orientação Maria Gabriela C. Celani aluno César Tivelli Martini
Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo Curso de Arquitetura e Urbanismo TGF 2014 Serendipidade Urbana Estudo da implantação de um edifício de uso misto no bairro Cambuí em Campinas - SP. orientação: Prof.ª Dr.ª Maria Gabriela C. Celani aluno: César Tivelli Martini . RA: 093575
INDEX Introdução 8 Histórico 10 O Cambuí no desenvolvimento de Campinas 11 O Plano de Melhoramentos 17 Os parques públicos 19 Cambuí 20 O Cambuí atualmente 21 Principais vias 23 Arquitetura local 25 Terreno 26 Características físicas 31 Legislação 33
Análise SNAP - Smart Neighborhood Analysis Protocol Conclusão Programa A evolução do trabalho no cenário contemporâneo O Coworking Potencialidades locais Central Beheer Office Building Espaços culturais Midiateca de Sendai Praça das Artes Espaços Públicos Av. Oscar Freire Partido Serendipidade O programa livre Terceiros lugares Desenvolvimento do programa Proposta 1. Análise do terreno 2. Primeiros Volumes 3. Inversão 4. Inserção 5. Identidade Conclusão Bibliografia
36 37 48 50 51 54 57 59 60 63 65 67 69 70 71 72 74 76 90 93 95 97 101 111 116 118
INTRO 8
DUÇÃO Intervenções em locais consolidados
No mundo atual, o adensamento populacional, o crescimento das cidades, o modo de produção altamente especializado e diversificado acabou gerando um desafio aos novos e futuros arquitetos. Contrastando aos projetos em periferias nos quais a liberdade de criação é extensa, projetar em áreas adensadas tornou-se uma disciplina no ramo da arquitetura, quase uma nova ciência por si só. Saber lidar com questões pré-exitentes, com a legislação cada vez mais exigente e extensa, com moradores, com a falta de espaço e com os movimentos político-sociais são alguns dos desafios encontrados. O processo de projetar, com tantos elementos a serem considerados, tornase uma ciência própria, na qual faz-se necessário o levantamento minucioso de características físicas e sociais existentes. Somente através desse trabalho e dessa familiarização prévia do espaço será possível aplicar os conhecimentos técnicos adquiridos ao longo dos anos na Faculdade de Arquitetura. Com o objetivo de exercitar tal método de projeto em seu tipo ideal, neste Trabalho
Final de Graduação foi escolhido o Bairro Cambuí, um dos mais antigos de Campinas, altamente adensado e com praticamente nenhuma área sem ocupação. Localizado na região central da cidade, nele será desenvolvido um estudo de caso de intervenção em área urbana. Em detrimento ao Centro de Campinas, no qual o estudo é mais usual, a escolha do Bairro Cambuí deve-se ao fato de ser uma das regiões mais nobres e tradicionais de Campinas cuja localização não é segregada do restante da cidade. Desta forma há maiores possibilidades de miscigenação num espaço público de qualidade, contribuindo para uma maior dinâmica social. Entretanto a manutenção de tais características no bairro é incerta, atualmente há um incentivo à criação de edifícios residenciais os quais, além de eliminar o comércio local ao demolir construções previamente estabelecidas, geram uma barreira entre espaço público e privado por meio de fachadas muradas ao longo da calçada. Esta transformação é gradativa e tende a comprometer as dinâmicas existentes no espaço. Assim, é preciso pensar e repensar o Cambuí para que ele cresça melhorando, mas mantendo suas características que o tornam único em
Campinas. O objetivo deste trabalho é, através da leitura do bairro, identificar um programa que possa atender suas necessidades ao mesmo tempo em que a estrutura física do projeto permita uma maior permeabilidade entre o espaço privativo da quadra e o público, criando um contraponto com os edifícios anteriormente citados. Com bases em estudos voltados ao Urbanismo Sustentável, deseja-se propor um projeto que seja permeável mesmo em horários de menor movimento e que atenda a diferentes parcelas da população, tornando-se um ponto de encontro para diversas funções.
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HISTÓR 10
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O Cambuí no desenvolvimento de Campinas
Img. 1 – esq. mapa de Campinas de 1774 sobre o de campinas em 1969, extraído de: PUPO C.M.M. Campinas seu
Bêrço e Juventude. Campinas: Academia Campinense de Letras, 1969.
Pode-se dizer que a formação do Cambuí se iniciou juntamente com a da própria cidade que ocorreu durante o período da corrida do ouro no final do século XVII. Como Campinas daquela época não tinha toda a amplitude dos dias de hoje, o início de sua história é praticamente o início dos bairros do Cambuí e Centro. A função original do bairro era de abrigar, em cortiços, a classe marginalizada da sociedade como prostitutas e ex escravos os quais, em decorrência de leis abolicionistas, obtinham sua liberdade e não tinham aonde ir. Esta configuração original logo se modificaria formando um bairro de elite, característica mantida até a atualidade. A partir de meados do século XIX, o setor cafeeiro em Campinas permitiu o desenvolvimento industrial da cidade além de incentivar, por meio da expansão econômica, a abertura de diversas empresas. Durante esta época a cidade teve um de seus ciclos de desenvolvimento mais expressivos (Pupo, 1969). Mas foi apenas no final do século, com o crescimento da produção cafeeira, que o bairro Cambuí passou a ser ocupado pelos senhores de engenho. Inicia-se então a transformação local, o que costumava
ser um refúgio de marginalizados se desenvolveria em um bairro de chácaras senhoriais, prelúdio para o que futuramente seria uma das regiões mais ricas de Campinas. Durante o pleno desenvolvimento da cidade houve uma das primeiras e mais expressivas crises em sua história. No período compreendido entre 1889 e 1897, Campinas sofreu sucessivos surtos de febre amarela. Em seu apogeu houve uma acentuada redução no número de habitantes e, em decorrência da elevada taxa de mortalidade, houve um grande êxodo para cidades vizinhas. Aqueles que optavam por continuar na cidade geralmente se refugiavam nas fazendas (Vignoli, 1999). Passada a epidemia, a preocupação com o planejamento e a manutenção dos jardins públicos permaneceu na cidade de forma que além de elementos embelezadores, tais locais tinham a função de higienizar os bairros. No ano de 1902 foi apresentado à câmara municipal o relatório do intendente Dr. Manoel de Assis Vieira Bueno no qual descrevia as ações tomadas em sua gestão, contendo tópicos sobre alargamentos de ruas, calçamento, limpeza e higiene públicas e até questões políticas do mandato. Há uma grande ênfase nos parques públicos, no documento lê-se
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(Vignoli, 1999):
“Praças e Jardins – com a constante preocupação sanitária, a manutenção de praças e jardins era atividade importante para que fossem mantidos os espaços públicos devidamente limpos e organizados e este foi “um dos serviços que mereceram mais especial atenção desta intendência”. (...) A praça Imprensa Fluminense foi cercada. Este serviço foi realizado em parceria com a Cia. Mac Hardy e o efeito deve ter sido muito bom, pois estava de volta o “esplendor dos antigos tempos”” (apud Vignoli, 1999, p.82)
Img. 2 – mapa de campinas em 1900. Disponível em: <http://pro-memoriade-campinas-sp.blogspot.com.br/>. Acesso em: março, 2014.
Nota-se, neste momento, que o bairro do Cambuí já apresenta uma característica singular, ao abrigar as famílias mais ricas da cidade era necessário um cuidado maior com seus espaços públicos. A produção cafeeira, ao mesmo tempo em que alavancava a economia de Campinas, trazia um prestígio à cidade que era revertido em seus espaços. Se anteriormente a população foi dizimada em decorrência da
febre amarela, neste momento a cidade se recuperou totalmente e era vista como uma das regiões mais salubres e prósperas do estado. Além de atender aos desejos da elite local e promover a higienização, a difusão dos espaços públicos da cidade ainda se consolidava como um meio de modernizar Campinas. Como muitos moradores pertenciam à elite, cuja formação intelectual provinha de cidades Europeias, tentava-se trazer o padrão de tais países para o Brasil. Neste aspecto, a criação de jardins ingleses foi um ideal importado para a cidade a qual, por ânsia de seus ocupantes, deveria se tornar um modelo para todo o país (Vignoli, 1999). No início do século XX iniciou-se o declínio da cafeicultura. Muitas fazendas se mudavam para outras cidades interioranas em busca de terras férteis que não sofreram com a agricultura. Apesar disso o café foi determinante no desenvolvimento industrial de Campinas uma vez que, além de propiciar o capital necessário para os investimentos, trouxe a malha ferroviária para a cidade, tornando-a um local estratégico para a instalações de indústrias, afinal, ela á próxima da capital e tem meios de transportar seus produtos.
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A chegada da industrialização trouxe a Campinas a modernização da cidade. Neste período foi criado e implantado o Plano de Melhoramentos Urbanos, além de uma série de medidas que dão início à transformação do bairro para a configuração estabelecida atualmente. Em 1936 a cidade ergue seu primeiro arranha céu da cidade, o Edifício Santana no cruzamento das ruas Barão de Jaguara e César Bierrenbach, com seis pavimentos e programa exclusivamente comercial. A partir deste, surgiram cada vez mais edifícios na região central e Cambuí, suprimindo os antigos casarões residenciais que davam espaço à projetos modernos, exaltando o desenvolvimento da cidade (Badaró, 1996). Os anos compreendidos entre 1945 e 1954 foram o apogeu desta transformação, o que antigamente se configurava como um bairro de chácaras senhoriais, então se tornaria uma região mista com gabaritos elevados e programas diversificados, foram erguidos muitos edifícios de uso misto e residenciais na região central. Nos anos seguintes ainda podese destacar muitas obras modernistas de importância, como o Edifício Itatiaia de 1957, projetado por Oscar Niemeyer e o Palácio dos Jequitibás, atual sede da prefeitura
de Campinas, obra dos arquitetos Rubens Gouveia Carneiro Viana e Ricardo Sievers, inaugurado em 1968, ambas as obras são tombadas. A partir da metade do século a região central vem se adensando cada vez mais, entretanto o Cambuí passa a se desenvolver com características próprias. Com sua verticalização, o bairro manteve seu status elitizado.
Img. 3 – Campinas em 1974. Disponível em: <http://pro-memoria-de-campinassp.blogspot.com.br/>. Acesso em: março, 2014.
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O plano de Melhoramentos Urbanos
Uma das ações mais importantes para Campinas no início de sua industrialização foi o Plano de Melhoramentos Urbanos de 1938 desenvolvido por Prestes Maia. Tal documento tinha como finalidade promover o progresso por meio da industrialização da cidade. É importante ressaltar que, com os o frutos da expansão agrária, a elite passou a trazer para Campinas ideias provenientes da Europa, o que proporcionava à cidade o título de capital intelectual de São Paulo. Um dos mais inovadores campos de conhecimento surgiam na cidade, o Urbanismo. Com bases nestes estudos, o Plano de Melhoramentos implantou diversas medidas, dentre elas o transporte teve grande influência no tecido urbano uma vez que os produtos da industrialização deveriam ser transportados com rapidez. Outra grande herança do plano para a cidade foi a implantação de parques públicos e Prestes Maia já evidenciava muitos ideais que são utilizados nos dias atuais. Além da criação dos espaços, eles deveriam ter uma função bem definida para que sejam atrativos à população. No relatório da Intendência evidenciou:
“As ideias falsas versam sobretudo sobre o abandono dos parques existentes, argumento contra os novos. Entretanto a realidade é que desconhecemos o que sejam parques completos. Reduzidos a jardins públicos pequenos e sem graça; sem vegetação abundante, sem installações (...) é natural que nossas populações prefiram permanecer em casa ou frequentar cinemas asphyxiantes” (apud Badaró, 1935, p.74) Como consequência deste documento, o Cambuí se modernizava; de um bairro agrário, se tornaria um local modernizado e preparado para a industrialização da cidade. O plano previa não apenas a funcionalidade dos espaços, mas também a qualidade de vida no meio urbano. Img. 4 – Esq. Avenida Júlio de Mesquita em 1920. Disponível em: <http://promemoria-de-campinas-sp.blogspot. com.br/>. Acesso em: março,2014. Img.5 – Dir. Avenida Júlio de Mesquita em 1953. Disponível em: <http://promemoria-de-campinas-sp.blogspot. com.br/> Acesso em: março,2014.
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Os parques públicos
Img. 6 – Centro de Campinas em 1868 Img. 7, 8 e 9 – publicações das efemérides de campinas. Disponível em: <http://pro-memoria-de-campinassp.blogspot.com.br/>. Acesso em: maio,2014.
Como visto no histórico do Cambuí, a presença de jardins públicos foi constante durante todo seu desenvolvimento, o próprio nome do bairro remete a um tipo de vegetação que era encontrada em abundância na região. Entretanto as motivações para o estabelecimento das áreas verdes foi se alterando ao longo dos anos. Durante o período das epidemias, o principal objetivo dos parques era a higienização da cidade uma vez que, com o desconhecimento do verdadeiro vetor da febre, sua proliferação foi justificada pela falta de limpeza das ruas (Vignoli, 1999). Desta forma, em 1876 foi inaugurado no bairro o primeiro Passeio Público da cidade onde futuramente seria a Praça Imprensa Fluminense, resultado da iniciativa privada que foi concretizado com a doação, por parte dos fazendeiros, de mudas de árvores e escravos para a execução do serviço. “Efemérides Campineiras J.C. Mendes 22 de Dezembro 1876 – Com grande animação e intensidade continuavam os trabalhos do preparo para a construção do Jardim Público, concorrendo para o exito dessa iniciativa, a boa vontade dos fazendeiros locais que diariamente enviavam
uma turma de escravos, a fim de apressar a realização desse grande melhoramento aspirado pelos campineiros.” 1 Num segundo momento a elevação do status da cidade exigiu um ajardinamento mais intenso em meio o tecido urbano. A epidemia já estaria controlada e o principal objetivo da criação dos jardins era evidenciar a riqueza da cidade, assemelhando-a a grandes capitais europeias (Vignoli, 1999). Entretanto atualmente a função dos espaços de lazer se alterou, agora eles estão intimamente ligados à sustentabilidade urbana e não mais a um status social. Nos dias atuais as praças não têm apenas a função de servir áreas arborizadas, mas tais locais permitem a criação de um microclima agradável ao pedestre, incentivando por exemplo o uso de transporte por meio de ciclovias o que reduz emissões geradas pelos meios convencionais de locomoção. Os espaços arborizados na cidade ainda estão inseridos no conceito da paisagem urbana, estudando o relacionamento das pessoas em seu habitat. Uma das vantagens que este estudo realça é a “fusão, integração e a troca fluída entre o ambiente natural e os sistemas de infraestrutura” (Waldheim, 2006, p.43). Disponível em: <http://pro-memoriade-campinas-sp.blogspot.com.br/>. acesso em: março, 2014 1
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CAMBU 20
UÍ
O Cambuí Atualmente
O bairro do Cambuí é delimitado pela Unidade Territorial Básica (UTB) 31 de Campinas, se situa na região central da cidade e faz fronteira com os bairros Taquaral (à norte), Vila Itapura (Noroeste), Centro (à sudoeste), Bosque (à sul), Nova Campinas (à sudeste) e Chácara da Barra (à nordeste). Possui uma área total de 2,637Km², população de 24696 habitantes e densidade média de 93,6 hab/ha.2 Como descrito anteriormente, trata-se de um bairro de classe elevada, possuindo a maior renda média da cidade (R$ 10 547,31)3 e, mesmo assim, não perde suas características de centro urbano. Ao contrário do que comumente acontece, não houve um êxodo intenso no bairro com seu adensamento uma vez que muitos dos habitantes locais se recusam a morar em outro lugar. Juntamente com o Centro, o bairro sempre se apresentou como uma das regiões mais diversificadas de Campinas, recebeu vários investimentos voltados ao lazer e à cultura, tornando-o atrativo para a criação de comércios e serviços. Atualmente há um grande número de estabelecimentos voltados à gastronomia e vida noturna, que
mantêm a ocupação do bairro em todos os horários do dia. Contudo, analisando-se o desenvolvimento local, é possível perceber que muitas das antigas casas residenciais que costumam abrigar serviços espalhados pelo bairro vêm dando espaço para condomínios residenciais verticalizados. Tais espaços, além de inutilizarem um ponto atrativo em meio à cidade, criam muros voltados às calçadas os quais acabam por eliminar sua permeabilidade e interesse por parte dos pedestres em frequentar o local. Este não é um problema exclusivo de Campinas já que muitas cidade brasileiras, em decorrência da especulação imobiliária, têm perdido seus espaços públicos em detrimento de condomínios ou centros empresariais. A proposta do novo Plano Diretor para a cidade de São Paulo, por exemplo, evidenciou tal evento e tem como objetivo eliminá-lo em pontos próximos à estações de transporte público. Em tais áreas, a sugestão é que os projetos residenciais tenham obrigatoriamente o térreo comercial e aberto, com a finalidade de alargar as calçadas e criar espaços de interesse aos pedestres. Mesmo visando o aumento da densidade populacional, a proposta garante
e incentiva a livre circulação de pedestres pelas calçadas sem que se isole os edifícios construídos. Portanto a permeabilidade da quadra em estudo será um dos assuntos mais abordados no projeto uma vez que é impossível se elaborar produto arquitetônico sem avaliar o meio onde estará inserido. Apesar deste trabalho não ser focado numa proposta urbanística, os conceitos de urbanismo devem ser levantados para que se produza um projeto bem inserido na malha urbana, principalmente se este apresentar grandes proporções.
Disponível em: <http://www.cidades. ibge.gov.br/>. Acesso em: abril, 2014. 3 Censo demográfico 2010. IGBE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www. cidades.ibge.gov.br/>. Acesso em: abril, 2014. 2
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Principais Vias O início da formação de Campinas, ao contrário da maioria das cidades brasileiras, foi fruto de um planejamento prévio. As ruas ortogonais presentes atualmente no Cambuí provêm da elaboração da vila durante a corrida do ouro e as intervenções feitas ao longo do ano se limitavam a alargar as ruas sem que houvessem mudanças drásticas no desenho das mesmas. Segundo Badaró (1996), ainda se pode observar vestígios dos primeiros caminhos que passavam pela cidade:
“Permanecem ainda hoje, impressos no desenho da cidade, vestígios da localização do caminho dos Goiases (...) hoje assimilados pelas ruas Coronel Quirino e Itu, onde defletia em direção a Jundiaí.” (Badaró, 1996, p.18)
Binário das ruas Coronel Quirino e Maria Monteiro
Grandes vias que cortam o bairro de norte a sul, passando por variados tipos de programas, desde usos residenciais e comerciais térreos a grandes construções verticalizadas. Com destaque para a Paróquia Nossa Senhora das Dores, os clubes particulares Tenis e Regatas. Definem ainda uma certa divisão do bairro uma vez que, a oeste, há muitos edifícios verticalizados e, a leste, é onde há a maior quantidade de bares e casas noturnas.
Avenida José de Souza Campos (via Norte Sul)
Uma das avenidas mais importantes da cidade, abriga muitos serviços comerciais e corporativos. Faz a ligação dos bairros Taquaral (a norte), onde a avenida é denominada Julio Prestes, e Bosque (a Sul) quando passa a se Chamar Av. Princesa do Oeste. Faz ainda a divisão do Cambuí com o bairro Nova Campinas.
Avenida Anchieta
Permeia a fronteira do Cambuí com o Centro e também possui programa e gabaritos variados. Na porção do Cambuí há importantes equipamentos públicos, como a Prefeitura Municipal, o Colégio Carlos Gomes e a Praça Carlos Gomes. Passa ainda,
no Centro, pelo Edifício Itatiaia, obra de Niemeyer de 1957.
Avenida Júlio de Mesquita
Outra avenida de importância do bairro uma vez que abriga muitos dos casarões tombados da época da colonização. Nela ainda se incluem o hospital Irmãos Penteado, o Colégio Progresso e é interrompida pelo Centro de Convivência de Campinas.
Avenida Benjamin Constant
Interliga os bairros Centro e Cambuí apresentando cenários bastante diferentes ao longo da via, de locais mais adensadas no Centro a áreas mais arborizadas no Cambuí. Destaque para a grande quantidade de hospitais e escolas de ensino fundamental como o Colégio Politécnico Bento Quirino, Colégio Estadual João Lourenço Rodrigues e Colégio Integral. Passa ainda pela frente da Basílica Nossa Senhora do Carmo.
Rua Conceição
Tem início na praça José Bonifácio (o largo da Catedral Metropolitana de Campinas) e se estende até o Cambuí, passando pelo Tribunal Regional do Trabalho, Praça Carlos Gomes e Centro de Convivência.
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Arquitetura Local
Img. 10 – Relação de bens tombados no Cambui pelo Processo 013/11. Disponível em: <http://www.campinas. sp.gov.br/governo/cultura/patrimonio/ bens-tombados/verBem.php?id=124>. Acesso em: abril, 2014. Img. 11 - Vista aérea do Centro de Convivência de Campinas. Disponível em: < http://www.radiocamp.org/>. Acesso em: abril, 2014. Img. 12 - Restaurante Piola. Do autor. Img. 13 - Prefeitura Municipal de Campinas - isponível em: < http://www. campinas.gov.br/>. Acesso em: abril, 2014.
Como visto no histórico da cidade, a arquitetura no bairro do Cambuí é uma mescla de diferentes linguagens arquitetônicas, cada qual exibindo as características que o bairro possuía ao longo do tempo. A Av. Júlio de Mesquita é uma das vias que mais resistiu ao tempo e nela ainda pode-se encontrar várias edificações de casarões antigos da época do Plano de Melhoramentos. Encontra-se vários exemplos especialmente da década de 30, formados por uma arquitetura eclética com bases no estilo neocolonial e elementos de arquitetura moderna, evidenciados nos recuos das casas.4 Além destas, o bairro abriga uma das obras mais expressivas de Campinas, como o Centro de Convivência Cultural Carlos Gomes, inaugurado em 1975 e projetado pelo arquiteto campineiro Fabio Penteado. Fruto do brutalismo moderno, a obra se destaca como uma das poucas na cidade que levanta questões de permeabilidade urbana em equipamentos públicos, tornando-o não apenas um espaço funcional, mas também de convívio em meio ao centro urbano. Esta é uma das características predominantes na arquitetura de Fabio Penteado, aproximando o edifício de um espaço público do que, de
fato, um teatro. O espaço torna-se então um refúgio de contemplação quando não está sendo utilizado. Outra característica marcante de sua arquitetura é a monumentalidade, marcada por eixos radiais, como pode ser observado na proposta para o concurso do Teatro Municipal de Campinas e em diversos outros projetos, exaltando sua função de marco na cidade. Em geral o bairro apresenta uma riqueza muito grande de estilos, o que proporciona um entorno bastante interessante. Deve-se então propor uma arquitetura de linguagem contemporânea a qual se integrará em meio a casarões do século XIX, bem como edificações modernas da década de 50.
Disponível em: < http://www.campinas. sp.gov.br >. Acesso em: abril, 2014. 4
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TERRE 26
NO
É impossível que se busque por um terreno vazio em meio um bairro tão adensado como o Cambuí, e nem é este o objetivo deste trabalho. Deseja-se encontrar espaços que possam, num cenário real, ser demolidos a qualquer momento, sejam eles alvos de especulação, futuros galpões comerciais ou condomínios residenciais. São eles residências abandonadas, estacionamentos ou mesmo edificações comerciais falidas que num futuro próximo darão espaço a outras atividades. Já as áreas a serem mantidas abrangem em sua maioria grandes empreendimentos, cuja demolição é improvável devido suas dimensões (como edificações verticalizadas); comércios tradicionais ou já consolidados no bairro; e, obviamente, bens tombados. Portanto a catalogação das edificações na região foi o primeiro passo para se encontrar o terreno de intervenção. Mesmo estando num bairro tão ativo, ainda é possível localizar muitas obras em desuso na região, entretanto a distribuição das mesmas não é homogênea no tecido urbano. As principais vias do bairro estarão sempre ocupadas e em áreas mais afastadas dos polos comerciais é possível encontrar uma grande quantidade de espaços
subutilizados. O objetivo foi encontrar um espaço numa zona de transição destes fatores, onde há a movimentação de pessoas e que conecte a áreas menos utilizadas. Desta forma foi escolhida uma quadra inteira a sul do Centro de convivências, margeada pelas vias Av. Júlio de Mesquita; Rua Ferreira Penteado; Rua São Pedro; e Rua Conceição. Tal localidade encontra-se em meio à diversas situações, desde polos comerciais, na quadra do Centro de Convivências, como ruas menos movimentadas próximas à fronteira do bairro.
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Construções a demolir
torre de telefonia espaço extremeamente subutilizado, situa-se em uma área nobre sem função ao público edificação comercial casas residenciais e comerciais conjunto de casas antigas que estão descontextualizadas na malha urbana, suas contruções também estão alteradas devido ao uso atual. Não são tombadas. galpão comercial contrução relativamente nova que não se integra ao restaurante tombado ao lado. Será demolido para dar espaço a um local mais integrado ao patrimônio. estacionamentos
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Construções mantidas edificações residenciais mantidas devido à complexidade e à inviabilidade de sua demolição Banco do Brasil Apesar de não ser tombado, trata-se de uma construção com grande valor histórico . Entretanto, o espaço de seu estacionamento será utilizado o que permitirá novas visualizações da edificação. O espaço retirado deverá será compensado ao banco por meio de estacionamentos no subsolo do projeto. Polícia Militar órgão pertencente ao Estado de São Paulo, outro programa de difícil remoção. sobrados comerciais Piola única edificação da quadra que é imposível de se demolir pois enquadra-se como patrimônio histórico cultural de Campinas de acordo com o processo 013/11 (ver pág. 25)
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Características físicas
32.76
17.74
24.99
10.58
53.72
+689,00
+690,00
9.12
33.36
17.49
18.35
33.61
7.38
25.39
10.43
29.54
27.64
+691,00
49.77
Formado a partir da união de 8 lotes o terreno contempla uma área total de 3568 m², apresenta um caimento de 2,5m numa leve inclinação de 2,3%. Tem fachadas voltadas para todas as ruas da quadra e com diferentes larguras de testada, exigindo a aplicação de diferentes soluções para o projeto do edifício. Os lotes selecionados abrigam atualmente estacionamentos, residências unifamiliares, sobrados comerciais e uma antena de telefonia. Tais estabelecimentos estão implantados numa área nobre da cidade, entretanto seus espaços pouco contribuem para o incentivo de atividades local. Os sobrados comerciais seriam os únicos atratores do grupo, entretanto estão isolados na quadra e não apresentam uma configuração agradável aos usuários, fazem parte do tipo de comércio que é esquecido no local. A antena por sua vez inutiliza todo um lote que se situa em frente ao centro de convivências, sua implantação se configura como um dos piores vazios urbanos que se pode ter. Por sorte tais terrenos são alugados pelas companhias telefônicas e podem ser facilmente recuperados. Com a remoção dos edifícios selecionados, pode-se elevar o adensamento na quadra, criar espaços permeáveis e ampliar a região dos nós de atividade, aproximando-a das bordas do bairro.
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Legislação
zona 7 zona 11 zona 17 zona 18
Plano Diretor O Cambuí está situado na Macrozona IV, área de Urbanização Prioritária de Campinas, inserido na Área de Planejamento 21, que compreende edifícios de classe média alta, é ainda caracterizado como tendo uma densidade inadequada pois apresenta ruas muito estreitas diante da ocupação existente. Como características gerais, é uma região com boa infraestrutura e que apresenta problemas de poluição, necessitando otimizar seus recursos e requalificar suas áreas, tendo em vista o desenvolvimento sustentável do local. O bairro está compreendido ainda dentro do plano do Polígono de Multiplicidade Ambiental, cuja área é definida pela própria delimitação do bairro, demarcado pelas avenidas Prefeito José Nicolau L. Maselli; Senador Saraiva; Orosimbo Maia; José de Sousa Campos; e Aquidabã. Neste local há a previsão de investimentos focados na arborização e paisagismo urbano, buscando diminuir a poluição local e elevar a qualidade de vida.
“Art. 43 - O Polígono de Multiplicidade Ambiental compreende o conjunto de
intervenções para a adequada arborização da região central do Município, objetivando: I – diminuição da poluição atmosférica; II – diminuição da poluição sonora; III – maior conforto térmico; IV – aumento da permeabilidade do solo e retenção de água da chuva; V – elevação do índice de área verde; VI – embelezamento 5 paisagístico.”
Lei de Uso e Ocupação do Solo O terreno estudado encontra-se no Zoneamento 7 de acordo com a Lei de Uso e Ocupação do solo número 6.031 de 29 de dezembro de 1988 da Prefeitura Municipal de Campinas. Nela, indica-se:
“VII – zona 7 - zona estritamente residencial, destinada basicamente ao uso habitacional multifamiliar; o comércio,
Prefeitura Municipal de Campinas. Lei complementar nº 15 de 27 de dezembro de 2006. 5
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os serviços e as instituições existentes serão tolerados;”6 Através desta, é incentivada a construção de edificações residenciais verticalizadas em toda área indicada no mapa, outras funções como comércio ou instituições que são permitidas – em alguns casos toleradas – se restringem à CSE cujas delimitações são mais rígidas como limite de dois pavimentos, taxa de ocupação máxima de 75% e coeficiente de aproveitamento 1; enquanto que, para usos residenciais, permite-se coeficiente de aproveitamento acima de 2,4, dependendo da taxa de ocupação (C = 3 + 1,2 (0,5 – to)) e altura máxima de duas vezes o recuo somada à largura da rua (H=L+2R). Outro programa, que permite uma maior flexibilidade de construção é para o ramo de hotelaria ou edifícios residenciais com serviços de hotelaria. A respeito da legislação, tendo em vista o plano diretor vigente, parece contraditório que se deseja trazer para o bairro uma maior permeabilidade e vivência quando o que se incentiva são condomínios residenciais, edificações tipicamente segregadoras que não contribuem para criar uma dinâmica na vivência do bairro. Ao se criar uma grande mancha estritamente
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residencial, incentiva-se o movimento pendular na região central da cidade, estas transformações fazem com que se perca gradativamente toda sua característica de um local para lazer e agradável de se transitar.
Prefeitura Municipal de Campinas. Lei de uso e ocupação do solo. Compilação. 4ª ed. De atualização, Campinas:2011. 6
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ANÁLIS A fim de se fazer uma leitura mais aprofundada do bairro, e evitar erros no processo, decidiu-se utilizar um método de análise já estabelecido e aplicado na prática por urbanistas. O SNAP – Smart Neighborhood Analysis Protocol – ou Protocolo de Análise dos Bairros Inteligentes – é um roteiro elaborado para a identificação de potencialidades dentro de áreas já consolidadas baseado nas condições preexistentes do local. Através dele é possível encontrar os programas que terão maiores chances de sucesso dentro de um determinada região. Tal método foi desenvolvido e aplicado
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pelo arquiteto e urbanista Douglas Farr, autor do livro Urbanismo Sustentável, e fundador da Farr Associates, escritório focado em projetos sustentáveis no ramo da arquitetura e urbanismo. Farr ainda atuou na presidência de organizações ligadas à sustentabilidade como o Comitê Central do sistema de certificação LEED para o Desenvolvimento de Bairros (LEED-ND). Portanto o roteiro a ser apresentado tem um forte embasamento na qualidade de vida urbana e no maio ambiente. Originalmente tal estudo foi implantado no bairros de Toledo, em Ohio, e com ele foi possível identificar áreas de
vazios urbanos, adensar o local de forma adequada e propor uma ocupação que permita a fluidez dos pedestres pelas vias públicas (FARR, 2013).
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SNAP - Smart Neighborhood Analysis Protocol
O SNAP é um sistema de análise para a formulação de diretrizes destinadas a um determinado local que culminará na sua reformulação, gerando o denominado ‘bairro inteligente’. Tais bairros tem o objetivo de criar comunidades completas, com todos os recursos necessários para seus habitantes numa distância acessível a todos. Isto, além de aumentar a qualidade de vida local, busca uma maior sustentabilidade das comunidades e ainda reduz os gastos com investimentos em transporte e infraestrutura para a cidade (FARR, 2013). Uma das bases do SNAP é a participação popular no projeto para a identificação das características e levantamento. Estas atividades seriam realizadas por meio de workshops realizados a partir de iniciativas da prefeitura e com a participação de voluntários para a organização dos eventos. Como esta atividade demanda a movimentação de muitos profissionais, não apenas de um arquiteto e urbanista, seria inviável reproduzir o trabalho feito em Toledo na cidade, apenas para a identificação de um programa dentro da quadra destacada. O SNAP aprofunda os estudos em diretrizes urbanísticas que necessitam do apoio público juntamente a
investidores privados para operar os usos destacados. Entretanto, este estudo oferece uma base sólida para identificar e justificar os programas a serem implementados na proposta. Toda a análise a ser realizada neste capítulo tem como embasamento protocolo apresentado.
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1 identificação dos usos e espaços físicos
Esta primeira fase visa identificar todas as funções preexistentes no bairro, são demarcados por cores as funções de cada edificação e, a seguir, são localizados, se existentes, os seguintes elementos: -nós de atividade, locais que tenham grande concentração de pedestres, como escolas, terminais, centros comunitários, etc. -bordas, sejam elas grandes avenidas, rios, trilhos de trem; qualquer barreira, natural ou artificial, que impeça ou dificulte a passagem de um lado a outro. -pontos de referência, indicando locais históricos ou de algum uso significante para a comunidade. -corredores, se existirem; sejam eles trilhos de bonde, rios, ruas com apenas uma direção. cultural comercial residencial institucional terrenos vazios estacionamento religioso
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2 Análise das funções existentes O segundo passo é identificar na prancha anterior os usos específicos do local, seguindo uma tabela predefinida. A listagem abaixo indica todas as funções necessárias para o bom desempenho de um bairro.
1 Loja de conveniência 2 Restaurante familiare 3 Café 4 Banco 5 Lavanderia 6 Farmácia 7 Clínica médica ou odontológica 8 Creche 9 Escola de ensino fundamental 10 Biblioteca 11 Centro comunitário 12 Centro Religioso 13 Serviços governamentais 14 Parques
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3 Centros de atividade O terceiro passo consiste em identificar os centros de atividade, onde há múltiplos usos, nós de atividade identificados anteriormente, centros comerciais, ou outras atividades que atraiam a população. Destes centros, identifica-se a distância de caminhada de 3 e 5 minutos (círculos delimitados) indicando onde futuros pontos podem ser implantados.
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4 circulação Na prancha seguinte identifica-se as grandes avenidas que passam pelo bairro, cruzamentos existentes, dificuldades de se atravessar a rua e semáforos. principais vias cruzamentos
semáforos
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5 ambiente para pedestres Por último categoriza-se as calçadas e ambientes das ruas do bairro, sendo: -seguras e atrativas, com calçamento amplo e edificações permeáveis ou com vistas agradáveis; - seguras e não atrativas, calçamento adequado mas com cenários desagradáveis, como estacionamentos e fachadas muradas; -Conflitantes, quando há entrada e saída de automóveis em meio a calçada ou faixas de pedestres;
-Sem calçamento
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Conclusão
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Como previsto, o Cambuí em sua configuração atual já atende muitas das características apontadas pelo SNAP para a formação de um bairro inteligente, pois já é um local bem estruturado e com uma oferta grande de atividades. Seguindo a análise descrita logo acima é possível identificar e localizar os programas presentes pelo bairro, demonstrando que há uma grande e variada quantidade de serviços disponíveis à população. Esta rede de atividades permeia grandes edifícios residenciais, conferindo a característica heterogênea que se deseja manter no local. Pode-se perceber também que a área de interferência dos núcleos de atividades abrange os edifícios, permitindo assim um menor deslocamento dos habitantes para chegarem a seus destinos. Se por um lado o bairro apresenta uma boa distribuição de serviços, por outro ainda precisa incentivar o deslocamento dos pedestres e conferir espaços públicos de qualidade para que os programas presentes sejam utilizados. Por isso o método exige também a descrição do espaço físico das vias públicas, catalogando onde estão presentes os caminhos mais agradáveis, traçando assim os eixos de locomoção na região.
Apesar destas características do SNAP serem dedicadas ao planejamento urbano, o direcionamento gerado por sua execução permitiu identificar a influência que o tecido da cidade exerce sobre o terreno, demonstrando que não há como se projetar num espaço sem o conhecimento do seu entorno. Geralmente estas análises são voltadas às decisões programáticas de uma proposta, mas sua interferência deve afetar também o espaço físico projetado uma vez que se tenha realizado o panorama das construções adjacentes ao local. Contudo, baseando-se no método para fazer as análises, o que se deixou de analisar no bairro foram a qualidade dos programas já que apenas a catalogação foi efetuada. Desta forma, o estudo do local realizado até então não traçou o perfil dos habitantes e quais as necessidades que a população demanda para o bairro. A existência de edifícios residenciais, por exemplo, não é suficiente para se entender quais são as relações existentes entre os moradores do bairro e que tipo de atividade é almejada. Portanto, tendo em vista a situação física atual, o que se conclui a partir do histórico e da ocupação local é uma forte demanda por espaços culturais enquanto que o bairro se beneficia de uma população capacitada e economicamente ativa.
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PROGR 50
RAMA A Evolução do trabalho no cenário contemporâneo
A popularização da internet nas últimas décadas alterou drasticamente o estilo de vida do Homem contemporâneo, os novos meios de comunicação aliados à facilidade de conexão permitida através deles contribuíram para que as interações entre as pessoas fosse encarada de forma diferenciada. Ao longo do tempo a comunicação exige cada vez menos a proximidade entre os indivíduos e, inevitavelmente, este desenvolvimento contribuiu na alteração dos meios de trabalho existentes.
A partir da leitura do bairro, o programa tem duas premissas básicas: 1- suprir a carência de espaços culturais; 2- aproveitar-se do potencial profissional existente Para isso, é preciso permitir que ambos se complementem na criação de um espaço inserido na malha urbana, sem que se perca a noção do urbanismo sustentável e da dinâmica social local.
“Estruturas cívicas e arranjos espaciais da era digital vão afetar profundamente nosso acesso a oportunidades econômicas e a serviços públicos, o caráter e conteúdo do discurso público, as formas de atividade cultural, a enação de poder, e as experiências que dão forma e textura às nossas rotinas diárias” (Mitchell, 1996). Mas, para entender de que forma a rede afetou o meio profissional das pessoas, é preciso analisar a evolução de
sua implementação. Trata-se do mais puro materialismo histórico marxista, os meios de produção ditando a forma com que as pessoas vivem na sociedade e mudando essa “forma de viver”. A internet surgiu propriamente na década de 60 em plena Guerra Fria, mas sua difusão ao usuário comum se deu apenas no início dos anos 90. Apesar de suas limitações, a possibilidade de se comunicar à distância permitiu uma maior interação entre os indivíduos expandindo a rede de conexões. Entretanto, mesmo com toda essa dinâmica, ainda havia um ceticismo em relação aos limites da influência da rede nos sistemas de trabalho já consolidados. No início, a internet e os computadores eram encarados como meras ferramentas, que não influenciariam diretamente no comportamento das pessoas. Este pensamento passou a ser desmentido com a maior difusão da tecnologia, principalmente com a chegada dos notebooks pessoais. Percebeu-se que qualquer indivíduo poderia possuir todo o material necessário para realizar os serviços de um escritório sem a necessidade de grandes investimentos. Isto possibilitou
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o surgimento dos Home Offices, projetos residenciais com um escritório dedicado ao trabalho.
“Então percebi – assim como outros – que eu não precisava mais ir ao trabalho. (...) o trabalho vinha até mim. (...) Eu simplesmente carregava um laptop leve que me dava acesso aos materiais em que estava trabalhando.” (Mitchell, 1996).
Quadro 1 - Modelo tradicional de trabalho e novas tendências. Fonte: Lannes (apud. Mendonça,2010).
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É importante ressaltar que a difusão desta modalidade não está atrelada exclusivamente e pequenos empreendedores ou autônomos, muitas empresas possuem parte do corpo de colaboradores atuando parcialmente ou integralmente em suas residências particulares tais como a IBM, Ticket Accor, Virtual Call, Cisco, entre outras (Mendonça,2010). Para a empresa, a vantagem é que não há a necessidade de dispor investimentos em infraestrutura para acomodar todos seus funcionários, isto pode ser evidenciado na atual tendência de downsizing, quando deseja-se racionalizar e minimizar os recursos humanos. Neste momento o conceito do Home Office já estava bastante difundido. Em 2008, o Brasil já contava com mais de 10
milhões de teletrabalhadores7. Motivados pelo Home Office, muitos empreendimentos residenciais passam a incluir o escritório em suas plantas e atualmente não é difícil de encontra-los pela cidade. Aparentemente tal conceito era o reflexo da sociedade contemporânea, através dele há uma elevação na qualidade de vida, desestruturação dos modelos opressores de trabalho e não se desprendiam mais energias para locomoção, utilizando a sustentabilidade como embasamento neste novo modelo de trabalho. Entretanto, logo surgiram os primeiros problemas relacionados principalmente ao isolamento dos trabalhadores. Reclamações comuns salientam a solidão, falta de oportunidades no crescimento profissional, conflitos familiares e longas jornadas de trabalho (Kupunia,2012). Além disso, nem todas as pessoas conseguem se adaptar à este modelo uma vez que é necessária uma rígida disciplina para se trabalhar no ambiente doméstico já que os horários de lazer e trabalho se misturavam. A falta de contato pessoal ainda acarreta num desestímulo do serviço realizado. Por estes motivos, acreditou-se que o trabalho remoto era um sistema falho que
jamais substituiria o método convencional empresarial. Entretanto, como se pode observar pela tabela a seguir, o crescimento de tal modalidade é muito expressivo no Brasil e no Mundo. Os países que mais apontaram aumento de trabalho remoto8 • 1º China – 54% • 2º Cingapura – 50% • 3º Brasil – 47% • 4º Austrália – 45% • 5º Bélgica, Luxemburgo e Reino Unido – 44% • 5º Luxemburgo – 44% • 5º Reino Unido – 44% • 6º Holanda – 43% • 7º Chile – 42% • 8º Suíça – 38% Além disso, segundo o censo de 2010 realizado pelo IBGE, mais de 30 milhões de profissionais no Brasil trabalham no local onde residem, representando 23,1% do total de brasileiros ocupados9. Campinas apresenta a mesma tendência, o número de pessoas que trabalham em suas residências é de 154 555, o que corresponde a 28% do total de pessoas com ocupação10. No cenário nacional, o trabalho fora do ambiente empresarial foi motivado
ainda pela alteração, em 15 de dezembro de 2011, do artigo sexto da Lei 12.551 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), determinando que todos os trabalhadores os quais executam suas atividades fora do local de trabalho passam a ter os mesmos direitos daqueles que exercem suas funções dentro das empresas. Portanto o trabalho remoto que surgiu como um estilo de vida contemporâneo já adquiriu sua legitimidade e a tendência é que cresça cada vez mais enquanto não surgirem outras demandas.
7 SOBRATT – Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades. Disponível em: < http://www.sobratt.org.br/ >. Acesso em: maio, 2014. 8 CAMPOS, E. Brasileiro está trabalhando mais em casa. Revista Época Negócios. Disponível em: <http:// colunas.revistaepocanegocios.globo. com/financasdebolso/2012/06/04/ brasileiro-esta-trabalhando-mais-emcasa/> Acesso em: maio, 2014 9 Censo 2010. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.cidades. ibge.gov.br/>. Acesso em: abril, 2014. 10 Ibid.
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O Coworking
À medida que o trabalho na residência não se mostrou tão produtivo quanto o esperado, muitos autônomos passaram a realizar suas atividades em cafés locais. Estes espaços ilustram perfeitamente o conceito de third places (terceiros lugares) descritos pelo sociólogo Ray Oldenburg. Tais locais podem ser caracterizados como além da moradia ou do espaço de trabalho, onde pessoas comuns podem se encontrar e interagir de maneira informal. Para Oldenburg são locais imprescindíveis no bom desenvolvimento de uma cidade pois, de maneira informal, contribuem para a discussão política local, reforçando o exercício da cidadania por parte de seus habitantes (apud Wright, 2012). Os cafés entretanto também não ofereciam condições necessárias para a produção, uma vez que apresentam várias fontes de distração, além de não serem locais privativos o suficiente para a realização das atividades. Neste contexto surge o coworking space11, locais construídos especialmente para acomodar professionais de diferentes ramos num mesmo espaço. A intenção é
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usufruir de uma única infraestrutura e criar um ambiente onde haja uma interação entre diferentes campos de atuação e, consequentemente, uma troca de conhecimentos. A dinâmica criada por estes espaços entretanto não é uma consequência da divisão dos recursos, mas sim o motivo para a ocupação do mesmo espaço. Uniuse o caráter profissional dos escritórios com a informalidade dos terceiros lugares, resultando num ambiente onde a produção não está restringida às tarefas ou prazos previamente estabelecidos, mas que compartilhada com outros ramos e receba influências externas (Moriset, 2014). Este sistema permite uma ampla difusão de conhecimentos visto que uma ocasional troca de ideias possibilita a criação de inúmeras iniciativas nunca antes previstas. O modo de pensar de cada indivíduo se altera de acordo com sua formação e, como tais espaços não limitam a presença de profissionais pré-determinados, tanto os assuntos como as opiniões acerca de cada um deles são bem mais variados que nos espaços convencionais de trabalho. Surgem então novos conceitos para a atividade profissional, a hierarquização dos colaboradores, o espelho de pontos
e o enrijecimento das atividades de cada profissional foram desestruturados. Há agora uma valorização na experiência individual dos trabalhadores, criando se assim uma humanização do trabalho em que a produção é contabilizada elas atividades e não pelo tempo de execução). A inovação que se propõe é a colaboração acima da competição, permitindo a máxima interação entre os ocupantes o que permite a troca do knowhow e do conhecimento tácito12 de cada indivíduo. Através destas trocas, possibilitase um maior desenvolvimento criativo de cada indivíduo (Scott, 2006) Num cenário urbano os benefícios da interação, e da criatividade resultante de seus habitantes, quando estes atuam em vários setores da sociedade, permite um equilíbrio entre o sistema de produção e o ambiente cultural urbano (Scott, 2006). Neste âmbito pode-se dizer que é exemplificada uma sociedade ideal, na qual o conhecimento criativo se difunde e os habitantes, em sua grande maioria, atuem de forma ativa na modificação do espaço. A inserção de um espaço de coworking no Cambuí visa inserir estes novos meios de trabalho na sociedade para que se encontre formas alternativas de se
pensar e solucionar os problemas. Para que isto seja possível, o espaço físico deve ser aberto, acessível ao maior número de pessoas possíveis e permitir a conexão entre os profissionais. Escritórios de coworking ainda devem ser flexíveis no sentido de permitir jornadas de trabalho diferenciadas para que cada usuário preestabeleça seus horários, o que permite a ocupação do espaço por um número ainda maior de pessoas e uma maior troca de experiências. 11 O termo coworking surge pela primeira vez em 1999 por Bernard De Koven ao descrever um trabalho colaborativo por meio do computador. O uso deste termo como espaço físico foi utilizado pela primeira vez em 2005 por Brad Neuberg quando criou um local para trabalhos em grupo o qual era aberto a outras pessoas durante o dia. 12 Conhecimento tácito refere-se ao adquirido pela experiência, a palavra provém do latim e significa silencioso, como algo oculto e inerente a cada indivíduo.
Img. 14 - escritório We Work, Seattle, EUA. Disponível em: < http://www. wework.com/>. Acesso em: maio, 2014.
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Potencialidades Locais
Pela análise de programas feita no Cambuí, o bairro apresenta-se como um local ideal para a implantação e um escritório de coworking. De acordo com dados do IBGE, a maior parte da população residente tem entre 20 e 35 anos (26% do total)13, faixa etária com maior participação no mercado de trabalho. Além disso a educação no bairro apresenta índices bastante positivos, com 97% de pessoas alfabetizadas, numa população com pessoas maiores de 5 anos14. O mesmo acontece com habitantes com ensino superior completo. Dentre pessoas com mais de 5 anos, 59% possuem diploma universitário e, ao restringir a população para maiores de 25 anos, a porcentagem da amostra sobre para 6815. Estes dados demonstram uma grande potencialidade para o desenvolvimento de pequenos escritórios uma vez que a quantidade de pessoas capacitadas no local é elevada. Consequentemente há um crescente número de apartamentos com home office integrado e é possível observar que há um aumento desta tendência na região. O bairro apresenta 34% de sua população ativa trabalhando em suas residências,
índice ainda maior que o da cidade (28%)16. Portanto deseja-se explorar este potencial de trabalho no bairro através de um projeto que integre as pessoas e gere uma identidade local. Nos empreendimentos destinados à este tipo de escritório, muito se fala na criação de uma comunidade local, explorando as características existentes no bairro. O senso de comunidade pode ser tanto que tais espaços chegam a servir como espaços de organizações ativistas locais, influenciando diretamente no desenvolvimento do bairro (Hurry, 2012). É exatamente esta característica de comunidade que a proposta apresentada deseja atingir. Uma vez que o movimento do coworking se difundiu globalmente, houve uma grande fluxo de investimentos para produzir escritórios exclusivamente destinados à exploração comercial deste estilo de trabalho. O problema consequente destes empreendimentos é o isolamento dos trabalhadores em relação à comunidade, tornando os locais meros escritórios, ideal que vai de contra os princípios apresentados pelo coworking. Além de espaços de trabalhos, pretende-se propor locais integradores e geradores de oportunidades os quais podem ainda identificar problemas para questões locais. A comunidade é que deve direcionar o rumo dos escritórios.
Censo 2010. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/>. Acesso em: abril, 2014. 14 Ibid. 15 Ibid. 16 Ibid. 13
Gráfico 1: Local de trabalho dos residentes do Cambuí Grafico 2:grupo das pessoas alfabetizadas do Cambuí. Gráfico 3: Nível de Instrução da população residente do Cambuí. Fonte: <http://www.cidades.ibge.gov. br/> Img. 15 - Cruzamento da Rua Ferreira Penteado com a Av. Júlio de Mesquita. Do autor.
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Central Beheer Office Building – Herman Hertzberger (1968 – 1972) Apeldoorn - Holanda
Img. 16 - vista aérea do Central Beheer Office. Disponível em: http://academics. triton.edu/>. Acesso em: abril, 2014.
Img. 17 - análise conceitual do Central Beheer Office. Disponível em: http:// exitmodernity.blogspot.com.br/. Acesso em: abril, 2014.
Uma das obras mais icônicas quando se trata de espaços de trabalho. O Central Beheer Office Building foi concebido como um escritório para mais de 1000 colaboradores por meio de um volume único o qual permite a visualização vertical e horizontal entre todos os trabalhadores. A transparência das janelas permite ainda uma comunicação visual com o exterior, tonando o local mais agradável de se trabalhar e próximo do ambiente externo17. Neste projeto, Hertzberger define o edifício como uma instalação na qual pequenos módulos formam a unidade e em cada um deles há uma variação programática, permitindo a execução de várias atividades num mesmo espaço. (Hertzberger, 2001). Apesar de não ser uma obra nova, pode-se tirar muitos dos conceitos do coworking através dela, como a comunicação e a apropriação dos espaços por parte dos funcionários nos módulos que foram criados. O bem estar do colaborador e a integração tanto do ambiente interno quanto externo são os principais conceitos que devem ser aplicados na proposta. 17 Disponível em: < http://www. ahh.nl/index_en.html>. Acesso em: maio, 2014.
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Espaços Culturais Demanda cultural de Campinas
A cidade de Campinas atualmente apresenta um déficit muito grande de espaços culturais de qualidade e, à medida em que a cidade foi se desenvolvendo, há uma demanda cada vez maior por novos estabelecimentos enquanto que, ao mesmo tempo, há uma luta para a manutenção adequada dos existentes; uma dialética adaptativa e cooperativa bastante interessante de ser observada. Ao invés de haver um incentivo por novas construções, o histórico da cidade demonstra um caminho inverso. Em 1965, por razões desconhecidas, foi demolido o Theatro Municipal Carlos Gomes, inaugurado 35 anos antes, era o maior teatro da cidade e substituía o antigo Theatro Carlos Gomes, uma vez que este não supria a demanda da cidade. Localizado entre as ruas Treze de Maio e Costa Aguiar deu lugar à uma praça, o atual calçadão Treze de Maio. O descontentamento com a demolição do Teatro foi grande, além de não haver uma justificativa concreta para o ato, não surgiu nenhum um outro lugar
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que substituísse a obra anterior. Tendo isto em vista o então prefeito Ruy Hellmeister Novaes propôs a criação do Teatro Castro Mendes onde antes se localizava um cinema e a construção de um novo Teatro no Parque Portugal, atual Lagoa do Taquaral. Tal obra não se concretizou e, para atender a população, contratou um dos finalistas do concurso da obra, Fábio Penteado, para a implantação de um Teatro de Arena, o Centro de Convivência Cultural Carlos Gomes que seria inaugurado somente em 1975. Apesar de sua importância, o Centro de Convivência sofreu sucessivas interdições ao longo de sua história e atualmente, mesmo em meio a protestos, teve que ser desativado devido à existência de infiltrações no edifício. Até os dias atuais o Castro Mendes se encontra como o teatro mais importante da cidade, sendo que Campinas apresenta um dos menores números de assentos em teatros por habitante da região metropolitana, um para cada 1258 pessoas18. Há décadas não houveram outras construções culturais, apenas propostas como o novo Teatro de Ópera Carlos Gomes cuja capacidade prevista é de 1200 ocupantes, caso seja executado.
Outro déficit da cidade é o número de bibliotecas públicas existentes, apesar de ser a segunda maior cidade do Estado, sete municípios apresentam um número maior de bibliotecas que o município19. Outro fator alarmante entretanto é a qualidade destes espaços, muitos não renovam seus acervos e há pouco incentivo para a modernização das bibliotecas, que se mantém no modelo tradicional, sem atrativos para seus usuários. A falta de cuidado com os espaços culturais da cidade se reflete no descontentamento geral da população com esta carência. Mesmo que este trabalho não vise a implementação de um marco na cidade, o terreno apresentado se encontra num eixo cultural e suas potencialidades devem ser exploradas.
A influência dos espaços culturais De acordo com a Unhabitat (United Nations Human Settlements Programme)20, organização das nações unidas que busca o desenvolvimento social e sustentável das cidades, a presença da cultura é fundamental no crescimento adequado do meio urbano. A cultura influencia em vários aspectos para um desenvolvimento sustentável da cidade, dentre eles são
destacados: a produtividade, uma vez que proporciona o crescimento econômico através da geração de novos empregos; a infraestrutura, incentivando a mobilidade e conectividade; a qualidade de vida, através da criação de espaços públicos que incentivam a concentração de pessoas; a igualdade social e inclusão, com a redistribuição dos bens da cidade; e a sustentabilidade ambiental, uma vez que tais espaços valorizam a proteção do meio urbano ao mesmo tempo que permitem seu crescimento21. Outra característica de estabelecimentos culturais é que eles proporcionam atividades opcionais para os habitantes da cidade. De acordo com Jan Gehl, a qualidade de um meio urbano depende da quantidade de atividades que o mesmo permite. Todas as cidades, apresentando ou não bons índices de qualidade de vida, permitem a realização de atividades obrigatórias, como viver e trabalhar. Estas funções são inerentes ao conceito da cidade e o meio urbano jamais deixará de contê-las (Gehl, 2009). O mesmo não ocorre com atividades de lazer e cultura, por exemplo. A falta delas é sentida pelos habitantes, mas não são imprescindíveis para o funcionamento da
cidade. Sua ausência afeta diretamente na boa qualidade de vida o que compromete, como visto anteriormente, o desenvolvimento sustentável.
Programa cultural
Uma vez definida a importância de se ter atividades culturais no local, optou-se por escolher um programa que complemente as atividades profissionais que serão exercidas na proposta. A solução adotada foi a implementação de uma midiateca, programa relativamente novo, aplicado em várias cidades contemporâneas. Surge como uma resposta ao modelo tradicional de biblioteca, uma vez que disponibiliza ao público acervos em diferentes mídias e permite um alcance maior de usuários. A midiateca muitas vezes se apresenta como um complexo cultural completo, disponibiliza exposições, workshops, material para a criação de vídeo, entre outras atividades. O objetivo deste tipo de programa é atrair o público através da interatividade de seus equipamentos. Através de suas atividades, muitas midiatecas chegam a promover a inclusão social por meio de atividades culturais e programas de capacitação.
Todas estas são qualidades de interesse para o local. A aproximação entre o ambiente profissional e cultural, juntamente com a participação da população local, permitem uma maior dinâmica do meio urbano e se apresenta como uma resposta ao desenvolvimento segregador que existe atualmente.
Disponível em :<http://www. viaeptv.com/epnoticia/campinas/> 19 Disponível em: <http:// correio.rac.com.br/_conteudo/2014/02/ especial/regiao_metropolitana/150732numero-de-bibliotecas-e-insuficientena-regiao.html>. Acesso em: maio, 2014. 20 Disponível em: <http://unhabitat. org/>. Acesso em: maio, 2014. 21 Disponível em: <http://www.unesco. org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/ H Q / C LT / i m a g e s / G o r a _ M b o u p _ Presentation.pdf>. Acesso em: maio, 2014. 18
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Midiateca de Sendai – Toyo Ito (1997 - 2000)
Sendai, Japão
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Erguida em 2000, a Midiateca de Sendai foi um dos primeiros projetos a propor uma releitura da biblioteca tradicional à favor dos costumes contemporâneos. O programa defende uma nova abordagem tanto da função quanto da estrutura da biblioteca na cidade. Os espaços de aprendizado e leitura tiveram que se adaptar ao avanço dos meios de comunicação e ao próprio cotidiano das pessoas. Muitas das informações, que eram apenas acessadas nas bibliotecas, podem ser facilmente encontradas online. Por isso, limitar o uso destes edifícios à pesquisa pode comprometer seu desempenho, é necessário oferecer atividades que não podem ser executadas sem um espaço físico .Salas audiovisuais, exposições interativas e a disponibilidade de equipamentos de produção de vídeo são exemplos de atividades que permitem a busca de conhecimento pelos ocupantes bem como oportunidades de socialização. Atualmente há uma maior exigência para que os edifícios permitam a acomodação de vários tipos de atividades e esta flexibilização dos espaços deve ser acompanhada por amplos ambientes que possibilitam as relações humanas.
“I believe human activities are
versatile and complex. In public buildings, these activities are conceptualized as “functions”, so it becomes possible to build a separate space for each function. But that constrains human activities; it limits them, and opposes life itself.” – Toyo Ito22 Mas, apesar da forte similaridade programática, este não é o único fator que levou à escolha do projeto como uma referência arquitetônica para a proposta. A estrutura física do projeto tem o objetivo de se inserir na malha urbana de forma que haja uma transição dos espaço externo com o interno, sem que haja segregação ou limites acentuados23.
“Most of the buildings are made of stone and bricks; they are very closed types of architecture. I wanted to counter that by designing a building that’s open to society, so that people can actually see from outside what kind of activities are taking place inside” – Toyo Ito24 Desta forma o espaço externo se estende ao interno, mas sem que isso comprometa as funções do edifício. Deve
haver harmonia e interação. Ele precisa se adequar e complementar o seu entorno e não querer ditatorialmente se impor ao local inserido. Ele ainda deve apresentar suas características que permitam seu bom funcionamento, apresentando espaços com bom desempenho acústico ou locais de leitura silenciosos. Mas estas características se apresentam de forma gradual, sem limites bem definidos entre o interno e o externo.
Burmanje, A. Interview Toyo Ito in Archidea. Krommenie: Forbo, 2005. Disponível em: <http://www.archidea. com/media/uploads/archidea_31.pdf>. Acesso em: maio, 2014 23 Ibid. 24 Ibid. Img.18 - Foto aérea da Midiateca de Sendai. Disponível em: <http:// kmckitrick.wordpress.com/>.Acesso em: maio, 2014. Img. 19 - Croquis de Toyo Ito. Disponível em:< http://nickkahler.tumblr.com/>. Acesso em: maio,2014. 22
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Praça das Artes - Brasil Arquitetura + Marcos Cartum (2012) São Paulo, SP
Img.20 - Foto Praça das Artes. Disponível em: <infraestruturaurbana. pini.com.br>.Acesso em: maio, 2014. Img. 21 - Isométrica da Praça das Artes. Disponível em:<http://projetomelhor. blogspot.com.br/>. Acesso em: maio,2014.
Vencedora do concurso para a expansão do Theatro Municipal de São Paulo, este é o projeto cujo terreno e entorno mais se aproximam da proposta apresentada. A praça das artes foi concebida com o objetivo de dar suporte ao Teatro Municipal. Seu programa contempla salas de estudo para música e dança, auditório, sala de concertos, escola, restaurante e a própria praça. Todas estas funções são implantadas em lotes que foram desapropriados pela prefeitura, sendo localizados entre grandes edifícios, apresentando testadas para três diferentes vias. Conceitos de permeabilidade urbana foram aplicados no projeto. Seu térreo se compõe como um grande vão livre, aos moldes espaciais do MASP - guardadas as devidas proporções - e o programa incentiva a participação do público e a vivência urbana. A implantação num centro consolidado de tal equipamento ainda tem a função de requalificar o espaço adensado local, todo o programa poderia simplesmente ser implantado num edifício verticalizado mas, ao invés disso, a abertura da obra para os pedestres permite uma melhora do espaço urbano e o incentivo do uso de seus equipamentos.
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Espaços Públicos
De nada adiantaria implantar todo o programa definido se o projeto não atender ao público local. Toda a conceituação desta proposta visa a integração entre as diferentes parcelas da população que habitam a região e, portanto, os espaços públicos possíveis na quadra devem ser analisados com cuidado. Para Jan Gehl, há quatro critérios para avaliar a atratividade dos espaços públicos, são eles: proteção, conforto, deleite e local (Gehl, 2009). Muitas vezes quando se menciona proteção, logo é feita uma associação com criminalidade, mas este não é o único fator a ser levantado. Além deste, deve-se prever a proteção do pedestre contra o tráfego e contra intempéries como ventos, frio, calor e poluição. Neste âmbito, o paisagismo urbano tem muita relevância, ao criar um microclima mais agradável e criar um distanciamento do pedestre com as ruas (Gehl, 2009). Em conforto são destacadas a acessibilidade e a qualidade das estruturas existentes e a criação de oportunidades para se sentar, parar, ficar em pé, falar, ouvir e exercitar-se. Neste aspecto destacamse as múltiplas características que os espaços públicos devem ter, seja a criação de vistas agradáveis com bancos públicos,
proteção acústica ou a criação de fachadas permeáveis que permitem um descanso visual (Gehl, 2009). Os espaços de deleite reforçam estes ideais, a qualidade visual dos espaços deve ser grande e variada, existindo espaços construídos na escala do pedestre e com vistas para locais de interesse (Gehl, 2009). Por último, o local, refere-se à identidade do bairro, fator de grande importância inclusive para o programa proposto. Deve-se haver uma relação do local com o contexto, respeitando aspectos históricos para que haja uma forte identificação dos usuários com o ambiente (Gehl, 2009).
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Oscar Freire – Vigliecca & Associados (2002) São Paulo – SP
O boulevard na Rua Oscar Freire criado pelo escritório de Héctor Vigliecca lida com questões bastante relevantes à proposta ao integrar a infraestrutura urbana à identidade local e à funcionalidade da rua. Sobre o projeto, o autor descreve: “Um passeio livre de obstáculos, limpo, liso, sem ressaltos, sem desenhos decorativos, minimalista, onde o pedestre caminha sem sobressaltos em um piso com detalhes bem construídos, que seja uma referência neutra que valorize as arquiteturas e as vitrines, um suporte em que seu valor estético resida na visualização de uma unidade para toda a rua.” – Vigliecca & Associados25. O Cambuí já apresenta uma infraestrutura muito boa em suas ruas, mas ainda há a necessidade da criação de uma unidade visual no local e uma oferta maior de serviços públicos, fatores que integrem seus habitantes e reforce a ideia de uma comunidade local, um dos objetivos do coworking. É por este motivo que é muito importa lidar com o espaço da calçada. Sua conformação visual não pode ser ignorada uma vez que é um dos primeiros contatos que o visitante tem ao passar pela quadra, sendo um dos elementos que convida o pedestre a utilizar seus espaços.
No projeto para a Rua Oscar Freire, Vigliecca atenta-se para todos os detalhes do espaço público, de arborização à mobiliário urbano, criando uma ambiência neutra num conceito sólido no qual o projeto permite a boa execução das funções as quais é destinado. Mesmo o enfoque deste trabalho não ser o urbanismo, estas questões devem ser levantadas uma vez que podem disseminar no bairro a importância de se ter espaços públicos de qualidade. Ciclovias, por exemplo, não podem ser propostas na quadra em questão uma vez que devem estar inseridas num plano maior. Mas o projeto deve ser flexível a ponto de permitir a implantação das mesmas caso sejam necessárias futuramente nesta quadra.
Disponível em: <http://www.vigliecca. com.br/>. Acesso em: Junho, 2014. 25
Img.24 - Foto da Av. Oscar Freire em São Paulo. Disponível em: <vigliecca. com.br>.Acesso em: maio, 2014. Img.25 - Diagrama da Av. Oscar Freire em São Paulo. Disponível em: <vigliecca. com.br>.Acesso em: maio, 2014.
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PARTID 70
DO
Serendipidade
Um dos aspectos mais importantes para a implementação do projeto é o conceito da serendipidade. Tal termo é um anglicismo do termo serendipity, criado pelo escritor Horace Walpole em 1754 quando escreveu a história infantil “Os três Príncipes de Serendip” na qual os protagonistas faziam descobertas acidentais para questões que não estavam necessariamente buscando. Os resultados observados eram possíveis graças às influências que os ambientes proporcionavam juntamente com a capacidade de percepção dos indivíduos. Tem-se como objetivo nesta proposta possibilitar estes encontros acidentais entre seus usuários. Tal característica já é um aspecto dos espaços de coworking uma vez que se deseja propiciar a integração entre profissionais de diferentes áreas. Entretanto a proposta não deseja limitar o inesperado ao ambiente profissional, mas sim expandir este conceito à vivência urbana, criando conexões entre as diferentes funções da cidade bem como de seus usuários. Desta maneira não apenas os habituais usuários dos escritórios se depararão com eventos culturais mas também seus clientes os quais, sem que haja
a menor expectativa, poderão entrar em contato com diferentes atividades num dia que seria destinado apenas a uma reunião de negócios. Com a implementação de quadras abertas essas experiências atingem a um público ainda maior, qualquer pedestre que passe pelo local entrará em contato tanto com eventos culturais como profissionais. O reconhecimento do local como um ponto de encontros acidentais permite sua melhor ocupação e aceitação por parte dos habitantes e isto ainda reforça a ideia de Jan Gehl apresentada anteriormente sobre a qualidade do meio dependente da quantidade de atividades opcionais que ele fornece. Mais do que permitir a execução das atividades, a proposta tem um caráter criativo onde novas atividades são desenvolvidas e implantadas em seu espaço. Trata-se de um local que se molda a seu entorno e propulsiona suas potencialidades, tudo isto através da criação de laços a partir de elementos já existentes no bairro. A conexão se torna portanto o principal foco da proposta.
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O Programa Livre
Como o produto final deve atender a uma grande variedade de pessoas, seja pelas funções que elas procuram do projeto ou mesmo devido à suas diferentes classes sociais, o espaço físico não pode ser rígido e nem determinar as atividades exercidas nele. A proposta deve contemplar locais cuja programação é aberta, livre de influências, em que a atividade será proposta pelos próprios usuários e de forma espontânea. Este tipo de espaço livre já é referenciado por muitos arquitetos. Lina diz que para se criar tais espaços, o arquiteto deve abrir mão de suas crenças e ser extremamente humilde com o projeto que irá construir, pois este pertence a seus usuários e são eles que moldarão o espaço, a obra não deve interferir no que já existe na cidade26. Os espaços criados pelos edifícios devem proporcionar uma flexibilidade que permita a ocupação por parte dos transeuntes e que programas nunca antes previstos tomem conta do local, este conceito se acentua principalmente em instituições governamentais pois foram concebidas para atender à população.
“Uma arquitetura na qual homens livres criassem seus espaços” -Lina Bo Bardi
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O próprio Centro de Convivências apresenta tais características, suas grandes arquibancadas são ocupadas a todo momento por diversas parcelas dos habitantes do Cambuí e, mesmo inoperante, o espaço ainda é utilizado e serve como um complemento da própria praça. Quando Prestes Maia afirmava que os jardins públicos deveriam ter qualidade espacial, se referia a programas adotados em meio às praças. Atualmente o Centro de Convivências não abriga nenhuma função a qual foi especificamente designado, mas sua flexibilidade projetual permitiu que, mesmo se tornando uma edificação interditada no meio da cidade, ainda pode ser usufruída e a praça não morre. Um exemplo disso é a feira de artesanato que ocorre todos os sábados no local, atividades não previstas – e não praticadas à época da construção – mas que surgiu de uma demanda local ao longo do tempo. Esta mudança de características ao longo dos anos é outro fator do qual os edifícios com programas abertos podem se beneficiar, enquanto que as necessidades do bairro se alteram, os edifícios são capazes de comportar qualquer programa que possa surgir. Mas, enquanto que para Lina
tais espaços são criados e voltados exclusivamente para o uso dos habitantes, Koolhaas defende uma separação total entre programa e arquitetura. Para o arquiteto, o programa é fundamental na concepção do edifício mas ele não deve alterar a forma do edifício. Esta é uma concepção um tanto utópica pois Moneo mesmo admite que as obras do OMA nem sempre conseguem seguir tais diretrizes. Desta forma, com a defesa de tal argumento, não há limitação para o que se possa criar nos espaços uma vez que a necessidade programática não interfere fisicamente na obra, assim toda e qualquer concepção formal é possível, bem como todos e quaisquer usos no espaço concebido (Moneo, 2008).
“Onde não há nada, tudo é possível; onde há arquitetura, nada mais é possível” – Rem Koolhaas (apud. Moneo,2008) Koolhaas ainda define sua arquitetura como espontânea, ela surge a partir do local de onde será implantada mas isso não pode ser confundido com o regionalismo, uma vez que ela surge da necessidade local e não de seu histórico. Por
fim, ele caracteriza sua obra como global, comparando-a a um produto industrial, neste caso o arquiteto tem um papel criativo reduzido em detrimento de uma função organizadora dos espaços, é o profissional que identifica as necessidades e aplica as medidas mais adequadas (Moneo, 2008).
“Meu trabalho é deliberadamente não utópico; tenta operar conscientemente dentro dos limites das condições prevalentes, sem sofrimento, discordâncias ou qualquer outro tipo de narcisismo (...)” – Koolhas (apud. Moneo,2008) Neste contexto o arquiteto se diz a favor do racionalismo moderno mas sua crítica é voltada à utopia que o movimento criou, os volumes não podem ser simplificados ao extremo e seguirem regras predefinidas uma vez que os programas não são assim, cada cenário demandará projetos diferentes. Arquitetura,a transformação do espaço. Direção: Walter Lima Jr. Globo Shell Especial, 1972. 27 Ibid. 26
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Terceiros Lugares
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Os terceiros lugares apresentados anteriormente são possuem uma grande quantidade de características desejáveis à proposta uma vez que se tem um espaço cuja finalidade é baseada no convívio social. Este conceito permite aprimorar o programa livre de Koolhaas pois descreve quais são as necessidades para que locais de permanência sejam bem sucedidos e, além disso, devem ser utilizados para definir as áreas públicas uma vez que Gehl aponta a necessidade das mais variadas funções nos locais de transição. No texto original de Oldenburg o sociólogo apresenta as seguintes características de terceiros lugares: espaços neutros, niveladores, dispõe da conversação como atividade principal, é acessível e permite acomodação, apresenta frequentadores regulares, são locais discretos e informais e, por último, descreve que é um lar fora de casa (Oldenburg, 1999) Dentre estes conceitos, destacase para os espaços públicos a necessidade de locais para conversação, acessibilidade, espaços niveladores e neutros para que as funções de estadia e transição descritas por Gehl sejam cumpridas. Por serem neutros, tais locais abandonam a hierarquia social e permitem uma troca espontânea de experiências de seus usuários. Isto permite
a ocupação da quadra por todas as parcelas da população que transitam pelo local, visto que a região apresenta uma mistura grande classes sociais. A presença dos escritórios obrigam de certa forma a ocupação do local por frequentadores regulares, mas as características de terceiros lugares não pode ser limitada apenas a este fator nos espaços de trabalho, visto que o coworking surge a partir de profissionais que executavam suas atividades em bares. Portanto, as qualidades destes locais para os profissionais devem ser levantadas. Um dos aspectos principais é a interação entre as pessoas pois o ambiente adota a colaboração como fator decisivo para seu sucesso e, aliado a isso, a falta de hierarquia é fundamental para a troca de experiências. Tal modelo de trabalho adota a filosofia que o conhecimento de cada indivíduo é único e as experiências pessoais podem se sobrepor às técnicas profissionais aprendidas em cada profissão. Há portanto uma maior humanização do trabalho a qual só pode ser exibida através uma desestruturação do modelo tradicional de escritórios. Portanto os terceiros lugares são aplicados para democratizar os espaços da proposta, seja em áreas públicas ou privadas.
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Desenvolvimento do Programa
Primeiramente o programa foi analisado de forma separada, definiu-se os principais ambientes delimitando-os nos três grandes grupos programáticos identificados: o ambiente profissional; o cultural; e o público. Neste contexto, o percurso e os encontros são de grande importância para o partido da obra. Portanto não se pode isolar cada grupo pois, desta forma, se estaria meramente criando três projetos dentro do lote e este não é o intuito da proposta.
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Por esta razão os trajetos foram redesenhados, as linhas são quebradas criando interações entre si. Nos pontos de encontro são posicionado os ambientes sem programas descritos anteriormente. Tais espaços são de fundamental importância pois reúnem as diferentes funções exercidas pelos usuários do projeto num mesmo espaço, permitindo assim a máxima serendipidade entre os ocupantes. Desta maneira o projeto se torna unificado e as interações propostas permitem a existência de interações únicas as quais não seriam possíveis com a separação dos espaços.
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Mas ainda não se deseja limitar as interações nos espaços de intersecção mas, uma vez que certas conexões físicas não podem existir devido à hierarquização das funções, propõe-se conexões visuais que geram diferentes estímulos aos usuários. Assim o projeto não integra-se apenas consigo mesmo mas também a todo seu entorno. Para que se possa dar continuidade à proposta, os programas precisam ser detalhados a fim de estabelecer as conexões que estarão presentes na proposta.
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Programa - Espaรงos de Trabalho
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Programa - Espaรงos Culturais
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Tabela de Ă reas
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Fluxograma
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PROPOO 90
OOSTA 91
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1. Análise do terreno
Fundamentado nos conceitos de permeabilidade urbana, o primeiro passo do processo projetual foi a identificação no terreno do eixo Norte-Sul que permitiria a conexão entre o Centro de Convivências e regiões mais próximas à periferia do bairro, criando uma rota alterativa à Av. Júlio de Mesquita.
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2. Primeiros Volumes Baseado no eixo identificado anteriormente, os primeiros volumes desenvolvidos eram prejudicados pela prĂłpria ideia inicial; os edifĂcios eram implantados de diversas maneiras na quadra inteira sem que se ocupasse o caminho desejado. Tais volumes representavam o oposto do conceito de serendipidade pois os programas ficariam locados em edifĂcios separados, isolados entre si.
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3. Inversão Após várias tentativas no conceito anterior, decidiu-se inverter totalmente a linha de raciocínio; havendo um eixo importante na quadra, ele deveria se destacar em meio aos edifícios, por isso foi criada uma grande lâmina elevada do solo por onde poderiam percorrer tanto transeuntes locais como usuários dos programas implantados. Desta forma seria possível a criação de diversas conexões visuais entre os diferentes usuários.
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3.1 Térreo Esta proposta demonstra a grande importância do térreo para o projeto. Com a finalidade de criar conexões visuais, foi adotado como parte do processo criativo a criação de vazios de baixo para cima, ao invés de simplesmente implantar uma grande laje cobrindo todo o eixo. O mesmo tipo de conceito pode ser visto em vários outros projetos como o Centro Pompidou, de Renzo Piano e Richard Rogers; o Cais das Artes, de Paulo Mendes da Rocha; e as propostas do Edifício Stadskantoor e do Centro de Convenções de Agadir, ambos do escritório OMA.
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Centro Pompidou
Proposta para edifício Edifício Stadskantoor, em Rotterdam, OMA.
Cais das Artes, Vitória, ES, Paulo Mendes da Rocha.
Centro de Convenções de Agadir, Marrocos, OMA
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4. Inserção A lâmina proposta anteriormente, apesar de satisfazer algumas das intenções propostas, não se insere adequadamente na quadra, bloqueando totalmente a visão dos edifícios residenciais vizinhos. Portanto decide-se limitar a altura da proposta na porção norte do terreno.
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Rua Conceição
A
Rua São Pedro
esquita
Av. Júlio de M
A
Implantação
Rua Ferreira Penteado
estudos preliminares 102
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Corte A-A 106
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5. Identidade Mesmo que a proposta anterior satisfizesse a maioria dos problemas identificados, ela ainda se apresentava muito monótona como solução formal. A última grande alteração volumétrica do projeto se consolidou a partir do cenário que o edifício criaria na cidade, buscando uma identidade visual que seria agradável de ser vista pelos habitantes assim como pelos ocupantes dos edifícios residenciais. A solução surgiu como uma analogia às montanhas representadas em desenhos de janelas, um cenário bucólico almejado pelas pessoas. O resultado desta busca é um teto verde curvo implantado no eixo norte/sul do edifício.
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A forma resultante permitiu ainda uma abertura da quadra na porção Norte, que faz divisa com o Centro de Convivências, enquanto que a tendência local é a implantação de grandes prédios residenciais fechando a quadra da praça. Desta forma, ao mesmo tempo em que a proposta cria oportunidades visuais em seu edifício, não interrompe outras que permanecem no local.
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Setorização Restaurante Aproveita-se da vista para a praça Galeria e Biblioteca Implantadas em eixos perpendiculares, acima do caminho de pedestres Cowork Programa principal, é implantado no volume mais adensado da proposta Lojas Implantadas na esquina da quadra, como pontos atratores.
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CONCL 118
LLUSÃO A análise do local de projeto foi decisiva para que se tenha iniciado o estudo preliminar da proposta. A forma dos projetos arquitetônicos nunca devem ser propostas sem a avaliação do contexto em que está inserida pois, na maioria das vezes, ela parte da própria demanda local. Quando se analisa uma determinada situação, o contexto físico não deve ser separado da identidade local e nem das tendências mundiais sobre o levantamento programático apresentado. Neste aspecto, dados socioeconômicos e a avaliação de referências projetuais é fundamental para que se identifique as necessidades locais. O estudo que foi realizado na quadra apresentada deve sempre estar presente no cotidiano de um arquiteto uma vez que os métodos de avaliação fazem parte do próprio processo de projeto. Esta situação é ainda mais relevante quando o produto solicitado será implantado em uma região adensada.
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