Os Filhos do Tempo - Primeiro capítulo

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OS FILHOS DO TEMPO

Chaiene Santos


Os Filhos do Tempo - Volume 1 Copyright © Chaiene Santos Edição Digital

Todos os direitos reservados. É proibida a distribuição ou cópia de qualquer parte dessa obra sem o consentimento por escrito do autor.

Esta é uma obra de ficção. Todos os personagens e situações aqui narradas são fruto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.


Capa: André Siqueira Diagramação e Revisão: Nanie Dias

Nova Friburgo, Brasil 2013


Dedico este livro à minha esposa, às minhas filhas e a toda minha família, que está sempre ao meu lado e me permite ter a paz necessária para viajar no processo criativo.


“Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para ela.”

Albert Einsten


SUMÁRIO

I – O Encontro II – A Revelação III – O Desenvolvimento do Ser Humano IV – Outra nave a caminho da Terra V – Nicolas e Zara VI – A Vida Quase Normal em New York VII – O Perigo se Aproxima VIII – A Forma Extraterrestre de Nicolas IX – A Equipe Alfa-Ômega X – O Céu e as Estrelas XI – A Outra Missão de Merko XII – A Tristeza de Lorena XIII – O Confronto XIV – À Espera da Viagem


XV – A Chegada ao Planeta Vida XVI – No Palácio do Rei Zador II XVII – A Cirurgia XVIII – A Fuga de Mirov XIX – O Sucesso da Cirurgia XX – De Volta à Terra XXI – O Casamento XXII – O Nascimento de Helen XXIII – A Família


I – O Encontro

Ano de 2017

Nicolas se preparava para mais um dia de aula. Pegou a mochila azul com listras pretas cheia de livros, um computador e seu smartphone, de onde sempre conferia com rapidez seus e-mails e as mensagens enviadas pelos amigos da faculdade. Tomou um copo de leite e mordeu duas vezes o sanduíche preparado por sua mãe. Saiu correndo como sempre para pegar o ônibus no horário certo para chegar à aula. — Nicolas, espere! Preciso falar com você. – gritou Lorena, sem conseguir alcançá-lo. Olhou pela porta e viu o filho entrar no ônibus amarelo. Pensou que seria melhor conversar com ele à noite, já que raramente ele sentava-se à mesa para tomar café da manhã.


*** Dentro do ônibus, Nicolas pensava que esta segunda-feira seria um dia comum, mas muitas coisas estavam para mudar em sua vida. Ele tinha a pele branca, olhos azuis, nariz médio e afilado, lábios medianos, sendo o superior um pouco mais grosso que o inferior; 1,79 m de altura, era magro e seus cabelos eram castanhos escuros. Romântico, gostava de física e astronomia. Ele sonhava em ser um grande físico e descobrir os segredos do universo. Conseguiu estudar Física na Universidade da Califórnia em Los Angeles, cidade onde morava. O campus estava lotado, alunos e professores caminhavam por todos os lados para chegarem às salas de aula. Logo na entrada, Nicolas encontrou seu amigo Sanches, um mexicano naturalizado americano. Ele usava os cabelos penteados para o lado direito e estes eram pretos e lisos cobrindo a sua longa testa; tinha 1,80 m de altura e falava a língua inglesa com perfeição, pois vivera a maior parte de sua vida nos Estados Unidos. — Oi, Nick. Hoje vamos conhecer uma nova aluna que foi transferida de outra universidade. Começaremos aquela disciplina para a qual nos inscrevemos no início do semestre, lembra? E a menina está matriculada nessa aula também.


— Esse curso demorou tanto para começar, já estava pensando que tinha sido cancelado. Estou ansioso para conhecer a nova matéria e também a nova aluna – retrucou Nicolas. Os três primeiros tempos de cinquenta minutos de aula se passaram e os estudantes mal conseguiam esconder a curiosidade de conhecer o novo assunto que seria abordado, assim como a garota, de quem todos falavam. Às onze horas, o sinal de fim de aula tocou. Poucos alunos saíram, mas muitos entraram para a nova aula. O aviso de que a disciplina finalmente seria ministrada havia sido feito no dia anterior e a curiosidade havia deixado a sala cheia. Finalmente, entrou o coordenador do Curso de Física, Doutor Finken, e falou: — A partir de hoje a matéria de Cosmologia será ministrada para aqueles que se inscreveram no início do período. A coordenação do curso teve alguma dificuldade em preencher esse cargo e, por este motivo, vocês ainda não haviam tido aula. Felizmente, conseguimos um profissional muito competente para ministrar essa disciplina, que estuda o espaço sideral e os grandes segredos conhecidos atualmente pelos homens. O doutor Carlsson Glein é doutor em Cosmologia.


O coordenador se encaminhou para a porta e abriu-a dizendo: — Pode entrar, Doutor Glein. O professor entrou em sala e ficou olhando para a turma que continuava a olhar para a porta, pois uma figura surpreendentemente bela se posicionava na entrada da sala. Era a nova aluna que atraia toda a atenção dos alunos. O coordenador, Doutor Finken, ao perceber a sombra que a nova aluna colocara sobre o professor de Cosmologia disse: — Aproveito também para apresentar a nova aluna: a Zara. Foi então que ela adentrou a sala de aula. Nicolas a observou bem e percebeu que era a mulher mais bonita que jamais vira antes. Tinha os cabelos ruivos, fartos, até o pescoço; pele lisa e branca, olhos azuis, lábios grossos e o corpo escultural, como se fosse feito por algum grande mestre. Aparentava ter pouco mais de 1,70 m de altura e de vinte e cinco a trinta anos de idade. Logo ficou impressionado e tentou, sem sucesso, esconder sua surpresa. Sanches se sentava ao lado dele e boquiaberto comentou:


— Uau! Nicolas, agora sim o curso vai ser mais interessante. Com uma novidade dessas! — Também estou surpreso. Ela é linda demais! Zara olhou para a turma e fitou Nicolas nos olhos, como se estivesse entendendo seus pensamentos. Em seguida, dirigiu-se à única carteira vazia da sala, ao lado dele. — Vou deixá-lo a sós com a sua turma, Doutor Glein. Espero que eles gostem de Cosmologia. – disse o Doutor Finken. — Pode deixar por minha conta. Tenho certeza que eles gostarão de estudar, pois o conhecimento do Universo é surpreendente. Ele se apresentou à turma e começou a explicar de que se tratava a matéria que iria ministrar. Uma ciência que estuda a estrutura, composição e evolução do Universo. — Como disse o nobre Doutor Finken, sou formado em Física, com Doutorado em Cosmologia. Hoje farei uma breve introdução sobre os conhecimentos do espaço sideral, mas antes gostaria que todos na turma se apresentassem para ficarmos mais à vontade durante nosso curso. Podem iniciar suas apresentações começando pelo primeiro da fila da esquerda.


Os estudantes iniciaram suas apresentações e chegou a vez de Nicolas: — Meu nome é Nicolas, mas pode me chamar de Nick. O pessoal da faculdade me chama de nerd, mas não gosto de rótulos. Sonho em ser um grande físico e viajar ao espaço. Todos começaram a rir, e um aluno chamado Adam, que se sentava na quarta carteira da fila do canto direito, disse em tom irônico: — Você deveria ser um astronauta. Creio que esteja no curso errado. — Sem mais comentários – intercedeu o professor. — Peço que sejam breves ou não conseguiremos terminar as apresentações. — Nicolas, não se preocupe com as viagens espaciais. – disse Zara em voz baixa para seu colega de classe, enquanto outro aluno se apresentava. — Às vezes, o que sonhamos pode estar muito perto de nós. O jovem não entendeu o que ela quis dizer, mas continuava a observar tudo com curiosidade. Durante as apresentações dos alunos, Zara olhava profundamente nos olhos de Nicolas, e ele sentiu algo diferente quando olhou para ela. Um arrepio dentro do peito, somado a palpitações que nunca sentira antes.


Pensava de onde poderia ter vindo alguém de tamanha beleza. _ ―Não pode ser. Ela não está olhando para mim. Deve ser impressão minha. Uma mulher como ela jamais se interessaria por um cara como eu‖, pensava Nicolas.

***

Neste dia, ele voltou para casa, fez os trabalhos para o curso e desceu para jantar com sua mãe e irmã. — Meu filho, hoje queria dar um beijo em você pela manhã, mas quando desci você já havia saído pela porta e só pude vê-lo entrar no ônibus. Por que você não acorda mais cedo? Assim sobraria algum tempo para conversarmos pela manhã. Essa correria não faz bem. Fico tão só depois que seu pai se foi. — Está bem, mãe. Tentarei dormir e acordar mais cedo. Realmente nós conversamos somente à noite, além disso, quero também dar um beijo de bom dia em Sophia, mesmo que ela esteja dormindo. Sophia sorriu agradavelmente. Ela estava com oito anos de idade; depois que seu pai falecera se tornou a melhor companheira de sua mãe e adorava seu irmão.


***

Aos finais de semana, Nicolas gostava muito de passear de bicicleta pelas ruas da cidade. Havia muito verde por todos os lados e paisagens belas para admirar. Pelo caminho, era possível encontrar nascentes naturais, que corriam por canos de bambus deixados pelos donos dos sítios que margeavam as trilhas. Sempre que se cansava, parava; encostava a bicicleta em uma árvore e colocava as duas mãos sob a água que escorria em abundância e bebia, até saciar a sua sede. Depois, pegava a bicicleta e continuava pedalando e ouvindo o canto dos pássaros, que contrastava com todo o silêncio da mata. No domingo, ele estava passeando, e começaram a cair do céu alguns pingos pesados de água. Já estava anoitecendo. Ele sentiu aquele cheiro gostoso de terra molhada e aumentou a velocidade para chegar mais rápido à sua casa. Porém, a chuva apertou e ele resolveu parar e descansar, tomando abrigo embaixo de uma choupana abandonada. Foi então que, de repente, veio em sua direção uma pessoa de bicicleta que também parecia estar


fugindo da chuva. Conforme foi se aproximando, pôde perceber que era uma mulher. Mesmo no escuro da noite que chegava, ele percebeu que a conhecia. Ela parou embaixo da choupana e disse: — Que temporal é esse? Ainda bem que encontramos este abrigo. — É muita sorte, pois acho que não há outros por quilômetros — disse Nicolas. — Você é a nova aluna da turma, Zara! — Oi, Nick. É este seu nome, não é? Que bom que você lembrou-se de mim. Já até gravou meu nome. — Sou eu mesmo, o aluno que quer ser astronauta. Apesar de outros alunos rirem disso, alguma coisa me diz que daqui a algumas décadas, as viagens ao espaço serão rotineiras. Quanto ao seu nome, tenho certeza que todos os alunos da sala já o decoraram, porque não é sempre que uma aluna causa tanta admiração logo no primeiro dia! Zara enrubesceu com o elogio e continuou: — Obrigada, Nick. Posso chamar você desta forma? Gosto do seu nome! — Pode sim. Que bom que gosta do meu nome!


— Não ligue para os comentários alheios. Tem sempre alguém para criticar alguma coisa em nosso jeito de ser. Às vezes, a vida muda tanto e tão rápido que não dá para perder tempo com o que os outros estão pensando. Houve um instante de inércia; somente o canto dos pássaros e o som dos pingos de chuva podiam ser ouvidos. Começaram a se olhar como em sala de aula, e o coração dele batia forte. A chuva foi aumentando, e ele não conseguia conter a atração que sentia. Ela colocou a sua bicicleta no chão e foi chegando mais perto dele. Nicolas tocou a pele macia de Zara e seus olhos pareciam enfeitiçá-lo. Quando as gotas da chuva tocaram o corpo dela, um cheiro de jasmim tornou o ambiente ainda mais agradável. Não havia nada mais à sua volta, o jovem deixou suas emoções dominarem a razão como poucas vezes acontecera em sua vida. Tudo aquilo era um sonho que ele não queria que terminasse; aproximou-se e se rendeu aos lábios grossos daquela que mexera com seu coração. Eles se entregaram àquele momento infinito e foi a melhor chuva que lhes aconteceu. Geralmente, quando conhecia alguém, Nick não costumava sentir nada profundo, mas com Zara tudo era diferente. Nunca havia conhecido uma mulher tão experiente. Ele ponderava como faria para que ela se


apaixonasse por ele, queria namorá-la e ficar ao seu lado. Não bastasse admirá-la na faculdade com uma súbita paixão, agora se tornara mais próximo dela, com a intensidade do beijo que provara. Ela interrompeu os pensamentos dele, que se misturavam com sonhos. — Nicolas, já está ficando tarde. Preciso ir embora, pois pela manhã teremos aula. Amanhã nos veremos na faculdade. — Está bem, Zara. Gostei muito de ter conhecido você. Contarei as horas para vê-la novamente. Ela tocou levemente seus lábios nos dele, depois colocou o dedo indicador em seu lábio sorrindo docemente. Como a chuva havia parado, pegou a sua bicicleta e foi embora. O jovem chegou à casa com um olhar brilhante e um sorriso tão espontâneo que Lorena logo percebeu que algo diferente acontecera no passeio daquele domingo. — Filho, vai me contar o que houve? Nunca vi você tão feliz! – exclamou Sophia. — Foi... Encontrei... Uma pessoa no caminho quando passeava de bicicleta. Acho que estou... Apaixonado.


Mãe e filha sorriram entendendo que algo novo havia acontecido com Nicolas e certamente isso o deixara muito feliz. Naquela noite, o jovem estudante foi dormir cedo, sonhando com o fortuito encontro na choupana. No dia seguinte ele tomou café da manhã com sua mãe tranquilamente antes de ir para o curso. Quando sentou no ônibus, pensava em como seria encontrar Zara em sala de aula. “Será que ela realmente sente algo por mim? Ou aquele foi apenas um encontro passageiro?”, ele não conseguia controlar seus pensamentos. Nicolas resolveu não contar nada do que aconteceu para seus amigos. Certamente não acreditariam e ririam dele dizendo que tudo era obra de sua imaginação. Sanches entrou em sala e viu seu amigo já posicionado para a aula. — Chegou cedo, meu amigo. Sempre espera no pátio até todos entrarem. O que houve? — Nada de mais. Estou aqui sentado refletindo sobre a vida. Ficaram conversando até que o doutor Glein entrou na sala de aula. Ele cumprimentou a todos e


começou seu discurso, explicando como funcionava a Teoria da Relatividade Geral. Os alunos observavam suas explanações atentamente, mas Nicolas olhava para Zara, que novamente sentara-se a seu lado, observava seus belos olhos e se lembrava do encontro que tiveram no dia anterior. Ela também olhava Nicolas, retribuindo o sorriso que, de vez em quando, percebia arrancar do jovem. Na hora do intervalo, ele a procurou no pátio da faculdade. — Poderia lhe falar por um momento? — Sim. Vamos à lanchonete. — Não consigo esquecer o que houve entre nós dois e gostaria de ver você novamente no fim de semana. — Eu também gostei muito do que aconteceu entre nós. O que você acha de nos vermos na mesma trilha em que nos encontramos no domingo? Está bem? — Claro... Eu... Estarei lá na choupana. Zara sabia que Nicolas gostava dela e, de alguma forma, também estava se envolvendo com o jovem, que era pelo menos dez anos mais novo. No entanto, parecia que o conhecia há algum tempo.


Começaram a se ver todos os finais de semana, e os domingos eram sempre prazerosos. Trocavam beijos, carícias e andavam de bicicleta, curtindo os momentos felizes juntos. Depois de algumas semanas de namoro, Nicolas começou a ficar curioso sobre a mulher que mudara sua vida. Ela percebeu que era o momento ideal para contar um segredo especial que transformaria o modo dele ver o mundo: — Nicolas, tenho algo a lhe dizer. Eu não sou daqui. Moro num lugar muito distante... — Eu estava curioso para saber de onde você veio. Você tem uma beleza diferente, como se morasse em algum país nórdico. Por favor, continue... — Na verdade, venho de muito mais longe do que apenas um país distante. Sou de um planeta chamado Vida, na galáxia Andrômeda, a muitos anos-luz daqui. Como você diria: Sou uma astronauta! Gostaria que você conhecesse algumas pessoas que viajam comigo. Você me acompanharia? ―Que loucura é esta? O sonho está desmoronando? Ela só pode estar perturbada mentalmente. Isso explicaria tudo. Todo aquele amor não podia ser verdadeiro mesmo”, pensava o jovem, desolado por não acreditar no que lhe era revelado.


Nick não entendia por que ela estava falando aquilo. Obviamente não era verdade, mas ela parecia muito inteligente e muito segura para não ter uma mente sã, então ele tampouco acreditava que fosse realmente loucura da parte dela. Será que era tudo uma espécie de brincadeira? Um jogo? Talvez ela só quisesse pregar uma peça nele. Como não havia ninguém por perto, fingiu acreditar, levando na esportiva, e retrucou em tom irônico: — Eles estão aqui perto? — Feche os olhos. – disse ela sorrindo, dando-lhe as mãos. Em um instante, haviam mudado de ambiente. Estavam dentro de uma nave espacial dotada de alta tecnologia e não mais naquela choupana abandonada. O garoto estava atônito! Se aquilo era mesmo uma nave, ele certamente fora levado para a sala de comandos. A tecnologia que agora observava era algo incrível e ele podia ver uma quantidade incomensurável de instrumentos cujas funções ele mal podia imaginar. Uma das paredes era parcialmente de vidro transparente, o que permitia aos tripulantes observar o exterior. Ele se aproximou e pôde ver que estavam estacionados perto de uma nuvem, que provavelmente


também servia para esconder o objeto voador. Olhando dali de cima, tudo parecia extremamente pequeno. Ele não conseguia enxergar, mas a aeronave tinha um formato discoide, que favorecia a aerodinâmica de movimento no espaço sideral; facilitando o deslocamento para qualquer lado em alta velocidade. Telas holográficas revestiam os extremos da sala, refletindo luzes de todas as cores e tonalidades. Era tudo muito intrigante. Ainda sentindo-se perdido, ele admirava tudo à sua volta dentro da nave. Perplexo, reconheceu a ViaLáctea girando lentamente numa holografia projetada de uma fonte puntiforme. Esta imagem destacava um planeta azul que girava e transladava no braço de Órion da galáxia. Ele poderia reconhecer este planeta em qualquer imagem que visse. Era a Terra. ―O planeta mais lindo e perfeito do Universo”, pensou enquanto analisava a imagem projetada em três dimensões. Ao lado, também reconheceu a galáxia Andrômeda. Um planeta também se destacava nessa holografia, como se estivesse sendo monitorado. Ele pôde perceber que ele tinha alguma coisa de especial e ficou curioso sobre seu nome; no entanto, ainda não se sentia à vontade para perguntar nada a Zara, perdido como estava em seus pensamentos.


Voltou a olhar o ambiente que o cercava. Havia aquela parede de vidro e grande parte das demais era revestida pelas telas holográficas, mas o que restava era feito de material prata, em um tom bem claro, que refletia a luz e a espalhava pelo ambiente. Tais superfícies eram lisas e brilhantes. ―Será uma espécie de tecnologia para economia de energia?”, ponderou. O tamanho daquela sala de comandos era outra coisa que intrigava Nicolas; a sala parecia ter mais de cem metros quadrados e ele logo imaginou como deveria ser grande aquela nave. Ele não conseguia ver botões nem alavancas; aparentemente todo o controle se dava por holografias. Sentia no ambiente um cheiro de jasmim, o mesmo perfume de Zara. “Que cheiro agradável!”, refletia enquanto respirava profundamente o ar puro da nave. Nicolas ainda sentia-se perplexo com o que havia acontecido e demorou um pouco para acreditar no que estava vendo. Era tudo novo, intrigante, e ele não conseguia entender completamente o que estava à sua volta, embora observasse tudo com extrema atenção. Zara, percebendo a insegurança do jovem, começou a explicar:


— Nicolas, acalme-se. Eu sei que é muita coisa, mas vou explicar tudo para você. O olhar dele ainda dançava perdido pela nave. Ele não conseguia acreditar que o que ela havia dito há pouco não era brincadeira, mas verdade. Havia mais para saber do que ele jamais imaginara. Ele ainda estava confuso, sem entender exatamente o que estava acontecendo, mas voltou-se para Zara, querendo ouvir o restante da explicação. — Estamos aqui em missão e eu precisava encontrar você, por um motivo muito especial, que explicarei mais tarde. Ingressei como aluna na universidade em que estuda e foi fácil conseguir uma transferência, pois podemos entrar nos sistemas de informações terrestres. Fiz isso com o objetivo de me aproximar de você. Mas quando me utilizei deste corpo humano, tive as mesmas sensações e vontades que vocês têm! Foi inevitável sentir algo a mais por você; entreguei-me sem qualquer inibição e foi maravilhoso. Fique calmo, por favor. O comandante Sivoc irá explicar melhor as coisas para você. Não tema. Ele não conseguia compreender muito bem tudo o que ela estava dizendo, mas não teve muito tempo para refletir, pois três homens se aproximaram por uma porta que ele ainda não havia notado. Pela tecnologia que observava na nave, deduziu que aqueles seres não eram


terráqueos. E apesar das palavras de Zara, que tentava tranquilizá-lo, começou a suar frio e sentir palpitações. Nervoso, estava pensando em mil possibilidades, “Será que vão sugar a minha mente ou fazer alguma experiência? Será que me levarão a uma viagem ao espaço? Vou acordar, certamente devo estar sonhando. Eu confio na Zara, mas agora sei que não a conheço realmente. E se essa confiança não for merecida? E se ela, junto com esses três desconhecidos, quiser meu mal?” Não houve muito tempo para seus devaneios. Logo, um deles se aproximou e, pela sua postura, deu a entender que era o comandante. — Saudações! Meu nome é Sivoc, sou o comandante desta nave. Nós somos de um planeta localizado numa galáxia próxima à Via Láctea. O comandante tinha aparência terrestre. Era asiático e bem alto, usava um uniforme azul marinho com um tecido que brilhava quando tocado pela luz. Seu semblante era sério e demonstrava preocupação quando olhava para os outros tripulantes da nave, que se mantinham atrás dele em silêncio. Zara também estava parada, apenas observando a cena que se desenrolava. — Sou... O meu nome é Nicolas. Moro aqui em Los Angeles – respondeu trêmulo.


O comandante sorriu tentando deixá-lo mais à vontade: — É um prazer finalmente conhecê-lo ao vivo, Nicolas. Nós já sabemos bastante sobre você, mas deixeme apresentar os demais tripulantes. Este é Drako, o responsável pelos instrumentos de controle da viagem e também é o engenheiro de informação. O outro é Tibor, chefe de segurança. A única tripulante feminina é Zara, a médica da missão e engenheira genética da equipe, a quem você já conhece. Nicolas olhou para cada um enquanto eram apresentados. Todos tinham aparência humana, como Zara e Sivoc. Drako tinha o cabelo cortado rente ao couro cabeludo; também era bem alto. Mal esboçou qualquer reação quando foi cumprimentado por Nick e rapidamente se dirigiu ao comando de navegação, de onde controlava tudo com leves movimentos dos dedos que mexiam os painéis holográficos da nave. O último tripulante, Tibor, era o mais alto e tinha um semblante bastante sério; a pele bem clara era emoldurada por músculos que demonstravam muita força. — Nós somos do Planeta Vida, que está a três milhões de anos de viagem do seu planeta. Isto é, claro, na velocidade da luz – acrescentou Sivoc. Nicolas observava atentamente seus anfitriões e haveria coisas que reveladas mais tarde o deixariam


muito mais surpreso do que toda aquela visão, mas naquele momento ele ainda não sabia disso. Ele continuou observando os equipamentos da nave, que ainda o impressionavam; parecia que o navegador tinha comando total dos equipamentos por telepatia. — Drako, retire-nos daqui, imediatamente – disse Sivoc em um tom não muito alarmante. Virou-se para Nicolas e explicou a manobra: — Embora a tecnologia espacial dos governos terrestres seja um tanto ultrapassada para nossos padrões, eles têm radares especiais que podem nos detectar. Assim, torna-se relevante que nossas ações de contato sejam breves e, por isso, precisamos sair daqui com certa urgência. Você pode ficar tranquilo, entretanto, não faremos mal algum à sua pessoa. O veículo começou a levantar voo em alta velocidade e foi subindo em direção ao céu. Nicolas estava olhando a lua pela janela e viu que ela foi ficando mais perto. Em questão de segundos, foi crescendo e se tornou cada vez mais bela. Logo, estava olhando suas crateras e elas eram enormes e acinzentadas, como em um grande deserto arenoso, sem água e nenhuma alma viva. Abruptamente, a nave parou. Depois de viajar até a exosfera, sentiu seu corpo e alma relaxarem um pouco, percebendo que seu sonho enfim se tornara realidade, e


era muito melhor do que o que havia visto em livros e filmes. Pela primeira vez em sua vida, ele era capaz de observar a grandeza do cosmos de perto: o sol e seu brilho, os planetas do nosso sistema solar, as estrelas tão distantes. Tudo era magnífico! A lua estava clara, iluminada pelo sol, com raios de luz brilhando à sua volta. Era uma imagem maravilhosa: Crateras de todas as formas e tamanhos eram visíveis de dentro da nave. O garoto já gostava de admirar o satélite natural nos dias de lua cheia, mesmo que de longe, quanto mais assim, tão perto. À direita, ele podia ver o planeta azul que chamava de casa, gigante lar de bilhões de seres humanos. Sentia-se como um astronauta e então soube o quão eufóricos ficavam ao ver, pela primeira vez por um ângulo tão privilegiado, nosso planeta e seu satélite. Em seguida, deixou a admiração de lado e tornou a pensar no objetivo daquele contato. ―O que aqueles seres de outro planeta querem com uma pessoa como eu, um simples estudante que não tem ligação com pesquisas científicas ou tecnológicas?” Por um instante, observou Zara e lembrou-se dos beijos e carinhos que trocara com ela. Ela o fitava nos olhos como sempre fizera desde que o conheceu e sorriu docemente como que entendendo seus pensamentos.


Nicolas respondeu com um sorriso, mas no fundo estava assustado. Sivoc, como se soubesse o que Nicolas estava imaginando, logo se aproximou e começou a explicar qual era a finalidade da missão. — Nicolas, eu sei que parece muito estranha à maneira como nos aproximamos e, principalmente, o fato de termos trazido você para dentro da nave sem maiores explicações. O fato é que precisamos que você nos ajude a resolver um problema sério em nosso planeta. O terráqueo não entendia nada. Todo aquele mistério não tinha nexo para ele. Ele sempre sonhara em conhecer o universo; entretanto nunca pretendera viajar para outros planetas, principalmente na companhia de pessoas que mal conhecia. Quanto à Zara, já não sabia se era a mulher que imaginara. “Como posso ser útil a esses seres com tamanha tecnologia?”, refletia. — Vários de nossos antepassados já pousaram aqui na Terra – Drako entrou na conversa. — Nós temos informações de que os governos de seu planeta tentaram aprisioná-los e querem nos capturar para obter informações sobre nossa tecnologia e conhecimento. O que representaria um avanço na corrida econômica e


armamentista mundial. Estamos aqui em missão, e você pode nos ajudar a proteger nosso planeta. Foi então que Nicolas ficou ainda mais confuso. ―Como posso obter sucesso em proteger o planeta deles? Pelo que vejo, eles poderiam ser muito mais úteis para ajudar o meu planeta, mostrando uma saída para a preservação da vida humana, principalmente no que diz respeito ao aumento populacional e de consumo, e a escassez de víveres e de água. Eles têm muita tecnologia e muito conhecimento. Mas do que eu certamente.”, pensava o terráqueo. Zara se aproximou e disse: — A grande verdade é que nós somos vocês, no futuro. Ele ficou perplexo com a revelação! Aqueles instantes dentro da nave pareciam horas; era como se o tempo tivesse parado. Nicolas estava mais confortável. Talvez fosse também efeito do oxigênio puro que respirava, o que fazia com que ele sentisse como se nada mais à sua volta importasse. Era uma experiência singular, não entendia o que estava acontecendo, porém estava atento às informações. Depois de saber de algo tão estarrecedor, ele precisava saber mais e Zara continuou: — Nós vivemos no século 641 pela cronologia de seu planeta, mas conseguimos viajar no tempo devido aos


avanços tecnológicos de nossa época. Descobrimos brechas no espaço-tempo, o que os físicos de seu planeta chamam de ―worm-holes‖. Com isso, conseguimos percorrer essas grandes distâncias entre nossos planetas rapidamente. Sivoc interrompeu a conversa: — Zara, é melhor sermos diretos com Nicolas! Ele precisa confiar em nós, e a verdade sobre a nossa missão irá lhe mostrar que nossas intenções são as melhores possíveis e que agimos com boa-fé. Primeiro vamos contar-lhe nosso objetivo principal, depois revelaremos toda a história desde o princípio, para que nosso visitante entenda melhor o porquê de estarmos aqui e qual a nossa ligação com o planeta dele. Além disso, sabemos que ele corre perigo. A outra nave do nosso planeta que o procura deve estar chegando e eles não terão compaixão por Nicolas.

CONTINUA...


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