1ª edição Ano I Dezembro/2016
Entre a faculdade e a maternidade
Quatro mulheres contam como conciliam a rotina de mãe com os estudos
+Perfil de Garra Laila Silveira
Poderosas contra o câncer
Elas no setor cervejeiro1
Editorial Expediente Caderno produzido por acadêmicas do curso de Jornalismo da Universidade Feevale para a disciplina de Projeto III Jornalismo Gráfico 2016/2. Textos, fotos e edição Andressa Lima Letícia de Lima Paloma Maino Diagramação Andressa Lima Apoio Vitória Tavares Ilustrações Carol Rosseti Coordenação Christine Bahia
Quem tem medo do bicho papão? Elas não!
E
m 2015, a procura por empoderamento feminino teve um aumento significativo no buscador Google, conforme um estudo da Organização Não-Governamental Think Olga. O crescimento aconteceu ao mesmo passo em que a imprensa passou a falar sobre a temática de maneira positiva. Seguindo o caminho de uma imprensa que procura elevar a autoestima das mulheres, a primeira edição da Revista Cheia de Garra conta a trajetória de mulheres que superaram desafios em diferentes fases da vida e, muitas vezes, se apoiam umas nas outras para encarar estes obstáculos. Feminismo, união, empoderamento são temas e termos, que para muitos são como bichos-papões, não assustam estas mulheres, pelo contrário, as empoderam e as ajudam a espantar e dominar os monstros de cotidiano. Outra matéria que pode ser encontrada na nossa Revista é quando conciliar a maternidade e os estudos, tratar uma doença de diagnóstico devastador, encarar preconceitos ou buscar uma recolocação no mercado de trabalho que parecem impossíveis também são nossos temas. Queremos que nossos leitores se sintam inspirados através das histórias e felizes pelas vitórias.
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Ótima leitura!
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Índice
10 Negócios
Participação feminina cresce no mercado cervejeiro
Reportagem Especial Entre a academia e a maternidade
Opinião 4 Luiza Eduarda dos Santos
Esporte
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Mulheres de Ouro
Cultura 5 Dominando Feiras do Livro e Festivais
Opinião 8 Karen Elias
20 Reportagem Especial Um lugar para compartilhar e se fortalecer
Entretenimento 9 Opinião
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Cris Manfro
Classificados
Produtos, serviços e oportunidades
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Foto: Acervo Pessoal
Cinema e vídeoaulas de construção civil
Perfil de Garra Laila Silveira
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Opinião Luiza Eduarda dos Santos Contato: luizaeduarda.trans@gmail.com
Trans e travestis na política “Somos o país que mais mata pessoas trans e travestis, entretanto é o que mais consome pornografia neste segmento, o que se constitui numa total hipocrisia.”
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s eleições de 2016, registraram um significativo crescimento de candidaturas de mulheres transexuais e travestis em todo o Brasil. O número saltou de 31 em 2012 para 84 em 2016. O mais importante desta vez, as candidaturas não se limitaram à esfera da vereança. Duas transexuais concorreram à prefeita em suas cidades; Thifany Felix em Caraguatatuba (SP) e Sama-
ra Braga em Alagoinhas (BA). Ambas, foram as menos votadas em suas cidades, porém, o simples fato de elas terem se lançado candidatas à prefeita, é muito significativo, pois o Brasil é um país machista e transfóbico. Somos o país que mais mata pessoas trans e travestis, entretanto é o que mais consome pornografia neste segmento, o que se constitui numa total hipocrisia. Por isto mes-
mo, o preconceito que candidatas trans sofrem, de uma forma em geral, é enorme. E não apenas por parte do eleitorado, mas dentro dos próprios partidos. Aliás, infelizmente, isso ocorreu nestas eleições. Recursos escassos, equipes enxutas, invisibilizações... Mas não há de ser nada. Ainda é só o começo, pois enquanto os cães ladram a caravana não para… Que venha 2018!
Você sabia?
Um relatório sobre violência homofóbica no Brasil, publicado em 2012 pela Secretaria de Direitos Humanos apontou o recebimento, pelo Disque 100, de 3.084 denúncias de violações relacionadas à população LGBT, envolvendo 4.851 vítimas. Em relação ao ano anterior, houve um aumento de 166% no número de denúncias.
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Cultura
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Cíntia Moscovich foi patrona da Feira do Livro de Porto Alegre
escritora, jornalista e mestre em Teoria Literária Cíntia Moscovich foi escolhida patrona da 62ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre. Esta foi a quinta vez que uma mu-
lher assumiu o posto mais prestigiado do encontro literário, sendo que a primeira patrona foi a escritora Maria Dinorah, escolhida em 1989. Cíntia começou sua carreira em 1996 e conquistou o Prê-
mio Açorianos em 1999 e 2001. Com sete obras no currículo, seu lançamento mais recente, “Essa coisa brilhante que é a chuva?”, venceu o Prêmio Portugal Telecom em 2013, hoje substituído pelo Oceanos.
Foto: Divulgação
A escritora e patrona Cíntia Moscovich
Primeira mulher a ganhar o Kikito de Cristal
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om mais de 40 filmes no currículo, a atriz argentina Cecília Roth fez história em Gramado. Ela foi a primeira mulher a receber o troféu Kikito de Cristal, ho-
menagem da 44ª edição do Festival de Cinema de Gramado. O evento cinematográfico, que este ano chegou a sua 44ª, aconteceu na cidade serrana entre os dias 26 de agosto a
3 de setembro. Vencedora de dois prêmios Goya, a atriz tem entre seus papeis mais importantes a protagonista de “Tudo sobre Minha Mãe”, de Pedro Almodóvar.
Foto: EdsonVara
A atriz argentina Cecília Roth
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Esporte
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Mulheres de Ouro
abertura das Olimpíadas no Rio de Janeiro já indicava o destaque das mulheres na edição brasileira deste evento esportivo. Gisele Bündchen, Elza Soares, Ludmilla e mais outras artistas encantaram o público na cerimônia, que ocorreu no dia 5 de
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agosto. As rappers Karol Conka e Mc Soffia apareceram no estádio do Maracanã para cantar o empoderamento feminino e negro ao som de “Toquem os Tambores”, com direito a uma mistura de break dance e capoeira. Ao longo das competições, a participação femi-
nina não foi diferente. As mulheres brasileiras atingiram 44,9% dos atletas que disputaram as Olimpíadas: foram 209 mulheres e 256 homens. Algumas delegações, como a dos Estados Unidos e da China, trouxeram mais atletas mulheres do que homens para competir.
Da favela para o tatame
afaela Silva foi a primeira atleta a conquistar medalha de ouro para o Brasil nas Olimpíadas 2016. A carioca de 24 anos, nascida na favela Cidade de Deus, enfileirou cinco adversárias no judô e levantou uma contagiante torcida no dia 5 de agosto, no Parque Olímpico da Barra.
Em uma das suas entrevistas para o portal G1, logo depois de sair do tatame, Rafaela dedicou a conquista ao seu lugar de origem. “Se eu pudesse servir de exemplo para crianças da comunidade, é o que eu tenho para passar. Comecei a fazer judô por brincadeira, agora sou campeã mundial e olímpica”, vibrou.
A carioca derrotou, em sequência, a alemã Myriam Roper, a sul-coreana Jandi Kim e a húngara Hedvig Karakas. A vaga na decisão veio com uma emocionante vitória no golden score, a prorrogação do judô, sobre a forte romena Corina Caprioriu, prata nas Olimíadas de Londres em 2012 e vice no Mundial de 2015.
Foto: Pedro Kirilos
A judoca e campeã olímpica Rafaela Silva
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Esporte
Do Rio Grande do Sul para o mundo
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gaúcha Mayra Aguiar conquistou no dia 11 de agosto a medalha de bronze no judô na categoria 78 quilos nos jogos olímpicos. Natural de Porto Alegre, ela mostrou seu lado persistente na conquista: “Eu ia deixar o corpo no tatame, mas não ia sair sem a medalha”, disse em entrevista, para o site Rio
2016. A atleta ganhou a primeira série de combates contra a australiana Miranda Giambelli e depois a alemã Luize Malzahn. Na fase seguinte disputou a semifinal contra a francesa Audrey Tcheumeo, para quem perdeu por duas punições contra uma. Com o resultado, Mayra ficou com o bronze e o ouro foi para
a americana Kayla Harrison. Mesmo com o bronze, a judoca gaúcha se torna a primeira brasileira a conseguir duas medalhas em esportes individuais. Mayra é terceiro-sargento e como muitos de seus colegas no esporte também defende a Marinha em jogos militares. Ela já se prepara para as Olimpíadas de Tóquio.
Foto: Getty Images
A gaúcha Mayra Aguiar
Medalhistas brasileiras na Rio 2016 Rafaela Silva – Judô – (Peso Leve) – Ouro Kahena Kunze e Martine Grael – Vela – Ouro Ágatha Bednarczuk e Bárbara Seixas – Vôlei de praia – Prata Mayra Aguiar – Judô – (Peso Meio Pesado) – Bronze Poliana Okimoto – Maratona Aquática – Bronze
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Opinião
Karen Elias Contato: karenelias08@gmail.com
Negra sou! “No Brasil, negros representam 50,2% da população. Como é sentir-se mulher negra em nosso país? Pesquisas demonstram que as oportunidades no mercado de trabalho não são iguais.”
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inha reflexão inicia com o poema de Victoria Santa Cruz “Gritaram-me Negra” que retrata a descoberta de sentir-se negra: “Por acaso sou negra?” – me disse sim! “Que coisa é ser negra?”. E eu não sabia a triste verdade que aquilo escondia. Até que ao concorrer a uma vaga efetiva de trabalho a gerente simplesmente te fale que você não tem o perfil? Como?
Se tenho mais tempo de empresa que a colega e alguns semestres a mais na universidade? Então me fale qual é o perfil? Silêncio... Até aí eu ainda não sabia a triste verdade que o fato de ser negra escondia. Ao pesquisar, percebi que de acordo com o Dossiê Mulheres Negras, de 2013, do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) há fortes segmentações no mercado de trabalho que dimi-
nuem significativamente o retorno do investimento em educação para as mulheres, especialmente as negras. Além disso, nós estamos sobrerrepresentadas nas ocupações de menor prestígio. Essa ainda á a realidade em nosso país. Mas, como disse o poema: “Afinal compreendi, afinal já não retrocedo. E avanço segura. Negra sou!”
Você sabia?
De acordo com dados de 2007 do IPEA, mulheres negras ganham menos que homens negros e brancos e mulheres brancas. A pesquisa apontou que a renda média das mulheres negras era de R$ 436 contra R$ 649 dos homens negros, R$ 797 das mulheres brancas e R$ 1.278 dos homens brancos.
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Entretenimento
Jovem cria canal para ensinar serviços de construção e reforma
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e foi durante uma destas reformas que ela teve a ideia de compartilhar na rede o seu conhecimento. Desde os 16 anos Paloma entende de práticas de alvenaria. A estudante chegou a cursar Engenharia Civil, mas abandonou a graduação depois de um mês de curso. Agora ela aposta no curso de Publicidade e quer melhorar cada vez mais suas aulas no YouTube. O canal que leva seu nome, já conta com mais de 40 mil inscritos.
Foto: Reprodução YouTube
mineira Paloma Cipriano, de 23 anos, está fazendo sucesso na internet. A jovem universitária criou um canal no YouTube, onde dá aulas de construção, decoração e reforma. O canal tem quase 2 milhões de visualizações e conta com vídeos com títulos de “como rebocar parede”, “aplicar rejunte”, “como passar massa corrida fácil com rodo e rolo” e outros tutoriais. Todas as obras da casa de Paloma são feitas por ela
Paloma Cipriano
Heroína nas telonas em 201 7
Foto: Divulgação/DC Comics
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A atriz Gal Gadot
aventura-solo da Mulher Maravilha chega aos cinemas em junho de 2017. Com dois trailers divulgados pela Warner Bros, o longa-metragem traz como protagonista a atriz Gal Gadot, que antes de se tornar a heroína vive a princesa Diana Prince, treinada para ser uma guerreira invencível. Criada em uma isolada ilha paradisíaca, ela é levada para o mundo real quando um piloto ame-
ricano cai na terra das Amazonas e conta a ela sobre o conflito terrível ocorrendo lá fora. Lutando ao lado da humanidade para acabar com todas as guerras, Diana irá descobrir seus poderes e sua verdadeira missão na Terra. O filme é dirigido por Patty Jenkins, e escrito por Allan Heinberg e Geoff Johns. Criada em 1941 por William Moulton, a personagem é a primeira heroína da DC Comics.
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Negócios
Participação feminina cresce no mercado cervejeiro A administradora da cervejaria Gram Bier, Mirna Dreher, conta sobre seu trabalho e seu papel nos negócios.
O
mercado cervejeiro sempre foi visto como um campo prioritariamente masculino. No entanto, este cenário vem se desmistificando com o segmento mais aberto às mulheres tanto no consumo, quanto na profissionalização e procura por especializações nessa área. De acordo com a pesquisa de mercado dos acadêmicos de Publicidade e Propaganda do Vale do Itajaí, o público feminino já movimenta cerca de R$ 10 bilhões por ano nesta área. Desde 2013, Mirna Cordeiro Dreher, de 27 anos, administra a marca de cervejas artesanais Gram Bier, de Gramado. Ela confirma que as mulheres não eram um público-alvo consumidor, pois acreditavam que a bebida não tinha um gosto adequado. Mas que hoje, esta percepção está mudando. “As mulheres descobriram os sabores variados que as cervejas artesanais nos apresentam e iniciaram a saga de descobrir novas
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A administradora Mirna Dreher na Gram Bier
experiências”, assegura. Estas peculiaridades, segundo Mirna, vêm trazendo mudanças também na força de trabalho. “Quando iniciei na administração da empresa não se via mulheres trabalhando nas cervejarias. Hoje não é difícil encontrar especialistas em cervejas, tituladas mestres, sommeliers e profissionais que inclusive participam de concursos de avaliações no mercado nacional e internacional. Diferente do caso do vinho, as cervejarias conseguem brincar
com os sabores e apresentar sabores jamais sentidos antigamente em qualquer outra bebida alcoólica.”, completa.
“
As mulheres descobriram os sabores variados que as cervejas artesanais nos apresentam e iniciaram a saga de descobrir novas experiências.
”
Na Gram Bier, das 10 cervejas que a indústria produz ao menos quatro foram lançadas para atingir o público feminino. Mirna afirma que a participação das mulheres neste ramo, assim como nos demais, é essencial. “Nós temos o dom de dar
um toque mais refinado, com atenção e preocupação com a imagem geral da empresa e produto que está sendo apresentado”, justifica. A administradora destaca, ainda, que não sente nenhum preconceito por estar neste meio. “Na ver-
dade, quando estou entre os homens, seja em algum evento ou em reuniões, a maioria deles vem conversar comigo e me admira. Se espantam com a experiência que adquiri ao longo da existência da Gram Bier”, garante a profissional.
Bebida preferida
Cerveja gelada é o que agrada o paladar de Letícia
A jornalista Letícia Rossa, de 24 anos, é consumidora assídua da marca e confirma que quando o assunto é bebida, uma cerveja gelada é o que mais agrada no encontro com as amigas. “No happy hour ou simplesmente para harmonizar com uma comida, cerveja cai bem em todas as horas”, opina.
Papel importante na história As mulheres sempre tiveram papel fundamental na história da cerveja. Na antiguidade a arte de produzir cerveja era uma atividade exclusiva da mulher. Enquanto o homem saia para caçar, guerrear ou trabalhar ficava a cargo da mulher preparar a comida e bebida da família. Considerada uma atividade para o consumo doméstico, a cerveja começou a ser produzida em grande escala tempos depois, pelos monges. O domínio feminino da produção da cerveja diminuiu quando a bebida passou a ser um negócio comercial com grande produção, reforçando a presença masculina dentro das fábricas. Vale lembrar também que a primeira pessoa a sugerir a inclusão do lúpulo (planta que exerce papel essencial por conferir o amargor e o aroma à bebida) na cerveja foi uma mulher: a Santa Hildegarda de Bingen, uma freira alemã especialista em ervas.
Santa Hildegarda
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Especial
Entre a faculdade e
A
vida universitária é corrida. Conciliar disciplinas, estágios, trabalho e a rotina social é um malabarismo que a maioria dos estudantes precisam encarar ao longo do ensino superior. E fazer tudo isso com um filho são tarefas ainda mais difíceis, principalmente quando a maternidade chega ainda na adolescência. No entanto, situações como estas não são incomuns. Na Universidade Feevale, por exemplo, que conta atualmente com 14 mil alunos, 5551 são mulheres e 426 são mães. As mulheres que passam por uma gravidez no período da faculdade precisam de muita dedicação para superar as dificuldades que a maternidade
“
É tão bom encontrar pessoas que passam por isso também, porque a gente se apega uma à outra.
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”
impõe e de apoio de familiares, companheiros e/ou amigos para conseguirem administrar a atenção entre os estudos e a responsabilidade de cuidar de uma criança. A reportagem do Cheia de Garra conversou com algumas mães universitárias para saber o que elas têm a falar sobre o assunto. Afinal, como elas encaram essa rotina? Como enfrentaram o susto de um teste positivo em meio aos compromissos acadêmicos? Continuar estudando ou desistir? São dilemas como esses que as alunas Victória, Raquel, Bárbara e Sara contam. Mulheres comuns, mas que aprendem a se superar todos os dias. Na preparação para o vestibular, o susto O ensino médio é uma fase que muitos adolescentes começam a planejar o futuro. Para Victória Dellegrave, 20 anos, moradora de Campo Bom, esta realidade não foi diferente. Terminando o terceiro ano, fazendo cursinho pré-vestibular para tentar entrar em
Jovens mães relatam os des da corrida rotina un
As mamães Raquel,
uma Universidade Federal e com o propósito de se mudar para a capital ela recebeu a notícia que mudou seus planos: “descobri que estava grávida e já de cinco meses”, conta com a voz embargada. No dia posterior ao exame já sabia que o neném seria uma menina. “Foi bem complicado esse momento de aceitação, tanto é que foto grávida tenho só do último dia, eu me recusava porque parecia que aquilo não era verdade”, relata a acadêmica.
Especial
a maternidade
safios e as delícias niversitária
, Bárbara e Victória
Junto às dúvidas do que seria de seu futuro, Victória buscou apoio na família. Ela relata que a maior dificuldade, no início da gravidez, foi com a família do seu namorado na época, o pai de Alice, com quem já namorava há 2 anos. O tempo foi passando e a resistência dos familiares foi amenizando, mas ela pontua que até hoje sente uma responsabilidade muito maior por ser mulher. “Houve muito sermão e eu como mulher fui a culpada, como
se tivesse feito sozinha. Eu ouvia muita coisa e ele sempre estava isento”, destaca. Com os planos iniciais voltados para a Arquitetura, Victória mudou seus propósitos e prestou o vestibular para Jornalismo na Feevale faltando um mês para ganhar Alice. “Quando comecei na faculdade, ela tinha um mês”, acrescenta. Victória reside atualmente com os seus pais e irmãos mais novos. “Eu e o pai da Alice nunca moramos junto por não ter estabilidade, ele (pai de Alice) era estagiário na época e eu não trabalhava”, justifica.
Conciliar maternidade e estudos Com Alice recém nascida, Victória passou a conciliar faculdade e maternidade. Sem trabalhar na época, iniciou o curso matriculando-se em apenas duas cadeiras. Ao ir pra aula, a filha ficava com sua mãe, deixando em casa o leite materno para Alice. “Ela não se apegou muito a mamadeira, mas as primeiras semanas eu ligava a toda hora pra saber como ela tava. Quando Alice começou a ficar mais grandinha comecei a fazer todas as disciplinas possíveis”, comenta a acadêmica.
Victória e a sua filha Alice
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Especial Victória está no oitavo semestre, prestes a se formar, e assegura que em nenhum momento pensou em desistir dos estudos. “Sempre tive isso como uma coisa que fosse agregar muito não só pra mim, mas também pra Alice”, enfatiza a jovem, que hoje atua como estagiária na TV Feevale.
“
É tão bom encontrar pessoas que passam por isso também.
”
Separada do pai de Alice quando ela tinha um ano, Victória garante que o relacionamento entre ele e a filha é tranquilo. “Hoje ele estuda também, então a gente se reveza, quando um tem aula o outro fica com a Alice”. Mesmo assim, a estudante relata que já teve que faltar muita aula por não ter com quem deixar a filha. “Aí tem que avisar o professor, alguns entendem, outros nem tanto”, afirma. “Já trouxe ela pra aula por causa de entrega de trabalho ou prova, e ela adora vir na Feevale, acha o máximo comprar lanche
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no Tiririca”, menciona entre risos. Segundo a acadêmica, ela nunca passou por nenhum constrangimento ao trazer Alice pra sala de aula. Victória enfatiza também como é importante se identificar com histórias de outras mães estudantes. “É tão bom encontrar pessoas que passam por isso também, porque a gente se apega uma à outra. Há mulheres que escondem que têm filhos, não sei por que, mas não é vergonha alguma. A gente tem certa dificuldade das pessoas entenderem que temos compromissos com os filhos, então é bom ter alguém para se apoiar”, enfatiza. As dificuldades hoje vêm em outros formatos, mas para Victória, os obstáculos ficaram pra trás devido ao suporte que veio de sua família. “Eles sempre
foram minha base e a minha filha é tudo pra mim. Tudo que eu faço é pensando nela”, conclui. Uma luz de Sol Barbara Viacava, natural de Taquara, tem uma história iluminada. O motivo desta luz é a Sol, sua filha de 1 ano e 2 meses. Barbara descobriu que seria mãe só no 7° mês de gestação, e diz que nem deu tempo de bater o desespero. “Meu Deus, to grávida!”, conta rindo seu primeiro pensamento assim que confirmada a notícia da gravidez. Apesar da surpresa, o apoio da família e amigos foi imediato, assim como do local onde estagiava. “Se eu tivesse em qualquer outro lugar, jamais teria o abraço que eles me deram, foi como estar no lugar certo, na hora certa”, afirma.
Em sala de aula com as pequenas
Especial
A estudante Bárbara com sua filha Sol
Parar de estudar, nem pensar! Cursando Jornalismo, a acadêmica nunca pensou em parar de estudar depois que descobriu sobre a maternidade. Com vontade própria muito grande de dar continuidade tanto no trabalho como nos estudos, ela teve os pais como maiores incentivadores e conseguiu finalizar o semestre ainda gestante, com grande apoio da universidade e dos professores. Assim que retornou aos estudos, e ao estágio, já sendo mamãe da Sol, contou muito com a ajuda dos pais para conciliar a rotina com a nova integrante da família. Duas noites por semana Barbara não estuda e fica com a filha. Quando é liberada do estágio, que é somente meio turno, aproveita para ficar com ela também. “Quando vou trabalhar minha mãe ica com
ela, e a noite, quando vou estudar, meus pais também ficam. Nunca houve qualquer tipo de constrangimento na faculdade, e sempre fui muito bem tratada por todos”, afirma Bárbara. Tempo para si Barbara fala que apesar do grande apoio da família e amigos, percebeu muita diferença em relação a coisas para si pós-maternidade, como abdicar de seu tempo para atividades físicas e seu lazer, para não sobrecarregar os pais com os cuidados da Sol. Para a acadêmica, a alegria de ser mãe é maior, se satisfazendo com programas mais caseiros. Momento em que a rotina muda A acadêmica de Jornalismo, Raquel Compassi, 25 anos, residente de Novo Hamburgo, completou
o primeiro semestre de estudos em 2016 grávida de Helena. Para ela, a maternidade também veio como uma surpresa. “Quando descobri já estava com quase 4 meses, foi bem chocante, pois eu nunca achei que seria mãe. Ficava me perguntando, como vou ter um bebê? Eu trabalho, faço estágio, faculdade, como vai ser?”, relembra. Para se tranquilizar, Raquel destaca que o apoio dos amigos e família foi fundamental. “Minhas amigas me diziam que iam me ajudar e que daria tudo certo e realmente tudo se ajeita”, assegura. A acadêmica conta ainda que durante toda a gravidez os professores foram bastante acessíveis com sua situação. “Até nos meus exercícios domiciliares, eu estava com a Helena na UTI e não tive cabeça de fazer exercício com ela doente, então mandei e-mail para a professora e ela foi bem compreensível, disse que eu poderia fazer quando pudesse. Foi bem bacana, ela não precisava fazer isso, não era sua obrigação, mas entendeu, e isso foi bem importante”, garante.
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Especial Com Helena completando seus primeiros três meses de vida, Raquel volta à universidade com uma rotina diferente de antes da maternidade. “O pai dela (Helena) vem de Porto Alegre todo dia passar a tarde com ela, então teoricamente eu teria a tarde livre para estudar, mas como fico com ela a manhã toda, quando ele chega eu quero tomar banho, me alimentar, cuidar de mim, ir ao mercado, fazer um monte de coisa e, às vezes, infelizmente a faculdade vai ficando por último, é bem difícil”, confessa. Para administrar suas tarefas, Raquel conta que teve que se organizar. “Deixei a parte do Trabalho de Conclusão pra fazer um pouco mais pra frente, pois não conseguiria dar conta de tudo e os dias que tenho aula alguém tem que ficar com ela de noite para eu vir pra Feevale”, diz
“
Minhas amigas me diziam que iam me ajudar e que daria tudo certo e, realmente, tudo se ajeita
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”
A acadêmica Raquel com a pequena Helena
Cobranças desnecessárias Diferente de muitas mulheres, Raquel não se considera mãe solo já que, mesmo não tendo um relacionamento com o pai de Helena, ele cumpre com responsabilidade seu papel de pai. Mesmo assim, ela é muito crítica ao assunto, pois acredita que as mães, no geral, sofrem exigências desnecessárias. “Tem aquela coisa de que a mãe solo é guerreira, que é mãe e pai. As mães não têm esse dever. Meu dever é ser mãe, ser melhor que eu posso, e cumprir bem o meu papel. Não tem como puxar essa obrigação pra gente”, avalia. “Outra cobrança é aquela coisa de mãe solteira, mãe é uma coisa e ser solteira é outra até porque tem muitas mulheres casadas que são mães solo, pois os pais não colaboram em nada”, completa.
Dia a dia de mãe é corrido Sara Ester Mattes da Silva, ingressou na faculdade em 2011 e em junho do mesmo ano descobriu que estava grávida, aos 16 anos. Mesmo assim, decidiu não abandonar os estudos. Nove meses depois, a primeira filha, Alice, hoje com quatro, nasceu. Sara decidiu não pegar licença na faculdade porque como suas aulas eram práticas, achou que fazer exercícios domiciliares comprometeria seu aprendizado. Então, retornou a estudar, mesmo com Alice apenas com 20 dias. “Foi ruim porque não consegui dar de mama, deixava minha bebê com a sogra. Consegui um emprego quando a Alice tinha apenas dois meses, pois precisava trabalhar. Aí passei a deixá-la com a vizinha e do trabalho ia direto pra faculdade”, conta.
“
Quando se trabalha já é difícil, com família então é muito mais complicado
”
Até 2013 o dia a dia corrido foi assim, depois Sara conseguiu um estágio de meio turno, o que aliviou a situação. Mesmo assim, a aluna de Jornalismo, hoje com 22 anos, admite que não conseguiu dar 100% de atenção pra faculdade. “Quando se trabalha já é difícil, com família então é muito mais complicado”, avalia. Sara conta que já deixou de entregar trabalhos, já teve que levar os filhos para a aula, mas que, no geral, os professores sempre entenderam sua situação. Porém, com os colegas foi um pouco diferente. “Alguns me chamavam de ‘escorada’, mas não tinha como fazer tudo que tinha pra fazer”, lamenta. A acadêmica lamenta também que irá sair da faculdade com pouca bagagem profissional. “Fiz um estágio como jornalista e mais nada. Porque pesa o lado financeiro, eu tenho uma família para sustentar, então não posso pegar qualquer emprego”, justifica. Apesar de sentir
que deveria ter dado uma pausa no curso ou ter feito menos cadeiras, Sara destaca que sempre teve medo de trancar o curso por perder seu financiamento. Mais um filho, mais experiência No fim de 2014, Sara engravidou do segundo filho, Vicente. “Lembro direitinho, fiz o teste na Feevale mesmo”, relembra. Mas as preocupações aumentaram, já que neste ano seria sua formatura e venceria seu financiamento. “E eu não teria condições de pagar”, acrescenta. A jovem tentou se programar e continuar conciliando estudos, trabalho e maternidade. “Mas não foi bem assim, ia começar o TCC (Traba-
Especial lho de Conclusão de Curso) com um recém-nascido. Então resolvi trancar os estudos”, conta. Morando em Novo Hamburgo, ela conta com pouca ajuda da família, que mora em Campo Bom, para ficar com as crianças. “Eu e meu marido, que é muito participativo, sempre tivemos que nos virar”, relata. Com a pausa nos estudos, Sara acabou perdendo o financiamento para a faculdade, mas teve a ajuda da avó, que passou a pagar sua faculdade. Com o apoio financeiro, voltou a estudar e, depois de muitos desafios, agora está se formando.
A formanda Sara com sua filha mais velha, Alice
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Especial Hoje, Sara diz que aprendeu a conciliar melhor a vida de mãe que estuda e trabalha fora. “Tenho um emprego flexível, posso escrever minha monografia lá, já que em casa não consigo com as crianças”, explica. Mais tranquila e experiente, ela enfatiza que foi importante não ter desistido. “Podemos até dar uma pausa, mas tudo tem tempo certo”, conclui. O que diz a Feevale Sobre levar os filhos, esporadicamente, para a sala de aula, a professora de pedagogia da Universidade Feevale, Cristiane Vieira, explica que a indicação da instituição é de que os professores resolvam a situação em-
paticamente com suas alunas. “Não existe orientação contrária para não trazer os filhos”, afirma, destacando que a conversa para se chegar a um entendimento é o melhor caminho. “Eu trabalho na assessoria pedagógica da Feevale há seis anos e como professora há oito, e não lembro de nenhum caso que a gente tenha passado em que isso tenha sido um problema. Se aconteceu ficou no âmbito da sala de aula”, pontua a profissional. Cristiane lembra ainda que as alunas que têm filhos contam com uma espécie de licença maternidade, assim, além da opção de trancar a matrícula, elas podem escolher este atendimento individual, podendo ficar afastada no período de 90 dias. Este direito está garantido na Lei 6202/75, que permite que a mãe possa realizar exercícios
domiciliares, com prazos diferenciados. Quanto a possibilidade da Universidade Feevale criar um espaço para as crianças para que as mães possam deixar seus filhos enquanto estudam, a pedagoga não sabe precisar se a instituição pretende instituir este serviço, pois são questões que ficam na reitoria. “Já vi reportagens sobre faculdade que tinha uma sala com brinquedos para o caso de mães que querem vir pra aula e trazer seus filhos, achei muito bacana, mas talvez isso não tenha sido pensado aqui até agora porque é uma demanda criada a partir de uma necessidade”, sugere. No tempo em que está trabalhando na Feevale, Cristiane diz que estas situações sempre foram resolvidas entre alunos e professores. “Talvez por isso ainda não tenha sido pensado”, complementa.
Apoio seria bem vindo Entre as quatro universitárias entrevistadas, uma opinião foi unânime: a Universidade deveria pensar urgentemente na criação de um espaço para crianças. Victória acredita pontua que uma parceria com os acadêmicos de Pedagogia seria uma boa saída. “Iria contribuir não só com as mães que já estudam, mas também incentivar outras a estudar”, sugere. Raquel acrescenta que pensar nos filhos seria uma maneira da Universidade também acolher as mães. “Se eu não tivesse ninguém, o que eu ia fazer com meu bebê de noite? Não existe creche noturna”, questiona. “A Universidade tinha que dar um apoio maior”, complementa Barbara. Já Sara afirma que tem amigas que são mães, mas não estudam por não ter aonde deixar o filho. “Se tivesse um espaço recreativo, viríamos mais tranquilas e focadas pra aula. Não vejo meu filho o dia todo, se tivesse um espaço aqui seria maravilhoso”, reitera.
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Momentos de afeto
Especial
Muito bem acompanhadas Raquel Compassi com a pequena Helena nos braços, Bárbara Viacava com Sol e Victória Dellegrave com Alice.
Momento de carinho Raquel Compassi segura Helena, enquanto Sol, filha de Bárbara Viacava, a acaricia
Um colinho Victória Dellegrave segura no colo a filha Alice durante a sessão de fotos
Troca de olhares Raquel Compassi e Helena em um momento mãe e filha.
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Especial
Um lugar para compartilhar e se fortalecer Como as integrantes do Grupo de Apoio Ao Paciente Oncológico PodeRosas empoderam umas às outras
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As meninas do grupo PodeRosas
cada 15 dias, a Sala de número 3 do Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores Municipais de Novo Hamburgo, (IPASEM/NH), acolhe muito mais do que 11 pessoas. Ela reúne histórias de luta, amor e, principalmente, amizade. O Grupo de Apoio Ao Paciente Oncológico, PodeRosas, resultado da junção das palavras Poder e Rosa, simboliza a luta de mulheres que enfrentaram e enfrentam situações semelhantes e procuraram ajuda ao se deparar com o câncer. A queda do cabelo, as dores, a baixa autoestima, a mudança em sua rotina e na dos familiares são alguns dos
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pontos em comum que as conectam. Diferente do que se imagina, o local não está cheio de tristeza, está recheada de sonhos e muitas risadas. Acompanhadas pela assistente social, Lilian Petry, e da psicóloga, Ancile Leal, os encontros que começaram em março de 2015, oferecem o quê o tratamento médico e familiares não puderam dar: o apoio emocional. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), acontecerão 44.900 casos de câncer no Rio Grande do Sul até o final de 2016 e a aceitação não é fácil. Mesmo oferecendo todo o suporte e acompanhamento, algumas
integrantes relutaram em participar, conforme a psicóloga Ancile. “Além disso, alguns pacientes apresentam a fantasia de que vão encontrar pessoas muito debilitadas física e emocionalmente, o que eles preferem evitar. Há também a dificuldade de expor suas fragilidades perante outras pessoas”, explica. O papel da família Não é apenas o paciente que é atormentado pelo diagnóstico. Pelo medo da perda, a família também e algumas participantes optaram por não compartilhar com os familiares. A serviços gerais licenciada Neusa Nascimento, de 54 anos, resolveu não
Especial
Da esquerda para direita: Greice, Lídia, Deise e Luana
contar ao marido para não causar preocupação. A participante do grupo foi diagnosticada com um tumor no cérebro há cinco anos, e pediu para o seu médico não informar a família, o segredo se manteve por dois anos. “Foi muito ruim quando eu tive que arcar com as consequências sozinha, foi muito ruim quando assumi e não podia contar pra ninguém. O meu marido é o meu anjo e não podia contar, porque a mãe dele faleceu de um problema semelhante”, recorda Neusa, casada há 10 anos com o motorista Claudemir Lima. A psicóloga Ancile Leal entende que não avisar os familiares é poupá-los de uma dor, mas ter com quem desabafar é muito importante. “São as ‘mulheres super-poderosas’ em suas famílias e pode
significar uma autossuficiência feminina. Afora esta questão, ter um espaço para falar entre ‘iguais’ permite a compreensão sem julgamento e sem expectativas irreais do problema”, destaca.
“
Tive assistência financeira e médica. Mas não tive apoio emocional, afetivo. Acabei encontrando isso no grupo
”
A aposentada Lídia Morais, de 52 anos, sabe da importância que a família teve em seu tratamento. Recuperada de um tumor na mama esquerda, há quase cinco anos, sabe que o marido, Sérgio Machado Morais, teve um papel significativo em sua recuperação, pois o con-
trário já havia acontecido: ele havia passado por cirurgias cardíacas. “Nós dois tivemos essas fraquezas para nos fortalecer”. Compartilhar o que sentia teve um efeito positivo para Lídia, que há um ano e meio frequenta o grupo PodeRosas. “Tive assistência financeira e médica. Mas não tive apoio emocional, afetivo. Acabei encontrando isso no grupo”, conta. Amizade como alicerce As mulheres do grupo são chamadas de multiplicadoras, pois, a partir de sua vivência, compartilham seu aprendizado, se empoderam e multiplicam para fora. Durante o tratamento contra um linfoma, a assistente social aposentada, Beate Rosecker, mal frequentava shoppings e demais espaços coletivos por causa do risco de infecção, por isso, valoriza cada minuto e busca fazer a diferença na vida de outras pessoas. Aos 59 anos e recuperada, é voluntária em um trabalho de assistência à 33 mulheres em situação de vulnerabilidade na cidade de Cachoeirinha, na Sociedade Espírita Vinha de Luz.
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Especial “Eu aprendi que eu tenho que fazer alguma coisa além. O voluntariado é uma coisa que me dá prazer”, comenta. E esta troca faz com que elas se sintam bem para receber e dar apoio à outras pessoas, e este pensamento tem norteado outra integrante, a professora Leda Beatriz Koehler.
“
Estou buscando conhecimento para eu aprender a viver melhor e, a partir disso, talvez ajudar pessoas
”
Em 2014, ela foi diagnosticada com um tumor no seio, e após o tratamento e cirurgias, têm mudado seus hábitos e influenciado de outros. “Tenho me desafiado a fazer do limão uma limonada e estou buscando conhecimento para eu aprender a viver melhor e, a partir disso, talvez ajudar pessoas. Isso me fortalece, faz me sentir um pouco útil em meio a esse turbilhão de coisas”, conta a Musa Fitness, de 48 anos, apelidada assim em função das dicas de alimentação que dá para ajudar
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Da esq. para dir.: Beate, Neusa, Leda, Marinês e Jussara
as colegas. “O grupo, pra mim, é apoio todos os dias, a gente se fala pelo WhatsApp. Mas ele é a certeza que a gente tem um grupo aqui que acolhe, que escuta, que deixa a gente chorar”, complementa Leda. A autoestima e vaidade A queda dos cabelos é um dos efeitos colaterais da quimioterapia, tratamento com compostos químicos para combater determinados tipos de cânceres. A professora Angélica Rhoden, de 36 anos, escolheu a peruca para se sentir confortável durante este processo. “Não sei o que é pior, contar para o pai e a mãe ou raspar a cabeça. Tu não te reconhece mais e o lenço, para mim, é a cara da doença. Não consigo usar. Não é só um cabelo, quando cai o cabelo cai a ficha que tu está com câncer, está doente”, revela. Ela se juntou ao grupo PodeRosas recentemente e a meta é continuar a
frequentar as reuniões. “Acho que elas dão bastante apoio, pelo fato de tu poder contar sem se preocupar com o que a pessoa vai pensar”, completa. Mas apesar de todas as dificuldades, segue fazendo o que mais gosta. Angélica briu sua residência, em Ivoti, para lecionar para crianças de 5 à 9 anos. A secretária de escola, Deise Pacheco, participa do PodeRosas desde o início de 2016. Ela descobriu um nódulo no seio direito em junho de 2015. Com a queda dos cabelos em função da radioterapia, usou lenços para cobrir o que não queria mostrar e sabe que a vaidade cumpriu um papel importante para manter a sua autoestima. “Usei muitos lenços e todo o dia usava um que combinava com as minhas roupas”, comenta. Em seu caso, não precisou parar de trabalhar e os colegas fizeram de tudo para que ela se sentisse à vontade.
“Cheguei na escola, logo após cortar os cabelos, e todos estavam usando lenços”, relembra a homenagem. Deise se recuperou e, em um pouco mais de um ano, já cortou o cabelo duas vezes. Lilian analisa que a percepção sobre a beleza se modifica, e estar viva e forte é o foco principal. “Neste momento a beleza se transforma, é multifacetada, pois o belo está em tantas coisas, ou nas pequenas coisas, ou somente na força e no dese-
jo de vencer”, exemplifica. Mas não é apenas em sala e em rodas de conversa que se pode encontrar o grupo. Passeios, oficinas de artesanato e palestras são algumas das atividades que fazem parte do cronograma. Esta alteração na rotina é resultado do retorno da autonomia e do trabalho em conjunto, e o que antes era motivo de constrangimento, agora é de orgulho: foram produzidas camisetas na cor rosa com o objetivo de dar visibilidade ao
Especial Poderosas e conquistar cada vez mais integrantes. E engana-se quem pensa que a flor estampada representam apenas a delicadeza feminina! Há alguns espinhos e eles simbolizam a garra de cada uma delas. Estas onze mulheres são a prova que a mulher poderosa é aquela que luta todos os dias, por si e por todos, e e nunca desiste.
A palavra delas “Durante o tratamento eu ficava na casa dos meus pais, então, veio uma super proteção. Mas eu precisava voar naquele momento e o grupo me deu asas”” Luana Dapper, 33 anos, professora
“Quero continuar sempre nesse grupo e torço por cada uma. Elas sabem que eu rezo por elas todos os dias, tanto é que é o meu grupo. Espero que cada uma delas possam saber o quanto é importante a gente estar juntas.” Marinês Ecker Zunmack, 52 anos, aposentada “É um lugar bom pra poder conversar sobre tudo o que acontece, dentro e fora da doença. A gente vem aqui para dar risada, escutar coisas boas, passeios que elas fizeram, porque os passeios delas são uma vitória nossa.” Greice Kaefer, 35 anos, professora “O grupo é maravilhoso! A gente chora por uma que vai fazer um exame ou que fez e não deu tão certo quanto a gente queria, mas a gente também chora de alegria.” Jussara Izabel Silva dos Santos, 65 anos, aposentada
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Opinião Cris Manfro Contato: acmanfro@terra.com.br
Se vira nos 30 “Que tenhamos um egoísmo saudável, aquele que permite que você cuide de toda a vizinhança, mas não esquecendo de você.“
E
u não podia pensar em outro título. É assim que eu e milhões de mulheres nos sentimos. Meio mulher “polvo’, com essa capacidade de fazer tudo ao mesmo tempo. Mas, com esse estilo de “se vira nos 30” precisamos ter cuidado! Penso que podemos estar melhorando para pior. É óbvio que melhoramos, mas também passamos a beber mais, a viver no stress, a não ter mais aquele tempo necessário para se recolher e pen-
sar em si mesma. Não lutamos tanto para ter direitos, para que nossa qualidade de vida piorasse. Porém, para algumas é o que está acontecendo. Exauridas nem sempre tem tempo para o bem estar. Exaustas ficam mais vulneráveis a desregulação emocional e perdem o foco do que verdadeiramente é importante. Nós precisamos achar o meio termo. O equilíbrio entre o necessário e o que desejamos. Que não percamos a flexibilidade que
permite que nos adaptemos a muitas formas. Que tenhamos um egoísmo saudável, aquele que permite que você cuide de toda a vizinhança, mas não esquecendo de você. Que não esqueçamos dos nossos relacionamentos, mas que acima de tudo não esqueçamos de nós mesmas. Irvin Yalon disse que a relativa felicidade tem três origens: o que se é, o que se tem, e o que se é para os outros. Fixe-se no primeiro e que sejamos muito felizes.
Você sabia?
As mulheres trabalhavam quatro horas a mais que os homens por semana, quando se soma a ocupação remunerada e o que é feito dentro de casa. Em 2014, a dupla jornada feminina aumentou. Passou a ter cinco horas a mais, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que reúne informações de mais de 150 mil lares.
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Entrevista
N
atural de Santa Maria/RS, a gastrônoma Laila Silveira, comanda a cozinha do Restaurante Chappe, em São Leopoldo/RS. Há quatro anos, se mudou para o Vale dos Sinos para seguir seu sonho, e se formou em Gastronomia pela Unisinos em 2015. Apesar da recente graduação, Laila, de 28 anos, acumula experiências na área e sente-se realizada em trabalhar no ambiente que mais gosta. Ela conversou com a reportagem da Cheia de Garra. Cheia de Garra: Quais foram as dificuldades que você encontrou em sua área de atuação? Laila Silveira: Acredito que as dificuldades que encontrei foi ver que o mundo da gastronomia profissional é muito diferente da cozinha de casa - a procura de emprego quando não existe um currículo com muita experiência, o machismo e a arrogância, aprender a lidar com a correria e pressão de uma cozinha.
Laila em ação
CG: Acredita que o machismo e gordofobia tenham prejudicado a sua vida pessoal e profissional? Laila: Me prejudicaram bastante. A cozinha costuma ser um lugar muito machista, muitos pensam que uma mulher não tem garra e força para comandar uma equipe e fazer tudo funcionar, ou não vão aguentar a pressão. Quando o assunto é gordofobia, na entrevista de emprego tu já percebe que existe um certo receio de empregar uma pessoa gorda na cozinha, já que, envolve agilidade e muitas horas em pé. Na vida pessoal sempre existiram aquelas piadinhas, ou ouvir algo como “mulheres já nascem com a essência da dona de casa” ou “ vou receitar remédio para emagrecer, com esse teu peso, acho que tu não consegue sozinha”. Mas depois de muitos
Laila Silveira
comentários, graças ao feminismo, consegui levantar a auto estima e me sentir livre. CG: Para você, qual é a importância do empoderamento feminino no mercado de trabalho? Laila: Precisamos saber que temos o mesmo direito a um salário digno, temos wdireito ao respeito, podemos sim, exercer função que antes eram apenas masculinas. Em hipótese alguma devemos aceitar qualquer tipo de preconceito.
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Classificados
Habilidades e serviços Competências, produtos e serviços oferecidos por mulheres que encontram no trabalho uma fonte de renda, um complemento no orçamento da família ou, até mesmo, um momento de prazer e independência.
Marlene Schaulet, 56 anos - Canela (RS) Serviço: Oferece técnicas em crochê e bordado. Contato: Encomendas com a filha Danúbia. (54)99658-2184 ou nubiachaulet@outlook.com
Dandara Ennes, 26 anos - Gravataí (RS) Serviço: Bacharela em Administração. Produz camisetas pintadas e desenhadas, inspiradas na beleza da mulher negra. Contato: facebook.com/dandaranegrafashion
Mariane Rambo, 18 anos - Estância Velha (RS) Serviço: Estudante de jornalismo e fotógrafa. Contato: (51) 99554-6271 ou marianerambofotografia@gmail.com
Khris Geyger, 23 anos - Novo Hamburgo (RS) Serviço: Vende acessórios à domicílio e online. Contato: (51) 98953-6969.
Jéssica Camille, 25 anos - Esteio (RS) Serviço: Faz tranças afro e atende à domicílio. Contato: (51) 99300-5136
Laís Albuquerque, 23 anos - Álvorada (RS) Serviço: Produz coroas de flores e entrega à domicílio. Contato: lais_marchioro@hotmail.com
Tania Behrens, 54 anos - Novo Hamburgo (RS) Serviço: Faz patchwork, jogos de panos de prato, puxa-sacos e lasanhas congeladas. Contato: (51) 99577-6181.
Thais Cavalheiro, 24 anos - São Leopoldo (RS) Serviço: Esteticista. Depilação, massagens detox e drenagem linfática. Contato: (51) 98145-4496
Kellem Santos, 26 anos - São Leopoldo (RS) Serviço: Fotógrafa. Ensaios, eventos e registros. Contato: www.kellemsantos.com.br
Para participar, mande um e-mail para classificados@cheiadegarra.com.br
Beba e fIque nas nuvens...
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