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porque sobem os preços da energia?
Os tempos que vivemos são desafiantes no sector da energia, todos somos expectantes de soluções simples que no entanto não existem. Assistimos a preços excessivamente elevados no gás natural que introduz ineficiências nos mercados. Perante esta situação inesperada temos que ser capazes de explicar como e porquê as mexidas nos preços e nos mecanismo bem estabilizados desde a década de 80 e avançar com possíveis soluções. Os mercados da energia são complexos tal como ilustra a figura abaixo.
Para além da intervenção nos preços há outras medidas que podem e devem ser utilizadas nomeadamente ao nível da eficiência energética e que podem contribuir de forma sustentável para a redução do consumo neste período de crise.
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Mas vejamos o que se passa com os preços
Os preços do gás natural estão excepcionalmente elevados, como referido, devido à Guerra da Rússia que invadiu a Ucrânia e está a utilizar a energia como arma contra as medidas de coação impostas pelos países contra a Guerra, em particular a Europa, a Rússia usa a energia como resposta às sanções. Os preços da electricidade estão igualmente altos pois (1) ainda estamos muito dependentes do gás natural para a produção de electricidade, (2) há centrais nucleares, por exemplo em França, fora de serviço e (3) estamos num ano excepcionalmenete seco. A probabilidade de termos de racionar energia no próximo Inverno é elevada.
Os investimentos já planeados para tornar o Sistema de energia mais sustentável têm que ser acelerados e os Governos têm um papel importante nos processos de licenciamento que favoreça essa aceleração. Entretanto, transitoriamente, temos que aplicar medidas de crise, medidas de resposta a uma situação de guerra. Em particular, é intolerável que as famílias caiam na pobreza fruto das faturas de energia. Também, algumas empresas, num tecido de pequenas e micro empresas com o nosso, terão dificuldade em fazer face às facturas da energia em particular as de consumo intensivo de energia.Tudo isto irá custar muito dinheiro num momento em que ainda estamos a sair da crise do COVID 19. As medidas com vista à eficiência energética são cruciais nomeadamente ao nível da consciencialização. Isso poderá implicar tomar medidas por exemplo como as que já foram tomadas nos anos 60/70 como reduzir a regulação dos termoestatos e eliminar consumos desnecessários.
Qual a razão para que algumas propostas possam vir a ser contra-produtivas?
As restrições nos preços e a sua redução artificial têm que ser complementada com medidas do lado da procura caso contrário corremos o risco de nos confrontramos com cortes no abastecimento. Nesta altura, os governos tenderão a intervir de qualquer forma ou teremos que activar os planos de emergência. Sabemos, pela experiência recente no Texas quão caótico poderá ser lidar com apagões.
Os planos para o gás natural tipicamente priorizam as famílias em detrimento da indústria. Na Alemanha, a indústria argumenta que se não houver restrições na procura por parte das famílias haverá uma escassez ao nível de oferta de trabalho porque haverá falências.
A opção de desacoplar o preço da electricidade do preço do gás natural está a ser testada na Península Ibérica. A consequência poderá ser a utilização de mais gás para a produção de electricidade através da redução artificial do preço da electricidade. Esta medida temporária só o poderá ser assim mesmo, pois a elevar a remuneração da energia com custos marginais mais baixos incentiva o seu investimento, é esse o efeito que pretendemos.
Quando há necessidade de recorrer a centrais a gás, o preço da electricidade é definido pela entrada em serviço da central mais cara e portanto a gás. Isto significa que sendo o preço da electricidade tão elevado as formas de produção com custos mais baixos têm lucros não esperados. Na opinião da Florence School of Regulation deveríamos usar os proveitos inesperados para manter todo o sistema acessível em preços através de taxas sobre esses proveitos. Desta forma o mecanismo de mercado mantinha-se intocável honrando a teoria dos mercados de Fred Schweppe e as outras que não têm esses proveitos excessivos ficariam intocadas. Não nos podemos esquecer que há produtores de energia que não beneficiam dos preços excessivos pois têm contratos com os consumidores de longo prazo. Há ainda os comercializadores que têm sérias dificuldades em respeitar os contratos com os clientes. Outras empresas foram parcialmente nacionalizadas para não irem à falência. No caso do reino unido, as companhias de petróleo e gás que têm proveitos excepcionais, os chamados lucros improváveis estão a ser taxadas.