Odisseia

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Odisseia Mary Paes e Christian Oliveira Penélope e Ulisses

Amapá e Minas Gerais Ítaca e Tróia Janeiro 2008 a Abril 2020



Odisseia O Regresso Poemas

Mary Paes e Christian Oliveira PenĂŠlope e Ulisses

AmapĂĄ e Minas Gerais Janeiro 2008 a Abril 2014


___________________________________________________ Livro digital: Odisseia Gênero: poesia, paródia, imitação, transposição literária Organização e autoria: Mary Paes e Christian Oliveira Diagramação: Christian Oliveira Capa: quadro "Amantes en rojo" da pintora Nicoletta Tomas Caravia - https://www.nicoletta.info/ ___________________________________________________


AGRADECIMENTOS Em especial a Ana Celma de Santana que muito gentilmente cedeu seu tempo para verter com tanta beleza a presente obra para a língua castelhana. Língua que é também nossa paixão (tão consonante com o fogo destes versos). A Nicoletta Tomas Caravia por tornar possível a capa perfeita para este livro permitindo usarmos seu quadro "Amantes en rojo".



DEDICATÓRIA À Penélope, toda carne e alma de mulher, nestes versos, é você.

Christian



INTRODUÇÃO O poema da espera esperançosa de Penélope inquebrantável tecendo no fiar o seu amor e desejo por um Odisseu que inicia sua escolha também radical de abandonar a imortalidade e o paraíso por errar lutando para reencontrá-la, é certamente uma das estórias, senão a história, mais significativa da cultura ocidental. Uma história de amor conhecida como Odisseia. A história de Penélope e Odisseu olhada por seu elemento psicológico e emocional o amor, poderia ser encarada como: Uma mulher que nos entrega seu desejo e amor de forma violenta e carnal; Um homem que canta também seu desejo e amor por meio de uma imensidão de imagens e metáforas; Dois poetas constituem este livro: Uma mulher, Mary Paes, que canta numa linguagem apaixonadamente visceral, melhor uterina, a espera por um homem que lhe esteja à altura para ser a outra metade deste amor e desejo imensos. Um homem, Christian Oliveira, cantando sempre movido e inspirado pelo horizonte de um amor que se concretiza na conjunção carnal, no encontro extremo onde dois são um. Duas vozes que unem seus versos para produzir um só livro e uma só voz que joga e ecoa com o amor de Odisseu e Penélope que se nutre pela certeza do encontro, mas antes por seu sofrimento. Os autores



EPÍGRAFE esta noite... eu só quero provar da dor de te sentir longe de mim... porque também me alimento da tua falta.

Mary Paes


01. DESEJOS meu desejo é insano irreal, profano meu desejo é paixão, sonho, volúpia... meu desejo se perde na noite, e me adoece minha boca cala a solidão me prende meu desejo me toma me enlaça não me deixa nunca meu desejo martiriza meu corpo minha mente, meus sonhos... e eu não penso, não falo apenas deliro em gemidos mudos... e não há solução, há perdição, desejos ardentes ... pecado... nos meus desejos, me dou toda com ânsia, com vontade, com loucura meu desejo é a pura fantasia minha, ou quem sabe ... tua.

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01. ODISSÉIA sem o corpo... sem minha ilha, mar e meu porto. sem o corpo... não sou nada, sou sem descanso, nau sombria, perdido sou. sem o corpo... rema minha paixão não saciada, cem remos batendo - para desgraças, dores e mundos obscuros. sem o corpo... singro caminho certo para o desconhecido - desejo igual loucas sereias. Perdido. sem o corpo da mulher minha Ítaca que me recebe, me atraca entre as pernas...

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02. DELÍRIOS minha pele queima, num desejo ilógico sem satisfação... entre quatro paredes sou apenas um, e toco a cama fria querendo ir além da minha solidão curar esta febre que a paixão me causa mas, estou só... possuo o tempo, a noite e o pensamento... mas, não sou dona de você nem por um momento lhe possuo, além do sonho se lhe vejo entrar... sorrir pra mim... antes que me toque, sei que deliro e se não me satisfaço, tudo que me sobra, ainda é o tempo... e todo o espaço, pra chorar tecer e deixar se desmanchar mil vezes o sudário à minha solidão... e à falta completa de você.

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02. TANATOS* meu corpo é refém de um pathos absurdo sem trégua... sou apenas um, e queimo mesmo na noite mais fria querendo vencer esta distância curar a febre que o desejo causa mas, estou só... tenho o tempo, a noite e meus pensamentos... mas, estou sem você isto já não muda nem quando me leva hipnos* a vejo nua toda entregue na beleza que é só sua antes que me toque, sei que sonho e desperto desejando o sono do gêmeo sombrio, tudo que me sobra então, ainda é o tempo... e a noite e o mundo para amargar a minha solidão... e a falta completa de você.

*Hipnos e Tanatos, entidades gêmeas primordiais, respectivamente Sono e Morte.

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03. EM DESENCANTO estou triste e minha tristeza é uma dor que vem bailando paulatina no vazio que se estende pelo meu eu como se eu fosse o chão e ela... uma folha que cai com o sopro do vento a vejo sibilar no espaço... e sei que é inevitável que se achegue até mim... e permaneça. ser triste é acumular em si todas as folhas que caem no outono ser triste é... ser eu sem riso ser apenas pranto ser eu sozinha ser eu... simplesmente eu em desencanto

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03. CÍCLOPE meu desejo e ardor, visando vidrado, com único intento, [você] visão voltado: ciclópico... meu humor mais negro, mal anfitrião, odeia tudo: [devora-me seis vez] destrói... na dor de oceano vinho em que afundo, [sem folego] olhos mar jorrando: castiga... por fim, para aplacar-me, cego o olhar único, [sua lembrança] na escuridão cega, abandono-me...

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04. FANTASIA DA PAIXÃO você chegou e sorriu olhou meus olhos tão profundamente como se me tocasse... estatizou-me me botou um feitiço. senti teu corpo se aproximando e um calor estranho apoderou-se de mim... o desejo ardente adormecido renasceu... e foi crescendo a cada centímetro a menos que separava nossos corpos e a tua boca se abriu deliciosamente então não resisti e me colei aos teus lábios sedenta de desejos... enlouquecendo-me... você me seduzindo... possuindo-me ardentemente ...então acordei, e na minha solidão, apenas o sol se infiltrava pela janela, descuidadamente aberta...

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04. APROXIMEI DE VOCÊ já com uma virulenta paixão instalada. a observei, não era minha. e não seria de pertencer a ninguém. o que meu olhos devoravam ávidos eram seus gestos, as formas como suas palavras moviam suas mãos, o modo como seu olhar fitava cheio de interesse, mas também firme em seu mundo, e não ser nada do que eu esperasse, ser tão forte e feminina. toda correspondência é tão pacífica. a diferença, a incongruência é violenta como a paixão. e é nela que os amantes se embatem. fui com cuidado. Cheio de dedos. na verdade sem nenhum. não ousei a intimidade de toca-la. mas você queria intensidade, quase que silenciosamente. guiado por sua posição, eu aprendi com você então: a segurar sem prender, a tocar sem ofender, a aperta-la sem sufocar, a amar sem posse, a penetrá-la...sem invadir, a fodermos como irmão que podem se amar no amor da carne...

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05. EROTES* tu partilhas risos que não são meus e beijos de outra boca amas a carne quente numa cama alheia e gozas este gozo que te faz morrer te esquecesses por um tempo de mim e quando tudo acaba tu se voltas pra si e me enxergas aí dentro a te olhar com esses meus olhos grandes, por onde o meu coração escorre....

*Plural de eros, os vários amores

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05. PRO FUNDO nesta distância coxeio com minha insegurança pisando ora em ovos ora em aço pois bem sei que és afrodite és febre e sexo, já lhe fui ares lhe fiz na cama guerra e sei da arte quão grande a refrega mas à distância sou pobre hephaistos e temo cada amor que goza e o desejo qual mil vagas mornas batendo sobre o litoral de seu corpo lhe agitando o sexo na carne eu sempre lhe fui “pro fundo” então espero que no fim mesmo em outros o desejo ali seja eu...

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06. DESALENTO... sigo meus próprios passos, por caminhos que desconheço me vejo... e meus olhos se distanciam... numa fuga do meu eu... quero tocar dentro de mim... sentir o pulsar vago do meu coração amedrontado... a solidão parece mágica... perdura por cada canto... e toca minha face num calafrio estranho... meu rosto em pranto... de repente, sou um louco, um ser demente... e meus pés cruzam longos caminhos sem volta mesmo para os erros, não há voltas. só se vive uma única vez... e na lentidão da vida, ainda há feridas que jamais cicatrizam... feridas da alma e do coração. sinto minha mão, a tocar meu rosto maquinalmente... não sou mais um demente... além da solidão, possuo um grande espaço de tempo... e me acalento a cada passo... no descompasso dos dias que me pertencem, nos quais, ainda sobrevivo. quero tocar dentro de mim, e apagar um pouco dessa carência pela qual meus passos se perdem. meus pensamentos se desalinham e a solidão jamais me abandona.

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06. ATÉ DO MAR VERMELHO... na falta sua meu desejo se faz hybris* fico pesado, boca suja e até do mar vermelho sinto saudade e lembro Euryproktos!** na postura de cadela aguarda meu desejo retesado. estando o mar vermelho, me sirvo do vale adentro e logo sentes, lhe rasgo. Lakkoproktos!** apalpo e espremo seus seios e estoco em sua viva dor até o cabo. estreito caminho de Aeschyne*** não me contenho lhe preencho e me farto...

*violência, fúria desmedida, desequilibro ** Xingamentos usados para homossexuais, bunda aberta e bunda de poço, respectivamente. ***vergonha, referência ao mito na qual ao colocar todos os dons no ser humano e não restar outro lugar, coube a vergonha ser introduzida no ânus no ser humano.

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07. QUANDO CHEGA O AMOR o amor veio como veio o vento numa brisa calma e suave... embalando mil sonhos de uma mente desatenta junto de sorrisos e encantos enxugando o antigo pranto, do rosto de quem sempre esteve só... o amor veio como veio o tempo, feito um doce acalento, de quem espera pra nascer... e chegou cantando... terno e puro como um anjo, falando dos sentimentos da alma, que une dois corações estranhos. o amor veio como veio o dia... ... sem pressa, inexplicavelmente belo... chegou, sem que houvesse espera, pondo fim na solidão, rompendo a mágoa... fazendo da tristeza, uma folha de uma vida em rascunho... jogada ao relento, e que voou com o vento, junto da brisa calma. e ficou o amor, aliado do tempo... embalando mil sonhos de dois corações pulsando. quando fostes embora... não fiquei... parti pra dentro de mim. na solidão... em que me descubro... minhas mãos cheiram a sexo.

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07.ORGAON sonhei-nos com paixão extremada sonhei, nus na compaixão consumada nossas línguas fazendo coisas sem uma só palavra nossos poemas misturados todos nas folhas sobre a cama e mais nada nosso suor selecionando versos misturando na pele nossos poemas muito compondo de nossa lavra e nós à poesia do momento um no outro colocando o poema limite deste livro de nós dois...

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08. LABIRINTO DO TEU CORPO que bela a inspiração fugaz do teu beijo quente que me toca e me solta... pra me embrenhar no labirinto do teu corpo... onde me perco... quando peco e te desejo de todas as formas de amar satisfaz-me roçar meus lábios em teu peito quando ardente, teu coração de amor me afoga... nos devaneios do meu querer, te querer todo o tempo que em meus sonhos te vejo e te perco sempre, quando me lembro que os sentimentos, que me traz a inspiração fugaz, de te amar, de desnudar teu corpo... são partes permanentes do meu coração que te ama eternamente... mesmo que não seja breve a tua ausência e seja imensa a minha solidão.

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08. O MELHOR DE AMAR UMA POETA numa mulher-poeta seu corpo é só fronteira, uma capital dentro de um corpus enorme, um território, uma ilha de limites sempre no horizonte. o homem que é capaz de amar a mulher-poeta ama duas vezes, à maneira que eram as deusas antigas, como os gregos amavam héstia e as sacerdotisas: uma, amando com o amor comum e vulgar (se é que algum amor é comum e vulgar) que captura no busto e anca a bela forma marmórea; outra, amando com certo assombro, (e também por que não, com medo) a chama primitiva sempre queimando na deusa. este fogo-poema que tudo toca nela e fora, faz casta cada foda e pecado, prístina cada dor e eterna sua mortalidade. mais que saturnal, dentro e fora de saturno. creio que o homem capaz de amar uma mulher-poeta, ama e adora e vê a poesia nela. sem saber que héstia está na sacerdotisa tal qual as sacerdotisas a são. parafraseando e moldando um poeta: "a mulher está neste país, quase como a árvore voa no pássaro que a deixa". o homem que ama a mulher-poeta até pode ser o pássaro na árvore, mas é preciso alar-se homem-poeta...

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09. PRECISO DESEPERADAMENTE ESQUECER VOCÊ é tanta a saudade é tanto o desejo de te ver é tamanha a falta de você em mim mas, preciso ser forte... tenho que vencer a dor da tua ausência calar meu coração que grita por ti de noite, mais que de dia... preciso aniquilar meu vício minha dependência de você! necessito ser herói de mim mesma para me salvar do abismo que deixastes em mim o abismo que pretende matar-me ou aprisionar-me na solidão! porque nada pode ser simples... porque a decepção existe... porque nós somos humanos... porque preciso desesperadamente esquecer que te amo tanto!

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09. BÉBELOS* todos os ritos de amor e prazer são seus rituais. de seus lábios colho lótus**. flores, frutos esqueço os dias dolentes dá-me de beber e comer-te quando rubicundo poderei lhe ser grato, pois estamos tanto um no outro então serei seu alento. e se me salvas. serás então salva. ou então arderemos, cada qual em seu inferno. sua, minha Agonia*** interna externa extrema...

* Em grego - profano. ** Referência aos lotófagos *** Agon-ia, referência a raiz da palavra “luta”

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10. AINDA SOU EU, ANTES DE SER VOCÊ fujo das horas malditas... das horas solitárias... que se arrastam nas madrugadas frias... fujo dos fantasmas que assombram os espaços que me sobram... tento fugir de mim... pra conseguir esquecer você... considero a inutilidade do que meu coração pulsa... puros delírios, desperdícios... coração “masô”! que suscita pensamentos de dor... de prazer, luxúria... e de todas as frases de amor... de tudo o que não posso fugir... por ser o que sou! o outro eu... aquele que reage aos meus impulsos... ainda me impede correr pelas ruas a gritar que sou sua... que por você ainda morro, qualquer dia... antes que a lua possa beijar o meu olhar antes que os navios ancorem nos portos antes que eu descubra o sol por trás das nuvens... porque depois... depois não morro mais... pois, posso descobrir que ainda sou eu bem antes de ser você! os meus lábios entreabertos sedentos da língua sua aguardam para se afogarem na sua boca

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10. HORAS POR ORA o que fazer agora? que seu nome se instaurou entre as minhas palavras caras as que povoam as linhas e as entrelinhas de toda frase dita. o idioma profano de meus desejos eu que neste amor lhe encontro em sonhos e na lembrança logo eu que sou de todo noturno pesado e sombrio, mais fortemente invadido pelo fogo e seu nome justamente na ausência, nestas horas o que fazer? vou lhe pôr no fogo destas horas pretas ferir a carne de seu corpo imaginário lhe comer a carne crua fazer cair sobre este imaginário tão real o peso, a sombra, a fome, meu corpo todo devora-la noite após noite na chama viva até o dia que enfim uma noite uma noite que seja tenha seu corpo real invadirei seus sonhos vou então lhe encher o ventre, o coração de fome, de paixão, de dúvida lutarei fundo pelas horas pretas envenenarei todas as horas que são de hipnos com meu nome e meus adjetivos, e os nomes e palavras que darei pra você como se eu as tivesse inventado todas...

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11. CONHEÇO BEM A SOLIDÃO... hoje tudo parece estar do avesso... tudo se perdeu de seu lugar... me deixe sozinha... eu sei ficar assim... a solidão... eu conheço bem... nunca tenho ninguém para o jantar... a mesa está posta... sobra um lugar... o prato e a taça estão vazios... a vela, vela o vazio, o silêncio, o espaço... que distância te possui longe de mim? declamo meu último poema! eu te amo... é o último verso! a cadeira à frente está vazia... o vento toca a cortina... que toca a lágrima... que toca o chão... eu sei falar de solidão... assim como a canção... que fala de mim... de tudo que ainda sou sem você... mas, é pouco! ainda tenho as horas... que passam lentas... e se multiplicam... criam os monstros... os fantasmas que me assombram... eu conheço a insônia! a dama louca que rouba meus sonhos! e fica comigo até que a madrugada acabe! mas, hoje... hoje não quero que me enganes... não quero mentiras! eu aceito a verdade... não precisa dizer que vem mais tarde... se o mais tarde sempre acaba antes de você chegar... me deixe sozinha! eu sei ficar assim... conheço bem a solidão... e ela... a mim!

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11.HADES antes que a tenha eu sei que vou ruir demônios a dar com pau aqui do hades sou as próprias sombras tristes ave de rapina dos auspícios mais negros minha alma me sobrevoa antes que profetize minha volta ávido por sangue! eu tenho tanta raiva desta distância que ela se volta não só contra mim às vezes eu odeio também você a dor existe por que você existe! meu amor nestas horas é inteiro hybris tento voltar a mãe, abraça-la três vezes e ela se esvai como fumaça isto destrói toda doçura em mim nestas horas sombrias quero sangra-la e comer sua carne crua e aliviar meu estomago de você em qualquer canto abrir ao meio como a porcos um a um aqueles que a desejem pisar sobre as vísceras dos pretendentes escrever com a merda deles mesmos em seus restos tal um sombrio tirésias cada noite nossa de amor onde então será só minha, só minha! onde com fúria e febre em seu corpo curo tudo que a solidão me causou...

Christian Oliveira 35


12. EU TE AMO o que é o amor... se não esta dor que dilacera o peito... se não essa angústia de nada saber a teu respeito... se te falta o meu beijo... a minha fala... que sempre diz: “Eu te Amo”. o meu corpo nu em teu leito... o que é o amor... se não meu sussurro por teu nome quando a saudade tua me consome... enquanto eu lembro teu cheiro teu suor... Tua língua a roçar meus seios? o que é o amor se não um segredo que não pode ser revelado por causa do teu medo... de assumir que me ama... que me chama em silêncio... e pensa em minhas mãos que te tocam em pensamentos! meu amor! o que é o amor? se não esta dor que mata a nós dois sem pena

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12. OLIVEIRA ao reatarmos senti vigor renovado... em nosso amor, em nosso desejo... é como se todo amor e todo desejo tivesse como seu arcabouço uma necessidade obscura por sua destruição, por seu oposto... - uma necedade? - ou não? com se de tempo em tempo precisássemos voltar ao ninho de nosso amor, ao nosso tálamo nupcial, nosso lugar ao pé da oliveira e nos atearmos nossas discórdias... de nossas cinzas, um amor que renasce goza então as delícias com a gula revestida de toda jovialidade, denunciando que em nossa "petit mort" não buscamos o fim mas sempre um "début"...

Christian Oliveira 37


01.REGRESSO (Pout-porri) PENÉLOPE: ULYSSES: PENÉLOPE: ULYSSES: PENÉLOPE: ULYSSES: PENÉLOPE: ULYSSES: PENÉLOPE: ULYSSES: PENÉLOPE: ULYSSES: PENÉLOPE: ULYSSES: PENÉLOPE: ULYSSES: PENÉLOPE:

ULYSSES:

esta noite toda carne e alma de mulher nos meus desejos, me dou toda me recebe, me atraca entre as pernas... com ânsia, com vontade, com loucura minha pele queima, num desejo ilógico a vejo nua toda entregue na beleza que é só sua no vazio que se estende pelo meu eu como se eu fosse o chão meu desejo e ardor, visando vidrado, que se achegue até mim... e permaneça. com único intento (você), na escuridão cega você chega e sorri olha meus olhos tão profundamente já com uma virulenta paixão instalada. o que meus olhos devoram ávidos são seus gestos, como se me tocasse... estatizou-me me botou um feitiço. violento como a paixão. que os amantes se embatem. senti teu corpo se aproximando e um calor estranho apoderou-se de mim... a toco sem ofender, a aperto sem sufocar, o desejo ardente adormecido renasceu... e foi crescendo então não resisto sedenta de desejos... enlouquecendo-me... você me seduzindo... possuindo-me ardentemente a amo sem posse, a penetro...sem invadir, fodemos como irmãos

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PENÉLOPE:

ULYSSES:

PENÉLOPE:

ULYSSES: PENÉLOPE: ULYSSES:

PENÉLOPE: ULYSSES: PENÉLOPE:

PENÉLOPE: ULYSSES: PENÉLOPE: ULYSSES: PENÉLOPE:

que podem se amar no amor da carne... e a tua boca se abriu deliciosamente e me colei aos teus lábios E gozas este gozo que te faz morrer e o desejo qual mil vagas mornas batendo sobre o litoral de seu corpo lhe agitando o sexo na carne E gozas este gozo que te incendeia E quando tudo acaba quero tocar dentro de mim... meu rosto em pranto... mas você me re-toma... na postura de cadela aguarda meu desejo retesado. adentro de repente, sou um louco, um ser demente... meus pensamentos se desalinham apalpo e espremo seus seios não me contenho, lhe preencho e novamente me farto... E o amor veio como veio o dia... ... sem pressa, inexplicavelmente belo... na compaixão consumada, sem uma só palavra e ficou o amor, aliado do tempo... embalando mil sonhos de dois corações pulsando. minhas mãos cheiram a sexo. no labirinto do teu corpo... satisfaz-me roçar meus lábios em teu peito amando com certo assombro, (e também por que não, com medo) de dia...preciso aniquilar meu vício todos os ritos de amor e prazer são seus rituais. de todas as frases de amor... gritar que sou sua...

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ULYSSES: PENÉLOPE:

ULYSSES:

PENÉLOPE:

ULYSSES: PENÉLOPE: ULYSSES: PENÉLOPE: PENÉLOPE ULYSSES PENÉLOPE ULYSSES

PENÉLOPE ULYSSES

que por você ainda morro, qualquer dia... o que fazer agora? entre as minhas palavras caras o idioma profano de meus desejos porque depois... depois não morro mais... pois, os meus lábios entreabertos aguardam para se afogarem vou então lhe encher o coração dos nomes e palavras que darei pra você como se eu as tivesse inventado todas... tudo se perdeu de seu lugar... a vela, vela o vazio, o silêncio, o espaço... declamo meu último poema! eu te amo... é o último verso! minha alma me sobrevoa assim como a canção... que fala de mim... e fica comigo até que a madrugada acabe! onde então será só minha, só minha! mas, hoje... hoje não quero que me enganes... não quero mentiras! o que é o amor... o meu corpo nu em teu leito... é como todo amor e todo desejo se não meu sussurro por teu nome meu amor! uma necessidade obscura por sua destruição, por seu oposto... - uma necedade? - ou não? se não esta dor que mata a nós dois sem pena denunciando que em nossa "petit mort" não buscamos o fim, mas sempre um "début"...

Mary Paes e Christian Roberson 40


Este livro deve ser impresso no papel: PĂłlen Soft LD 80g, composto nas fontes Cambria (TĂ­tulos), Rage Italic e Museo 300; Abril, 2020 _______________________________________

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