CONSELHO DIRETIVO DA FUNDAÇÃO BIENAL DE ARTE DE CERVEIRA, F.P. / BOARD OF DIRECTORS OF CERVEIRA ART BIENNIAL FOUNDATION, P.F.
Rui Teixeira, Carla Segadães, Pedro Abrunhosa
DIREÇÃO - GERAL E COMUNICAÇÃO / GENERAL DIRECTOR AND COMMUNICATION MANAGER
Ana Vale Costa
EQUIPA CURATORIAL E DE PROGRAMAÇÃO / CURATORIAL AND PROGRAMME TEAM
Helena Mendes Pereira (zet gallery), Mafalda Santos
ASSESSORIA FINANCEIRA / FINANCIAL ASSISTANT
Carlos Bouça
CONTRATAÇÃO PÚBLICA / PUBLIC PROCUREMENT
Francisco Esmeriz
DESIGN GRÁFICO E DESENVOLVIMENTO WEB / GRAPHIC DESIGN AND WEB DEVELOPMENT
Marco Mourão
INFORMÁTICA / IT TECHNICIAN
Calisto Dias
COORDENAÇÃO TÉCNICA E PRODUÇÃO OFICINAL / COORDINATION AND WORKSHOP PRODUCTION
Célio Silva
ASSISTENTES DE MONTAGEM / ART INSTALLATION ASSISTANTS
Arminda Alves, Arsénio Borges, Calisto Dias, José Firmino Carpinteira, Joel Mota, Maria Cândida Freitas, Sandra Brandão
MANUTENÇÃO E LIMPEZA / MAINTENANCE AND CLEANING
Arminda Alves, Maria Cândida, Freitas, Sandra Brandão
MUSEOLOGIA / MUSEOLOGY
João Duarte
SECRETARIADO EXECUTIVO / EXECUTIVE SECRETARIAL TEAM
Joel Mota
SERVIÇO EDUCATIVO / EDUCATIONAL SERVICE
Lídia Portela
TRADUÇÃO / TRANSLATION
Paulo Martins
VIGILÂNCIA / SECURITY GUARDS
Arsénio Borges, José Firmino Carpinteira
XXIII BIENAL INTERNACIONAL
DE ARTE DE CERVEIRA / XXIII CERVEIRA INTERNATIONAL ART BIENNIAL
Fórum Cultural de Cerveira, 20 de julho a 30 de dezembro de 2024 / Cerveira Cultural Forum, 20 July to 30 December 2024
DIREÇÃO ARTÍSTICA / ARTISTIC DIRECTION
Helena Mendes Pereira (zet gallery), Mafalda Santos
DIREÇÃO - GERAL E COMUNICAÇÃO / GENERAL DIRECTOR AND COMMUNICATION MANAGER
Ana Vale Costa
ASSESSORIA FINANCEIRA / FINANCIAL ASSISTANT
Carlos Bouça
CONTRATAÇÃO PÚBLICA / PUBLIC PROCUREMENT
Francisco Esmeriz
DESIGN GRÁFICO E DESENVOLVIMENTO WEB / GRAPHIC DESIGN AND WEB DEVELOPMENT
Marco Mourão
INFORMÁTICA / IT TECHNICIAN
Calisto Dias
PRODUÇÃO / PRODUCTION
João Tomé Duarte
MONTAGEM / ART INSTALLATION TECHNICIAN
Célio Silva, Calisto Dias, João Duarte, Paulo Martins
ASSISTENTES DE MONTAGEM E APOIO GERAL / ART INSTALLATION ASSISTANTS AND GENERAL SUPPORT
Arminda Alves, Arsénio Borges, José Firmino Carpinteira, Joel Mota, Maria Cândida Freitas, Sandra Brandão
SECRETARIADO EXECUTIVO / EXECUTIVE SECRETARIAL TEAM
Joel Mota
SERVIÇO EDUCATIVO / EDUCATIONAL SERVICE
Lídia Portela
TRADUÇÃO / TRANSLATION
Paulo Martins
VIGILÂNCIA / SECURITY GUARDS
Armanda Bouça, Arsénio Borges, Bruno Afonso, Fernando Mota, Joel Mota, José Firmino Carpinteira, Rudney Bouça
APOIO À VIGILÂNCIA, BOLSEIROS CMVNC / SURVEILLANCE SUPPORT, CMVNC GRANTEES
Ana Filipa Dantas Teixeira, Juliana Costa Dantas, Maria Teixeira Lopes, Mariana de Lurdes Vigário, Marta Ribeiro Borges, Nelson Gomes Soares, Ricardo Miguel Martins Alves, Rodrigo Vilarinho Batista, Simão Rafael Stefanova
ESTAGIÁRIOS / TRAINEES
Iara Vieira, Marta Costa
REPORTAGEM VÍDEO E FOTOGRAFIA / VIDEO AND PHOTOGRAPHY REPORT
Luis Lagadouro e Sara Lourenço
APOIOS / SUPPORT
República Portuguesa - Cultura / Direção-Geral das Artes | Portuguese Republic - Culture / Directorate-General for the Arts Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira / Municipality of Vila Nova de Cerveira
AGRADECIMENTOS / ACKNOWLEDGEMENTS Divisão de Planeamento, Obras e Gestão Urbanística da Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira / Planning, Works and Urban Management Division of the Municipality of Vila Nova de Cerveira
CATÁLOGO / CATALOGUE
COORDENAÇÃO DO CATÁLOGO / CATALOGUE COORDINATION
Lídia Portela
DESIGN GRÁFICO / GRAPHIC DESIGN
Marco Mourão
TRADUÇÃO / TRANSLATION
Paulo Martins
PRODUÇÃO / PRODUCTION
João Duarte, Lídia Portela, Paulo Martins
IMPRESSÃO / PRINTING
Norprint - a casa do livro
TIRAGEM / PRINTS
750 exemplares
DEPÓSITO LEGAL / LEGAL DEPOSIT
534641/24
ISBN 978-989-35159-9-0
A adoção do acordo ortográfico é da responsabilidade dos autores dos textos / Authors are responsible for the use of the Portuguese language orthographic agreement.
PUBLICADO POR / PUBLISHED BY Fundação Bienal de Arte de Cerveira, F.P.
Av. das Comunidades Portuguesas 4920-251 Vila Nova de Cerveira Vila Nova de Cerveira, 2024
167 A METAFÍSICA DA SORTE E A CIÊNCIA
DO AZAR / THE METAPHYSICS OF LUCK AND THE SCIENCE OF MISFORTUNE
173 AGRICULTURA / AGRICULTURE
179 PAÍS CONVIDADO: BRASIL / GUEST COUNTRY: BRAZIL
185 VIARCO - CASA DA LIBERDADE / VIARCO - THE HOUSE OF FREEDOM
COMISSÃO DE HONRA / COMMITEE OF HONOUR
Presidente da República Portuguesa / President of the Republic of Portugal
MARCELO NUNO DUARTE
REBELO DE SOUSA
Presidente da Assembleia da República / President of the Assembly of the Republic JOSÉ PEDRO AGUIAR-BRANCO
Primeiro-Ministro de Portugal / Prime Minister of Portugal LUÍS MONTENEGRO
Ministra da Cultura / Minister of Culture DALILA RODRIGUES
Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) / President of the North Regional Coordination and Development Commission ANTÓNIO CUNHA
Vice-Presidente da CCDR-N para a Cultura e Património, Cooperação e Comunicação / Vice-President of CCDR-N for Culture and Heritage, Cooperation and Communication JORGE SOBRADO
Presidente do Turismo Porto e Norte de Portugal, E.R. / President of Porto & North of Portugal Tourism Board LUÍS PEDRO MARTINS
Diretor Regional do Norte do Instituto Português do Desporto e Juventude, I.P. / Northern Regional Director of the Portuguese Institute for Sport and Youth
VITOR BALTAZAR DIAS
Presidente da Xunta de Galicia / President of the Autonomous Community of Galicia
ALFONSO RUEDA
Presidente da Deputación de Pontevedra / President of the Provincial Deputation of Pontevedra LUIS LÓPEZ DIÉGUEZ
Alcadesa de Tomiño / Mayor of Tomiño SANDRA GONZALÉZ ÁLVAREZ
Presidente da Câmara Municipal de Arcos de Valdevez / Mayor of Arcos de Valdevez
JOÃO MANUEL ESTEVES
Presidente da Câmara Municipal de Caminha / Mayor of Caminha RUI LAGES
Presidente da Câmara Municipal de Melgaço / Mayor of Melgaço MANOEL BATISTA
Presidente da Câmara Municipal de Monção / Mayor of Monção ANTÓNIO BARBOSA
Presidente da Câmara Municipal de Paredes de Coura / Mayor of Paredes de Coura VÍTOR PAULO PEREIRA
Presidente da Câmara Municipal de Ponte da Barca / Mayor of Ponte da Barca AUGUSTO MARINHO
Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima / Mayor of Ponte de Lima VASCO NUNO FERRAZ
Presidente da Câmara Municipal de Valença / Mayor of Valença
JOSÉ MANUEL CARPINTEIRA
Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo / Mayor of Viana do Castelo
LUÍS NOBRE
Presidente da Câmara Municipal de Barcelos / Mayor of Barcelos MÁRIO CONSTANTINO LOPES
Presidente da Câmara Municipal de Braga / Mayor of Braga RICARDO RIO
Presidente da Câmara Municipal de Esposende / Mayor of Esposende ANTÓNIO BENJAMIM PEREIRA
Presidente da Câmara Municipal de Vila Verde / Mayor of Vila Verde JÚLIA RODRIGUES
Presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro / Mayor Terras de Bouro MANUEL TIBO
Presidente da Câmara Municipal de Guimarães / Mayor of Guimarães DOMINGOS BRAGANÇA
Presidente da Câmara Municipal de Póvoa do Lanhoso / Mayor of Póvoa do Lanhoso
FREDERICO DE OLIVEIRA CASTRO
Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão / Mayor of Vila Nova de Famalicão
MÁRIO DE SOUSA PASSOS
Presidente do Instituto Politécnico de Viana do Castelo / Mayor of Viana do Castelo
CARLOS MANUEL
DA SILVA RODRIGUES
Presidente da ESAD – Escola Superior de Arte e Design de Matosinhos / President of ESAD - College of Art and Design of Matosinhos
JOSÉ SIMÕES
Presidente da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto / President of the Polytechnic Institute of Porto
JOSÉ ALEXANDRE
DA SILVA PINTO
Presidente da Faculdade de BelasArtes da Universidade de Lisboa / President of the Faculty of Fine Arts of the University of Lisbon ANTÓNIO DE SOUSA
DIAS DE MACÊDO
Presidente da ESMAE – Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo / President of ESMAE - School of Music and Performing Arts
MARCO PAULO BARBOSA CONCEIÇÃO
Professor Artes Plásticas da Escola de Artes - Universidade de Évora / Professor of Fine Arts at the School of Arts - University of Évora LUÍS AFONSO
Reitora da Universidade Aberta / Rector of Universidade Aberta CARLA PADREL DE OLIVEIRA
Presidente da CESAP – Cooperativa de Ensino Superior Artístico do Porto / President of CESAP - Cooperative of Artistic Higher Education of Porto
MANUEL FERNANDO
DA COSTA E SILVA
Diretor da ESAD.CR - Escola Superior de Artes e Design Leiria / Director of ESAD. CR - Leiria School of Arts and Design
JOÃO PEDRO FAUSTINO DOS SANTOS
Reitor da Universidade do Minho / Rector of the University of Minho RUI VIEIRA DE CASTRO
Professora Auxiliar do Departamento de Artes Plásticas da FBAUP - Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto / Assistant Professor in the Fine Arts Department at FBAUP - Faculty of Fine Arts, University of Porto JOANA RÊGO
Presidente da Escola Superior de Media Artes e Design (ESMAD) / President of the School of Media Arts and Design (ESMAD)
OLIVIA MARIA MARQUES
DA SILVA
Diretor da Escola das ArtesUniversidade Católica Portuguesa / Director of the School of Arts - Portuguese Catholic University NUNO CRESPO
Presidente do Instituto Politécnico de Tomar (IPT) / President of the Polytechnic Institute of Tomar (IPT)
JOÃO FREITAS COROADO
Reitor da Universidade de Trásos-Montes e Alto Douro (UTAD) / Rector of the University of Trás-osMontes and Alto Douro (UTAD)
EMÍDIO FERREIRA
DOS SANTOS GOMES
Reitor da UAlg – Universidade do Algarve / Rector of UAlg - University of Algarve PAULO ÁGUAS
Reitor da Universidade Portucalense (UPT) / Rector of the University of Portucalense (UPT)
FERNANDO RAMOS
Diretora da FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto / Director of FLUP - Faculty of Letters of the University of Porto
PAULA PINTO COSTA
Presidente do Conselho de Administração da Fundação de Serralves / Chairman of the Board of Directors of the Serralves Foundations
ANA PINHO MACEDO SILVA
Presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian / President of the Calouste Gulbenkian Foundation
ANTÓNIO FEIJÓ
Diretor Executivo da Fundação D. Luís I / Executive Director of the D. Luís I Foundation SALVATO TELES DE MENEZES
Presidente do Conselho de Administração da Fundação Cupertino Miranda / Chairman of the Board of Directors of Cupertino de Miranda Foundation PEDRO ÁLVARES RIBEIRO
CONSELHO DE FUNDADORES DA FUNDAÇÃO BIENAL DE ARTE CERVEIRA / FOUNDER’S
COUNCIL OF THE CERVEIRA ART BIENNIAL FOUNDATION
Município de Vila Nova de Cerveira
DST – Domingos da Silva Teixeira
Caixa de Crédito Agrícola Mútuo do Noroeste, CRL Universidade do Minho
Fundação Convento da Orada / Escola Superior Gallaecia
COOPETAPE – Cooperativa de Ensino, CRL / ETAP do Vale do Minho
Associação Projecto – Núcleo de Desenvolvimento Cultural
Henrique Silva (pintor / painter)
José Rodrigues (escultor / sculptor)
Daniel Isidoro, Unipessoal, Lda.
JURI DE SELEÇÃO / SELECTION PANEL
Mafalda Santos
Membro da Equipa Curatorial e de Programação da FBAC / Member of FBAC’s Curatorial and Programme Team
Jose Antonio Castro Muñiz
Artista e professor da Faculdade de Belas Artes de Pontevedra da Universidade de Vigo / Artist and professor at the Pontevedra Faculty of Fine Arts of the University of Vigo
Marta Almeida
Diretora adjunta do Museu de Serralves / Deputy Director of the Serralves Museum
Marta Mestre
Diretora artística do Centro Internacional das Artes José de Guimarães / General curator of the José de Guimarães International Arts Centre
Tales Frey
Artista transdisciplinar / Transdisciplinary artist
JÚRI DE PREMIAÇÃO / AWARD PANEL
Andreia Magalhães
Diretora artística do Centro de Arte Oliva / Artistic director of the Oliva Art Centre
Inês Grosso
Curadora-chefe do Museu de Arte Contemporânea de Serralves / Chief Curator of the Serralves Museum of Contemporary Art
Luís Pedro Martins
Presidente Turismo Porto e Norte de Portugal, E.R. / President of Porto & North of Portugal Tourism Board
Rui Teixeira
Presidente da Fundação Bienal de Arte de Cerveira / President of the Cerveira Art Biennial Foundation
Zadok Ben-David Artista / Artist
COORDENAÇÃO
DOS ATELIERS / WORKSHOP COORDINATORS
Acácio de Carvalho Gravura / Engraving
Alberto Silva e Patrícia Macolva Cerâmica e Serigrafia / Ceramics and silk-screen printing
Helena Beatriz Araújo Atelier infantil / Children’s workshop
Henrique do Vale Pintura / Painting
PAÍSES REPRESENTADOS / REPRESENTED COUNTRIES
Alemanha, Angola, Brasil, Chile, China, Coreia do Sul, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos da América, Equador, Filipinas, Inglaterra, Israel, Itália, Moldávia, Moçambique, Nigéria, Países Baixos, Portugal, Turquia
PROJETOS CURATORIAIS / CURATORIAL PROJECTS
SER LIVRE, HOMENAGEM A ISABEL MEYRELLES / TO BE FREE, TRIBUTE TO ISABEL MEYRELLES
Curadoria / Curated by Marlene Oliveira
Diretora de Artes, Informação e Comunicação da Fundação
Cupertino de Miranda / Director of Arts, Information and Communication of the Cupertino de Miranda Foundation
Perfecto Cuadrado
Coordenador do Centro Português do Surrealismo/ Coordinator of the Portuguese Centre for Surrealism)
Local: Fórum Cultural de Cerveira
Location: Cerveira Cultural Forum
JAIME ISIDORO: O PAI DAS BIENAIS / JAIME ISIDORO: THE FATHER OF BIENNIALS
Curadoria / Curated by Helena Mendes Pereira (zet gallery)
Local: Biblioteca Municipal de Cerveira
Location: Cerveira Municipal Library
LIVRE TRÂNSITO_CICLO DE RESIDÊNCIAS E INTERVENÇÕES
ARTÍSTICAS / FREE TRANSIT_CYCLE OF ARTIST RESIDENCIES AND ART INTERVENTIONS
Curadoria / Curated by Mafalda Santos
Local: Freguesias do concelho de Vila Nova de Cerveira
Location: Parishes in the municipality of Vila Nova de Cerveira
A METAFÍSICA DA SORTE E A CIÊNCIA DO AZAR. ITINERÂNCIA DA EXPOSIÇÃO DO PAVILHÃO DE VILA NOVA DE CERVEIRA NA “ARTE MACAU: BIENAL INTERNACIONAL DE ARTE DE MACAU 2023” / THE METAPHYSICS OF LUCK AND THE SCIENCE OF MISFORTUNE. ITINERANT EXHIBITION OF THE VILA NOVA DE CERVEIRA PAVILION AT “ART MACAU: MACAU INTERNATIONAL ART BIENNALE 2023”
Curadoria / Curated by Helena Mendes Pereira (zet gallery), Mafalda Santos
Local: Convento de San Payo Location: San Payo Convent
AGRICULTURA / AGRICULTURE
Curadoria / Curated by Noarte Paese Museo + Officinevida Com / with Comune di San SperateFondazione di Sardegna
Local: Cooperativa Agrícola de Vila Nova de Cerveira
Location: Vila Nova de Cerveira Agricultural Cooperative
PAÍS CONVIDADO: BRASIL / GUEST COUNTRY: BRAZIL
Foi bonita a festa, pá / It was a beautiful celebration, friend
Curadoria / Curated by Helena Mendes Pereira (zet gallery) Cristiana Tejo + NowHere
VIARCO - CASA DA LIBERDADE / VIARCO - THE HOUSE OF FREEDOM
Curadoria / Curated by VIARCO
Local: Fórum Cultural de Cerveira Location: Cerveira Cultural Forum
RUI TEIXEIRA
Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira e do Conselho
Diretivo da Fundação Bienal de Arte de Cerveira / Mayor of Vila Nova de Cerveira and President of the Board of Directors of the Cerveira Art Biennial Foundation
MENSAGEM DO PRESIDENTE / MESSAGE FROM THE PRESIDENT
Seja muito bem-vindo(a) à XXIII Bienal Internacional de Arte de Cerveira: a Bienal mais antiga da Península Ibérica!
Se há um momento singular na história portuguesa, se há um dia que representa, na nossa memória coletiva, a força de um povo, esse dia é o 25 de Abril de 1974. Já passaram 50 anos, mas a coragem e determinação dos capitães de Abril e a vontade de mudança da população não estão ainda esquecidos. Nem poderiam estar! O país mergulhou, então, na mais linda aventura que um povo pode viver: a construção de um novo Portugal, “inteiro e limpo”.
É no contexto pós-revolução que, em 1978, se organizam em Vila Nova de Cerveira, pelas mãos de Jaime Isidoro (Galeria Alvarez) e Egídio Álvaro, os V Encontros Internacionais de Arte e a I Bienal Internacional de Arte de Cerveira. O tempo era de intervenção artística como modelo recuperado de expressão livre. As palavras de ordem eram a liberdade de expressão e o experimentalismo.
A nossa vila iniciava a sua metamorfose…
A Bienal Internacional de Arte de Cerveira é, por isso, corolária das conquistas de Abril e hoje, passados 46 anos, já se afirmou como um dos acontecimentos mais marcantes das artes plásticas do nosso país e como um evento de referência para a cultura artística nacional e internacional.
Permanece, na sua essência, como um local de encontro, criação e experimentação artísticas, descentralizador e consolidador da oferta cultural da região Norte e do país.
Um reconhecimento que ultrapassa fronteiras, se pensarmos nas inúmeras distinções recebidas, como são exemplo os prémios atribuídos pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM), incluindo o de “Melhor Museu Português em 2019”, e o selo “Europe for Festivals, Festivals for Europe”, promovido pela European Festivals Association, com o apoio da Comissão Europeia
e do Parlamento Europeu que visa reconhecer a qualidade dos eventos europeus.
A Arte e a Cultura desempenham, para nós, um papel fundamental na promoção da Liberdade, da Democracia, do crescimento social e educativo da sociedade. São uma ferramenta poderosa para a expressão individual e coletiva, para a construção da nossa identidade e para a criação de espaços de diálogo e intercâmbio.
Por isso, ao longo do biénio 2023/2024, a Fundação Bienal de Arte de Cerveira tem vindo a celebrar Abril e a Liberdade através de uma reflexão conjunta de artistas, pensadores, mediadores e visitantes. E é nesta perspetiva que se inscreve a XXIII Bienal Internacional de Arte de Cerveira, que desafia diretamente os seus públicos com a questão: “És livre?”.
Partindo da criação artística contemporânea plástica e visual, esta edição voltará a ficar marcada por uma aposta em três vetores: internacionalização, educação e aproximação aos Cerveirenses e às freguesias, voltando a promover o sentimento de pertença e identidade dos habitantes do nosso concelho.
O projeto político saído do 25 de Abril, em que se ambicionava a promoção da dignidade, da igualdade de oportunidades, do acesso à cultura, da justiça, do trabalho e dos direitos sociais, tem de ser continuado.
Este dia será para sempre determinante no caminho para a Democracia, para a cultura e para a Liberdade e na XXIII Bienal Internacional de Arte de Cerveira queremos celebrar a Arte e o seu imprescindível papel para a construção conjunta de uma sociedade mais livre, mais justa e mais plural.
Uma palavra dedicada às equipas envolvidas na organização deste evento, aos fundadores e sócios-fundadores da FBAC, artistas, mecenas, patrocinadores e parceiros, aos cerveirenses e públicos de todo o mundo que nos visitam: Obrigado! Obrigado por terem construído a Bienal e continuarem a fazê-lo;
tornaram possível e continuam a materializar a utopia inicial: a Bienal Internacional de Arte de Cerveira.
Para si, em especial, que está aqui hoje: desfrute deste projeto que também é seu!
Celebremos juntos a Liberdade e a Arte de criar!
Welcome to the XXIII Cerveira International Art Biennial: the oldest biennial on the Iberian Peninsula!
If there is a singular moment in Portuguese history, if there is a day that represents, in our collective memory, the strength of a people, that day was the 25th of April 1974. Fifty years have passed, but the courage and determination of the captains of April and the people’s desire for change have not yet been forgotten. Nor could they be! The country then plunged into the most beautiful adventure people can experience: the construction of a new Portugal, “whole and clean”.
Within this post-revolutionary context, the V International Art Encounters and the 1st Cerveira International Art Biennial were organised in Vila Nova de Cerveira in 1978 by Jaime Isidoro (Alvarez Gallery) and Egídio Álvaro. Art intervention emerged as a new model for free expression. The watchwords were freedom of expression and experimentalism.
Our town was beginning its metamorphosis…
The Cerveira International Art Biennial is therefore a corollary of April’s achievements and today, after 46 years, it has established itself as one of the most important events in the field of visual arts in our country and as a benchmark event for national and international artistic culture.
It remains, in essence, a meeting place for artistic creation and experimentation,
decentralising and consolidating the cultural offer of the northern region and the country.
This recognition goes beyond borders, considering the numerous distinctions it has received, such as the awards given by the Portuguese Museology Association (APOM), including “Best Portuguese Museum in 2019”, and the “Europe for Festivals, Festivals for Europe” label, promoted by the European Festivals Association, with the support of the European Commission and the European Parliament, which aims to recognise the quality of European events.
For us, art and culture play a fundamental role in promoting freedom, democracy and the social and educational growth of society. They are a powerful tool for individual and collective expression, for building our identity and for creating spaces for dialogue and exchange.
For this reason, throughout the 2023/2024 biennium, the Cerveira Art Biennial Foundation has been celebrating April and Freedom through joint reflection by artists, thinkers, mediators and visitors. This is the perspective of the XXIII Cerveira International Art Biennial, which directly challenges its audience with the question: “Are you free?”.
Starting with contemporary artistic creation, this edition will once again be marked by a focus on three aspects: internationalisation, education and reaching out to the people of Cerveira and its parishes, thus fostering a sense of belonging and identity among the inhabitants of our municipality.
The political project that emerged from the 25 April Revolution, in which the ambition was to promote dignity, equal opportunities, access to culture, justice, work and social rights, must be continued.
This day will forever be a determining factor on the road to democracy, culture and freedom, and at the XXIII Cerveira International Art Biennial we want
to celebrate art and its essential role in the joint construction of a freer, fairer and more plural society.
A word of thanks to the teams involved in organising this event, the founders and founding members of FBAC, artists, patrons, sponsors and partners, the people of Cerveira and audiences from all over the world who come to visit us: Thank you! Thank you for having built the Biennial and continuing to do so; you made it possible and continue to materialise the initial utopia: the Cerveira International Art Biennial.
To you, in particular, who are present today: enjoy this project that is also yours!
Let’s celebrate Freedom and the Art of creating together!
HELENA MENDES PEREIRA
Diretora Artística da XXIII Bienal Internacional de Arte de Cerveira / Artistic Director of the XXIII Cerveira International Art Biennial
REVOLUÇÃO E LIBERDADE: UMA RETROSPETIVA SOBRE UM TEMPO QUE NÃO VOLTA / REVOLUTION AND FREEDOM: A RETROSPECTIVE ON A TIME THAT WON’T RETURN
“Recuerden que el escalón más alto que puede alcanzar la especie humana es ser revolucionario.” 1
Che Guevara
0. Nota prévia
Em 2022, o mote da XXII BIAC foi “We must take action” (Devemos agir), um apelo à ação que trouxe consigo, também uma reorganização interna da Fundação Bienal de Arte de Cerveira (FBAC) a dotando-a de uma dinâmica capaz de dar as múltiplas respostas que se exigem hoje às estruturas de criação e programação artística. Para o biénio 2023/24, a equipa curatorial quis fazer a pergunta “És Livre?” e colocar a FBAC, não apenas como a mais antiga (vulgo, a organizadora da bienal mais antiga), mas como dinamizadora de redes, parcerias e projetos que congregam os valores da Liberdade e da democracia no sentido mais amplo e progressista da pós-modernidade. Uma Revolução essencial para podermos falar, sempre, de futuro.
O presente texto tem como objetivo expor, a partir de uma perspetiva do que foi o trabalho desenvolvido desde 2022 e, em particular, ao longo do biénio 2023/24, a programação da FBAC que desemboca, agora, na organização da XXIII Bienal Internacional de Arte de Cerveira (BIAC). A batuta da escrita segue a partir dos conceitos de Revolução e de Liberdade e organiza-se em pontos e terá, aqui e ali, uma abordagem mais pessoal, considerando que este também é um biénio marcado pela extraordinária experiência da parentalidade, da gestação, ao nascimento e primeiros meses do meu primeiro filho.
1. Centenário do nascimento de Jaime Isidoro, o “pai das bienais”
Propus que se chamasse Ernesto, em homenagem a Ernesto Che Guevara (Argentina, 1928-1967),
o homem a quem apenas interessou a Revolução e nunca o Poder. A proposta não reuniu consenso e, em boa hora, houve acordo para que o meu filho se chamasse Jaime. Nessa escolha homenageio Jaime Isidoro (Portugal, 1924-2009), conhecido entre os cerveirenses como o “pai das bienais” e que tive o privilégio de conhecer em 2007, ano em que colaborei, pela primeira vez, numa BIAC. Esse que foi o meu tempo de chegada, foi o de partida de Jaime Isidoro, que acabaria por deixar o reino dos vivos em janeiro de 2009, ainda que a sua história de vida e tudo o que se realizou, se constituam como o legado que o reserva à eternidade porque, voltando a El Comandante: “Podrán morir las personas, pero jamás sus ideas.” A comemoração dos 100 anos de nascimento de Jaime Isidoro, a 21 de março de 2024, foi (é), aliás, um dos eixos fundamentais da programação da FBAC para o biénio 2023/2024 e que culmina agora com a organização da edição XXIII da bienal mais antiga da Península Ibérica.
Em bom tom da verdade, Jaime Isidoro é provavelmente um dos grandes responsáveis para que, em tempos de ditadura e servidão, Portugal tenha tido contacto com as vanguardas artísticas e tenha sido promovida a prática do colecionismo, essencial à sobrevivência do meio e dos seus protagonistas: os artistas. Foi com o grande objetivo de inscrever, de forma justa, o nome de Jaime Isidoro como um dos protagonistas da História da Arte Moderna e Contemporânea portuguesas, não apenas como artista, mas, sobretudo, como divulgador, galerista, colecionador, agitador cultural por excelência e construtor de pontes entre artistas, críticos, colecionadores, o poder político e os públicos, que a FBAC promoveu a realização do documentário “Jaime Isidoro: divulgador, colecionador, artista”. O plano inicial não previa que o dito filme fosse realizado por mim, mas as circunstâncias ditaram que assim fosse e ainda bem. Estreamos no dia 10 de abril de 2024, no Auditório
1 GARCÍA, Maria del Carmen Ariet e DETSCHMANN, David (edição) – Che Guevara, presente. Una antologia mínima. Centro de Estudios Che Guevara / Ocen Sur, 2004. Página 170.
do Museu de Serralves, a minutos do local onde Jaime Isidoro nasceu, no seu Porto de sempre.
A realização do filme levou-nos ao estabelecimento de outras parcerias e à necessidade de reunir mais apoios e, não tivesse sido Valadares (Vila Nova de Gaia) o lugar que Jaime Isidoro escolheu para inventar encontros e residências para artistas, e não tínhamos desafiado a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia a juntar-se a estas comemorações. Neste sentido, coincidindo com a organização da XXIII BIAC e com o assinalar dos primeiros Encontros Internacionais de Arte (Verão de 1974), o documentário terá nova apresentação no Cine-Teatro Eduardo Brazão e a Casa-Museu Teixeira Lopes / Galerias Diogo de Macedo acolhem a exposição “Jaime Isidoro e Vila Nova de Gaia: 50 anos depois dos I Encontros Internacionais de Arte”, com um programa de atividades paralelas que inclui um ciclo de performance (“Arte e Ação: Jaime Isidoro e a performance em Portugal”) e um jantar-debate intitulado “50 anos depois dos I Encontros Internacionais de Arte”.
O documentário será também apresentado em Vila Nova de Cerveira durante a XXIII BIAC, no renovado Palco das Artes, e, com direito a páginas neste catálogo, teremos ainda tempo e espaço para a exposição, essencialmente documental, “Jaime Isidoro: o pai das bienais”, na Biblioteca Municipal local, que destacará a ação de Jaime Isidoro enquanto diretor artístico de cinco edições do evento e outros contributos para uma história com quase 50 anos.
O centenário de nascimento, bem como os 70 anos da Galeria Alvarez, aberta a 4 de maio de 1954, foram efemérides assinaladas de diferentes modos, nunca esquecendo que o mais importante do legado de Jaime Isidoro é sermos capazes de fazer da sua ação passada, exemplo para o futuro.
Durante dez semanas, repartidas pelos meses de fevereiro, março e abril de 1974, antes ainda de o país se encontrar no contexto de Liberdade, também criativa, que a Revolução dos Cravos proporcionou, a Galeria Alvarez e Jaime Isidoro realizaram o importante Ciclo Internacional Perspectiva 74. O programa incluía intervenções e exposições enquadradas no panorama da arte conceptual,
com enfoque no processo e com a colaboração de 13 participantes provenientes de seis países.
No questionamento sobre uma forma de homenagem a Jaime Isidoro que fosse mais do que um exercício de memória, partindo de um conjunto de conversas entre mim e João Ribas (PT, 1979), integramos no biénio de programação a exposição
PERSPETIVA 24. As nossas conversas, deambularam sobre o princípio da Liberdade e sobre qual a perspetiva da arte, dos artistas, dos agentes culturais em 2024, 50 anos depois de Revolução de 25 de abril de 1974, com o mundo em mudança, em guerra, em transe. PERSPETIVA 24 contou com uma seleção de 50 artistas, tantos quantos os anos que separam 1974 de 2024, todos nascidos em contexto de Liberdade e coincidindo, geracionalmente, com os curadores, naturais ou residentes em Portugal procurando-se traçar um retrato do tecido criativo nacional no campo das artes plásticas e visuais. Esta foi uma exposição que privilegiou a inclusão e a discriminação positiva de autores, buscando o equilíbrio de forças e de representações. Revolucionar, como Jaime Isidoro, dando voz a todos, correndo riscos e não fazendo escolhas de programação com motivações de lóbi ou de mercado. Antes, perseguindo a novidade.
2.
És Livre? _ Ciclos de programação em triângulo
Ao longo deste biénio, marcado por outra efeméride –os 50 anos da Revolução dos Cravos – questionamos os públicos, os artistas, curadores, colecionadores e outros protagonistas do meio artístico sobre a Liberdade. “És Livre?”, mais do que uma pergunta, foi o nosso grito de Ipiranga, a nossa forma de libertação, foi o mote para a Revolução que nos propusemos levar a cabo, renovando e afirmando a FBAC como uma estrutura de programação e criação artística atenta e promotora da vanguarda.
A programação da FBAC para o biénio 2023/24 organizou-se, assim, ao longo de quatro ciclos, sendo o quarto este em que se organiza a XXIII BIAC. Os ciclos foram pensados, inicialmente a quatro mãos, por mim e pela Mafalda Santos, que assumimos as rédeas da equipa curatorial e de programação, mas com alargamento às vozes que quisemos convocar para pensarem, gritarem connosco os temas
da Liberdade. Cada um destes ciclos desenhou-se numa espécie de triângulo que tinha como vértices:
• O acolhimento ou produção de uma grande exposição para o salão do Fórum Cultural de Cerveira. Neste sentido, acolhemos a Coleção Norlinda e José Lima, em depósito no Centro de Arte Oliva de São João da Madeira, produzindo uma exposição com curadoria interna; organizamos a supracitada exposição PERSPETIVA 24 e ainda a exposição É bonita a festa, pá!, que abordarei adiante.
• A organização do Livre Trânsito, programa de residências artísticas e intervenções que manteve, em permanência, artistas em Vila Nova de Cerveira, o que nos possibilitou, inclusive, a realização de um trabalho em articulação com o serviço educativo da FBAC, a ativação das oficinas do Fórum Cultural de Cerveira e a garantia de uma oferta pedagógica que aproximou os artistas dos públicos, mantendo esse ethos fundador e diferenciador das bienais de Cerveira.
• A organização de exposições, na Galeria Bienal de Cerveira – espaço que conquistamos, em definitivo, em 2022 – e que têm como ponto de partida a coleção da FBAC, convocando o olhar de curadores, nacionais e internacionais, externos. As abordagens do Raphael Fonseca, do Jorge da Costa e da Elisa Noronha permitiram-nos refletir sobre a coleção e reforçar a necessidade de pensar o projeto de edifício, com as condições adequadas, em que seja possível expor, de forma permanente, aquele que é o maior ativo da FBAC: a sua coleção, representativa da história da arte contemporânea, sobretudo, da que se escreve após o 25 de abril de 1974.
Não raras vezes, esta lógica de programação em triângulo expandiu para outras geometrias, sobretudo na resposta às parcerias que se foram surgindo, sobretudo no âmbito da RPAC – Rede Portuguesa de Arte Contemporânea, que ativamos com entusiasmo. O desafio foi sempre claro: questionar a Liberdade e envolver na pergunta
a maior diversidade e pluralidade de vozes possível, dando dimensão e cosmopolitismo a esta bienal.
Os ciclos de programação em triângulo reforçam também a presença da atividade na FBAC em Vila Nova de Cerveira, ligando o Fórum Cultural de Cerveira (numa das entradas da vila); ao centro histórico, propriamente dito com as exposições na Galeria Bienal de Cerveira (edifício dos antigos bombeiros); à Casa do Artista, na outra entrada, e que assinala, simbolicamente, o lugar das residências e do acolhimento aos artistas que nos escolhem para trilhar caminho.
3. Fora de portas: a internacionalização e a coleção em circulação
A ligação de Vila Nova de Cerveira à Galiza é já antiga e, ao longo de várias edições das BIAC, organizamos, em diferentes cidades, contextos e com diferentes entidades, exposições na Galiza. No final de 2022 há uma consagração dessa estratégia transfronteiriça com a exposição no Museu Provincial de Pontevedra, no rescaldo do que havia sido a XXII BIAC, com a nobreza que já se exigia. Também em 2018, com San Sperate - Paese Museo, na bonita ilha da Sardenha (Itália), local com o maior museu de pintura ao ar livre do mundo, se havia feito um exercício de saída de portas levando obras da coleção. Com as gentes de San Sperate estabelecemos laços duradoiros que nos fazem manter um intercâmbio cultural até ao presente.
Mas a grande internacionalização haveria de chegar e, no projeto proposto à Direção Geral das Artes, manifestávamos a vontade de levar obras da coleção a um país onde a comunidade portuguesa estivesse amplamente representada e fosse, também, identidade. Foi por isso com alegria e espanto que recebemos o convite da Art Macao, Bienal Internacional de Arte de Macau 2023, por intermédio do Turismo do Porto e Norte de Portugal, para representarmos Portugal. “A Estatística da Fortuna” era o tema da Art Macao, que apresentava obras da autoria de mais de 200 artistas, representativos de mais de 20 países e regiões.
Para o Armazém do Boi preparámos “A metafísica da sorte e a ciência do azar” com 27 obras
da nossa coleção, representativas de 8 países e 4 continentes. Reconhecendo o valor da experiência que nos foi proporcionada e a sua importância para a promoção, não só nossa, mas do contexto artístico português no mundo, não quisemos deixar de mostrar, nesta XXIII BIAC, esta exposição. Neste sentido, durante o verão, o Convento San Payo fará o acolhimento da mesma, considerando nós que o lugar reúne as condições para a narrativa que procurámos criar em Macau.
Mantendo esta estratégia fora de portas, parece-nos hoje evidente que é com a coleção que devemos expandir a nossa ação, otimizando, se possível, projetos de curadoria que refletem novos olhares sobre os objetos a que o tempo nos foi habituando. Foi com a coleção que estivemos na BIALE 2023 – I Bienal Internacional do Alentejo, que nos apresentamos na Sociedade Nacional de Belas Artes, que estabelecemos uma parceria com o Município de Valongo que culminou com uma exposição no Fórum Cultural de Ermesinde, e que estaremos na Linha de Água 2024, II Bienal de Arte Contemporânea de Trás-os-Montes
Com a coleção em circulação mantemos também viva a memória e o legado dos muitos artistas que por cá passaram e que nos ajudaram a escrever tantas estórias.
4.
O Brasil como país convidado
Já em 2024, o terceiro ciclo da programação da FBAC para o biénio 2023/24 foi dedicado ao Brasil, país convidado desta XXIII BIAC. A instituição do país convidado foi um dos motes da revolução a que nos propusemos e, já em 2022, tínhamos dedicado agenda ao Japão.
Porquê, desta vez, o Brasil? A relação entre Portugal e Brasil, para lá do achamento, da colonização e consequente exploração de que não devemos orgulhar-nos, é feita de estórias de torna-viagens, de construções e desenvolvimentos que o Atlântico não conseguiu separar. Em tempos tão conturbados como os que vivemos, com um crescimento tão avassalador das intolerâncias ao outro, do racismo e da xenofobia, é urgente que as
estruturas de criação e programação artística sejam exemplo de integração e o palco de todas as vozes.
“É bonita a festa, pá!” integrou, assim, artistas brasileiros residentes em Portugal e em outros países da Europa, tendo curadoria minha e de Cristiana Tejo, do projeto NowHere Lisboa, com sede no coração de Lisboa, foi fundado em 2018 pela curadora Cristiana Tejo e pela artista Marilá Dardot, ambas imigrantes brasileiras, e será hoje a maior plataforma de acolhimento e representação de artistas brasileiros em Portugal, afirmando-se nas áreas da tutoria curatorial, da formação e, sem dúvida, do que se define como curadoria política. Revelou-se, por isso, o melhor parceiro para evocar o que é hoje a presença da criação artística do Brasil na Europa e, nomeadamente, em Portugal.
Ao desafio inicial lançado pela FBAC, a equipa de curadores escolhida pelo NowHere Lisboa quis somar a dimensão histórica de construção coletiva das linguagens contemporâneas, trazendo para esta exposição a obra e a memória de artistas que foram, nos períodos marcados pelo Estado Novo em Portugal (1933-1974) e pela ditadura militar brasileira (1964-1985), vozes dissonantes e pontos de contacto.
A exposição somou, assim, um núcleo histórico e um conjunto de autores atuais e, ainda, um programa paralelo de atividades com a performance em destaque. No catálogo desta XXIII BIAC, para que fique em arquivo e não se apague da memória, apresentamos algumas imagens desta exposição, enquadradas pelo texto da Cristiana Tejo, outra das vozes que desafiamos a ser, connosco, Revolução e Liberdade.
5. Programar com a Escola e em rede
A importância do coletivo, o valor imbatível de trabalharmos uns com os outros, em prol de um mundo melhor, não obstante todas as teorias sobre a importância do funcionamento em rede, no final do dia, deveria ser apenas isto: mudar o mundo. Nem mais, nem menos. Ao longo deste período, para a FBAC,
fez todo o sentido que fôssemos mais uma força na dinâmica cultural que se foi construindo no país.
Foi com este espírito que estabelecemos um protocolo com o Plano Nacional das Artes e que alargamos a nossa ação para um trabalho mais consistente com os professores, oferecendo, inclusive, formação certificada que teve como ponto de partida os nossos ciclos de exposições e os seus conteúdos.
As nossas instalações foram também palco de um conjunto de oficinas criativas integradas no AMAM –Rede de Apoio a Migrantes no Alto Minho, um projeto com o objetivo de estreitar laços e promover o diálogo intercultural entre cidadãos migrantes e não migrantes com interesse em fazer parte da comunidade e expandir horizontes através da experimentação de práticas artísticas. As oficinas foram dinamizadas pela FBAC e inseriram-se na ação promovida pela Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira “Animação Territorial Intercultural” no âmbito do projeto “AMAM –Rede de Apoio a Migrantes no Alto Minho”, promovido pela Comunidade Intermunicipal do Alto Minho (CIM Alto Minho), tendo sido cofinanciado pelo Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração (FAMI). O projeto foi recentemente distinguido com uma menção honrosa no âmbito dos Prémios Acesso Cultura 2024.
Ainda antes de vermos o nosso projeto “Desaguar”, que se desenrolará também num triângulo que inclui o Município de Loulé (Algarve) e o Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas (Açores) aprovado no âmbito dos financiamentos pela Rede Portuguesa de Arte Contemporânea (RPAC) e que arrancará ainda este ano de 2024, já havíamos iniciado um processo de trabalho em parceria com outras estruturas da rede. Poderíamos aqui referir o Centro de Arte Oliva, São João da Madeira, que nos fez a cedência de obras da Coleção Norlinda e José Lima para duas exposições; ou a Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva com quem pensámos a exposição “Exilados: do arquivo de Henrique Silva aos artistas em Paris”, que integrou o segundo ciclo da programação e que também contou com a colaboração da Fundação Calouste Gulbenkian.
Ou, ainda, a Fundação Cupertino de Miranda (Vila Nova de Famalicão), com quem organizamos a homenagem a Isabel Meyrelles (PT, 1929), um caso raro de criação no feminino
no contexto do surrealista português e, ainda, um caso raríssimo de uma vida no exercício da Liberdade nas condições mais adversas.
6. O (nosso) museu a céu aberto: desejos de futuro
Ao longo de quase 50 anos de história e desde o primeiro dia, que as BIAC foram responsáveis por transformar o espaço público local num verdadeiro museu ao ar livre e num espaço de expansão da ação intramuros e, acima de tudo, reflexo de como esta bienal transformou este território. Com perto de seis dezenas de obras, número considerável para a extensão do seu território, sobretudo, mais urbano, Vila Nova de Cerveira é um caso raro de equilíbrio entre o desenvolvimento e o respeito pela paisagem, tendo na obra de arte de espaço público o barómetro de tudo isto.
Também neste biénio, no âmbito do Educarte –Mostra de Arte Infantojuvenil estreitamos estes laços entre a comunidade e o seu território, desenvolvendo um projeto piloto com as escolas que promoveu o contacto dos artistas do nosso espaço público e das suas obras com os mais novos. Começamos com Zadok Ben-David (YE, 1949) e seguiremos caminho com outros, desafiando a edilidade a não parar de investir na arte em espaço público e na construção deste espaço democrático que é a rua.
No âmbito da XXIII BIAC, foi lançado o convite a San Sperate – Paese Museo e ao artista sardo Angelo Pinolli para criarem uma pintura mural que, partindo das raízes agrícolas e piscatórias do Alto Minho, não deixasse de questionar a liberdade. A obra figurará na fachada norte da Cooperativa Agrícola de Vila Nova de Cerveira.
7.
Nota final
A explanação das estratégias que pautaram a ação neste biénio de programação tinha apenas como objetivo único que, depois de tudo, se passasse a dizer que esta XXIII BIAC, não obstante manter o concurso internacional e homenagem a uma artista consagrada, pretende celebrar a vanguarda e assinalar a rutura, passando a ter uma exposição de artistas convidados com projeto curatorial e não abdicando de levar a arte e os artistas a todas as freguesias
do concelho, repetindo o sucesso de um dos projetos de 2022, com curadoria da Mafalda Santos.
Chegamos a esta XXIII BIAC com a consciência de que conseguimos ser globais e ser locais, estabelecer redes e criar projetos, renovar a confiança dos artistas e do meio na nossa estrutura e, acima de tudo, dotar a FBAC de uma estrutura capaz do futuro e, sempre, da novidade.
“Remember that the highest step that the human species can reach is to be a revolutionary.” 2
Che Guevara
0. Preliminary note
In 2022, the motto of the 22nd BIAC was “We must take action”, a call to action that also brought with it an internal reorganisation of the Foundation Art Biennial of Cerveira (FBAC), giving it a dynamic capable of providing the multiple responses that are required today from artistic creation and programming structures. For the 2023/24 biennium, the curatorial team wanted to ask the question “Are you Free?” and place the FBAC not only as the oldest (aka the organiser of the oldest biennial), but as a driving force behind networks, partnerships and projects that bring together the values of Freedom and democracy in the broadest and most progressive sense of post-modernity. A revolution that is essential if we are ever to be able to talk about the future.
The aim of this text is to present, from a perspective of the work carried out since 2022 and, in particular, during the 2023/24 biennium, the FBAC’s programming, which is now culminating in the organisation of the 23rd Cerveira International Art Biennial (BIAC). The writing is based on the concepts of Revolution and Freedom and is organised into points and will, here and there, take a more personal approach, considering that this is also a biennium marked by the
extraordinary experience of parenthood, from pregnancy to the birth and first moments of my first child.
1. Centenary of the birth of Jaime Isidoro, the “father of biennials”
I proposed that he should be called Ernesto, in honour of Ernesto Che Guevara (Argentina, 1928-1967), the man whose only interest was the Revolution and never Power. There was no consensus on the proposal and, in good time, it was agreed that my son would be called Jaime. In this choice, I pay homage to Jaime Isidoro (Portugal, 1924-2009), known among the locals as the “father of biennials” and whom I had the privilege of meeting in 2007, the year I collaborated for the first time in a BIAC. What was my time of arrival was Jaime Isidoro’s time of departure. He ended up leaving the realm of the living in January 2009, although his life history and all that he achieved are his legacy for eternity because, returning to El Comandante: “People may die, but never their ideas”. The celebration of the 100th anniversary of Jaime Isidoro’s birth, on March 21st 2024, was (is), in fact, one of the fundamental axes of the FBAC’s programme for the 2023/2024 biennium, which now culminates with the organisation of the 23rd edition of the oldest biennial in the Iberian Peninsula.
In all honesty, Jaime Isidoro is probably one of the people most responsible for the fact that, in times of dictatorship and servitude, Portugal had contact with the artistic avant-garde and the practice of collecting was promoted, which was essential for the survival of the medium and its protagonists: the artists. It was with the great aim of justly inscribing Jaime Isidoro’s name as one of the protagonists of Portuguese Modern and Contemporary Art History, not only as an artist, but above all as a promoter, gallery owner, collector, cultural agitator par excellence and bridge-builder between artists, critics, collectors, political power and the public, that FBAC promoted the making of the documentary “Jaime Isidoro: promoter, collector, artist”. The initial plan did not foresee that the film would be directed by me, but circumstances dictated that it would be so, and thankfully. The premiere
2 GARCÍA, Maria del Carmen Ariet and DETSCHMANN, David (edition) – Che Guevara, present. A minimal anthology. Che Guevara Study Centre / Ocen Sur, 2004. Page 170.
took place on April 10th 2024, in the Auditorium of the Serralves Museum, minutes from the place where Jaime Isidoro was born, in his usual Porto.
The making of the film led us to establish other partnerships and the need to gather more support, and if it hadn’t been for Valadares (Vila Nova de Gaia) being the place Jaime Isidoro chose to hold meetings and residencies for artists, we wouldn’t have challenged the Vila Nova de Gaia Municipality to join in these celebrations. In this sense, coinciding with the organisation of the 23rd BIAC and the marking of the first International Art Meetings (Summer 1974), the documentary will be shown again at the cinema-theatre Eduardo Brazão and the House-Museum Teixeira Lopes / Diogo de Macedo Galleries will host the exhibition “Jaime Isidoro and Vila Nova de Gaia: 50 years after the 1st International Art Meetings”, with a programme of parallel activities including a performance cycle (“Art and Action: Jaime Isidoro and performance in Portugal”) and a dinner-debate entitled “50 years after the 1st International Art Meetings”.
The documentary will also be presented in Vila Nova de Cerveira during the 23rd BIAC, on the renovated Palco das Artes, and, with the opportunity to include pages in this catalogue, we will also have time and space for the essentially documentary exhibition, “Jaime Isidoro: the father of the biennials”, at the local Municipal Library, which will highlight Jaime Isidoro’s work as artistic director of five editions of the event and other contributions to a history of almost 50 years.
The centenary of his birth, as well as the 70th anniversary of the Galeria Alvarez, which opened on May 4th, 1954, were marked in different ways, never forgetting that the most important thing about Jaime Isidoro’s legacy is that we are able to make his past work an example for the future.
For ten weeks, spread over the months of February, March and April 1974, even before the country found itself in the context of the creative freedom that the Carnation Revolution brought, Galeria Alvarez and Jaime Isidoro organised the important Perspective 74 International Cycle. The programme included interventions
and exhibitions framed within the conceptual art panorama, focusing on process and with the collaboration of 13 participants from six countries.
Questioning how to pay homage to Jaime Isidoro in a way that was more than an exercise in memory, based on a series of conversations between myself and João Ribas (PT, 1979), we integrated the PERSPECTIVE 24 exhibition into the programming biennium. Our conversations rambled on about the principle of Freedom and what the outlook is for art, artists and cultural agents in 2024, 50 years after the Revolution of 25th of April 1974, with the world changing, at war, in a trance. PERSPECTIVE 24 featured a selection of 50 artists, as many as the years between 1974 and 2024, all born in a context of Freedom and coinciding, generationally, with the curators, born or resident in Portugal, seeking to draw a portrait of the national creative fabric in the field of visual arts. This was an exhibition that favoured the inclusion and positive discrimination of authors, seeking a balance of forces and representations. Revolutionise, like Jaime Isidoro, by giving everyone a voice, taking risks and not making programming choices for lobbying or market reasons. Rather, pursuing novelty.
2. Are You Free? _Triangle programming cycles
Throughout this biennium, marked by another ephemeris - the 50th anniversary of the Carnation Revolution - we questioned audiences, artists, curators, collectors and other protagonists in the art world about Freedom. “Are you Free?”, more than a question, was our cry of independence, the motto for the Revolution we set out to carry out, renewing and affirming the FBAC as a structure for artistic programming and creation that is attentive to and promotes the avant-garde.
The FBAC’s programme for the 2023/24 biennium has thus been organised over four cycles, the fourth being the one in which the 23rd BIAC is being organised. The cycles were initially devised by myself and Mafalda Santos, who took over the reins of the curatorial and programming team, but with the voices we wanted to summon to think and shout
with us about the themes of Freedom. Each of these cycles was drawn in a kind of triangle with vertices:
The hosting or production of a major exhibition for the Cerveira Cultural Forum hall. With this in mind, we took in the Norlinda and José Lima Collection, on loan at the Oliva Art Centre in São João da Madeira, producing an exhibition curated in-house; we organised the aforementioned exhibition PERSPECTIVE 24 and also the exhibition It’s a beautiful celebration, friend!, which I will address below.
The organisation of Livre Trânsito, a programme of artistic residencies and interventions that kept artists permanently in Vila Nova de Cerveira, which also enabled us to work in conjunction with the FBAC’s educational service, to activate the workshops at the Cerveira Cultural Forum and to guarantee an educational offer that brought the artists closer to the public, maintaining that founding ethos that sets the Cerveira biennials apart.
The organisation of exhibitions at the Cerveira Biennial Gallery - a space that we conquered permanently in 2022 - which take the FBAC’s collection as a starting point, inviting the gaze of external national and international curators. The approaches from Raphael Fonseca, Jorge da Costa and Elisa Noronha allowed us to reflect on the collection and reinforce the need to think about the design of a building, with the right conditions, in which it will be possible to permanently exhibit what is the FBAC’s greatest asset: its collection, representative of the history of contemporary art, especially that written after the 25th of April 1974.
Often, this triangular programming logic has expanded to other geometries, especially in response to the partnerships that have emerged, particularly in the context of RPAC - Rede Portuguesa de Arte Contemporânea (Portuguese Contemporary Art Network), which we activate with enthusiasm. The challenge was always clear: to question Freedom and to involve the greatest possible diversity and plurality of voices in the question, giving dimension and cosmopolitanism to this biennial.
The triangular programming cycles also reinforce the presence of FBAC activity in Vila Nova de Cerveira, linking the Cerveira Cultural Forum (at one of the town’s entrances); the historic centre itself with
the exhibitions at the Galeria Bienal de Cerveira (the old fire station building); and the Casa do Artista (Artist’s House), at the other entrance, which symbolically marks the place of the residencies and the welcome for the artists who choose us as their path.
3. Out of doors: internationalisation and the collection in circulation
Vila Nova de Cerveira’s connection with Galicia goes back a long way and, over the course of several BIAC editions, we have organised exhibitions in Galicia in different cities, contexts and with different organisations. At the end of 2022, this cross-border strategy was consecrated with the exhibition at the Provincial Museum of Pontevedra, in the aftermath of the 22nd BIAC, with the nobility that was already required. Also in 2018, San Sperate - Paese Museo, on the beautiful island of Sardinia (Italy), home to the largest open-air painting museum in the world, carried out an out-of-doors exercise with works from the collection. With the people of San Sperate we have established long-lasting ties that have kept us engaged in cultural exchange to this day.
But the great internationalisation would come and, in the project proposed to the Directorate General for the Arts, we expressed our desire to take works from the collection to a country where the Portuguese community was widely represented and also had an identity. It was therefore with joy and amazement that we received the invitation from Art Macao, the Macao International Art Biennale 2023, through the Porto and Northern Portugal Tourist Board, to represent Portugal. “The Statistics of Fortune” was the theme of Art Macao, which featured works by more than 200 artists, representing more than 20 countries and regions.
For Armazém do Boi we have prepared “The metaphysics of luck and the science of misfortune” with 27 works from our collection, representing 8 countries and 4 continents. Recognising the value of the experience we were given and its importance for promoting not only ourselves, but the Portuguese art scene around the world, we didn’t want to miss out on showing this exhibition at the 23rd BIAC. In this sense, during the summer, the San Payo Convent will host
it, as we believe that the place fulfils the conditions for the narrative that we sought to create in Macao.
While maintaining this strategy out of doors, it seems clear to us today that it is with the collection that we should expand our action, optimising, if possible, curatorial projects that reflect new perspectives on the objects that time has accustomed us to. It was with the collection that we were at BIALE 2023 - 1st International Biennial of the Alentejo, that we presented ourselves at the National Society of Fine Arts, that we established a partnership with the Municipality of Valongo that culminated in an exhibition at the Ermesinde Cultural Forum, and that we will be at Linha de Água 2024, 2nd Biennial of Contemporary Art of Trás-os-Montes.
With the collection in circulation, we also keep alive the memory and legacy of the many artists who have passed through here and helped us write so many stories.
4. Brazil as guest country
In 2024, the third cycle of the FBAC programme for the 2023/24 biennium was dedicated to Brazil, the guest country of this 23rd BIAC. The institution of the guest country was one of the mottos of the revolution we set out to achieve and, as early as 2022, we had dedicated an agenda to Japan.
Why Brazil this time? The relationship between Portugal and Brazil, beyond the discovery, colonisation and consequent exploitation that we should not be proud of, is made up of stories of return journeys, of constructions and developments that the Atlantic could not separate. In such troubled times as we are living in, with such an overwhelming growth in intolerance towards others, racism and xenophobia, it is urgent that the structures of artistic creation and programming be an example of integration and the stage for all voices.
“It’s a beautiful celebration, friend!” thus included Brazilian artists living in Portugal and other European countries, curated by myself and Cristiana Tejo, from the NowHere Lisbon project, based in the heart of Lisbon, which was founded in 2018 by curator Cristiana Tejo and artist Marilá Dardot,
both Brazilian immigrants, and is today the largest platform for welcoming and representing Brazilian artists in Portugal, asserting itself in the areas of curatorial mentoring, training and, undoubtedly, what is defined as political curatorship. It has therefore proved to be the best partner to evoke what is today the presence of Brazilian artistic creation in Europe and, in particular, in Portugal.
To the initial challenge set by the FBAC, the team of curators chosen by NowHere Lisboa wanted to add the historical dimension of the collective construction of contemporary languages, bringing to this exhibition the work and memory of artists who were, in the periods marked by the Estado Novo in Portugal (1933-1974) and the Brazilian military dictatorship (1964-1985), dissonant voices and points of contact.
The exhibition thus included a historical section and a group of current authors, as well as a parallel programme of activities with performance in the spotlight. In the catalogue of this 23rd BIAC, so that it remains on file and doesn’t fade from memory, we present some images from this exhibition, framed by the text by Cristiana Tejo, another of the voices we challenge to be, with us, Revolution and Freedom.
5. Programming with the School and in a network
The importance of the collective, the unbeatable value of working with each other in favour of a better world, despite all the theories about the importance of networking, at the end of the day, should be just that: changing the world. Nothing more, nothing less. Throughout this period, it made perfect sense for FBAC to be another force in the cultural dynamic that was being built in the country.
It was in this spirit that we established a protocol with the National Arts Plan and extended our activities to more consistent work with teachers, including offering certified training based on our exhibition cycles and their content.
Our facilities were also the stage for a series of creative workshops as part of AMAM - Support Network for Migrants in Alto Minho, a project with the aim of strengthening ties and promoting intercultural dialogue between migrant and non-migrant
citizens interested in being part of the community and expanding horizons through experimenting with artistic practices. The workshops were organised by FBAC and were part of the action promoted by the Municipality of Vila Nova de Cerveira entitled “Intercultural Territorial Animation,” within the scope of the project “AMAM - Support Network for Migrants in Alto Minho,” promoted by the Alto Minho Intermunicipal Community (CIM Alto Minho) and co-financed by the Fund for Asylum, Migration and Integration (FAMI). The project has recently received an honourable mention in the context of the Access to Culture 2024 Awards.
Even before we see our “Desaguar” project, which will also take place in a triangle that includes the Municipality of Loulé (Algarve) and the Arquipélago - Contemporary Arts Centre (Azores) approved for funding by the Portuguese Contemporary Art Network (RPAC) and which will start up this year, 2024, we had already begun a process of working in partnership with other structures in the network. We could mention the Oliva Art Centre, in São João da Madeira, which lent us works from the Norlinda and José Lima Collection for two exhibitions; or the Arpad Szenes - Vieira da Silva Foundation, with whom we planned the exhibition “Exiled: from Henrique Silva’s archive to artists in Paris”, which was part of the second cycle of the programming and which also had the collaboration of the Calouste Gulbenkian Foundation.
We could mention the Oliva Art Centre, in São João da Madeira, which lent us works from the Norlinda and José Lima Collection for two exhibitions; or the Arpad Szenes - Vieira da Silva Foundation, with whom we planned the exhibition “Exiled: from Henrique Silva’s archive to artists in Paris”, which was part of the second cycle of the programming and which also had the collaboration of the Calouste Gulbenkian Foundation. Or the Cupertino de Miranda Foundation (Vila Nova de Famalicão), with whom we organised the tribute to Isabel Meyrelles (PT, 1929), a rare case of female creation in the context of the Portuguese surrealists and also a very rare case of a life spent exercising freedom in the most adverse conditions.
6. (our) open-air museum: wishes for the future
Over the course of its almost 50-year history and from day one, BIAC has been responsible for transforming the local public space into a true open-air museum
and a space for expanding intramural action and, above all, a reflection of how this biennial has transformed this territory. With nearly 60 artworks, a considerable number for the size of its mainly urban territory, Vila Nova de Cerveira is a rare case of balance between development and respect for the landscape, with the artwork in the public space being the barometer of all this.
Also during this biennium, within the scope of Educarte – Children’s Art Exhibition, we strengthened these ties between the community and its territory, developing a pilot project with schools that promoted contact between the artists of our public space and their works with young people. We started with Zadok Ben-David (YE, 1949) and will continue with others, challenging the municipality not to stop investing in art in public spaces and in the construction of this democratic space that is the street.
As part of the 23rd BIAC, San Sperate - Paese Museo and the Sardinian artist Angelo Pinolli were invited to create a mural painting that, based on the agricultural and fishing roots of Alto Minho, would not fail to question freedom. The work will appear on the north façade of the Vila Nova de Cerveira Agricultural Cooperative.
7. Final note
The sole purpose of explaining the strategies that have guided the action in this two-year programme was to say that this 23rd BIAC, despite maintaining the international competition and the tribute to an established artist, intends to celebrate the avant-garde and mark a rupture, by having an exhibition of guest artists with a curatorial project and without giving up on taking art and artists to all the parishes in the municipality, repeating the success of one of the 2022 projects, curated by Mafalda Santos.
We arrive at this 23rd BIAC realising that we have succeeded in being both global and local, in establishing networks and creating projects, in renewing the confidence of artists and the environment in our structure and, above all, in providing the FBAC with a structure capable of the future and, always, of novelty.
Translated by Rita Fonseca
MAFALDA SANTOS
Diretora Artística da XXIII Bienal Internacional de Arte de Cerveira / Artistic Director of the XXIII Cerveira International Art Biennial
O PRESENTE VOLTADO PARA O FUTURO / THE PRESENT WITH AN EYE TO THE FUTURE
“Democracy is built on the ability of all people to participate, to speak, to create. Art is an expression of that participation and a reflection of our democratic freedom.”
Rebecca Solnit
O legado histórico e cultural erigido pela Bienal Internacional de Arte de Cerveira é fruto da ação de um grupo de artistas, motivados pelos valores democráticos da Revolução de Abril de 1974, alimentada pelo sonho de descentralizar e democratizar o acesso à arte e à cultura e conectar Portugal com o mundo. A Bienal Internacional de Arte de Cerveira surge na sequência dos Encontros Internacionais de Arte promovidos por Jaime Isidoro (Galeria Alvarez) e Egídio Álvaro da Revista de Artes Plásticas. No desdobrável dos Quintos Encontros Internacionais de Arte em Portugal, de 1978, que deram origem à I Bienal Internacional de Arte de Cerveira, encontravam-se elencadas as seguintes propostas:
• Convite a um trabalho criativo
• Activação das potencialidades criadoras
• Posição crítica
• Estudo de esquemas de ensino
• Panorama da Arte Portuguesa
• Descentralização artística
• Trabalho colectivo
• Trabalho individual
• Confronto de experiências
• Diálogo com as populações
• O presente voltado para o futuro
• A vanguarda na arte
• O previsto e o imprevisto
Passados 46 anos e 22 Bienais Internacionais de Arte de Cerveira, a visão artística e política deste grupo de artistas fundadores da Bienal de Cerveira, que foram a base destas propostas, continuam a ser o grande motor de ação e motivação da Fundação Bienal de Arte de Cerveira hoje.
Perante um “mundo composto de mudança”, hoje ameaçado pela guerra, a contra informação,
a ascensão da extrema direita, os mundos ainda desconhecidos da IA, o progressivo estrangulamento do espaço público e cívico, a luta pela arte e pela liberdade não tem fim. E é com base na crença de que a verdadeira democracia, se faz com espaço para a manifestação, a disrupção, a partilha, a criação e o pensamento crítico, que lançamos a pergunta: “És Livre?”. Convidamos para XXIII BIAC, artistas, pensadores, espectadores e participantes a refletir sobre esta pergunta, que nos lança numa exploração mais alargada sobre o tema da liberdade. No ano em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril em Portugal, esta reflexão faz-se de forma transtemporal, lançando um olhar sobre aquilo que foi e que ainda não se cumpriu, sobre o legado que recebemos da Revolução dos Cravos: onde nos encontramos agora e para onde caminhamos.
Com o objetivo de pensar a liberdade, o Concurso Internacional da XXIII BIAC, procurou propostas artísticas dentro desta temática, que pudessem refletir sobre o presente e fazer eco das principais questões da contemporaneidade, na afirmação dos valores da liberdade, igualdade, diversidade e representatividade de minorias, promovendo a criação artística contemporânea como fator de empoderamento dos cidadãos e do território.
Das 469 propostas submetidas, de artistas de 56 países, o Júri de Seleção do Concurso Internacional da XXIII Bienal Internacional de Arte de Cerveira, composto por
Mafalda Santos (membro da equipa curatorial e de programação da FBAC), Jose Antonio Castro Muñiz (artista e professor da Faculdade de Belas Artes de Pontevedra da Universidade de Vigo), Marta Mestre (diretora artística do Centro Internacional das Artes José de Guimarães e Artes Visuais), Tales Frey (artista transdisciplinar) e Marta Almeida (diretora adjunta do Museu de Serralves), selecionou 56 obras e 5 intervenções artísticas, na área da performance, representando cinquenta e um artistas, oriundos de doze países. O Concurso
Internacional contou com uma grande participação, para além da nacional, de artistas oriundos do Brasil, país convidado desta XXIII BIAC.
A seleção de obras do Concurso Internacional, reúne uma amostra das práticas artísticas contemporâneas, nos mais diversos meios: da pintura, escultura, vídeo, instalação, ao trabalho com têxtil, vidro, e outros materiais. A estruturação da exposição e agrupamento das obras procura realçar as problemáticas atuais associadas à liberdade, individual e coletiva. Na esfera coletiva - a condição do indivíduo na sua relação com as hierarquias do poder e de controlo; com as narrativas do passado; a sua relação com a paisagem e o território; e na esfera privada - os espaços de liberdade/não liberdade associados à condição da mulher, da pessoa trans, do estrangeiro ou do trabalhador. Na diversidade das propostas artísticas encontramos afinidades discursivas e formais, que atravessam fronteiras, contextos sociais e universos pessoais, numa tessitura que a linguagem universal da arte permite. Desta forma, esta mostra procura simultaneamente apresentar-se como um espaço que alberga várias vozes, um espaço de liberdade, onde a poética e política de cada um se pode afirmar, enquanto estabelece um espaço de diálogo no presente
Lançado o desafio de pensar a liberdade, o projeto curatorial para a exposição dos Artistas Convidados da XXIII BIAC, reúne 26 artistas de diferentes gerações e geografias, com obras inéditas, ou especificamente selecionadas pela pertinência e afinidade com o tema proposto.
As obras em pintura, desenho, vídeo, fotografia, instalação, organizadas segundo diferentes núcleos, estabelecem ligações e narrativas cruzadas. Dos Estados Unidos, à Dinamarca, de Portugal, ao Brasil, Espanha, Angola e Moçambique, nas obras dos artistas podemos destacar diferentes abordagens e perspetivas transversais que se prendem com questões associadas à liberdade. Destes diferentes núcleos podemos destacar a afirmação da liberdade do gesto artístico, o questionamento da nossa história e legado colonial, as lutas de poder e de memória, da liberdade de identificação e afirmação de género,
a força política e poética das palavras, o humor e a vitalidade da dança entre a vida e a morte.
Assente numa proposta algo paradoxal, a exposição procura revelar a natureza inerente do trabalho dos artistas como agentes ativos na resistência aos paradigmas estabelecidos, capazes de despertar consciências, mobilizar coletivos e transformar realidades, como guardiões e praticantes da liberdade, sempre.
Ao longo de toda a XXIII BIAC, dando continuidade ao projeto “De Vila das Artes a Município para as Artes”, iniciado em 2022, na XXII BIAC, o projeto de residências e intervenções artísticas “Livre Trânsito”, procura simultaneamente afirmar Vila Nova de Cerveira como território de ação e criação artística, estabelecendo uma relação entre a Casa do Artista Jaime Isidoro, os espaços oficinais e das galerias do Fórum Cultural de Cerveira, bem como as freguesias de Vila Nova de Cerveira. Este projeto visa apoiar a criação artística e promover a experimentação, convidando os artistas em residência a explorar e a conhecer o território, promovendo o encontro direto entre artistas, a comunidade e os seus públicos. Este projeto recupera a dinâmica das primeiras bienais, em torno das oficinas e atividades envolvendo a população, descentralizando a sua atividade para as zonas mais rurais do município.
Destacados para as 15 freguesias de Vila Nova de Cerveira - de Campos, Candemil e Gondar, Cerveira e Lovelhe, Cornes, Covas, Gondarém, Loivo, Mentrestido, Reboreda e Nogueira, Sapardos e Sopo - artistas oriundos de Portugal, Espanha, Equador, Dinamarca, Estados Unidos e China, irão desenvolver as suas propostas artísticas aplicadas à paisagem e ao património. Adotando diferentes formas de abordagem, propõem-se projetos de caráter colaborativo, oficinas, performance, instalações, obras em cerâmica, vídeo, desenho, fotografia. Destas intervenções pode-se destacar o enfoque nas relações entre natureza, paisagem e política comum; a relação do indivíduo com o seu meio, investigando as histórias e narrativas locais, ancestrais e contemporâneas, através de objetos encontrados, material de arquivo, registos fotográficos e recolha de depoimentos; a performance e improvisação sonora e audiovisual, como ativadora e catalisadora
de relação, de deriva e de reflexão; o poder da arte e da palavra, na “descolonização de mentalidades” e no empoderamento dos indivíduos em comunidade.
Valorizando a especificidade de cada lugar e dos seus habitantes, este projeto pretende revelar-se como uma oportunidade de criação de trabalho de campo, que em colaboração com indivíduos, associações e estruturas locais, promova a literacia para as artes, abrindo uma janela para o mundo onde podemos imaginar o presente e sonhar o futuro.
O trabalho de campo no território de Vila Nova de Cerveira, mais especificamente na freguesia de Covas, será também o ponto de partida do campo criativo ĖuroFÄBŘIQŪĘ Art Camp que terá lugar de 23 a 27 de setembro, no âmbito da XXIII Bienal Internacional de Arte de Cerveira.
O ĖuroFÄBŘIQŪĘ trata-se de um projeto criativo para jovens do ensino superior de artes e design, que teve origem em fevereiro de 2022, com a sua primeira edição no Grand Palais Éphémère, em Paris, numa parceria do GrandPalaisRmn, a École des Arts Décoratifs Paris, e a ANdEA (Associação Nacional de Escolas Superiores de Arte) - no âmbito da Presidência Francesa do Conselho da União Europeia.
A FBAC é parceira desta iniciativa juntamente com as entidades: ANdEA (Associação Nacional de Escolas Superiores de Arte), Gip Le Signe – Centre National Du Graphisme, em França, e a Asociatia Clusterul de Industrii Creative Transilvania, na Roménia.
Cofinanciado pelo programa da Europa Criativa da União Europeia, no âmbito deste projeto estão a ser desenvolvidos 3 campos criativos, com o objetivo de envolver ativamente os jovens criativos europeus na reflexão sobre os principais desafios enfrentados pela Europa. A FBAC irá acolher o último campo, a partir da temática da bienal “ÉS LIVRE?”, em colaboração com Susana Gaudêncio (artista, investigadora, professora auxiliar e diretora da Licenciatura em Artes Visuais, da Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho) e Sofia Gonçalves (designer, investigadora e professora auxiliar da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, no Departamento de Design de Comunicação), com o
objetivo específico de construir colaborativamente um manifesto curatorial com os seus participantes.
A abordagem deste campo criativo em Cerveira evolui a partir da questão central de como podemos pensar coletivamente a “ideia de Europa”, através da lente de “diferentes Europas”, e da sua diversidade intrínseca. Com a premissa do local para o global, da periferia para o centro, este acampamento convida alunos de 11 escolas europeias do ensino superior em artes, design e curadoria, a interagir com o contexto específico de Vila Nova de Cerveira, para refletir sobre como este pode espelhar os valores fundamentais e as questões prementes da Europa, e sensibilizar para o papel dos artistas e dos designers enquanto agentes de transformação para uma sociedade mais interventiva, inclusiva e tolerante.
“Democracy is built on the ability of all people to participate, to speak, to create. Art is an expression of that participation and a reflection of our democratic freedom.”
Rebecca Solnit
The historical and cultural legacy erected by the Cerveira International Art Biennial is the result of the actions carried out by a group of artists, motivated by the democratic values of the 1974 April Revolution, fuelled by the dream of decentralising and democratising access to art and culture and connecting Portugal with the world. The Cerveira International Art Biennial emerged due to the International Art Encounters organised by Jaime Isidoro (Alvarez Gallery) and Egídio Álvaro of the “Plastic Arts Magazine”. The leaflet for the Fifth International Art Encounters in Portugal in 1978, which gave rise to the First Cerveira International Art Biennial, listed the following proposals:
• Invitation to creative work
• Activation of creative potential
• A critical stance
• Study of teaching schemes
• Panorama of Portuguese Art
• Artistic decentralisation
• Collective work
• Solo work
• Clash of experiences
• Dialogue with the people
• The present with an eye to the future
• The avant-garde in art
• The foreseen and the unforeseen
After 46 years and 22 Cerveira International Art Biennials, the artistic and political vision of this group of founding artists of the Cerveira Biennial, who were the basis of these proposals, continue to be the great driving force behind the action and motivation of the Cerveira Art Biennial Foundation today.
Faced with a “world composed of change”, currently threatened by war, counter-information, the rise of the extreme right, the still unknown worlds of AI, the progressive strangulation of public and civic space, the struggle for art and freedom has no end. And it is based on the belief that true democracy is made up of space for manifestation, disruption, sharing, creation and critical thinking that we pose the question: “Are you Free?”. We invite artists, thinkers, spectators and participants to reflect on this question, which sets us off on a deeper exploration into the concept of freedom.
In the year that marks the 50th anniversary of 25 April in Portugal, this reflection is made in a transtemporal way, taking a look at what has been and what has not yet been fulfilled, at the legacy we have inherited from the Carnation Revolution: where we are now and where we are heading.
With the aim of thinking about freedom, the International Competition of the XXIII BIAC sought artistic proposals within this theme that could reflect on the present and echo the main issues of contemporaneity, affirming the values of freedom, equality, diversity and representation of minorities, promoting contemporary artistic creation as a factor in the empowerment of citizens and the territory.
Out of the 469 proposals submitted, by artists from 56 countries, the Selection Panel for the International Competition of the XXIII Cerveira International Art Biennial, made up of Mafalda Santos (member of the FBAC curatorial and programme team), Jose Antonio Castro Muñiz (artist and professor at the Pontevedra Faculty of Fine Arts at the
University of Vigo), Marta Mestre (artistic director of the José de Guimarães International Centre for the Visual Arts), Tales Frey (transdisciplinary artist) and Marta Almeida (deputy director of the Serralves Museum) has selected 56 works and 5 art interventions in the field of performance, representing fifty-one artists from twelve countries. The International Competition had many artists from Brazil, the guest country of this XXIII BIAC.
The selection of works in the International Competition brings together a sample of contemporary artistic practices in a wide variety of media: from painting, sculpture, video, installation, to working with textiles, glass and other materials. The structuring of the exhibition and the grouping of the works seeks to emphasise the current issues associated with freedom, both individual and collective. In the collective sphere - the condition of the individual in their relationship with the hierarchies of power and control; with the narratives of the past; their relationship with the landscape and the territory; and in the private sphere - the spaces of freedom/non-freedom associated with the condition of women, trans people, foreigners and workers. In the diversity of the artistic proposals, we find discursive and formal affinities that cross borders, social contexts and personal universes, in a weaving that the universal language of art allows. In this way, this exhibition simultaneously seeks to present itself as a space that houses various voices, a space of freedom, where everyone’s poetics and politics can assert themselves, while establishing a space for dialogue in the present.
The curatorial project for the exhibition of Guest Artists at the XXIII BIAC has set itself the challenge of thinking about freedom. It brings together 26 artists from different generations and geographies, with unpublished works, or specifically selected for their relevance and affinity with the proposed theme.
The works in painting, drawing, video, photography and installation, organised according to different nuclei, establish cross-connections and narratives. From the United States to Denmark, from Portugal to Brazil, Spain, Angola and Mozambique, the artists’ works highlight different approaches and cross-cutting perspectives on issues associated with freedom. Among these different nuclei we can highlight
the affirmation of the freedom of the artistic gesture, the questions about our history and colonial legacy, the struggles of power and memory, the freedom of gender identification and affirmation, the political and poetic power of words, humour and the vitality of the dance between life and death.
Based on a sort of paradoxical proposal, the exhibition seeks to reveal the inherent nature of the artists’ work as active agents in resisting established paradigms, capable of awakening consciences, mobilising collectives and transforming realities, as guardians and practitioners of freedom, always.
Throughout the XXIII BIAC, and continuing the project “From Village of the Arts to Municipality for the Arts”, which began in 2022 at the XXII BIAC, the “Free Transit” artist-in-residence and art interventions project simultaneously seeks to affirm Vila Nova de Cerveira as a territory for artistic action and creation, establishing a relationship between the Jaime Isidoro Artist’s House, the workshop and gallery spaces of the Cerveira Cultural Forum, as well as the parishes of Vila Nova de Cerveira. This project aims to support artistic creation and promote experimentation, inviting artists in residence to explore and get to know the territory, and promoting direct encounters between artists, the community and their audiences. This project recovers the dynamics of the first biennials, featuring workshops and activities involving the population, decentralising its activity to the more rural areas of the municipality.
Assigned to the 15 parishes of Vila Nova de Cerveira - Campos, Candemil and Gondar, Cerveira and Lovelhe, Cornes, Covas, Gondarém, Loivo, Mentrestido, Reboreda and Nogueira, Sapardos and Sopo - artists from Portugal, Spain, Ecuador, Denmark, the United States and China will develop their artistic proposals applied to the landscape and heritage. The programme includes collaborative projects, workshops, performances, installations, ceramics, video, drawing and photography. These interventions focus on the relationship between nature, landscape and common politics; the relationship between individuals and their surroundings, investigating local, ancestral and contemporary stories and narratives through found objects, archive material, photographic records and the collection
of testimonies; performance and sound and audiovisual improvisation as an activator and catalyst for relationships, drift and reflection; the power of art and words in “decolonising mentalities’’ and empowering individuals in communities.
This project which values the specificity of each place and its inhabitants, aims to be an opportunity to create fieldwork that, in collaboration with individuals, associations and local structures, promotes literacy for the arts, and opens a window onto the world where we can imagine the present and dream about the future.
The fieldwork in Vila Nova de Cerveira, more specifically in the parish of Covas, will also be the starting point for the ĖuroFÄBŘIQŪĘ Art Camp, which will take place from 23 to 27 September as part of the XXIII Cerveira International Art Biennial.
ĖuroFÄBŘIQŪĘ is a creative project for young people in higher education in the arts and design, which began in February 2022 with its first edition at the Grand Palais Éphémère in Paris, in a partnership between the GrandPalaisRmn, the École des Arts Décoratifs Paris, and the ANdEA (National Association of Higher Art Schools) - as part of the French Presidency of the Council of the European Union.
FBAC is a partner in this initiative along with the following organisations: ANdEA (National Association of Higher Art Schools), Gip Le Signe - Centre National Du Graphisme, in France, and the Asociatia Clusterul de Industrii Creative Transilvania, in Romania.
Co-funded by the European Union’s Creative Europe programme, three creative camps are being developed as part of this project, with the aim of actively involving young European creatives in reflecting on the main challenges facing Europe. FBAC will host the last camp, based on the theme of the biennial “ÉS LIVRE?” (Are you free?), in collaboration with Susana Gaudêncio (artist, researcher, assistant professor and director of the Degree in Visual Arts at the School of Architecture, Art and Design at the University of Minho) and Sofia Gonçalves (designer, researcher and assistant professor at the Faculty of Fine Arts of the University of Lisbon, in the Department of Communication Design),
with the specific aim of collaboratively building a curatorial manifesto with its participants.
The approach of this creative camp in Cerveira stems from the central question of how we can collectively think about the “idea of Europe” through the lens of “different Europes” and their intrinsic diversity. With the premise of the local to the global, from
the periphery to the centre, this camp invites students from 11 European higher education schools in the arts, design and curating, to interact with the specific context of Vila Nova de Cerveira, to reflect on how it can mirror the fundamental values and pressing issues of Europe, and to raise awareness of the role of artists and designers as agents of transformation for a more intervening, inclusive and tolerant society.
PAULO PIRES DO VALE
Comissário do Plano Nacional das Artes/ Commissioner of the National Plan for the Arts
CRIATIVIDADE ÍNTIMA: A LIBERDADE E VERDADE DE SER / INTIMATE CREATIVITY: THE FREEDOM AND TRUTH OF BEING
Quando se pensa na importância da criatividade, é habitual ela ser colocada na órbita do fazer: criar coisas com criatividade, ter soluções criativas para os problemas, expressar-se criativamente usando os materiais e linguagens artísticas... Se essa experiência de ser criativo na produção de objetos, no uso dos materiais ou nas respostas dadas aos problemas é determinante para encarar o presente e o futuro na sua incerteza, há uma forma de criatividade a que me parece fundamental dar atenção: a criatividade na construção de si. A criatividade relacionada com a identidade pessoal (e colectiva). A criatividade íntima.
Uma estória da tradição judaica revela-a: o Rabi Zoussia estava a morrer, rodeado dos seus discípulos que muito o amavam, e revelou o seu desconforto, o seu medo ao que lhe iria ser perguntado quando chegasse à outra vida. Os discípulos tentaram acalmar o seu mestre: “Rabi, tu tens a fé inquebrantável de Abraão” – disse um; “E a coragem e resiliência de Moisés” – afirmou um outro; “E a inteligência e capacidade de liderança de David” – retorquiu ainda um outro. Mas Zoussia, talvez com um sorriso, disse-lhes: “O que me preocupa é que, na próxima vida, não me vão perguntar porque não fui como Abraão, como Moisés ou como David. O que me vão perguntar é: porque não foste Zoussia?”
É para isto que precisamos da criatividade: aprender a ser quem somos – ou quem podemos vir a ser. Não apenas a cópia de modelos pré-fabricados, mas alguém que se faz a si mesmo, em relação com os que nos antecederam, com a história, com os seus heróis do passado ou contemporâneos, mas que é capaz de encontrar o seu caminho próprio, pessoal, insubstituível. É essa a criatividade que aqui quero louvar, a da liberdade plástica necessária à construção da identidade pessoal. Plasticidade íntima. Esculpir-se a si mesmo. Isso implica ser capaz de sair de si: ir em direção ao mundo, à vida, aos outros. Em particular, em relação às manifestações culturais, às obras que são um depósito da humanidade. Neste encontro com as artes, encontram-se espelhos: não apenas do que já se é, mas do que se pode vir a ser. Elas não permitem apenas um reconhecimento,
mas uma recriação. Nessa saída de si em direção a um filme, uma instalação, uma pintura, um livro, uma escultura, diante de uma peça de teatro ou dança, cada um poderá descobrir possibilidade de si que, antes, não sabia que tinha. As grandes obras são as que permitem essa abertura de horizonte de possibilidades, isso a que chamamos “mundo”. Uma força plástica é suscitada no interior de cada pessoa quando faz um encontro significativo desses.
Se as manifestações patrimoniais e artísticas, na sua multiplicidade, permitem este alargamento da experiência, se possibilitam um dilatar da existência – como a experiência do prazer e da alegria o permitem -, necessitamos de aproximar cada vez mais essas manifestações culturais dos cidadãos. Em particular, dos cidadãos em idade escolar, como propomos no Plano Nacional das Artes. Possibilitar esses encontros que transformam a vida de cada um. Que formam a nossa atenção. Que permitem ser mais criativos com as possibilidades de si e nas respostas que damos aos desafios do mundo, dos outros e das comunidades. Para isso, precisamos de trabalhar com toda a aldeia, como a Bienal tem sabido fazer ao longo da sua história - e com quem queremos continuar a fazer: ajudar a cumprir o direito constitucional à Cultura, na fruição e na produção. E com ela, o direito fundamental de ser livre e ser o que é ou pode vir a ser.
Deste modo, fica claro que a cultura não é, somente, uma forma de cada um se expressar ou se identificar, mas um modo de sair de si, de se colocar no lugar do outro, de o conhecer melhor na sua diferença –para, então, se reconhecer melhor a si mesmo e até descobrir possibilidades de si antes desconhecidas. Alterar plasticamente a sua identidade. Assim, a cultura pode indestinar as nossas vidas, contrariar os constrangimentos sociais e económicos, abrir o horizonte de possibilidades (o mundo), dilatar a existência de cada um. Permitir que cada um forme aquele que é ou pode vir a ser, conheça melhor o que sente e pensa, e o possa expressar e discutir criticamente com outros – que podem pensar de forma diferente, respeitando-se. Ou seja, que saiba ser Zoussia,
Paulo, Francisca, João, Maria... Essa é a pergunta que escutamos a cada dia, se soubermos dar atenção: porque não és aquele que és? Essa é a verdadeira e fundamental liberdade. A de ser em verdade.
Verdade e liberdade encontram-se, então, na existência de cada pessoa nessa criação íntima e plástica da sua identidade (sempre frágil e em mutação). Para isso, é preciso alimentar a imaginação, louvar o seu poder de investigar a realidade e mudar o estado das coisas: a imaginação liberta-nos. As obras e os artistas nesta Bienal sabem-nos e ajudam-nos a ser mais livres.
When we think about the importance of creativity, it is often thought of in terms of doing: to create things with creativity, to find creative solutions to problems, to express oneself creatively using materials and artistic languages... If this experience of being creative in the production of objects, in the use of materials or in the answers given to problems is essential when dealing with the present and the future in its uncertainty, there is also another form of creativity which I think it is essential to pay attention to: creativity in the construction of the self. Creativity related to personal (and collective) identity. Intimate creativity.
A story from Jewish tradition reveals that Rabbi Zoussia was dying, surrounded by his disciples who loved him very much, and he revealed his concern, his fear of what would be asked of him when he arrived in the afterlife. The disciples tried to calm their master down: “Rabbi, you have the unbreakable faith of Abraham’’ - said one; “And the courage and resilience of Moses” - said another; “And the intelligence and leadership skills of David” - retorted yet another. But Zoussia, with a smile, told them: “What worries me is that in the next life they won’t ask me why I wasn’t like Abraham, Moses or David. What they’re going to ask me is: why weren’t you Zoussia?”
This is why we need creativity: to learn to be who we are - or who we can become. Not just a copy of prefabricated models, but rather self-created individuals, in relation to those who have gone before us, to history, to past or contemporary heroes,
yet capable of finding their own, personal, irreplaceable path. That’s the creativity I want to praise here, the artistic freedom needed to build a personal identity. Intimate plasticity. Sculpting yourself. This implies being able to go out of oneself: towards the world, towards life, towards others. In relation to cultural manifestations, to works that are a deposit of mankind. In this encounter with the arts, we find mirrors: not just of what we already are, but of what we can become. They don’t just allow you to recognise yourself, but to recreate yourself. In this departure from oneself towards a film, an installation, a painting, a book, a sculpture, in front of a play or a dance, each person can explore new possibilities about themselves. The great works are the ones that allow this horizon of possibilities to unfold, something we call “the world”. An artistic force is awakened within each person when they have such a significant encounter.
If heritage and artistic manifestations, in their multiplicity, allow for this broadening of one’s experience, and if they make it possible to expand one’s existence - as the experience of pleasure and joy doeswe need to bring these cultural manifestations closer to the citizens, in particular, school-age citizens, as we propose in the National Arts Plan. We must encourage these interactions that transform people’s lives. That shapes our attention. That allows us to be more creative with our possibilities and responses to the challenges of the world, others and communities. To do this, we must work with the whole village, as the Biennial has been able to do throughout its historyand with whom we want to continue to do so: to help fulfil the constitutional right to Culture, in both enjoyment and production. And with it, the fundamental right to be free and to be what you are or can become.
In this way, it becomes clear that culture is not just a way of expressing or identifying oneself, but a way of getting out of oneself, of putting oneself in the other person’s shoes, of getting to know them more deeplyto understand oneself better and even discover previously unknown possibilities about oneself. To alter their identity in artistic ways. Thus, culture can change our lives, counteract social and economic constraints, open a horizon of possibilities (the world), and expand each person’s existence. It allows everyone to shape who they are or can become, to know better what they feel and think, and to be able to express it and
discuss it critically with others - who may think differently, while respecting each other. In other words, to know how to be Zoussia, Paulo, Francisca, João, Maria... This is the question we hear every day if we pay attention: why aren’t you yourself? This is true and fundamental freedom, that of being your true self.
Truth and freedom are therefore to be found in the very existence of each person, in the intimate and artistic creation of their identity (which is always fragile and constantly mutating). To achieve this, we must nurture the imagination, celebrate its power to investigate reality and change the state of things: imagination can set us free. The works and artists in this Biennial know this and help us to be freer.
Concurso Internacional / International competition
ANA FERREIRA PT
Breve manifesto II, 2024
Fotos de “objet trouvé” colados em cartolina preta / ”Objet trouvé” photos pasted on black cardboard
10 × 115 cm
Exploro a questão através da oposição e da ironia que o “objet trouvé” aporta – gaiola, usada, danificada, aberta e sem fundo. Proponho reflexão sobre o conceito e questiono as barreiras interiores e exteriores que possuímos. Será este o símbolo do passado ou do presente; do corpo ou da mente? Tente responder.
I explore the issue through the opposition and irony that “objet trouvé” brings - a cage, worn, damaged, open and bottomless. I propose a reflection on this concept and question the inner and outer barriers we possess. Is this a symbol of the past or the present; of the body or the mind? Try to find an answer.
Pormenor / Detail
ANA MANTEZI BR
Mais que rio adentro, 2022
Fotografia Digital com impressão em papel, moldura preta e lambe lambe / Digital photography with print on paper, black frame and wheatpaste
160 × 250 cm
Toda a beleza no interior do baixo Amazonas, na sua imensidão, faz-me questionar a liberdade. É livre a natureza que, por mais que resista, diariamente sofre com a ação humana? É livre a menina dos cabelos cor de carvão, que navega na sua canoa pelos braços livres do rio?
All the beauty in the interior of the lower Amazon, in its immensity, makes me question freedom. Is nature really free, because no matter how much it resists, it suffers daily from human action? Is the girl with the charcoal-coloured hair who sails her canoe down the river free?
ANTÓNIO BARROS PT
Não Cega, 2024
Instalação. Ferro, zinco, tecido e texto grafado / Installation. Iron, zinc, fabric and written text
175 × 50 × 50 cm
Arte do objecto geradora de uma condição de uma hermenêutica sociológica “arte de acção”, esta evocativa do momento que agora se faz celebrar: o dos 50 anos da “Causa de Abril”. Prática performativa a que o autor no seu léxico chama de “obgestos”, testemunho legado para uma memória futura.
The art of the object generates the condition of a sociological hermeneutic “art of action”, evocative of the moment that is now being celebrated: the 50th anniversary of the “Cause of April”. The author calls this performative practice “obgestos” in his lexicon, a testimony bequeathed to a future memory.
BEATRIZ LINDENBERG BR
Embaraço, 2023
Vídeo / Video
Até quando sentiremos vergonha do próprio corpo? Quando nos sentiremos livres neste corpo? No trabalho “Embaraço”, coloco-me entre a parede e o papel. Realizo, com um bastão oleoso, 270 circunferências em torno do umbigo. Cada gesto é um desenho, cada círculo remete para um dia de gestação numa gravidez de 9 meses. Trago o maternar como um campo expandido.
How long will we be ashamed of our own bodies? When will we feel free in this body? In the work “Embaraço”, I place myself between the wall and the paper. With an oily stick, I draw 270 circles around my navel. Each gesture is a drawing, each circle refers to a day of gestation in a ninemonth pregnancy. I present motherhood as an expanded field.
10’11”
Circle, 2023
Ready Made
140 × 140 × 10 cm
Esta obra, criada a partir de luvas de trabalho, é uma instalação sobre placa de MDF e pode ser aplicada diretamente na parede. Trata-se de uma proposta de monumento à história da luta do homem pela liberdade. As luvas de operário amarelas representam a construção de factores que possibilitam a criação de um ambiente libertador e propício ao trabalho humano.
This work, created from work gloves, is an installation on MDF board and can be applied directly to the wall. It is a proposal for a monument to the history of man’s struggle for freedom. The yellow labourer’s gloves represent the construction of factors that make it possible to establish a liberating environment that will foster human labour.
BURHAN YILMAZ TR
CATARINA MARTO PT
Energy Dreams of Actuality, 2024
Transferência de pigmentos de 25 cravos para papel (Fabriano 200g/m2) / Pigment transfer of 25 carnations onto paper (Fabriano 200gr/m2)
95 × 143 cm
As plantas são a origem primária da captura e fixação da energia. Os 25 cravos, aqui em duplicado, são um convite a uma reflexão aberta, carnal e/ou etérea, sobre o 25 de Abril, e sua atualização. O desejo de uma energia não devastadora.
Plants are the primary source of energy capture and fixation. The 25 carnations, here in duplicate, are an invitation to an open, carnal and/ or ethereal reflection on the 25th of April and its update. The desire for a non-devastating energy.
CELATA & PRAUN IT & DE Landscape Archive, 2023
Instalação de som e vídeo de 2 canais / 2-channel video and sound installation
12’’
Diante da experiência sublime do carisma irresistível do mármore branco, os artistas confrontam-se com os seus sentimentos de perda e luto e exploram possibilidades de cuidado e resiliência. Abordam o fenómeno global da paisagem antropogénica e envolvem-se na ligação, interação e atuação numa paisagem ferida.
Confronting themselves with the sublime experience of the irresistible charisma of the white marble, the artists encounter their feelings of loss and grief, and explore possibilities of care and resilience. They address the global phenomenon of anthropogenic landscape, and involve themselves in connecting, interacting and performing in a wounded landscape.
22’
CRISTIAN ZABALAGA CL
Preludio Anticipado, 2024
Alumínio, madeira, pedra, luz fluorescente, impressão a jato de tinta sobre acrílico, isco de mosquito / Aluminium, wood, stone, fluorescent light, inkjet print on acrylic, mosquito lure
Dimensões variáveis / Variable dimensions
“Preludio anticipado” é uma instalação composta por três elementos encontrados no espaço público: um céu nublado, uma escotilha de fuga e mosquitos mortos. Um cartaz retroiluminado, suspenso no alto da sala, que emana um céu nublado com uma clareira, transporta-nos instantaneamente para uma paisagem ao ar livre.
“Preludio anticipado” (Anticipated prelude) is an installation consisting of three elements found in public space: a cloudy sky, an escape hatch, and dead mosquitoes. A backlit poster suspended high above the room, emanating a cloudy blue sky, instantly transports us to an open-air landscape.
DIEGO CASTRO BR
↑ Abaixo da fumaça, cinza 0124, 2024
Impressão em adesivo e grafite sobre papel milimétrico / Adhesive and graphite print on graph paper
29,50 × 42 cm
Abaixo da fumaça, cinzas 0224, 2024
Impressão em adesivo e grafite sobre papel milimétrico / Adhesive and graphite print on graph paper
29,50 × 42 cm
A série “Abaixo da fumaça, cinza”, aqui proposta, está em desenvolvimento. A ideia é que sejam produzidos de dez a vinte trabalhos novos onde lido com a repetição e diferença sobre arquivos de imagens mediáticas que me aproprio das redes sociais.
The series “Abaixo da fumaça, cinza” (Beneath the smoke, gray) proposed here, is currently in development. The idea is to produce ten to twenty new works in which I deal with repetition and difference on media image archives that I borrow from social networks.
ÉLCIO MIAZAKI BR
↑ Tonsores, 2022
Registo de performance / Performance recording
3’33”
ABLUÇÃO, 2023
Videoperformance / Video performance
3’
O artista aviva registros que nas décadas de 1960/70 contribuíram para a reafirmação da libertação do corpo. As aproximações de compartilhamento sensoriais, no olhar o tato, os entrelaçamentos corporais alimentam uma cumplicidade provocadoramente erótica que se solidifica na fruição e no controle do outro.
Andrés I. M. Hernández
The artist revives records that contributed to the reaffirmation of the liberation of the body in the 1960s and 70s. The approximations of sensory sharing, the gaze, the touch, the bodily entanglements nourish a provocatively erotic complicity that is solidified in the fruition and control of the other.
Andrés I. M. Hernández
ESCADA BR
↑ Fi de Cego, 2021
Tinta acrílica e tinta a óleo sobre tela / Acrylic and oil paint on canvas
120 × 100 cm
Olho crescido, 2023
Tinta acrílica e tinta a óleo sobre tela / Acrylic and oil paint on canvas
Díptico 20 × 30 cm, 30 × 20 cm / Diptych 20 × 30 cm, 30 × 20 cm
Estes trabalhos são parte de um mesmo corpo de pesquisa, iniciado em meados de 2019. As pinturas são compostas a partir de um interesse e investigação pelas linguagens visuais e faladas nos centros urbanos brasileiros, pela pichação e design informal que compõem o discurso da cidade, seus ornamentos, motivos e reclamações.
These works are part of the same body of research, which began in mid-2019. The paintings are composed from an interest in and investigation of the visual and spoken languages of Brazilian urban centres, the graffiti and informal design that make up the city’s narrative, its ornaments, motifs and complaints.
GABRIEL NG
The traveler, 2022
Acrílico sobre tela / Acrylic on canvas
120 × 120 cm
Inspirado por uma criança que cresceu e tornou-se um homem que viajou à volta do mundo com a sua “mente”, mas não consegue viajar através de qualquer meio de transporte para um país ou estado vizinho, nem mesmo dentro do seu próprio país. No entanto, a sua mente faz muitas viagens. Este quadro foi inspirado para encorajar e também motivar todos aqueles que têm grandes sonhos a serem incansáveis na sua busca.
Inspired by a child who grew up to be a man who has traveled around the globe with his “mind”, but he can’t even travel by any transportation means to a nearby country nor state, nor even in his own country. However, his mind does lots of traveling. This painting was inspired to encourage and also motivate all those who have great dreams to be relentless in their pursuit.
GABRIEL LOEW BR
Paulinho, 2021
Acrílico sobre tela / Acrylic on canvas
77 × 75 cm
“Paulinho” não traz uma afirmação contundente, antes destaca o espaço vazio, o inacabado. Se pensarmos na liberdade exterior como consequência necessária da liberdade interior, e nesta como semente, raiz e condição indispensável para a primeira, vemos a pintura (enquanto linguagem), aparentemente inerte no campo social, como a sua grande aliada. Este trabalho pretende caminhar nesta direção, dando forma e espaço às diversas vozes que compõem a nossa comunidade interna.
“Paulinho” doesn’t make a strong statement, but rather emphasises the empty space, the unfinished. If we think of exterior freedom as a necessary consequence of interior freedom, and the latter as the seed, root and indispensable condition for the former, we see painting (as a language), apparently inert in the social field, as its great ally. This work aims to move in this direction, giving form and space to the diverse voices that make up our internal community.
GABRIEL TORGGLER BR
Sem título / Untitled, 2023
Pastel de óleo e tinta automotiva sobre tela e barras de ferro / Oil pastels and automotive paint on canvas and iron bars
210 × 205 cm
Pintura realizada com aerógrafo sobre tela não esticada em chassi. Utilizo o aerógrafo para cobrir a superfície do tecido sem me importar com o aspeto falhado da pintura o que subverte o uso tecnicista original da ferramenta.
Painting done with an airbrush on canvas not stretched on a chassis. I use the airbrush to cover the surface of the fabric without caring about the failed appearance of the paint, which subverts the original technical use of the tool.
PAZ BR
Desterrar, 2024
Linho desfiado / Shredded linen
85 × 85 cm
Desterrar: sair ou ser expulso da pátria. A obra foi realizada a partir da retirada de matéria, ao desfiar o tecido fio a fio até surgir a forma da geografia do Brasil, país de nacionalidade da artista. De um lado, a obra explora a história do próprio país e, de outro, o sentimento do imigrante ao sair da sua pátria.
Exile: to leave or be expelled from one’s homeland. The artwork was created by removing material, shredding the fabric’s threads until the shape of Brazil’s geography, the artist’s country of nationality, emerged. On the one hand, the work explores the history of the country itself and, on the other, the feelings of emigrants when they leave their homeland.
GIULIA
GRASIELE SOUSA AKA CABELODRAMA BR
Série “obra do trabalho sem fim” VI, 2023
Relógio de parede, texto, impressão a laser, papel pólen 90g / Wall clock, text, laser print, 90 gr. pollen paper
26 × 26 × 2,5 cm
O relógio marca a passagem do tempo em continuum. Discutese a experiência de género no trabalho de manutenção e cuidado dos espaços domésticos e urbanos, nos quais as mulheres não estão livres. A obra articula a própria condição da vida e a prática democrática a algo que não está dado, sendo contínua a necessidade de intervenção para sua permanência.
The clock sets the passage of time in a continuum. It discusses the gender experience in the labour of maintaining and caring for domestic and urban spaces, in which women are not free. The work articulates the very condition of life and democratic practice to something that is not given, and the need for intervention to ensure its permanence is continuous.
Torrente, 2024
Fotografia / Photography
120 × 360 cm
Duas imagens complementares mas inversas são apresentadas lado a lado, criando uma vertigem cognitiva que nos obriga a repensar os seus elementos essenciais. Este díptico fotográfico faz parte do projeto “EBB” (maré) que se interessa pela ambiguidade e pelo potencial poético na interação de imagens de paisagens ou elementos naturais.
Two complementary but inverse images are presented side by side, creating a cognitive vertigo that forces us to rethink their essential elements. This photographic diptych is part of the “EBB” (tide) project, which is interested in ambiguity and the poetic potential in the interaction of images of landscapes or natural elements.
HELENA GOUVEIA
MONTEIRO PT
HILDA DE PAULO BR/PT
Edições navalha, 2023
Intervenção em parede + Impressão giclée em papel Cotton Smooth contracolada em PVC / Wall intervention + Giclée print on Cotton Smooth paper with PVC backing
≈ 135 × 196 cm
A escritora travesti Claudia Rodríguez escreveu: “as travestis devem ter o direito de ler sobre o que as outras travestis escrevem”. A partir dessa sentença, Hilda de Paulo subverte capas de livro existentes em sua fictícia editora transfeminista, buscando tornar explícitos os processos de exclusão de pessoas trans do mercado literário.
Transvestite writer Claudia Rodríguez wrote: “Transvestites should have the right to read what other transvestites write about”. Based on this sentence, Hilda de Paulo subverts existing book covers in her fictional transfeminist publisher, seeking to explicitly reveal the processes of exclusion of trans people from the literary market.
ISABEL RIBEIRO PT
Um marco chamado Cabral, 2024
Guache sobre papel / Gouache on paper
70 × 50 cm
Este trabalho convoca a figura de Amílcar Cabral na luta pela independência da Guiné Bissau e Cabo Verde (em 2014 faz 100 anos sobre o seu nascimento). Pegando no “súmbia” (gorro típico africano) que ele usava nas intervenções públicas e colocando-o na ponta de um pau de madeira, construímos simbolicamente um marco de sinalização ou pequena bandeira.
This work draws on the figure of Amílcar Cabral in the struggle for independence in Guinea Bissau and Cape Verde (2014 marks the 100th anniversary of his birth). By taking the “súmbia” (a typical African cap) that he wore during his public speeches and placing it on the end of a wooden stick, we symbolically built a signpost or small flag.
JIÔN KIIM KR
Lava – Brancos, 2023
Pigmento sobre tela / Pigment on canvas
63,5 × 25 cm
Esta obra surge no âmbito da série “In the Storm” (Na tempestade), que explora os momentos de suspensão e os ecos que vibram impercetivelmente nas representações do passado sob a forma de rajadas de vento. Esta obra é baseada numa imagem da obra de Joaquim Pedro Aragão “O preto caiador no Rocio à espera dos fregueses” (litografia de 1835).
This work is part of the series ‘In the Storm’, which explores moments of suspension and echoes that vibrate imperceptibly in past representations in the form of gusts of wind. This work is based on an image from Joaquim Pedro Aragón’s ‘The black Whitewasher in the Rossio Waiting for Customers’ (1835 lithograph).
JOÃO PEDRO
AMORIM PT
As memórias libertárias de uma planta, 2022
Vídeo / Video
4’ 37’’
Uma plataforma de comunicação inter-reinos a partir da história de abandono e recuperação da “Estufa Fria” de Lisboa. Este vídeo dá voz às plantas, que fixaram raízes na mina abandonada. Um olhar para os terrenos baldios como espaços onde as vontades de outras espécies escapam aos desígnios humanos, que nos pode inspirar a semear a nossa liberdade.
An inter-kingdom communication platform based on the story of the abandonment and recovery of Lisbon’s “Estufa Fria” (Cold Greenhouse). This video gives voice to the plants that have taken root in the abandoned mine. A look at wastelands as spaces where the wills of other species escape human design, which can inspire us to sow our own freedom.
KHALIL CHARIF BR
↑ Spell (Feitiço), 2023
Vídeo / Video
6’
EVEN, 2022
Vídeo / Video
1’ 55’’
Um feitiço é lançado nas pistas de dança, e transforma a atmosfera. Uma combinação experimental de elementos, onde estímulos sensoriais e vestígios de um passado documental são capturados e lançados para um presente imaginário, uma fabulação que vai ao encontro do reencantamento com a vida, com o estar junto, entrelaçando convívio e libertação.
A spell is cast on the dancefloors and transforms the atmosphere. An experimental combination of elements, where sensory stimuli and traces of a documentary past are captured and thrown into an imaginary present, a fabulation that meets the re-enchantment with life, with being together, intertwining conviviality and liberation.
LUÍS RIBEIRO PT
Arder por dentro, 2023
Carvão sintético e pastel seco sobre papel / Synthetic charcoal and dry pastel on paper
150 × 120 cm
Nuvens subcutâneas, respirações inquietas e pensamentos demorados. “Arder por dentro” advém da luta entre a escravidão de ver (mais do que olhar?) - deslizando no fio do tempo. No desenho vemos plantas que insistem em renascer no terreno queimado, entre pedras, na luta permanente pela liberdade.
Subcutaneous clouds, restless breaths and lingering thoughts. “Arder por dentro” (Burning inside) comes from the struggle between the slavery of seeing (more than looking?) - sliding down the thread of time. In this drawing, we see plants that insist on growing again in the burnt ground, between stones, in the permanent struggle for freedom.
LUÍSA SEQUEIRA PT
All women are Maria, 2024
/ Video
Em 1973, a causa das “Três Marias” é considerada a primeira causa feminista internacional, pela NOWNational Organization for Women. Gilda Grillo é uma das principais responsáveis pela divulgação internacional das “Novas Cartas Portuguesas”, de Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. “Três Marias”, foi como ficaram conhecidas.
In 1973, the cause of the “Três Marias” (The tree Marias) was considered the first international feminist cause by NOW - the National Organisation for Women. Gilda Grillo is one of the main people responsible for the international dissemination of the “New Portuguese Letters” by Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno and Maria Velho da Costa. They became known as the “Três Marias”.
Vídeo
12’
MANUELA PIMENTEL PT
Desta água não beberei, 2023
Acrílico, verniz e cimento sobre cartazes de rua / Acrylic, varnish and cement on street posters
130 × 180 cm
Ao contar o passado de Portugal, tenho vontade de reconstruir, recompor, limpar a minha própria existência. São trabalhos perturbadores que enganam, confundem ao assimilar que não são exatamente o que os olhos estão acostumados a ver. A força vem da palavra arrancada das paredes.
When I talk about Portugal’s past, I want to reconstruct, recompose and clean up my own existence. These are disturbing works that deceive and confuse us when we realise that they are not exactly what our eyes are used to seeing. The strength comes from the words torn from the walls.
Last chance, 2022
Linogravura de grande formato sobre papel / Large format linocut on paper
120 × 160 cm
“Last Chance” é uma obra que fala simbolicamente sobre as pressões e entraves que a sociedade põe à nossa liberdade e às nossas escolhas e opiniõescomo estas são restringidas pelo grupo do qual nos rodeamos e as maneiras como estes nos podem aliciar, chantagear ou obrigar a pensar e agir como todos eles.
“Last Chance” is a work that speaks symbolically about the pressures and obstacles that society imposes on our freedom and our choices and opinionshow these are restricted by the group we surround ourselves with and the ways in which they can entice, blackmail or force us to think and act like everyone else.
MARIANA DUARTE SANTOS PT
MARTA FRESNEDA GUTIÉRREZ ES
Civil/Soldier/Human. Art. 13-2 of the Universal Declaration of Human Rights. 2. Every person has the right to leave any country, including their own, and to return to their country., 2023
Alabastro / Alabaster
Dimensões variáveis / Variable dimensions
Milhões de russos encontram-se em território manchado de sangue, julgados internacionalmente pelas acções do seu governo. Civis que fogem do seu país à procura de justiça para si próprios, um refugiado que não vem devido à nacionalidade que possui.
Millions of Russians find themselves in blood-stained territory, judged internationally for the actions of their government. Civilians who flee their country seeking justice for themselves, a refugee that does not come due to the nationality they possess.
MAX FERNANDES PT
Atuante, 2024
Vídeo / Video
“Atuante” é um filme sobre um encontro a partir da gravura “Tipografia Clandestina”, de José Dias Coelho (1923-1961). Em 2015, esta gravura chega às minhas mãos. O filme começa aqui. A ligação da imagem ao autor, assassinado pela PIDE em 1961, levou-me a conhecer a artista Margarida Tengarrinha (1928-2023).
“Atuante” (Active) is a film about a meeting based on the print “Tipografia Clandestina” (Clandestine Typography) by José Dias Coelho (1923-1961). In 2015, this engraving came into my hands. The film begins here. The image’s connection to the author, murdered by PIDE in 1961, led me to meet the artist Margarida Tengarrinha (1928-2023).
7’
Vidro / Glass
Dimensões variáveis / Variable dimensions
A obra representa simbolicamente uma asa realizada com um material efémero como o vidro. A técnica utilizada foi o vidro trabalhado à chama, fundido posteriormente à temperatura de 740°C e curvado em moldes de fibra cerâmica.
The work symbolically represents a wing made from an ephemeral material such as glass. The technique used was flame-worked glass, subsequently fused at a temperature of 740°C and bent in ceramic fibre moulds.
MONICA FAVERIO IT
Asa de chão, 2024
NATALIA LOYOLA BR
F(r)icção de grito, 2024
Impressora térmica, papel térmico, componentes eletrónicos, caixa de metal, fios de aço, metal e pedra / Thermal printer, thermal paper, electronic components, metal box, steel wire, metal and stone
20 × 20 cm + fios de aço ajustáveis / 20 × 20 cm + adjustable steel wires
Speaker direcional no chão, manejável pelo público, emite sons de metais friccionados em gelo seco, que ecoam como gritos e gemidos profundos. O CO2 solidificado a -78 °C ressalta sua presença. O som direcionável cria uma “F(r)icção” sonora, transformando ambientes, objetos e instigando novos imaginários ao ser apontado em diferentes direções.
A directional speaker on the floor, which can be handled by the audience, emits the sound of metal rubbing against dry ice, echoing like deep screams and moans. CO2 solidified at -78 °C emphasises its presence. The directional sound creates a sonic “F(r) icção” (Friction), transforming environments, objects and instigating new imaginaries when pointed in different directions.
NICOLETA SANDULESCU MD
↑ Entre objetos, 2023
Carvão, tinta da china e acrílico sobre papel / Charcoal, chinese ink and acrylic on paper
125 × 120 cm
Corpo cansado, 2023
Carvão, tinta da china e acrílico sobre papel / Charcoal, chinese ink and acrylic on paper
125 × 115 cm
A objetificação da figura feminina foi resultado do lugar privado de liberdade que esta “habitou” durante muito tempo, sendo vista, apenas como uma dona de casa, “engolida” pelos objetos domésticos diariamente, como simples objeto, a quem se nega direitos. A libertação, o combate contra isso é duradouro e, ainda hoje não chega a todas as casas.
The objectification of the female figure was the result of the deprived place of freedom that women “inhabited” for a long time, as they were seen as nothing more than housewives, “swallowed up” by domestic objects on a daily basis, as mere objects to which rights have been denied. The liberation, the struggle against this issue has been long-lasting, and even today it doesn’t reach every home.
PATRICIA BORGES BR
Onde nascem as Barbies, 2023
Fotografias digitais impressas com pigmentos minerais sobre papel vegetal / Digital photographs printed with mineral pigments on tracing paper
(36x) 20 × 30 cm
Atenta às tensões situadas num corpo feminino cada vez mais idealizado pela sociedade de consumo, que o massacra e coloca num padrão inatingível, falso, doentio, deixo-me levar pelo interesse em estados de liberdade. Por meio do próprio corpo construímos a relação de identidade e alteridades.
Aware of the tensions situated in a female body that is increasingly idealised by consumer society, which massacres it and places it in an unattainable, false, unhealthy standard, I let myself be carried away by my interest in states of freedom. Through our own bodies, we build relationships of identity and alterities.
PEDRO POUSADA PT
Senseless nonsense, 2024
Trabalho digital realizado com Procreate / Digital work made with Procreate
Dimensões variáveis / Variable dimensions
Instalado no Projecto Outdoor de Silvestre Pestana / Installed in the Outdoor Project by Silvestre Pestana
Uma representação ao ar livre de personagens fictícias, esmagadas pelas condições absurdas da sua mediação. Não significam nada, no entanto são.
An outdoor depiction of fictional characters overwhelmed by the nonsensical conditions of their mediation. They mean nothing, yet they are.
Pormenor / Detail
RAÚL FERREIRA PT
Muro “- rasto do meu próximo erro.” (Díptico Imperfeito), 2023
Cimento branco sobre tela / White cement on canvas
123 × 81 × 34 cm
A liberdade cumpre-se quando se ultrapassam os Muros, sejam eles físicos, anónimos ou imperceptíveis, que residem nas atitudes de preconceito, racismo, xenofobia, misoginia ou na intolerância com as minorias. Paradoxalmente, na era da globalização, assiste-se à sua disseminação. O Muro é símbolo de Poder.
Freedom is achieved by overcoming the Walls, whether physical, anonymous or imperceptible, that lie in attitudes of prejudice, racism, xenophobia, misogyny or intolerance towards minorities. Paradoxically, in the age of globalisation, we are witnessing its dissemination. The Wall is a symbol of Power.
S4RA PT
bot3quim, 2023
Vídeo / Video
revolucionário Natália Correia < entre > bebidas e conversas revolutionary Natália Correia < inbetween > drinks & conversations
4’ 44’
BR
Sorria, 2024
Recortes de acrílico montado em caixa de luz / Acrylic cutouts installed in a light box
70 × 50 × 10 cm
Uma alegoria humorada sobre a cultura da hipervigilância, a subverter elementos clássicos do vocabulário da sinalética.
A humourous allegory about the culture of hypervigilance, subverting classic elements of signage vocabulary.
SAMA
Promessa, 2024
/ Wax
18 × 11 × 4 cm
A obra, em cera, representa um par de algemas. Reflete sobre a relação entre a [promessa] de liberdade e a religião. Como num ex-voto, o símbolo da restrição sugere que a prática religiosa pode ser uma forma de aprisionamento.
The wax work represents a pair of handcuffs. It reflects on the relationship between the [promise] of freedom and religion. As in an ex-voto, the symbol of restraint suggests that religious practice can be a form of imprisonment.
SAMUEL FERREIRA PT
Cera
SOFIA SALEME BR
Fala, 2024
Rádio e cabelo / Radio and hair
90 × 30 cm
O rádio português, originário da década de 70, recebe mechas de cabelos femininos em sua caixa de som. A rádio desempenhou um papel bem conhecido no apoio às operações de 74. Os fios de cabelos representam a liberdade de expressão feminina que se seguiu depois da revolução. Memórias que foram ressignificadas, o silêncio que se tornou emancipação.
Portuguese radio, originally from the 1970s, receives locks of women’s hair on its loudspeaker. Radio played a well-known role in supporting the operations of ‘74. The strands of hair represent the freedom of female expression that followed the revolution. Memories that were re-signified, silence that became emancipation.
SUSANNE THURN DE
In between, 2024
Tinta sobre tecido de algodão, fios parcialmente soltos / Ink on cotton fabric, partially loosened threads
130 × 300 cm
Como é que me liberto do fardo interior que os meus antepassados me deixaram? Será que a liberdade interior me dá novas perspectivas para ressoar no aqui e agora? A obra têxtil “In between” ilumina a relação dinâmica entre ligação e vulnerabilidade.
How do I free myself from the inner burden that my ancestors left me? Does inner freedom give me new perspectives to resonate in the here and now? The textile work “In between” illuminates the dynamic relationship between connection and vulnerability.
Enfim, Livre, 2024
Tecidos variados aplicados sobre cobertor, borlas / Various fabrics applied to blankets, tassels
100 × 160 cm
Como um painel têxtil, realizado a partir de recortes em feltro aplicados sobre cobertor, “Enfim, Livre” é uma tentativa de representação da sensação de conquista de uma liberdade desejada e da afirmação disto para si mesmo.
Like a textile panel, made from felt cut-outs applied to a blanket, “Enfim, Livre” (Free At Last) is an attempt to represent the sensation of achieving a desired freedom and affirming this to oneself.
THOMAS SZOTT BR
TITO SENNA BR
T1 30m2, 2024
Marcador com tinta permanente sobre azulejo / Marker with permanent ink on tile
60 × 60 cm
“T1 30m2” é uma obra que discute a crise habitacional em Portugal. O artista subverte a tradição da azulejaria, destacando a exploração imobiliária e a herança escravocrata.
A obra se torna uma poderosa plataforma para denunciar e refletir sobre a crise habitacional e a persistência de estruturas opressivas na sociedade atual.
“T1 30m2” is a work that adresses the housing crisis in Portugal. The artist subverts the tradition of tilework, highlighting property exploitation and the legacy of slavery. The work becomes a powerful platform for denouncing and reflecting on the housing crisis and the persistence of oppressive structures in today’s society.
VERA MATIAS PT
↑ Encontro, 2023
Óleo sobre papel montado em tela / Oil on paper mounted on canvas
168,2 × 178,2 cm
Cabeça, 2023
Óleo sobre papel montado em tela / Oil on paper mounted on canvas
118.8 × 168.2 cm
A pintura “Encontro” apresenta duas figuras de perfil cuja matéria se prolonga para o fundo, esbatendo fronteiras.
A expressão de ambas assemelha-se, não sendo claro se presenciamos uma antecipação ou um desfecho, um confronto ou um diálogo; ou estaremos apenas perante dois lados de um espelho, olhando alguém que se vê — e dirige — a si mesmo?
The painting “Encontro” (Meeting) features two figures in profile whose subject matter extends into the background, blurring boundaries. Their expressions are similar, and it’s not clear whether we are witnessing an anticipation or an outcome, a confrontation or a dialogue; or are we just looking at two sides of a mirror, looking at someone who seesand addresses - themselves?
VINICIUS LOPES BR
Vereda, 2023
Óleo sobre tela / Oil on canvas
200 × 295 cm
É como uma memória difusa, é a resposta de uma mente que está cansada, mas não esquece. Perseguir-nos-á nos nossos trabalhos, nos nossos costumes, nas nossas línguas e nas nossas formas de nos relacionarmos. Permanecerá presente na nossa memória; confirmar-nos que a ideia de liberdade não substituirá a memória de tudo o que perdemos.
It’s like a fuzzy memory, it’s the response of a mind that is tired but doesn’t forget. It will haunt us in our work, our customs, our languages and our ways of relating. It will remain present in our memory; thus assuring us that the idea of freedom will not replace the memory of all that we have lost.
↑ Use mind to touch 1, 2023
Óleo sobre tela / Oil on canvas
120 × 90 cm
Use mind to touch 3, 2023
Óleo sobre tela / Oil on canvas
120 × 90 cm
Esta obra centra-se no corpo e no espaço femininos. Flutuando no vazio construído pela Internet e pelo consumismo, por vezes o que se vê pode não ser verdade, e o que se ouve também pode não ser verdade.
The work focuses on the female body and space. Floating in the void constructed by the Internet and consumerism, sometimes what you see may not be true, nor what you hear.
XIANG XINYING CN
Intervenções Artísticas /
Art interventions
EDUARDO FREITAS BR
Empregado de Mesa
Performance
“Empregado de Mesa” é uma performance de diálogo entre o papel do empregado e do artista, resultando numa narrativa sobre o preconceito e o assédio enfrentados pelos trabalhadores da restauração. Nesta ação, é oferecido ao público um prato que simboliza uma voz coletiva, reivindicando valores democráticos, liberdade e melhores condições laborais.
“Empregado de Mesa” (Waiter) is a performance of dialogue between the roles of waiter and artist, resulting in a narrative about the prejudice and harassment faced by restaurant workers. In this action, the audience is offered a plate that symbolises a collective voice, demanding democratic values, freedom and better working conditions.
Fotografia /
Photo: Hugo David
FLÁVIO RODRIGUES PT
Malandro | Sem Culpa
Performance
“Malandro | Sem Culpa” é o título que designa uma performance cujas características fundamentais residem em sua natureza processual e contínua. Esta experiência assume a forma de uma performance duracional. O projeto transcende a concepção convencional de trabalho, elevando-se como uma celebração da liberdade inerente ao ato de brincar.
“Malandro | Sem Culpa” (Naughty | Not Guilty) is the title that designates a performance whose fundamental characteristics lie in its processual and continuous nature. This experience takes the form of a durational performance. The project transcends the conventional conception of work, elevating itself as a celebration of the freedom inherent in the act of playing.
JÚLIO CERDEIRA PT
Shadow Line
Performance
Performance com 2 intérpretes e alguns rolos de fita cola, que procura com o uso da linha determinar e reinterpretar o contorno do corpo no espaço expositivo. Numa lógica de contorno, restrição e conflito, movem-se compondo a materialidade gráfica desta interação (sombra-linha).
It is a performance with 2 performers and a few rolls of tape, which seeks to determine and reinterpret the contour of the body in the exhibition space through the use of the line. In a logic of contour, restriction and conflict, they move around composing the graphic materiality of this interaction (shadow-line).
MAÍRA FREITAS BR
Na hora do almoço
Performance
“Na hora do almoço” utiliza o corpo da performer para discutir as relações entre macropolítica e micropolítica no que tange o trabalho reprodutivo e de cuidado sob o signo dos feijões que brotam tal qual as crianças cuidadas em gestos de maternagem. É uma ação ancorada no feminismo decolonial e em práticas rituais do sul global.
“Na hora do almoço” (At lunchtime) makes use of the performer’s body to adress the relationship between macro-politics and micro-politics in terms of reproductive and care work under the sign of beans that sprout like children cared for in gestures of motherhood. It is an action anchored in decolonial feminism and ritual practices from the global south.
MANUEL TELES & FEDERICO DE LEONARDIS PT & IT
L´élan vital
Performance
“L’élan vital” é uma performance conjunta do saxofonista Manuel Teles e do artista plástico Federico De Leonardis que explora, musical e visualmente, o vazio através da instalação da obra “Tagliatella” de De Leonardis num muro branco, acompanhada pela interpretação de “L’orologio di Bergson”, obra de Salvatore Sciarrino, por Teles.
“L’élan vital” is a joint performance by saxophonist Manuel Teles and artist Federico De Leonardis that explores emptiness musically and visually through the installation of De Leonardis’s “Tagliatella” on a white wall, accompanied by Teles’s interpretation of Salvatore Sciarrino’s “L’orologio di Bergson”.
Artistas convidados / Guest Artists
ALEXANDRE VOGLER BR
↑ 1974 / Vela, 2024
Óleo sobre madeira / Oil on wood
64 × 40 cm
Pedra da Gávea 1974 – Primeiro vôo de asa delta, 2024
Vídeo / Video
9’
1974 / Monumento
Asa Delta / Hang glider
Medidas variáveis / Variable Dimensions
A obra “1974” trata de “liberdade” relacionando dois episódios coincidentes ocorridos neste ano: a Revolução de 25 de Abril em Portugal e o primeiro voo de asa delta no Brasil. A decolagem em questão foi feita pelo francês Stephan Dunoyer de um ponto da Pedra Bonita, no Rio de Janeiro, em setembro do referido ano. O trabalho é composto por três elementos: uma asa delta (montada e instalada dentro do espaço de exposição), um conjunto de três pequenas pinturas geométricas que reproduzem a configuração da asa do acontecimento carioca e um vídeo super 8, capturado por José Roberto Rodrigues, de registro deste voo.
The work “1974” deals with “freedom” by relating two coincidental events that took place that year: the 25 April Revolution in Portugal and the first hang gliding flight in Brazil. The take-off was carried out by Frenchman Stephan Dunoyer from Pedra Bonita, in Rio de Janeiro, in September of that year. The work consists of three elements: a hang glider (assembled and installed inside the exhibition space), a set of three small geometric paintings that reproduce the wing configuration of the Rio de Janeiro event and a super 8 video film, captured by José Roberto Rodrigues, of this flight.
Água, 2020
Bordado e desenho sobre tecido / Embroidery and drawing on fabrics
248 × 120 cm
Nesta série, a artista destaca o difícil acesso à água no seu país de origem, Angola. Apesar da abundância deste recurso, a falta de infra-estruturas obriga mulheres e crianças a caminhar diariamente quilómetros para obter água: “Angola país da água, onde a água corre por todo o país, por todo o lado menos para o povo”.
In this series, the artist highlights the difficult access to water in her native country, Angola. Despite the abundance of this resource, the lack of infrastructure forces women and children to walk daily miles to get water: “Angola country of water, where water flows throughout the country, everywhere except for the population”.
ANA SILVA AO
ANDREW BINKLEY US
Stone Cloud, 2017
Escultura insuflável feita de nylon impresso fotograficamente, soprador de ar / Inflatable sculpture made of photographically printed nylon, air blower
500 × 350 × 200 cm
Uma grande pedra insuflável a pairar no ar, “Stone Cloud” (Nuvem de pedra) provoca uma mudança de perceção, onde o que acreditamos ser permanente + estável pode não o ser. Incorporando contrastes de solidez + vazio, peso + leveza, e sentindo a nossa segurança + proteção a transformarem-se em fragilidade + incerteza, há potencial para a transcendência + espanto.
A large inflatable boulder hovering in the air, ‘Stone Cloud’ sparks a shift in perception, where what we believe to be permanent + stable may not be so. Embodying contrasts of solidity + emptiness, heaviness + lightness, and within feeling our safety + security shift into fragility + uncertainty, there is potential for transcendence + wonder.
Mancha-prazeres, 2023
Óleo sobre tela / Oil on canvas
(3x) 125 × 95 cm
“Mancha-prazeres” é uma série de 3 pinturas onde em cada composição materializa-se uma força assomada pelos seus contínuos ressurgimentos, de camadas sucessivas, de forma orgânica. Deste modo são uma condição transmutável, não finita, onde se procura refletir a ideia de pintura como ação livre.
“Mancha-prazeres” is a series of 3 paintings in which each composition materialises a force taken on by its continuous resurgences, of successive layers, in an organic way. In this sense, they are a transmutable, non-finite condition, which seeks to reflect the idea of painting as free action.
CATARINA LUCAS PT
FABRIZIO MATOS PT
Don’t get me wrong I’m only dancing, 2024
Pó de carvão sobre linho crú / Charcoal dust on raw linen
(3x) 190 × 125 cm
A obra apresentada faz parte de uma séria sobre as danças macabras, que são uma alegoria artístico-literária do final da Idade Média sobre a o carácter universal da morte , que expressa a ideia de que não importa o estatuto de uma pessoa em vida, a dança da morte une a todos.
The work presented is part of a series on macabre dances, representing an artistic-literary allegory from the late Middle Ages about the universal character of death, which expresses the idea that no matter what a person’s status in life is, the dance of death unites everyone.
GONÇALO MABUNDA MZ
↑ O trono da Toponímia, 2022
Soldadura sobre armas absoletas / Welding on obsolete weapons
Dimensões variáveis / Variable Dimensions
O caminho do realizador e a Sapiência, 2024
Soldadura sobre metal / Welding on metal
252 × 32 × 16 cm
Falou de um lugar que, para sentar neste caso, foi preciso muito sacrifício. Uma pessoa tem de ter um referencial importante para merecer o lugar, o que hoje é impossível. Os novos donos do trono têm recorrido a armas para ter o lugar.
He spoke of a place that, in this case, required a lot of sacrifice to be seated upon. A person must have an important reputation to deserve the seat, which is impossible today. The new owners of the throne have resorted to weapons to get the seat.
GUSTAVO SUMPTA AO/PT
↑ Zugzwang - Movimento
Obrigatório, 2023
Bronze e tubo de cobre / Bronze and copper tube
41 × 5 cm
Os sete magníficos, 2023
Baionetas de bronze / Bronze bayonets
52 × 4 cm
Trata-se de um anzol compósito, suspenso do teto como um nó de forca, à altura do corpo sacrificado. Ninguém está suspenso da sua condenação, nenhum corpo cumpre a função da escultura que convoca a captura, nem tão pouco nenhum corpo usará o suporte para o pé. Restam os seus fantasmas, a memória háptica dos corpos que aí teriam sido conquistadores ou conquistados, dominadores ou dominados.
Delfim Sardo
It’s a composite hook, suspended from the ceiling like a noose, at the height of the sacrificed body. No one is suspended from their condemnation, no body fulfils the function of the sculpture that summons capture, nor will it be used as a support for the foot. Their ghosts remain, the haptic memory of the bodies that would have been conquerors or conquered, dominators or dominated.
Delfim Sardo
Fotografia / Photo: Jorge das Neves
HORÁCIO FRUTUOSO PT
A brilliant anatomy, 2024
Óleo sobre tela / Oil on canvas
150 × 200 cm
Um corpo incompleto, esqueleto de uma estrutura em construção suspensa. Um abrigo, uma jaula. Objeto mudo sobre terreno agreste, dever e necessidade em continuar um trabalho de constante manutenção. Apresenta-se um lugar de ausência mas de conexão entre lugares e tempos, atravessando de forma instável e exigente na audácia. Um lugar mutante, um templo de resistência.
An incomplete body, the framework of a suspended structure. A shelter, a cage. A mute object on rough terrain, a duty and a need to continue a work of constant maintenance. It presents itself as a place of absence but also of connection between places and times, moving through in an unstable and audaciously demanding way. A mutant place, a temple of resistance.
INÊS VENTURA PT
Queens, 2021-2024
Fotografia Polaroid, Impressão fotográfica sobre papel Hahnemühle Baryta Satin, viewmaster / Polaroid photography, Photo print on Hahnemühle Baryta Satin, viewmaster
Dimensões variáveis / Variable dimensions
“QUEENS” procura retratar o mundo drag como uma expressão artística e identitária que assume, desde sempre, um papel de resistência na luta pelo direito a ser.
Drag Queens: Alejandro Beauty, Allan Lynn, Cherry Flavor, Joyce Martinez, Katy Wandolly, Kina Karvel, Naomy Beauty, Nany Petrova, Stefani Duvet. Fotografia de Arquivo no Viewmaster: Kina Karvel
“QUEENS” seeks to portray the drag world as an artistic and identity expression that has always played a role of resistance in the fight for the right to exist.
Drag Queens: Alejandro Beauty, Allan Lynn, Cherry Flavor, Joyce Martinez, Katy Wandolly, Kina Karvel, Naomy Beauty, Nany Petrova, Stefani Duvet. Viewmaster File Photo by: Kina Karvel
ISAQUE PINHEIRO PT
Torna Viagem, 2018-2022
Mármore de Estremoz, madeira, borracha, corda, tecido e aço / Estremoz marble, wood, rubber, rope, fabric and steel
Dimensões variáveis / Variable dimensions
Esta peça hesita entre o clássico e algo a haver, que abjura o precedente sem o destituir. Nas suas múltiplas aceções, o título reforça esta ambivalência: torna-viagem como o vinho, que regressa enriquecido pelo calor do porão e movimentos do navio; torna-viagem porque voltou para trás; ou torna-viagem de restituição? Quanto de nós é este náufrago?
This piece hesitates between the classical and something else, which abjures the precedent without dismissing it. In its multiple interpretations, the title reinforces this ambivalence: is it a return voyage like wine, which returns enriched by the heat of the ship’s hold and its movements; is it a return voyage because it has turned back; or is it a return voyage of restitution? What part of us is this castaway?
C-print
150 × 100 cm
Esta fotografia é do Verão de 2021, o último que passámos no Parque de Campismo da Galé em Melides. Em Outubro de 2021, o Parque de Campismo foi comprado por 25 milhões, para acrescentar a área de um resort de luxo. Tal como nós, com o encerramento do parque, milhares de pessoas foram privadas daquele espaço, das suas memórias e da sua comunidade. Comprem tudo e atirem-nos ao mar. Teremos sempre as nossas bóias cor de rosa para flutuar.
This photo is from the summer of 2021, the last one we spent at Parque de Campismo da Galé in Melides. In October 2021, the campsite was bought for 25 million to expand the area of a luxury resort. Thousands of people, like us, have been deprived of that space, their memories and their community with the closure of the park. Buy everything and throw us into the sea. We’ll always have our pink floaties to float on.
JOÃO PEDRO VALE & NUNO ALEXANDRE FERREIRA PT Pink Flamingos, 2024
LUÍS ESPINHEIRA PT
Democracy, 2020
Vídeo / Video
Este vídeo-palavra, numa estética minimalista apresenta um olhar crítico sobre a forma como a globalização, os seus sistemas digitais, a cultura do consumo e o capital são hoje agentes de poder incontornáveis na construção social e política, por isso também atuam não só na definição da democracia e da liberdade como no seu próprio controle e subversão.
This video-word, with its minimalist aesthetic, takes a critical look at the way in which globalisation, its digital systems, consumer culture and capital are today unavoidable agents of power in social and political construction, which is why they also act not only in the definition of democracy and freedom, but also in their own control and subversion.
5’ 50’’
LUÍSA SOEIRO PT
↑ O inferno quente e saboroso, 2001
Acrílico sobre tela / Acrylic on canvas
200 × 110 cm
Passeio no céu, 2001
Acrílico sobre tela / Acrylic on canvas
200 × 110 cm
A pintura de Luísa Soeiro define-se por uma relação particular com o tempo, gesto e o movimento universal. Partindo dos elementos básicos da linguagem visualponto, linha e cor - os movimentos repetidos do pincel convidam-nos a uma viagem de descoberta pelos caminhos e paisagens inesperadas que a pintura revela.
Luísa Soeiro’s painting is defined by a particular relationship with time, gesture and universal movement. Starting from the basic elements of visual language - point, line and colour - the repeated movements of the brush invite us on a journey of discovery through the unexpected paths and landscapes revealed by painting.
O Milhafre, 2024
/ Video
Neste short story, o espectador confronta-se com a presença de um homem velho, sentado num banco rudimentar, empunhando na mão direita um cajado, batendo-o contra a terra seca. Cansado, questiona o futuro de uma causa que parece perdida. Este filme divide-se em duas partes, separado por duas perguntas, que acabam por marcar a nossa atualidade política.
In this short story, the viewer is confronted with the presence of an old man, sitting on a rudimentary bench, wielding a wooden staff in his right hand, beating it against the dry land. Tired, he questions the future of a cause that seems lost. This film is divided into two parts, separated by two questions that ultimately mark our current political situation.
LUÍS PALMA PT
Vídeo
6’ 15’’
MANUEL SANTOS
MAIA MZ/PT alheava - outras paisagens afastadas, 2024
Fotografia, sublimação sobre tecido / Photograph, sublimation on fabric
600 × 160 cm
O projeto Alheava é dedicado às questões do colonialismo e póscolonialismo, numa perspetiva transtemporal, aliando a História social e política, às narrativas familiares e à auto-ficção, elaborando problemáticas e ensaiando configurações estéticas capazes de contribuir ativamente para a interpretação das relações coletivas com o passado colonial, com uma antropologia da memória (o acontecimento traumático e a pós-memória incluídos) e refletir os trânsitos interculturais em que se constrói o Portugal contemporâneo.
The Alheava project is dedicated to questions of colonialism and post-colonialism, from a transtemporal perspective, combining social and political history, family narratives and autofiction, elaborating problems and rehearsing aesthetic configurations capable of actively contributing to the interpretation of collective relations with the colonial past, with an anthropology of memory (including the traumatic event and post-memory) and reflecting the intercultural transits in which contemporary Portugal is shaped.
MARIA TRABULO PT
↑ Dome Bunker I, 2022. Da série Fragile Stones
Solo (areia e argila) proveniente de escavações na Síria e em Portugal / Soil (sand and clay) from excavations in Syria and Portugal
71 × 71 × 101 cm
Dome Bunker II, 2022. Da série Fragile Stones
Solo (areia e argila) proveniente de escavações na Síria e em Portugal / Soil (sand and clay) from excavations in Syria and Portugal
101 × 71 cm
A série FRAGILE STONES, que estas esculturas integram, foi desenhada a partir de documentação do museu arqueológico de Raqqa, referente à arquitetura das salas de exposição do museu, e aos dispositivos expositivos aí existentes, antes da sua quase total destruição, durante a ocupação da cidade pelo Estado Islâmico, entre 2013 e 2017, sugerindo que, apesar de desaparecida, em parte soterrada, a coleção e o museu podem “ressurgir do solo” e a sua história pode ser partilhada.
The “FRAGILE STONES” series, which these sculptures are part of, was based on documentation from the archaeological museum in Raqqa, referring to the architecture of the museum’s exhibition halls and the exhibition devices that existed there before their near-total destruction during the Islamic State’s occupation of the city between 2013 and 2017, suggesting that despite being missing, partly buried, the collection and the museum can “rise from the ground” and its history can be shared.
MUNTADAS ES/US
Palabras..., 2017-2020
Impressão digital sobre lona têxtil / Digital print on textile canvas
345 × 234,5 cm
Cortesia Galeria Moisés Pérez de Albéniz / Courtesy of Moisés Pérez de Albéniz Gallery
Palavras... 2017-2020, é marcado por aquilo a que Muntadas chamava, nos anos 70, de “paisagem mediática”. A política e os média têm contribuído para esta degradação. Do ponto de vista da física, poderíamos dizer que o uso e abuso das palavras fez com que elas passassem do estado sólido para o gasoso.
Words... 2017-2020, is marked by what Muntadas called, in the 1970s, the “media landscape”. Politics and the media have contributed to this degradation. From the point of view of physics, we could say that the use and abuse of words has caused them to pass from a solid to a gaseous state.
PEDRO MAGALHÃES PT
Hidden track, 2021
Vídeo / Video
“Hidden Track” cruza a experimentação sónica e visual como ato de resistência e rebelião poética. Uma guitarra elétrica carbonizada e inaudível, torna-se utensílio/ instrumento do desenho performativo-destrutivo que dá origem às partituras gráficas da peça musical (noise/experimental) para guitarra(s) elétrica(s).
“Hidden Track” combines sonic and visual experimentation as an act of resistance and poetic rebellion. A charred and inaudible electric guitar becomes the tool/ instrument of the performative-destructive design that gives rise to the graphic scores of the musical piece (noise/ experimental) for electric guitar(s).
20’ 23’’
RAMIRO GUERREIRO PT
Salò, 2015-2024
Desenho com lápis de cor e tinta acrílica sobre pano cru preparado. / Drawing with coloured pencils and acrylic paint on prepared unbleached cloth.
710 × 510 cm
Um estudo aproximado à escala real de duas tapeçarias que constam do décor do filme “Salò o Le 120 Giornate di Sodoma”, de Pier Paolo Pasolini (1975).
An approximate full-scale study of two tapestries from the décor of Pier Paolo Pasolini’s film “Salò or Le 120 Giornate di Sodoma” (1975).
SILVESTRE PESTANA PT
Vitrine, 2024
Instalação com painéis LED a cores / Installation with Color LED displays
(6x ) 20 × 40 × 15 cm
(1x) 100 × 40 × 15 cm
GRANDE PRÉMIO
XII Bienal Internacional de Arte de Cerveira 2003
GRAND PRIZE
XII Cerveira International Art Biennial 2003
“VITRINE”, 2024, instalação, POEMA EXPANDIDO DE ESCRITA LUMINOSA, disponibilizado em 7 painéis LED a cores. A sua leitura, enquanto Poética da Escrita Luminosa de baixa resolução, é urbana, operativa e estrutural nas comunicações exercidas nas auto-estradas, hospitais, aeroportos, painéis de comando e videojogos. A sua forte presença urbana anuncia uma nova poética que corresponde à dinâmica comunicacional, intensamente promovida nas redes emergentes das Smart Cities.
“VITRINE”, 2024, installation, EXPANDED POEM OF LUMINOUS WRITING, available on 7 LED displays. Its reading, as a low-resolution Poetics of Luminous Writing, is urban, operative and structural in communications carried out on highways, hospitals, airports, control panels and video games. Its strong urban presence heralds a new poetics that corresponds to the communication dynamics intensely promoted in the emerging networks of Smart Cities.
Duas placas toponímicas em moleanos e mesa de luz com texto bilíngue / Two toponymic plaques in moleanos limestone and a light table with bilingual text
Dimensões variáveis / Variable dimensions
“Alameda, Avenida, Mariana, Maria, Maria, Maria” (2022) foi concebida para a exposição coletiva “Pacto” e decorre do meu fascínio por aquilo que o espaço público, nas suas presenças e ausências, nos revela. Para além de refletir sobre a hierarquia dos arruamentos, é também uma proposta de homenagem a Mariana Alcoforado e às Três Marias — Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa.
“Alameda, Avenida, Mariana, Maria, Maria, Maria” (2022) was conceived for the group exhibition “Pacto” and stems from my fascination for what public spaces, in their presence and absence, reveal to us. In addition to reflecting on the hierarchy of streets, it is also a proposal for a tribute to Mariana Alcoforado and “The Three Marias” - Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta and Maria Velho da Costa.
SØREN DAHLGAARD DK
The Inflatable Island, 2013 - Em curso/ongoing
Tecido ripstop de nylon e ventoinha / Nylon ripstop and air fan
Duas ilhas individuais: uma com 800 × 360 × 360 cm e outra mais pequena 400 × 180 × 180cm / Two individual islands: one measuring 800 × 360 × 360 cm and a smaller one of 400 × 180 × 180cm.
A ilha é uma escultura insuflável com 8 metros de comprimento. Embora a ilha seja um objeto lúdico que estimula o jogo e a participação, é também um projeto artístico que chama a atenção para as questões das alterações climáticas e da migração. Além disso, o filme “The Island” relaciona-se com a landart e a paisagem de várias formas.
The island is an 8-meter-long inflatable sculpture. While the island is a playful object that activates play and participation, it is also an art project highlighting climate change and migration issues. Furthermore, “The Island” movie relates to landart and the landscape in various ways.
TALES FREY BR
Stiletto Dance, 2024
Impressão 3d PLA, espuma HB FLEX FOAM IT III, arame de ferro de 6mm, revestimento com poliureia / PLA 3d print, HB FLEX FOAM IT III foam, 6mm iron wire, polyurea coating
(4x) 300 × 25 cm
O título faz menção a uma modalidade da dança que mistura Queer Hip Hop, Waacking e o Vogue, congregando estilos difundidos nas comunidades LGBTQIA+.
O amontoado de pernas maleáveis em relação com o piso espelhado sugere diferentes movimentos.
The title refers to a dance modality that mixes Queer Hip Hop, Waacking and Vogue, bringing together styles widespread in LGBTQIA+ communities. The stack of malleable legs in relation to the mirrored floor suggests different movements.
Impressão giclée em papel Photo Satin, moldura colorida / Giclée print on Photo Satin paper, coloured frame
182,88 × 121,92 cm
Neste quadro, a artista usa um vestido terno tradicional filipino reminiscente das rainhas de beleza filipinas, enquanto a bola vermelha é um aceno precário a uma fotografia colonial de 1910 “Native female circus performer”. O título foi retirado de uma canção folclórica provinciana, mas esta peça coloca uma questão contemporânea: e se Rosas Pandan, vinda de um lugar longínquo, for a trabalhadora migrante filipina que atravessou os oceanos, as nossas emigrantes, as nossas muitas mulheres que deixaram a sua casa para florescer longe? E se ela finalmente regressar, exausta mas mais forte, plenamente consciente de que este regresso não é mais do que um regresso ao seu “Eu”, ao seu poder e à sua auto-determinação?
In this tableau, the artist wears a traditional Filipiniana terno dress reminiscent of Filipina beauty queens while the red ball is a precarious nod to a 1910 colonial photograph “Native female circus performer”. The title taken from a provincial folk song, this piece asks in a contemporary light: what if Rosas Pandan from a far-flung place is the Filipina migrant worker who has crossed the oceans, our emigrants, our many women who left home to bloom afar? What if she finally returns, a bit exhausted but stronger, fully aware now that this comeback is nothing but a return to her “Self”, her power and her own self-determination?
ZADOK BEN-DAVID IL/UK
Sour Sweet, 2022
Vídeo / Video
2’
GRANDE PRÉMIO
XIV Bienal Internacional de Arte de Cerveira 2007
GRAND PRIZE
XIV Cerveira International Art Biennial 2007
“Sour Sweet” (Agridoce) é uma obra de vídeo cíclica que mostra a transformação contínua de uma flor de lótus. A borboleta aparece e desaparece, como se fosse um intruso colorido, parando apenas por um momento antes de continuar a sua própria viagem. A mudança constante entre a luz e a escuridão representa a experiência humana em apenas alguns minutos e revela ao espectador a dualidade radical dos seres humanos, quer à escala global, quer num estado de espírito interno.
“Sour Sweet” is a cyclical video artwork showing the continual transformation of a single lotus flower. The butterfly that appears and disappears seems a colourful interloper pausing only for a moment before continuing its own journey. The constant change between light and dark signify the human experience in just a few minutes and shows the viewer the radical duality of human beings, whether on a global scale or in an internal state of mind.
Ser Livre, Homenagem a Isabel Meyrelles /
To Be Free, Tribute to Isabel Meyrelles
Curadoria / Curated by Marlene Oliveira
Perfecto Cuadrado
Local: Fórum Cultural de Cerveira
Location: Cerveira Cultural Forum
ISABEL MEYRELLES E A SUA PRESENÇA ESSENCIAL NA COLEÇÃO DA FUNDAÇÃO CUPERTINO DE MIRANDA / ISABEL MEYRELLES AND HER ESSENTIAL PRESENCE IN THE CUPERTINO DE MIRANDA FOUNDATION’S COLLECTION
A Fundação Cupertino de Miranda tem por missão preservar e dar a conhecer o seu acervo artístico e documental - uma referência incontornável do Surrealismo Nacional.
Podermos divulgar a obra da Escultora Isabel Meyrelles na Fundação Bienal de Arte Cerveira, em Vila Nova de Cerveira, é uma oportunidade que muito valorizamos pelo seu contexto histórico e referência nacional artística.
Com estas exposições pretendemos dar a conhecer a vida e obra da artista, expressando também a nossa gratidão, pois aquando da última grande exposição realizada na Fundação, em 2019, a artista doou à instituição 49 obras, estando representadas na presente exposição um núcleo representativo dessa doação.
Isabel Meyrelles assume também um papel muito importante na construção do núcleo surrealista na Fundação Cupertino de Miranda, pois apresentou o seu irmão João Meireles, genro de Arthur Cupertino de Miranda (fundador), o artista Cruzeiro Seixas. Desta ligação viria a resultar a compra de mais de cem obras de arte reunidas por Cruzeiro Seixas, de diversos autores reconhecidos do panorama nacional e internacional, maioritariamente surrealistas. Posteriormente, estas obras foram doadas pelo Engenheiro João Meireles à Fundação, iniciando assim o núcleo Surrealista da instituição. Assim, podemos dizer que o Surrealismo na Fundação Cupertino de Miranda também se iniciou com Isabel Meyrelles.
Isabel Meyrelles é uma artista essencial para a coleção da Fundação Cupertino de Miranda, representando o núcleo feminino que conviveu com os grupos surrealistas portugueses.
Pedro Álvares Ribeiro Presidente da Fundação Cupertino de Miranda
The Cupertino de Miranda Foundation’s mission is to preserve and publicise its artistic and documentary collection - an unavoidable reference of National Surrealism.
To be able to publicise the work of sculptor Isabel Meyrelles at the Cerveira Art Biennial Foundation in Vila Nova de Cerveira is an opportunity that we greatly value for its historical context and national artistic reference.
With these exhibitions we want to publicise the artist’s life and work, while also expressing our gratitude, because at the time of the last major exhibition held at the Foundation in 2019, the artist donated 49 works to the institution, and this exhibition is representative of that donation.
Isabel Meyrelles also played a very important role in building the surrealist centre at the Cupertino de Miranda Foundation, as she introduced her brother João Meireles, son-in-law of Arthur Cupertino de Miranda (founder), to the artist Cruzeiro Seixas. This connection resulted in the purchase of more than one hundred works of art collected by Cruzeiro Seixas, by various renowned artists from the national and international scene, mostly surrealists. These works were later donated by the engineer João Meireles to the Foundation, thus starting the Surrealist centre of the institution. Therefore, we can say that Surrealism at the Cupertino de Miranda Foundation also began with Isabel Meyrelles.
Isabel Meyrelles is an essential artist for the Cupertino de Miranda Foundation’s collection, representing the female nucleus that interacted with the Portuguese surrealist groups.
Pedro Álvares Ribeiro
President of the Cupertino de Miranda Foundation
ISABEL MEYRELLES – SER LIVRE / ISABEL MEYRELLES - TO BE FREE
Maria Isabel Sobral Meirelles nasceu em Matosinhos a 29 de abril de 1929, é poeta, tradutora, escultora e criadora de objetos surrealistas.
Para aqueles que ainda não pertencem ao universo das suas afinidades eletivas e afetivas, lembramos que é chamada pelos amigos próximos de Fritzi e que se define como um ser livre, liberdade essa que é a base da sua existência.
Estudou no Porto antes de ir para Lisboa, onde se encontrou com os protagonistas da intervenção surrealista portuguesa. Estudou escultura com Américo Gomes e António Duarte. Mudou-se para Paris em 1950 e aí continuou os seus estudos superiores na Université René Descartes – Paris V – Sorbonne, enquanto completava os estudos de escultura na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Paris
Trabalhou e estudou com o Mestre Zadkine na Grande Chaumière. Mais tarde, assumiu a direção da livraria L’Atome em Paris, especializada em ficção científica e fantástico, que certamente influenciou parte do seu trabalho como escultora.
Isabel Meyrelles pertence ao universo do Surrealismo, sem nunca ter participado em grupos nem ter assinado manifestos ou documentos coletivos, pelo que alguns negam-lhe a “cidadania surrealista”.
António Cândido Franco, na revista A ideia (2014) por ele dirigida, recolhia mais uma confissão da autora:
O surrealismo era para os outros, mas eu era curiosa de tudo e o surrealismo fascinoume imediatamente. Essa mesma curiosidade fez-me conhecer gente de todos os quadrantes das artes e das letras. Durante o ano e meio que estive em Lisboa, eu vivi dez vidas! […]
Em Paris conheci por acaso o Tristan Tzara e a minha costela anarquista ficou encantada em conhecê-lo. Toda a época Dadá me foi contada e isso despertou o meu interesse pelo surrealismo que estava adormecido em mim. Suponho que estava à procura
de uma fada que me despertasse e essa fada foi o Tristan Tzara. […] Mais tarde vim a conhecer o Sarane Alexandrian e o grupo de surrealistas que frequentava. Era um grupo muito século XXI, cada um fazia o que lhe apetecia, como eu.
Regressou a Portugal entre 1970 e 1977 e, em 1971, juntamente com Natália Correia fundaram e dirigiram o restaurante O Botequim. No entanto, voltou para a “cidade do amor” em 1978, onde entre 1979 e 1980 dirigiu a Galerie Orion.
A escultora destaca-se também no campo da literatura com a publicação de 4 obras de poesia
– Em Voz Baixa (1951), Palavras Nocturnas (1954), O Rosto Deserto (1966) e Le livre du Tigre (1977). Em Voz Baixa centra-se no tema do amor, sendo um livro mais diurno do que Palavras Nocturnas, que tal como o nome indica é um livro mais soturno e de tom elegíaco. Em O Rosto Deserto (1966) a poeta passa a usar o francês como língua poética e com ele começa também, segundo a própria autora, uma fase de uma maior “madurez” superadora dos primeiros poemas “juvenis”. Já em Le livre du Tigre (1977) podemos encontrar de maneira evidente e reiterada aquela variante cáustica, ao lado do que seriam as constantes maiores da sua poesia quanto ao tom (de confissão ou confidência com ou sem destinatário) e aos temas ( com o amor sempre presente), incorporando ao seu bestiário pessoal a figura soberba do tigre (“ágil”, “esbelto”, “sinuoso”, “sedutor”, “secretamente satânico”, “solitário senhor de sombria beleza”), e usando formalmente com frequência do paralelismo (da anáfora ou o simples uso do refrão até à recuperação da estrutura completa da cantiga de amigo medieval).
Isabel Meyrelles é tradutora de autores como Jorge Amado, Vitorino Nemésio, Maria Gabriela Llansol, José Régio ou Mário Cesariny, responsável pela edição dos três volumes da Poesia Completa de Cruzeiro Seixas e organizadora das antologias Anthologie de la Poésie Portugaise: du XIIe au XXe siècle (Paris: Gallimard, 1971, org. e tradução)
e O sexo na moderna ficção científica: antologia de autores franceses (Lisboa: Afrodite, 1976).
A presente exposição com mais de 40 obras, compreende todas as fases da artista onde se evidencia a presença da influência surrealista, que se reflete também na sua poesia.
Aqui destaca-se o seu “Auto-retrato”, um dragão azul que tem um cachimbo, que tal como Isabel Meyrelles tem sempre presente o seu cachimbo. Nas suas obras inspira-se não só em desenhos e pinturas de vários artistas surrealistas, com especial destaque para as obras de Cruzeiro Seixas, mas também apresenta a admiração pela ficção científica e a alusão ao fantástico, que se pode observar em obras como o “The Sheriff”, “Mr. Smith” e “O Príncipe”, ou a simbologia e alegoria à vida e aos sentidos, personificados nas obras como a “Ronda do medo” ou “Os adoradores do Ovo”. Encontramos ainda obras que são puras homenagens quer a amigos quer a outros artistas, como é o caso da “Homenagem a Alexandre O’Neill” e a “Hommage à André Breton: Le revolver à cheveux blancs”.
A sua obra e vida é marcada constantemente pelo seu humor, como refere Perfecto Cuadrado, pela sua forma de “de ser e estar, uma atitude, um modo diferente de ver e viver (não só de dizer) a vida e de actuar sobre ela.”
Em 2019 doou à Fundação Cupertino de Miranda um núcleo importante da sua obra, complementando o acervo já presente na instituição, e que nos permite apresentar a artista de uma forma mais completa, como nesta exposição.
Curadores
Marlene Oliveira
Diretora de Artes, Informação e Comunicação da Fundação Cupertino de Miranda
Perfecto Cuadrado
Coordenador do Centro Português do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda
Born in Matosinhos on 29 April 1929, Maria Isabel Sobral Meirelles is a poet, translator, sculptor and creator of surrealist objects.
For those who don’t yet belong to the universe of her elective and affective affinities, we remind you that she is called Fritzi by her close friends and that she defines herself as a free being, and this is the source of her existence.
She studied in Porto before moving to Lisbon, where she met the protagonists of the Portuguese surrealist intervention and studied sculpture with Américo Gomes. studied sculpture with Américo Gomes and António Duarte. She moved to Paris in 1950 and continued her studies there at the Université René Descartes - Paris V - Sorbonne, while completing her sculpture studies at the École Nationale Supérieure des Beaux-Arts in Paris.
She worked and studied with Master Zadkine at the Grande Chaumière. She later took over the management of the L’Atome bookshop in Paris, specialising in science fiction and fantasy, which certainly influenced some of her work as a sculptor.
Isabel Meyrelles belongs to the universe of Surrealism, without ever having participated in groups or signed manifestos or collective documents, which is why some deny her “Surrealist citizenship”.
António Cândido Franco, in the magazine “A ideia” (2014), which he directed, collected another confession from the author:
Surrealism was for others, but I was curious about everything and Surrealism immediately fascinated me. That same curiosity led me to meet people from all walks of life in the arts and letters. During the year and a half I spent in Lisbon, I lived ten lives! [...] In Paris I met Tristan Tzara by chance and my anarchist side was delighted to meet him. I was told all about the Dada era and this awakened my interest in surrealism, which had been dormant in me. I suppose I was looking for a fairy to awaken me and that fairy was Tristan Tzara. [...] Later I met Sarane Alexandrian and the group of surrealists
he was part of. It was a very 21st century group, everyone did their own thing, just like me.
He returned to Portugal between 1970 and 1977 and, in 1971, together with Natália Correia founded and ran the restaurant O Botequim. However, he returned to the “city of love” in 1978, where he ran the Orion Gallery between 1979 and 1980.
The sculptor also stood out in the field of literature with the publication of four works of poetry - “Em Voz Baixa”(1951), “Palavras Nocturnas”(1954), “O Rosto Deserto” (1966) and “Le livre du Tigre” (1977). “Em Voz Baixa” (In low voices) centres on the theme of love and is a more diurnal book than “Palavras Nocturnas” (Night Words), which, as the name suggests, carries a more sombre and elegiac tone. In “O Rosto Deserto” (The Deserted Face), the poet switches to French as it’s her poetic language and with it, according to the author herself, begins a phase of greater “maturity” that surpasses the first “youthful” poems. In “Le livre du Tigre” (The Tiger’s book), we can clearly and repeatedly find that caustic variant, alongside the major constants of her poetry in terms of tone (of confession or confidences with or without an addressee) and themes (with love always present), incorporating the superb figure of the tiger into her personal bestiary (“agile”, “slender”, “svelte”, “slender”, “sinuous”, “seductive”, “secretly satanic”, “solitary lord of sombre beauty”), and often making formal use of parallelism (from anaphora or the simple use of the refrain to the recovery of the complete structure of the portuguese mediaeval poetry genre entitled “Cantiga de amigo”).
Isabel Meyrelles is a translator of authors such as Jorge Amado, Vitorino Nemésio, Maria Gabriela Llansol, José Régio or Mário Cesariny, responsible for editing the three volumes of Cruzeiro Seixas’ Complete Poetry and organiser of the anthologies “Anthologie de la Poésie Portugaise: du XIIe au XXe siècle” (Anthology of Portuguese Poetry: from the 12th to the 20th Century), Paris: Gallimard, 1971, organisation and translation; and “O sexo na moderna ficção científica: antologia de autores
franceses” (Sex in modern science fiction: an anthology of French authors), Lisbon: Afrodite, 1976.
This exhibition, with more than 40 artworks, encompasses all of the artist’s phases, where the surrealist influence is evident and is also reflected in her poetry.
Her work “Auto-retrato” stands out, a blue dragon holding a pipe, just as Isabel Meyrelles has always had her pipe with her. Her works are inspired not only by the drawings and paintings of various surrealist artists, with special emphasis on the works of Cruzeiro Seixas, but also by her admiration for science fiction and allusions to fantasy, which can be seen in works such as “The Sheriff”, “Mr Smith” and “O Príncipe”, or the symbolism and allegory of life and the senses, personified in works such as “Ronda do medo” or “Os adoradores do Ovo”. We also find works that are pure tributes to both friends and other artists, such as “Homenagem a Alexandre O’Neill” and “Hommage à André Breton: Le revolver à cheveux blancs”.
Her work and life is constantly shaped by her humour, as Perfecto Cuadrado says, by her way of “being and behaving, an attitude, a different way of seeing and living (not just saying) life and acting on it.”
In 2019, she donated an important part of her work to the Cupertino de Miranda Foundation, complementing the collection that was already present in the institution, and which allows us to portray the artist in a more complete way, as in this exhibition.
Curators
Marlene Oliveira Director of Arts, Information and Communication of the Cupertino de Miranda Foundation
Perfecto Cuadrado Coordinator of the Portuguese Surrealism Centre of the Cupertino de Miranda Foundation
Livre, Homenagem a Isabel Meyrelles /To Be Free, Tribute to Isabel Meyrelles
NATÁLIA CORREIA PT
Retrato de Isabel Meyrelles com poema de Isabel Meyrelles, anos 50
Óleo sobre tela / Oil on canvas
40,9 × 33 cm
Coleção Fundação Cupertino de Miranda / The Cupertino de Miranda Foundation collection
ISABEL MEYRELLES PT
Sem título (a partir de um desenho de Cruzeiro Seixas) / Untitled (from a drawing by Cruzeiro Seixas), 1981
Bronze sobre madeira / Bronze on wood
35,5 × 15 × 22 cm
Coleção Fundação Cupertino de Miranda / The Cupertino de Miranda Foundation collection
Livre, Homenagem a Isabel Meyrelles /To Be Free, Tribute to Isabel Meyrelles
ISABEL MEYRELLES PT Ulisses, 2004
Bronze
24,5 × 33,6 × 19 cm
Coleção Fundação Cupertino de Miranda / Cupertino de Miranda Foundation's collection
ISABEL MEYRELLES
Homenagem a Alexandre O’Neill, 1992
Terracota sobre madeira / Terracotta on wood
22 × 29,9 × 16,7 cm
Doação Mário Cesariny, coleção Fundação Cupertino de Miranda / Donated by Mário Cesariny, Cupertino de Miranda Foundation’s collection
ISABEL MEYRELLES
Hommage à André Breton - “Le Revolver à cheveux blancs (1932)”, 2004
Bronze
24,5 × 26,7 × 16,9 cm
Doação Isabel Meyrelles, coleção Fundação Cupertino de Miranda / Donated by Isabel Meyrelles, Cupertino de Miranda Foundation’s collection
Fotograma / Still image
Autoria / Authorship: Cristina Margato, Ricardo Clara Couto
Realização / Direction: Ricardo Clara Couto
Produção / Production: Clara Amarela Films
Argumento / Script: Ricardo Clara Couto
Música / Music: Ricardo Reis
ISABEL MEYRELLES: O DRAGÃO QUE FUMA, 2022 (RTP2)
Jaime Isidoro: o pai das bienais /
Jaime Isidoro: the
father of biennials
by Helena Mendes Pereira (zet gallery)
Local: Biblioteca Municipal de Cerveira
Location: Cerveira Municipal Library
As Bienais Internacionais de Arte de Cerveira (BIAC), em 1978, surgem no contexto da ação de divulgador cultural que Jaime Isidoro (PT, 1924-2009) abraçou a partir de 1954 com a criação da Galeria Alvarez, no Porto. Para além da dinâmica que caracteriza a Galeria Alvarez, que começou com um espaço da Rua da Alegria, passando a dois a partir de 1970 com a abertura da Galeria 2, na Avenida da Boavista, Jaime Isidoro criou um contexto de criação único com a sua Casa da Carruagem, em Valadares (Vila Nova de Gaia) e com uma assinalável ponte estabelecida entre artistas, críticos e colecionadores. Ainda antes da Revolução dos Cravos, reconhecemos-lhe a criação da Revista de Artes Plásticas e a organização do importante Ciclo Internacional Perspetiva 74
A sua atividade contemplava, não apenas a divulgação de alguns nomes do modernismo português que haviam sido votados ao esquecimento, como uma aposta em novos valores da arte de vanguarda que marcou o contexto internacional a partir da década de 1960. Isidoro foi-se afirmando como um pivot essencial para a criação do sistema da arte português, agregando vontades e sendo capaz de estabelecer pontes entre todos. Imediatamente após o 25 de Abril de 1974, organiza na Casa da Carruagem, em Valadares, os I Encontros Internacionais de Arte (EIA), momentos de Liberdade, vocacionados para o debate e para a apresentação de propostas artística experimentais, tendo a performance especial destaque na programação destes dias. Os EIA fizeram o seu caminho, passando por Viana do Castelo, Póvoa de Varzim e pelas Caldas da Rainha, chegando a Vila Nova de Cerveira no Verão de 1978, tendo-se realizado, simultaneamente, a V edição dos EIA e a primeira BIAC, com organização de Jaime Isidoro e do que se designava como “Grupo Alvarez”, remetendo para a estrutura informal de artistas e críticos que, então, alimentava a ação cultural protagonizada pela Galeria Alvarez nos primeiros anos de Democracia.
Os EIA tinham como princípio a realização em tempos e locais de veraneio, fora dos grandes centros urbanos, levando a arte e o debate ao encontro dos públicos e alinhando-se com a desinstitucionalização da cultura que inspirava os movimentos pós-revolucionários. João Lemos Costa, então presidente da Câmara Municipal de Vila Nova
de Cerveira, era assíduo nos serões da Alvarez e desafia Jaime Isidoro a organizar os V EIA naquela vila da Costa Verde. Em visita ao local, e depois de conhecer o pavilhão gimnodesportivo que estava disponível para a realização do evento, Jaime Isidoro propõe a organização de uma bienal, ou seja, de uma grande exposição de artes plásticas e visuais que seguia, no modelo inicial, o conhecido da Bienal de Paris, criada em 1959 por André Malraux (FR, 1901-1976), e que tinha por base a divulgação de arte e artistas emergentes e de vanguarda. Jaime Isidoro era assíduo em Paris e conheceria o evento e o tipo de impacto que poderia criar.
Não obstante, a BIAC nasce, como uma das mais antigas do mundo, no contexto único da descentralização cultural, fora dos grandes centros urbanos, sendo um exemplo de excelência de como os projetos culturais, assumidos como parte de uma visão e de um projeto político, têm o poder de transformar, para sempre, os territórios e as suas comunidades.
A este modelo de Paris, naturalmente que Jaime Isidoro soma uma visão pessoal, instituindo, desde o início, a homenagem a um artista consagrado.
A razão dual terá como base um histórico de 24 anos com a Galeria Alvarez em que se foi sempre procurando combinar a divulgação da História da Arte com a construção de novas hipóteses de criação artística, alinhadas com o contemporâneo.
Como é amplamente descrito por muitos dos que testemunharam as primeiras edições da BIAC, Vila Nova de Cerveira transformava-se numa festa, com ocupação do espaço público por parte dos artistas e com o envolvimento da comunidade. De realçar aqui a importância de Maria Marcelina Morais (PT, 1921-2005), companheira de Jaime Isidoro e que se encarregava da dinamização de atividades vocacionadas para o público infantojuvenil, como é exemplo a criação do Grupo Bifrost, que protagonizava ações de experimentação artística, mas também de ativismo ambiental, uma novidade à época.
Jaime Isidoro soube, igualmente, mobilizar críticos que, não só produziam conteúdos e protagonizavam visitas guiadas, como tinham o papel legitimador do evento que crescia
Curadoria / Curated
em número de artistas e interesse ao longo das várias edições, tendo sido sempre presença habitual um bom número de internacionais.
A organização das BIAC, nestas primeiras edições dirigidas por Jaime Isidoro (1978, 1980, 1982, 1984 e 1986), é marcada por uma certa informalidade e por uma vontade única de produzir mudança e de criar um espaço de acolhimento e encontro para os artistas. São célebres as reuniões à mesa e o ambiente de fraternidade, partilha e amizade que marcou as primeiras edições do evento.
Depois de 1986, a organização das BIAC sofre algumas mudanças e Jaime Isidoro é afastado. A VI edição é dedicada ao design e organizada pela ARCA, com direção de José Rodrigues (AO, 1936-2016). Segue-se um período de crise no evento e, em 1992, já com o executivo municipal liderado por José Manuel Carpinteira (PT, 1959), Jaime Isidoro é novamente convidado a assumir as rédeas da organização, fazendo depois a transição para a Associação Projecto – Núcleo de Desenvolvimento Cultural e para a direção de Henrique Silva (PT, 1933).
Jaime Isidoro participa, ainda, na realização do inventário de obras que, entretanto, se tinham constituído como uma coleção e continuará a ser presença no evento, sobretudo na dinamização dos atelier de pintura, retomando forte atividade como artista após abandonar a dinamização cultural a que tinha dedicado quatro décadas de vida (19541994). Será, também, pela pressão que o próprio foi exercendo e porque ser dele esta ideia de Vila Nova de Cerveira como local privilegiado para o acolhimento de artistas em contexto de residência, que, em 2001, se inaugurará a Casa do Artista Jaime Isidoro, imortalizando a sua personalidade no nome do local onde, até hoje, gostamos de acolher os artistas que nos chegam de todas as partes.
Vila Nova de Cerveira foi cenário recorrente na pintura de Jaime Isidoro, destacado aguarelista. As paisagens do rio Minho a namorar entre as margens de Portugal e Espanha são uma constante em toda a sua pintura e, quando em 2010 se instituiu a Fundação Bienal de Arte de Cerveira, os herdeiros de Jaime Isidoro fazem a doação de um conjunto de obras da autoria do artista,
com especial destaque para aquelas que evidenciavam os momentos em que também aqui fez atelier.
A exposição “Jaime Isidoro: o pai das bienais”, patente na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Cerveira durante a XXIII BIAC, de registo eminentemente documental, procura assinalar, de uma forma simples e através dos cartazes, fotografias, recortes de imprensa e, ainda, de três obras que marcam as diferentes fases de envolvimento de Jaime Isidoro no evento (1978, 1992 e 2007, a sua última presença), o legado de Jaime Isidoro que, carinhosamente, apelidamos de “pai das bienais”.
Helena Mendes Pereira
The Cerveira International Art Biennials (BIAC), in 1978, arose in the context of the work of Jaime Isidoro (PT, 1924-2009) as a cultural promoter, starting in 1954 with the creation of the Galeria Alvarez in Porto. In addition to the dynamics that characterise the Galeria Alvarez, which began with one space on Rua da Alegria and became two from 1970 with the opening of Galeria 2 on Avenida da Boavista, Jaime Isidoro created a unique creative context with his Casa da Carruagem (train wagon house) in Valadares (Vila Nova de Gaia) and with a notable bridge established between artists, critics and collectors. Even before the Carnation Revolution, he was credited with creating the Artes Plásticas magazine and organising the important Perspective 74 International Cycle
Its activities included not only publicising some of the names of Portuguese modernism that had been forgotten, but also focusing on the new values of avant-garde art that marked the international context from the 1960s onwards. Isidoro established himself as an essential pivot in the creation of the Portuguese art system, bringing people together and being able to build bridges between everyone. Immediately after the 25th of April 1974, he organised the 1st International Art Meetings (EIA) at Casa da Carruagem (train wagon house) in Valadares. These were moments of freedom, aimed at debate and the presentation of experimental artistic proposals, with performance having
a special role in the programming of these days. The EIA made its way through Viana do Castelo, Póvoa de Varzim and Caldas da Rainha, arriving in Vila Nova de Cerveira in the summer of 1978. The 5th edition of the EIA and the first BIAC were held simultaneously, organised by Jaime Isidoro and what was known as the “Alvarez Group”, referring to the informal structure of artists and critics that then fed the cultural action carried out by the Galeria Alvarez in the early years of Democracy.
The principle of the EIAs was to be held in times and places of summer, outside the major urban centres, bringing art and debate to the public and in line with the deinstitutionalisation of culture that inspired the post-revolutionary movements. João Lemos Costa, then president of the Municipality of Vila Nova de Cerveira, was a regular at Alvarez’s events and challenged Jaime Isidoro to organise the 5th EIA in that town on the Costa Verde. On a visit to the site, and after seeing the sports pavilion that was available for the event, Jaime Isidoro proposed organising a biennial, i.e. a major exhibition of visual arts that followed the initial model of the Paris Biennale, created in 1959 by André Malraux (FR, 1901-1976), which was based on the dissemination of emerging and avant-garde art and artists. Jaime Isidoro was a regular visitor to Paris and was familiar with the event and the kind of impact it could create.
Nevertheless, BIAC was born, as one of the oldest in the world, in the unique context of cultural decentralisation outside the major urban centres, and is a prime example of how cultural projects, taken on as part of a vision and a political project, have the power to forever transform territories and their communities. To this Paris model, Jaime Isidoro naturally added a personal vision, establishing from the outset an homage to an established artist. The dual reason is based on a 24-year history with the Galeria Alvarez, in which we have always endeavoured to combine the dissemination of art history with the construction of new possibilities for artistic creation, in line with the contemporary.
As many of those who witnessed the first editions of BIAC have widely described, Vila Nova de Cerveira was transformed into a party, with artists occupying the public space and involving the community.
We should highlight the importance of Maria Marcelina Morais (PT, 1921-2005), Jaime Isidoro’s companion, who was responsible for organising activities aimed at children and young people, such as the creation of the Bifrost Group, which organised artistic experimentation and environmental activism, a novelty at the time.
Jaime Isidoro was also able to mobilise critics who not only produced content and led guided tours, but also legitimised the event, which grew in number of artists and interest over the course of the various editions, with a good number of internationals making a regular appearance.
The organisation of BIAC, in these first editions directed by Jaime Isidoro (1978, 1980, 1982, 1984 and 1986), is marked by a certain informality and a single-minded desire to effect change and create a welcoming and meeting space for artists. The table gatherings and the atmosphere of fraternity, sharing and friendship that marked the first editions of the event are well-known.
After 1986, the organisation of BIAC underwent some changes and Jaime Isidoro is sidelined. The 6th edition is dedicated to design and organised by ARCA, directed by José Rodrigues (AO, 1936-2016). This was followed by a period of crisis for the event and, in 1992, with the municipal executive led by José Manuel Carpinteira (PT, 1959), Jaime Isidoro was once again invited to take over the reins of the organisation, later making the transition to the Project Association - Cultural Development Centre and to the direction of Henrique Silva (PT, 1933).
Jaime Isidoro also took part in the making of the inventory of works that had meanwhile become a collection and would continue to be present at the event, especially in the dynamisation of the painting workshops, resuming his strong activity as an artist after abandoning the cultural dynamism to which he had dedicated four decades of his life (1954-1994). It was also due to the pressure he himself exerted, and because it was his idea that Vila Nova de Cerveira should be a privileged place for artists in residencies, that the Casa do Artista Jaime Isidoro (Artist’s House) was inaugurated in 2001, immortalising
his personality in the name of the place where, to this day, we like to welcome artists from all over the world.
Vila Nova de Cerveira was a recurring scene in the paintings of Jaime Isidoro, an outstanding watercolourist. The landscapes of the Minho River flowing between the shores of Portugal and Spain are a constant in all his paintings and, when the Cerveira Art Biennial Foundation was set up in 2010, Jaime Isidoro’s heirs donated a number of works by the artist, especially those that emphasised the times when he also spent time here in his studio.
The exhibition “Jaime Isidoro: the father of the biennials”, on display at the Vila Nova de Cerveira Municipal Library during the 23rd BIAC, is eminently
documentary in nature and seeks to highlight, in a simple way and through posters, photographs, press clippings and three works that mark the different phases of Jaime Isidoro’s involvement in the event (1978, 1992 and 2007, his last appearance), the legacy of Jaime Isidoro, who we affectionately call the “father of the biennials”.
Helena Mendes Pereira
Translated by Rita Fonseca
1978: os V Encontros Internacionais de Arte e a I Bienal Internacional de Arte de Cerveira / 1978: The V International Art Meetings and the 1st International Art Biennial of Cerveira
Capa dos catálogos das bienais dirigidas por Jaime Isidoro / Cover of the biennial catalogues directed by Jaime Isidoro
Jaime Isidoro: o pai das bienais / Jaime Isidoro: the father of biennials
Grupo Bifrost na III BIAC. Arquivo Henrique Silva / Bifrost Group at the III BIAC. Henrique Silva Archive
Grupo Bifrost na III BIAC. Arquivo Henrique Silva / Bifrost Group at the III BIAC. Henrique Silva Archive
Jaime Isidoro, Mário Soares e José Manuel Carpinteira na inauguração da VII BIAC. Arquivo Henrique Silva / Jaime Isidoro, Mário Soares and José Manuel Carpinteira at the inauguration of the VII BIAC. Henrique Silva Archive
Performance de Silvestre Pestana na IV BIAC. / Performance by Silvestre Pestana at the IV BIAC.
Jaime Isidoro a pintar (em) Vila Nova de Cerveira /
Jaime Isidoro. Sem Título / Untitled, 1978. Aguarela / Watercolour. 55 × 75 cm. Coleção Fundação Bienal de Arte de Cerveira / Cerveira Art Biennial Foundation’s collection
Jaime Isidoro. Porto, 2007. Acrílico sobre tela / Acrylic on canvas. 100 × 150 cm. Coleção Fundação Bienal de Arte de Cerveira / Cerveira Art Biennial Foundation’s collection
Jaime Isidoro. Sem Título / Untitled, 1992. Acrílico sobre platex / Acrylic on hardboard. 122 × 276 cm. Coleção Fundação Bienal de Arte de Cerveira / Cerveira Art Biennial Foundation’s collection
Jaime Isidoro em 2007 a pintar junto ao rio Minho em Vila Nova de Cerveira. Arquivo Galeria Alvarez. / Jaime Isidoro in 2007 painting by the Minho river in Vila Nova de Cerveira. Galeria Alvarez archive
Jaime Isidoro em 2007 a pintar junto ao rio Minho em Vila Nova de Cerveira. Arquivo Galeria Alvarez. / Jaime Isidoro in 2007 painting by the Minho river in Vila Nova de Cerveira. Galeria Alvarez archive.
2001: Inauguração da Casa do Artista Jaime Isidoro /
Maria Marcelina na inauguração da Casa do Artista. Arquivo Henrique Silva / Maria Marcelina at the inauguration of the Casa do Artista (Artist’s House). Henrique Silva Archive
Ateliers livres a decorrer na Casa do Artista. Arquivo Henrique Silva / Free workshops taking place at Casa do Artista (Artist’s House). Henrique Silva Archive
Ateliers livres a decorrer na Casa do Artista. Arquivo Henrique Silva / Free workshops taking place at Casa do Artista (Artist’s House). Henrique Silva Archive
Jaime Isidoro a discursar na inauguração da Casa do Artista. Arquivo Henrique Silva / Jaime Isidoro speaking at the inauguration of the Casa do Artista (Artist’s House). Henrique Silva Archive
Livre Trânsito_Ciclo de residências e
intervenções artísticas /
Free Transit_Cycle of artist residencies and art interventions
ALEXANDRA FERREIRA PT
Campos
Se os teus olhos se mexem, isso significa que estás a pensar, ou prestes a começar a pensar / If your eyeballs move, this means that you’re thinking, or about to start thinking
As esculturas, fotografias e desenhos de Alexandra Ferreira refletem o uso e a ocupação do espaço público, os seus aspetos performativos e o lado material e imaterial que cada obra integra. Na sua residência artística, procura explorar as possibilidades. artísticas de apropriação dos materiais residuais ou obsoletos da zona industrial de Campos. A partir desta exploração, e em parceria com o Centro de Cultura de Campos, irá orientar momentos de criação coletiva com a comunidade
Alexandra Ferreira’s sculptures, photographs and drawings reflect the use and occupation of public space, its performative aspects and the material and immaterial side of each work. In her artist residency, she seeks to explore the artistic possibilities of appropriating residual or obsolete materials from Campos’ industrial estate. Based on this exploration, and in partnership with Campos Culture Centre, she will guide moments of collective creation with the community.
ALICE GEIRINHAS PT
Mentrestido
Amassar / To knead
Alice Geirinhas é uma artista que se tem vindo a dedicar ao desenho e ilustração, instalação e vídeo, explorando questões associadas à narratividade e a temas feministas interseccionais, questões de sexualidade, identidade e desigualdade. Para a sua residência artística, em colaboração com o ceramista Álvaro Torres, explora o Raku e o convívio associado em torno desta técnica de cerâmica, na gestão da sua cozedura. Neste período de experimentação com a cerâmica, procurará criar momentos de interação e convívio com a comunidade, associando à cozedura das peças, a partilha do icónico Bolo do Tacho de Mentrestido.
Alice Geirinhas is an artist who has dedicated herself to drawing and illustration, installation and video, exploring issues associated with narrativity and intersectional feminist themes, issues of sexuality, identity and inequality. For her artist residency, in collaboration with ceramicist Álvaro Torres, she is exploring Raku and the socialising associated with this ceramic technique, in the management of its firing. During this period of experimentation with ceramics, she will seek to create moments of interaction and conviviality with the community, associating the firing of the pieces with the sharing of the iconic “Bolo do Tacho de Mentrestido”.
Um espaço no meio / A
Space Between
O projeto de Andrew Binkley para a freguesia de Vila Meã intitulado “A Space Between” (Um espaço no meio), é um convite para descobrir fendas na superfície do ambiente e pintá-las com ouro. Isto desenvolve uma ligação íntima com o que nos rodeia, ao mesmo tempo que realça e valoriza os aspectos negligenciados ou subvalorizados da história, fragilidade e impermanência dentro de nós e do mundo que nos rodeia.
A Space Between, Andrew Binkley’s project for the parish of Vila Meã, is an invitation to discover cracks in the surface of one’s environment and paint them with gold. This develops an intimate connection with our surroundings along with highlighting and valuing the overlooked or underappreciated aspects of history, fragility, and impermanence within ourselves and the world around us.
ANDREW BINKLEY US
Vila Meã
Sem título / Untitled
Sob a forma de curta metragem, o trabalho de Eduardo Brito, na freguesia de Sopo, explora elementos ficcionais a partir do território: histórias distorcidas, personagens inventadas, lendas e fabulações, coisas que se reinventam e reescrevem depois de filmadas.
In the form of a short film, Eduardo Brito’s work in the parish of Sopo explores fictional elements from the territory: distorted stories, invented characters, legends and fabrications, things that are reinvented and rewritten after being filmed.
EDUARDO BRITO PT Sopo
INÊS MAGALHÃES PT
Entre ser e estar / Between being and existing
O desenvolvimento da prática artística de Inês Magalhães está assente em três pilares: atenção, contemplação e movimento, exercitados de forma integrada. A sua residência em Candemil está focada na exploração da relação entre movimento, pensamento e expressão através do desenho. Nestes desenhos, tenciona explorar temáticas relacionadas com o “mark-making”, bem como reflectir sobre o conceito de liberdade de expressão num contexto de introspecção. Orientado pela artista, será realizado um workshop/ oficina onde se convidam membros da população local a explorar o tema proposto.
The development of Inês Magalhães’ artistic practice is based on three pillars: attention, contemplation and movement, exercised in an integrated way. Her residency in Candemil is focused on exploring the relationship between movement, thought and expression through drawing. In these drawings, she intends to explore themes related to ‘mark-making’, as well as reflecting on the concept of freedom of expression in a context of introspection. Guided by the artist, a workshop will be held in which members of the local population will be invited to explore the proposed theme.
Candemil
JULISSA MASSIEL EC
Gondarém
O ressurgimento: para além dos resíduos / Resurgence: beyond waste
Na sua prática artística, através da performance e instalação, a artista Julissa Massiel explora a relação com o meio ambiente e os nossos hábitos de consumismo atuais, procurando refletir sobre a diferença entre lixo, materiais que deixaram de ter valor ou utilidade, e resíduos, que poderão ter nova vida e utilidade através da criação artística. Com base na junta de Gondarém, desenvolve um projeto artístico que passa pela recolha e transformação de diferentes materiais disponíveis na freguesia, em colaboração com a comunidade.
In her artistic practice, through performance and installation, Julissa Massiel explores the relationship with the environment and our current habits of consumerism, seeking to reflect on the difference between rubbish, materials that no longer have any value or usefulness, and waste, which can be given new life and usefulness through artistic creation. Based in the parish of Gondarém, she is developing an artistic project that involves collecting and transforming different materials available in the parish, in collaboration with the local community.
Anotações sobre a fronteira / Borderland notes
O projeto de Lisa Chang Lee para a sua residência em Gondar será realizado sob múltiplas formas, incluindo fotografia, impressões, gravação de som e comida, bem como o envolvimento com as comunidades locais. Durante a residência, Lisa Chang Lee investigará a história geopolítica da região ao longo do rio Minho, para questionar o significado de fronteira para as culturas e para o meio ambiente. Traçando a história colonial de Portugal e Espanha como dois dos primeiros países ocidentais a contactar com a Ásia, analisando as pegadas biológicas entrelaçadas do seu impacto a partir de uma perspetiva ecocêntrica.
Lisa Chang Lee´s project for her residency in Gondar will be carried out in multiple forms including photography, prints, sound recording and food as well as the engagement with local communities. During the residency she will be investigating the geopolitical history of the region along the river Minho, to question what border means to cultures and environment. Tracing back the colonial history of Portugal and Spain as two of the very first Western countries in touch with Asia, looking into the intertwined biological footprints of its impact from an ecocentric perspective.
LISA CHANG LEE CN Gondar
MATEO CHIRIBOGA EC
Lovelhe
A gaveta de todas as canções / The every song stick box
Para o seu projeto na freguesia de Lovelhe, Mateo Chiriboga vai procurar objectos antigos da comunidade que não sejam considerados lixo, como móveis velhos, coisas que tenham algum distanciamento sentimental: uma bicicleta ou algum tipo de objectos com uso esporádico ou quotidiano, como exemplos. Como parte do exercício de desapego, podem ser objetos com histórias para contar. Produzir música numa instalação criativa, relacionada com música experimental para tocar e compor numa jam session.
For his project in the parish of Lovelhe, Mateo Chiriboga will search for old objects from the community that are not considered waste, such as old furniture, things that have some sentimental detachment: a bicycle or some kind of objects with sporadic or quotidian use, as examples. As part of the exercise of detachment, they can be objects with stories to talk about. Making music in a creative installation, related with experimental music to play and compose in a jam session.
PAULO BARROS PT
Nogueira
Descalço sobre os trilhos da terra, avanço, silêncio tesouros camuflados encontro / Barefoot on earth’s tracks, I move forward, silently finding camouflaged treasures
Paulo Barros concilia a sua atividade como artista, na área do desenho, pintura e investigação prática sobre as técnicas de impressão. A sua residência artística partirá de um trabalho de campo na freguesia de Nogueira, de descoberta de um espaço de possibilidades de criação, a partir do contacto direto com o território, a paisagem e a comunidade.
Paulo Barros combines his work as an artist with drawing, painting and practical research into printing techniques. His artist residency will be based on fieldwork in the parish of Nogueira, discovering a space of creative possibilities based on direct contact with the territory, the landscape and the community.
PIÑEIRA ES, ANA
MARIA PINTORA PT E AMÉLIA CALDAS PT Cornes
Coreto da Democracia / Democracy Bandstand
Pilar Piñeira, Ana Maria Pintora e Amélia Caldas em colaboração com vários artistas e a comunidade, levam à freguesia de Cornes o projeto “Coreto da Democracia”. Esta performance realizada em três momentos pretende ativar o único coreto existente no município, com inscrições alusivas aos 50 anos da revolução portuguesa, convidando os participantes a narrarem os seus sentimentos e memórias ligadas ao 25 de Abril de 1974, bem como as suas perspetivas para o futuro.
Pilar Piñeira, Ana Maria Pintora and Amélia Caldas, in collaboration with various artists and the community, are bringing the “Coreto da Democracia” (Democracy Bandstand) project to the parish of Cornes. This three-part performance aims to activate the only bandstand in the municipality, with inscriptions alluding to the 50th anniversary of the Portuguese revolution, inviting participants to narrate their feelings and memories linked to 25 April 1974, as well as their prospects for the future.
RICARDO GRITTO PT
Sapardos
AUTOSCOPIA Cultural / Cultural AUTOSCOPY
Durante residência artística em Sapardos, Ricardo Gritto irá explorar a riqueza cultural e histórica desta freguesia de Vila Nova de Cerveira, através de um registo antropológico em vídeo como parte da continuidade do projecto “Konsolidarte Internacional”, ação que conta em 2024, com a sua 8ª edição. O projeto irá incluir entrevistas com moradores em diversos contextos, com o objetivo de capturar as histórias e perspectivas desta comunidade. Esta abordagem visa valorizar e preservar a identidade local, contribuindo para o programa “Autoscopia Cultural”, dedicado a documentar e compartilhar internacionalmente a cultura local, regional, nacional e internacional.
During his artist residency in Sapardos, Ricardo Gritto will explore the cultural and historical richness of this parish in Vila Nova de Cerveira through an anthropological video recording as part of the continuation of the “Konsolidarte Internacional” project, an action that will mark its 8th edition in 2024. The project will include interviews with residents in various contexts, with the aim of capturing the stories and perspectives of this community. This approach aims to enhance and preserve local identity, contributing to the “Cultural Autoscopy” programme, dedicated to documenting and sharing local, regional, national and international culture at international level.
RICARDO NUGRA EC
Loivo
Reverberações / Reverberations
A proposta artística de Ricardo Nugra para a freguesia de Loivo procura explorar a relação do homem com a montanha através de elementos naturais encontrados na zona. Esta exploração combina fotografia com recursos acústicos. O objetivo é representar, através da arte, as mudanças nas montanhas em resposta às preocupações ecológicas causadas por modelos extractivistas.
Ricardo Nugra’s artistic proposal for the parish of Loivo seeks to explore man’s relationship with the mountain through natural elements found in the area. This exploration combines photography with acoustic resources. The aim is to represent, through art, the changes in the mountains in response to the ecological concerns caused by extractivist models.
SØREN DAHLGAARD DK
Vila Nova de Cerveira
Ilha insuflável / Inflatable Island
Desfile da Ilha com 140 estudantes de Viborg Friskole. O evento fez parte da exposição Søren Dahlgaard: Coleção em Movimento no Museu Skovgaard, Viborg Dinamarca, 2023. / Island Parade with 140 students from Viborg Friskole. The event was part of the exhibition Søren Dahlgaard: Collection in Action at the Skovgaard Museet, Viborg Denmark, 2023.
A ilha é uma escultura insuflável de 8 metros de comprimento criada por Søren Dahlgaard. É composta por rip-stock de nylon, o mesmo material usado em pára-quedas e balões de ar quente, e uma ventoinha. Embora a ilha seja um objeto lúdico que incentiva à brincadeira e à participação, é também um projeto de arte que destaca as alterações climáticas e as questões da migração. Durante a sua residência em Cerveira, Søren Dahlgaard convidará a comunidade a participar numa performance no dia de inauguração da XXIII BIAC, onde o objetivo será fazer a deslocação desta ilha do Fórum Cultural de Cerveira para a Galeria Bienal de Cerveira, onde permanecerá na exposição dos Artistas Convidados.
The island is an 8-metre-long inflatable sculpture created by Søren Dahlgaard. It is made of nylon rip-stock, the same material used in parachutes and hot air balloons, and an airfan. Although the island is a playful object that encourages play and participation, it is also an art project that highlights climate change and migration issues. During his residency in Cerveira, Søren Dahlgaard will invite the community to take part in a performance on the opening day of the XXIII BIAC, where the aim will be to move this island from the Cerveira Cultural Forum to the Cerveira Biennial Gallery, where it will remain in the Guest Artists’ exhibition.
Fotografia / Photo: Søren Dahlgaard
SUSANA GAUDÊNCIO & SOFIA GONÇALVES PT
Covas
Prospecção. De Covas vê-se a Europa / Prospecting. From Covas you can see Europe.
As artistas e investigadoras, Susana Gaudêncio e Sofia Gonçalves, participantes em 2022 do ciclo de residências artísticas “De Vila das Artes a Município para as Artes” realizam o segundo capítulo das suas pesquisas e trabalhos desenvolvidos na freguesia de Covas, sobre as relações entre natureza, paisagem, política comum, ativismo, exploração tecnológica do território, investigando histórias e narrativas locais - ancestrais e contemporâneas.
The artists and researchers
Susana Gaudêncio and Sofia Gonçalves, participants in the 2022 cycle of artists’ residencies “De Vila das Artes a Município para as Artes” (From Village of the Arts to Municipality for the Arts)” are carrying out the second chapter of their research and work in the parish of Covas, on the relationship between nature, landscape, common politics, activism, technological exploitation of the territory, investigating local stories and narratives - both ancestral and contemporary.
VASCO COSTA PT
Reboreda
Sem Título / Untitled
A partir da investigação e observação ativa dos valores geográficos e etnoculturais da freguesia de Reboreda, Vasco Costa irá desenvolver uma ação/ obra que levantará relações de valor, a partir de uma experiência partilhada. Esta interação permitirá que um olhar de fora, e uma prática artística venha estimular e interagir com quem habita este lugar. Abrindo assim uma relação refletiva e subjetiva sobre a riqueza da herança topográfica e suas atividades.
Based on research and active observation of the geographical and ethnocultural values of the parish of Reboreda, Vasco Costa will develop an action/work that will raise value relationships, based on a shared experience. This interaction will allow an outsider’s gaze and an artistic practice to stimulate and interact with those who inhabit this place. Thus opening up a reflective and subjective relationship with the richness of the topographical heritage and its activities.
A Metafísica da Sorte e a Ciência do Azar /
The Metaphysics of Luck and the Science of Misfortune
Local: Convento de San Payo
Location: San Payo Convent
As Bienais Internacionais de Arte de Cerveira nascem em 1978 como consequência de uma utopia, protagonizada por Jaime Isidoro (PT, 19242009), José Rodrigues (AO, 1936-2016) e Henrique Silva (PT, 1933), entre outros artistas de uma geração que procurou uma Revolução Cultural, no contexto da transição do regime do Estado Novo para a Democracia. 45 anos depois, esta bienal portuguesa de arte contemporânea é uma das mais antigas da Europa e é hoje gerida por uma Fundação sem fins lucrativos que vem sendo reconhecida e premiada pela sua atividade.
A coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira é o maior ativo desta estrutura de criação e programação artística. A sua construção inicia-se em 1978 e reúne um total de 755 objetos, provenientes de aquisições, doações, de projetos desenvolvidos no contexto dos ateliers livres e/ou das residências artísticas e dos depósitos a longo prazo. As aquisições correspondem, de uma forma geral, às obras premiadas em vinte e duas edições do evento, enquanto as doações reúnem um corpo de trabalhos dos seus sócios-fundadores e de outros artistas com vínculo afetivo à instituição. O total de obras corresponde a um intervalo de tempo que vai de 1950 até 2022.
No enquadramento do tema da Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau 2023, “A Estatística da Fortuna”, as curadoras Helena Mendes Pereira e Mafalda Santos fizeram uma seleção de obras da coleção onde, de forma objetiva, subjetiva ou simbólica, se cruzam os binómios sorte & azar, espiritualidade & ciência, ordem & caos, conflito & compatibilidade, solidão & comunhão, intenção & acaso.
Nas palavras do filósofo Mircea Eliade (Roménia, 19071986), “Nas grandes civilizações – da Mesopotâmia e do Egipto à China e à Índia –, o templo recebeu uma nova e importante valorização: ele não é somente um imago mundi, é igualmente interpretado como a reprodução terrestre de um modelo transcendente.” 1. Considerando a Arte como espaço e tempo da transcendência e os museus como templos, convites ao encontro com o eu e, simultaneamente, imagens e hipóteses sobre o mundo, esta seleção
de obras procura refletir, a partir do jogo dos opostos, sobre a essência mobilizadora do Ser Humano. A sorte surge, habitualmente associada ao divino, a uma espécie de dádiva dos deuses e do destino. Por outro lado, o azar racionaliza-se, com recurso às ciências exatas e ao estudo das probabilidades. O azar não é um desígnio, a má sorte não é um castigo, partindo de uma perspetiva da filosofia positivista.
As curadoras escolheram 27 obras de arte, numa alusão ao “Clube 27”, a lista de artistas visuais, músicos e atores que morreram com 27 anos, passando este a ser um marco fatídico, mas, também, de imortalidade. Representando mais de 40 anos de criação artística contemporânea, diferentes linguagens e tecnologias, que passam pelo vídeo, pintura, escultura ou instalação, a mostra privilegia a profusão de elementos, a poética da cor, as composições complexas e de detalhe, a dimensão de arquivo e memória do corpo humano e uma leitura das arquiteturas dadas pela sobreposição de planos. Em comum, este cruzamento de propostas convida à contemplação e a um pensamento sobre o tema da edição 2023 da Arte Macau, alinhando-se com uma visão transversal e global das tradições religiosas, das superstições e do contraditório que encontra eco no campo alargado das ciências. Foi, por isso, relevante, pensar um conjunto de artistas de diferentes nacionalidades e gerações, sendo cada um deles representante de um olhar sobre o mundo.
The Cerveira International Art Biennials were born in 1978 as a consequence of a utopia, led by Jaime Isidoro (PT, 1924-2009), José Rodrigues (AO, 1936-2016) and Henrique Silva (PT, 1933), among other artists of a generation that sought a Cultural Revolution, in the context of the transition from the dictatorial regime of Estado Novo to Democracy. 45 years later, this Portuguese contemporary art biennial is one of the oldest in Europe and is today managed by a non-profit Foundation that has been recognised and awarded for its activity.
The Cerveira Art Biennial Foundation collection is the greatest asset of this artistic creation
1 ELIADE, Mircea – O Sagrado e o Profano (1957). Lisboa: Relógio d’Água, 2016. Página 56.
Curadoria / Curated by Helena Mendes Pereira (zet gallery), Mafalda Santos
and programming structure. Its construction began in 1978 and brings together a total of 755 objects, from acquisitions, donations, projects developed in the context of free workshops and/or artistic residencies and long-term deposits. The acquisitions correspond, in general, to the works awarded in the twenty-two editions of the event, while the donations bring together a body of work by its founding partners and other artists with affective ties to the institution. The total number of works corresponds to a time span ranging from 1950 to 2022.
In the framework of the theme of Art Macao: Macao International Art Biennale 2023, “The Statistics of Fortune”, curators Helena Mendes Pereira and Mafalda Santos have made a selection of works from the collection where, in an objective, subjective or symbolic way, the binomials luck & misfortune, spirituality & science, order & chaos, conflict & compatibility, solitude & communion, intention & chance intersect.
In the words of the philosopher Mircea Eliade (Romania, 1907-1986), “In the great civilisationsfrom Mesopotamia and Egypt to China and India - the temple has received a new and important valorisation: it is not only an imago mundi, but it is also equally interpreted as the earthly reproduction of a transcendent model”. 2 Considering Art as space and time of transcendence and museums as temples, invitations to an encounter with the self
and, simultaneously, images and hypotheses about the world, this selection of works seeks to reflect, from the play of opposites, on the mobilising essence of the Human Being. Luck is usually associated with the divine, a gift from the gods and fate. On the other hand, misfortune is rationalised, with recourse to the exact sciences and the study of probabilities. From the perspective of positivist philosophy, misfortune is not a plan and bad luck is not a punishment.
The curators chose 27 artworks, referencing the “27 Club”, the list of visual artists, musicians and actors who died at the age of 27, making this a milestone of fatefulness, but also of immortality. Representing over 40 years of contemporary artistic creation, different languages and technologies, including video, painting, sculpture and installation, the exhibition privileges the profusion of elements, the poetics of colour, complex compositions and details, the dimension of archive and memory of the human body and reading of architectures given by the superposition of planes. In common, this intersection of proposals invites contemplation and thought on the theme of the 2023 edition of Art Macao, aligning itself with a transversal and global vision of religious traditions, superstitions and the contradiction that finds an echo in the broad field of sciences. It was therefore relevant to think of a group of artists of different nationalities and generations, each one representing a view of the world.
2 ELIADE, Mircea – The Sacred and the Profane (1957). Lisbon: Relógio D’Água, 2016. Page 56.
AgriCULTURA / AgriCULTURE
Angelo Pilloni (IT) Esboço de mural em Vila Nova de Cerveira / Sketch for mural in Vila Nova de Cerveira. Fotografia / Photography by: archivo Noarte
Marcos Fernández Cea (ES) Mural em San Sperate / Mural in San Sperate Fotografia / Photography by: archivo Noarte
Angelo Pilloni (IT) Mural em San Sperate / Mural in San Sperate Fotografia / Photography by: Attla Kleb
Angelo Pilloni (IT) Mural em San Sperate / Mural in San Sperate Fotografia / Photography by: Attla Kleb
Angelo Pilloni (IT) Mural em San Sperate / Mural in San Sperate Fotografia / Photography by: Attla Kleb
Angelo Pilloni (IT) Mural em San Sperate / Mural in San Sperate Fotografia / Photography by: Attla Kleb
Com / with Comune di San
- Fondazione di
Local: Cooperativa Agrícola de Vila Nova de Cerveira
Location: Vila Nova de Cerveira Agricultural Cooperative
Somos livres?
Uma pergunta quiçá banal para aqueles que ignoram séculos de lutas pela conquista da liberdade, tomando-a como um dado adquirido. Uma pergunta que, após as eleições europeias onde a extrema direita ganhou terreno, precisa de uma resposta urgente.
Mas, acima de tudo, quem é este “nós” e o que significa ser “livre”?
Sem ir muito longe, pensemos no povo palestiniano; nos reféns israelitas; no povo ucraniano (embora o povo russo não seja diferente); pensemos em todos os seres humanos que só podem atravessar uma fronteira ilegalmente, confiando as suas vidas ao mar e a organizações criminosas impiedosas; pensemos na situação das mulheres em muitos países do mundo. E mesmo que sejamos privilegiados em comparação com muitos, seremos realmente livres para sermos nós próprios, para expressarmos as nossas ideias, para amarmos quem quisermos, para cuidarmos de nós próprios, para nos educarmos, para termos um emprego decente, para criarmos uma família...?
A Fundação Bienal de Arte de Cerveira, ao convidar o Paese Museo de San Sperate a participar
na XXIII edição da Bienal Internacional de Arte, instiga-o a fazê-lo através do exercício da liberdade que mais o caracteriza, ou seja, a pintura mural.
De facto, tal como Vila Nova de Cerveira, após o colapso da ditadura em 1974, deu origem a uma fortíssima ação cultural que a levou a tornar-se Vila das Artes, também San Sperate se tornou Cidade Museu em 1968, através de uma revolução cultural. Ambas as realidades queriam deixar de ser periferias culturais e garantir às suas populações a liberdade de usufruir da arte e de crescer culturalmente. Assim, a arte invadiu as ruas: uma arte pública e acessível a todos.
Neste contexto, o mural é um gesto que permite ao artista exprimir-se livremente sob a luz do sol. Um pretexto para o encontro e debate entre as pessoas e para o crescimento de toda uma comunidade.
Assim, neste 2024 que merece as nossas respostas, junto à entrada do Fórum Cultural, na enorme parede branca da Cooperativa Agrícola de Vila Nova de Cerveira, Angelo Pilloni, o maior muralista do Paese Museo, trabalhará
Angelo Pilloni (IT) no seu estúdio / Angelo Pilloni (IT) in his studio
Fotografia / Photography by: archivo Noarte
Curadoria / Curated by Noarte Paese Museo + Officinevida
Sperate
Sardegna
em colaboração com os artistas galegos Marcos Fernández Cea e Doa Ocampo Alvarez.
A obra será uma homenagem às origens camponesas das duas comunidades - Vila Nova de Cerveira e San Sperate - que há seis anos se unem sem pretensões e com humildade para um objetivo comum.
Angelo Pilloni (IT) nasceu em San Sperate, em 1945. Participou ativamente no movimento artístico e cultural do Paese Museo, tornando-se rapidamente um dos muralistas mais reconhecidos em toda a Sardenha. Motivado pelo desejo de reconstruir um passado em que as pessoas se possam identificar, os seus murais reproduzem cenas da vida rural utilizando a técnica Trompe d’Oeil: agricultores a trabalhar; festas populares; ferramentas agrícolas em desuso; os elementos característicos das casas antigas do sul da Sardenha com portas de madeira, pequenas janelas e paredes de tijolo de barro.
Marcos Fernández Cea (ES) nasceu em Vigo, em 1993. Estudou Belas Artes em Pontevedra, Granada, Lisboa e São Paulo. Pinta sob anonimato na rua como um ato de comunicação, reapropriação do espaço público e desenvolvimento criativo. Começou a pintar graffiti em 2008, uma atividade em que a deriva, o estudo do espaço e o diálogo com as imagens são fundamentais. Realizou numerosas obras em espaços públicos na Sardenha, Espanha, Portugal, França, Portugal e Brasil.
Doa Ocampo Alvarez (ES) nasceu em Sober (Lugo) em 1986. Estudou fotografia artística (EASD Pablo Picasso) e artes plásticas (U.Vigo Pontevedra, México e Lisboa). Com uma formação multidisciplinar, a sua criação artística move-se entre a pintura mural, intervenções e instalações com tecidos e audiovisuais, fotografia e gráficos de ilustração
botânica. Participa em residências de arte pública em Portugal, Espanha, Kosovo e França.
Are we free?
A perhaps banal question for those who ignore centuries of struggles for freedom and take it for granted. A question that, after the European elections in which the extreme right gained ground, needs an urgent answer.
But above all, who is this “we” and what does it mean to be “free”?
Without going too far, let’s think about the Palestinian people; the Israeli hostages; the Ukrainian people (although the Russian people are no different); let’s think about all the human beings who can only cross a border illegally, entrusting their lives to the sea and to ruthless criminal organisations; let’s think about the situation of women in many countries around the world. And even if we are privileged compared to many, are we really free to be ourselves, to express our ideas, to love whoever we want, to look after ourselves, to educate ourselves, to have a decent job, to raise a family...?
By inviting the Paese Museo de San Sperate to take part in the XXIII edition of the International Art Biennial, the Cerveira Biennial Art Foundation is encouraging us to do so through the exercise of the freedom that characterises us most, namely mural painting.
In fact, just as Vila Nova de Cerveira, after the collapse of the dictatorship in 1974, gave rise to a very strong cultural action that led it to become known as the Village of Arts, San Sperate also
became a Museum City in 1968 through a cultural revolution. Both realities wanted to stop being cultural peripheries and guarantee their populations the freedom to enjoy art and grow culturally. Thus, art invaded the streets: public art accessible to all.
In this context, the mural is a gesture that allows artists to express themselves freely in the sunlight. A pretext for people to meet and debate and for the growth of an entire community.
And so, in this 2024 that deserves our responses, near the entrance to the Cultural Forum, on the huge white wall of the Vila Nova de Cerveira Agricultural Cooperative, Angelo Pilloni, the Paese Museo’s greatest muralist, will be working in collaboration with the Galician artists Marcos Fernández Cea and Doa Ocampo Alvarez.
The work will be a tribute to the peasant origins of both communities - Vila Nova de Cerveira and San Sperate - which six years ago united without pretence and with humility for a common goal.
Angelo Pilloni (IT) was born in San Sperate, in 1945. He took an active part in the artistic and cultural movement of the Paese Museo, quickly becoming one of the most well-known muralists throughout Sardinia. Motivated by the desire to reconstruct a past that people can identify with, his murals reproduce scenes from rural life using the Trompe d’Oeil technique: farmers at work; popular festivals; disused agricultural tools; the characteristic elements of the old houses of southern Sardinia with wooden doors, small windows and mud brick walls.
Marcos Fernández Cea (ES) was born in Vigo, in 1993. He studied Fine Arts in Pontevedra, Granada, Lisbon and São Paulo. He paints anonymously in the street
as an act of communication, reappropriation of public space and creative development. He began painting graffiti in 2008, an activity in which drift, the study of space and the dialogue with images are fundamental. He has created numerous works in public spaces in Sardinia, Spain, Portugal, France and Brazil.
Doa Ocampo Alvarez (ES) was born in Sober (Lugo) in 1986. She studied artistic photography (EASD Pablo Picasso) and fine arts (U.Vigo Pontevedra, Mexico and Lisbon). With a multidisciplinary background, her artistic creation oscillates between mural painting, textile and audiovisual art interventions and installations, photography and botanical illustration graphics. She participates in public artist residencies in Portugal, Spain, Kosovo and France.
País convidado: Brasil /
Guest country: Brazil
Cristiana Tejo + NowHere
Esta exposição esteve patente no Fórum Cultural de Cerveira de 23 março a 01 de junho de 2024 / This exhibition was on display at the Cerveira Cultural Forum from 23 March to 01 June 2024
FOI BONITA A FESTA, PÁ / IT WAS A BEAUTIFUL CELEBRATION, FRIEND
Um dia após a Revolução dos Cravos, chegou a Lisboa o cineasta Glauber Rocha, o primeiro de vários artistas brasileiros a acompanhar o processo revolucionário português. Com o fim de 48 anos de regime ditatorial, Portugal tornou-se rota de exilados latino-americanos fugindo das repressões regionais. Embora não fosse o destino final para muitos, serviu como terra de transição para milhares que seguiram para outras nações. Cerca de 70 brasileiros se exilaram em Portugal até a anistia e redemocratização do Brasil em 1979. Apesar de menor que o contingente de exilados na França, a experiência portuguesa impactou profundamente artistas como Artur Barrio, José Celso Martinez, Augusto Boal e políticos como Leonel Brizola, Carlos Minc e Alfredo Sirkis.
Os portugueses receberam os brasileiros com gratidão, refletindo a acolhida anterior dos seus exilados pelo Brasil. Portugal tornou-se também um local de resistência contra a ditadura brasileira, com a criação do Comitê Pró-Anistia Geral do Brasil e o Comitê de Apoio à Luta dos Povos da América Latina, promovendo eventos de denúncia sobre a realidade brasileira, como a Semana de Solidariedade com o Povo Brasileiro em 1977.
Nos anos 1990, a migração de brasileiros para Portugal continuou devido a crises econômicas e oportunidades profissionais. No entanto, o fluxo migratório aumentou significativamente com a instabilidade política no Brasil a partir do Golpe contra Dilma Rousseff em 2016 e a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Em 2019, havia 151 mil brasileiros regularizados em Portugal, crescendo para 400 mil em 2023. A perseguição a profissionais da arte e a extinção do Ministério da Cultura no Brasil resultaram em uma fuga de cérebros. Muitos destes migrantes, embora não fugissem de uma ditadura, sentiram-se como exilados políticos, buscando segurança física e psicológica em terras lusas.
Portugal mudou desde os anos 1970, agora membro da Comunidade Europeia, saindo de uma crise financeira e enfrentando gentrificação. A recepção aos brasileiros tornou-se menos calorosa e o país relutante em enfrentar a decolonização de sua história, ao contrário do Brasil, onde o processo estava avançado.
A relação entre Brasil e Portugal é complexa e multifacetada, exigindo numerosas teses e exposições para ser completamente abordada. No cinquentenário do 25 de abril, destacamos a participação de artistas brasileiros nesse evento histórico, especialmente entre 1974 e 1976, e o atual marco migratório. A exposição “É bonita a festa, pá” aborda as diversas vivências de artistas brasileiros em Portugal, suas motivações, tempos de contato e reações ao que encontraram. A partir de um levantamento preliminar de nomes de artistas e suas obras, constelações de tópicos foram surgindo: a história de Portugal (incluindo sua intrínseca relação com o Brasil e seus ciclos econômicos), o momento político brasileiro recente, o sentimento gerado pela imigração, tradições e artesanias comuns entre os dois países, a língua compartilhada e dividida, ancestralidades, o mundo do trabalho, o corpo migrante (diaspórico e não heteronormativo que confronta a sua objetificação desde os tempos coloniais), o território, os fenômenos naturais e a geologia como metáforas dos extrativismos e suas consequências ambientais. Os trabalhos escolhidos de 49 artistas e coletivos muitas vezes relacionam-se com múltiplas constelações evocando sua polissemia e a interconexão entre os temas, o que potencializa o caráter plurívoco de tantas existências sob o recorte nacional e temporal.
A história da arte tem suas raízes na Europa e tende a replicar assimetrias geopolíticas. Uma reescrita da história da arte está em curso há pelo menos 10 anos, mas muitos pontos cegos permanecem. Portugal, sendo um país periférico na Europa, e o Brasil, sua antiga colônia, ambos buscam reconhecimento internacional, frequentemente ignorando suas conexões artísticas mútuas. A colonialidade portuguesa é específica, pois Portugal é semi-periférico no sistema capitalista moderno, e o Brasil tornou-se mais relevante economicamente. Essa complexidade nas relações pode contribuir para a descolonização das narrativas históricas da arte de ambos os países. Esperamos que esta exposição e publicação contribuam para essa empreitada.
Cristiana Tejo
Curadoria / Curated by Helena Mendes Pereira (zet gallery)
One day after the Carnation Revolution, film-maker Glauber Rocha arrived in Lisbon, the first of many Brazilian artists to accompany the Portuguese revolutionary process. With the end of 48 years of dictatorial regime, Portugal became a route for Latin American exiles fleeing regional repression. Although it wasn’t the final destination for many, it served as a land of transition for thousands who went on to other nations. Around 70 Brazilians went into exile in Portugal until Brazil’s amnesty and re-democratisation in 1979. Although smaller than the number of exiles in France, the Portuguese experience had a profound impact on artists such as Artur Barrio, José Celso Martinez, Augusto Boal and politicians such as Leonel Brizola, Carlos Minc and Alfredo Sirkis.
The Portuguese received the Brazilians with gratitude, reflecting Brazil’s previous welcome of its exiles. Portugal also became a place of resistance against the Brazilian dictatorship, with the creation of the “Committee for General Amnesty in Brazil” and the “Committee to Support the Struggle of the Peoples of Latin America”, promoting events to expose the Brazilian reality, such as the “Week of Solidarity with the Brazilian People” in 1977.
In the 1990s, the migration of Brazilians to Portugal continued due to economic crises and professional opportunities. However, the migratory flow has increased significantly with the political instability in Brazil since the coup against Dilma Rousseff in 2016, and the election of Jair Bolsonaro in 2018. In 2019, there were 151,000 regularised Brazilians in Portugal, growing to 400,000 in 2023. The persecution of art professionals and the demise of the Ministry of Culture in Brazil have resulted in a brain drain. Many of these migrants, although not fleeing a dictatorship, felt like political exiles, seeking physical and psychological safety in Portuguese lands.
Portugal has changed since the 1970s, and is now a member of the European Community, emerging from a financial crisis and facing gentrification. The reception for Brazilians has become less warm and the country is reluctant to face
up to the decolonisation of its history, unlike Brazil, where the process is well advanced.
The relationship between Brazil and Portugal is complex and multifaceted, requiring numerous theses and exhibitions to be fully addressed. On the fiftieth anniversary of the 25th of April, we highlight the participation of Brazilian artists in this historic event, especially between 1974 and 1976, and the current migratory framework. The exhibition entitled “É bonita a festa, pá” (It’s a beautiful celebration, friend) looks at the different experiences of Brazilian artists in Portugal, their motivations, times of contact and reactions to what they encountered. From a preliminary survey of artists’ names and their works, constellations of topics emerged: Portugal’s history (including its intrinsic relationship with Brazil and its economic cycles), the recent Brazilian political moment, the sentiment generated by immigration, traditions and crafts common between the two countries, the shared and divided language, ancestry, the world of work, the migrant body (diasporic and non-heteronormative that confronts its objectification since colonial times), territory, natural phenomena and geology as metaphors for extractivism and its environmental consequences. These artworks selected by 49 artists and collectives often relate to multiple constellations, evoking their polysemy and the interconnection between themes, which enhances the plurivocal nature of so many existences within the national and temporal context.
Art history has its roots in Europe and tends to replicate geopolitical asymmetries. The rewriting of art history has been underway for at least 10 years, but many blind spots remain. Portugal, which is a peripheral country in Europe, and Brazil, its former colony, both seek international recognition, often ignoring their mutual artistic connections. Portuguese coloniality is specific, as Portugal is semi-peripheral in the modern capitalist system, and Brazil has become more economically relevant. This complexity in relations can contribute to decolonising the historical narratives of art from both countries. We hope that this exhibition and publication will contribute to this endeavour.
Cristiana Tejo
VIARCO - Casa da Liberdade / VIARCO
- The House of Freedom
/ Curated by VIARCO
Local: Fórum Cultural de Cerveira
Location: Cerveira Cultural Forum
A liberdade não é um direito, é uma frágil conquista coletiva, longe de ser plena, universal e garantida.
Vivemos um tempo de ampla liberdade condicional, de mudanças abruptas, e por isso, impõe-se aplicar a criatividade, a imaginação, os valores de partilha, o pensamento crítico como base da procura das soluções futuras.
A Casa da Liberdade é um sistema que estimula os sentidos, alimenta a criatividade, nos liberta momentaneamente do deslumbramento dos ecrãs, e permite imaginar fazendo, à mão, sem limites nem julgamentos.
Aqui, tal como na vida, tudo o que acontece é efémero, rápido, recicla-se, e em cada toque há uma surpresa para descobrir e novos caminhos para explorar.
É um sistema aberto à experimentação, onde o erro é uma oportunidade e o processo a motivação, não tem destino, nem pretende chegar ao fim, mas apenas valorizar o momento e provocar o inesperado.
Nesta Casa moram pessoas livres, sem vergonha de brincar e de sonhar, os construtores do amanhã.
Viarco, 2024
Freedom is not a right, it is a fragile collective achievement, which is far from being full, universal and guaranteed.
We live in a time of wide-ranging conditional freedom, of abrupt changes, which is why we need to apply creativity, imagination, shared values and critical thinking as the basis for finding future solutions.
The House of Freedom is a system that stimulates the senses, feeds creativity, momentarily frees us from the dazzle of screens, and allows us to imagine by experimenting, by hand, without limits or judgements.
Everything that happens here, as in life, is ephemeral, fast, recyclable, and with every touch there is a surprise to discover and new paths to explore.
It is a system open to experimentation, where mistakes are opportunities and the process is motivation. It has no destination, nor does it aim to reach an end, but only to appreciate the moment and provoke the unexpected.
This House is home to free people, unashamed to play and dream, the builders of tomorrow.