Roteiros Subaquáticos de Sagres Gruta do Martinhal Grupo de Investigação Pesqueira Costeira Centro de Ciências do Mar | Universidade do Algarve
Roteiros Subaquáticos de Sagres Gruta do Martinhal Coordenação: Jorge M.S. Gonçalves Textos: Carlos M.L. Afonso, Mafalda Rangel e Pedro Monteiro Design: Frederico Oliveira Equipa científica: Carlos M.L. Afonso, Frederico Oliveira, Inês Sousa, Luís Bentes, Mafalda Rangel, Pedro Monteiro e Jorge M.S. Gonçalves Agradecimentos: Ao projecto Europeu Meshatlantic, por ter facilitado a logística necessária à elaboração deste trabalho. À empresa de mergulho Divers Cape (Anabela Anapaz, Daniel Balmer e Cristovão Catarino) pelo acompanhamento e logística associados aos mergulhos efectuados.
Financiado por:
Com o apoio de:
Co-financed with support of the European Union ERDF-Atlantic Area Programme
‘Investing in our common future’
Grupo de Investigação Pesqueira Costeira Centro de Ciências do Mar | Universidade do Algarve
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Gruta do Martinhal
FICHA TÉCNICA_ •Tipo de Mergulho: Escafandro •Acesso: Embarcação •Distância do porto: 0.70 mn/5 min. (apx) •Duração média 45/50 min. •Prof. Max: 25m •Habitat: Gruta •Grau de dificuldade: Médio •Qualificação mínima: Open Water Diver •Interesse paisagístico: Médio •Interesse biológico: Elevado •Foto e Vídeo: Interessante •Estatuto de conservação: PNSACV/SIC Costa Sudoeste
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DESCRIÇÃO_ Situada no flanco Oeste dos ilhotes do Martinhal é uma das grutas mais pequenas de Sagres. Com uma topografia pouco complexa apresenta uma entrada principal nos 16 metros de profundidade. A abertura tem mais de três metros, enquanto o salão possui cerca de 10 metros de comprimento. Do ponto de vista da biodiversidade esta gruta, como outras de Sagres, requer medidas apropriadas de protecção por constituir habitat fragmentados e isolados, com ocorrência de espécies de profundidade raros na zona costeira e por isso vulneráveis (UE_Directiva Habitat).
ATENÇÃO_ As características particulares do interior da gruta implicam especial cuidado no controlo da flutuabilidade de modo a garantir uma boa visibilidade e não perturbar os organismos.
CARACTERIZAÇÃO_ Moderadamente iluminada, encontrase sujeita à acção das ondas, sendo sobretudo habitada por uma diversidade de espécies de áreas semi-obscuras. No interior existem fendas em prateleira onde podem ser vistas lagostas. O fundo do interior é coberto de vasa, enquanto o fundo exterior apresenta grandes blocos. Esta gruta como a maioria das grutas comporta três zonas de povoamento correspondente à fauna existente na zona próxima da abertura (Zona I), espécies de áreas semi-obscuras (Zona II) e uma última caracterizada por espécies que toleram pouca luminosidade (Zona III).
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INTERESSE CONSERVACIONISTA_
Caryophyllia (Caryophyllia) inornata
Cnidários: Os cnidários, onde se incluem anémonas (e.g. Anemonia sulcata), alforrecas, gorgónias e corais (e.g. Caryophyllia (Caryophyllia) inornata) são animais que podem ter vida colonial, i.e., podem ser colónias de minúsculos organismos designados pólipos (e.g. Eunicella verrucosa; Alcyonium coralloides). Astroides calycularis (coral): Esta espécie que é característica de zonas escuras (e.g. grutas) e encontrase protegida no mediterrâneo pela Convenção de Berna. É um dos corais que pode ser encontrado na costa portuguesa. O termo coral designa um conjunto de espécies distintas em termos de características mas que basicamente têm 6 tentáculos ou múltiplos de seis e segregam um esqueleto de calcário externo. Eunicella verrucosa (gorgónia): De acordo com o livro vermelho da IUCN está espécie apresenta o estatuto de Vulnerável pois enfrenta risco de extinção na natureza devido a recolhas, nomeadamente acidentais pela pesca.
Astroides calycularis
Paracentrotus lividus
Paracentrotus lividus (ouriço-do-mar): Embora não possua qualquer medida especial de conservação na costa portuguesa, esta espécie (à semelhança de outras que ocorrem em Portugal, e.g. Palinurus elephas, Spongia (Spongia) agaricina) está protegida no mediterrâneo pela Convenção de Berna.
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CURIOSIDADES_ Judia, Coris julis: Este peixe apresenta dimorfismo sexual acentuado. Assim, o macho possui cores vistosas, com predominância do verde. Contrariamente a fêmea é castanha. Trata-se de um peixe hermafrodita, em que as fêmeas podem inverter o sexo transformando-se em machos secundários. Coris julis
Eunicella verrucosa
Aiptasia mutabilis
Gorgónias: As gorgónias são cnidários coloniais com aspecto arborescente e pertencentes ao grupo dos falsos corais. As colónias possuem uma haste central axial, com ramificações onde se albergam pequenos pólipos distribuídos pela superfície. As gorgónias mais ramificadas e mais flexíveis povoam, tendencialmente, zonas menos profundas, com correntes mais fortes. As diferentes espécies de gorgónias podem apresentar diferentes colorações: rosa, amarelo, vermelho e branca. Érelativamente fácil identificar as 6 diferentes espécies que se podem apresentar nesta zona (Eunicella verrucosa, E. labiata, E. gazella, Leptogorgia sarmentosa, L. lusitanica, Paramuricea clavata). Anémonas Aiptasia diaphana e A. mutabilis: Estas anémonas são muito semelhantes e particularmente difíceis de distinguir. No entanto a primeira não ultrapassa os 5cm de altura e 2-3 cm de diâmetro, enquanto a segunda pode alcançar aos 20 cm de altura e 10 cm de diâmetro. Paralelamente, se a A. diaphana não tem mais que 80 tentáculos, a A. mutabilis pode ter mais de 160.
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Alga, Dictyota cyanoloma: Esta alga pertence ao grupo das algas castanhas. O talo tem consistência flexível e cor verde-acastanhada ou amarelada que dentro de água apresenta iridescência azulada, o que distingue esta espécie de todas as outras algas.
Dictyota cyanoloma
Asparagopsis armata
Alga, Asparagopsis armata: Trata-se uma alga vermelha com a particularidade de possuir ramos modificados em espinhos (origem do termo “armata”). O seu ciclo de vida apresenta duas fases com morfologias tão distintas que possuem nomes científicos distintos (Falkenbergia rufolanosa e Asparagopsis armata). Independentemente do fase, alerta-se os mergulhadores para o facto de esta alga se agregar ao neoprene dos fatos de mergulho, sendo extremamente difícil de retirar.
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Hymedesmia (Hymedesmia) versicolor
Holothuria (Panningothuria) forskali
Esponja, Hymedesmia (Hymedesmia) versicolor: O nome da espécie refere-se etimologicamente à diversidade de cor em que é encontrada. Apresenta um azul muito vivo no Algarve, enquanto é descrito como tendo uma cor amarelada na costa mediterrânica. Esta espécie está associada a zonas de sombra, nomeadamente em grutas ou em zonas abaixo dos 20 m de profundidade. Pepinos-do-mar, Holothuria spp.: Encontram-se descritas várias espécies de pepinos-do-mar na costa algarvia. São animais de crescimento lento que só atingem a maturidade entre os 5 e os 8 anos, mas podem atingir tamanhos consideráveis, variando entre 1 cm e mais de 1 m de comprimento. Para além das diferentes colorações uma das características diagnosticantes e curiosas prende-se com a libertação ou não de tubos de Cuvier. Esta estrutura filamentosa extremamente adesiva e com grau tóxico, é libertada quando as holotúrias são atacadas ou simplesmente manuseadas. Búzio, Simnia spelta: Este gastrópode de aproximadamente 1cm pode ser encontrado desde os 4 m até aos 60 m alimentando-se de gorgónias. O búzio possui coloração variada, que vai do branco ao rosa vivo, mas por norma, apresenta-se de cor semelhante à da gorgónia onde se encontra.
Simnia spelta
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LIMITE DE DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA_
A costa algarvia encontra-se na confluência de três regiões biogeográficas com diferentes características, nomeadamente as regiões mediterrânicas, Lusitânica e Africana. Por isso encontram-se aqui muitas espécies que apresentam no seu limite de distribuição, sobretudo sul (e.g. Astroides calycularis, Caryophyllia (Caryophyllia) inornata, Corticium candelabrum, Phyllangia mouchezii, Eunicella labiata, E. verrucosa, E. gazella, Leptogorgia sarmentosa, Anemonia sulcata, Corynactis viridis, Pentapora foliacea, Aplidium proliferum, Aiptasia mutabilis, Grantia compressa, Alcyonium acaule, A. coralloides, Peyssonnelia squamaria).
PERIGOSIDADE_
Anémonas Aiptasia diaphana, A. mutabilis, Alicia mirabilis e Anemonia sulcata: Estas espécies apresentam células urticantes (cnidoblastos) que sob perturbação libertam uma toxina. Esta toxina provoca irritações na pele, olhos e boca das pessoas e por essa razão é preciso ter cuidado ao tocar nas anémonas.
Aiptasia mutabilis Scorpaena notata
Rascassos, Scorpaena spp.: Os Rascassos ou peixes-escorpião possuem toxinas venenosas na base dos espinhos da barbatana dorsal. Estes peixes (Sorpaena notata, S. porcus) apresentam extraordinária capacidade de mimetização com o ambiente, sendo difíceis de distinguir devido à facilidade de camuflagem em diferentes substratos. Os rascassos que ocorrem no Atlântico não são letais para o homem, mas a picada provoca dormência, dor e ferida. A dor pode durar até 12 horas e causar uma sensação incómoda durante dias a semanas. A dor pode ser acompanhada de ferida, que pode evoluir para vesículas e está sempre associado um grau variável de edema. Se for picado por um peixe-escorpião considere procurar aconselhamento médico.
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ESPÉCIES CARACTERÍSTICAS_ BIODIVERSIDADE_ ZONA I
Corynactis viridis
Anemonia sulcata
Alicia mirabilis
Pentapora foliacea
Holothuria arguinensis
Filograna sp.
Aplidium proliferum
Dysidea avara
Serranus cabrilla
Leptogorgia sarmentosa
Phorbas fictitius
Aiptasia diaphana
Eunicella gazella
Aiptasia mutabilis
Paracentrotus lividus
Holothuria forskali
Dictyota dichotoma
Marthasterias glacialis
Eunicella labiata
Scorpaena notata
Eunicella verrucosa
Coris julis
Felimare villafranca
Grantia compressa
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BIODIVERSIDADE_ ZONA II
Alcyonium acaule
Balanophyllia regia
Chondrosia reniformis
Cliona celata
Spongia agaricina
Alcyonium coralloides
Hemimycale columella
Crambe crambe
Leptogorgia lusitanica
Corynactis viridis
Peyssonnelia squamaria
Dysidea fragilis
BIODIVERSIDADE_ ZONA III
Astroides calycularis
Caryophyllia inornata
Chondrosia reniformis
Corticium candelabrum
Hymedesmia versicolor
Corynactis viridis
Palinurus elephas
Phorbas tenacior
Phyllangia mouchezii
Leptogorgia lusitanica
Scyllarides latus
Dysidea fragilis
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