Cordel Charraiá de Maria

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Charraiรก de Maria ou a peleja pelas fraldas na terra da luz

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Prólogo Primeiramente quero dizer Um Fora Temer! sem temer Cacofonia se fez presente Ao falar dessa gente Que arruína o meu país O Brasil está por um triz

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Gostaria de outro clima E fazer outra rima Algo mais contente Mas com essa gente Faz entristecer, desanimar Aí outro tema vou falar Especial pros meus pais Apesar dos meus ais Com alegria trago o cordel E largar o vampiro Michel Minha chegada em breve será E temos que, juntos, festejar Aqui você recolherá Informe do “Charraiá” E um tiquim sobre mim Ao mundo ainda nem vim Mas tanta história já fiz Papai e mamãe quem diz


E para não esquecer Mais uma vez vou trazer Fora Temer! Vai ter sim No que depender de mim Torço por um Brasil melhor Longe do Golpista Mor Este convite é a você Um cordelzinho pra ler Cada verso é informação Poesia e emoção Para que tudo corra bem E seja bom pra quem vem

I – Onde? Quando? Qual hora? Ou a peitica pra chegar em Eusébio Será no sábado 03 Junho será o mês Dois mil e dezessete o ano Chá de Fraldas é o plano Dezesseis será a hora Um forró sem demora O endereço é muito fácil Vou dizer para ser ágil Le Betule o nome é Do condomínio, com fé Você chegará em paz Mas é antes de Aquiraz

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O bairro é Alto Santo Pergunte em todo canto Que respostas lhes vêm Outros nomes ele tem Centro, Parque Havaí Urucunema, diz por aí Eusébio é a cidade Para ter a claridade Eusebely Hills se chama Pelos moradores de fama Na Páscoa é Eusebelém Mais apelido que ela tem

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E completo o endereço A você que tenho apreço 179 o número é Não venha de marcha ré Pacajus, a Rua é certeira Casa 20, não dê bobeira Outros nomes são também Da rua, quando convêm Vila Lobos, Mirian de Abreu Bete, Juarez que o povo deu Tanto nome pra ser certeiro Tenho pena é do carteiro


Do Cantinho do Céu é antes Não seja um dos faltantes Antes da Sala de Reboco Por favor, não dê o toco E venha pra cá forrozar Desde já estou a esperar Verão um “balaio de gato” Gente no meio do mato Bandeira em todo canto Chita feito um manto O colorido a decorar E o povo a festejar Quem de fora vier Já estaremos de pé A todos bem receber Um prazer vai ser Antes pode chegar E a nós “se juntar” E quem aqui mora Venha sem demora Não deixe pra fazer E tudo no sábado ter A casa pra faxinar Ou muro pra rebocar

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Nem ir à costureira Nem fazer sua feira A tarefa escolar Na sexta já fará Pros meninos ficarem Livres pra brincarem Quem vai trabalhar Hora antes vai largar Mais cedo vai sair Aí dá tempo de vir Contas pela net “paga” Pra deixar a data vaga

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Eusébio é longe, sei Do seu esforço, farei Valer a pena a distância E aqui será a estância Pra fartura e alegria No Charraiá de Maria Joga no waze, erro não tem Sem incomodar a ninguém Aqui certeiro você chegará Ou o googlemaps vai ajudar A encontrar nosso cantinho “Te esperamos” com carinho


Para meus pais “organizar” Da melhor forma o festejar Peço confirmar a presença Escreva sem grande sentença Serão felizes com seu respostar Pra festa não ser um improvisar Pode escrever um recadinho No face de mamãe ou de painho Ou e-mail à nilabandeira remeter Ou marcioarqurb escrever Os dois são @gmail.com Será uma atitude de bom tom Ou WhatsApp, sms, ligação Tem três números à disposição No 99656-4253 zap tem Ou 98832-6657 cai bem Por fim, 99721-1162 discarás E assim, certinho, confirmarás

II – Paninho de bunda Venha pro meu Chá Com você quero contar Fraldinhas fazem bem Pedir umas, que mal tem? Será só um pacotinho Vou te dizer direitinho

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Do tamanho __ eu precisarei Desse pacote todo gastarei A marca Pampers é mais legal Não me fará passar mal Você me dá e guardarei Por um tempão as usarei Muitas fraldas sujarei O tempo todo trocarei Com xixi ou com cocô Para não ser um horror As dobrinhas não assar Fraldas limpas irei usar

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Troca daqui, troca de lá E pomada pra não brotar Vermelhidão e feridinha Pensa se eu for gordinha? A atenção é redobrada Para eu não viver assada Agradeço desde já Você vir pro Chá Para alegrar contarei Com sua presença, farei Celebrar o momento Desse quase rebento


III – O Charraiá e o Regabofe Chamam de Quermesse Outros nomes merece Festa junina se chama Ou um Forró se tem fama Arraial é convencional Um Arrasta-pé genial Aí mistura o “Arraiá” Com das Fraldas, o Chá O frescor da bebida O sabor da comida O povo feliz a dançar E a sanfona a chorar

Charraiá é o evento E será um bom momento De amigos e parentes ter Pra festejar o quase nascer Com o calor de um São João No gesto da celebração O importante é reunir Festejar o quase parir A contração vai ser já E ao hospital socorrerá Pra eu então nascer E nesse mundo florescer

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Meus pais querem festejar Estão doidos pra eu chegar Mas enquanto eu não nasço Recebam o beijo e o abraço Que a vocês eles oferecerão Será tudo lindo, de coração Vai ter cocada, amendoim Pé-de-moleque, nada ruim Pipoca, Queijo-coalho Canjica e pão de alho Pamonha, maçã do amor E pirulito de toda cor

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Vamos encher tripa e bucho Não quero ver ninguém murcho Saco vazio não aguenta em pé Só não come quem não quer E só o sino que não beberá Pois a boca para baixo estará Vai ter espetinho, vatapá Até “tudin” se empanturrar Vai ter muito baião O do fole e o de feijão E também a paçoca Doce e de mandioca


No chiado da chinela Será uma festa bela Batida pernambucana Bebida com muita cana Açúcar e sumo da fruta Mesa forrada com juta E da Culinária do Ceará Vai ter o que “beliscar” Luiz Felipe, Mole... haja Bolo Vai ter também o de Rolo De Pernambuco que virá Pra todo mundo se esbaldar É um arraial para dançar E entre todos comemorar A chegada brindaremos E churrasco comeremos Bolo de milho e fubá Castanha e mungunzá Vai ter prenda, adivinhação Brincadeira e diversão Os convidados vão trelar Como crianças a festejar Bingo, sorteio, premiação Pense numa animação!

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Meu pai diz que é esquenta Vamos ver se ele aguenta Uma prévia da cachimbada Tem gente já toda animada Pra tirar o “chôco” quero ver E do meu mijo todos “beber”

IV – Peixeira ou bainha?

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Meus pais então descobriram Co’a notícia do bucho, viram Começar a especulação Era tanta adivinhação Sonho e simpatia Até conta se fazia Assim em tudo menino dava Todo mundo se contentava Com a chegada de José E nele já se tinha fé Viam pontuda a barriga De acreditar fazia figa Foi da moela da galinha À aliança na linha Do cabelo balançando Na barriga badalando Até a conta Tia Jully fez E errou pela primeira vez


Vovó Socorro deu uma sonhada Meses antes de eu ser gerada Com o José, quero dizer E ficou muito feliz em ver O neto todo galeguinho E se encheu de carinho E disse já dodói, “-Posso ir O meu netinho eu já conheci Agora posso descansar Em Deus, embarcar E, do céu, pra onde irei De lá, o protegerei” O franzido do queixo criava E a testa de minha mãe apontava Para um bem feito bigulinho Aí no exame veio três risquinhos E nada de uma trombinha e cacho Pra surpresa, não era macho E então se evidenciou “- É menina!”, disse o Doutor Meu pai na Bolívia estava Comunicá-lo Tia Laura tentava Pra ele, na net, no celular tudo online acompanhar

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E a notícia se espalhou E a todos contrariou Mas predileção não se tinha Se era peixeira ou bainha Pois qual fosse o resultado Já era amor de todo lado Em janeiro me descobriram Aí todos já se viram Projetando a minha chegada Pense como já sou amada Meu nome já tinha sido eleito Mesmo antes do ultrassom feito

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Maria, pela simplicidade Pela fé e familiaridade Homenagem se faz A cada mulher contumaz Que na vida Deus me deu E que têm o nome meu

V – Duas vezes mãe Maria meu nome é Representa muita fé É uma grande homenagem Às mulheres que fazem Minha família tão bela Principalmente duas delas


Por minhas avós vou começar As duas Marias sem piscar Com o jeito Maria de ser Mães corujas, sem “padecer” Usaram da garra para dar O melhor de si para “criar” Edilene é minha Vozinha Não me sinto sozinha Por em Pernambuco ela viver Não há distância para o amor ter Quando eu nascer ela virá Para de mim e minha mãe cuidar E ela adora cozinhar Comerei até me lambuzar É famosa sua feijoada Comerei uma tonelada Sua primeira netinha serei Minha vozinha eu a terei Nena é seu apelido carinhoso E fica até bem mais gostoso De assim eu dengosa chamar E no mesmo dengo ela olhar: “ - Vozinha Nena quero colinho!” Farei de seus braços um ninho

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Faz sapatinhos de tricô Estão ficando um amor Para eu, formosa, usar E sair por aí a desfilar Gosta de praia, viajar Com ela quero passear Ela usa biquíni, faz caminhada Gosta de cerveja, é toda animada De vermelho o cabelo pinta Quem vê pensa que tem trinta Dos anos tem uma vitalidade Quero ser assim em qualquer idade

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A outra vovó Socorro se chama Mamãe disse que ela me ama E me ama de um lugar diferente Mas que eu nem preciso ser vidente Para vê-la e sentir a sua presença E me encher de sua boa querência Dizem que ela era toda espirituosa Cabelo branquinho, curto, vaidosa Usava cáfitas e grandes anéis Amava teatro, dança e cordéis De 4, 5 ou 7 tudo comprava Com uma coisa só não se contentava


Em tudo era caprichosa E para as artes, talentosa Falam de sua generosidade E sua fé em Deus, santidade Também a ela quero puxar E muita coisa boa herdar Antes de descobrir minha existência Minha avó Socorro, sob condolência Iniciou uma longa viagem para o céu Se juntou aos astros, São Pedro e ao véu E ao manto sagrado de Nossa Senhora Que juntas nos protegem a toda hora Um mês exato que ela viajou Meus pais, quando se “olhô” Da internet o exame eles puxaram O resultado, surpresos, falaram “- Será que é mesmo verdade?” O resultado foi positividade Minha mãe “tava” muito tristinha Com saudade de minha Vovozinha E eu cheguei para lhe dizer Em sua vida você, a mim, vai ter A gente tem agora que se juntar E o luto virar o nosso lutar

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Minha avó Socorro em cada móvel está Do meu quartinho que fez juntar Por mais de quarenta anos ela guardou Armário, cômoda, que muita gente usou E agora, cada um com afeto usufruirei E no berço, como em seus braços, dormirei Vozinha Nena também me presenteou Outros móveis antigos seus ela doou Para no meu quarto a decoração completar Um pedacinho de cada história, de cada lar É o que eu quero pra minha vida inteira Minha família, amor, coisa certeira

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No meu quarto tem o calor de minhas avós Colos, braços quentinhos com grande nó Darão força e coragem, me segurarão Como fizeram com meus pais e seus irmãos Tem jeito de aconchego, paz e amor Onde só mãe, Maria, é capaz de dar, sem dor

VI – Outras explicações sobre meu nome, ou conversa para eu dormir...bem e feliz Meus pais me dizem também Que meu nome outro motivo tem Não é só uma homenagem familiar Eles buscam a tudo explicar Dizem que é uma contração Só para dar mais emoção


É, na verdade, uma mistura Que escutando até você jura Que Maria nasceu desse jeito É criatividade de respeito Que meus pais me falaram E pro meu nome bolaram Do meu pai, Marcio é o nome O “C”, o “I” e o “O” aí “some” Minha mãe não é só Nila no oficial É LEONILIA, na escrita total As duas últimas letras se “aproveita” Com o “I” e o “A” meu nome se ajeita O “M”, o “A” e o “R” viram um prefixo O “I” e o “A”, viram um sufixo Desse jeito nasceu o nome exato MARIA Qual etimólogo disso então duvidaria? O tupi, o hebraico, o grego, o latim não têm Explicação melhor de onde meu nome vem Meu nome tem muito significado “Forte”, “soberana” diz de um lado “Amada”, “amada de Deus” se traduz Espero que tudo em minha vida seja luz E que me traga leveza e bondade Sentimentos e conduta de verdade

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Na família de meu pai tem Mais Maria como ninguém Minhas bisavós Maria eram Tinham no nome que lhe deram De registro e de batismo feito Cada qual com o seu jeito Uma, Severina Maria da Conceição Uma Maria de grande coração Mariinha assim a outra se chamava Nome carinhoso que o povo dava Maria Castanha de Holanda Carvalho Dessas duas árvores sou um galho

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Do meu pai também todas as tias São algum nome mais o de Maria Dez mulheres importantes pro meu pai E doido quem a ele disser delas um ai Meu pai, orgulho das suas tias tem Que agora são minhas tias-avós também São Edileuza, Eunice, Edineide Eliodalva, Elivânia e Elineide, Elizabeth, das Graças e Regilene E tem também até Tia Marilene Que não tem Maria acompanhado Mas o tem em seu nome acoplado


Marias também são De “mói”, a cada geração Na família de minha mãe tem Acho que quase umas cem Por Maria bisa vou começar Mãe de vovô Milton a listar Tem Filipa e tem Elbinha Duas queridas priminhas Tem Vanessa e tem Vanusa Veja como Maria se usa Érica e Elaine assim se chamam Êta nome que todos amam! As minhas tias bisavós também Mazé, Laura, no nome têm Tia Luiza, Vanda, são assim Todas importantes para mim Da família Bandeira são De fé e generoso coração Da família Souza existe ainda Marias tias, primas, tudo “linda” Ieda, Helena, tias-avós minhas Duda e Júlia, outras priminhas É tudo de qualidade Marias de verdade!

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De mãe, avó, tia, prima Todas com ou sem rima Do lado do meu pai tem Ou da minha mãe também Só parente de primeiro grau E se ampliar, não tem final As Marias que não citei Só “de quebra” listarei Tem Janice, tem Clara, É um rol que não para Todas as Marias já estão Em meu pequeno coração

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VII – Serei cearense ou pernambucana? No Ceará nascerei Registro civil daqui terei Mas falo também do amar Da prova e se identificar E depois querer se chamar Aí vou é experimentar Da brisa de cá eu já sei Do sol, redes deitarei Da seriguela o suco vou tomar Pelas serras e praias passear De renda eu me vestirei Pargo e sirigado comerei


Do frevo já dancei Este ano me arvorei Ainda na barriga fui à folia Frevo de noite e de dia Do maracatu, gostei da dança Também do caboclo de lança Se pudesse registraria Dois lugares que nasceria Um Pernambuco botava E outro o Ceará constava Duas pátrias minhas marcar E a naturalidade duplicar Não sei se chamarei minha rainha De mamãe ou de mãeinha De qualquer forma ela é minha Vai me parir sem perder a linha Que me carrega a me gerar E só por isso, a ela, eu vou amar Ao meu pai também não sei Mas ele já é o meu rei Não é o Momo porque é gordinho Isso é bullyng com o meu fofinho Se painho ou papai eu o chamarei Quando eu chegar decidirei

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Meu pai é que é o cabeção Minha mãe os estudos são Em Pernambuco o Doutorado É mistura doida de todo lado Não sei onde o Ceará começa Nem onde Pernambuco cessa Nascerei já poliglota Minha fala será um tira e bota Ainda não sei como falarei Português ou “Cearêis” “Pernambuquês” ou uma quarta Só sei que uma só não basta

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Da barriga só escuto o fuxico Meu pai fala e paga mico Taioba ele chama pipiu Aqui no Ceará ninguém viu De Dudu ele chama o dindim Assim fica difícil pra mim Será abestado pra chamar Ou tabacudo para xingar? Se cupido ou corta-jaca Pra vê se ninguém empaca E rebolar será requebrar Ou um objeto fora jogar?


“Meu véi” ou “Macho” Difícil, eleger, eu acho “Mulhé” ou “Boyzinha” “Franja” ou “pastinha” Tabelier ou painel de carro Exagero ou esparro? As coisas como vou chamar Se vai ser com “de” ou da” Cabide ou cruzeta Bico ou chupeta Será uma confusão Mas já amo de montão

VIII - Menina julhina Em julho nascerei Em Sant’Ana apontarei Nesse universo infinito Minha vida será um rito De Amor e de ternura De paz e de candura Fecho o ciclo junino De Xangô, menino São João que abençoa Do milho, colheita boa De chuva a molhar Todo nosso Ceará

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Da água de São José O plantador de pé Semeia o chão arado E prepara o roçado Em Sant’Ana encerra A colheita da terra Em julho é previsão Se Câncer ou Leão, O signo e ascendente O orixá e santo de frente Das forças que vão reger Eu ainda vou saber

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São João, Pedro e José Todos com muita fé E até o procurado Toinho Com muito respeito e carinho Os santos a cada um “projeta” Da forma que cada fé seja E o Deus, os Deuses também Todas as fés e credos, amém O sol, Alá, Buda, Tsurá Jeová e também os Orixás Que me encham de bendição Bom presságio e proteção


Compartilho das fés e energias Das mentes e boas magias E de tudo o que é positivo De qualquer credo vivo Da força da natureza Da luz, de cada beleza De até quem em Deus não crê Mas amor e bondade tudo vê Seja o bem tal qual religião E muita paz no coração É disso que sempre vai precisar O amor ao mundo dar Que sejamos atuantes Com as diferenças, tolerantes Diante da rica diversidade De cor, credo, sexo, idade É disso que o mundo carece E que todo povo merece E de coração e mente abertos Quero todos vocês por perto Para o respeito fortalecer E geração melhor nascer Eu, aprendiz, menina De julho, cria divina

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IX – O povo comendo o juízo dos meus pais Quando pensaram no fato Nome, decoração do quarto Tudo mais simples faria Reutilizar a palavra seria E herdar um nome e objetos Era aos meus pais tão certo

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E que nada espantariam Das atitudes que então teriam O branco pro enxoval decorar E Maria, como herança, me batizar E os móveis antigos fazerem reuso Daqueles que caíram em desuso E os questionamentos acontecem E respiram antes que se enfezem Respondem com educação Alguns até sem noção Do que julgaram ser tão comum Pra não espantar de jeito algum Meus pais estão a responder “-Mas outro nome junto vai ter?” Eles dizem um claro Não! Para não haver confusão É só Maria e problema não tem Mesmo não óbvio pra ninguém


Outra pergunta é da decoração Se vai ter rosa, em cada rincão O Não também se faz presente Para ficar mais que evidente Que tudo é de uma só cor E o colorido é o do amor A parede areia pintará Enxoval só branco terá Móveis todos em madeira Imbuia aparente, de primeira Simples, meus pais, sempre viram No complicar que os outros miram Aí vem outra pergunta, sobre o tema Pra quem questiona é outro problema Meus pais não querem ursinho, laço, leão Princesa, provençal ou outra decoração Optaram por nada disso nem tema ter Mesmo explicando, o povo não crê Eles querem em meu quartinho Muito amor, conforto e carinho Da família, os móveis herdar Com a poesia de Tio Artur enfeitar Desenhos de meu pai na decoração Tapete de Tia Avó Dalva no chão

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Da minha família herdei Roupinhas que usarei Brinquedos e paninhos Tudo dado com carinho De tios, avós e primos De mamãe, com mimo Pra uns estranho é herdar Tudo zerado tem que comprar Pro primeiro filho assim receber E tudo novinho e da moda ter Só que meus pais não são assim Pro enxoval que fizeram pra mim

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Não seria reutilizar sustentável? Ou herdar de parentes, amável? Pois foi o que eles fizeram Bom uso farão do que deram E para mim será um prazer Um tiquinho de muitos ter

X – Meus avôs, tios e primos Se eu tiver um irmão (E já quero de antemão) José se chamará Nome pra homenagear Meus dois avôs que também


Nomes iguais como as avós têm

Holanda, pai de meu pai é um José Milton, pai de minha mãe também o é Mas isso será um outro bonito cordel Se meus pais aumentarem o plantel E enquanto não vem o meu irmão Falo pouquinho de cada vovozão Eles estão felizes com minha chegada Sei do quanto sou, serei e seria amada Na vida de meus pais é parte fundamental A presença de cada um se fez essencial E a mim também já importantes são Já moram em meu pequeno coração Em Pernambuco está o meu avô Holanda, cheio de orgulho e amor Vou puxar tanto o seu bigode Cada pelo branco e isso pode Meu Vozinho Loló Serei o seu xodó Meu outro avô no céu está Vovô Milton, a abençoar Mas em cada tio meu Que ele tanto me deu Me dá a chance, neles enxergar Um sorriso, um gesto, um olhar

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Os dois com minhas avós me deram Muitos tios dos filhos que fizeram E meus tios aos seus pais puxaram E na família se multiplicaram Nove tios lindos ao todo são Onze primos, uma multidão

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Tenho tio até do meu pai xará Marcio seu nome escrito está Dois Juniores, de pais diferentes Esclareço logo para ser coerente Laura, Marcellus, Jullyana, enfim Paulo, Artur e Márcia, todos pra mim Dos onze primos lindinhos São Joaquim e Caiquinho João Lucas e Heitor tem Arthur, Julia e Elba também Isadora a mais velhinha Paulo Vitor o caçulinha Filipa e João Arthur, por fim E no que depender de mim Sempre com eles eu brincarei Em minha casa eu os terei Em suas casas “vou visitar” E todos juntos vamos trelar


XI – Até dia 03 de junho de 2017 ou visões oníricas de meus pais Desculpem se me alonguei Dessa forma os receberei Com cuidado e atenção Capricho e educação Se meus pais de vocês gostam No meu coração, então, moram Muitas histórias já tenho E registrei com empenho Em cada verso desse cordel Nem as crianças do Carrossel Com 12 anos e biografia Esse prodígio conseguiria Antes mesmo de eu nascer Tenho histórias do meu ser Desculpa Larissa Manoela Não acho legal sua balela João Guilherme também não Apesar d’ele ser um pão Será que vloger serei Como Kaduzinho, farei? Julia Silva, vou gostar? E Isac do Vine prestigiar? Ou do Ceará, Valentina

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Um graça, essa menina! E a Pepa, porquinha A Galinha Pintadinha Desenhos, filmes, seriados Olhos bem duros e vidrados Para o netflix perfil ter E youtube canal fazer

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O importante é brincar Com outras crianças estar E saber bem conviver Para quando eu crescer Ter respeito e tolerância Longe de toda arrogância Meus pais já me chamam De Maricota e me amam Projetam sonhos em mim Mas querem sempre assim Leveza, luz, felicidade Independente da idade Não projetam com obsessão De tudo o que a mim farão Mas é normal especular E eles se põem a pensar Na comida, música, na roupa, Escola, amiguinhos, na sopa


Pensam na minha vida escolar Um bom lugar para me educar Waldorf será uma Escolinha Ou Montessoriana a minha? Ainda não sei qual a pedagogia Só quero longe de demagogia É a que caiba no bolso Sem fazer um alvoroço E que no coração toque Na mente dê um foque À autonomia e inteligência Sem pudor nem resistência

Shopping não vou frequentar Como um lugar para eu brincar Em praças me divertirei E em parques públicos estarei Praias, lagoas, rios quero nadadas E não só em plays e piscinas muradas Não vejo sentido em marca É sempre caro pra quem arca Roupa, sapato simples usarei Uma franciscana me tornarei Meus pais dizem que não é ter O importante, mas sim ser

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Sobre a minha alimentação Bela Gil será o padrão “Você pode substituir...por exemplo” Será uma reza e a cozinha um templo Da mãe de Nino e Flor seguirei O seu bordão com o que comerei

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Rúcula, jiló, chia, aveia Viverei de barriga cheia Pão 7 grãos, integral Fibra até no gagau Quase vegana sem nenhum asco De melancia farei churrasco Mas antes disso terei o peitinho Quentinho, colostro, o meu leitinho Minha mãe será uma linda lactante E do peito de mamãe serei amante Como pode ser errado e atentado Da natureza um ser amamentado? Por minha mãe, ela estaria Mais que amamentar, passaria A Bacia leiteira a se tornar Como o Inhamuns do Ceará E ao banco de leite doará Além do que me nutrirá


Açúcar até os 10 anos não provarei Só pelas frutas e mel natural saberei Que comida tem doce no sabor Brigadeiro acharei um horror Nada embutido ou defumado Tudo ao natural, não processado Lactose, glúten serão eliminados Refrigerantes serão confiscados Suco de caixinha nem pensar E papinha pronta não vou gostar Enlatado e macarrão Miojo Disso tudo terei nojo As músicas que escutarei serão Clássicas, MPB, Rock e Baião Nada de Sertanejo , Forró estilizado Sofrência, Arrocha, Funk, será alijado Em cantigas, cirandas, me criarei Populares e Folclóricas entoarei O meu quarto sempre será Como a casa permanecerá Tudo inteiro, bem guardado Brincarei e depois, organizados Meus brinquedos juntarei E até os higienizarei

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Não vou riscar parede Ou sujar nenhuma rede As plantas do jardim Vão sorrir para mim Não arrancarei uma só Por elas zelarei e terei dó

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Serei menina comportada E por todos, em volta, amada As palavras dos meus pais serão Ordem e exemplo me guiarão Jamais os contestarei Ou agressiva responderei Vou dormir toda a noite E o sono não será um açoite Interrompido e doloroso Que “deixará horroroso” De olheiras, tensos e amassados Os rostos de meus pais, amados É claro que disso tudo Ao ler não fique mudo São versos de brincadeira Existe mais de uma maneira De ao mundo eu chegar E aqui na prática estar


A dor do parto fará parir E de tudo botam pra rir Meus pais cômicos são Sem lógica e sem noção Noutros modos o real será Do sonho vão acordar Mas desse mesmo sonho Que de nada é enfadonho Trazem muito do que são E a mim me oferecerão Naquilo que julgam de bom Serão pai e mãe como dom Nascerá eu, eles nascerão De primeira na embarcação Os marinheiros nessa viagem Pai, mãe e filha, com coragem Nasceremos os três sem temer Família completa iremos ser Agradeço mais uma vez A você que também já fez História em nossas vidas Nessas frases depois de lidas Com o cordel me conhecerás E do meu Chá participarás

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E pra não perder o costume Diante de todo o chorume Do meu Brasil, atualmente Da barriga, grito eloquente Fora Temer e o seu conluio! E não deixe um “bascuio”.

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FIM


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Xilogravura da capa João Pedro de Juazeiro Texto Marcio Carvalho Diagramação Nila Bandeira


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