
13 minute read
Potência Transformadora
Por Adriana Calabró Fotos: Chico Audi e Acervo Amigos do Bem
POTÊNCIA
TRANSFORMADORA
COM UMA SÓLIDA FORMAÇÃO VOLTADA PARA O BEM COMUM, ALCIONE ALBANESI TRILHA UM CAMINHO DE FORÇA, RESILIÊNCIA E CONQUISTAS COM A INSTITUIÇÃO AMIGOS DO BEM. TRANSFORMAR VIDAS E CONSTRUIR O QUE PARECIA IMPOSSÍVEL SÃO AS SUAS ESPECIALIDADES
Quem ouve Alcione Albanesi falar sobre o projeto Amigos do Bem em um auditório, de modo profissional, percebe que é uma mulher de energia efusiva, pulsante nas ideias e nas palavras, absolutamente comprometida com seu papel de presidente da instituição. Mas quem a vê em ação, de mãos dadas com crianças nos rincões do Nordeste, na linha de frente do combate contra a fome e a pobreza, entende que o seu papel como cidadã e sua visão de solidariedade vão muito além de um cargo ou título. É pura potência em movimento. Essa força observada em Alcione, é preciso dizer, não nasceu por acaso. Ela aprendeu a valorizar o trabalho voluntário e a dedicar sua inesgotável energia aos mais necessitados com Dona Guiomar, a matriarca da família. “A minha mãe é uma inspiração para mim. Sempre digo que ‘o bem se ensina’, e comigo foi exatamente assim. Desde pequena acompanhava minha mãe no trabalho social. Nas férias, cuidava das crianças que viviam nas creches que ela construiu”, conta. O mais interessante é que o legado de Guiomar Albanesi continua nas gerações seguintes, pois os netos da matriarca também são engajados no projeto e acompanham Alcione ao sertão nordestino desde a primeira viagem. “Eu vim de uma família de classe média, que conquistou tudo com muito trabalho. Meu pai era construtor, minha mãe nasceu no interior de Presidente Prudente. Estudamos em escola privada, mas acredito que o conhecimento mais importante foi o transmitido por eles: princípios e valores”, esclarece Alcione.

Mas afinal, o que é o Amigos do Bem? Talvez a melhor resposta seja uma imagem, de uma das ações que aconteciam com frequência antes da pandemia, em supermercados da cidade. Uma legião de voluntários, pessoas sorridentes e uniformizadas, de várias classes sociais, idades e regiões de São Paulo se alinhavam junto aos caixas. Conversavam com as pessoas, contavam com orgulho sobre o trabalho realizado no sertão nordestino e sobre como milhares de pessoas seguiam sendo beneficiadas com as doações. O discurso contagiava muitos dos clientes, que incluíam em seu carrinho mais alguns itens para serem doados e enviados para quem precisava. A impressionante força-tarefa lotava os caminhões do projeto, que seguiam para o Nordeste com os alimentos. A realidade mudou de forma compulsória e, em tempos de isolamento social, o Amigos do Bem teve de mudar a estratégia de arrecadação usando a internet e as redes sociais. Mas aquela cena inicial, a do “corpo a corpo” no supermercado, diz muito sobre o espírito do projeto idealizado por Alcione Albanesi e serve como base para que as ações online se fortaleçam. Afinal, ela e seu time acreditam que é por meio da conexão humana e da ação engajada que são construídas pontes entre duas realidades tão diferentes. A urbana, das compras de mês e supermercados cheios, e a do sertão, onde muitas pessoas vivem abaixo da linha da pobreza.
Vale dizer que, embora hoje Alcione viva de forma integral sua vocação nos Amigos do Bem, conquistando resultados mais do que expressivos em termos de transformação social, antes ela precisava conciliar todas as atividades beneméritas, que sempre estiveram na sua trajetória, com a agitada vida de empresária. Foi proprietária de uma indústria de lâmpadas por muitos anos, conquistando, inclusive, os executivos parceiros que, vendo o seu exemplo, também aderiram ao projeto. Desde adolescente, tinha a vocação para fazer negócios e fez história no mercado corporativo, sendo uma das pioneiras a estabelecer relações com a China. Hoje, esse dom para negociar continua, mas sua verve é direcionada para multiplicar os investimentos em outros setores: o da vida e o da esperança.
Um olhar para a realidade
O trabalho da instituição Amigos do Bem tem 27 anos e começou de uma forma espontânea. Em 1993, Alcione Albanesi e mais vinte amigos partiram para uma viagem com destino ao sertão nordestino, onde puderam ver a triste realidade que se apresentava. Famílias inteiras sem comida, água, ou qualquer possibilidade de trabalho. “Encontramos um país diferente daquele em que vivíamos e, durante anos, levamos recursos para diminuir o sofrimento das pessoas do sertão”, conta ela. A partir de 2002, os projetos tomaram corpo e o grupo liderado por ela decidiu transformar vidas de uma forma mais sólida, sempre aprendendo com erros e acertos e adotando uma postura de irmandade. “Nos aproximamos da linguagem dos sertanejos, sempre por meio do sentimento, do amor e, acima de tudo, de uma convivência próxima com as famílias. As ações foram criadas a partir do contato gerado no dia a dia com essas pessoas”. Ao longo desse tempo de atuação, ficou claro que era preciso, inicialmente, um trabalho de base, levando água e alimento para garantir a sobrevivência e, na sequência, atendimentos médicos e construção de casas para que as pessoas pudessem viver com dignidade. “Muitas pessoas falam que é preciso ‘não somente dar o peixe, mas ensinar a pescar’, mas eu sempre respondo: ‘em rio seco não se pesca’. A pobreza do sertão e a miséria são tão profundas e seculares que, em paralelo, nós precisamos dar recursos básicos para que as pessoas possam sobreviver e, assim, se desenvolver”, explica a fundadora.
Os números que o Brasil quer ver
Quem não gosta de ver uma liderança que preza pela governança, transparência, boa comunicação, além de uma reconhecida aptidão para levantar fundos? Para o Instituto Doar esses são os requisitos para premiar as melhores ONGs do ano e, em 2020, a Amigos do Bem foi eleita a melhor organização do terceiro setor. Os números mostram que essa conquista não é apenas simbólica, mas comprovada. Foram 75 mil pessoas atendidas todos os meses do ano passado, em 140 povoados de Alagoas, Pernambuco e Ceará, e 10 mil crianças e jovens nos quatro Centros de Transformação, contando com 180 mil refeições servidas todo mês. No suporte, havia mais de 10.300 voluntários em atividade tanto na arrecadação, como trabalhando in loco, no sertão. E não é só isso. Se a questão é “ensinar a pescar”, foram mais de 1.100 empregos gerados em plantações, na fábrica de beneficiamento de castanha de caju, nas oficinas de costura e artesanato e nas fábricas de doces e mel. Sem contar os educadores e os que trabalham em postos administrativos, fazendo girar essa grande roda de solidariedade. Água limpa e moradia também não faltaram, pois foram 123 cisternas e 50 poços artesianos perfurados, e mais de 540 casas construídas. Na saúde e educação superior os resultados também impressionam. São tão notáveis como a vontade de quem atravessa centenas de quilômetros para ajudar as pessoas: mais de 187 mil atendimentos médicos e odontológicos no último ano e mais de 500 bolsas de estudo para a faculdade. “Ficamos felizes com este reconhecimento, mas o nosso maior prêmio é ver a transformação na vida de milhares de pessoas. Nosso lema é ‘se não posso fazer tudo que devo, devo, ao menos, fazer tudo o que posso”, comenta Alcione sobre o prêmio.
Um ciclo sustentável
O nome da instituição comandada por Alcione Albanesi é bem sugestivo, pois realmente reúne vários tipos de pessoas, empresários, voluntários, trabalhadores que têm em comum uma única vontade: a de fazer o bem. E se o projeto catalisa tanto entusiasmo é porque oferece formas bastante pragmáticas de ajudar, o que faz com que todos enxerguem

não apenas a caridade, mas todo um modelo de desenvolvimento social que traz soluções a longo prazo. “Atuamos em todas as áreas da vida das pessoas, ou seja, na educação, no trabalho e geração de renda, e ainda na base da sobrevivência”, descreve Alcione. Pode-se ter uma ideia da infinidade de recursos necessários para manter um projeto como esse, que atende nada menos do que 11 dos 17 objetivos do desenvolvimento social da ONU. São 75 mil pessoas acompanhadas, do recém-nascido ao idoso, em uma região extremamente distante e de difícil acesso. “Ainda assim nós sabemos que é possível transformar. Os quase trinta anos de trabalho nos mostram isso, mas contamos com a solidariedade de muitos para levar oportunidades ao sertão, desde a educação para crianças e jovens até o trabalho e renda para homens e mulheres em um ciclo de dignidade”, completa Alcione que deseja aumentar cada vez mais a autossustentabilidade financeira do projeto. E por falar em ciclos, algumas histórias ilustram perfeitamente essa continuidade. É o caso de Bruna Carvalho, educadora do Centro de Transformação de Alagoas, acompanhada de perto por Alcione: “Quando tinha sete anos, ela passava sede e fome e hoje é multiplicadora do bem. Depois de receber uma bolsa para a faculdade de Pedagogia, passou a mostrar para outros como ela que é possível sonhar, transformar e criar oportunidades de se desenvolver”. Aos sete anos, Bruna precisava desesperadamente do peixe. Hoje, é capaz de levar várias crianças para pescar.
A gente não quer só comida
Aqueles que trabalham com os Amigos do Bem têm a dimensão do quanto fizeram ao criar quatro cidades inteiras em pleno sertão nordestino, mas também do quanto ainda falta fazer nos demais locais atendidos pelo projeto. “As nossas crianças moram na maioria das vezes em casas de barro, em povoados isolados. Infelizmente, não conseguimos dar moradia a todos”, diz a comandante do projeto visionário. Mas ela e os voluntários continuam na trilha da confiança, inclusive acreditando no poder da nova geração: “Os jovens estão mais voltados para o próximo. Têm um olhar mais humano, colaborativo para a sociedade, realmente buscando um propósito maior de vida. Isso nos traz uma esperança muito grande porque sabemos que essa transformação social só será possível com a ajuda de muitos. Buscamos trazer um olhar da sociedade civil e das empresas para a necessidade de uma mudança em nosso país e, como consequência, uma mudança em cada um de nós”.
Segundo Alcione, é por meio
da educação que crianças e jovens acessam um universo de possibilidades, e é importante que eles também ultrapassem as características regionais e isolacionistas do sertão. No projeto, os conhecimentos vão além do básico, incluindo a aprendizagem do inglês, por exemplo. “Assim como a internet, um novo idioma expande os horizontes e conhecimento de crianças e jovens”, explica ela. “A ideia é sempre dar recursos e oportunidades para que as pessoas tenham renda própria”. Para Alcione, que internalizou os valores de dona Guiomar, o ser humano prefere mais doar do que ganhar. “É muito melhor dar, do que receber. Quando doamos, somos os privilegiados”. Outra questão que independe de recursos financeiros é a fé, e Alcione diz que aprendeu muito com o sertanejo sobre fé, resistência e também sobre sonhos. “Se a barriga não está vazia, é possível sonhar”, diz ela.
Mãe de 75 mil filhos
Desde que abriu mão da faceta de empresária para se dedicar totalmente aos Amigos do Bem, Alcione Albanesi passou a construir uma rotina ainda mais desafiante. Metade do mês na capital paulista e a outra metade no sertão. Ela conta dos impactos que, ainda hoje, depois de tantos anos na lida, essas realidades díspares promovem. “Quando chego a São Paulo é sempre um choque. Eu sempre falo que gostaria de voltar de jegue para, aos poucos, assistir a discrepância da realidade do sertão nordestino para os grandes centros urbanos. ”Esse abismo social é tão notório que a visão de mundo de Alcione se transformou de forma permanente desde a primeira vez que teve contato com ele. “Depois da minha primeira viagem ao sertão eu já sabia que jamais seria a mesma pessoa. Eu precisava transformar a indignação em ação e é isso que nós, Amigos do Bem, junto de tantos voluntários e colaboradores temos buscado fazer. O nosso país está entre os maiores PIBs do mundo e entre os países mais desiguais do planeta. Nós precisamos agir para diminuir essa diferença gritante”, explica. Embora admire a imagem inspiradora de grandes lideranças que já passaram pelo planeta, como Gandhi e Madre Teresa de Calcutá, Alcione diz que são as pessoas comuns que fazem o bem. E que a vontade de ser alguém melhor, mais solidário é uma escolha. No caso dela, a escolha foi a de ampliar, e muito, a sua rede familiar. “Com a minha família do sertão eu aprendi a ter mais fé, a ter resistência e olhar para os meus problemas de uma forma diferente”, diz ela. Quanto aos filhos de sangue, também se dedica a eles com aspirações fincadas no amor e na proximidade, e mesmo com sua agenda lotada, dá um jeito de ter um tempo de qualidade com eles. “Meus filhos me ensinam que é possível estarmos juntos o tempo todo, mesmo eu estando ausente, às vezes, por mais de quinze dias no sertão. Me mostram que, quando é legítimo, quando vem de dentro para fora, quando colocamos amor no que fazemos, é possível manter o caminho do bem de geração para geração.” Nada como uma mãe presente tanto na vida de seus quatro filhos paulistanos como na vida dos mais de 75 mil filhos do sertão.
Desafio e transformação
Começamos a história de Alcione Albanesi contando do dia a dia dos voluntários em ações diretas junto ao público, afinal, essa é a cara da presidente do Amigos do Bem, que sempre acreditou no estilo “mão na massa” de agir. Com a pandemia, esse contato físico, essas oportunidades de contar a história do projeto e, assim, conquistar aliados, diminuiu drasticamente. O resultado foi que as doações foram severamente impactadas. Mais uma vez era preciso agir. Em 2020, no pico da primeira onda do vírus no Brasil, a ONG realizou uma ação emergencial. “Com as doações de muitos amigos e ajuda dos nossos voluntários, conseguimos levar alimentos a mais de 1 milhão de pessoas e atender a 300 povoados em Alagoas, Ceará, Paraíba e Pernambuco. Entregamos, de casa em casa, mais de 200.000 cestas básicas”, conta Alcione. No momento, continua arrecadando doações para distribuir 100.000 cestas básicas e atender mais de 500 mil pessoas. Tudo isso mantendo os projetos já existentes. São metas ambiciosas, definidas pela vontade inabalável de reafirmar a solidariedade. Quanto aos doadores, segundo ela, estão em qualquer parte, pois não importa o valor, mas o desejo genuíno de contribuir. Alcione acredita que o brasileiro é um povo solidário e que essa característica se intensificou por conta da pandemia. “São os gestos simples que promovem grandes mudanças e juntos podemos construir um País do bem, um país melhor”, diz ela. Para finalizar, perguntamos a essa guerreira do bem, sobre o seu maior sonho pessoal. Ela foi categórica: “Que miséria e fome sejam apenas lembrados como fatos históricos no nosso País. Que as crianças e jovens possam estudar e tenham dignidade. Que a fome e a miséria não sejam mais uma realidade na vida de milhões de pessoas no Brasil. Essa é a missão e a visão dos Amigos do Bem e é pelo que temos dedicado a nossa vida.”
Sejamos todos inspirados por esse sonho transformador.
QUER AJUDAR O AMIGOS DO BEM?
Instagram: @amigosdobem Facebook: /amigosdobem Conheça mais sobre o projeto, entre em contato ou faça sua doação.
www.amigosdobem.org
informacoes@amigosdobem.org imprensa@amigosdobem.org.br Telefone: (11) 3019-0100 (11) 99916-6904
Depósito bancário ou PIX
Amigos do Bem Inst. Nac. Contra a Fome e a Miséria CNPJ 05.108.918.0001/72
Banco Itaú
Agência: 0466 Conta Corrente: 64653-6
Chave PIX:
itau646536@amigosdobem.org