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Políticas para a implantação de projectos de hidrogénio

Segundo recente relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) [1], a procura de hidrogénio está em crescimento constante. Verificase que até ao final de 2021 temos a nível global uma procura de 94 milhões de toneladas (Mt) correspondendo a 2,5% do consumo final de energia.

A maior parte do aumento da procura de hidrogénio teve a sua origem nos sectores da refinação e da indústria, mas a procura por novas aplicações aumentou cerca de 40 mil toneladas (mais 60% em relação a 2020, apesar do nível do ponto de partida ser baixo). Entre os novos consumos estão os projectos para produção do aço que surgem apenas um ano após o início da primeira demonstração do uso de hidrogénio puro na redução directa de ferro. Também a primeira frota de comboios a pilhas de combustível surgiu na Alemanha. Há mais de 100 projectos-piloto e de demonstração do uso de hidrogénio e seus derivados no transporte marítimo, e há grandes empresas em parcerias estratégicas para garantir o fornecimento desses combustíveis.

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No sector da produção de energia começam a surgir projectos de utilização de hidrogénio e amónia com já quase 3,5 GW de capacidade a instalar até 2030.

A AIE, ao analisar as políticas e medidas que governos de todo o mundo já implementaram, estima que a procura possa chegar a 115 Mt até 2030, e embora ainda numa percentagem modesta, 2 Mt, para novos usos finais. Não nos podemos esquecer que para cumprir as promessas climáticas existentes serão necessários mais 25% de novas utilizações até 2030 e mais cerca de 40% até 2050. Apesar do pipeline de projectos, o FID (Final Investment Decision) ainda está associado a incertezas. Acresce que se o H2 no consumo não produz emissões o mesmo não acontece na sua produção que se não tiver origem renovável continua a ser fonte de emissões. Em 2021, a produção a partir de fontes renováveis, foi inferior a 1 Mt sendo a restante com origem em centrais que utilizam combustíveis fósseis com captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS). Apesar disto, a carteira de projectos para a produção de hidrogénio verde aparenta crescer a uma velocidade impressionante.

Se todos os projectos actualmente em preparação passarem a FID, até 2030, chegariam a 16-24 Mt por ano, 9-14 Mt baseados em electrólise e 7-10 Mt em combustíveis fósseis com CCUS. No caso da electrólise, a execução de todos os projectos em andamento pode levar a uma capacidade instalada de electrolisadores de 134-240 GW até 2030, 134, equivalente à capacidade renovável total instalada na Alemanha e 240, equivalente a toda a América Latina. Cumprir as promessas do clima exigiria 34 Mt de hidrogénio verde por ano até 2030 esta cadência permitirá alcançar emissões líquidas zero até 2050 implica cerca de 100 Mt até 2030. Uma parte significativa dos projectos está actualmente em maturidade, mas apenas cerca de 4% estão em construção ou atingiram o investimento final de decisão. Entre as principais razões estão as incertezas sobre a procura, a falta de estruturas reguladoras e de infraestruturas para fornecer hidrogénio aos utilizadores finais. A capacidade de fabrico de electrolisadores que usam energia renovável para produzir hidrogénio é de quase 8 GW/ano e pode exceder 60 GW/ano até 2030. Para garantir que os projectos alcancem os FID concorre o facto dos custos dos electrolisadores poderem cair cerca de 70% até 2030 em comparação com os dias de hoje. Combinado com a queda esperada no custo da energia renovável, isto pode reduzir o custo do hidrogénio renovável para uma faixa de US$ 1,3-4,5/kg H2 (equivalente a US$ 39-135/MWh). A extremidade inferior dessa faixa está em regiões com bom acesso à energia renovável, onde o hidrogénio renovável já pode ser estruturalmente competitivo com combustíveis fósseis inabaláveis. Grandes volumes de hidrogénio podem ser comercializados até ao final da década se as barreiras forem resolvidas em breve.

Os empreendedores de projectos e investidores estão a enfrentar uma grande incerteza num mercado em crescimento e muitos governos têm ainda que implementar políticas específicas de comercialização de hidrogénio necessárias para o desenvolvimento bem-sucedido dos projectos. A cooperação internacional é vital para facilitar o alinhamento e identificar as barreiras que podem retardar o desenvolvimento de um mercado de hidrogénio.

A crise energética global: um impulso adicional para o hidrogénio? A crise global de energia ressalta a necessidade de políticas para alinhar as necessidades de segurança energética com as metas climáticas. O hidrogénio pode contribuir para a segurança energética diminuindo a dependência de combustíveis fósseis, seja a substituir combustíveis fósseis em aplicações de uso final ou a mudar a produção de hidrogénio baseada em fósseis para hidrogénio renovável. O desenvolvimento de um mercado internacional de hidrogénio também pode aumentar a diversidade de potenciais fornecedores de energia, aumentando a segurança energética para os países importadores de energia em particular. Se os governos implementarem políticas ambiciosas para cumprir as suas promessas climáticas, o hidrogénio poderá ajudar a evitar 14 bcm/ano de uso de gás natural, 20 Mtce/ano de carvão e 360 kbd de uso de petróleo até 2030, o equivalente a mais do que a supressão de combustível fóssil da Colômbia. A indústria pesada, o transporte rodoviário de cargas pesadas e a navegação oferecem as maiores oportunidades para fornecer combustível fóssil e economia de emissões.

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