impactos sentidos. Tecnologias até pouco tempo futuristas já estão em nossas cidades e em nosso campo”, enfatizou. Ainda segundo o reitor da FEI “é pioneiro pensar o desenvolvimento do campo e da cidade de forma complementar e sinérgica. As novas decisões demandam cada vez mais integração desses dois ecossistemas”, destacou. Esta linha de raciocínio esteve presente durante os debates promovidos em painéis maiores e nos encontros em formato de rodas-vivas realizados em vários espaços da Instituição Os convidados destacaram as muitas oportunidades para o País, ressaltando que o caminho para um futuro planejado começa com o preparo e o debate em ambientes universitários, elogiando a iniciativa e oportunidade de discussão propiciada pelo Congresso. O foco no preparo dos futuros profissionais foi destacado pelo presidente da FEI, Pe. Theodoro Peters, S.J. na abertura: “A comunidade de ensino da FEI deseja realizar

Da esq. para dir.: João Carlos de Souza Meirelles, secretário de estado de energia e mineração; Fábio do Prado, reitor do Centro Universitário FEI; Orlando Morando, prefeito de São Bernardo do Campo, Pe. Theodoro Peters, S.J., presidente da Fundação Educacional Inaciana “Pe. Saboia de Medeiros” - FEI

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SESSÃO DE ABERTURA

a função que lhe é confiada para estimular a juventude à melhor qualidade de vida, através dos instrumentos da metodologia científica e da prática de talento e carisma”. Pe. Peters acrescentou ainda que a proximidade da FEI com a indústria reforça seu papel como atuante na formação de profissionais comprometidos e engajados com um País mais desenvolvido, e atento às demandas do futuro: “Não aprendemos para a escola, a faculdade, a universidade. Aprendemos para aplicar esse conhecimento a serviço da qualidade de vida. Isso faz com que a FEI esteja presente no coração das indústrias.” Para o secretário de Energia e Mineração do Estado de São Paulo, João Carlos de Souza Meirelles, o Congresso não pensa um futuro romântico, mas, sim, preocupa-se em estar ligado à nova perspectiva do homem de forma prática. “Estamos diante de uma realidade diferente, de novas fronteiras agrícolas. Hoje, a fronteira que precisamos ultrapassar não é mais a horizontal –, de ocupação de espaço, mas a vertical – de introdução de tecnologias para aproveitar o espaço hoje ocupado. Utilizamos apenas 230 milhões de hectares com agricultura e pecuária. Somos o maior exportador de carne bovina e aves, e o quarto de carne suína, além de sermos o segundo produtor mundial de soja; e tudo isso graças à tecnologia”, resumiu.

O prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, fez um apelo aos futuros desenvolvedores de tecnologias e inovações, para que criem e apresentem projetos tecnológicos à Prefeitura, sob a possibilidade de receberem investimentos visando melhorar os serviços atuais. “A Prefeitura não é dona da verdade e muito menos detém toda informação e tecnologia”, disse. Ao todo, foram 2000 pessoas presentes no evento durante três dias. Os painelistas contribuíram com apresentações, diálogos, future flashes (visões do futuro sobre os temas dos painéis) e rodas-vivas que promoveram uma discussão mais próxima dos alunos e professores da Instituição. Sessões técnicas complementaram o programa. Pela internet, 4.000 visitantes acompanharam a transmissão ao vivo, que alcançou 13 países na América, Europa e Ásia. 99.500 pessoas foram impactadas nas mídias sociais, sendo que no grupo do evento no Facebook, perguntas podiam ser feitas aos convidados pela audiência presente ou da internet. As próximas páginas desta edição especial retratam, de forma sucinta, as atividades realizadas na segunda edição do Congresso de Inovação FEI – Megatendências 2050. veja o vídeo 7

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Visões de um desenvolvimento futuro veja o vídeo

Digitalização e inovação são pilares para desenvolvimento do Brasil

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Brasil tem uma agricultura tropical de excelência, cidades com grandes aglome­rações e uma sociedade que adota de forma natural as novidades tecnológicas, o que torna o País um campo fértil para a aplicação de novas tecnologias que também possam impulsionar uma melhor qualidade de vida. Além dessas características, o País conta com empresas comprometidas com inovação e instituições de ensino que buscam formar profissionais altamente qualificados para o mercado de trabalho. Esse conjunto de fatores pode gerar em 2025 até 200 bilhões de dólares no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro que sejam originados por tecnologias de digitalização, promovidas principalmente pela Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês). Essa estimativa é apontada por um estudo elaborado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. O objetivo foi possibilitar que as informações coletadas possam ser utilizadas em um plano de ação de ambos os órgãos para que se tornem atores mais ativos no processo de desenvolvimento do País. “Estamos diante de uma questão que vem se afirmando para as próximas décadas e que coloca um desafio muito grande para a política pública e a sociedade brasileira, que é a demanda por incorporação de tecnologia”, destacou Júlio Ramundo, su­perintendente da Área de Indústrias de Base do BNDES, em sua palestra após a sessão de abertura. “É importante que o Brasil não seja mera testemunha da incorporação tecnológica, mas ator desse desenvolvimento”, completou. O estudo apresentado por ele coletou informações em quase 200 empresas e recebeu mais de duas mil contribuições com origem em participação pública, por meio da internet. O estudo apontou que a aplicação da IoT tende a render, para o Brasil, o aumento da competitividade de sua economia, fortalecimento das cadeias produtivas nacionais e promoção da melhoria da qualidade de vida. Para a elaboração de ações práticas visando o desenvolvimento sustentável da sociedade brasileira, quatro verticais foram definidas: cidades, saúde, rural e indústrias. Dentro delas, foram estabelecidos eixos conforme a demanda e a possibilidade de acompanhá-los de forma mais precisa nos próximos anos.

Júlio Ramundo

Superintendente da área de Indústrias de Base do Banco Nacional do Desenvolvimento - BNDES

“Formulamos mais de 70 iniciativas de curto, médio e longo prazos para fazer com que essa agenda de ação deslanche nos próximos anos”, informou Júlio Ramundo. No eixo de ação nas cidades, o foco será a mobilidade de frotas e deslocamentos, a segurança pública, o uso eficiente de recursos públicos, considerando a inovação sendo permeada em todas essas áreas. No campo, o foco estará no uso eficiente de recursos naturais, insumos e maquinário, segurança sanitária e inovação. Outro ponto defendido pelo executivo é quanto à visibilidade da inovação gerada a partir do uso da IoT. Em função do elevado número de municípios, ele defende que exista um observatório no qual as informações de cada cidade sejam compartilhadas. Já existem exemplos do emprego desse conceito no País: em Fortaleza (CE), a sexta melhor mobilidade urbana do País, existe uma parceria entre governo e iniciativa privada com incorporação de IoT; o mesmo ocorre com a revitalização de bairros no Rio de Janeiro (RJ) ou com a adoção de câmeras de vigilância em Jundiaí (SP) para coibir o roubo de carros. Para Júlio Ramundo, o objetivo maior da criação de eixos de trabalho no estudo é colocar o Brasil na vanguarda do desenvolvimento dessas tecnologias. Ele confia que a sua adoção pela sociedade é natural, com uso das tecnologias que surgirão nas próximas décadas. Eixos de ação no campo: uso eficiente de recursos naturais e insumos, uso eficiente do maquinário, segurança sanitária, inovação. Eixos de ação nas cidades: mobilidade de frotas e deslocamentos, segurança pública, uso eficiente de recursos públicos, inovação.

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A CIDADE INTELIGENTE - VISÕES

Visões da integração campo-cidade veja o vídeo

Tecnologias integram campo e cidade

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ampo e cidades prometem ser inteligentes. Essa é a perspectiva de analistas sobre 2050, em que os dois ambientes serão dotados de tecnologias que facilitem a vida de seus cidadãos e também impulsionem a atividade produtiva de empresas. A tendência é de integração entre campo e cidade, com futuras redefinições de fronteiras. Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade de Columbia, acredita que a integração será feita a partir de tecnologias, reduzindo a diferenciação entre setores da economia brasileira. “Se o indivíduo trabalha em uma empresa de sementes, em uma companhia de autopeças ou em uma empresa de crédito, na verdade, ele trabalha em uma empresa de tecnologia”, disse. Com essa visão, mudarão tanto o mercado de trabalho quanto o perfil do profissional. O caminho para o crescimento de um país passa por seus investimentos em tecnologia e, para isto, segundo Marcos Troyjo, são necessários quatro pilares básicos: acervo de conhecimento; parcela do PIB nacional destinada a investimentos em inovação; empreendedorismo em tecnologia; e cultura voltada para a relação entre conhecimento, capital e empreendedorismo. Isso é possível, segundo ele, quando as nações percebem que a tecnologia é o caminho para serem mais ricas, poderosas e influentes. Entretanto, existe uma perspectiva negativa para o futuro. A mudança no perfil do trabalhador necessário para os postos de trabalho que serão criados com a introdução de tecnologias nos mais diversos setores implica na adequação da mão de obra às novas tendências. Caso a mudança não ocorra, poderá haver um contingente de pessoas desempregadas e sem as habilidades fundamentais para desempenhar determinadas funções. “Se nós analisarmos o número de desempregados hoje, veremos que muitos não trabalham por questões conjunturais, e uma outra parte já não tem mais as aptidões necessárias para se engajar nas atividades originadas na quarta revolução industrial”, destacou.

Marcos Prado Troyjo

Diretor do BRICLab da Universidade de Columbia, EUA

A parte positiva é que há, tanto no cenário mundial como no ambiente interno, fatores que nos trazem confiança em um futuro promissor. Para isto, destacou três pontos: crescimento da China e de seus países vizinhos – o que tende a influenciar na demanda por mais alimentos e bens de consumo –, a noção de riscos altos para investimentos nos Estados Unidos após a eleição de Donald Trump, a saída do Reino Unido da União Europeia e a experiência criada em solo brasileiro nos últimos anos e que define o que não deve ser feito nos próximos. “Eu tenho a impressão de que temos uma janela se abrindo para uma mudança em nosso País nos próximos 18 meses”, afirmou Marcos Troyjo, sinalizando a importância das próximas eleições presidenciais e a integração entre campo e cidade com uso da tecnologia.

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A CIDADE INTELIGENTE - VISÕES

Uma viagem no tempo

A cidade e o campo em 2050

veja o vídeo

Professores da FEI, em atividade lúdica, compartilham visão positiva do Brasil e do mundo no futuro

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Brasil é referência em agronegócio. Estados Unidos e México têm em sua fronteira vastas plantações de milho, completamente automatizadas e monitoradas empregando a internet das coisas, e o monitoramento da saúde é feito por meio de chips e nanorrobôs inseridos nas pessoas. Esse é o ano de 2050 projetado em uma atividade lúdica realizada pelo professor doutor Rodrigo Magnabosco, coordenador da pós-graduação stricto sensu em Engenharia Mecânica da FEI, e pelo professor doutor Gustavo Donato, coordenador da Plataforma de Inovação FEI. A atividade buscou provocar e inspirar os presentes (docentes, alunos e convidados) a imaginarem a qualidade de vida do amanhã no qual quer viver e como ele pode construí-lo com base

em tecnologia e, principalmente, combinando o ser profissional com o humano amparado em seus valores. O conteúdo das projeções já havia sido desenvolvido em uma capacitação de professores da FEI, meses antes, segundo o professor doutor Vagner Barbeta, diretor do Instituto de Pesquisas da FEI-IPEI e coordenador da Agência FEI de Inovação, que também fez uma reflexão sobre o mundo há 33 anos. “Era 1984. Chegava ao mercado americano o primeiro telefone celular, e o Monza era o carro mais vendido no Brasil, seguido pelo Fusca”, lembrou. O primeiro iPhone só apareceu em 2007. A encenação mostrou um cenário inspirador para o Brasil, que em 2050 estaria com campo e cidade integrados e com intenso uso de tecnologias para melhor qualidade de vida das pessoas.

Da esq.: Rodrigo Magnabosco, Coordenador do curso de Pós-graduação Stricto Sensu em Engenharia Mecânica - FEI; Gustavo Donato, Coordenador da Plataforma de Inovação FEI

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A CIDADE INTELIGENTE - PAINEL 1

Da esq. para dir.: Wilson Poit, secretário municipal da Cidade de São Paulo; Thomaz Assumpção, presidente da Urban Systems; Álvaro Toubes Prata, secretário nacional de desenvolvimento tecnológico e inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações - MCTIC; Wilson Brício, presidente da ZF América do Sul e VDI; Eduardo Navarro, presidente / CEO da Telefônica Brasil; William Waack, jornalista.

PAINEL 1 Os desafios das cidades inteligentes em 2050 A IoT e as novas soluções para a qualidade de vida provocam alterações substanciais nas formas de vida, nas organizações sociais e na economia. As grandes cidades terão novas soluções para os problemas de energia e de água e também novos modelos de gestão dos negócios. A gestão de recursos e de pessoas em 2050 sofrerá fortes impactos tecnológicos e esses são apenas alguns dos enormes desafios aos futuros administradores.

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Future Flash

As palavras do empreendedor Liderança, gestão e política são fundamentais para que as gerações atuais se preparem para o futuro

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er um empreendedor envolve mais que abrir a empresa e tirar dela seu sustento. É preciso criar, inovar e encontrar formas de se diferenciar em meio a um mercado competitivo e globalizado, e os desafios aumentam quando pensamos em gestão e relacionamento com pessoas. Essa foi a linha do primeiro Future Flash do 2º Congresso de Inovação FEI - Megatendências 2050. A apresentação feita antes dos painéis visou provocar a reflexão na plateia para as discussões seguintes entre os painelistas. Wilson Poit, secretário municipal de desestatização e parcerias na Prefeitura de São Paulo, cursou Engenharia Elétrica no Centro Universitário FEI na modalidade eletrotécnica e formou-se em 1981. Natural de Osvaldo Cruz, no interior de São Paulo, Wilson é filho de pai alemão e mãe espanhola, e foi criado até 11 anos sem luz elétrica. Aos 26, tornou-se empresário. “Eu tive várias empresas”, disse ele. “Então fundei a Poit Energia, que veio a se tornar a líder de mercado na América Latina em aluguel de geradores de usinas termelétricas.” Defensor do empreendedorismo, após ser trainee em uma multinacional durante dois anos, abriu sua primeira empresa. “A diferença entre o empreendedor e o louco é que o empreendedor convence os outros da sua loucura criativa”, disse. Segundo ele, esse é um dos aprendizados que adquiriu na convivência com outros profissionais na Endeavor, organização de apoio ao empreendedorismo e a empreendedores de alto impacto, da qual se tornou conselheiro após a venda da Poit Energia para a inglesa Aggreko, em abril de 2012. Ao longo de sua carreira como empreendedor, aprendeu muito sobre liderança e enfatizou o papel do otimismo e trabalho em equipe: “Líder é quem bate metas, entrega resultados, que trabalha em equipe e não busca fazer tudo sozinho; é aquele que

Wilson Poit - secretário municipal da Cidade de São Paulo

faz direito sem atalhos e procura também formar seu sucessor.” Outro ponto abordado foi a separação entre os papéis de dono e de gestor em uma empresa. “A partir do momento em que perdi o ciúme em delegar e encontrar melhores gestores do que eu, a empresa cresceu e conseguimos ter filiais em todo o Brasil e expandir os negócios para outros países”, destacou. O interesse pela política é visto como essencial para o desenvolvimento da pessoa como profissional e como cidadão. “O preço para quem não se interessa por política é ser governado por aqueles que se interessam e que podem não estar em sintonia com o que a pessoa deseja para a sociedade”, disse. Essa é a sua segunda passagem em uma secretaria da cidade de São Paulo: em 2014, foi secretário de Turismo, na gestão do prefeito Fernando Haddad; em 2017, assumiu a Secretaria de Desestatização e Parcerias na gestão do prefeito João Doria. Em sua visão de futuro, prevê governos enxutos, focados no essencial, e cidades com centralidades econômicas regionais. Destaca ainda soluções inovadoras e tecnológicas para as cidades, com maior uso de carros elétricos e compartilhados, além de deslocamentos curtos, feitos em microrregiões, onde as pessoas possam morar e trabalhar.

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A CIDADE INTELIGENTE - PAINEL 1

Painelistas

Álvaro Toubes Prata Secretário nacional de desenvolvimento tecnológico e inovação do MCTIC

Moderação

William Waack - Jornalista

Wilson Bricio Presidente da ZF América do Sul e VDI

Eduardo Navarro Presidente / CEO da Telefônica Brasil

Thomaz Assumpção Presidente da Urban Systems

Cidades serão mais humanas e tecnológicas As cidades terão deslocamentos menores e tecnologias que favorecerão a gestão

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impacto dos desafios das cidades inteligentes norteou as discussões do Painel 1, que teve o jornalista William Waack como mediador. Em sua abertura, ele enfatizou a necessidade de se entender o papel da sociedade brasileira na produção e no uso de ferramentas inovadoras no futuro. “Tenho a impressão de que a população no Brasil tem uma ideia errada de que inovação e geração de conhecimento não são importantes, imaginando que seus efeitos seriam sentidos só daqui muitos anos e pouco nos impactariam”, disse. “Não é a simples existência do que é considerado moderno que faz com que as pessoas adotem as atitudes necessárias.” Segundo ele, o desafio está na assimilação da tecnologia pela população, e isso está diretamente relacionado à percepção política dos cidadãos e seu papel na construção de uma sociedade melhor. Para o jornalista, o público do 2º Congresso FEI de Inovação e Megatendências 2050 faz parte de uma elite pensante do País, o que demanda que se busque não apenas uma reflexão sobre tecnologia, mas também sobre política, pois, segundo ele, “é dela que dependemos se quisermos encontrar as melhores soluções para a sociedade”.

Ao passar a palavra para os painelistas, Waack direcionou questões para que pudessem debater o futuro das cidades. “A tecnologia tornará possível novos modelos de organização”, disse Wilson Brício, presidente da ZF América do Sul e VDI, gerando a discussão sobre a descentralidade das cidades no futuro. “São Paulo tem pelo menos umas dez cidades internas”, destacou Thomaz Assumpção, presidente da Urban System. Para os painelistas, ao se trabalhar com a noção de cidade descentralizada, em que a produção está mais próxima do indivíduo e os deslocamentos são menores, é possível vislumbrar uma nova organização que usará a tecnologia a favor de uma melhor gestão. Um exemplo apresentado por Álvaro Toubes Prata, secretário nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, é a produção de energia pelos próprios prédios. “Hoje, na Holanda, você pode escolher em um hotel que tipo de energia quer consumir - eólica, solar ou hidráulica. Essa gestão na qual se estimula a existência de prédios inteligentes que possam produzir sua própria energia passa pela descentralização”. Eduardo Navarro, presidente e CEO da Telefônica Brasil, destacou que é preciso pensar nos deslocamentos nas cidades. 13

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A CIDADE INTELIGENTE - PAINEL 1

“No caso de uma cidade como São Paulo, espera-se que a prefeitura trabalhe para reduzir o tempo gasto pelas pessoas nos deslocamentos”, defendeu Eduardo. “Nós convivemos com um trânsito pior que 20 anos atrás. Então o problema não é tecnológico, mas a forma como os gestores públicos estão conduzindo essa transição, com olhos no passado. O gestor ainda pensa em ministérios, enquanto as empresas digitais atuais vivem em soluções horizontais.” São Paulo foi usada como exemplo de grande cidade que precisa enfrentar os desafios da aglomeração de pessoas em centros urbanos. “Sempre vamos, de uma maneira geral, preferir as cidades”, defendeu Álvaro Toubes Prata. “O grande desafio das cidades inteligentes é torná-las mais humanas. Não podemos esquecer que as cidades têm uma única centralidade: as pessoas.” A gestão pode ser mais participativa, segundo Wilson Brício, e a tecnologia permite que isso ocorra, mas com ressalva: “A cidade pode ser tão inteligente quanto a tecnologia permitir, mas se seus habitantes não tiverem conhecimento, ela será ignorante.” Thomaz Assumpção concordou com o uso de tecnologia para facilitar a gestão nas cidades, priorizando o cidadão. Ele aponta, no entanto, a existência de incoerências com esse cenário tecnológico, usando como exemplo o fato de que alguns municípios brasileiros, até hoje, não têm os registros de seus

cidadãos feitos de forma digital. Plantas e mapas, por exemplo, existem apenas no formato convencional, em papel. O armazenamento de dados envolve também o uso de big data, o acúmulo de informações a partir de aparelhos tecnológicos, que podem ser usados para a personalização de serviços e para o entendimento sobre demandas da população das cidades. Para Wilson Brício, “o big data é um facilitador para lidar com todas as informações, armazená-las e permitir que as pessoas recebam em suas casas produtos e serviços personalizados de acordo com seus perfis”. Eduardo Navarro completa: “Hoje, com os smartphones, tudo é rastreável.” O verdadeiro desafio nesse cenário, segundo Eduardo, é a segurança das informações e como a regulamentação cuidará dos dados dos cidadãos. “Nós só podemos tratar de dados agregados”, disse, sinalizando que informações que definem o perfil individual de um cidadão, como o horário que ele entrou em um ônibus, devem ser de alguma forma mantidas em sigilo. Independentemente de quem serão os governantes no futuro, o que é consenso são os desafios nas grandes cidades. A gestão pública precisará se adequar às mudanças e promovê-las de forma sustentável e para benefício dos veja o vídeo cidadãos.

O futuro dos municípios Nas grandes cidades, descentralização é importante para melhorar a qualidade de vida. Thomaz Assumpção está à frente da Urban Systems, empresa focada no desenvolvimento e acompanhamento de indicadores e que permite fornecer orientação de investimentos. A empresa produz o ranking Smart Cities, que aponta as cidades com maior potencial tecnológico. Com base em seu conhecimento, ele focalizou a descentralização das cidades.

1. Como funciona o processo de descentralização? Thomaz Assumpção - Ela ocorre em cidades acima de 500 mil habitantes. Essas cidades começam a ter a necessidade de criar um outro centro. Na medida em que a cidade cresce, são construídos bairros mais distantes e é preciso levar uma centralidade nova e equilibrada para essas regiões. Não adianta só moradia ou trabalho, é necessário também suprir as regiões com saúde e educação, por exemplo. Com isso, se reduz a mobilidade urbana e a centralidade é equilibrada de forma que o cidadão possa morar, trabalhar e se divertir dentro do seu bairro. Uma cidade convive com duas ou três centralidades bem. Em cidades como São Paulo, você tem até 15 ou 20 centralidades equilibradas que favorecem a qualidade de vida do cidadão.

2. Isso não aumenta a divisão geopolítica de municípios? Thomaz Assumpção - Não, mas cada vez mais a divisão geográfica das cidades está desaparecendo e surge uma conectividade econômica entre as cidades. Há pessoas que moram em Jundiaí ou São Bernardo do Campo e trabalham em São Paulo ou vice-versa. Essa movimentação nas grandes megalópoles interfere muito mais no sistema econômico já existente. 3. Há uma perspectiva sobre a quantidade de municípios no futuro? Thomaz Assumpção - A municipalização que ocorreu até hoje não está lastreada na questão econômica, mas sim na política partidária. Com um número x de municípios, há um número y de vereadores. Mas, para a manutenção de um município, são necessários os recursos econômicos e alguns deles irão desaparecer, o que influenciará em uma readequação de municípios.

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A CIDADE INTELIGENTE - PAINEL 2

Da esq. para dir.: Breno Barros, diretor global de digital business & innovation na Stefanini; Rogelio Golfarb, vice-presidente de estratégia, comunicação e relações governamentais da Ford para América do Sul; João Fernando Gomes de Oliveira, vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências, vice-presidente da VDI - Brasil e professor titular da Escola de Engenharia de São Carlos da USP; Besaliel Botelho, presidente da Robert Bosch América Latina; José Emílio Ambrósio, jornalista; Antonini Puppin-Macedo, diretor geral do Centro de Pesquisa e Tecnologia da Boeing no Brasil

PAINEL 2 As soluções para mobilidade e conectividade As novas tecnologias e o acesso cada vez maior às informações vão impactar o comportamento social, em um cenário de conectividade exponencial que também demandará soluções para a mobilidade, com uma visão de maior compartilhamento no transporte e foco na sustentabilidade e na segurança.

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Future Flash

Uma nova cultura para a mobilidade Locomoção no futuro deve ser mais compartilhada e sustentável

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estimativa da ONU é que o mundo tenha 9,8 bilhões de pessoas até 2050. O dado, apresentado por Besaliel Botelho, presidente da Robert Bosch América Latina, chama atenção por seus prováveis impactos: a demanda por mais trabalho, alimentação e demais serviços essenciais para a sobrevivência humana será maior. Por outro lado, para o executivo, é possível haver diferentes formas de relações interpessoais, de comunicação e de mobilidade no futuro. “Para aprimorar a qualidade de vida das pessoas no futuro, as cidades e o campo precisam se tornar mais inteligentes e utilizar tecnologias digitais para serem mais eficientes”, defendeu Besaliel. Para 2050, o desafio é uma demanda 60% maior de alimentos, 50% a mais de energia e 40% a mais de água potável, o que coloca a América Latina e a África como pontos de destaque, por serem locais abundantes em recursos naturais, suficientes para o abastecimento. Quanto à concentração de pessoas, a perspectiva é que 70% da população mundial viva em áreas urbanas – mais um desafio para a mobilidade. A cultura da população em 2050 aponta para uma nova forma de se locomover, sem a visão de propriedade sobre os automóveis. “Estamos mudando de uma cultura de carro próprio para uma de compartilhamento”, disse o presidente da Robert Bosch América Latina.

Besaliel Botelho - presidente da Robert Bosch América Latina A sustentabilidade também preocupa e Besaliel apontou para a necessidade de diminuição da emissão de óxidos de nitrogênio e dióxido de carbono pelos carros. No Brasil, uma solução para esse problema seriam veículos movidos em parte por Etanol e outra por eletricidade. “Nosso País tem um ativo que ninguém tem: o etanol, fonte de energia muito mais limpa”, disse. Ele explicou, ainda, que esse modelo de automóvel não é interessante para outros países pela falta da matéria-prima. “É importante achar o equilíbrio entre a mobilidade e seus imveja o vídeo pactos ambientais”, defendeu.

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A CIDADE INTELIGENTE - PAINEL 2

Painelistas Rogelio Golfarb Vice-presidente de estatégia, comunicação e relações governamentais da Ford para América do Sul

Moderação

Breno Barros Diretor global de digital business & innovation na Stefanini

José Emílio Ambrósio - Jornalista

Antonini PuppinMacedo Diretor geral do Centro de Pesquisa e Tecnologia da Boeing no Brasil

João Fernando G. de Oliveira Vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências

É preciso pensar nas soluções de locomoção Mobilidade e conectividade nas cidades inteligentes geram desafios

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a mesma forma que o acesso à informação mudou ao longo dos anos – hoje os smartphones já ocupam a segunda posição no ranking, atrás apenas da televisão aberta – outras plataformas e formas de conexão podem surgir para atender às necessidades das pessoas, inclusive para trazer soluções de mobilidade. Para o jornalista José Emílio Ambrósio, mediador do Painel 2, “cada coisa que evolui faz mudar nosso comportamento social”, e as tecnologias como big data e internet das coisas dão ao futuro uma perspectiva de conectividade exponencial. Os desafios, no entanto, existem. “Para 2050, fala-se em mais de 200 bilhões de dispositivos inseridos no conceito de internet das coisas. Ela está conectando tudo e todos”, comentou Besaliel Botelho. “Conectividade é mais do que tecnologia e comunicação. Os dispositivos terão sua inteligência própria para interagir. Tudo será smart”. “As grandes oportunidades existem quando entendemos o comportamento humano, e isso reflete em novos negócios”, disse João Fernando Gomes de Oliveira, professor titular de Engenharia de Produção da Universidade de São Carlos. Ele citou a empresa de tecnologia Uber, focada na oferta de veículos para viagens de curta a longa distância. “Toda essa máquina tem por trás alguém que imagina a jornada do cliente ideal.” Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford, completou: “Precisamos nos divorciar da maneira como lidamos com a mobilidade agora e ir para uma nova maneira. Se eu consigo resolver um pain point, ou seja, a demanda por algo novo e necessário para o usuário, como o conforto e a mobilidade de um motorista particular para aqueles que não têm, é metade do trabalho. A outra está em criar um modelo de negócios por trás disso.”

Antonini Puppin-Macedo, diretor geral do Centro de Pesquisa e Tecnologia da Boeing no Brasil, defendeu que precisamos olhar para as gerações no futuro para entender sobre o caminho da tecnologia. “Como prepararemos as mudanças para as próximas gerações?” Para Antonini, essa resposta está na velocidade de conexão entre as pessoas, que aumentará de forma exponencial nos próximos anos. Um grande desafio para as mudanças previstas com a introdução da tecnologia, e que está ligado à necessidade de adequá-las ao perfil das próximas gerações, é a segurança na rede. Breno Barros, diretor geral de Digital Business & Innovation na Stefanini, sinalizou que o dinheiro é cada vez mais virtual. “A cada dez tentativas de abertura de contas em aplicativos no Brasil, seis são fraudes”, disse. “As soluções de inteligência artificial não são usadas só por empresas para criar modelos de negócios, mas também por hackers, para atacar”, completou, defendendo que o uso da nuvem também deve ter como foco a criação de soluções para segurança. Os dados acumulados pelas empresas, mesmo quando seguros da invasão de hackers, apresentam o desafio da privacidade. Rogelio Golfarb deu um exemplo de atuação na Ford. “Desde o momento em que decidimos trabalhar com big data, a primeira atitude foi deixar claro o ponto de partida: os dados pertencem ao consumidor”, disse. Já Breno Barros defendeu que “em 2050, a privacidade será muito peculiar. Haverá um ponto em que não importa de quem serão os dados, a busca será por tecnologia e seus benefícios”. Segundo ele, a tecnologia trará para as cidades inteligentes maior eficiência na mobilidade das pessoas, para que tenham mais tempo para o lazer, interação e investir em um negócio.

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Da esq. para dir.: Fernando Lemos,vice-presidente da ORACLE; Bernardo Silva - presidente executivo da Associação de Biotecnologia Industrial - ABBI; Gustavo Grobocopatel, presidente do Grupo Los Grobo; Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio - ABAG; Carlos Alberto Tramontina, jornalista

1º DIÁLOGO DE LÍDERES Para onde vai o agronegócio? A sustentabilidade é um valor adquirido para o desenvolvimento com qualidade nas dimensões econômicas, sociais e ambientais, e a Internet das Coisas influenciará essas formas e conteúdos. Novos paradigmas e novos hábitos darão outra dimensão às preferências dos consumidores, que terão grande impacto em nossos padrões de consumo. Como lidar com esta dinâmica e quais as consequências esperadas?

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O CAMPO INTELIGENTE - 1º DIÁLOGO DE LÍDERES

Painelistas

Moderação

Carlos Alberto Tramontina - Jornalista

Bernardo Silva Presidente executivo da Associação de Biotecnologia Industrial - ABBI

Luiz Carlos Corrêa Carvalho Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio - ABAG

Gustavo Grobocopatel Presidente do Grupo Los Grobo, Argentina

Fernando Lemos Vice-presidente da Oracle

Agronegócio brasileiro pode liderar o mundo Brasil é aposta para a produção de alimentos e energia renovável

O

Agronegócio brasileiro possui grande potencial de crescimento na biomassa. Essa evolução depende não só da capacidade de produtores e da indústria em investir em inovação, mas da geração de políticas públicas e de investimentos em novas tecnologias. Tem ainda potencial para ser uma plataforma mundial de exportação de máquinas e insumos. E deve se preparar para ocupar este espaço. Para debater os novos caminhos da agroindústria, o 1º Dialogo de Líderes foi moderado pelo jornalista Carlos Tramontina, da TV Globo, focalizando o tema “2050, Quo Vadis Agri-Industria?” (“2050, para onde vai o agronegócio?”, em português). Ao abrir a discussão, Tramontina disse que discutir agricultura, hoje, é tratar de um dos assuntos mais importantes da atualidade, pois é um setor com vários desafios à frente no Brasil e no mundo todo. Segundo ele, estudos mostram que em 2050 serão 10 bilhões de habitantes no mundo e um grande desafio será alimentar esta população em um cenário com limitações geográficas de áreas para a produção agrícola e com aumento do consumo da água. A tecnologia representa uma forte aliada na resposta a tais questões, assim como no enfrentamento de condições climáticas adversas e no aumento da produtividade. “No Brasil, estes temas ganham maior relevân-

cia, pois este é um País pobre, com problemas econômicos e onde a tecnologia engatinha com falta de pessoas com conhecimento tecnológico de ponta e onde o governo corta investimentos em ciência e tecnologia. Este é o fato. Há ainda questões do meio ambiente, desenvolvimento urbano, a tecnologia como a internet que não chega a todos os locais do País”, ressaltou ao abrir o debate. Em relação ao cenário mundial para o futuro, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), acredita que o Brasil seguirá seu crescimento, apresentando evolução frente aos desafios. A melhora, no entanto, está relacionada à produção tecnológica, posicionamento dos países frente à globalização e protecionismo nas importações, além das alterações climáticas e seus efeitos. “Em meio a esses pontos fundamentais, lidaremos, ainda, com questões demográficas, de educação, confiança para investimentos e desigualdade”, completou. No que concerne à produção de alimentos, um dos aliados do futuro é a robótica. A visão do argentino Gustavo Grobocopatel, presidente do Grupo Los Grobo, é de que o uso de robôs mudará o que conhecemos sobre o campo. “A robótica é tradicionalmente pensada para substituir a mão de obra, mas creio que haverá uma robótica que mudará toda a produção agrícola”,

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disse. “No futuro, não precisaremos de tratores, mas teremos máquinas que plantarão as sementes integrando genética, tecnologia e biotecnologia”, concluiu. A biotecnologia, segundo ele, também tende a mudar o funcionamento das plantas produtivas. Captação de energia a partir do sol e redução da produção de resíduos são alguns dos pontos que alterarão a produção no campo – recebendo especial atenção do agronegócio. Bernardo Silva, presidente executivo da Associação Brasileira de Biotecnologia Industrial (ABBI), acredita que o Brasil tem potencial nessa área. “A ABBI começou há três anos reunindo empresas nacionais e multinacionais que vislumbram no País um espaço a ser ocupado pela bioeconomia avançada, o que envolve a biomassa abundante e competitiva, a maior biodiversidade do mundo, competência técnica e a infraestrutura do agronegócio. Essas empresas examinaram três megatendências mundiais para propor uma mudança de paradigma industrial, com foco em tecnologias de produção de bens e materiais de origem biológica. Segundo ele, elas são: maior longevidade da população e que viverá mais nas cidades; o crescimento da indústria 4.0 para atender maior população que vai consumir produtos de alto valor agregado; e as mudanças climáticas com impacto nos negócios e indo além da aplicação da sustentabilidade, ao visar a sobrevivência da humanidade”. Para ele, a chance de mudar o mundo é agora e a biotecnologia industrial vai auxiliar nesta mudança, usando a agricultura brasileira rica em biomassa para desenvolver, entre outros campos, o etanol de segunda geração e os bioplásticos. “Há um reconhecimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) de que o crescimento da oferta de produtos derivados da biomassa terá no Brasil o principal player”, segundo Luiz Carlos. “Em 10 anos, o País

deverá ser o ator mais importante, do ponto de vista geopolítico, em produção de alimentos e energia renovável”, concluiu. Para que o cenário positivo se confirme, é preciso que academia, indústria, empresas e investidores trabalhem juntos, segundo Fernando Lemos, vice-presidente da Oracle. Ele destacou a necessidade de talentos para criar e aplicar a inovação. “A curva da demanda vai crescer. Onde há demanda, se melhorarmos a inovação com pessoas brilhantes e talentosas, criaremos novas oportunidades”, disse. Otimista, ele defendeu que já há tecnologia produzida pelos jovens e que campo e indústria devem trabalhar para sua aplicação. Fernando Lemos apresenta um cenário de aplicação da tecnologia que interessa ao Brasil para que seja um País ultracompetitivo no cenário mundial. “O gap de tecnologias disponíveis versus as aplicadas ainda é grande em todos os cenários: robótica, tecnologia da informação, bioinformática e biotecnologia”, definiu. A aplicação do que já foi criado em termos de inovação é uma maneira de incentivar uma melhora dos índices brasileiros, segundo ele. “Se aplicarmos essas inovações, poderemos mudar qualquer curva de consumo. O que precisamos é ter novos pensadores aplicando essas tecnologias”, afirma. As contribuições definem um cenário de futuro promissor para o Brasil, se seguidas as medidas necessárias para o incentivo do uso de tecnologia e dos fatores que favorecem o País, como seu clima, sua capacidade produtiva na área de alimentos, sua energia e seu potencial para melhorar o agronegócio, que já é grande e competitivo no mundo. Para onde vai a agroindústria brasileira? A tendência é que seja cada vez mais na direção de se tornar veja o vídeo referência global.

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O CAMPO INTELIGENTE - 1º DIÁLOGO DE LÍDERES

PRESENÇA ILUSTRE Investir em inovação é fundamental para o crescimento do Brasil

veja o vídeo

Ministro destaca o papel de instituições de ensino para o País mudar de patamar

O

ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, abriu o segundo dia de atividades do Congresso. Ele foi recebido pelo presidente da FEI, Pe. Theodoro Peters, S.J., pelo reitor do Centro Universitário, professor doutor Fábio do Prado e pelo vice-presidente da Instituição, Antonio Roberto Batista. Pe. Theodoro Peters saudou o ministro, ressaltando a importância de sua visita no evento que abriu amplo diálogo entre os participantes e ainda destacou duas menções: “A primeira menção é ao apoio institucional e incentivo do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações à Plataforma de Inovação FEI, já adotada pela nossa comunidade discente, docente, funcional, bem articulada e gestada com a participação de empresas e indústrias em processo de desenvolvimento e implantação”. Em segundo lugar, o Pe. Peters destacou o papel do pai do ministro, doutor Pedro Kassab, que, em suas palavras, foi “um grande educador, formador de opinião e grande colaborador da FEI. Homem que inovava com saídas inteligentes diante de questões novas e inesperadas. Expresso nosso reconhecimento e a gratidão”.

Em suas palavras, o Ministro Gilberto Kassab ressaltou que sua presença deveria ser representada pelo simbolismo da presença do governo brasileiro no evento. Segundo ele, “eventos como esse são investimentos para a Instituição e para o País. É uma iniciativa que mostra o que é investir em inovação e quais as perspectivas que isso traz para que possamos contagiar os formadores de opinião com a ideia de que a melhor saída para o crescimento de qualquer país é o investimento em pesquisa e inovação”. Também abordou a dificuldade das instituições governamentais em manter suas iniciativas diante da limitação de verbas, que devem seguir as diretrizes determinadas pelo orçamento definido. Segundo ele, o Brasil esteve atrás de outras nações por anos, e é como se ainda precisasse despertar para que seja uma referência global no futuro, mas que é preciso que sejam geradas iniciativas de fomento à inovação como a do Congresso FEI. “Com isso, o País pode direcionar de maneira objetiva políticas públicas, contando com a conectividade, que pode auxiliar a ultrapassar desafios nunca antes possíveis de serem enfrentados, como o monitoramento de fronteiras”.

Da esq. para dir.: Pe. Theodoro Peters, S.J., presidente da Fundação Educacional Inaciana Pe. Saboia de Medeiros - FEI; Antonio Roberto Batista, Vice-presidente da Fundação Educacional Inaciana Pe. Saboia de Medeiros; Gilberto Kassab, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações; Fábio do Prado, reitor do Centro Universitário FEI

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Da esq. para dir.: Joel Garbi Júnior, diretor geral da Next Step Consultoria em Recursos Humanos; Leonardo Sologuren, sócio-diretor da Zeus Agrotech; Maria Beatriz Bley, diretora do Planeta Orgânico; Theo van der Loo, presidente da Bayer; Rodrigo Figueiredo, diretor de suprimentos da AMBEV; André Clark Juliano, presidente e CEO da Siemens do Brasil

PAINEL 3 Alimento e energia para o mundo As commodities brasileiras têm grande impacto sobre os números do agronegócio, refletidos no PIB nacional. Grãos, carnes e frutas atendem grande parte da demanda mundial e ditam o potencial brasileiro para se tornar referência na produção de alimentos no futuro. Entretanto, é necessário atenção para que os índices positivos não criem estagnação e reduzam a competitividade e mudanças no agronegócio.

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O CAMPO INTELIGENTE - PAINEL 3

“O BRASIL TEM 70 MILHÕES DE HECTARES DISPONÍVEIS PARA CRESCER DE FORMA AMBIENTALMENTE Leonardo Sologuren

Sócio-diretor da Zeus Agrotech

CORRETA

Future Flash

É preciso melhorar a produtividade no campo Brasil deve focar em tecnologia e em agregar valor aos produtos para não ser refém da exportação de commodities

A

visão futura do campo passa por mudança do perfil do País, deixando de ser exportador de commodities para se tornar um fornecedor de referência sobre exportação de produtos com maior valor

princípio de que a terra é finita e temos que tirar o máximo de proveito dela em uma mesma área”, defendeu. Em 1961, segundo dados apresentados pelo executivo, um hectare alimentava 4,5 habitantes, enquanto em 2010, esse mesmo espaço de terra passou a ter como referência 7,7 habitantes.

Leonardo Sologuren, sócio-diretor da Zeus Agrotech, abordou este alerta no Future Flash. Ele destacou que como segundo maior exportador de commodities, o Brasil enfrenta o desafio em agregar valor aos produtos e deixar de enviar ao exterior apenas os grãos. “Como pegamos uma commodity e a transformamos em um produto que agrega valor?”, questionou. E deu um exemplo do que poderia ser a solução para um caso específico: “Nós exportamos grãos de café, mas poderíamos fazer blend e exportar um café melhor”.

Para aproveitar a terra disponível, é preciso pensar em soluções que extraiam dela um contingente de alimentos de forma mais eficiente. O executivo caracterizou o futuro do agronegócio como uma era de digital farming, com a introdução de big data para coleta de dados que auxiliem nas decisões dos produtores. Segundo ele, se o agricultor sabe mais sobre o clima, por exemplo, consegue escolher uma variedade de ciclo tardio ou se deve aplicar determinados produtos para o plantio mais produtivo. Além disso, deve haver atenção para evitar o desperdício, o que influencia na produtividade e pode ser corrigido com o uso de máquinas inteligentes. “Há tecnologia para saber se houve falhas de plantio e como corrigi-las.”

agregado.

Para não ser refém de um modelo que prioriza a exportação de commodities agrícolas, o Brasil deveria investir mais em tecnologia. “Os países mais competitivos não o são apenas por uma questão macroeconômica, mas por criarem tecnologia. No Brasil, há espaço para inovar e desenvolver o setor agrícola”, disse Leonardo. De acordo com o Global Competitiveness Index, ranking que analisa a competitividade dos países pelo mundo, o Brasil é 80º nessa área. “Para melhorar a produtividade, partimos do

Além da possibilidade de aumentar a produção a partir da tecnologia, um estudo apresentado por Leonardo mostra que existe no País quantidade de terra disponível para aumento do uso pelo agronegócio.

veja o vídeo

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Painelistas

André Clark Juliano Presidente e CEO da Siemens do Brasil

Theo van der Loo Presidente da Bayer

Rodrigo Figueiredo

Maria Beatriz Bley Diretora do Planeta Orgânico

Moderação

Joel Garbi Júnior - diretor geral da Next Step Consultoria em Recursos Humanos

Diretor de suprimentos da AMBEV

Bioeconomia norteará o futuro Consumidores mais exigentes e maior demanda sinalizam a preocupação em aperfeiçoar o processo de produção para o futuro

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cenário esperado para o ano de 2050 em relação à produção e ao consumo relacionados ao agronegócio foram introduzidos no Painel 3 por Joel Garbi Jr., diretor geral da Next Step Consultoria em Recursos Humanos. “A fonte de alimentação nacional não será suficiente para a maioria dos países, que deverão ampliar a importação de alimentos e de energia. Dessa forma, a logística e a acessibilidade serão os grandes temas do futuro, ao lado da energia de biomassa, que passa a ser um elemento fundamental na cogeração de energia e também na composição da matriz energética sustentável”, disse o executivo. Estima-se, ainda, que 10 bilhões de pessoas habitarão o mundo em 2050. Até lá, países da África, por exemplo, podem ter expandido sua capacidade produtiva. O que também significa oportunidades para o Brasil. Etiópia e Moçambique, por exemplo, segundo Theo van der Loo, presidente da Bayer, têm terras muito boas e um clima semelhante ao brasileiro, o que nos define como um provável exportador de tecnologia para aqueles países. “O Brasil é uma locomotiva para o mundo,

e o agronegócio tem sido uma locomotiva para o Brasil”, disse o executivo, sinalizando que o foco de sua empresa são as ciências da vida, que visam a proteção das plantas, dos animais e dos seres humanos. “O Brasil vai exportar muito conhecimento, e a inovação é fundamental em um país que tem muitos talentos para produzi-la”, completou. Mas, antes de mais nada, é preciso manter a mão de obra especializada e com conhecimento para aplicar a inovação na produção brasileira, evitando a saída de talentos do Brasil. André Clark, presidente e CEO da Siemens Brasil, enfatizou que “o Brasil tem desafios horizontais, pois não há o problema do agronegócio, da indústria de aço ou da de eletrônicos. Os desafios estão em baixar a taxa de juros e em melhorar o planejamento”. Ele compara o agronegócio a uma indústria e acredita que, assim como as empresas, está sujeito a enfrentar eventuais crises de credibilidade que se originam em notícias sobre o processo produtivo daquilo que chega ao consumidor final. “Todos no mundo e no Brasil querem saber como foi produzido seu alimento, e isso hoje é possível ser feito com tecnologia”, disse.

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O CAMPO INTELIGENTE - PAINEL 3

O uso de base de dados, para Rodrigo Figueiredo, diretor de Suprimentos da AMBEV, é uma das possibilidades oferecidas pela tecnologia para a melhoria da eficiência no campo. Além disso, investimentos em gestão, recursos humanos e aperfeiçoamento da eficiência na produção e no material genético do que é cultivado são fatores que favorecem o crescimento de uma empresa no agronegócio. É possível ainda diversificar os modais de captação da produção agrícola, buscando também os pequenos e médios agricultores como fontes de suprimentos para os mercados. O executivo explicou que, na AMBEV, a cadeia produtiva começa no campo, com mais de 2.500 pequenos produtores envolvidos na produção de milho, cevada, guaraná, etc. Além da produção de alimentos para atender a demanda em função da tendência de crescimento da população, a energia também se tornou um desafio. Por isso, André Clark acredita no crescimento da oferta de energia eólica e solar. “As energias renováveis no Brasil são uma realidade e vão ter seu desenvolvimento acelerado. O País é um dos poucos territórios do mundo em que se pode compor energia eólica e solar em um

mesmo campo de produção, devido ao tempo quente durante o dia e aos ventos à noite”, disse. “A questão das energias renováveis pode ser um agente transformador no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) brasileiro”, disse Maria Beatriz Bley, coordenadora do Green Rio e diretora da Planeta Orgânico, acreditando na interferência da capacidade brasileira de produção nessa área. Ela defendeu a cultura da bioeconomia para o futuro, na qual está incluído o uso da biomassa e o acompanhamento do processo produtivo de alimentos. “É uma economia que privilegia o insumo bio em detrimento do fóssil, porque não teremos outro planeta para atender a demanda por alimentos e energia em 2050”, completou. Com mudanças estruturais no processo de produção, como a que privilegia os recursos renováveis, e o investimento em tecnologias para gestão e implementação de técnicas de plantio e cuidados no agronegócio, o Brasil tende a assumir uma economia capaz de levar seus produtos a outros países, como sugerido por Theo van der Loo. “É o futuro batendo na porta e afirmando que, se preparados, seremos referência nas soluções para as novas e crescentes demandas”.

Espaço para sustentabilidade A aplicação do conceito de bioeconomia pode evitar o esgotamento de recursos naturais A empresária Maria Beatriz Bley é coordenadora do Green Rio e diretora da Planeta Orgânico. Em sua trajetória, organizou e participou de eventos relacionados com agricultura orgânica, sustentabilidade e economia verde em diferentes países. Durante o Congresso, detalhou melhor o conceito de bioeconomia.

1. O que é bioeconomia? Maria Beatriz Bley - De uma maneira bem simples, a bioeconomia usa insumos que não sejam fósseis. Por exemplo, uma forma de energia sem petróleo. E por que isto está crescendo? Para evitar o esgotamento dos recursos naturais. Do jeito que o mundo está consumindo, precisaríamos de um outro planeta. Alemanha, União Europeia, Estados Unidos e Austrália já estão entrando em bioeconomia e o Brasil tem projetos nesta área. 2. A biomassa é um bom exemplo de bioeconomia? Maria Beatriz Bley - Sem dúvida, a biomassa é um dos grandes destaques da bioeconomia, desde a produção a partir da cana

até dejetos. No Paraná, em algumas pequenas cidades, há mais suínos que habitantes. Os produtores estão usando os dejetos desses animais para produzir sua própria bioenergia, além de gerar vendas dessa bioenergia. Isso é bioeconomia. 3. Como o big data influencia a bioeconomia? Maria Beatriz Bley - Com o big data, é possível haver um arranjo produtivo de quatro cidades próximas, por exemplo, e obter o que é mais forte em cada uma. É também possível fazer um ciclo de bioeconomia, percebendo qual é mais forte em biomassa ou melhor em sementes. Com as informações, agrega-se valor à bioeconomia aplicada em uma região.

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Da esq. para dir.: Francisco Matturro, vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio ABAG; Kepler Euclides Filho, secretário da Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento - EMBRAPA; Alex Foessel, diretor do Centro Latino Americano de Inovação Tecnológica da John Deere; Christian Lohbauer, diretor de assuntos corporativos e governamentais da Bayer; Silvio Furtado, diretor de vendas da ZF América do Sul

PAINEL 4 Produtividade e competitividade no campo A produção de alimentos depende também de fatores independentes dos interesses dos produtores e de seus investimentos. No agronegócio, obter maior produtividade está relacionado ao aproveitamento dos benefícios climáticos e das características de solos. O aumento dessa produtividade e da competividade no campo envolve a adoção de tecnologias e inovação, o que pode gerar mais atenção de investidores interessados no Brasil.

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O CAMPO INTELIGENTE - PAINEL 4

“PRECISAMOS SATISFAZER AS NECESSIDADES PRESENTES SEM COMPROMETER AS DAS PRÓXIMAS GERAÇÕES. Kepler Euclides Filho

Secretário da Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento da EMBRAPA

Future Flash

Mudanças no agronegócio para atender consumidor Setor deve investir em inovação e na gestão do negócio para atender demanda mundial de alimentos hoje e no futuro

O

produtor precisa ter um olhar empreendedor, para que possa estar preparado e atender as demandas crescentes de alimentos no mundo. Nesse sentido, deve melhorar seus processos no campo, aproveitar melhor as áreas cultiváveis e fazer uso da tecnologia. Inovar no campo é usar novas ferramentas e soluções para aperfeiçoar o sistema atual do agronegócio, visando garantir para as futuras gerações as condições adequadas para terem suas necessidades atendidas na alimentação. Nesse cenário, o Brasil tem perspectivas positivas, na visão de Kepler Euclides Filho, secretário de Pesquisa e Desenvolvimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Embora otimista, ele defendeu cautela. “Queremos gerar inovação, mas sabemos que os desafios devem ser vencidos, como o aumento da produtividade, a redução dos riscos de produção, a elevação da eficiência bioeconômica e a redução das assimetrias regionais, além de termos que agregar valor e qualidade à produção no País. Em sua apresentação durante o Future Flash do Painel 4, Kepler defendeu que é importante não confundir novidade com inovação. Enquanto a primeira indica algo simplesmente novo, a segunda tem origem em um conhecimento que saiu da academia e percorreu um caminho até ser incorporada e produzir uma transformação na sociedade. A geração de inovação passa por investimentos em conheci­

mento e pelo empreendedorismo, segundo Kepler. “Se não ti­ vermos empreendedores em qualquer segmento, não teremos inovação”, destacou. “A universidade tem um papel importante de formar profissionais que tenham a capacidade de empreender e de inovar”, atentou. Sobre as tendências para o agronegócio no futuro, Kepler destacou a importância do conhecimento sobre as demandas do consumidor e melhora de processos produtivos. “A agricultura vive um crescimento muito forte com o uso de tecnologias. Combinamos tecnologias da informação com computação, cognição e parte biológica”, disse. Ele ponderou que as pessoas não estão mais interessadas apenas em textura, odor ou sabor dos produtos: elas querem entender melhor os processos de produção. O perfil do consumidor, aliás, deve ser analisado pela indústria de alimentos, pois é ele que vai sinalizar as mudanças a serem feitas e entregues ao mercado como novos produtos ou aperfeiçoamento dos já existentes. “A indústria de alimentos precisa perceber, por exemplo, que a população mais idosa tem nível de exigência diferente, e que as pessoas trabalham cada vez mais em casa e precisam de alimentos que possam ser preparados de forma mais rápida”, disse. A preocupação com saúde e meio ambiente também está presente no perfil desse consumidor. E seguindo o conceito de sustentabilidade, Kepler defendeu a preocupação com as futuras gerações. “Precisamos satisfazer as necessidades presentes sem comprometer as das próximas gerações”, concluiu. 27

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Painelistas Francisco Matturro Vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio ABAG

Silvio Furtado Diretor de vendas da ZF América do Sul

Alex Foessel

Moderação

Christian Lohbauer - diretor de assuntos

Diretor do Centro de Inovação Tecnológica da América Latina da John Deere

corporativos e governamentais da Bayer

O caminho para aumentar a produtividade Oportunidade de crescimento do Brasil no agronegócio tem relação com sua característica tropical e com introdução de tecnologia no campo

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Brasil já é um grande produtor de alimentos e poderá ser o maior fornecedor para o mundo. Para isto, é necessário que se invista mais na transformação de alimentos em produtos de maior valor agregado para o País, na melhoria da eficiência energética, investindo em matrizes de energia limpa, no aperfeiçoamento da rastreabilidade e na introdução de mais tecnologias no campo. Segundo Christian Lohbauer, vice-presidente de Assuntos Corporativos da Bayer, o País contou com os empreendedores que fizeram do agronegócio brasileiro uma referência. Segundo ele, a evolução desse setor nos últimos 40 anos teve pouca influência do Estado: “Foram os empreendedores que pensaram e colocaram suas ideias em prática.” “A grande vocação brasileira passa necessariamente por um projeto que incorpore, na sua base, a produção de alimentos”, defendeu Christian, que foi o mediador do Painel 4. “O País tem, hoje, em torno de cinco milhões de propriedades rurais e 300

mil empresas dentro do jogo produtivo”, completou, focando no fato de que o crescimento é possível se o País seguir o processo de coordenação e aplicação do que há de novidade em termos de tecnologia. O diretor do Centro de Inovação Tecnológica da América Latina da John Deere, Alex Foessel, é otimista quanto à capacidade de produção do Brasil. Segundo ele, a grande oportunidade para o País está no fato de que hoje ele já é líder entre os países de agricultura tropical no que se refere ao conhecimento técnico e ao uso de máquinas no processo produtivo. “No futuro, a fonte principal de alimentação estará nos trópicos, e o Brasil já é líder hoje. Então ninguém terá a oportunidade de inovar com a velocidade do Brasil. É sua chance de se diferenciar”, completou. O aumento da produtividade no campo tem o apoio de uma rede de fomento à integração entre agricultura e pecuária organizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) junto com empresas do setor, como a John Deere, segundo

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O CAMPO INTELIGENTE - PAINEL 4

Francisco Matturro, vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG). “A Embrapa entra com a tecnologia e, após dez anos do início de um projeto, são 11,4 milhões de hectares com adoção de algum tipo de integração, sendo que 1,1 milhão desses hectares contam com 100% de uso da tecnologia”, disse. “É a terceira revolução do agronegócio brasileiro. Estamos conseguindo produzir, em uma mesma área, no mínimo três safras. Só em clima tropical isso é possível”, completou. Silvio Furtado, diretor de Vendas da ZF América do Sul, também destaca a tecnologia como fator diferencial na melhoria da produção, às vezes envolvendo apenas pequenos ajustes, como exemplificou: “Um projeto em conjunto com uma universidade, em 2005, modificou o eixo de um trator e aumentou sua bitola dianteira para o equivalente ao de uma colhedora. Foi algo simples, mas que fez a produtividade aumentar 26%”. Outro ponto defendido por ele é a necessidade de se atentar à escala de produção nas pequenas propriedades. “Quando se fala em tecnologia, sempre se olha para as grandes propriedades, mas as pequenas também têm sua força”, defendeu. Nesse sentido, Francisco Matturro esclareceu que as classificações de pequeno produtor e de agricultura familiar são complexas e, no Brasil, estão relacionadas à renda. “Um pequeno produtor, mas com uso de alta tecnologia e gerador de grande produção, não se enquadra como pequeno produtor pela renda ser maior”, disse, sinalizando que o tamanho da propriedade não determina a capacidade produtiva. Silvio Furtado foi além e abor-

dou uma característica do agronegócio brasileiro. “O Brasil tem muitas cooperativas, e algumas delas são muito fortes”, afirmou. Kepler Euclides Filho, secretário de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, por sua vez, defendeu que, nesse cenário, ainda “há uma parcela de produtores que precisam de atenção para deixar de ter uma condição de subsistência e sem acesso a conhecimento ou tecnologia. Eles precisam transformar sua propriedade em um negócio”. Todos os painelistas sinalizaram que, no quesito técnico, o caminho de crescimento para o Brasil é positivo e também deve ser considerado o aspecto humano. Alex Fossel ressaltou que as possibilidades de inovação devem envolver tanto áreas técnicas quanto áreas de humanas, como a sociologia, a psicologia e domínio de idiomas. “Para atender aos objetivos de inovação na agricultura tropical, é preciso pensar sobretudo nas pessoas”, disse o executivo. As pessoas envolvidas no processo de desenvolvimento do agronegócio podem transformar esse setor em uma referência mundial com o uso das condições climáticas, dos solos e seu tratamento, com novas tecnologias, maquinários e ferramentas. Já passou o tempo em que o campo era lugar para quem não estudasse, como ressaltou Francisco Matturro: “A ideia de que se você não estudar terá que ficar na roça é do passado. Hoje, se você não estudar, não poderá veja o vídeo ficar na roça”.

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FUTURE FLASH veja o vídeo

O campo e a cidade inteligentes - megatendências 2050 Longevidade da população, urbanização, tecnologia e trabalho são assuntos que definem desafios para 2050

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vanços no desenvolvimento tecnológico e na qualidade de vida são fatores considerados positivos ao vislumbrar o futuro, mas geram desafios, e por isso exigem atenção e preparo. Patrícia Ellen, sócia da Divisão de Setor Público e Social da McKinsey & Company, atenta para as quatro macrotendências que devem influenciar as cidades e o campo em 2050: longevidade da população, urbanização, tecnologia exponencial e mudança nas relações de trabalho. “O mundo terá mais pessoas centenárias e precisamos saber o que fazer com essa nova forma de viver”, sinalizou Patrícia, sobre a expectativa de vida no futuro, durante sua apresentação no último dia do Congresso. Em números, a população acima de 65 anos dobrará, enquanto os cidadãos com 80 anos ou mais quadriplicarão, chegando a 400 milhões. Esses dados foram apresentados pela executiva, que lidera atualmente o consórcio que atua no plano de ação para Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No quesito urbanização, Patrícia acredita que estamos atrasados, pois o número de pessoas nas áreas urbanas tem crescido, e alguns problemas relacionados à interferência no clima e aos impactos ambientais já surgiram como consequência. Frente a este desafio, o desenvolvimento da tecnologia aparece como um ponto favorável. “O ritmo das mudanças tecnológicas está cada vez mais acelerado”, afirmou. Ela destacou a internet das coisas como uma facilitadora do processo, mas disse que é preciso pensar qual é a sociedade que queremos, de forma a nos posicionarmos frente aos problemas que a tecnologia também pode trazer e regulamentarmos seu uso e aplicação.

Patrícia Ellen da Silva Sócia – Setor Público e Social da McKinsey & Company

Essa tecnologia mudará as relações de trabalho no futuro. “A estimativa é que em 2023 consigamos, com mil dólares, processar o mesmo que um cérebro humano por segundo”, disse ela, em relação ao investimento necessário para que uma máquina execute o trabalho de uma pessoa. “Nos próximos 20 anos, 60% das profissões terão no mínimo 30% das atividades automatizadas. O desaparecimento de várias profissões acontecerá gradativamente.” Patrícia comentou, ainda, a agilidade na automação de atividades no trabalho. “O que foi feito em 200 anos, será feito nos próximos 20”, disse a executiva. A solução para o possível aumento de desempregados, em debates internacionais que tem acompanhado, poderia ser a existência de uma renda básica universal – montante de dinheiro atribuído a todo indivíduo para que ele esteja apto a participar do mercado consumidor. “Suíça e Finlândia estão pilotando, em algumas regiões, esse conceito de renda básica universal para entender o impacto no crescimento econômico, no desemprego e na desigualdade”, concluiu.

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O CAMPO E A CIDADE: INTEGRANDO SUAS INTELIGÊNCIAS - DIÁLOGO DE GERAÇÕES

Da esq. para dir.: Flávio Tonidandel, coordenador do curso de Ciência da Computação do Centro Universitário FEI; Luiz Fernando Furlan, membro do Conselho de Administração da BRF e ex-ministro do MDIC; Thaís Vital de Zwart, diretora de projetos da empresa Júnior FEI; Patricia Ellen da Silva, sócia Setor Público e Social da McKinsey & Company; José Luiz Tejon, jornalista e comentarista da Jovem Pan

DIÁLOGO DE GERAÇÕES O bem-estar mobiliza pessoas para uma vida com mais saúde, lazer e conforto. Como será nossa vida em seus hábitos urbanos e no campo, no Brasil e no mundo? Quais as grandes diferenças que teremos que superar? Como será o diálogo entre as gerações Y, Z, Alfa, C e Baby Boomers?

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Painelistas Luiz Fernando Furlan Membro do Conselho de Administração da BRF e Ex-ministro do MDIC

Moderação

José Luiz Tejon - jornalista e comentarista Jovem Pan

Flávio Tonidandel Professor coordenador do Curso de Ciência da Computação do Centro Universitário FEI

Patricia Ellen da Silva Sócia - Setor Público e Social da McKinsey & Company

Thaís Vital de Zwart Diretora de projetos da Empresa Júnior FEI e aluna da Engenharia de Produção da FEI

Os jovens querem mudanças Painelistas de diferentes gerações debatem o preparo necessário para enfrentar o futuro

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s gerações, ao longo da história, foram classificadas em termos que visam definir suas características e a forma como enxergam o mundo. Muitas foram as mudanças vividas por gerações desde os Baby Boomers, nascidos após a 2ª Guerra Mundial, até os membros da Geração Z, do final dos anos 1990. A forma como encaram o mundo e o mercado de trabalho é diferente e pode ser complementar. Afinal, o que os jovens desejam? Quais as tendências das novas gerações? Surgirão novos comportamentos que modifiquem a sociedade e o mundo do trabalho? Para explorar um pouco mais o tema e debater sobre o jovem e seu papel no futuro, o evento recebeu diferentes gerações para um diálogo. O jornalista e moderador do Diálogo de Gerações, José Luiz Tejon, iniciou o debate definindo os desejos dos seres humanos como três: sensorialidade e prazer; saúde e bem-estar; sustentabilidade e ética. São esses, para ele, os fatores que ditam os objetivos de um indivíduo em relação à vida e, consequentemente, ao trabalho. Flavio Tonidandel, coordenador do Curso de Ciência da Computação do Centro Universitário FEI, apontou uma mudança nos objetivos dos jovens de hoje, se comparados aos Baby Boomers ou aqueles que os sucederam. “A Geração X tem a ideia de que quanto mais trabalham, mais ganham. A geração atual não é mais assim, pois ela não visa o trabalho para ganhos financeiros e, sim, para ganhos pessoais. Ela valoriza mais o trabalho no âmbito social e valoriza também o trabalho colaborativo”, disse. Para ele, ainda, “a robótica substitui os trabalhos repetitivos e esses são justamente aqueles que não interessam aos jovens de hoje”. Na posição da mais jovem participante a compor o debate, Thaís Vital de Zwart, aluna de Engenharia de Produção e diretora de projetos da empresa Júnior FEI, destacou a responsabilidade dos jovens de hoje no futuro da humanidade: “Somos nós que alimentaremos as 10 bilhões de pessoas em 2050”. Além desta responsabilidade, ressaltou a mudança do mercado de trabalho e a necessidade da

complementação de uma graduação, em um mercado cada vez mais competitivo. “Os jovens precisam ter a visão do seu papel em 2050 e definirem os propósitos de suas vidas, pois isso refletirá em um futuro melhor. Ao lado dela, Luiz Fernando Furlan, membro do Conselho de Administração da BRF Brasil e ex-ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, sinalizou que, nas palavras do piloto Ayrton Senna, o sucesso está nas oportunidades, em estar preparado para elas e saber aproveitá-las. “Quando se fala na transformação da indústria e do agro, não podemos desprezar o básico, que é a capacidade de uma pessoa de receber uma mensagem, processá-la e fazer dela uma realidade produtiva”, defendeu. É preciso, assim, atuar de forma que os jovens estejam aptos a lidar com as novas tendências, como a automação, para que o preparo exista e as oportunidades sejam de fato aproveitadas. A motivação para o aprendizado também é importante e, por consequência, determinará o desenvolvimento de um indivíduo. Patricia Ellen da Silva, sócia da Divisão de Setor Público e Social da McKinsey & Company, explicou que, a partir de um estudo do qual fez parte, “alunos com alta motivação de uma região pobre chegavam a ter desempenho melhor que alunos de regiões ricas com baixa motivação”. Segundo os painelistas, os jovens de hoje valorizam o trabalho colaborativo, não desejam mais trabalhos repetitivos e buscam por desafios que tragam conhecimento. Eles estão dispostos a investir seu tempo na experimentação de diferentes culturas e experiências em outros países, além da graduação. E, neste sentido, o papel das Instituições de ensino se amplia para preparar os jovens para um cenário disruptivo, em que deverão interpretar grande volume de informações, trabalhar com tecnologias e obter resultados com maior produtividade nos negócios. Os jovens querem mais conectividade, mais saúde e, principalmente, mais ética. veja o vídeo

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O CAMPO E A CIDADE: INTEGRANDO SUAS INTELIGÊNCIAS - PAINEL 5

Da esq. para dir.: Renato Buselli, vice-presidente sênior da Division Digital Factory e Building Techonologies da Siemens; Mônika Bergamaschi, presidente executiva do Instituto Brasileiro para Inovação e Sustentabilidade no Agronegócio - IBISA Brasil; Josué Christiano Gomes da Silva, presidente da Coteminas; Luís Artur Nogueira, jornalista da IstoÉ Dinheiro

PAINEL 5 A gestão inteligente na integração campo-cidade A tecnologia terá papel preponderante na integração entre as cidades e o campo no futuro, com cidadãos que acompanharão a cadeia produtiva para a escolha de suas compras que, além de atender suas necessidades, estejam em linha com seus valores. O transporte compartilhado e a agricultura orgânica estarão cada vez mais em cena.

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Mônika Bergamaschi Presidente executiva do Instituto Brasileiro para Inovação e Sustentabilidade no Agronegócio - IBISA Brasil

“HÁ AGRICULTORES QUE JÁ ESTÃO NO MOVIMENTO DA INDÚSTRIA 4.0. MAS TAMBÉM HÁ AGRICULTORES QUE AINDA ESTÃO NO PRIMEIRO PASSO PARA A MODERNIZAÇÃO”

Future Flash

Nosso clima faz a diferença no agronegócio Brasil é conhecido por suas exportações e a produtividade pode melhorar ainda mais

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Brasil já foi conhecido apenas por seu açúcar, café e futebol. Isso mudou, de acordo com Mônika Bergamaschi, presidente executiva do Instituto Brasileiro para Inovação e Sustentabilidade no Agronegócio (IBISA Brasil). Segundo ela, o País hoje é reconhecido como um grande produtor e exportador de alimentos, produtor de energia limpa e renovável e de fibras”. Uma característica ainda muito presente no País é a diversidade na gestão no agronegócio. “Há agricultores que já estão no movimento da indústria 4.0. Mas também há agricultores que ainda estão no primeiro passo para a modernização”, sinalizou Mônika. “Isso quer dizer que uns usam tecnologia de ponta e outros, nada”, completou. A executiva defendeu que o agronegócio está aquém da capacidade produtiva, considerando o perfil dos produtores brasileiros. “A agricultura não morre, ela troca de mão”, disse. Para os pequenos produtores, a saída está em unir-se uns aos outros. “Associativismo e cooperativismo podem salvar a

agricultura de pequena escala.” Pensando no futuro, a produção precisa estar preparada para um cenário de demandas ainda maiores. Hoje, um agricultor de pequeno porte pode produzir para cerca de 170 pessoas. “Em 2020, ele produzirá para 200 e, em 2050, para 600 ou 700 pessoas.” Segundo ela, a produtividade no campo tem crescido: houve crescimento de 60% em área e 294% em produção, gerando maior produtividade. Os dados sobre a produção de energia limpa também são positivos. “No Brasil, hoje, 41% da nossa matriz energética é limpa. Em São Paulo, são 55%”, disse – mais que o dobro da média global: “No mundo, a porcentagem é de 13%”, completou. Ela também atribui a característica ao nosso clima. “Em países tropicais, é possível produzir energia renovável porque há muito sol”, sinalizou. “Países do norte precisam decidir se investem em alimentação ou energia. Mas no Brasil, ambos são possíveis.”

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O CAMPO E A CIDADE: INTEGRANDO SUAS INTELIGÊNCIAS - PAINEL 5

Painelistas

Josué Christiano Gomes da Silva Presidente da Coteminas

Renato Buselli,

Moderação

Vice-presidente sênior da Division Digital Factory e Building Techonologies da Siemens;

Luís Artur Nogueira - jornalista da IstoÉ Dinheiro

Foco na qualidade de vida

O

mercado de bens e serviços oferece aos consumidores opções conforme suas demandas. Mudanças de hábitos e novas tendências de consumo nas cidades indicam qual rumo o produtor deve dar aos seus negócios no campo. A integração entre campo e cidade passa pela otimização dos custos na produção agrícola, pela implantação de tecnologias, pelo desenvolvimento de uma agricultura orgânica e pela melhoria da logística. O debate sobre como será a integração entre campo e cidade levou à reflexão sobre o futuro, que segundo os painelistas, terá jovens empreendedores, produção de alimentos e energia em larga escala, carros autônomos e movidos por energias renováveis e consumidores mais interessados em saber sobre os produtos que adquirem. Para chegar a este futuro, segundo o mediador do Painel 5, Luís Artur Nogueira, jornalista da revista IstoÉ Dinheiro, é necessário mudar a mentalidade no País sobre planejamento. “No Brasil, planejamos no máximo os próximos quatro anos, que é o período de um mandato. É preciso superar esta visão, ampliando o período de planejamento”, destacou. Josué Christiano Gomes da Silva, presidente da Coteminas, acredita em um futuro com investimentos em qualidade. “Os agricultores produzirão, cada vez mais, alimentos de maior qualidade”, defendeu. Por sua vez, Renato Corte Brilho Buselli, vice-presidente sênior da Division Digital Factory e Building Technologies da Siemens, atentou para a geração de resíduos como consequência da demanda por alimento. “Os resíduos exigirão mais transporte. Isso é o que chamamos de perda de valor, ou seja, uma consequência negativa”, disse. “Os problemas para o futuro não são do agronegócio, da indústria ou do comércio”, destacou Mônika Bergamaschi, presidente executiva do Instituto Brasileiro para Inovação e Sustentabilidade no Agronegócio. “Devemos pensar como país, coordenar melhor a cadeia produtiva de forma que saibamos o que o con-

sumidor quer. E ele também tem que sinalizar o que deseja e se pagará por isso”, completou. Sobre o uso de tecnologia, a visão da executiva é positiva: “A tecnologia vem para reduzir custos e melhorar a qualidade de vida”, disse. Qualidade de vida está diretamente relacionada às expectativas dos consumidores no futuro. Ela é definida por seus objetivos, aspirações e expectativas. Uma das caraterísticas destacadas pelos painelistas para os produtos no futuro é a agricultura orgânica. Josué defendeu o aumento da demanda por esse tipo de produto e ponderou sobre a reação do mercado. “A tendência é que uma maior demanda elevará a escala de produção e os preços tenderão a se equalizar”, resumiu. Renato foi além na questão dos orgânicos e defendeu a transparência nos processos de produção, para que o consumidor entenda, de fato, o que está consumindo. “O consumidor não vai querer só algo orgânico, mas também deseja enxergar o processo desenvolvido na cadeia de produção”, defendeu. Outro ponto de análise para 2050 que parte do interesse do consumidor é o valor que ele atribuirá a determinados serviços. Renato questionou se, no futuro, haverá o intuito de adquirir um carro próprio, considerando o aumento de serviços de compartilhamento de veículos nos últimos anos. Ele acredita, no entanto, que esse setor ainda sofrerá influência da produção de carros elétricos. Josué concorda: “No futuro, provavelmente só teremos carros elétricos. A produção de eletricidade no mundo está crescendo, e os custos estão menores. A eletricidade fará muito mais parte do nosso dia a dia”, completou Josué. A economia compartilhada nos transportes e a produção orgânica de alimentos são caminhos que estão impactando nos negócios na cidade e no campo, mas o futuro reserva muitas outras possibilidades e inovar é vislumbrá-las e definir o veja o vídeo trajeto a ser percorrido. 35

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Da esq. para dir.: Marcello Amaral Brito, diretor executivo da Divisão Industrial da Agropalma; Sérgio Robles Reis Queiroz, diretor de ciência, tecnologia e inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP; Mauro Kern, vice-presidente executivo de operações da EMBRAER; Alida Bellandi, presidente da Guarany; Silvio Matos, presidente da Agência Idealista e conselheiro da FEI

2º DIÁLOGO DE LÍDERES 2050 e a qualidade de vida. Quais os grandes desafios dos profissionais do futuro? Os profissionais de 2050 enfrentarão desafios como a evolução tecnológica do agronegócio, a gestão das cidades inteligentes e a convivência com Inteligência Artificial, robotização e realidade virtual. Além da qualificação constante, deverão estar alinhados com novos formatos de trabalho, extinção de empregos formais, novas gerações de empreendedores. E tudo isto com foco na melhor qualidade de vida.

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O CAMPO E A CIDADE: INTEGRANDO SUAS INTELIGÊNCIAS - 2º DIÁLOGO DE LÍDERES

Painelistas

Alida Bellandi Presidente da Guarany

Moderação

Silvio Matos - Presidente da Agência Idealista e

Marcello Silva do Amaral Brito Diretor executivo da Divisão Industrial da Agropalma

Conselheiro da FEI

Mauro Kern Júnior Vice-presidente executivo de operações da EMBRAER

Sérgio Robles Reis Queiroz Diretor de ciência, tecnologia e inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP

Diversidade é marcante no Brasil Em um cenário de futuro a ser construído, painelistas destacam as características do País e o papel das empresas no fornecimento de estrutura para o trabalho e a inovação

A

visão de futuro debatida entre os painelistas do Congresso passa por um cenário em que a robotização e a inteligência artificial surgem como delineadoras de um novo tempo, desafiando o ser humano e as relações sociais. Para Silvio Matos, presidente da Agência Idealista, conselheiro da FEI e moderador do segundo Diálogo de Líderes, que foi focado em gerações, vislumbrar o futuro é perigoso, porque o comportamento humano não é simples de definir. Com isso, entender o papel do ser humano no cenário à frente é um desafio e analisar como diferentes líderes atuam com suas equipes nas empresas é uma forma de se preparar. Ele lembra ainda que a rivalidade entre gerações é antiga, arcaica, perene e se mantém rigorosamente a mesma. Citou um trecho de uma carta de 1930, para reforçar suas palavras, que dizia: “Os jovens são, do ponto de vista do comportamento, egocêntricos, desrespeitosos e absolutamente irresponsáveis.” Segundo Silvio Matos, a grande pergunta talvez seja se estamos preparados para ajudar a nova geração que está por vir.

O executivo Mauro Kern Jr., vice-presidente executivo de operações da Embraer, vê com bons olhos a mistura de sexos, culturas e gerações nas empresas – uma característica do que há hoje no mercado de trabalho e que define uma tendência para as próximas décadas: “É difícil, no entanto, prever o mundo em 2050, mas dá para dizer que ele será do jeito que o moldarmos, e a riqueza está na diversidade, no convívio de pessoas diferentes.” Alida Bellandi, presidente da Guarany, completou o raciocínio, ressaltando a diversidade apresentada por diferentes raças e credos no País: “O brasileiro se relaciona e recebe as pessoas com muito respeito.” Alida Bellandi enfrentou a diferença entre as gerações apontada por Silvio Matos. Para ela, o primeiro desafio para sua empresa era dar uma dimensão de processo empresarial para todos, e o segundo foi buscar as causas que pudessem unir diferentes gerações num trabalho que contribuísse com a sociedade na qual estamos envolvidos. Ela defende que os conceitos que definem as ações do indivíduo na sociedade, hoje, são universais, e não baseados no crescimento unicamente pessoal. “É preciso entender o que acontece a partir da coletividade. E no Brasil, temos cinco 37

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regiões totalmente diferentes”, completou. O cenário vislumbrado por Marcello Silva do Amaral Brito, diretor executivo da Divisão Industrial da Agropalma, é de grandes desafios na formação da geração que está sendo preparada para 2050. E parte da responsabilidade está dentro das empresas, como na Agropalma, localizada em um território do estado do Pará distante das grandes cidades, o que faz com que a empresa ofereça à comunidade de seu entorno tudo o que necessitam: escolas, atendimento médico, academias de ginástica e clube, como citou o executivo. “Nos últimos dez anos, formamos 1.660 alunos, filhos de funcionários e também da comunidade. Hoje, 250 de nossos funcionários fizeram o ensino básico dentro da empresa, saíram para fazer universidade, voltaram e trabalham na Agropalma”, disse. “Há 35 anos, 75% dos funcionários da Agropalma eram analfabetos. Hoje, são apenas 12%”, completou. Outro ponto a ser trabalhado dentro das empresas, de acordo com Sérgio Robles Reis Queiroz, diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), é o investimento em inovação. “As grandes

empresas precisam cada vez mais ter em torno de si um círculo de pequenas empresas inovadoras”, disse. A solução, segundo ele, está no empreendedorismo, mas também há recursos disponibilizados por programas voltados ao incentivo à inovação. “Há instrumentos hoje disponíveis que não existiam há 20 anos. A FAPESP, por exemplo, tem três programas de apoio à pesquisa e à inovação, dois deles com parcerias com empresas”, explicou. Os desafios frente à diversidade de atuação das empresas, portanto, exige do empresário que deseja atuar nas próximas décadas a compreensão de como trabalhar junto às novas gerações, fornecendo espaço para inovar e estrutura para que possam se desenvolver e se comprometer com os valores defendidos pelas organizações, em linha com as demandas da sociedade. Mauro Kern Jr. é otimista quando se refere ao mundo atual, dizendo que as métricas das mais diferentes análises mostram melhoras. “Se olharmos para os dados veremos que o mundo nunca esteve tão bem”, afirmou. “E ainda segue melhorando de forma acentuada”, concluiu. veja o vídeo

Setor aéreo deve ter mudanças radicais Propulsão elétrica e vôo autônomo são tecnologias previstas para o futuro

Para Mauro Kern Jr., vice-presidente executivo de operações da Embraer, “estamos chegando perto de mudanças radicais no transporte aéreo”. Aqui, ele fala um pouco sobre o futuro da aviação.

1. No setor aéreo, as mudanças devido à tecnologia são tão rápidas quanto em outras áreas? Mauro Kern Jr. - Estamos chegando perto de mudanças radicais também no transporte aéreo, que vem com uma evolução incremental ao longo das últimas décadas. O avião de hoje tem a mesma cara daquele da década de 1970, mas consome 70% ou 80% menos combustível. Duas tecnologias são fundamentalmente importantes hoje: propulsão elétrica e voo autônomo farão grandes transformações e estão perto de acontecer.

2. O vôo autônomo é uma realidade? Mauro Kern Jr. - Temos no transporte aéreo requisitos de segurança e de confiabilidade muito restritos e que ainda dependem da intervenção do piloto. Não é trivial termos o mesmo nível de segurança sem o piloto interagindo, mas a inteligência artificial está vindo, e isso pode transformar essa indústria. Além da tecnologia, no entanto, há a questão psicológica. As pessoas ainda têm medo de voar, e se elas estarão confortáveis em entrar em um avião sem piloto é uma incógnita. Talvez esse seja o ponto mais complicado para se acertar. O transporte aéreo, hoje, é o sistema mais seguro do mundo, e o nível de segurança só pode aumentar. Qualquer coisa que fizermos em relação ao vôo autônomo tem que vir acompanhada de aumento de segurança, jamais diminuição.

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SESSÃO DE ENCERRAMENTO

Da esq. para dir.: Fábio do Prado, reitor do Centro Universitário FEI; Pe. Theodoro Peters, presidente da Fundação Educacional Inaciana Pe. Sabóia de Medeiros - FEI; Paulo Barone, secretário de educação superior do Ministério da Educação; Rivana Basso Fabbri Marino, vice-reitora de extensão e atividades comunitárias; Marcelo Antonio Pavanello, vice-reitor de ensino e pesquisa; Vagner Bernal Barbeta, diretor do Instituto de Pesquisas da FEI – IPEI e coordenador da Agência FEI de Inovação; Gustavo Henrique Bolognesi Donato, coordenador da Plataforma de Inovação FEI

ENCERRAMENTO Inspiração e confiança para o futuro Contribuições e insights valiosos integraram o balanço do Congresso FEI

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SESSÃO DE ENCERRAMENTO

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2º Congresso de Inovação FEI - Megatendências 2050 trouxe uma rica discussão conduzida em três dias de diálogos, future flashes, painéis, rodas-vivas e sessões técnicas. As visões para o futuro, os desafios das próximas gerações, as perspectivas para o Brasil e o perfil empreendedor dos jovens para encararem as novas relações de trabalho foram algumas das contribuições do evento. “Estamos muito motivados”, sinalizou o presidente da FEI, Pe. Theodoro Peters, durante o encerramento. “O Congresso FEI 2017 foi estimulador, pela pertinência do tema campo e cidades inteligentes e o desafio de ultrapassar o presente, perscrutando as megatendências para construir o caminho para o futuro. Foi, ainda, um grande passo no projeto de implantação da Plataforma de Inovação FEI”, completou. “Abrimos esse tema para entender o uso das novas tecnologias nas cidades e no campo, a alta conectividade entre as pessoas e o volume de dados que serão acumulados, além de propor ferramentas que facilitem nossas vidas e que garantam um mundo justo e sustetável às gerações futuras”, defendeu o professor doutor Fábio do Prado, reitor do Centro Universitário FEI. “Encerramos essa edição do Congresso orgulhosos pela participação de nossos estudantes, pois devemos empoderá-los com boa educação, conhecimento e visão de futuro.” Paulo Barone, secretário de Educação Superior do Ministério da Educação, também participou da cerimônia de encerramento. Para ele, as empresas privadas e os atores acadêmicos têm que achar um jeito de transformar a engenharia num projeto mais moderno e focado na inovação. Ainda citou a necessidade de os jovens, hoje, terem acesso à capacitação empreendedora, de forma a criarem uma visão de atuação mais autoral no mundo, mas

“TEMOS QUE TER COMO VALOR UNIVERSAL O ENTENDIMENTO DE QUE O MUNDO É DE TODOS” PAULO BARONE sem esquecer dos demais. “Temos que ter como valor universal o entendimento de que o mundo é de todos”, concluiu. O professor doutor Gustavo Donato, que esteve à frente da organização do Congresso FEI, juntamente com a professora doutora Rivana Fabbri Marino, vice-reitora de Extensão e Atividades Comunitárias; o professor doutor Vagner Barbeta e o engenheiro e conselheiro da FEI Ingo Plöger, explicou que as dúvidas, após tantas discussões, podem ser um positivo sinal de que caminhamos rumo a um futuro melhor. “Vocês podem estar inquietos porque saímos, talvez, com mais perguntas e inquietudes do que respostas”, disse. “Mas o objetivo é esse: o futuro não é fácil, mas juntos de todas estas lideranças, o que nós construímos são visões de um futuro desafiador, mas altamente inspirador, para o qual poderemos evoluir.” Para 2018, o 3º Congresso de Inovação FEI Megatendências 2050 já tem tema definido. As discussões abordarão as tendências e o futuro da saúde e do bem-estar. veja o vídeo

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RODAS-VIVAS

RODAS-VIVAS Círculos de debates geram reflexões Professores, alunos e painelistas se reúnem para troca de ideias rumo ao futuro

As contribuições dos painelistas convidados para o 2º Congresso de Inovação FEI - Megatendências 2050 foram além de suas apresentações e debates no auditório principal. Para gerar maior interação entre os palestrantes convidados, professores e alunos foram realizados 15 encontros denominados rodas-vivas, nos auditórios e salas da FEI, os quais reuniram mais de 800 pessoas. O ambiente mais informal e próximo proporcionou intensa e proveitosa troca de ideias. Os temas das discussões foram diversificados, como o futuro da aviação, as características da economia chinesa, a formação do estudante considerando as novas tecnologias e o mundo digital. Cada um destes encontros contou com a condução de dois professores da FEI e de alunos, além da plateia, os quais debateram diretamente com os palestrantes. 41

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A força da engenharia Foi o tema debatido por Wilson Bricio, presidente da ZF América do Sul e VDI, pelos professores doutores Sergio Delijaicov, do Departamento de Engenharia Mecânica e Adriana Catelli, do Departamento de Engenharia de Materiais, com participação dos alunos Lucas M. Carregaro e Gabriel Matheus Pinto. Bricio inicialmente contou a sua história como engenheiro – desde o seu primeiro emprego – e mostrou como se pode progredir na carreira, enfatizando que a engenharia nacional nada deve à desenvolvida nos países desenvolvidos. “O engenheiro brasileiro, com as ferramentas necessárias e disposição para aprender, consegue ser tão bom, produtivo e até mais criativo que a maioria dos colegas de outras culturas que possuem uma engenharia mais avançada”, disse. Ele também incentivou os alunos a manterem os estudos após a graduação universitária para desenvolverem-se na profissão. Segundo ele, diante da verticalização tecnológica industrial, é necessário que os futuros engenheiros adquiram novas competências como o trabalho em equipe e a capacidade de interagir

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com outras culturas: “deveremos saber trabalhar em uma rede de pessoas e entender como tudo é feito, fundamental para se manter a sensibilidade”. Na interação homem-máquina, segundo Bricio, deve-se considerar a inteligência artificial e o domínio de ferramentas digitais como importantes competências, ao lado do trabalho em equipe. Ele defendeu que, no Brasil, a produção acadêmica deve se transformar em inovação e estar cada vez mais alinhada com as necessidades do mercado e das empresas, com o foco no desenvolvimento de novas tecnologias e projetos. Texto: professor doutor Sergio Delijaicov, do Departamento de Engenharia Mecânica

Avião sem piloto A roda-viva com Antonini Puppin-Macedo, diretor geral do Centro de Pesquisa e Tecnologia da Boeing no Brasil, conduzida pelos professores doutores Cyro Albuquerque Neto, do Departamento de Engenharia Mecânica, e Reinaldo Bianchi, do Departamento de Engenharia Elétrica, também contou com a contribuição dos alunos Leonardo C. Neves e João Batista da Silva Jr. Antonini Puppin-Macedo comentou sobre a aviação no futuro, ressaltando que a possibilidade de aviões autônomos está próxima. Em sua abordagem, mencionou algumas pesquisas inovadoras da Boeing, como o projeto de uma aeronave com tecnologias para reduzir a poluição, feita em parceria com a Embraer, e que usa biodiesel como combustível. Ele também abordou a atuação da Boeing no Brasil na área de pesquisas em parceria com universidades. Recentemente, foi desenvolvido um projeto para estudar o conforto térmico e, atualmente, estão sendo conduzidos estudos sobre as condições

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de mapeamento de voo no Brasil. “A nossa empresa se auto define como uma empresa que conecta e protege as pessoas. E o volume de passageiros cresce mais que a economia mundial”, disse. “As tecnologias de inteligência artificial nos ajudarão e, acima delas, a tecnologia de machine learning, em que o software vai aprender com os dados que ele tem.” Texto: professor doutor Cyro Albuquerque Neto, do Departamento de Engenharia Mecânica

Da esq.: Leonardo C. Neves, João Batista da Silva Jr., Reinaldo Bianchi, Antonini Puppin-Macedo e Cyro Albuquerque Neto.

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RODAS-VIVAS

Da esq.: Roberto Bortolussi, Rogelio Golfarb e Fábio Gerab

Os carros nas cidades do futuro Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford, respondeu as questões dos alunos e professores na roda-viva coordenada pelos professores doutores Roberto Bortolussi, do Departamento de Engenharia Mecânica e Fábio Gerab, do Departamento de Matemática. O encontro foi iniciado com vídeos curtos sobre a visão da Ford a respeito do futuro das cidades e a convivência entre as pessoas e os carros, em que cidades serão inteligentes com veículos sendo considerados como serviço e não mais como propriedade. Os carros circularão praticamente todo o tempo sem a necessidade de estacionamentos. Eles serão autônomos, vão interagir entre si e, por isto, haverá redução de semáforos e de placas de trânsito. Ele salientou que, para que este modelo funcione, deverá ocorrer a participação de toda a sociedade. Assim, o poder público precisará deixar as cidades mais humanizadas, as empresas de telecomunicações deverão prover sistemas para a internet das coisas e a população irá guiar a produção de modelos desejados. Este sistema

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visionário será pensado para atender às pessoas. A principal indagação dos alunos foi como os novos engenheiros participarão deste processo, pois as fábricas também serão mais automatizadas, a necessidade de novos empregados será diferente da atual e os conhecimentos também mudarão. Golfarb destacou que a capacidade de aprender e de se adaptar às mudanças deverão ser as características mais importantes que os profissionais do futuro deverão ter. Texto: professor doutor Roberto Bortolussi, do Departamento de Engenharia Mecânica

Veículos híbridos e elétricos Besaliel Botelho, presidente da Robert Bosch América Latina, juntamente com os professores doutores Marko Ackermann, do Departamento de Engenharia Mecânica e Renato Giacomini, do Departamentos de Engenharia Elétrica e Automação e Controle falaram sobre o tema na roda viva que ainda teve a participação dos alunos Rafael Ialago Lopes e Henrique Coelho Finazzi. A roda-viva despertou grande interesse de muitos professores e alunos de graduação e pós-graduação, uma vez que a empresa é agente central no cenário da mobilidade, criando e produzindo sistemas eletromecânicos e eletrônicos para automóveis, ônibus e caminhões. As questões propostas por alunos e professores abordaram principalmente o transporte do futuro na perspectiva do executivo, em que o assunto mais debatido foi a tração elétrica de veículos. Considera-se como certa a presença de veículos híbridos e elétricos em volumes crescentes nos próximos anos. “Com machine learning, um carro entenderá rapidamente o ambiente. Já temos drones que mostram que é possível circular em diferentes lugares. Mas a introdução dessas tecnologias não será da noite para o dia”, disse.

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Também foi abordada a situação do Brasil e como a mobilidade deve desenvolver-se no futuro. Sobre a adoção de carros autônomos no País, Besaliel considerou que em uma escala de 1 a 5, o País estaria no nível 3 e, no futuro, por exemplo, estacionar o veículo na garagem poderá ser feito de forma autônoma pelo veículo. O executivo comentou sua experiência profissional, sua atuação em diferentes áreas de engenharia e desenvolvimento de produto na Bosch e sua responsabilidade em projetos como o desenvolvimento da tecnologia Flex Fuel. Texto: professor doutor Marko Ackermann, do Departamento de Engenharia Mecânica e professor doutor Renato Giacomini, dos Departamentos de Engenharia Elétrica e Automação e Controle

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Racismo e gênero Theo van der Loo, presidente da Bayer, debateu o tema com a plateia ao lado dos professores doutores Ricardo Belchior e Rodrigo Condotta, do Departamento de Engenharia Química, juntamente com os alunos Kevy Pontes Ramon Martinse. O presidente iniciou sua apresentação de maneira saudosista, relembrando os primórdios da Bayer no Brasil ao destacar a Aspirina® e o famoso slogan “Se é Bayer, é bom!”, mas enfatizou que o foco da empresa no Brasil hoje é outro. Mencionou que a Bayer Brasil está quase que exclusivamente dedicada ao Agronegócio, fornecendo insumos agrícolas inovadores, ajudando a tornar a economia agrícola mais produtiva, e que esta é a nova “cara” da Bayer que os jovens de hoje precisam conhecer e se lembrar. A Bayer é uma organização global com atuação nas áreas de saúde e agricultura. Com respeito ao plano de negócios da empresa no Brasil, o fortalecimento nesses segmentos será ainda maior com a aquisição da Monsanto, se tornando uma das maiores empresas do agronegócio no Brasil.

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Durante a mesa redonda, Theo van der Loo foi indagado pelos participantes inúmeras vezes sobre as recentes notícias da mídia a respeito de racismo e gênero. Ele afirmou que isto é a realidade, não só dentro da Bayer mas nas ruas do nosso País; que as pessoas que trabalham na Bayer são as mesmas pessoas que andam nas ruas, e não pode haver distinção. Ele diz defender a opinião e escolha pessoal de cada indivíduo e que luta para que em sua empresa todos tenham os mesmos diretos e respeito, tornando o ambiente de trabalho “saudável” e produtivo. Texto: professores doutor Ricardo Belchior e doutor Rodrigo Condotta, do Departamento de Engenharia Química

Fenômenos do mundo atual Marcos Troyjo, diretor da BRICLab da Universidade de Columbia, participou da roda-viva com os professores doutores Roberto Baginski, do Departamento de Física e Dário Henrique Alliprandini, do Departamento de Engenharia de Produção e também com o aluno Caio Cerri Tenorio. O professor Marcos Prado Troyjo é diplomata, economista, cientista político, escritor e diretor do BRICLab na Columbia University, um fórum dedicado a estudar os novos países emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China. Segundo ele, a inteligência artificial e o comércio internacional são os dois fenômenos mais relevantes no mundo atual, pois as consequências do desenvolvimento de ambos já alteram de forma substancial as formas como nos organizamos, produzimos, consumimos, interagimos e nos percebemos como indivíduos. Para estimular o debate, ele fez uma provocação à plateia: “se um alienígena desembarcasse hoje na Terra e perguntasse sobre os dois principais fenômenos que estão ocorrendo no mundo, o que você responderia?” Esta pergunta serviu como fio condutor da conversa.

Desta forma, o debate permitiu a reflexão sobre aspectos relevantes da geopolítica e da economia internacional, como as perspectivas de uma distensão militar entre Estados Unidos e Coreia do Norte e os crescentes nacionalismos de caráter xenófobo em países como Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França e a ascensão econômica de empresas chinesas de tecnologia como Baidu, Alibaba, Tencent e Xiaomi (BATX) em contraposição às empresas dominantes no cenário ocidental (Google, Amazon, Facebook e Apple – GAFA). Texto: professor doutor Roberto Baginski, do Departamento de Física

Da esq.: Caio Cerri Tenorio, Marcos Troyjo, Roberto Baginski e Dário Henrique Alliprandini

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O papel do CEO Ricardo Pellegrini, CEO da Quantum 4, estava acompanhado pelo professor doutor Vagner Barbeta, diretor do IPEI/AGFEI, no debate que ainda teve a participação do aluno Renato Gonçalves. Ricardo Pellegrini detalhou inicialmente o foco de atuação da Quantum 4, que auxilia na busca de mecanismos disponíveis para fomento ou financiamento de inovações, o que gerou interesse da plateia sobre a empresa e seu apoio à inovação. Em seguida, o debate teve seu eixo deslocado para a atuação profissional, em especial o papel desempenhado por um CEO de uma grande empresa multinacional. Pellegrini destacou que, em sua gestão, quando atuava na IBM, conseguiu trazer para o Brasil um Centro de Pesquisas que era disputado por outros países. O tema “Cidade e Campo Inteligentes”, com foco na melhoria da qualidade de vida, fomentou a conversa sobre o papel dos sistemas de computação cognitiva no futuro, e como estes sistemas

poderão auxiliar profissionais em diversos segmentos como direito, medicina, engenharia, etc. Por fim, houve uma reflexão sobre a continuidade dos projetos de inovação dos alunos pelas instituições de ensino que por vezes perdem oportunidades de levar adiante os projetos de inovação de seus graduandos. A discussão foi motivada pelo depoimento de um aluno que contou ter desenvolvido um trabalho inovador de conclusão de curso em escola técnica e que, infelizmente, não pôde ser aproveitado pela escola. Texto: professor doutor Vagner Barbeta, do Departamento de Física

Da esq.: Vagner Barbeta, Ricardo Pellegrini e Renato Gonçalves

Engajamento político O diretor de Assuntos Corporativos e Governamentais da Bayer, Christian Lohbauer, participou do debate junto aos professores doutores Ronaldo Gonçalves, do Departamento de Engenharia Química e Gabriela Scur, do Departamento de Engenharia de Produção, e dos alunos Ellen Thiemy e Murilo Oliveira. A audiência foi composta por estudantes, professores e profissionais. Após a apresentação sobre sua carreira, Christian Lohbauer, abordou questões sobre a sustentabilidade econômica do setor industrial no Brasil, o preparo técnico e ético requerido pelos novos profissionais que adentrarão neste setor. O palestrante, quando questionado sobre a interferência política na formação do profissional de engenharia, foi categórico ao afirmar que há necessidade de intervenção dos agentes sociais na vida política brasileira.

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Guiada pelas perguntas de professores e alunos presentes, a discussão progrediu sob um viés político, passando por características do regime ideal de governo e a estrutura da administração pública. Os estudantes participaram com questões sobre a visão do atual cenário político no debate moderado pelos professores Ronaldo Gonçalves e Gabriela Scur. Texto: professor doutor Ronaldo Gonçalves, do Departamento de Engenharia Química

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O agronegócio no futuro Alex Foessel, diretor do Centro Latino-Americano de Inovação Tecnológica da John Deere, juntamente com os professores doutores Carlos Rodrigues Santos Neto, do Departamento de Engenharia Mecânica e Rodrigo Filev, do Departamento de Ciência da Computação, provocaram discussões sobre o tema, que também contou com a participação dos alunos Paulo P. Carvalhinha e Jennifer B. de Brito. A roda-viva foi bastante instigante, pois tratou de questões como a aplicação da tecnologia e da inovação no agronegócio e as perspectivas deste setor nos próximos anos. Fossel apresentou as tecnologias da John Deere como a conectividade entre os equipamentos, o gerenciamento remoto de produtividade e de insumos e ressaltou a importância da agricultura de precisão. Ele destacou a necessidade de produzir mais com a mesma área e ainda ressaltou que é preciso ouvir o cliente para gerar constante aprimoramento dos produtos.

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Foram muitas perguntas, respostas detalhadas, e o tempo se mostrou um limitante, dado o grande interesse. Fossel também incentivou que os alunos e o Centro Universitário FEI continuem trabalhando no tema de agricultura de precisão, veículos autônomos e internet das coisas, pois estes temas são caros para o desenvolvimento do Brasil, assim como podem se tornar produtos e serviços de exportação do País. Texto: professor doutor Rodrigo Filev, do Departamento de Ciência da Computação

Da esq.: Rodrigo Filev, Jennifer B. de Brito, Alex Foessel, Paulo P. Carvalhinha e Carlos Rodrigues Santos Neto

Logística em foco Rodrigo Figueiredo, diretor de Suprimentos da AMBEV, esteve com os professores doutores Edmilson Moraes, do Departamento de Administração e Luiz Novazzi, do Departamento de Engenharia Química, que juntamente com os alunos Alexandre T. Santos e Bruna Cardoso Paz conduziram a roda-viva. Engenheiro civil por formação, Figueiredo atualmente é responsável por toda a área de suprimentos e logística da Ambev nas Américas. O debate teve a participação de 20 estudantes e cinco docentes, principalmente do Departamento de Engenharia de Produção e de Administração. O primeiro tema levantado foi a guerra fiscal entre os estados, alertando-se que muitos criam vantagens fiscais para receber investimentos das empresas com a instalação de fábricas. Isto, contudo, gera dificuldades na logística quando os centros de produção ficam muito distantes de fornecedores estratégicos de matérias-primas e de principais centros consumidores dos produtos. Figueiredo destacou ainda a importância do potencial desenvolvimento no Norte e Nordeste.

A discussão sobre as cadeias de suprimentos e logística gerou questionamentos de caráter mais técnico sobre os Centros de Distribuição da Ambev e os tamanhos de estoque mantidos pela empresa. Com foco no futuro, a plateia debateu a empregabilidade de futuros engenheiros e administradores. Figueiredo reforçou que as empresas buscam os melhores profissionais, aqueles que se dedicam de corpo e alma ao negócio. Argumentou ainda sobre a importância do equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional. E encerrou a discussão no horário previsto, comentando que iria assistir a um jogo de futebol com seu filho e não queria se atrasar. Texto: professor doutor Luiz Novazzi, do Departamento de Engenharia Química

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Aviação brasileira Mauro Kern Jr., vice-presidente executivo de operações da Embraer, participou da roda-viva com o professor doutor Cyro Albuquerque Neto, do Departamento de Engenharia Mecânica e professor mestre Willian Naville, do Departamento de Engenharia de Materiais, além dos alunos Lucas Nodari e Mariana Tortela. O papel da Embraer como exemplo de empresa inovadora e suas contribuições para a melhor formação de competências junto aos alunos da FEI foram os temas que abriram o debate. Neste sentido, Kern Jr. destacou que a necessidade de superar desafios traz a inovação, citando exemplos em planos de negócios para as empresas enfrentarem dificuldades financeiras. Sobre a visão do desenvolvimento de materiais para a Embraer, ele destacou os projetos desenvolvidos com foco em combustível e motores híbridos, a crescente demanda de transporte com foco na

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infraestrutura brasileira e a participação dos engenheiros brasileiros na Embraer em soluções nacionais para a aviação. Para Mauro Kern Jr., duas tecnologias vão transformar o mercado de aviação: a propulsão elétrica e o voo autônomo. A Embraer fabrica aviões pequenos, e segundo ele, essas tecnologias estão em linha com o mercado. “Temos a sorte de estarmos bem posicionados”, completou. Texto: professor mestre Willian Naville, do Departamento de Engenharia de Materiais

A formação do engenheiro Paulo Barone, secretário de Educação Superior do Ministério da Educação, esteve ao lado dos professores doutores Carlos Eduardo Thomaz, do Programa de Mestrado em Engenharia Elétrica e Dario Henrique Alliprandini, do Departamento de Engenharia de Produção, juntamente com os alunos Tiago Kalil e Rodolfo Rodrigues Gomes. O debate abordou uma das tendências do processo de educação superior, que é a intensificação do uso de tecnologias para que a relação professor-aluno tenha menos barreiras espaciais e temporais. Foi destacado por Barone que o papel do professor continuará sendo fundamental para a formação educacional das novas gerações. Porém, além do domínio específico de sua área de atuação, serão esperados do docente conhecimentos

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multidisciplinares e habilidades em mídias digitais. A entrada do aluno no mercado do trabalho também foi debatida. Barone aconselhou ainda que o aluno busque micro-certificações ao longo de sua vida acadêmica para enriquecimento de seu histórico. Texto: professor doutor Carlos Eduardo Thomaz, do Programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica

Veículos elétricos e autônomos para o campo e as cidades Silvio Furtado, diretor de Vendas da ZF América do Sul, debateu ao lado dos professores doutores do Departamento de Engenharia de Produção, Fábio Lima e Alexandre Massote, que conduziram as questões juntamente dos alunos Amanda Cavalcante Reis e Renan de O. Coelho. Após as boas vindas dadas pelo professor doutor Fábio Lima, Silvio Furtado iniciou sua fala apresentando sua atuação na ZF e também comentou sobre as operações da empresa. Em seguida, falou como acha que a ZF estaria em 2050, já que esse era um dos motes do Congresso. Silvio comentou que desde a aquisição da empresa TRW pela ZF (parte de segurança), a ZF tem pretensões de entrar na área de veículos autônomos e elétricos, onde os sistemas de segurança se tornam fundamentais. Reforçou o entendimento que o motor à combustão está condenado. Ainda, fez menção ao fato dos investimentos estarem acontecendo tanto nos sistemas de mobilidade urbanos quanto agrícolas. O professor doutor Alexandre Massote, então, questionou Silvio Furtado sobre qual será o papel dos alunos engenheiros no ano de 2050. Silvio começou respondendo sobre a sua vasta experiência ao longo dos seus 30 anos de formação em engenharia. Resumindo, ele acredita que a diferença sempre

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é de atitude e da capacidade de cada um buscar conhecimento dentre a enorme oferta de informação existente. A pergunta seguinte foi sobre as baterias dos carros elétricos. Foi perguntado se será possível acompanhar a demanda por baterias e como se dará o descarte das mesmas. Silvio comentou que isso realmente é um grande desafio, mas que o setor está se desenvolvendo. Comentou sobre um veículo de teste que a ZF está desenvolvendo onde, ao final da vida útil da bateria, a mesma é remanufaturada. Outras discussões, como a eletrificação da rede ferroviária, vieram à tona gerando ampla discussão. Finalmente, Silvio comentou que a crise afetou muito fortemente a produção de veículos comerciais. Ele acredita que a nova “onda” deve ser em conceitos logísticos, área que ele considera muito carente. Texto: professor doutor Fábio Lima, do Departamento de Engenharia de Produção

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APRENDIZADO EXTENSIVO E QUALIFICADO Sessões técnicas complementaram o conteúdo explorado nas plenárias com demonstrações de tecnologias e palestras Fonte inesgotável de temas, debates e discussões, as megatendências das próximas décadas ganharam espaço também no período noturno do Congresso de Inovação, onde renomados profissionais da indústria compartilharam com os alunos tendências e perspectivas mundiais em sessões técnicas com palestras, minicursos e outras atividades simultâneas. Organizadas pelos departamentos de ensino da FEI, as atividades serviram como uma extensão dos temas abordados nas apresentações do dia e foram exploradas com o objetivo de provocar os participantes das sessões – em sua maioria alunos da FEI – a serem protagonistas em um mundo cada vez mais inovador. Confira o resumo de algumas dessas atividades. 48

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SESSÕES TÉCNICAS

União de pesquisas Prêmio Tecnologia de Impacto, da Qualcomm, visa reunir pesquisadores em prol de melhorias para o futuro Estudantes e docentes da FEI estavam entre os qualificados para concorrer ao Prêmio Tecnologia de Impacto - Novas soluções Wireless e IoT 2017, promovido pela Qualcomm e cuja inscrição seria encerrada algumas semanas após o Congresso FEI. Assim, em uma das sessões técnicas, a iniciativa foi apresentada com esclarecimentos sobre a participação de interessados. O prêmio para os dez projetos de inventores brasileiros selecionados é uma viagem para Califórnia, nos Estados Unidos, para visitarem laboratórios e centros de pesquisa e inovação. Para Jorge Ávila, diretor sênior da Qualcomm para o Brasil, novas soluções podem surgir de um conjunto de pequenas ações individuais agrupadas em prol de um objetivo específico. Assim, pesquisas focadas em solucionar um problema tendem a interessar a empresas

como a Qualcomm. “A disrupção vem, às vezes, do acúmulo de pequenas mudanças criadas a partir de projetos de inovação”, defendeu o executivo. Iniciativas como o Prêmio Tecnologia de Impacto permitem que sejam identificados projetos que visem a inovação e garantam evolução a pesquisas já iniciadas. “É um prêmio para incentivar pesquisas de estudantes e docentes que tenham inovações ou invenções”, definiu Bruno Evangelista, Gerente Sênior de Desenvolvimento de Negócios para Internet das Coisas da Qualcomm para a América Latina. “Ele foi elaborado com o propósito de incentivar a comunidade brasileira de estudantes, pesquisadores, professores e empreendedores a conhecer mais profundamente o mundo da internet das coisas”, completou Jorge Ávila.

Jorge Ávila, diretor sênior da Qualcomm para o Brasil

Produção agrícola nas cidades ZFarmings permitem engajamento de comunidades no cultivo de alimentos e favorece logística De acordo com dados da ONU, cerca de 55% da população mundial vive hoje nas cidades. Como defendido por especialistas durante o Congresso FEI, este número tende a crescer, o que define novos desafios para as administrações das cidades. A produção de alimentos, neste cenário, pode ter o apoio de uma tecnologia que permite a agricultura de menor escala em espaços urbanos, com o cultivo em áreas pequenas. O nome atribuído à esta tecnologia é Zero Acreage Farming (ou “ZFarming”). “O conceito significa agricultura em áreas de menos de um acre”, definiu o professor do departamento de Administração da FEI, Ailton Pinto Alves Filho, durante a palestra que ministrou sobre o tema. “Cadeias de fornecimento de produtos vindos da agricultura

e que sejam mais simples e próximas favorecem a logística e reduzem a poluição”, disse o professor, ao sinalizar que a produção estaria mais próxima do consumidor. A tecnologia das ZFarmings, entendidas como pequenas fazendas urbanas, incorpora jardins e estufas em telhados, hortas verticais, e terrenos e galpões abandonados sendo modificados para atividades agrícolas. “Os benefícios são sociais, com o estímulo do desenvolvimento de comunidades e a existência de espaços verdes para as cidades que sejam aproveitados por elas, e econômicos, a partir do uso de terras ociosas e que podem agregar valor e gerar empregos”, defendeu. 49

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SESSÕES TÉCNICAS

Inteligência artificial cognitiva Watson, da IBM, faz parte de uma nova era, na qual as máquinas aprendem A International Business Machines (IBM), empresa norteamericana focada na área da informática, desenvolveu um sistema de inteligência artificial cognitiva chamado Watson. Trata-se de uma plataforma – também chamada de software – que está disponível para aplicação em diferentes situações com necessidade de respostas a estímulos e perguntas. O Watson pode ser usado em diferentes áreas: saúde, educação, direito, indústria e agricultura são alguns exemplos de sua aplicação. “A primeira vez que o homem tentou criar um sistema de inteligência artificial foi em 1981 e, naquela época, o resultado atingido equivalia à capacidade de inteligência de um mosquito”, introduziu Guilherme Novaes Procópio de Araújo, Líder da Unidade Watson da IBM Brasil. O Watson é capaz de absorver informações e, com base nisso, interagir com seres humanos em diversas situações. “A era de sistemas programáveis, na qual você programa uma máquina binária, vem até hoje e continuará existindo por um bom tempo. Com as novas tecnologias, surge a era do Watson, que é a era cognitiva, em que você não programa, mas treina uma máquina,

assim como se treina um ser humano”, explicou Guilherme. Hoje, o atendimento online da Magazine Luiza, uma das maiores empresas varejistas do País, já é feito por meio do Watson. Os seres humanos só interferem na conversa com o cliente quando a situação é considerada crítica, como ameaças de cancelamento de serviços. No banco Bradesco, o grau de assertividade da ferramenta é o maior entre os clientes. “O Bradesco tem 96% de acurácia para todos os produtos e serviços do banco”, destacou Guilherme, sinalizando que é possível definir a atuação do Watson conforme o grau de certeza desejado para cada situação. Em questão de segurança, Guilherme disse que o Watson segue os padrões internacionais para manter a integridade de dados. “Toda informação acumulada pelo Watson desenvolvida via cliente ou pessoa física que o utiliza é de propriedade intelectual de quem se relacionou com ele”, explicou o executivo. O sistema foi demonstrado para os participantes, em tempo real, gerando grande interação.

Segurança nos dispositivos Cidades e campo inteligentes demandam iniciativas que defendam o usuário sem causar danos ao processamento de dados “Quando a internet começou, no final dos anos 1990, nós nos conectávamos e pensávamos no que ela resolveria nossa vida. Com o passar do tempo, passamos a fazer transações bancárias e compras pela internet”, explicou Rodrigo Suzuki, chefe do departamento de informação e segurança Latam da Logicalis e professor da Pós-Graduação em Segurança de TI do Centro Universitário FEI. “Nada disso seria possível se não existisse segurança”, completou. “Ao se conectar à internet, você já está suscetível a um ataque. Um monitoramento mostraria que ataques ocorrem em um ambiente centenas ou milhares de vezes por dia”, explicou Rodrigo, defendendo a necessidade de segurança para as pessoas que utilizam as novas tecnologias, como a internet das coisas (IoT, em inglês) aplicadas nas chamadas smart cities e smart farms –

termos, em inglês, para cidades e campo inteligentes - nos quais há grande interferência de tecnologia nas diferentes atividades de seus cidadãos e também na economia e organização locais. “Segurança é o que vai definir se uma tecnologia proposta terá sucesso ou tenderá ao fracasso”, defendeu. “Transferir dados de um local A para um B é muito fácil. Mas um dispositivo de IoT, em sua maioria, precisa ser barato, pequeno e com bateria que dure por muito tempo: são três elementos que dificultam a segurança sobre os dispositivos”, disse Rodrigo. Ele defendeu ações necessárias que não interfiram na capacidade de processamento, mas que mantenham a segurança dos usuários. “Encontrar o balanço perfeito é o grande desafio. Se a resposta fosse fácil, esse dilema não existiria”, concluiu.

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NÚMEROS DO CONGRESSO 2.000 99.500 PESSOAS IMPACTADAS

PRESENÇAS nos três dias do evento, entre alunos, professores, colaboradores,convidados e imprensa

nas mídias sociais

8.500

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VISUALIZAÇÕES

SESSÕES TÉCNICAS

de transmissão ao vivo via internet, geradas por 4.000 pessoas

13 PAÍSES ALCANÇADOS

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na América, Europa e Ásia

APRESENTAÇÕES

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entre painéis e palestras com grandes líderes

AUTORIDADES líderes de grandes empresas, integrantes das esferas governamentais federal, estadual e municipal, jornalistas e especialistas.

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