TFG|Casa do Estudante. Um projeto de habitação no centro histórico de São Paulo.

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2017

casa do estudante POR CHAYENE CARDOSO

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Um projeto de habitação no centro histórico de São Paulo


Agradeço ao Milton Braga, por todas as segundas. à Angelo Bucci e Vinicius Andrade, por gentilmente aceitarem fazer parte de minha banca. à Karina Leitão e Rosana Miranda, pelas últimas conversas que tanto enriqueceram meu trabalho. 4

ao Cauê, por todo o amor. à Natália e Winnie, por nossa infância e por hoje. a todos os amigos da FAU, por todos os momento e, em especial, à Gabi, que se propôs a revisar meu trabalho. aos amigos de Madrid e do mundo, pela eterna saudade. à FAU, por ser a melhor escolha. à Alexandre e Yuri, meus irmãos e amigos. à Dona Daisy, minha avó, que aos 75 anos ainda cuida de mim. aos meus pais, Marcos e Solange, por tudo.


FAUUSP Junho de 2017

01.

o que me motiva

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Trabalho Final

02.

o centro da cidade

07

Orientação Milton Braga

03.

entre centro e projeto

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Caderno impresso pela Arrisca em papel

04.

entre centro e calçadão

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05.

em busca do espaço habitado

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06.

intenção a microacessibilidade

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Intervenção o edifício

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08.

desdobramentos

101

09.

bibliografia

103

de Graduação

couché fosco.

07.

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01

o que me motiva

O trabalho nasce da inquietação pessoal em estudar novas formas de ressignificar o centro de São Paulo e reconstruí-lo como espaço habitado. O recorte para o ensaio de um novo edifício está na colina entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, o “triângulo histórico”, por entendê-lo como identidade de todo o centro e por ver um grande potencial de ressignificação em seu espaço.

conversas sobre o centro, a cidade, o habitar.

Do litoral e do interior, meu primeiro contato com São Paulo se deu pela faculdade de arquitetura, quando já nas primeiras semanas de aula, fomos lançados ao centro histórico da cidade.

Não cabendo dentro do meu trabalho final pensar um plano global para o centro em escala metropolitana, foco meu olhar na escala da quadra, pensando em sua microacessibilidade, e na do edifício. Penso o programa, o desenho, a materialidade, imagino seu retrato ao lado dos vizinhos.

Meu primeiro projeto, no vazio vizinho a Praça da Sé, nasceu de um contato tímido, ansioso. No terceiro ano de faculdade, mais uma vez o centro histórico se torna meu objeto de estudo, em busca de entender as relações invisíveis entre cidade e habitante. Sua imagem e seus significados. Ano passado, depois de seis anos de FAU e um ano em Madri e no mundo, volto meu olhar ao centro de São Paulo. Nessa jornada final, teoria e prática caminharam juntas e todas as segundas-feiras foram preenchidas pelas

A cidade contemporânea, marcada pelo fluxo rápido e pelas distâncias, transforma a nossa forma de ver, sentir e vivenciar o espaço urbano. O centro, com suas potencialidades e contradições, sempre me instiga a pensar arquitetura, a pensar a cidade.

O edifício se projeta em uma única quadra, mas nasce como um convite a uma futura e nova apropriação cotidiana do todo o centro.

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02 1 Para Augé, “O não-lugar, é o espaço dos outros sem a presença dos outros, o espaço constituído em espetáculo, o próprio espetáculo tomado nas palavras e nos estereótipos que o comentam em avanço na linguagem própria do folclore, do pitoresco ou da erudição.” (2005, p. 167)

2 FERRARA, Lucrécia D’ Alessio. Olhar periférico: informação, linguagem, percepção ambiental. São Paulo: Edusp/ FAPESP, 1999. pág. 18

Avenida São João e Viaduto do Chá, por Plinio Damin.

o centro da cidade O centro de São Paulo é aqui entendido como espaço de representação da metrópole e da sociedade que nela habita. Reconstruído duas vezes no decorrer do século XIX, a esquecida cidade de taipa deu lugar à metrópole do café, renovando seus significados e sua relação com o habitante que a vivencia. Durante o século XX, a área central sofreu uma intensa desvalorização simbólica pelas novas políticas de intervenção. A estagnação imobiliária, degradação de suas condições ambientais e aceleração dos fluxos são consequências de políticas que privilegiam interesses privados e transformam o centro de São Paulo em um não-lugar.1 Hoje sentimos os efeitos dessas políticas ao ver que o centro se esvaziou, ainda que os dados do último censo do IBGE indiquem reversão neste processo. A vida habitual que a identificava como metrópole do café já não existe. A imagem do centro como espaço degradado e sem valor de uso dificulta sua relação com o habitante. Por outro lado, São Paulo tem mostrado o interesse em discutir o centro velho e propor mudanças que tragam novos significados, seja por parte do poder

público com políticas de intervenção e requalificação de seus espaços, seja por parte do próprio habitante em si, com intervenções pontuais e manifestações. Diante de tantas tensões entre significados e percepções, acredito que pensar o novo é criar um convite para uma futura e nova apropriação de todo o centro. “Uso e hábito, reunidos, criam a imagem perceptiva da cidade que se sobrepõe ao projeto urbano e constitui o elemento de manifestação concreta do espaço. Entretanto, essa imagem, porque habitual, apresenta-se homogênea e ilegível.”2 Esta imagem que criamos, de um lado se apoia no uso urbano e de outro, nos fragmentos físicos da cidade.

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A recente desapropriação do terreno vizinho ao Edifício Sampaio Moreira, na Rua Líbero Badaró, revela um novo vazio no triângulo histórico.


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entre centro e projeto

O “Plano de Avenidas” estabeleceu a nova estrutura do desenvolvimento da São Paulo moderna. O perímetro de irradiação estabelecia um centro devidamente ampliado e configurava um caráter monumental para toda a área central. O novo viaduto do chá, construído em meados dos anos 30, evidencia a nova estética urbana da cidade. (MEYER, 1994) Edifício Altino Arantes, por Mariana Vetrone.

Ao longo dos anos 30 e 40, inspirados na cidade haussmaniana, os equipamentos urbanos foram aparecendo junto à nova organização viária: o Mercado e a Biblioteca Municipal, o novo edifício da Faculdade de Direito, a estação de Ferro Sorocabana e a casa Anglo Brasileira. Buscando apresentar um centro com traços modernos, no final dos anos 30, São Paulo verticaliza-se a partir de uma legislação que trabalhava com gabaritos mínimos. Nas ruas Xavier de T oledo, 7 de Abril, Conselheiro Crispiniano, 24 de Maio, Marconi e Praça da República, os novos edifícios deveriam ter ao menos 10 pavimentos. No centro velho, especificamente na Rua São Bento, o ato municipal de 38 previa 6 pavimentos. O alinhamento dos novos edifícios também eram previstos e deviam criar uma continuidade construtiva. Como diz a arquiteta Regina Meyer em seu texto:

“Estávamos, modestamente é verdade, experimentando uma regularidade volumétrica parisiense e uma densidade construtiva americana” (MEYER, 1994, p. 8) Com a necessidade de articular o centro aos novos pólos de centralidade da cidade, ao terminar sua primeira gestão em 1945, o prefeito Prestes Maia já havia construído 6 avenidas radiais. A Avenida 9 de Julho, a rua da Consolação, a Avenida Rio Branco, a Avenida Anhangabaú inferior, a Avenida do Estado e a Avenida Rangel Pestana. Paralelo a horizontalidade das avenidas, o novo edifício do Banco do Estado de São Paulo, com 35 pavimentos estabelece a nova marca vertical. O amadurecimento desse processo elevou o centro a centro principal, funcional e diferenciado dos novos “centros de bairro”. No entanto, com a reviravolta desse pensamento e a mudança dos focos de ação da política pública, a vida cultural, econômica e política da cidade que ocorria na região central começa a se deslocar para outros núcleos e as grandes avenidas do centro passam a ser entendidas apenas como vias de passagem. A inauguração do shopping Iguatemi na Avenida Faria Lima e dos viadutos e elevados no centro

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Meyer, Regina P. “O centro da metrópole como projeto.” In Meyer, Regina P. et al. São Paulo centro XXI entre história e projeto. São Paulo, Associação Viva o Centro, 1994. pág. 6-11

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Recorte do Mappa T opographico do Município de São Paulo de 1930. Executado pela Empresa SARA BRASIL S/A.

contribuem, na mesma medida, para o processo de transformação do centro de São Paulo. Na década de sessenta, a criação da Cia. Do Metropolitano de São Paulo, que inicia os estudos e as obras da linha norte/sul, transformou a organização do centro impondo nova escala urbana, percebida, principalmente, pela reorganização da Praça da Sé, que incorporou a Praça Clóvis Bevilaqua e pelo Largo São Bento. “Distantes da estética europeizante que Prestes Maia idealizara nas suas aquarelas do Plano de Avenidas, duas obras marcam de maneira decisiva o cenário urbano paulistano: a Praça Roosevelt e a Via Elevada Presidente Costa e Silva. Nem praça e nem rua, as duas obras representaram de maneira eloqüente a idéia de cidade vigente”3 No início dos anos 80, todas as transformações ocorridas na cidade de ordem funcional, espacial e econômica, já revelavam com clareza um centro contraditório, onde potencialidades e precariedades convivem de forma dinâmica até os dias de hoje.

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04 A Requalificação dos Calçadões estava inserida em uma das metas da Prefeitura de Fernando Haddad, que previa a reforma das áreas de pedestres na região central da cidade. T odo o conteúdo sobre o projeto está disponível em: <http:// gestaourbana. prefeitura.sp.gov. br/rede-de-espacos-publicos/ calcadoes/>

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Avenida São João, por Leandro Azevedo.

entre centro e calçadão Com a inauguração do metrô em 1974, os calçadões no centro de São Paulo foram implantados, em 1976, para dificultar o acesso de carros a essa área como resposta ao intenso tráfego de veículos. Também se proibiu a construção de garagens na área no início da década de 90 e com a nova proposta do Vale do Anhangabaú e construção de seus túneis, a área restrita aumentou e com ela, a dificuldade de acesso à região por veículos públicos e particulares. (MEYER, 1994)

e pedestre, pontos de estrangulamento para a entrega de mercadorias e na destruição do piso dos calçadões, que perdeu sua qualidade fundamental pela dificuldade de mobilidade do transeunte devido aos buracos e poças d’água.

São mais de 400.000 m2 de área e

Quatro décadas depois de sua criação, os calçadões no centro de São Paulo não tiveram uma atualização. Entretanto, a gestão anterior da Prefeitura de São Paulo veio recentemente discutindo a questão, pela realização do projeto piloto “Requalificação dos Calçadões”4 de fechamento da rua Sete de abril.

7 quilômetros de vias pedestrianizadas. O projeto inicial levava em consideração os pisos, a drenagem, a iluminação e mobiliário urbano, mas com o tempo, a devida manutenção deixou de ser feita e os equipamentos básicos, como cestos de lixo, bancos, telefones públicos, bancas de jornais, entre outros, deixaram de ser implantados, desviando as orientações originais do projeto de intervenção. Por um lado, os calçadões representam uma grande conquista de apropriação do espaço público pelo habitante da cidade em meio ao reinado do automóvel. Por outro, a falta de via carroçável para direcionar o tráfego controlado, com o tempo, resultou no conflito entre veículo

É importante também ressaltar que as distâncias percorridas entre alguns pontos dos calçadões e a estação, estacionamento ou ponto de ônibus mais próximo é longa, passando de 200 metros.

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05 LYNCH, K. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1997. pág. 1-2 5

Centro Aberto no Largo São Francisco e Largo São Bento, acervo pessoal.

em busca do espaço habitado O centro de São Paulo funcionou como elemento vital de distribuição dos fluxos e como imagem da própria cidade durante décadas e por isso foi palco de mudanças simbólicas, tanto quando Antônio Prado inaugura o novo centro da Metrópole do Café, quanto quando Prestes Maia propõe o perímetro de irradiação e eleva o centro à escala metropolitana. Embora a estrutura radiocêntrica continue a ser o mais importante entrecruzamento de fluxos da cidade, o processo de descentralização das atividades do centro velho para centros secundários marcou uma nova etapa na organização metropolitana, em que a autossuficiência das novas centralidades é a nova marca valorativa de cidade. Por um lado, esse processo, aliado ao grande fluxo de carros e a ocupação das massas, subtrai do centro algumas atividades que enfraquecem sua força econômica e a ressignificam como região “decadente”, por outro, reforça suas singularidades e a distingue dos novos centros sendo, até hoje, uma área de atração de viagens, empregos e atividades econômicas, turísticas e culturais: “Os elementos móveis de uma cidade e, em especial, as pessoas e suas atividades, são tão importantes quanto as partes físicas estacionárias. Não somos meros

observadores desse espetáculo, mas parte dele”5. Lynch (1997), em seu livro “A imagem da cidade”, analisa que a cidade é um espaço construído no meio ambiente que afeta a percepção do homem. T odo cidadão tem uma relação própria com os locais em que vive e por isso atribui significados às imagens que constrói. Contudo, a forma das cidades não é mais importante que as pessoas em si, suas atividades e sua relação com o ambiente em que vivem. Sendo o centro o coração da cidade e marcado pela sua multiplicidade, não seria então sua decadência apenas uma questão simbólica? Pensando o centro como um meio que sugere relações à quem o vê e marcado por contradições e potencialidades, em um primeiro momento, reflito sobre sua microacessibilidade, ainda que o objetivo deste trabalho não seja o de detalhar uma proposta concreta para a área. Depois ensaio o projeto de um edifício, em busca de um espaço transformador, de apropriação e frequência cotidiana. Depois de nos aproximar da formação e transformações históricas da região central, partiremos agora para a leitura da área hoje consolidada.

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0

topografia curvas de nĂ­vel rio TamanduateĂ­

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vazios edifĂ­cios notĂĄveis terrenos vazios

200

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equipamentos vazio escolhido edifícios notáveis cultura educação saúde esporte

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LUZ

AMARAL GURGEL

PEDRO LESSA REPÚBLICA

SÃO BENTO DOM PEDRO II 23

ANHANGABAÚ BANDEIRA SÉ

DOM PEDRO II

LIBERDADE

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mobilidade vazio escolhido edifícios notáveis estação de metrô terminal de ônibus ciclovia

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0

calçadão vazio escolhido edifícios notáveis área pedestrianizada

200

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Baseados nos dados do Mapa Digital da Cidade e Geosampa, no primeiro mapa, vemos a colina central, entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, que nos ajuda a melhor entender a lógica de acesso ao triângulo histórico e não só a sua exclusão, mas também a de ambas as várzeas.

vemos que embora o centro velho e expandido seja uma das regiões mais bem servidas por infraestrutura e serviços da cidade há um grande número de vazios para uma densidade construtiva já consolidada. São aproximadamente 165 vazios, algum deles ocupando quase quadras inteiras.

O segundo mapa nos revela os vazios dos distritos da Sé e República. Aqui foram considerados vazios os lotes que não possuem edificação, a maioria estacionamentos abertos.

Segundo o último censo (IBGE, 2010), o centro tem 21.917 domicílios vagos, o que representa uma concentração de 677,5 domicílios desocupados por quilômetro quadrado, o maior índice da cidade.

O terceiro é o mapa de equipamentos públicos de cultura, educação, saúde e esportes e o próximo, o de mobilidade, que nos mostra a farta rede central de transportes.

No último mapa, por fim, vemos os calçadões e seus 400.000 m2 de área.

São sete estações de metrô, que compreendem as linhas azul, vermelha e amarela, tendo uma estação, a Luz, integrada a CPTM. Quatro terminais de ônibus que dispersam suas linhas em direção a todas as zonas da cidade e a ciclovia, que faz um traçado parecido com os de ônibus e não entra no miolo do triângulo histórico. Sobrepondo estes mapas de vazios, equipamentos públicos e mobilidade,

Sua densidade é imensamente maior ao meio-dia que à meia-noite, o que nos revela uma supersaturação de sua área nos horários comerciais e ociosidade de noite, gerando insegurança e desinteresse no comércio noturno.

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06 Texto extraído do artigo “Mobilidade urbana e o papel da microacessibilidade às estações de trem.” 6

Durante o primeiro semestre do TFG, realizei pesquisas informais com os frequentadores do centro histórico. Perguntei o que faziam ali, como viam aquele espaço, se morariam. As respostas, em sua maioria, revelavam um olhar distraído e a dificuldade de atribuir ao centro uma imagem de espaço habitável. 7

Catedral da Sé, por Leandro Azevedo.

intenção: a microacessibilidade “A microacessibilidade pode ser entendida como um desdobramento da acessibilidade quando o acesso a um determinado local se faz na micro escala urbana ou nas proximidades a determinados locais.”6 Os calçadões do centro de São Paulo têm mais de 7 quilômetros de vias pedestrianizadas e mais de 400.000 m2 de área, com uma densidade durante o dia 400% maior do que sua densidade demográfica à noite. Muitos acreditam que a grande densidade de pessoas no centro se dá apenas pela confluência dos três importantes terminais de ônibus que interligam toda a região metropolitana. Entretanto, ao caminhar pelo centro e perguntar às pessoas “porque você está aqui?”7, pude perceber que a maior parte daqueles que frequentam o centro histórico trabalha em algum estabelecimento do próprio centro (velho ou expandido) e em menor quantidade, aqueles em busca de emprego, a passeio, de compras ou de passagem. A microacessibilidade ao centro histórico enfrenta suas dificuldades tanto pela sua topografia acentuada como por

sua estrutura viária planejada na época de Prestes Maia. Após a criação dos calçadões, as distâncias percorridas pelo pedestre de um ponto acessível por veículo público ou particular a pontos dentro de seu limite passam dos 200 m. Para elucidar essa dificuldade, vejamos o caso do CCBB (Centro cultural Banco do Brasil) que oferece o próprio serviço de transporte particular que recolhe seus usuários num estacionamento conveniado na Consolação e o levam ao seu edifício. O fechamento das vias do centro para veículos motorizados foi uma grande conquista do habitante à apropriação do espaço público, mas precisa ser pensada de forma democrática, atendendo a todos os modais ativos de transportes. Por isso, em um primeiro momento, procuro pensar as primeiras diretrizes de um projeto de microacessibilidade para a área central, dentro de um raio de 1,5 km, equivalente a 18 minutos de caminhada, e apontar os possíveis impactos dessa ação no triângulo histórico e nas suas proximidades imediatas. Nas últimas décadas do século XIX, as primeiras linhas de bonde da cidade já haviam sido construídas interligando o triângulo histórico à estação da Luz.

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8 UOL Notícias, Setor imobiliário entrega a Doria plano para implantar “bonde moderno” no centro de São Paulo. 03 jun 2017. Disponível em: <https:// noticias.uol.com. br/cotidiano/ ultimas-noticias/ 2017/06/03/ setor-imobiliario-entrega-a-doria-plano-para-implantar-bonde-moderno-no-centro-desp.htm> Acessado 18 jun 2017.

Recorte do Mappa da Capital da Província de São Paulo de 1877. Executado por F. Albuquerque e Jules Martin.

Pensando o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) como um modal de transporte eficiente e sustentável, tento recuperar a antiga linha de bonde, comunicando as várzeas e a colina central, através de duas linhas circulares que interligam as principais estações de metrô, trem e terminais de ônibus da área central passando pelas suas principais localidades e equipamentos culturais. A atual gestão da Prefeitura de São Paulo e a Secovi-SP estão estudando a possibilidade de implantação de VLP (Veículo Leve sobre Pneus) ligando a praça da República, os largos do Arouche e do Paissandu, a Estação Pinacoteca, a Sala São Paulo e o Theatro Municipal, mas novamente vemos uma análise isolada, que exclui o triângulo histórico, a Luz e a várzea do Tamanduateí e preocupa pela parceria com o setor imobiliário que pensa o valor de mercado e não de uso da cidade.8 Ao entrar no triângulo histórico, aprofundo o estudo, ao trazer a pesquisa “Calçadão 1998-2008. 10 anos de avaliação” da Associação Viva o Centro, para me auxiliar na análise dos possíveis impactos de um projeto de microacessibilidade nas áreas pedestrianizadas aqui estudadas.

Segundo essa pesquisa, o calçadão do miolo histórico tem um intenso tráfego de pedestre em toda sua extensão apresentando ociosidade apenas na rua Quinze de Novembro. Por outro lado, depois do horário comercial, todas as ruas do triângulo são ociosas, com uma densidade 400% menor. A pesquisa ainda revela que os comerciantes da área não deixam seus comércios abertos até tarde pela falta de movimento, além de apontarem as grandes dificuldades em receber e transportar carga. Ao estudar as possibilidades de melhoria de acesso a essa área, acredito que a linha de VLT traçada pelo calçadão não causa impacto negativo na passagem do pedestre, já que o transporte público passa pausadamente, com velocidade média entre 17-19 km e seus trilhos direcionam o tráfego sem confundir o transeunte. Ainda que não detalhado, o projeto que será posteriormente apresentado se ancora no ensaio projetual e na reflexão para a microacessibilidade aqui apresentada. Em paralelo a proposta de duas linhas de VLT, traço duas vias locais no Vale do Anhangabaú, abrindo uma calçada de 10

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18’

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6’

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proposta de VLT vazio escolhido edifícios notáveis VLT - linha circular 1 VLT - linha circular 2 estação de metrô estação de trem

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metros entre parque e edifício. A abertura de duas vias de mão única não prejudica o espaço do pedestre e a passagem do veículo público e particular possibilita uma vista direta ao vale, reacendendo o interesse comercial nos térreos dos edifícios em toda sua extensão. Dentro do triângulo, traço vias locais, abertas das 20h às 08h, para veículos particulares, preservando o perímetro central entre a rua Direita, Quinze de novembro e São bento. As vias locais, abertas ao veículo público e particular, fixas no Vale e noturnas no Triângulo, de mão única e com leito carroçável, aliadas ao VLT, diminuem as distâncias percorridas pelo pedestre. Também auxiliam os comerciantes locais com suas necessidades de carga e descarga e reacende o interesse no comércio noturno, aumentando a densidade demográfica do calçadão fora do período comercial. Ao lado, temos a proposta de traçado preliminar de VLT para área central, com as duas linhas circulares. A primeira, em azul, em sentido antihorário passa pelo terminal Amaral Gurgel, Praça da República, Theatro Municipal, entra no triângulo histórico

pelo Viaduto do chá, segue a Rua Direita até a Praça da Sé e pela Avenida Rangel Pestana cruza o rio Tamanduateí e alcança a estação Dom Pedro II do metrô. Volta para o triângulo pela Rua Parque Dom Pedro II e subindo a colina pela General Carneiro vira à direita na Quinze de Novembro e, por fim, cruza o Vale do Anhangabaú pela rua São João, em linha reta até o ponto inicial. A segunda linha, em amarelo, em sentido horário, sai da estação da Luz, ao lado da Pinacoteca e pela Avenida Prestes Maia entra na Rua Florêncio de Abreu e segue até a estação de metrô São Bento, ao lado do Mosteiro, entrando na rua São Bento, em linha reta, até o largo São Francisco, onde alcança o terminal Bandeira e em seguida a estação Liberdade, depois dá a volta na Praça da Sé e novamente pela Rangel Pestana chega no terminal de ônibus Dom Pedro II. Regressa ao Triângulo pela General Carneiro, passando pela Quinze de Novembro e São João até virar a direita no Vale seguindo pela Prestes Maia até a Luz. Nos mapas a seguir, vemos os possíveis impactos dessa proposta de microacessibilidade dentro do perímetro do triângulo histórico.

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traรงado viรกrio atual

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vazio escolhido 0

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distância percorrida por pedestres a partir de um ponto acessível por veículo público ou particular

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vazio escolhido 0 - 25m 25 - 50m 50 - 75m 75 - 100m 100 - 150m mais de 150m 0

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proposta de vias 24 horas

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vazio escolhido via local 0

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distância percorrida por pedestres a partir de um ponto acessível por veículo público ou particular

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vazio escolhido VLT 0 - 25m 25 - 50m 50 - 75m 75 - 100m 0

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proposta de vias 12 horas (20h Ă s 8h)

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vazio escolhido via local 0

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distância percorrida por pedestres a partir de um ponto acessível por veículo público ou particular

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vazio escolhido VLT 0 - 25m 25 - 50m 50 - 75m 75 - 100m 0

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07 9 Rolnik, Raquel. “O plano diretor e o centro da cidade: ressignificar e funcionalizar sem erguer muralhas” In Meyer, Regina P. et al. São Paulo centro XXI entre história e projeto. São Paulo, Associação Viva o Centro, 1994. pág. 116-118

O Centro Aberto, ao lado da Requalificação dos calçadões, também é um projeto da gestão de Fernando Haddad. Disponível em: <http:// gestaourbana. prefeitura.sp.gov. br/rede-de-espacos-publicos/ calcadoes/> Acessado 18 jun 2017

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BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011. pág 120

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Entre o vale e a colina, por Mariana Vetrone.

intervenção: o edifício A instalação do metrô tendo o centro como conexão principal, a reurbanização da Praça da Sé, Largo São Bento e Vale do Anhangabaú, recuperação do Viaduto Santa Ifigênia, remodelação da Praça da República, Praça João Mendes e da Ladeira da Memória, a pedestrianização das ruas e o restauro do Theatro Municipal e da Biblioteca Mário de Andrade, mostram um grande empenho do poder público em pensar o centro histórico da cidade. Já são 50 anos de investimento buscando proporcionar transformações positivas no centro velho, mas sem eficiência em sua totalidade. “Tudo isto porém é tímido e limitado de não ousarmos dar, a partir do Centro, o pulo de gato desta cidade derrubando nosso Muro de Berlim. A derrubada de nosso muro exige projetos que, muito além de ligar fisicamente, eliminando barreiras, produzam novos símbolos capazes de irradiar atração de investimentos de toda a ordem. Só a arte tem esta capacidade – e portanto o negligenciado urbanismo enquanto arte de desenhar espaços públicos tão sufocado pelo totalitarismo do planejamento funcional deve novamente ter lugar.” 9 Para entender essa contradição entre investimento e resultados, podemos

pensar que existe uma análise e intervenções desarticuladas de um plano global para a área central da metrópole, além de decisões sempre guiadas pela lógica do valor financeiro da cidade e não do valor de uso. Em sua gestão anterior, o poder público, pensou o centro histórico através de intervenções por projetos pilotos em escala 1:1, procurando qualificar sua paisagem e áreas livres. O projeto “Centro Aberto”10 e “Requalificação dos Calçadões” são exemplos dessa política de ação na área central. Entretanto, essas intervenções representam uma qualificação do centro para seu uso diurno, tendo pouco resultado para a consolidação de apropriação cotidiana, com uso fora do horário comercial. Ao ver esse espaço como o coração da cidade e centro singular da metrópole, procuro, primeiramente, entender esse processo de re(habitar) o centro a partir de sua ressignificação. ”Os espaços vazios são antes de mais nada vazios de significado. Não que sejam sem significado porque são vazios: é porque não têm significado, nem se acredita que possam tê-lo, que são vistos como vazios (melhor seria dizer não-vistos).”11

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Folha de São Paulo, História do Sampaio Moreira. 18 jan 2015. Disponível em: <http://fotografia. folha.uol.com.br/ galerias/31978-historia-do-sampaio-moreira#foto-474275> Acessado 18 jun 2017.

Para isso, em paralelo a essa iniciativa de requalificar as áreas abertas do centro de São Paulo, acredito que pensar um novo edifício é criar um convite a uma nova forma de manifestação concreta de um espaço habitável e cotidiano, numa cidade em que o cidadão-comum, habituado a tantas informações e transformações, tem como primeiro estímulo de percepção a imagem física.

Retrato do Edifício Sampaio Moreira a partir do viaduto do chá, o vazio entre empenas e o detalhe da fachada lateral, acervo pessoal.

A recente desapropriação do terreno anexo ao Edifício Sampaio Moreira, localizado na rua Líbero Badaró, me revela um vazio estratégico com grande potencial para receber um edifício de uso misto anexo a Secretaria Municipal de Cultura.

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O edifício Sampaio Moreira12, pensado por Cristiano Stockler e Samuel das Neves para compor o Parque do Anhangabaú, em construção na época, foi inaugurado em 1924. Com 12 andares e 50 metros de altura foi considerado o primeiro arranha-céu da cidade de São Paulo, perdendo seu posto para o edifício Martinelli cinco anos mais tarde.

O edifício foi tombado em 1992, como consta na Resolução nº 37/92 do CONPRESP e até hoje abriga a Mercearia Godinho em seu térreo. Teve sua primeira

recuperação de fachada em 1980 e em 2010, foi desapropriado pelo Prefeitura de São Paulo para receber a Secretaria Municipal de Cultura. A restauração do edifício e recuperação da fachada se iniciaram em 2012 e ainda não foram entregues. O terreno vizinho, que abrigava um estabelecimento comercial térreo foi desapropriado e demolido para receber uma praça anexa à Secretaria. O vazio, além de ser vizinho do histórico Sampaio Moreira tem uma localização estratégica entre os gigantes arranha-céus do outro lado da rua, que criam um recorte de paisagem para quem está no outro lado do vale ou passa pelo viaduto do chá. O vazio tem 300 m2 e 11, 6 m de fachada e pensando um programa que explodisse o tamanho desse terreno, ao analisar o mapa de tombamentos da região, vi a possibilidade de desapropriar os dois terrenos traseiros, para a rua São Bento, que também são vizinhos de um importante e histórico edifício do centro, o Cine São Bento.

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São Paulo Antiga, Cine São Bento. 28 out 2014. Disponível em: <http://www. saopauloantiga. com.br/ cine-sao-bento/> Acessado 18 jun 2017.

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Nota de inauguração do cinema no Correio Paulistano com cartaz do primeiro filme exibido e foto antiga do Cine São Bento. Disponíveis em: <http://www. saopauloantiga. com.br/cine-saobento/> Foto atual do Cine São Bento, acervo pessoal.

O Cine São Bento13, inaugurado na noite de 10 de setembro de 1927 com a exibição do filme “Tristeza de Satanás”, da Paramount, foi um importante cinema de rua da cidade. A sala teve três diferentes proprietários até encerrar suas atividades em 1950 e não se sabe ao certo quando o edifício foi dividido em três estabelecimentos comerciais, abertos atualmente. A fachada foi tombada, como consta na Resolução nº 37/92 do CONPRESP, em nível de proteção 3, em que se deve preservar apenas suas características externas. Com isso, além do anexo ao edifício Sampaio Moreira, a intenção de projeto se estende à recuperação da fachada e foyer do Cine São Bento. Em seguida busco me aproximar do entorno imediato do vazio escolhido para entender sua arquitetura em tempos. O primeiro mapa anuncia o terreno escolhido e seu entorno, localizado dentro do perímetro do triângulo histórico. O segundo, mostra a predominância de usos por quadra e nele vemos que todo o perímetro, de densidade construtiva já consolidada, tem a predominância de comércio e serviço.

O terceiro mapa nos mostra os gabaritos da área recortada e sua relação com a construção histórica da cidade, que buscava uma regularidade volumétrica de gabaritos baixos. Os mapas restantes - edifícios notáveis, datas de inauguração e materiais - fazem parte do estudo da Doutora Beatriz Bueno (2016) em seu trabalho “Arqueologia da paisagem urbana: lógicas, ritmos e atores na construção do centro histórico de São Paulo (1809-1942)”. Neles vemos que o maior número de edifícios inaugurados se deu entre 1900 e 1940, nas épocas da São Paulo de Antônio Prado e Prestes Maia e que pouco restou da antiga cidade de taipa. A maioria dos edifícios, já do século XX, foram construídos em concreto e tijolo, o que permitiu o crescimento dos gabaritos.

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o terreno e seu entorno

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Ed. Sampaio Moreira Cine SĂŁo Bento vazio a desapropriar 0

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1000


uso do solo

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vazio esolhido comércio e serviço residencial / comércio e serviço residencial vertical/ médio e alto padrão equipamentos públicos sem predominâncias 0

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gabaritos

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vazio escolhido 1 - 5 pavimentos 5 - 10 pavimentos 10 - 20 pavimentos mais de 20 pavimentos 0

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edifícios notáveis

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vazio esolhido edifícios notáveis 0

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datas de inauguração

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vazio escolhido - 1900 1900 - 1940 1940 - 1990 1990 0

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materiais

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vazio escolhido tijolo e taipa tijolo autoportante concreto e tijolo estrutura metรกlica 0

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o programa do edifício Na busca de ressignificar a imagem do centro como espaço habitável, uno as funções do público e do privado em um só edifício. Espaços habituais e de apropriação cotidiana, a morada e suas extensões criam uma pausa em meio ao percurso histórico, constituindo cidade. Primeiros croquis

O edifício nasce como a casa do estudante, pensada para abrigar estudantes de qualquer instituição que precise de subsídio para se manter sozinho na cidade de São Paulo. O centro tem acesso fácil e direto a dezenas de faculdades e instituições, dispersas não só em suas proximidades imediatas, mas também pela Barra funda, Vergueiro e Mooca, tornando a morada na colina histórica atrativa e funcional para esse público. Além de pensar o centro como uma localidade rica em infraestrutura e equipamentos para abrigar a moradia estudantil, penso o estudante como um jovem aberto a acreditar num centro habitável, com ruas seguras e cheias de vida. A quitanda aberta até as vinte dá espaço as mesas de bares, que dispersas pelas calçadas, convidam quem passa a se sentar.

Como extensão do morar, a casa do estudante abre espaço para um anexo à nova Secretaria de Cultura da cidade. Nas alturas, seu átrio se junta à cobertura do novo edifício para receber um restaurante aberto ao público. Sobre o térreo, que se transforma em praça ao ligar os dois lados da quadra, flutuam duas plantas livres que, por uma passarela metálica, chegam ao outro bloco do edifício. Este, também planta livre para infinitos usos se conecta, por uma escada e um elevador, ao bar e restaurante, aberto à praça interna e à Rua São Bento. Já o Cine São Bento tem sua fachada e foyer recuperados e a antiga sala, que hoje deu lugar a três estabelecimentos comerciais, recebe um teatro de residência artística, envolvido pelas antigas paredes do cinema. Com duas platéias que se olham, o teatro tem grandes janelas que abrem o palco central para a praça, e o ensaio vira espetáculo.

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situação atual

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Secretaria da Cultura vazio a restaurar a demolir


proposta

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Secretaria da Cultura anexo - Secretaria Teatro Moradia estudantil


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IMPLANTAÇÃO E CORTE LONGITUDINAL 0

2

10


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RUA LÍBERO BADARÓ

e

e

a

F

b

F

c


d

c

b 57

TÉRREO INFERIOR 1 Mercearia Godinho 2 Loja 3 Acesso Secretaria Municipal de Cultura

a

4 Acesso habitação 5 Bicicletário 6 Acesso habitação 7 Bar e restaurante

d

8 Cozinha e almoxarifado 9 Camarim individual 10 Palco 11 Camarim coletivo

0

2

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RUA LÍBERO BADARÓ

e

e

a

F

b

F

c


d

b

RUA SÃO BENTO

c

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TÉRREO SUPERIOR

a

1 Mercearia Godinho 2 Loja 3 Acesso Secretaria Municipal de Cultura 4 Acesso habitação

d

5 Bicicletário 6 Bar e restaurante espaço polivalente 7 Acesso Teatro

0

2

10


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PRIMEIRO PAVIMENTO 1 Secretaria Municipal de Cultura 2 Espaço polivalente 3 Mezanino 4 Balcão 5 Sala técnica

0

2

10


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SEGUNDO PAVIMENTO 1 Secretaria Municipal de Cultura de Sรฃo Paulo 2 Espaรงo polivalente 3 Espaรงo polivalente

0

2

10


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PAVIMENTO TIPO 1 Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo 2 Saída de emergência 3 Habitação 4 Habitação

0

2

10


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PAVIMENTO TIPO + 1 1 Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo 2 Saída de emergência 3 Habitação 4 Habitação 5 Horta coletiva

0

2

10


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PAVIMENTO COMUM 1 Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo 2 Saída de emergência 3 Sala de estudos 4 Grêmio estudantil 5 Vivência 6 Cozinha 7 Mirante

0

2

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COBERTURA 1 Átrio da Secretaria Terraço e bar 2 Habitação

0

2

10


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COBERTURA + 1 1 Habitação 2 Terraço

0

2

10


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SUBSOLO 1 Área técnica Mercearia Godinho 2 Área técnica Secretaria 3 Área técnica Casa do estudante

0

2

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CORTE AA 0 2

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CORTE BB 0 2

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CORTE CC 0 2

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CORTE DD 0

2

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CORTE EE 0

2

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CORTE FF 0

2

10


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VISTA RUA SÃO BENTO 0

2

10


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VISTA RUA LÍBERO BADARÓ 0

2

10


UNIDADE FAMILIAR 55 m2

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CAIXILHO DE VIDRO

FECHAMENTO

VENEZIANA DE AÇO CORTÉN

EM CHAPA DEPLOYER


AMPLIAÇÃO UNIDADES HABITACIONAIS ESCALA 1:100

ESTÚDIO 35 m2

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ESTÚDIO 38 m2

FECHAMENTO

CAIXILHO DE VIDRO

EM POLICARBONATO

VENEZIANA DE AÇO CORTÉN


PORTA DE CORRER

FECHAMENTO

EM POLICARBONATO

EM CHAPA DEPLOYER

QUATRO DORMITÓRIOS 80 m2

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CAIXILHO DE VIDRO VENEZIANA DE POLICARBONATO


QUATRO DORMITÓRIOS - ACESSÍVEL 80 m2

TRÊS DORMITÓRIOS 60 m2

AMPLIAÇÃO SISTEMA ESTRUTURAL ESCALA 1:50

LAJE NERVURADA

ESTÚDIO 20 m2

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O térreo vira praça e encontra os dois lados da quadra. Concreto, aço, policarbonato, água e jardim, todos juntos, esperando pela apropriação cotidiana daquele que passa.


O Cine São Bento, com sua fachada recuperada, abre-se à rua que liga o altar da Paróquia São Francisco ao do Mosteiro São Bento e o edifício, com seus terraços mirantes, abre a vista para a Catedral da Sé, a terceira ponta do triângulo.

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Ao lado do belíssimo Sampaio Moreira, a materialidade do novo edifício aparece. Venezianas em aço cortén, criando um novo retrato da arquitetura em três tempos.


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O edifício se abre no centro para preservar a bela fachada lateral do Sampaio Moreira. O vão livre, anexo à Secretaria recebe um jardim. De um lado vemos um recorte da calma imensidão do Vale e de outro os tantos passos agitados pela São bento.


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A circulação vira varanda, o quintal da casa.


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Casa de residência artística, o teatro, no antigo Cine São Bento, está aberto e em constante mudança e movimento.


Livre, a praça é vivenciada por todos que passam, moram, habitam. O teatro abre suas janelas e o ensaio vira espetáculo.

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desdobramentos

Ao longo dessa jornada final da graduação, em busca de estudar novas formas de ressignificar o centro de São Paulo e reconstruí-lo como espaço habitado, foi inevitável a reflexão sobre meu papel como arquiteta e urbanista e a atuação na preexistência arquitetônica. A faculdade de arquitetura nos faz entrar em contato íntimo e cotidiano com o espaço que habitamos e ao longo da minha formação acredito ter construído um olhar atento à cidade. Pensar arquitetura e pensar a cidade contemporânea é um exercício que venho fazendo desde meu ingresso na FAU e para sua finalização, volto meu olhar ao centro histórico, onde tudo começou, não em busca de recriar o espaço já existente, mas de entender aquelas relações invisíveis, na escala do indivíduo. Intervir com o ensaio de um edifício que não se encerra dentro do recorte abordado, mas se apresenta como um convite à uma nova apropriação de todo o centro. Acredito que o edifício aqui ensaiado, a casa do estudante, intimamente ligado a um órgão público, a Secretaria de Cultura, se insere no centro com função social. O funcionário público estará ali presente todos os dias, dinamizando o espaço

em horário comercial e o estudante, inserindo, ainda que aos poucos, a imagem do centro como morada, íntimo e acolhedor. Ao abrir a quadra conectando as duas ruas com bar e restaurante, teatro e jardim, a intervenção também faz um paralelo às galerias das décadas de 40 e 50, em que se concentrava a vida cultural e artística da cidade. No térreo e na altura, o novo edifício não só sugere a apropriação cotidiana, mas também situações transformadoras do espaço habitado.

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bibliografia

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sites http://www.vivaocentro.org.br http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br https://observasp.wordpress.com https://geosampa.prefeitura.sp.gov.br

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“A construção de situações começa após o desmoronamento moderno da noção de espetáculo. (...) A situação é feita de modo a ser vivida por seus construtores. O papel do “público”, se não passivo pelo menos de mero figurante, deve ir diminuindo, enquanto aumenta o número dos que já serão chamados atores, mas num sentido novo do termo, vivenciadores.” Paola Jacques.


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