METROPOLIS Ed. 0.5 Agosto 2012

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metropolis | Ed. 0.5 | Agosto | 2012

O Cavaleiro das Trevas Renasce de

Christopher Nolan Filmes

O Futuro de Miranda July

Christian Bale em As Flores da Guerra As vozes de Madagáscar 3

Televisão

Newsroom de Aaron Sorkin

Girls de Lena Dunham Festivais

20 Anos de Curtas Vila do Conde

Karlovy Vary Música

West Side Story faz 50 anos


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sumário

Sumário

Os principais destaques dos zero aos 100. Especiais 21 O Futuro O regresso de Miranda July. 24 O Cavaleiro das Trevas Renasce O fim da trilogia de Batman segundo Christopher Nolan. 40 Girls A série sensação de 2012. 47 The Newsroom Os segredos da redacção. 44 Aaron Sorkin A carreira de um dos grandes argumentistas do cinema e da televisão. 36 A Liga dos Ruivos A propósito da estreia de Indomável/Brave celebramos os ruivos da 7ª Arte. 56 Bilheteiras Os números e os filmes do 1º semestre de 2012 em Portugal. 66 West Side Story Nuno Galopim sobre a reedição a banda sonora, que celebra os 50 anos da estreia de ‘West Side Story’.

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Festivais 12 Curtas de Vila do Conde Os 20 anos de Vila do Conde celebrados com a cobertura total de João Lopes e Flávio Gonçalves. 16 Karlovy Vary 2012 Rui Pedro Tendinha revela as pérolas deste evento da República Checa.

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Entrevistas

24 metropolis nº0.5 agosto 2012

50 Christian Bale em As Flores da Guerra 32 As Vozes de Madagáscar 3 94 Agente Dupla – 3ª Temporada 60 Bruno Dumont


sumário Regulares

CRÍTICAS

5 Relatório Hildy Os Ídolos, Tom Cruise, as memórias de R. Kelly e O Fantástico Miúdo-Aranha são alguns dos destaques entre outros temas. 10 Cineclube O Cineclube de Guimarães 9 Sala -1 A radiação de Fukushima. 20 R.I.P Nora Ephron , Ernest Borgnine, Andy Griffith e José Hermano Saraiva. 54 A Dois Tempos Fome / Vergonha. 76 Bipolar Moonrise Kingdom.

Cinema 69 O Cavaleiro das Trevas Renasce 70 360 71 Uma Vida Melhor 72 Fora, Satanás 73 Elena 74 Red Lights – Mentes Poderosas 75 2 Dias em Nova Iorque 78 Ted DVD 80 A Toupeira 81 A Toupeira mini-série 82 Na Terra do Sangue e Mel 83 O Cavalo de Guerra 84 A Dama de Ferro 85 e Agora, Aonde Vamos? 85 A Crónica 86 A Motoreta 86 48 87 Martha Marcy Mae Marlene 88 Prometo-te Amar 89 Extremamente Alto, Incrivelmente Perto 90 John Carter 92 Margin Call – O Dia Antes do Fim 93 Amigos Improváveis TV 96 Sangue Fresco – 4ª Temporada Música 102 Lawrence of Arabia 102 Moonrise Kingdom 102 The Amazing Spider Man Livros 100 Luz e Sombras 100 John Carter 100 Sangue Ardente

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Edição 0.5

Ficha Técnica/ Direcção Editorial Jorge Pinto Redacção Basílio Martins, Bruno Ramos, Flávio Gonçalves, Nuno Antunes, Rui Brazuna Colaboradores João Lopes, João Gata, Nuno Carvalho, Nuno Galopim,Rui Pedro Tendinha, Tatiana Henriques, Vasco Baptista Marques, Sandra Almeida, Sérgio Dias Branco Direcção Artística Diogo Neves de Sousa Direcção Online David Miguel E-MAIL cinemametropolis.geral@gmail.com metropolis nº0.5 agosto 2012

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ste mês a Metropolis estreia mais um espaço de divulgação do cinema através da rubrica Cineclube. Algumas experiências a nível de exibição cinematográfica desenvolvidas pelo país fora, por exemplo road shows com as exibições das obras nacionais com a presença dos autores e artistas, provam que há vida para lá dos maiores centros urbanos. A centralização da exibição cinematográfica nos multiplex e a repetição do número de cópias faz dos cineclubes, e salas com programações que saem da rotina, em locais que merecem ser celebrados por atraírem e convidarem os espectadores de um modo acessível a visionarem cinema com qualidade. Efectuamos nesta edição um balanço das bilheteiras portuguesas no primeiro semestre de 2012 e observamos que alguns dos casos mais curiosos de sucesso surgem precisamente de um equilíbrio sustentável na distribuição dos filmes. Em Agosto a equipa da Metropolis cresceu com novos colaboradores, para os leitores é sinónimo de novas colunas na revista e uma maior amplitude da cobertura da actualidade cinematográfica. São exemplos desse facto o Cineclube, as novidades tecnológicas em GadgetPolis e a cobertura do Festival Karlovy Vary na República Checa. Agradecemos todas as visitas e sugestões enviadas pelos nossos leitores, a maioria delas implementadas nesta edição, esperamos que tenham gostado do número zero e apreciem o número 0.5 da Metropolis. Bons Filmes Jorge Pinto


o Relatório Hildy

o relatório hildy

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uma mão, uma caneta. Na outra, um bloco. Pronta a reportar o quer que seja, de preferência o furo de primeira página que ainda não o é. Só não falarei de um novo incêndio da eterna Roma, se com a notícia lucrar Walter Burns. Fora isso, ele são rumores, diz que disse, ou extravagâncias a que poucos ligam, e lá estará a Hildy a pontificar sobre a matéria. À sorte, todos os meses serão retirados deste belo chapéu os temas a discutir. Pontifiquemos, então. metropolis nº0.5 agosto 2012

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o Relatório Hildy 24 de Junho - Domingo

que o Aiiii, meu amor… do Tim fosse demasiado para os benjamins do programa. 29 de Junho – Sexta-feira

O cinema agarra-me. Seja ao que for. Seja à cobertura televisiva de uma antestreia, seja a uma gala dos Ídolos subordinada ao tema da sétima arte. É certo que, para esta última, não será tão fácil ficar grudada ao televisor. Quanto mais não seja pela previsível ténue ligação. Ainda assim, tem a palavra cinema associada. Vê-se a ver no que dá. E, logo nos primeiros minutos, vemos que há pouco a ser visto. A abrir o espectáculo, um medley do cinema português. Medley esse, composto por três músicas. Na essência, um medley é constituído no mínimo pela junção de duas partituras. E, é mais ou menos pelos mínimos que nos ficamos. É compreensível. Num programa com mais de três horas de duração, sete concorrentes com uma canção cada, e um convidado musical, não há tempo para fazer mais. Espeta-se com a “A Agulha e o Dedal”, “Água Fria da Ribeira”, e “Cantiga da Rua”, e percebe-se que, no que toca ao seu lado musical, para os lados de Carnaxide, a História do cinema português termina em 1943. Podemo-nos perguntar, Então, mas há mais músicas que valham a pena recordar? A resposta será, Provavelmente não. Mas, não custava nada ter ido buscar, por exemplo, a banda sonora de Tentação. A primeira experiência do género da banda portuguesa de maior sucesso. A não ser metropolis nº0.5 agosto 2012

Muitos de nós já o sabíamos desde 23 de Maio de 2005. O dia em que Cruise fez do sofá de Oprah Winfrey a sua proa do Titanic. O seu terraço do Empire State Building. O seu cume do Everest. Uma coisa é um tipo estar mesmo num desses locais, e confessar o que sente. Outra, completamente diferente, é fazê-lo em cima de um sofá. Seja ele de quem for. Fosse comigo, e nem tinha esperado sete anos pela resposta. Era chegar a casa e fazer as malas. O certo é que, daí para cá, tanto Cruise como Holmes têm sido mais notícia por aquilo que fazem fora do grande ecrã do que nele. Se aquilo que fazem na tela fosse motivo de orgulho, ao menos. O que, nos últimos anos, não tem sido o caso. Daí que esta noticia da separação seja acolhida de braços abertos aqui na redacção. A Miss Hildy acredita que esta será a oportunidade de que Tom Cruise precisa para se concentrar e recuperar alguma credibilidade para a sua carreira. Para Katie Holmes, é a oportunidade de construir uma. Se bem que, dizem-me agora, parece que Cruise anda a trocar caricias com Olga Kurylenko no set de Oblivion. Como diria Burt Lancaster n’O Leopardo, Se queremos que as coisas fiquem iguais, temos de mudar alguma coisa. E, Cruise tem feito por isso. 04 de Julho – Quarta-feira

R. Kelly, o senhor R&B que um dia tirou da cartola o hino que se encarregaria de colocar Space Jam nos anais


o Relatório Hildy da história do cinema, confessa, na sua mais recente memória a chegar às bancas, que foi durante os créditos de O Diário da Nossa Paixão, que se apercebeu que o seu casamento estava finito. Enquanto os nomes passavam no grande ecrã, Kelly chorava e os amigos batiam-lhe nas costas amparando o sofrimento. O filme de Nick Cassavetes chega ao fim, e Kelly apercebe-se que o matrimónio vai pelo mesmo caminho. Incrível. Não posso deixar de sentir empatia pelo moço. O mesmo se passou por estes lados quando vi Os Goonies. 05 de Julho – Quinta-feira

pela redacção do Post, não tinha mais do que uns míseros 23 anos. Onze mais tarde estrear-se-ia na tela. O início de uma carreira ao mais alto nível, onde Ernest Borgnine faria de cada filme uma demonstração inequívoca da sua enorme classe. À mesa da cozinha, a sua mãe disse-lhe um dia que se gostava tanto de fazer figura de parvo em frente dos outros, o melhor era dar uma oportunidade à representação. Em boa hora o fez. Borgnine faz parte daquele restrito lote de actores que ingressou e vingou na profissão porque tinha jeito para a coisa. Ninguém o descobriu a passear na praia. Ninguém lhe deu uma oportunidade porque os seus elementos da face distavam proporcionalmente uns dos outros. Começou por baixo e fez-se actor. Daqueles grandes. Mas a sua estrela, apesar de dimensão generosa, nunca foi das que esteve mais próxima. Daí não ter brilhado se calhar tanto como outras do firmamento. No final, uma panóplia sem fim de filmes inesquecíveis. Um actor para e até à eternidade. 09 de Julho – Segunda-feira

Não estou segura de que o nome mais correcto para esta nova aventura do famoso aranhiço nova-iorquino seja O Fantástico Homem-Aranha. Acabo de testemunhar a visão de Marc Webb sobre o assunto, e parece-me que o mais adequado seria O Fantástico Miúdo-Aranha. O que não é necessariamente mau. No fundo, o que Webb tem para nos oferecer é um bocado de Beverly Hills 90210, misturado com Harry Potter, combinado com Veronica Mars, envolvido em O Clube das Chaves. Junte-se-lhe a música indie de 500 dias com Summer, e temos um dos melhores popcorn flicks do ano. Aliás, cada vez mais me convenço de que doces ou salgadas, se o filme for au point, não há pipoca que não marche. E, com o último de Webb, marcha tudo. 08 de Julho - Domingo

Desapareceu hoje um dos maiores. Por altura das minhas desavenças com o Walter, quando andávamos ali às turras

Alguém perguntou hoje à filha de Eddie Murphy, à saída de um restaurante de Los Angeles, se gostava dos filmes do pai. A pequena disse que sim. O inquisidor foi mais longe: De todos os filmes? Irredutível, a jovem retorquiu. Sim. Até de Pluto Nash?, insistiu o repórter. Até de Pluto Nash, respondeu a inconsciente. Aquele filme que rendeu três vezes mais em DVD do que na bilheteira. Shakespeare disse um dia que o amor é cego. Boss AC acrescentou que por vezes também é mudo. No caso de Bria Murphy, o pobre coitado deve ser cego, surdo, mudo, anósmico, agêusico e disáfico. No fundo, deficiente como muitos dos filmes do pai. metropolis nº0.5 agosto 2012

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o Relatório Hildy 14 de Julho - Sábado

Há uns dias atrás, a banda-sonora de O Cavaleiro das Trevas Renasce chegou à web. Hans Zimmer voltou a fazer das suas, e a partitura é um filme autêntico. Ao longo desta semana, as primeiras critica tem surgido um pouco por todo o lado, e muitos são aqueles que falam no melhor filme da saga. Ontem, a primeira opinião negativa acerca do filme foi colocada no Rotten Tomatoes. 861 comentários à opinião de Marshall Fine depois, alguns deles contendo ameaças de morte, Miss Hildy tem agora a certeza de que nenhum filme foi tão antecipado na história da sétima arte. Mas, convenhamos que põe-se a jeito, aquele que primeiro atira uma pedra a um filme de Nolan. Assim como arrisca tudo aquele que primeiro elogia uma obra de Uwe Boll. Ou aquele que não diz nem bem nem mal de um filme de Lynch. 15 de Julho - Domingo

Ao ver o tratamento que os festivais de música estão a receber este verão pelos diferentes canais televisivos, não me posso deixar de perguntar como é que seria se a mesma ideia se aplicasse aos festivais de cinema. Com o mesmo conceito, obteríamos, sem sombra de dúvida, resultados bem díspares. No lugar de apresentadores com óculos sem lentes, indumentárias que exploram combinações de cores nunca antes vistas, e penteados que desafiam leis da física, teríamos um Roger Ebert ou um Peter Travers. Ninguém se trataria na 2ª pessoa. Pelo menos do singular. Em vez de conjecturas de elevador sobre o que podemos metropolis nº0.5 agosto 2012

esperar do concerto de artistas que regressam ano sim ano não, teríamos uma maratona de dissertações pela noite dentro sobre o significado metafisico da linguagem não-verbal evidenciada pela personagem X. Por último, à pergunta do repórter: O que é que achou?, no lugar de um, Muita bom!, teríamos provavelmente direito a um, Em rigor, uma experiência sensorial deveras satisfatória que se traduziu em movimentos involuntários promovidos pelo sistema nervoso parassimpático ao longo de todo o visionamento. Porque é assim que os cinéfilos comunicam entre si. 16 de Julho – Sexta-feira

Isto de inverter hierarquias não só pode ser desrespeitador como ofensivo. Antes do pequeno, veio o grande ecrã. No princípio, era a emoção da plateia em jogo. Hoje, é o comodismo da sala do lar que dita as leis. E, o uso que o pequeno dá ao grande ecrã, tem sido cada vez aquele que lhe dá mais jeito. Os casos mais gritantes, que poderão talvez exemplificar melhor este tratamento díspar, ocorrem na quadra festiva do Natal, e depois em qualquer fim-de-semana do ano. No primeiro caso, na pacatez do lar, o espectador leva com injecções de reclames às duas ou três peliculas que são a grande aposta do canal. Como se o cinema sempre tivesse sido acarinhado por aquelas paragens. No segundo caso, temos uma programação televisiva – nos sites, ou mesmo nos serviços cabo – que se recusa a dizer, 24 horas antes, que filme dará na tarde de sábado. Nenhuma instituição é mais mal tratada do que o filme de fim-de-semana. Ainda para mais, sendo esta uma das poucas a que os canais generalistas ainda se podem agarrar. Contudo, o mais irónico é que o jogo de contra-programação seria interessante de presenciar, se víssemos que as televisões escondiam estas obras, por se tratar de grandes trunfos. No entanto, num passado fim-de-semana, a SIC decidiu revelar quase de véspera os seguintes títulos: O Cão do Presidente, O Chihuahua de Beverly Hills e Histórias Para Adormecer. Como é que a TVI responde? Com as festas do colete encarnado em Vila Franca de Xira. O célebre filme de domingo à tarde, que não interessa nem ao menino Jesus mas todos vêem, caro leitor, está pelas ruas da amargura. Ai de quem nos tire os clássicos das três da madrugada.


sala sala-1 -1

A radiação de Fukushima

T.O.: Fukushima Fallout R.: Al Jazeera I.: Kathy Hearn, Taro Kono, Taro Yamamoto, Shinzo Kimura 25 min Documentário Catar 2012 Basílio Martins

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seguramente uma das catástrofes mais críticas dos últimos tempos, e sobre a qual parece existir um manto de silêncio. A 11 de Março de 2011, um sismo de magnitude 9.0 provocou um tsunami devastador que destruiu cidades japonesas inteiras. Atingiu também a central nuclear Fukushima Daiichi, danificando quatro reactores que entraram em fusão nuclear descontrolada, um perigosíssimo acidente conhecido como meltdown. Inicialmente, as autoridades nipónicas negaram que este tipo de acidente estivesse a ocorrer em Fukushima, só muito mais tarde admitindo terem ocorrido três meltdowns. Especialistas nucleares acreditam existir neste momento não três mas quatro meltdowns a libertar continuamente níveis altamente elevados de radiação para a atmosfera e o Oceano Pacífico – que se está a espalhar por todo o planeta. Este documentário, produzido pela Al Jazeera e apresentado pela jornalista Kathy Hearn, foi realizado por altura do primeiro aniversário do desastre e mostra-nos alguns dos seus efeitos na saúde, segurança e moral do Japão, onde o sentimento anti-nuclear cresceu a níveis nunca vistos. Apenas um dos 54 reactores se mantém operacional neste

que foi o terceiro maior produtor mundial de energia atómica. Mas, a braços com falhas de energia, dependência energética do exterior e o maior défice comercial de sempre, o governo de Tóquio planeia voltar a ligar outros reactores. O povo nipónico, por seu lado, não desiste e exige que se acabe de vez com o nuclear. É algo que Taro Kono, parlamentar japonês, pede há mais de 15 anos. Este destacado político tem denunciado que “antigos membros do governo foram de forma descarada para a indústria energética, que financiou partidos políticos. Em troca, as empresas energéticas puderam manter os seus monopólios regionais e evitar fiscalizações das entidades reguladoras”. Afirmou também que “o governo tem ocultado acidentes nucleares e os custos reais da indústria nuclear. Em 2002, o presidente e quatro directores da TEPCO [a maior eléctrica do Japão e proprietária da central de Fukushima] demitiram-se após ser conhecido que vários registos de segurança foram falsificados”. Neste vídeo, Kono garante que “o governo e a TEPCO mentem sobre os níveis de radiação libertada em Fukushima. As pessoas já não acreditam em nenhum número divulgado por eles”. metropolis nº0.5 agosto 2012

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Cineclube de Guimarães Tatiana Henriques

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o ano em que Guimarães é Capital Europeia da Cultura, ficamos a conhecer o Cineclube de Guimarães, já com 54 anos, e que tem marcado a cidade pelo seu investimento na qualidade dos filmes que exibe e a sua diversificação. O dia 17 de Maio de 1958 marca o nascimento do Cineclube de Guimarães que, no início, enfrentou algumas dificuldades pelo regime do Estado Novo. É nesse mesmo ano que começa a projecção de filmes em 35mm no Teatro Jordão. Mais tarde, em 1971, a abertura do Cinema de São Mamede permitiu o aumento de mais espectadores. Posteriormente, algumas sessões foram realizadas no Auditório da Universidade do Minho, entre 1996 e 2005, por falta de espaço para exibir os filmes. Tal mudou com o nascimento do Centro Cultural Vila Flor, em 2005, com o Cineclube a passar a exibir lá as suas sessões e a organizar regularmente Ciclos de Cinema, propiciados pelos auditórios de 800 e 200 lugares. Número de associados – 1000 sócios Fundação – 17 de Maio de 1958 Presidente – Carlos Mesquita Quotização – 3,5 euros de inscrição, 3,5 euros de quota mensal Site - http://cineclubeguimaraes.org/

Cinema em várias facetas Para Carlos Mesquita, Presidente do Cineclube, o critério para a escolha dos seus filmes é “simplesmente a qualidade”. “Tanto passamos cinema ultraminoritário” – exemplificando com o filme de João César Monteiro, Branca de Neve (2000), onde estiveram presentes 150 espectadores – “como filmes oscarizados”. “Descomplexadamente escolhemos os filmes pela sua qualidade intrínseca”, acrescenta. Mesmo tendo o cinema como protagonista, há outras actividades a acontecer no Cineclube. Um deles é o “Cinema vai à vila”, que se traduz em algumas sessões nas vilas do concelho de Guimarães e que vai acontecer ao ar livre ou em salas que essas vilas dispõem. Esta actividade começa em Agosto e vai estender-se nos meses seguintes, com o apoio da Fundação Cidade de Guimarães. metropolis nº0.5 agosto 2012

O Presidente do Cineclube confessa que “gostaríamos que pudesse continuar para além de 2012, mesmo com algumas limitações, para que as vilas de Guimarães pudessem dispor, de vez em quando, de alguma sessão no seu próprio local”. Há também espaço para uma exibição mensal paralela à capital europeia da cultura, no São Mamede Centro de Artes e Espectáculos. Destaque ainda para o cinema ao ar livre, actividade realizada há 24 anos pelo Cineclube, com o apoio da Câmara a nível financeiro e os concertos no terraço, realizados na sede do Cineclube. A secção de fotografia, criada em 2002, é também muito importante, sendo realizados cursos de fotografia regulares, “ministrados por pessoas do cineclube, algumas delas com formação superior na área da fotografia e que depois resultam em exposições”, como explica Carlos Mesquita. Existem também publicações,


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denominadas de “cadernos de imagens”. Já a secção de imagem e movimento é bem mais recente, tendo cerca de um ano, e que actualmente faz algumas filmagens e vai produzir um documentário sobre a indústria de couros, que era marcante na cidade de Guimarães.

Influência do cineclube na cidade e a crise Numa altura em que o país vive uma profunda crise, o cinema é um dos que mais sofrem. Contudo, Carlos Mesquita considera que o Cineclube “tem crescido ao longo dos anos”, sendo constituído por “mil sócios, portanto é um cineclube grande, sempre foi”. Não obstante, o Cineclube tem “por volta de 15 mil espectadores ao longo do ano”. “O Cineclube tem sabido aguentar-se e, às vezes, até crescer em contraciclo, isto é, o cinema a perder

espectadores e o cineclube a ganhar sócios”, afirma. Além disso, “o Cineclube tem influenciado a cidade”, tendo como objectivo “ser uma alternativa à distribuição comercial, que por vezes não é boa”. Carlos Mesquita assume-se como “um presidente para fora”, já que “internamente, o presidente é mais um elemento da direcção do cineclube, sem qualquer prerrogativa especial”. O Presidente da instituição considera que o trabalho do Cineclube tem sido reconhecido. Provas disso são a atribuição de Medalha de Ouro de Mérito Cultural ao Cineclube em 1994 e a participação, juntamente com a Câmara de Guimarães, na candidatura à Capital Europeia da Cultura. O Cineclube de Guimarães, cada vez mais virado para o futuro e pela procura de uma crescente diversificação, é uma presença indispensável de Guimarães e da sua história cultural. metropolis nº0.5 agosto 2012


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Curtas Vila do Conde Vila do Conde

Um festival entre o cinema e as outras artes João Lopes

Das memórias de Stanley Kubrick aos filmes produzidos pelo próprio festival, o Curtas-Vila do Conde comemorou o seu 20º aniversário celebrando o cinema e as suas relações com outros domínios artísticos.

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a 20ª edição do Curtas-Vila do Conde (7-15 Julho) ficou um “prolongamento” que pode simbolizar, de forma muito sugestiva, o sentido de inovação do próprio certame. Assim, a exposição “2012 Odisseia Kubrick” mantém-se por mais alguns meses (até 11 de Novembro) nos espaços da Solar – Galeria de Arte Cinemática e do Centro de Memória de Vila do Conde. Por um lado, trata-se de um evento que celebra uma ideia de diversificação que, desde muito cedo, o certame abraçou: hoje em dia, mais do que nunca, compreender o cinema é também percorrer as pontes que o ligam aos mais diversos domínios criativos, das artes plásticas à música (é bom lembrar que o programa de concertos passou a ser também um emblema do festival). Por outro lado, “2012 Odisseia Kubrick” apresenta-se como uma exposição que nada tem a ver com a noção simplista, irremediavelmente académica, da “homenagem” a um grande artista. Não que se trate de pôr em causa a grandeza da obra de Stanley Kubrick (1928-1999). Bem pelo contrário: a aposta consiste em identificar essa obra como ponto de partida para derivações (quase todas elas videográficas) que retomam, refazem e, de algum modo, reinventam temas e efeitos de assinatura do cineasta de 2001, Odisseia no Espaço (1968). Exemplo marcante: a curta Induction, do belga Nicolas Provost, recuperando uma

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atmosfera de assombramentos vários cujas raízes estão no filme Shining (1980). Na secção “Da curta à longa”, Provost, habitué de Vila do Conde, marcou também presença através de The Invader, um subtil exercício de ficção sobre as evidências e fantasmas que uma relação amorosa pode envolver. O Grande Prémio do certame foi para um pequeno grande filme do espanhol Sergio Oksman: chama-se A Story for the Modlins e traça a histórica dramática, quase burlesca, de Elmer Modlin (1925-2003), um secundaríssimo actor americano cujas memórias desafiam o cinema e a sua arte narrativa, reconfigurando as relações tradicionais entre “documentário” e “ficção”. Entre as dezenas de títulos projectados em Vila do Conde, importará não esquecer pelo menos mais dois que, embora por vias diferentes, afirmaram um valor essencial: a necessidade de lidarmos com a história colectiva (e, em particular, com a história política) para além de clichés narrativos ou morais. Foram eles: As Crianças da Noite, de Caroline Deruas (França), encenando, em magníficas imagens a preto e branco, a frágil paixão entre uma jovem francesa e um soldado alemão, na França ocupada, em 1944; e Bagagem, de Danis Tanovic (Bósnia-Herzegovina), sobre um homem que regressa à Bósnia, depois da guerra, para tentar saber dos restos mortais dos seus pais.


Curtas Vila do Conde

Seja como for, a iniciativa de mais forte simbolismo desta edição do Curtas foi, sem dúvida, o chamado “Estaleiro”, um projecto de produção que assinalou os primeiros vinte anos do certame através da produção de quatro filmes de outros tantos cineastas: um francês, Yann Gonzalez (Terra dos Meus Sonhos), um ucraniano, Sergei Loznitsa (O Milagre de Santo António), um brasileiro, Helvécio Martins Jr. (O Canto do Rocha), e um português, João Canijo (Obrigação). Da lógica romanesca do primeiro ao gosto documental do último (Canijo filmou o dia a dia das peixeiras das Caxinas, Vila do Conde), este é um conjunto de filmes que arrasta uma certeza que importa sublinhar: a produção portuguesa (entenda-se: a produção feita a partir de Portugal) não tem de submeter a desígnios e “formatos” televisivos que reduzem histórias e personagens a lugares-comuns que se repetem até ao mais desesperante vazio. O mínimo que se pode esperar é que estes filmes encontrem formas de difusão, dentro e fora do nosso país, que permitam cumprir um fundamental desígnio: o de chegarem a um público tão diversificado quanto possível.

AS CRIANÇAS DA NOITE

A STORY FOR THE MODLINS

INDUCTION, Nicolas Provost

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Curtas Vila do Conde

Cinema Português

Contra a inércia, filmar, filmar!

Manhã de Santo António

Flávio Gonçalves

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á uma questão que persistentemente pairou como um fantasma e foi amiúde colocada na mais recente edição do festival de cinema Curtas Vila do Conde (que decorreu de 7 a 15 de julho): “o que seria do mundo sem o cinema português?” A interrogação, que serviu mesmo de base para um debate público entre produtores, realizadores e críticos, carregou consigo uma força inevitavelmente simbólica. Isto porque o Curtas, sem dúvida uma das plataformas mais consistentes e

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relevantes no que respeita à projeção de filmes de produção nacional e de formato “curto”, festejou este ano a sua 20.ª edição. A celebração não se fez apenas com o lançamento de um livro e exposição comemorativas mas também, e talvez sobretudo, com a programação de mais cinema português: foram 18 curtas-metragens distribuídas em cinco sessões da competição (mais uma do que é habitual). Apesar de parecer um número estranho às convulsões tormentosas entre o

Estado (que este ano suspendeu os concursos do ICA) e os profissionais de cinema (que viram ser já aprovada uma nova Lei do Cinema), convém relembrar que este foi, na sua grande maioria, resultado de apoios que não foram atribuídos em 2012, mas antes. No final, a premiação não deixou de ser especialmente controversa e, ao mesmo tempo, particularmente previsível. Num tempo em que a memória de Sangue do meu Sangue (o filme português mais visto em 2011), de João Canijo, está ainda bem


Curtas Vila do Conde

a comunidade

viva, não deixa de ser de lamentar que se aposte na aparentemente intrínseca qualidade inerente ao “realismo social” português. “Realismo” que não deve apenas a Canijo, claro, mas também a Miguel Gomes (em particular: Aquele Querido Mês de Agosto) ou a Pedro Costa. Conseguimos entender nestes autores ou filmes qualidades únicas mas nunca nas suas variações. Entre elas está certamente o prémio de melhor filme português em Vila do Conde, Os Vivos Também Choram (menção honrosa na Semana da Crítica em Cannes), do luso-suíço Basil da Cunha (vencedor do mesmo prémio com À Côté, em 2009). É um drama sobre um homem pobre que deseja emigrar para a Suécia com a ajuda das suas poupanças e que pode ser entendido como uma espécie de “upgrade” formal em relação ao modelo da telenovela: isto porque lidamos com uma série de lugarescomuns e personagens que servem de fantoche para uma sensibilidade sociológica que cheira a falsidade. Um modo de lidar com os pobres e desfavorecidos que chega a ser, portanto, obsceno. Da mesma maneira, o prémio para melhor documentário (A Comunidade,

solo

as ondas

Salomé Lamas) trouxe o mesmo sentimento: embora revele um olhar distinto e interessante, é-nos facilmente proporcionada uma experiência divertida que é injusta para com os entrevistados, já que são as suas limitações que ficam como protagonistas. É um “realismo” assim, entre aspas, que em tudo difere da pulsão objetiva e, quase paradoxalmente, fantástica que moveu o filme de João Pedro Rodrigues, Manhã de Santo António (prémio de melhor curta-metragem europeia, que permite com que seja nomeada para os Prémios do Cinema Europeu), um olhar memorável sobre a juventude e o amor. Ao mesmo tempo, ficaram esquecidas da premiação algumas das propostas mais interessantes do certame: Vazante, de Pedro Flores, A Tempestade, de Teresa Garcia, Solo, de Mariana Gaivão e Zwazo, de Gabriel Abrantes. Foi, apesar de tudo, uma edição que não se esquece. É apenas devido ao contexto atual que algumas das dúvidas sobre o futuro permanecem. Mas estamos tranquilos, já que o lema dos realizadores que apresentaram as suas obras este ano no festival parece ser um: contra a inércia, filmar, filmar!

a tempestade

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Festival Karlovy Vary

O nosso repórter Rui Pedro Tendinha esteve em Julho alguns dias no maior festival do leste europeu. Além de ter bebido a famosa água termal a 62 graus, ficou fechado nos belos e idosos cinemas de Karlovy Vary onde viu cinema para todos os gostos. Para a Metropolis deixou algumas das suas pistas de um festival que finalmente descobriu o cinema português.

Karlovy Vary A alguns dias em

Texto: Rui Pedro Tendinha

inda há espaço para o cinema de leste europeu? A força e o estatuto do festival de cinema de Karlovy Vary ainda é uma boa pista para descobrir se afinal o monstro está bem vivinho ou apenas adormecido. Alguns dias na inacreditavelmente bela cidade termal apenas provocam um adensar maior das dúvidas. Ou seja, o cinema europeu de paragens próximas da Rep. Checa não está com a pujança que deveria estar. Nesta 47ª edição deste festival competitivo não foram estreadas obras-primas nem surgiram revelações. Aliás, os melhores filmes vieram precisamente de outras cinematografias. Portugal, por exemplo, acabou por ter um ótimo foco. Primeiro, a passagem em competição de Estrada de Palha, de Rodrigo Areias, recebido efusivamente por um público muito jovem. Depois, numa secção de panorama, Tabu, de Miguel Gomes, que continua a sua impressionante campanha pelo mundo fora. O filme de Gomes foi ainda escolhido para os prémios LUX, uma iniciativa da União Europeia para no final do ano encontrar-se por votação o melhor filme europeu do ano. Tabu, até ao momento está entre os três finalistas. Quanto a Estrada de Palha, este western sorumbático que se desenrola segundo o ensaio de Thoreau, Desobediência Civil, foi premiado com uma menção honrosa do júri Ecuménico. Pouco para um dos filmes mais justos da metropolis nº0.5 agosto 2012

competição. Depois da selecção oficial neste festival, Areias já foi convidado para uma série de festivais, incluindo o de Moscovo e Belgrado. A partir de agora, ganhámos um novo cineasta com propensão internacional, não sendo por acaso que em breve tenha já um projeto pensado para o Brasil. De referir que a presença do ator Vitor Correia nas ruas desta cidade termal não passou despercebida. O «cowboy» português tornouse estrela instantânea, distribuindo sorrisos e autógrafos. Por essas e por outras, era bom que o cinema português conseguisse apostar mais no rosto deste ator algarvio, que já anteriormente tinha deslumbrado em Adriana, de Margarida Gil. Ainda na competição, será sempre ajuizado chamar a atenção para um óvni polaco chamado To Kill a Beaver, de Jan Jakub Koslki, um estudo de personagem capaz de assumir valores sensoriais desconcertantes. Um filme de uma estranheza tão selvagem que o melhor é ninguém atrever-se a compartimentá-la. Uma coisa é certa, este polaco é um esteta a ter em conta. Bem superior ao italiano Piazza Fontana: The Italian Conspiracy, de Marco Tulio Giordana, o relato de um atentado terrorista em 1969 em Milão. Tulio Giordana muito distante dos tempos de A Melhor Juventude e com uma alta propensão para um cinema populista.


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Os casos de

Karlovy Vary Margaret, de Kenneth Lonergan Enquanto se espera a estreia em Portugal possivelmente num festival da rentrée, os checos viram o novo Kenneth Lonergan, o mais maldito dos filmes de estúdio dos últimos anos em Hollywood, atirado para a prateleira da Fox depois de desentendimentos com o realizador, alguém que lutou por uma versão longuíssima. E, na verdade, este fresco sobre uma adolescente a tornar-se mulher, precisa de tempo. É um case study de montagem e as suas possibilidades. Lonergan, que nunca atinge o brilhantismo do seu anterior Podes Contar Comigo, consegue um objeto tão épico quanto íntimo. E redescobre para o cinema Anna Paquin, aqui antes da série True Blood (o filme esteve na mesa de montagem quase uma década), atriz dirigida com um naturalismo fulminante. Matt Damon, Mark Ruffalo e Matthew Broderick são outros dos atores deste conto novaiorquino acerca de como a verdade nos persegue sempre.

The Deep Blue Sea, de Terence Davies Uma devastadora Rachel Weisz é a protagonista deste melodrama dos anos 50, sobre uma senhora bem casada que abdica de uma vida segura para ir viver com o amante, um ex-militar da 2º Grande Guerra com tendências alcoólicas. Filmado com a severidade habitual de Davies, é sobretudo um ensaio de melancolia capaz de cruzar com elegância as marcas do cinema de Douglas Sirk e Max Ophuls. Um filme estendido num labirinto melodramático e marcado por uma interpretação assombrosa de Tom Hiddleston, que a pequenada talvez o conheça apenas de Thor e Os Vingadores, mas que em breve estará no poster do último Jim Jarmusch.

Jeff Who Lives at Home, de Mark e Jeff Duplass Os irmãos Duplass apresentaram em Karlovy Vary esta deliciosa comédia sobre trintões que nunca crescem. Neste caso, a história de Jeff, um problemático preguiçoso que esqueceu-se de ficar adulto e prefere uma vida caseira e sem riscos. Os irmãos Duplass, que já conhecíamos do muito feliz Cyrus, dirigem com particular mestria atores como Susan Sarandon, Ed Helms e Jason Segel. É uma comédia extremamente bem escrita, com um humor sempre tocante. Grande comédia geracional que prova que o humor «mainstream» americano precisa disto: um certo sabor a comicidade «indie». metropolis nº0.5 agosto 2012


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Palmarés

Seleção Oficial - Competição

Grand Prix - Crystal Globe (25 000 USD) The Almost Man / Mer eller mindre mann de: Martin Lund Noruega, 2012

Special Jury Prize (15 000 USD) Piazza Fontana: The Italian Conspiracy / Romanzo di una strage de: Marco Tullio Giordana Italia, 2012

Melhor realização Rafaël Ouellet Camion Canada, 2012

Melhor atriz Leila Hatami em The Last Step / Pele akhar de Ali Mosaffa Irão, 2012

melhor ator Henrik Rafaelsen em The Almost Man / Mer eller mindre mann

melhor ator Eryk Lubos em To Kill a Beaver / Zabić bobra

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RIP

RIP Ernest Borgnine (1917 – 2012) Sendo mais conhecido pelos seus papéis de duro, foi no papel de um tímido e solitário Marty (1955) que este actor norte-americano de origem italiana ganhou um Óscar de Melhor Actor. É difícil salientar uma interpretação numa carreira com mais de 200 títulos, mas muitos cinéfilos recordá-lo-ão por The Flight of the Phoenix (1965), Doze Indomáveis Patifes (1967), A Quadrilha Selvagem (1969), A Aventura do Poseidon (1972), o taxista de Nova Iorque 1997 (1981) ou mesmo a voz de Mermaid Man na série animada SpongeBob. Andy Griffith (1926 – 2012) Após alcançar o estrelato no grande ecrã com A Face in the Crowd (1957) de Elia Kazan, Griffith tornou-se uma das estrelas de televisão mais famosas nos Estados Unidos ao interpretar o xerife Andy Taylor no programa The Andy Griffith Show durante os anos 60. Vinte anos mais tarde protagonizaria outra série de televisão de grande sucesso, desta vez na pele de um advogado determinado, em Matlock. Mais recentemente participou nas longas-metragens Amor aos Pedaços (2007) e Play the Game (2009). Nora Ephron (1941 – 2012) Esta nova-iorquina começou a carreira como jornalista mas rapidamente singrou na indústria do cinema como realizadora, produtora e argumentista, sendo considerada a rainha da comédia romântica norte-americana. Escreveu o drama Silkwood (1983) e várias comédias como Meu Pequeno Paraíso (1990), Sintonia de Amor (1993) e Você Tem uma Mensagem (1998), que também realizou. Um Amor Inevitável (1989), dirigido por Rob Reiner, e escrito por Nora Ephron –– tornou-se um marco na história da comédia romântica dos últimos 30 anos, e mostrou-nos ainda a simulação do melhor orgasmo feminino da história do cinema. José Hermano Saraiva (1919 – 2012) Foi professor universitário e ministro do Estado Novo, mas a actividade que mais o popularizou foi a de apresentador de magazines históricos na RTP. Séries como A Alma e a Gente e Horizontes da Memória revelaram qualidades didácticas e um invulgar poder de comunicação que o tornaram não apenas o historiador mais conhecido do público, mas um autêntico ícone da cultura portuguesa. Foi a figura que nas últimas décadas mais contribuiu para o enaltecimento e divulgação da História e identidade do povo português.

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O mundo plural de Miranda July metropolis nÂş0.5 agosto 2012

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João Lopes

S

e é verdade que, hoje em dia, vários domínios da criação artística se definem por um cruzamento de muitas linguagens, desafiando os padrões clássicos de classificação e percepção, então não há dúvida que a americana Miranda July pode servir de exemplo modelar de tal pluralidade. O lançamento do seu filme O Futuro (cuja estreia europeia ocorreu, em Fevereiro de 2011, no Festival de Berlim) abre-nos as portas de um universo que, sendo visceralmente cinematográfico, integra elementos visuais e narrativos que vêm da fotografia, da “performance”, da música e dos videoclips. Seja como for, O Futuro pode começar por definir-se como uma tradicional comédia romântica, algo nostálgica de modelos enraizados nos tempos clássicos de Hollywood. Nele encontramos um jovem casal, metropolis nº0.5 agosto 2012

Jason e Sophie – interpretados, respectivamente, por Hamish Linklater e a própria Miranda July –, cuja relação está ameaçada de decomposição. Tentando encontrar um novo equilíbrio afectivo, decidem adoptar... um gato. A partir daí, assistimos a um desenvolvimento em que o espírito tradicional se combina com o mais desconcertante artifício. Dito de outro modo: sem deixar de trabalhar sobre os dados mais imediatos de um quotidiano tão “banal” quanto misterioso, Miranda July vai introduzindo elementos de calculada estranheza (incluindo no modo de figurar o felino...) que conferem ao filme a respiração própria de uma fábula mais ou menos surreal. Sintomaticamente, o argumento de O Futuro, também da autoria da realizadora, teve a sua origem numa “performance” que Miranda

July apresentou, em 2007, em vários espaços de cidades americanas, a começar pelo lendário The Kitchen, em Manhattan. Mais do que construir uma história convencional que desemboque numa qualquer “solução” existencial, ela está interessada em criar momentos relativamente autónomos que, sem deixar de gerar uma narrativa, criam um sentimento de espectáculo irónico, distanciado, algo teatralizado. Era assim, aliás, o seu filme anterior, Eu, Tu e Todos os que Conhecemos (2005), de alguma maneira marcado por uma ambivalência com o seu quê de autobiográfico: também como protagonista, Miranda July interpretava uma artista solitária que guiava um táxi especial para idosos... Afinal de contas, há que reconhecer que, apesar do fascínio do seu universo cinematográfico, a carreira de Miranda July tem tido nos filmes uma


miranda july expressão claramente minoritária. Desde finais dos anos 90, com uma composição ao vivo intitulada Love Diamond, é através da “performance” que ela tem mantido uma relação mais regular com os espectadores.

Eu, Tu e Todos os que Conhecemos (2005)

Entre as suas múltiplas actividades, Miranda July, em colaboração com Harry Fletcher, criou um projecto online, “Learning to Love You More”, uma espécie de montra virtual vocacionada para a exposição e partilha das mais diversas experiências multimédia. Por isso mesmo, vale a pena visitar o seu site pessoal (mirandajuly. com): aí encontramos uma variedade de registos, desde o mais simples post escrito até aos diversos “home videos”, que desempenham uma função ao mesmo tempo informativa e especulativa, jornalística e poética. Para Miranda July, as linguagens audiovisuais vivem em regime de permanente reinvenção.

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O Cavaleiro das Trevas Renasce O Blockbuster das Trevas Bruno Ramos

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legítimo afirmar que estamos perante a película mais aguardada do ano. Não só por aquilo que a precede, como aquilo que lhe sucede. No primeiro caso, muito. No segundo, nada. O Cavaleiro das Trevas Renasce chega depois de um reboot soberbo e uma sequela de encher o olho. A seguir a isto, o vazio. Pelo menos, pela mão de Christopher Nolan. O mundo prepara-se para ficar a saber que destino está reservado para Gotham depois de Batman e Bane medirem forças. Que o pano desça e a trilogia se feche.

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Especial

A História No último tomo da trilogia de Christopher Nolan dedicada ao cavaleiro das trevas, Batman enfrenta um inimigo diferente de todos os que já se cruzaram no seu caminho. Em O Cavaleiro das Trevas (2008), Batman salvou Gotham, mas não conseguiu salvar-se a si mesmo a partir do momento em que assumiu a culpa pelos crimes de Harvey Dent, e passou a ser perseguido pela polícia. Forçado a entregar a nobre posição de protector de Gotham, decide deixar a cidade nas mãos do comissário Gordon, depois do excelente trabalho que este fez em prol da cidade de ambos. Após o que pareceu ser uma eternidade, os resultados foram suficientes para convencer Batman de que Gotham estava bem entregue e não seria preciso Bruce Wayne voltar a vestir a roupa do morcego. No entanto, oito anos depois dos acontecimentos de O Cavaleiro das Trevas, um inimigo desconhecido surge, e ameaça destruir Gotham. Quando esta assustadora figura estranha prova ser areia demasiada para a carrinha de Gordon, Batman é obrigado a pôr cobro ao seu exílio, regressar às origens, impedir que Bane cumpra o seu plano diabólico e reivindicar o lugar que é seu por direito como o verdadeiro salvador de Gotham. metropolis nº0.5 agosto 2012

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Especial

O Terceiro Acto Não é de hoje. Já vem do tempo dos gregos. A maneira de se contar uma história, seja ela sobre o que for, segue os cânones gerais de tudo o resto. Porque tudo tem um princípio, um meio, e um fim, a epopeia de Bruce Wayne não podia fugir à regra. E, por mais relutante que Christopher Nolan estivesse em regressar uma vez mais a um lugar onde já foi feliz, a verdade é que não havia como escapar ao destino. É a paga por dois dos melhores filmes de superheróis de todo o sempre. Anos depois de Tim Burton ter dito de sua justiça sobre a icónica figura da DC Comics, Nolan empregou-lhe um humanismo nunca antes visto, e provou por a+b que Bruce Wayne não é mais do que um tipo normal que gosta de vestir um fato de morcego quando a lua vai alta. Significa isto que vamos ver um filme sobre um homem com hábitos estranhos? Pelo contrário. Ao fim de dois capítulos da saga, se há coisa a que Nolan acostumou a sua audiência, foi a blockbusters que induzem sinapses. Está bem que um homem abandonar o 65º andar de um arranha-céus preso na corda de um avião talvez não seja a coisa mais verosímil do mundo. Contudo, não nos equivoquemos. Os paralelismos com a sociedade contemporânea estão todos lá. Agora, Nolan, melhor do que ninguém, sabia o que estava aqui em jogo. Foi o próprio que colocou a questão: “Quantos bons terceiros filmes de uma saga somos capazes de enumerar?”. E, muito resumidamente, é disso que estamos aqui a falar. Nolan conseguiu pôr no ar a questão de estarmos ou não prestes a presenciar a melhor trilogia de que há memória. É certo que, apenas com duas películas estreadas, toda e qualquer argumentação não irá além da especulação que advém da maior ou menor expectativa. Daí que a antecipação não encontre precedentes. Com a sua visão, Batman pode vir a ombrear com Skywalker, Frodo, Corleone ou Indiana. É um lote restrito. Reservado a lendas. E, essas, como diria Alfred, nunca morrem.

Antecipação Ao mesmo tempo que importa reter a relevância do momento, não deixa de ser pertinente relativizar os efeitos na carreira de Nolan, seja qual for o resultado. Tanto em termos de crítica, como de receita de bilheteira. O realizador metropolis nº0.5 agosto 2012

britânico é cada vez mais um estudo de caso. O elo de ligação que contraria o preceito de que um cineasta autor não pode coexistir num ambiente mainstream. O que acaba por resultar numa mescla única, equilibrada e apelativa a gregos e troianos. Quem diz que não é possível obter o melhor de dois mundos, é porque não anda a ver o que Nolan tem feito com a sua vida. Para termos uma noção do hype que esta película gerou ao longo da sua gestação, nada melhor do que olharmos para os momentos que antecedem a estreia mundial, uma semana antes. A sete dias do lançamento, o filme gerava mais excitação do que os anteriores três maiores sucessos de bilheteira dos últimos doze meses. Os números indicam que os espectadores mostram mais inclinação para ver o filme de Nolan do que Os Vingadores, Os Jogos da Fome e o


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Debutantes

último Harry Potter. Na investigação levada a cabo pelos estúdios, ficou-se a saber que a percentagem de cinéfilos que classificavam o filme como potencial primeira opção na próxima ida ao cinema era seis pontos superior ao filme da Marvel e sete à adaptação do best-seller de Suzanne Collins. Como é que isto se traduz em termos de pilim é a questão que vale um milhão de euros. Ou devemos dizer, um bilião? Dado que a obra de Nolan não chegará às salas em 3D, não beneficiando do natural acréscimo do preço do bilhete, muitos vêem como impossível a tarefa de bater os recordes de estreia no primeiro fim-de-semana, ou de rivalizar com os cifrões obtidos por Avatar. O mesmo é dizer, as expectativas estão altas. E, a culpa disto tudo é de Nolan, Bale, Caine, Freeman, e umas outras quantas caras novas que se lhes juntam nesta derradeira aventura.

Nolan não fez a coisa por menos, e fez questão de se reunir com aqueles que lhe eram familiares, e mais garantias de sucesso lhe davam. Muitos foram assim os colaboradores do passado que voltaram a juntar-se ao cineasta. Desde o director de fotografia Wally Pfister, passando pelo designer Nathan Crowley, o responsável pela montagem Lee Smith, a directora de guarda-roupa Lindy Hemming, os supervisores de efeitos especiais Paul Franklin e Chris Corbould, e o compositor Hans Zimmer. Christian Bale regressa ao papel que o consagrou, Michael Caine volta a encarnar o Alfred de sempre, enquanto Morgan Freeman veste novamente a pele de Lucius Fox. O trio de estreante que ganha inteiro destaque é composto por Tom Hardy, Anne Hathaway e Marion Cotillard. Se a última promete assumir-se cada vez mais como a musa do cineasta, os dois primeiros assumem mais protagonismo, até pelos papéis que desempenham neste desenlace. Integrar O Cavaleiro de Trevas Renasce como Bane, o mais recente arqui-rival de Batman, foi um pouco assustador para Hardy. No entanto, com o apoio de Nolan e algumas “grandes escolhas” pelo caminho, o actor mergulhou no papel do vilão. Sempre gostei de interpretar o mau da fita, porque posso dizer o que me apetece, fazer o que me apetece, e ponto final. Quando somos o protagonista, temos de fazer o que nos dizem, o que é chato, confessa o actor. Quem trabalhou pela primeira vez com Nolan, foi Anne Hathaway. Quando questionada sobre a experiência, e sobre se o realizador é efectivamente uma pessoa calma no set e tem por hábito beber chá, a actriz limitou-se a confirmar. Ele bebe muito chá, uma quantidade enorme de chá. Acho que o segredo dele está aí, no Earl Grey! Acho que uma das coisas que realmente aprendi com ele foi o facto de que estarmos stressados não significar um produto melhor, admite a actriz. Ele é tão brilhante, tão capaz, sabe todos os aspectos do cinema de dentro para fora, de fora para dentro, de trás para a frente e da frente para trás. Mas ele nunca perde a calma. Há coisas espectaculares a acontecer à sua volta, mas ele permanece completamente calmo, reconhece Hathaway. Acho que ele é capaz de estar no meio do caos, e manter a compostura. Para além disso é uma mente brilhante. Brilhantismo tem-se tornado numa palavra gasta, mas quando penso nela penso em Nolan. Outra palavra demasiado usada é génio, mas é isso que ele é. São palavras com enorme peso, mas ele faz por merecêlas, confessa a actriz. metropolis nº0.5 agosto 2012


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Especial

As Personagens

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1. Bruce Wayne / Batman - Christian Bale Um bilionário da alta sociedade dedicado a salvar a cidade que ama. Gotham City. Nolan afirmou que devido ao hiato de oito anos entre os acontecimentos de O Cavaleiro das Trevas e o último filme, estaremos na presença de um Wayne mais velho, longe dos seus melhores anos. Bale afirma que com o término da trilogia a sua personagem irá finalmente confrontar a dor da perda adiada durante anos enquanto combateu criminosos, equilibrando essa mesma dor que contaminou outras emoções e o ameaçou tornar-se no assassino que acredita ser.. 2. Bane – Tom Hardy Um destruidor que tem por objectivo arrasar Gotham City. Originalmente um membro da Liga dos Assassinos, antes de ter sido excomungado. A vontade de Nolan era ver Batman testado tanto a nível físico como mental, daí ter escolhido esta personagem. Bane tem sido descrito como um inimigo quer em pensamento, quer na acção. No fundo, uma locomotiva com o discurso esclarecido. Para o papel, Hardy ganhou 14 Kg. 3. Selina Kyle – Anne Hathaway Selina Kyle é aquela personagem capaz de mostrar que por detrás do cavaleiro das trevas está um homem com coração de manteiga. Bem, poderá não ser manteiga, mas será seguramente alguma coisa mais mole do que o ferro a que se deve assemelhar o seu sopapo. Hathaway fez o teste para o papel sem saber que personagem lhe estava destinada. Apesar de admitir que tinha uma personagem em mente, só depois de falar com Nolan durante uma hora é que ficou a saber que seria Selina Kyle, um trabalho que lhe exigiu o dobro do esforço no ginásio de modo a responder às exigências do perfil. 4. Alfred Pennyworth – Michael Caine A substituição perfeita de um pai que não existe. A personagem que Spielberg sempre sonhou escrever. Mordomo e confidente de Wayne, Alfred é a figura paternal que confere à gigantesca mansão a ideia de conforto do lar. Com Alfred podemos falar em família. A personagem que aconselha Wayne, e o ajuda de forma impar em todas as missões. O elo emocional entre os dois não encontra paralelo na trama. 5. James Gordon – Gary Oldman Comissário do Departamento de Polícia de Gotham City, e um dos poucos polícias honestos da cidade. Gary Oldman afirmou que o trabalho de limpeza de Gotham City o deixou cansado como tudo e descreveu-o como um pouco entediante, comparando Gordon a um soldado a quem é dada a responsabilidade de estar na linha de frente. 6. Lucius Fox – Morgan Freeman Fox dirige a Wayne Enterprises em nome de Bruce Wayne e serve como seu fornecedor de armas pessoal, arranjando sempre equipamento de alta tecnologia. O último grito na arte da guerra. A sua posição enquanto presidente da Wayne Enterprises permite-lhe discretamente desenvolver tecnologia de ponta e armamento da pesada, mesmo que a Wayne Enterprises perca algum dinheiro no processo. 7. Miranda Tate – Marion Cotillard Primeira aparição na trilogia, Tate é uma colaboradora da Wayne Enterprises que encoraja Bruce Wayne a regressar à sociedade e continuar o trabalho filantrópico iniciado pelo seu pai. Tate foi descrita como a fonte necessária de bom senso e esperança que Bruce precisa, tendo surgido a pedido de Alfred e Lucius. 8. John Blake – Joseph Gordon-Levitt Blake é um jovem polícia sempre alerta, de instintos apurados, e olhar no horizonte, não vão os perigos fazer das suas. Vendo nele capacidades que não vê nos restantes subordinados, o comissário Gordon decide promove-lo. Blake representa, em última instância, o idealismo que Gordon e Bruce tiveram em tempos, mas rapidamente perderam na batalha contra o crime de Gotham. metropolis nº0.5 agosto 2012

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Especial

Trevas Anteriores

Batman – O Início (2005) Se O Cavaleiro das Trevas Renasce chega às salas depois de a fasquia ter sido elevada até mais não, o primeiro filme da trilogia de Nolan estreou com a mais baixa das expectativas. É certo que estávamos na presença do realizador de Memento (2000), uma obra que atingiu o estatuto de cult movie assim que o primeiro frame passou na tela, no entanto, a anterior passagem do morcego de Gotham pelo grande ecrã tinha sido um dos eventos mais desastrosos da história da imagem em movimento. Depois do cataclismo que foi Batman & Robin (1997), a Warner Brothers decidiu encarregar Nolan de fazer novamente de Batman uma personagem respeitada. Nolan fez isso e muito mais. Com David S. Goyer a colaborar na redacção do guião, a dupla criou uma história negra, com um realismo e humanismo raras vezes visto num filme de super-heróis. O resultado foi uma obra convincente a todos os níveis, capaz de relançar todo um franchise, e que mostrou a Hollywood como, em tempos de crise, seguindo a fórmula certa, não há como não facturar com uma boa adaptação de um comic. O Cavaleiro das Trevas (2008) O sucesso do seu antecessor foi tanto, que Nolan não teve sequer opção. A sequela era obrigatória. Restava saber que história e que vilão lhe seguiriam. A partir do momento em que Joker foi o escolhido, a expectativa escalou como se não houvesse amanhã. Assim que as primeiras imagens de Heath Ledger foram disponibilizadas, foi a loucura generalizada. Terá sido provavelmente o primeiro filme a explorar na sua plenitude as mais-valias de uma boa campanha viral. Sem revelar demasiado, o filme foi criando uma novela acerca das personagens, meses antes de estas chegarem ao grande ecrã. Contudo, toda essa campanha haveria de ser repensada igualmente meses antes da estreia, quando Heath Ledger foi encontrado morto num apartamento de Nova Iorque. O filme estrearia seis meses mais tarde, e a recepção haveria de ser estrondosa. Até pela Academia de Hollywood, que o nomeou para oito Oscars. Faltou a nomeação para Melhor Filme. No ano seguinte, a mesma Academia haveria de mudar as regras e passar a ter dez nomeados nessa categoria. Não foi coincidência.

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Especial

Batmobile

Possivelmente o mais icónico dos carros de super-heróis. Criado em 1939, o carro tem evoluído com a personagem ao longo das passagens pelos comic books, pela televisão e pelos filmes. Mantido nos confins da sua mansão, o Batmobile é um veículo carregado de dispositivos que Bruce Wayne utiliza nas suas actividades de combate ao crime. No início era descrito apenas como o "seu carro". Primeiro surgiram os motivos de morcego, cada vez mais proeminentes, tipicamente incluindo distintivos em forma de asas. Na fase inicial da sua carreira, Batman colocou-lhe uma armadura tecnologicamente avançada transformando o Batmobile numa máquina que não deixa ninguém indiferente. Hoje, temos praticamente um tanque. No fundo, várias foram as encarnações a que já teve direito. Aqui ficam algumas delas.

Batmobile (1966-68)

Batmobile em Batman Forever (1995)

Primeiro Batmobile (1941)

Batmobile em Batman & Robin (1997)

Batmobile de Tim Burton (1989-1992)

Batmobile em Batman – O Início (2005)

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As Vozes de Madagáscar

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m 2005, a história de quatro amigos – Alex, o leão, Marty, a zebra, Melman, a girafa e Glória, a hipopótamo – que fogem do jardim zoológico de Nova Iorque para conhecer o mundo e acabam despachados para África ajudou, com as aventuras “Shrek”, a confirmar a importância da DreamWorks no cinema de animação. Sete anos depois, “Madagáscar” vai no terceiro filme e promete não ficar por aqui. E conhecendo a importância das receitas internacionais, o passo óbvio é que os personagens desembarquem finalmente na Europa. Falámos com o quarteto original dos actores que emprestam as suas vozes sobre este regresso, as qualidades do novo capítulo e o que ainda torna a saga cativante.

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as vozes de madagáscar BEN STILLER / Alex

Gosta de fazer filmes de animação como “Madagáscar”? Sim, a sério que sim. Sinto que quando se faz algo que se gosta é mais fácil porque se gosta do que se está a fazer. Enquanto actor, como é que a animação é diferente dos outros filmes? Enquanto actor de voz não se têm tanta da responsabilidade, o que é mesmo bom. É realmente libertador. Chegamos e divertimo-nos. Podemos improvisar e dar-lhe vida. Adoro. Então, o que está a preparar desta vez o Alex? Ele é o líder de facto, mas não é efectivamente um líder natural. Adora Nova Iorque e ainda está a tentar chegar a casa. E o que acontece ao grupo em “Madagáscar 3”? Eles embarcam clandestinos com um circo. E irrompem por um casino em Monte Carlo. São perseguidos por uma responsável pela recolha de animais. E ela é muito dura. Existem todo o tipo de perseguições malucas por Monte Carlos. Fugimos num comboio. E descobrimos que os animais do circo olham com preconceito para os animais do jardim zoológico. E o Alex enfrenta um rival desta vez, certo? Sim. Alex tem de confrontar Vitaly. E este tipo está muito zangado, ele não gosta do Alex. Existem muitos confrontos entre os dois. O que é que faz de “Madagáscar 3” um filme que vale a pena ver? Após este tempo todo na saga, existe mais liberdade para tentar coisas novas. Gostei muito de todo o novo enredo, para mim este filme parece muito diferente dos outros dois. E acho isso muito apelativo. Essa parte foi emocionante para mim. Todos os novos animais de circo dão uma nova frescura. metropolis nº0.5 agosto 2012

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as vozes de madagáscar Alguma vez pensou não regressar a estes filmes? Nunca foi uma hipótese para mim. Adoro os filmes. Vamos mantê-los se as pessoas quiserem e existir uma história para contar. CHRIS ROCK / Marty

improvisar, fazer o meu tipo de coisas e safar-me com isso. É espantoso. E para ser honesto, isto não é trabalho a sério. Limpar casas é um trabalho a sério. Tenho sorte por estar a fazer algo como isto. Tem dois filhos. Eles gostam dos filmes “Madagáscar”? Os meus filhos gabam-se aos amigos por causa destes filmes. É um presente que continua a render. Nada de negativo advém de “Madagáscar”. É impossível falhar com animais falantes. Como se mantém esta história relevante? Eles continuam a aparecer com novas histórias, novas grandes ideias. E gosto que continuem a trazer novas pessoas. Desta vez juntámos Martin Short, Frances Command. Parece que sobem sempre um patamar a cada novo filme. Como é que descreveria “Madagáscar 3”? O filme parece um cruzamento entre Exterminador Implacável 3 e A Lula e a Baleia. E como disse, visualmente é deslumbrante. O 3D realmente funciona bem. Parece um filme muito diferente dos anteriores. E todos os novos animais de circo fão-lhe uma certa frescura. DAVID SCHWIMMER / Melman

O que acha de “Madagáscar 3”? Gosto muito deste. Penso mesmo que é o melhor que fizemos. Tem tão bom aspecto. Visualmente recorda-me um retrato de David LaChapelle. É simplesmente espantoso. Fale-nos um pouco de Marty. Ainda gosta de ser uma zebra? Claro que sim. Adoro Marty. Sabe, nos primeiros dois filmes ainda estávamos um pouco a tentar descobri-lo. Neste, acertámos. Agora ele tem dimensão própria. Escreveu uma canção para este filme. “Afro Circus” é um grande êxito no YouTube. Sabia que teve mais de 700 mil visualizações em pouco tempo? [actualmente ultrapassa 3,5 milhões] O que seu é que o YouTube não me paga de todo. Devia ser pago por estes sucessos, não acha? Estou só a brincar. É maravilhoso que as pessoas se identifiquem com o filme e a música. A sério. Qual é o seu animal favorito no reino animal? Bem, queria ser um lião. Sabe, entusiasmou-me toda aquela coisa do “rei das selva”. Mas estou satisfeito com a zebra. Também gosto de cobras, embora consigam ser um pouco assustadoras. O que é que tem em comum com o seu personagem? Ele é a minha personalidade com esteróides, é basicamente como o descreveria. Gosta de fazer vozes para animações? Completamente. São uma dádiva dos deuses. Posso metropolis nº0.5 agosto 2012

Sente que conhece melhor o seu personagem agora que está no terceiro capítulo de “Madagáscar”? Sim, sinto que a conheço melhor. E provavelmente os argumentistas conhecem melhor os nossos personagens por causa dos dois filmes anteriores. Como é que foi quando eles ligaram e lhe pediram para trazer de volta o Melman? Ah, foi óptimo. Fiquei contente quando me chamaram e disseram que iam fazer um terceiro filme. É sempre bom ser convidado a regressar.


as vozes de madagáscar A girafa parece ser uma solução perfeita para a sua voz. Concorda? Foi engraçado, quando o Jeffrey Katzenberg me abordou pela primeira vez e me contou a história sobre estes três animais, estava a imaginar qual é que ele tinha em mente para mim. Quando ele me disse que era a girafa, fiquei muito aliviado. Porquê? Sempre tive uma afinidade com as girafas. Acho que é por as achar tão vulneráveis. Parecem ser alvos tão grandes no reino animal. Qual é o poder permanente desta saga? O humor é direccionado para adultos e crianças. E os filmes levam-nos sempre para lugares diferentes. Estivemos em África, Nova Iorque e agora estamos na Europa. Qual é a diferença entre realizar ou estar num filme e fazer vozes para uma animação? Isto não parece tão pesado. Realizar consome tanto tempo. Isto é precisamente o contrário. Els precisam de nós por um dia a cada dois ou três meses. Consegue descrever-nos o processo, como é que se prepara? É como usar um velho casaco confortável. Tornarmo-nos aquele personagem e dar-lhe tudo o que temos. No final do dia estamos completamente exaustos. A voz desaparece, apenas estamos cansados.

conheço muito bem. Alguma vez pensou que estaria aqui a promover um terceiro filme de “Madagáscar”? Não fazia ideia que um dia iríamos ter três filmes. Mas fico contente por ser convidada para voltar à festa. Gosto mesmo dela. O que gosta tanto na Gloria? Ela é muito mulher e adora isso. E não arranja desculpas para o seu aspecto. Adoro isso. Faz passar uma boa mensagem, não acha? Sem dúvida. É como nós nos vemos e comportamos. Tem algum momento preferido neste filme? Gosto da história de amor da Sofia, A Ursa e Sacha, o rei dos lémures. Provavelmente é o aspecto mais adorável do enredo para mim. A ursa é hilariante. Existe muita improvisação quando faz um filme como “Madagáscar 3”? Ah, sim, existe imensa improvisação. Brincamos imenso e no final, a maior parte de nós não sabe o que vai ficar no filme. Na verdade, isso acaba por ser engraçado.

JADA PINKETT SMITH / Gloria

Está de regresso pela Terceira vez como a voz de Gloria. O que pensa ter em comum com ela. Consigo ser tão animada como Gloria a Hipopótamo. Mas existem muitas diferenças entre ela e eu. Por exemplo, ela é dez vezes o meu tamanho. Mas sinto que agora já a metropolis nº0.5 agosto 2012

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A liga dos ruivos

a liga dos ruivos Bruno Ramos

O mais recente filme da Pixar chega este mês às salas nacionais, e consigo traz uma protagonista de fortes convicções e farta cabeleira. Todo um couro cabeludo de um arruivado vivo e brilhante como há muito não se via na tela. Vai daí que nos pareceu ser a melhor das oportunidades para recordar as mais icónicas personagens ruivas que o grande ecrã já conheceu. Cabelo pintado ou não. A cor é o que interessa. metropolis nº0.5 agosto 2012

10. Louise em Thelma & Louise (Susan Sarandon) Em alguns planos dá ares de castanho claro. Mas, não nos equivoquemos. Estamos na presença de uma verdadeira ruiva. Com todas as letras. Louise é uma simples empregada que aparenta uma segurança que não tem, uma organização que lhe falta, e uma convicção que perdeu. Na génese de tudo, um trauma do passado. Na companhia de Thelma (Geena Davis), mete-se num Ford Thunderbird de 1966 para uma viagem de dois dias que rapidamente deixa de ser uma escapadela fantástica para se transformar num pesadelo dos diabos. A primeira coisa que ficamos a saber é que Louise é uma mulher de armas. Literalmente. A última, que é uma mulher de palavra. Um dos melhores cartões-de-visita para o mundo dos ruivos.


a liga dos ruivos

9 – Ariel em A Pequena Sereia (Jodi Benson) Não é a única personagem animada da lista. A mais previsível está lá mais para a frente. Mas, verdade seja dita, jamais poderíamos conceber este rol sem incluir a mais doce princesa do mundo aquático saído dos estudos Disney. O que Ariel mais deseja é fazer parte do mundo acima da linha de água. Deseja isso ao ponto de sacrificar o seu maior talento. A voz que encanta os sete mares. Só assim poderá ter as pernas que lhe permitirão trocar de realidades e ficar com o seu grande amor, o príncipe Eric. Seja debaixo do mar, ou à superfície, o cabelo de Ariel marca pontos ao longo de todo o filme. Assim como a sapateira, também ela ruiva.

8 – Lola em Corre, Lola, Corre (Franka Potente) A mais acelerada das ruivas presentes na lista. Também, não é para menos. Lola tem 20 minutos para arranjar 100,000 Marcos e evitar que o seu namorado, um criminoso de pequena escala, tenha de se apresentar ao seu cabecilha com uma divida que provavelmente lhe custará a vida. Manni (Moritz Bleubtreu), o dito namorado, telefona a Lola a avisar que a ideia passa por assaltar um supermercado local. Mas, Lola tem outros planos, e pede-lhe 20 minutos. O filme divide-se depois em três corridas e, em cada uma delas, apesar de o ponto de partida ser idêntico, os acontecimentos desenrolam-se de maneiras diferentes. Trepidante. A única coisa transversal: o cabelo ruivo de Potente ao vento.

7 – Annie em Annie (Aileen Quinn) A pequena Annie é bem capaz de ser a mais doce das criaturas desta lista. Uns pontos acima de Ariel talvez. Ainda para mais quando o seu arruivado vem com o bónus de caracóis e um efeito permanente que perdura na memória ao fim de trinta anos. A verdade é que a personagem já existia há uns anos largos, antes da adaptação de John Huston em 1982. Annie é a órfã mais optimista da história. Aquela que dá a volta quando já ninguém acredita. Se houve lição que nos deu e legado que deixou, foi o de fazer crer que, por muito cinzentas que as coisas estejam, teremos sempre amanhã para torná-las melhores. metropolis nº0.5 agosto 2012

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A liga dos ruivos

6 – Ron Weasley em Harry Potter (Rupert Grint)

5 – Giselle em Uma História de Encantar (Amy Adams)

Era preciso um homem. Nem que fosse só para equilibrar as coisas e serenar as hostes. Não temos o homem. Potter não preenche os requisitos. Mas, neste caso, ficamos com a segunda melhor opção. Na verdade, Weasley vem no seguimento de toda uma linhagem arruivada. A família que o famoso Potter nunca teve. O pequeno Ron rapidamente se torna no melhor amigo do protagonista. Em sete anos, revela-se um mestre no xadrez, combate devoradores da morte, ajuda a destruir horcruxes, e ainda fica com a bruxa no final. Se Potter tinha a cicatriz para protecção, Ron tinha a farta cabeleira ruiva.

Reza a história que um dia a Disney decidiu pegar em todas as princesas que já tinha criado, atirou-as para a batedeira, puxou o motor ao máximo, e saiu de lá uma Giselle em carne viva que fez saltar do estirador para as ruas de nova iorque a princesa do século XXI. Até ao filme de Kevin Lima, nenhuma princesa havia ousado cantar por Central Park, limpar um apartamento com a ajuda de ratos do esgoto, ou subir a um arranhacéus da 5ª avenida. O filme mais bem conseguido da Disney em anos, que não é mais do que uma homenagem a um legado ímpar. A começar no cabelo que dá ares de Ariel.

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4 – Rose em Titanic (Kate Winslet) Estamos seguros de que algures nas reuniões de pré-produção, James Cameron e companhia terão chegado à conclusão de que, de modo a uma personagem com este poderio e força de vontade superior ser credível, a mesma só poderia ser ruiva. Passados estes anos todos, perguntamo-nos se existe imagem mais romântica do que Rose ao lado do seu Jack (Leonardo DiCaprio) no “topo do mundo”. Se, no início do filme, o cabelo de Rose estava preso por ganchos e era rigidamente controlado, por alturas do beijo na proa, é a liberdade do cabelo ao sabor do vento que reina.


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3 – Leeloo em O Quinto Elemento (Milla Jovovich) Ainda hoje decorrem discussões em mesas de café espalhadas um pouco por todo o mundo sobre o que é, afinal, o quinto elemento. Não que para o caso seja relevante, porém, quem tiver curiosidade, é ver o filme de Luc Besson. O que importa revelar aqui é que estamos na presença de uma Milla Jovovich no pleno das suas capacidades. Não só estéticas – ninguém se safaria tão bem com meia dúzia de trapos em cima do corpo durante um filme inteiro –, como também interpretativas. Jovovich é a derradeira extraterrestre fatale, que sabe bem o que tem a fazer para salvar a humanidade. E no cabelo residia muito do seu poder.

2 – Claire em O Clube (Molly Ringwald)

1 – Jessica Rabbit em Quem Tramou Roger Rabbit (Katheen Turner e Amy Irving)

Em abono da verdade, qualquer filme de Ringwald da década de 80 serviria o intento. A actriz será para sempre conhecida como a rainha dos filmes adolescentes dos eighties. Com Ringwald, o mundo passou a acreditar que era possível o protagonista apaixonar-se pela ruiva sardenta ao invés da popular loira cheerleader curvilínea. Foi ao lado do malogrado génio de John Hughes que Ringwald atingiu o píncaro da sua carreira. Píncaro esse que deve ter chegado por alturas de 1985, quando a sua Claire foi colocada numa sala de um liceu de Chicago com mais quatro adolescentes. Nem ela era a mesma quando saiu da sala de aula, nem o espectador o mesmo quando saiu da sala de cinema.

Que as personagens ruivas do mundo real reflictam sobre isto. A mais icónica ruiva do grande ecrã é um desenhoanimado. Dá que pensar. Mas, sejamos honestos. Tal distinção não reside apenas no brilho impar do cabelo vermelho. O pernil avantajado e o peitoral desenvolvido contribuem para esta posição no topo da hierarquia. Kathleen Turner emprestou-lhe a voz, Amy Irving cantou quando foi preciso. Bob Hoskins nem podia acreditar que esta era a miúda de Roger Rabbit. Nas palavras de Betty Boop, Uma gaja sortuda. Sobre Jessica Rabbit, contudo, nada assentará melhor do que aqueles dois versos da mítica canção de Bruce Springsteen: It takes a red-headed woman to get a dirty job done. Sem tirar nem pôr. metropolis nº0.5 agosto 2012

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Crítica

Ritmos Femininos

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Jorge Pinto

G

irls é uma série, composta por dez episódios, que foi produzida pela HBO. Em 2012 tornouse uma das estreias que teve mais furor entre vários críticos especializados e o público em terras do Tio Sam. Girls é um tesouro em bruto, uma história de amizade, humor e realismo que explora temas importantes e altamente disfuncionais de quatro jovens de Nova Iorque na transição para a vida adulta.


Crítica A voz de uma geração A série assenta nos ombros da multitalentosa Lena Dunham, uma jovem de 25 anos que colocou o seu nome no mapa com Tiny Furniture (2010). Um filme que estreou no South by Southwest, em Austin no Texas, a obra teve direito a um lançamento da Criterion em 2012. Tiny Furniture possui características notáveis a nível visual (realização e fotografia), uma qualidade acima da média nos desempenhos e uma excelente dose de sarcasmo e autocrítica na narrativa de uma jovem à deriva. Tiny Furniture e Girls partem de experiências pessoais assentes nas relações de Dunham com a família os amigos. Em Girls este conceito está disseminado pelos restantes intervenientes. Já em 2009 Dunham tinha estado em Austin com Creative Nonfiction, a sua primeira obra filmada quando a cineasta ainda estava na faculdade, na mesma altura editou Delusional Downtown Divas, uma webseries que gerou algum buzz nos nichos mais alternativos. Dunham graduou-se em escrita criativa e vem de uma família de artistas, os pais são importantes artistas visuais (Laurie Simmons e Caroll Dunham), a mãe e a irmã fizeram uma perninha em Tiny Furniture. Porquê Girls? O título tem capacidade de síntese e uma grande dose de ironia. As protagonistas têm 24 anos mas não se revêm nem se comportam como adultas. Segundo a autora houve várias hipóteses para o nome da série e todas continham “girls” no título, Duham acabou por seguir a sugestão

do seu pai (um fotógrafo de arte) e Judd Apatow, o produtor executivo. Girls conta a história de quatro amigas que estão num limbo de crescimento, acabadas de graduar da universidade ou prestes a terminar o curso mas com a certeza que nenhuma delas chegou à vida adulta. Nestas jovens de classe média o constante experimentalismo e a pouca auto-estima estão a paredes meias entre empregos instáveis e namorados desajustados, e onde o romance parece um mito. Elas não se sentem como adultas comportam-se como adolescentes capitalizando no seu charme de adolescente para conseguir o que querem. A genialidade da primeira temporada promete estender-se para uma segunda época com Lena Duham a levantar o véu ao afirmar que vão entrar novos personagens e alcançar alguma diversidade étnica, uma das críticas feitas à série. O toque Apatow Judd Apatow envolveu-se neste projecto após ter visto Tiny Furniture a admiração por Lena Duham cresceu quando tomou conhecimento que a jovem para além de ter interpretado e realizado o filme, também escreveu e produziu a sua obra. Apatow já afirmou que Girls é a visão de Dunham mas o produtor está envolvido no processo de edição, na leitura dos argumentos e no casting. Lena Duham após o seu filme aspirava em ir trabalhar para Los Angeles como argumentista da sitcom A Teoria do Big Bang mas acabou por se reunir com Judd Apatow e a sua amiga Jennifer Konner que apoiaram o seu projecto e incutiram mais comédia na série na apresentação à HBO. O próprio agente de Duham ficou surpreendido pelo facto da sua cliente ir escrever e interpretar um papel em Girls, e a criadora pensou que a HBO ia contratar Kat Dennings para o papel principal de Hanna. Sexo e a Cidade Há comparações evidentes entre

Girls e Sexo e a Cidade talvez porque sem a série com Sarah Jessica Parker as personagens de Girls provavelmente não existiriam. Esse foi um dos factores que fez a HBO encomendar uma série que é única. Girls consegue divertir a rodos e desafia os espectadores a reflectir sobre os meandros de uma geração que se arrisca a estar esquecida. Estas personagens ficcionais estão longe de viverem num universo de uma casa de bonecas ao ocuparem um lugar onde surgem questões fundamentais para as jovens do mundo real. Verbatim Girls descreve a ansiedade de uma amostra de uma geração que não é impelida por desejos de ter uma casa de sonho, um diamante ou alta-costura, estas personagens são emocionalmente genuínas em histórias honestas numa série com vários sabores. O realismo reflecte o pânico de se viver numa era onde a comunicação e as interacções sociais estão filtradas por diferentes meios sendo necessário descodificar as verdadeiras intenções deste universo despersonalizado, e são curiosas as introspecções de sequências em torno das redes sociais e o mundo dos sms´s. A série constrói personagens tridimensionais onde a economia e as esperanças no futuro diminuem a olhos vistos para uma geração que está cada vez mais perdida. A linguagem e a descrição visual da sexualidade é absolutamente explícita mas sempre com uma faceta de embaraço. Os únicos que têm prazer são os espectadores na fruição das gargalhadas de relações condicionadas por fantasias pornográficas onde o homem é o único que desfruta alguma coisa. Apesar do espirito feminino que predomina na série as relações sexuais possuem esse subtexto degradante no princípio de satisfazer os parceiros e explorar novas fronteiras. As personagens disfrutam de uma enorme química, o espectador esquece-se facilmente que está a observar uma encenação. metropolis nº0.5 agosto 2012

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Crítica

As person

Shoshanna Shapiro / Zosia Mamet Shoshanna é uma espécie de Bambi à solta em Nova Iorque, é uma criatura aluada que lida com os seus problemas de socialização e a sua delicada posição sexual, é virgem e comporta-se como tal. A sua personagem, a mais nova das quatro “meninas”, está sempre ligada à corrente e tem uma enorme tara pelo Sexo e a Cidade, o dia em que fuma crack, por engano, marca o hilariante nascimento de uma nova personalidade. Zosia Mamet é filha de pais famosos, a actriz Lindsay Crouse e David Mamet. Zosia Mamet quando era jovem não podia ver televisão, não frequentou a universidade e começou a trabalhar com 17 anos de idade. metropolis nº0.5 agosto 2012

Hannah Horvath / Lena Dunham Hannah é uma idealista sonha em ser uma escritora com algo importante a dizer ao mundo mas vive no limiar da pobreza por não ter como pagar a renda, salta constantemente entre empregos e os pais (ambos professores) não lhe querem alimentar os vícios. Ela tem medo, está desesperada e opta sempre pelas más escolhas. Acha que o mundo tem uma dívida para consigo havendo sempre um sentimento de direito face aos pais.

Ela quer ser tratada como uma criança mas quer ser vista como uma adulta. É admirável a entrega de Lena Dunham não só através da sua criação como a exposição física que se submete em cada episódio, o seu corpo parece uma pêra, e a nudez é constante, é um“retrato” a nu que contrapõe os padrões de beleza intoxicada por um falso glamour, na maioria das vezes glorificada pela televisão e seguida por devoção por milhões de jovens. E apesar de Hannah ser uma subtil variação de Lena Duham não nos pareça que a actriz seja uma pessoa inteiramente neurótica.


Crítica

nagens Adam Sackler / Adam Driver

Jessa Johansson / Jemina Kirke Jessa Johansson é o paradigma da loucura, interpretada pela belíssima Jemina Kirke, é a “menina” mal comportada da série e deixa um rasto de destruição por onde passa com o seu sotaque britânico e a sua presença sedutora. Jemina Kirke frequentou o mesmo liceu de Du e participou em Tiny Furniture, a actriz parece a reincarnação de uma diva do cinema mudo. É também filha de alguém habituado às luzes da ribalta, o baterista Simon Kirke dos Bad Company, isto, para não escrever sobre a mãe e as irmãs. Curiosamente Jemina Kirke é a única das protagonistas que não é actriz de profissão, tirou o curso de pintura na Rhode Island School of Design.

Marnie Michaels / Allison Williams Marnie é a personagem com as linhas mais elegantes, trabalha numa galeria e tem uma relação fora de prazo com o seu namorado. É a companheira de apartamento de Hannah. Allison Williams, é um achado, a actriz é a filha mais velha de Brian Williams, um dos pivots mais famosos do prime-time norte americano, é apresentador do jornal da noite da NBC. A actriz foi descoberta por Judd Apatow que encontrou um magnífico vídeo de YouTube com o sugestivo nome Mad Men Theme Song ... With a Twist, com Allison Williams em versão de gala a interpretar o tema Nature Boy e com uma mini-orquestra a tocar o tema título de Mad Men. Após visionarem o vídeo não é difícil entender o porquê da sua escolha para o papel de Marnie.

Adam Sackler é uma figura sem exemplo, um espirito livre que vive entre a poesia e o mundo real, não deseja compromissos e desfruta o momento. Jessa pergunta sobre Adam, após este chegar de uma sessão de jogging em tronco nu e levar uma garrafa de leite para a casa-de-banho “O que se passa com esse tipo? É uma espécie de grande pensador ou uma grande besta?”. Ao longo da temporada este bizarro bichocarpinteiro surpreende com o seu invulgar poder de observação ao revelar os recônditos mais íntimos da sua personalidade. O desempenho pertence Adam Driver, um actor de 28 anos que vai figurar no mapa de muitos espectadores, e a tarefa não é difícil com presenças agendadas em Inside Llewyn Davis, o próximo dos irmãos Coen e Lincoln de Steven Spielberg. Adam Driver é oriundo das artes de palco e conta com vários títulos de peso no curriculum, em 2011 substitui Zachary Quinto em Anjos na América. Nasceu no Indiana e ingressou nos marines, por altura do 11 de Setembro, mas um acidente impediu-o de ir para o Iraque, assim, decidiu-se inscrever no prestigiado conservatório The Juilliard School. metropolis nº0.5 agosto 2012

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Especial Rui Brazuna

Aaron Sorkin

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Especial

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elebrado pela qualidade da sua escrita e o sucesso de muitos dos projectos em que se envolveu, Aaron Sorkin é hoje talvez o mais famoso e influente argumentista de Hollywood, tendo atingido uma posição que poucos conseguiram, especialmente aqueles que vivem da pena, ou melhor, do processador de texto. Curiosamente, depois de ser ter formado em Teatro Musical na Universidade de Syracuse, Sorkin, nos anos 80, tentou sem grande sucesso uma carreira como actor em Nova Iorque. Como o seu talento de actor teimava em não ser reconhecido, Uma Questão de Honra Sorkin procurou uma outra abordagem começando a escrever peças teatrais, que em pouco tempo lhe granjearam algum reconhecimento. Foi no entanto A Few Good Men, um drama jurídico passado no seio das instituições militares, que o pôs no mapa de Hollywood, pois os direitos de adaptação da peça foram adquiridos pela produtora Castle Rock que viria a produzir em 1993 o enorme sucesso que foi Uma Questão de Honra (A Few Good Men), dirigido por Rob Reiner, a partir de uma adaptação de Sorkin da sua peça. O impacto do filme e especialmente dos diálogos e desempenhos de um elenco onde se contavam Tom Cruise, Uma noite com o presidente Demi Moore e Jack Nicholson, deram ao primeiro passo de Sorkin na 7ª arte, 5 nomeações para os óscares e outras tantas para os Globos de Ouro. O seu futuro afigurava-se prometedor. Agora radicado na meca do cinema Sorkin passou os anos seguintes a trabalhar em produções da Castle Rock, filmes como o thriler Má Fé/Malice (1993), de Harold Becker, e a comédia romântica Uma Noite com o Presidente/ The American President (1995), onde reencontrou Rob Reiner. Durante o resto da década de 1990, west wing Sorkin distingiu-se como script doctor (remediador de argumentos alheios) tendo trabalhado em vários projectos como por exemplo Bulworth (1998), da autoria de Warren Beatty. Em 1998 Aaron Sorkin sente o apelo da tv e estreia-se no

pequeno écran com Sports Night, uma comédia dramática de meia hora centrada no mundo de um programa de noticias de desporto, a acção gira toda em torno da criação e apresentação do programa noticioso, cruzando-se na narrativa os dramas pessoais e humanos dos vários protagonistas com questões de ordem ética, política e moral. Nesta série que durou duas épocas entre 1998 e 2000, Sorkin deixava já bem claro o seu posicionamento político de veia liberal que viria a ser uma constante ao longo de todos os seus trabalhos televisivos. O seu projecto seguinte surgiu quase de imprevisto quando o argumentista, não estando preparado, teve de apresentar uma proposta a um produtor televisivo. Inspirando-se em algum do material que não usou no argumento final de Uma Noite com o Presidente, Sorkin propôe um drama político cujo foco é os bastidores do poder político, nomeadamente o quotidiano do pessoal que trabalha na ala ocidental da Casa Branca e ajuda o presidente na sua actividade executiva. Nasce assim em 1997 The West Wing, uma meditação sólida sobre os meandros do poder e os riscos, perigos e muitas vezes sacrifícios a que ele obriga. É claro que tudo isto é combinado com intrigas múltiplas onde há lugar para o romance, a intriga, o drama, o humor, etc. A série torna-se um imenso sucesso especialmente graças à definição bastante sólida que Sorkin dá às suas personagens e também ao modo como equaciona na sua narrativa fictícia algumas das questões mais relevantes da actualidade. Vencedora de vários Emmys e outros prémios a série é de algum modo um objecto raro na produção televisiva americana, onde os argumentos têm vários autores. Durante os 4 anos que esteve à frente do projecto, Sorkin escreveu 85 dos 88 argumentos da série, imbuindo as suas personagens metropolis nº0.5 agosto 2012

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Especial e acontecimentos com a sua visão crítica e liberal, que levaram os seus detractores a chamar à serie The Left Wing. O esforço de anos consecutivos de escrita e produção não deixaram de ter um efeito em Sorkin que entretanto tinha desenvolvido uma relação excessivamente dependente da cocaína que viria a culminar em 2001 na sua prisão no aeroporto de Burbank. Em final de 2003 Sorkin abandonou The West Wing, tendo ido fazer uma cura de recuperação ao mesmo tempo que fermentava um novo projecto. Em 2006 surge Studio 60 0n Sunset Strip, uma comédia dramática passada no mundo do entretenimento televisivo, mais especialmente nos Charlie wilson’s war bastidores de um programa televisivo de comédia com bastantes pontos de contacto com o o celebrado Saturday Night Live. Uma vez mais, Sorkin aplica a sua forma de sucesso na construção de personagens e situações, criando uma teia complexa mas envolvente, com diálogos tão pertinentes quando acutilantes e divertidos. Apesar de ter um elenco talentoso, grandes meios de produção e arcos narrativos tão ambiciosos quanto relevantes, a série não conseguiu vingar e foi cancelada ao fim de apenas uma época de 22 episódios. Apesar da Tv ser há décadas o seu mundo Sorkin nunca esqueceu o teatro, tendo escrito a peça The Farnsworth Invention, sobre o criador da televisão Philo Farnsworth e o seu duelo com o presidente da RCA, que viria a ficar com os créditos da invenção. A peça quase esteve para ser adaptada ao A rede social cinema pelo velho parceiro de Sorkin, Thomas Schlamme, mas uma série de entraves impediram que o projecto viesse até agora a ser concretizado. Outro das paixões de Sorkin é o cinema e foi aí que desde 2007 ele tem vindo a fazer um retumbante regresso em força. O primeiro projecto foi o script para Charlie Wilson’s War (2007), uma realização de Mike Nichols, sobre a história do congressista Charles metropolis nº0.5 agosto 2012

Wilson que na década de 80 colaborou com a CIA na criação de um programa de ajuda aos rebeldes afegãos que lutavam contra a ocupação soviética do seu país. O filme foi um grande sucesso público e crítico para Sorkin, Nichols e o seu elenco liderado por Tom Hanks, Julia Roberts e Philip Seymour Hoffman. Mas é com A Rede Social (2010), de David Fincher, uma crónica da génese e estabelecimento da rede social Facebook como a mais popular forma de comunicação no início do século XXI, que Aaron Sorkin prova de uma vez por todas que é um dos mais talentosos argumentistas da actualidade, criando uma teia fascinante de personagens e situações que equacionam de um modo inteligente algumas das questões basilares da evolução da nossa sociedade de comunicação. O filme foi a grande sensacão de 2010 tendo arrecaddado uma fortuna nas bilheteiras e sido lionizado pela crítica que celebrou Fincher e Sorkin. O filme acumulou uma infinidade de galardões, entre eles 3 óscares de onde se destaca o atribuído a Sorkin na categoria de Melhor Argumento Adaptado. Em 2011, enquanto preparava a sua nova aventura televisiva The Newsroom, Sorkin encontrou tempo para colaborar no argumento de Moneyball (2011), um drama desportivo dirigido por Bennett Miller inspirado naexperiência de um treinador de basebol que virou às avessas as premissas do principe dos jogos americanos ao introduzir o estudo estatístico dos resultados dos jogadores na criação de uma equipa que viria a estabelecer um recorde de jogos vencidos numa época. O filme protagonizado por Brad Pitt e Jonah Hill viria a ser nomeado para 6 óscares, entre eles o de melhor actor e também o de melhor argumento adaptado para Sorkin, Steve Zailian e Stan Chervin. Em seguida o argumentista voltaria à TV com The Newsroom, a que dedicamos um espaço mais alargado aqui mesmo ao lado.


Especial

Uma Fantasia Liberal

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o longo da última década Aaron Sorkin escalpelizou com detalhe os meandros da governação política (Os Homens do Presidente), revelou os bastidores da produção de um programa de comédia televisiva (Studio 60 on Sunset Strip), escreveu os argumentos de 3 filmes com bastante sucesso, tanto aos olhos do público como da crítica, (Charlie Wilson’s War, A Rede

Social e Moneyball), o acumulado desses sucessos consecutivos fizeram dele um dos mais famosos e influentes autores de Hollywood. Mas a grande paixão de Sorkin é a elaboração de narrativas ambiciosas e complexas onde através da interacção de um extenso conjunto de personagens e situações ele pode reflectir sobre algumas das questões nucleares do quotidiano da América, sejam elas do

foro político, ético, social, etc., e isso só pode ser feito de modo mais elaborado no formato televisivo. Durante muitos anos os noticiários da noite das grandes cadeias televisivas americanas foram, ao mesmo tempo, uma janela para o mundo e o seu reflexo, os seus apresentadores eram assim como uma espécie de sacerdotes da verdade que diariamente ofereciam ao povo americano o essencial do que metropolis nº0.5 agosto 2012

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Especial acontecia no país e no resto do mundo. Actualmente, com o aparecimento de novas cadeias televisivas dedicadas exclusivamente à informação e os ciclos de notícias de 24 horas, o que se vê na tv não é tanto o essencial do que se passa no mundo mas sim uma fragmentação do tecido noticioso que é escolhido e moldado para agradar às preferências dos vários públicos que seguem as notícias. Há um velho adágio jornalístico, com raiz no jornalismo sensacionalista dos finais do século XIX, liderado por luminárias como Pulitzer ou Hearst, que diz algo como ‘If it Bleeds, it Leads’, que é como quem diz: o destaque vai para para o mais sensacional e chocante. O jornalismo tornava-se assim entretenimento de massas, que se deliciavam com os aspectos mais sórdidos de cada caso, fosse ele crime, escândalo político ou sexual. Este tipo de imprensa foi durante muitos anos desprezada pela «intelegentsia» e os ditos árbitros do bom gosto, no entanto Hearst, Pulitzer e outros

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construíram verdadeiros impérios com base neste ‘yellow journalism’. A imprensa tablóide domina hoje o cada vez mais diminuto mercado da informação escrita, e na tv americana o modelo de sucesso de um serviço noticioso não são as 3 cadeias tradicionais ou a pioneira CNN, mas sim a controversa Fox News, que provou de forma definitiva que a informação não só pode ser um entretenimento como também pode ser um instrumento fortíssimo de pressão política. E foi neste universo de pulverização dos ditames sacrossantos de um jornalismo idealizado, que Aaron Sorkin decidiu centrar a acção da sua mais recente série televisiva. Produzida pelo canal de cabo HBO The Newsroom (A Redacção) é nas mãos de Sorkin um pólo de crítica e discussão sobre tudo o que vai mal no modo como se constroem e divulgam as notícias na tv americana. No centro da intriga está o jornalista veterano Will McAvoy (Jeff Daniels),

que não só é o editor-chefe do noticiário do horário nobre do fictício canal de notícias ACN, como também é o seu apresentador. Will surge-nos como um jornalista de veia liberal, mas que num mundo cada vez mais sensacionalista e tabloidizado perdeu a vontade de lutar por uma informação pura tendo-se deixado acomodar a uma posição de mero locutor de uma agenda comercial. No início da série Will é comparado ao comediante Jay Leno, cuja comédia agrada ao mais lato leque de público sem ofender ninguém. No decurso de um debate televisivo, realizado numa universidade, sobre o processo político e informativo nos EUA, Will é pressionado de tal modo a tomar uma posição que acaba mesmo por fazê-lo de uma forma tão surpreendente quanto espectacular, deixando bem claro a sua perspectiva sobre muitos dos problemas do sistema político e o modo errado como as agências noticiosas o abordam. A controversa prestação de Will


Especial

no debate televisivo acaba por ter um efeito catalisador na sua vida pois o seu superior hierárquico Charlie Skinner (Sam Waterston), um nostálgico dos bons velhos tempos onde as notícias eram uma coisa séria, decide contratar Mackenzie McHale (Emily Mortimer) uma nova produtora executiva para o noticiário de Will, que por acaso é uma sua ex-namorada. Há naturalmente um conflito de egos mas rapidamente Will, MacKenzie e a sua equipa começam a dar a volta ao modelo noticioso da estação procurando a precisão dos factos ao sensacionalismo da emoção. E Will reencontra um segundo fôlego que lhe permite todas as noites oferecer aos americanos uma perspectiva mais informada e pessoal sobre o que se passa no país e no mundo. Sorkin é um magnífico construtor de personagens e situações que polvilha com diálogos tão precisos quanto acutilantes, porém a sua construção é uma projecção liberal que tem mais

a ver com o que ele acha que devia ser o processo informativo no século XXI do que a realidade do negócios das notícias, onde a tónica está exactamente no factor negócio. A opção de centrar a acção da série num passado muito recente é por um lado interessante pois permite a Sorkin dar-nos a sua ideia de como notícias fulcrais como o derrame do poço da BP no Golfo ou os inícios da primavera árabe poderiam ter sido dadas ao público de um modo mais sóbrio e fundamentado. Por outro lado esta opção leva a série para o campo da pura fantasia televisiva onde com um conhecimento mais sólido dos factos se pode construir uma narrativa mais precisa dos factos. A velocidade e os ciclos frenéticos das notícias não permitem hoje a fundamentação e confirmação do fluxo noticioso com o cuidado e precisão que Sorkin prega, pois antes de mais nada, um programa informativo concorre directamente com ficção escrita, reality-shows e

outros artefactos da nossa época, resumindo as notícias são um produto de entretenimento que disputam o mesmo mercado que as telenovelas, os concursos, etc. O resultado final é quase sempre uma inevitável queda na qualidade da informação. The Newsroom é assim uma projecção idealizada de como poderia ser a acção do ‘quarto estado’, um pouco à semelhança de Os Homens do Presidente, onde Sorkin imaginava um presidente dos EUA que era a imanência do ideal do sonho americano. Bem construída, excelentemente escrita, dirigida e interpretada esta série de Aaron Sorkin é um produto de tv do mais alto calibre, porém o seu universo apesar de ter raízes na contemporaneidade é tão fictício quando o mundo dos vampiros de Sangue Fresco, a soapopera de Anatomia de Grey ou a invasão extra-terrestre de Falling Skies. RB metropolis nº0.5 agosto 2012

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Christian Bale

Christian Bale

em

As Flores da Guerra As Flores da Guerra, é um drama histórico desenrolado em 1937 e baseado no infame massacre de Najing, na China. Aquando a invasão Japonesa durante a Segunda Guerra Mundial um grupo de sobreviventes procura refúgio num santuário católico da cidade para fugir às atrocidades dos soldados nipónicos. A obra foi realizada por Zhang Yimou (Herói, O Segredo dos Punhais Voadores) na adaptação o romance 13 Flowers of Nanjing de Geling Yan. O filme teve o maior orçamento da história da produção cinematográfica chinesa, e a ambição da mesma levou os produtores a contratarem Christian Bale, uma das maiores estrelas mediáticas da actualidade para assumir o papel principal.

Quando decidiu participar neste filme? Bem, uma coisa óptima neste trabalho são as pessoas que se tem a oportunidade de conhecer, os lugares que se visitam. Tinha visto um dos filmes de [Zhang] Yimou há muito tempo, talvez já há 20 anos, e sabia quem era e simplesmente achei que era fascinante para mim ir à China. E não ir à China para um filme americano, mas para um filme chinês. E achei que seria uma verdadeira experiência e que me iria divertir imenso a fazer isso com um realizador magistral. Parecia uma aventura que não queria perder. Como é diferente filmar na China? Não existe nenhuma diferença nos aspectos essenciais do que estou lá para fazer. Sou uma pessoa, estou a contar uma história. Obviamente que existiu sempre a necessidade constante da tradução. Existiam duas pessoas na rodagem que falavam inglês, mas era tudo. Mas não me importei nada com isso, achei muito interessante não saber o que se estava a passar. Sabia o suficiente para fazer metropolis nº0.5 agosto 2012

o meu trabalho. O que também gostei muito foi que o Yimou tem um grande sentido de humor e por várias vezes ter sido possível fazermo-nos rir um ao outro sem saber exactamente o que o outro tinha dito. Simplesmente existia uma espécie de sensibilidade de humor que partilhámos e de que gostei. E é realmente interessante ver o quanto pode ser transmitido, naturalmente com um tradutor, mas com a linguagem corporal. Apenas com uma espécie de entendimento, com gestos era capaz de compreender o que ele queria e precisava. A dimensão dos cenários era impressionante. Seria normal num filme uma catedral ser apenas uma fachada e depois provavelmente irmos para um estúdio para os interiores. Por lá eles construíram uma catedral inteira do zero. O que quero dizer é que aquilo vai aguentar mais de 100 anos. Partes de fibra de vidro no exterior, quem sabe quanto tempo irão aguentar. Mas apenas a preparação incrível que envolve, eles construíram estúdios apenas para este filme. Construíram um hotel só para a equipa. Não foi terminado a tempo, pelo que acabámos por ficar

noutro local. E outro aspecto que realmente me surpreendeu: semanas de sete dias. Não existem dias de folga. Eu tinha a opção [contratual] de ter dias de folga porque simplesmente fui para lá a pensar que era o que eles tinham. Quando a minha família estava lá tirei vantagem disso e apenas fiz semanas de cinco dias, mas quando isso não acontecia acabei por dizer: “O que vou fazer, ficar sentado?” Não estávamos propriamente no meio de uma cidade, por isso fui e fiz sete dias com toda a gente. No primeiro dia, uma coisa muito engraçada que aconteceu foi que, quando cheguei à rodagem, toda a gente estava silenciosa. Absolutamente em silêncio e é muito estranho quando se tem tanta gente ao pé e ninguém diz nada. E estavam todos a olhar para mim e eu estava a pensar que aquilo era um bocado estranho. Fez com que quisesse sussurrar porque achei que tinha acontecido alguma coisa ou que talvez fosse rude falar alto. Fizemos dois takes e quando ainda estava a portar-me um pouco assim fui ter com o Yimou e perguntei: “Existe alguma razão ou aconteceu alguma coisa, por que estão todos


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Christian Bale tão quietos?” Respondeu ele: “Bem, pensámos que era assim na América, que nunca ninguém falava.” E eu retorqui: “Não, não, toda a gente está sempre a falar.” “Ah, ok.” “Ah, então vocês estavam a fazer isto por mim.” “Sim, dissemos a todos que quando o Christian chegasse, ninguém devia falar.” E eu: “Por favor! Será que todos podem simplesmente ignorar-me e começar a conversar e gritar e a fazer o que quer que precisem”. Disse que aquilo estava a assustar-me, era muito bizarro. E mesmo assim mantiveram aquilo até ao fim, nunca gritaram tanto como normalmente fazem numa rodagem e logo que eu ia embora começavam a gritar e a berrar uns com os outros. De certa forma encorajei-os a fazer isso o mais possível. Simplesmente, eles tinham esta ideia errada de que as rodagens dos filmes americanos são silenciosas. Foi bom ultrapassar isso porque teria sido muito desconcertante para o filme inteiro. Uma coisa que realmente gostei foram os actores, são incrivelmente bons e Yimou trabalha tão bem com eles. E muitos são desconhecidos. Existem muitos miúdos e eles são realmente muito bons. Adoro isso, quando se faz um filme com desconhecidos pois apenas se está a olhar para a personagem, não se sabe nada de todo sobre o actor. Apreciei a sua companhia. Tive realmente uma estadia maravilhosa. O que nos pode dizer sobre o seu personagem? Bem, sabe que trabalhámos muito nele, eu e Yimou. Sentámo-nos e conversámos sobre tudo. Yimou é um realizador muito seguro, nunca entra em pânico. Nunca o vi entrar em pânico com as cenas que vinham a seguir. Sentávamo-nos na noite anterior e descobríamos as coisas. Foi sempre assim, tivemos uma excelente relação e entrosamento. E este indivíduo, suponho que se possa chamar uma ficção história, baseia-se em algumas pessoas e utilizou-se muita liberdade criativa. Mas ele é alguém de quem, de início, metropolis nº0.5 agosto 2012


Christian Bale não conhecemos verdadeiramente o passado. Vamos aprendendo. Tornou-se uma espécie de viajante, acabou por ir parar a Xangai e gosta de se divertir. Tem formação como agente funerário e descobre que está a obter bons rendimentos, mas acaba por deixar Xangai e acaba em Nanking. Tem um trabalho para que foi contratado, mas pelo caminho as bombas estragam tudo e ele decide ficar durante algum tempo na igreja porque não têm dinheiro para lhe pagar. Ele tem a certeza que sendo uma igreja católica, têm dinheiro em algum lado e ele vai ficar por ali até ser pago. Não existe qualquer tipo de altruísmo, mas depois, após uma série de acontecimentos e circunstâncias, os soldados japoneses julgam que ele é o padre. Na sua cabeça ele só quer sair e voltar para o refúgio – existia um refúgio internacional que era razoavelmente seguro –, mas acaba por sentir algo estranho para ele, a responsabilidade de se importar verdadeiramente pelo próximo. E compreender que, se não o fizer, ninguém o fará e as coisas mais chocantes irão acontecer a estas crianças, às raparigas que estão no convento. Assim, vê-se relutantemente obrigado a ficar para as ajudar e compreendemos que, para ele, obviamente é um momento de mudança de vida.

Ir para a China foi um pouco como voltar a casa para si, não foi? Bem, é um bocado exagerado dizer isso. Estive lá antes, em 1987, em Xangai [para a rodagem de O Império do Sol]. Ainda tenho memórias muito vivas e obviamente que, decorrendo As Flores da Guerra numa época semelhante, não pude evitar deixar de achar isso engraçado. Mas foi uma experiência muito diferente porque obviamente foi num filme americano na China e agora estou num filme chinês. Qual acha ter sido a coisa

mais memorável rodagem?

desta

Diria que foram os momentos em que, independentemente da língua, simplesmente comunicávamos tão bem, apesar de não falarmos as línguas uns dos outros. Sempre achei surpreendente ver como era fácil e como tantas vezes eram necessárias poucas palavras para entender alguém ou gostar deles e conhecê-los. É a sua presença e o humor que é partilhado independentemente da linguagem. E com tantas pessoas, com Yimou e também os miúdos. Digo-lhe que o que achei muito engraçado com eles é que são actores fantásticos, realmente bons actores e houve umas cenas em que tentava fazer com que eles se desmanchassem – e aconteceu –, mas nenhum deles quer continuar a fazêlo. Ninguém quer e isso fez recordarme de mim porque quando tinha mais ou menos a mesma idade, talvez 13 anos, era também essa a minha ideia. Pensava que estava despachado com isto, não ia fazê-lo. Portanto, disselhes: “Bem, não querem mas olhem para mim, ainda estou a fazê-lo, pelo que vocês podem encontrar-se daqui a 20 anos e ainda estar a fazer. Existe algo de viciante nisto.” metropolis nº0.5 agosto 2012

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A Dois Tempos

Uma conversa nunca

Vergonha (2011) Flávio Gonçalves

S

ão raros os autores que conseguem estabelecer, com apenas duas longas-metragens no seu percurso, um culto e fascínio em seu redor, quais estrelas da música pop. Entre esses poucos estarão seguramente os realizadores ingleses Joe Wright (referimo-nos ao tempo em que apresentou, em 2007, Expiação, que seguia Orgulho e Preconceito) e, agora, Steve McQueen. O caso deste último é peculiar: antes do cinema, afirmava-se nas galerias de arte como um nome a ser fixado. Em 1993, bem antes de vencer a

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Câmara de Ouro no Festival de Cannes (com Fome, em 2008), Steve McQueen apresentava a sua primeiríssima obra, a curta-metragem Bear que lhe valeria o Prémio Turner. É especialmente importante recordarmos a sua importância: ao lidar com a ambiguidade entre a atração e a violência sexuais, McQueen demonstrou-nos com um trabalho sobre o corpo como a nossa natureza contradiz a nossa razão. Não é, afinal, isso que está em causa nos dois planos-sequência que agora recordamos? O segundo, da notável

longa-metragem Vergonha (de 2011, recentemente editada em DVD), parece ser uma direta auto-citação ao filme que o precede, Fome. Por uma razão muito simples: discutem-se ideias mas a animalidade está lá – escondida, sim, mas está. Steve McQueen realiza uma opção que denota a modernidade no cinema: escolhe não decompor as cenas e filmálas num plano-sequência fixo em que o tempo (real e verdadeiro) assume uma função reveladora aos olhos do espectador (que, por seu lado, toma uma postura ativa). E o que nos revela


A Dois Tempos

a é só uma conversa

Fome (2008)

este tempo? Gestos e pormenores que nos passariam facilmente de lado caso a montagem (transparente ou não, se servisse ou não do dispositivo campo / contracampo) quisesse destacar um ou outro elemento da conversa ou espaço. Em Fome, a personagem incarnada por Michael Fassbender demonstra os motivos da sua revolta ao padre, que tenta dissuadi-lo dos seus objetivos e, em Vergonha, o mesmo ator explica à mulher (Nicole Beharie) com quem marcou um encontro (um date, para ser específico) que o casamento é

coisa artificial e que não lhe interessa. No entanto, a carne, aqui, não está na palavra (como, por exemplo, com Cosmopolis, de David Cronenberg), apesar de ser o elemento que ressalte em evidência. Está no silêncio do corpo, que fala por ele mesmo – o corpo magríssimo de Michael Fassbender em Fome é, por si só, a imagem da força de todos os seus argumentos, o gestus de contenção de Nicole Beharie em Vergonha parece levantar o incómodo que é as suas convenções estarem a ser abaladas pela personagem que está diante de si.

Deste embate, cujo vigor é possibilitado pela fé no enquadramento de McQueen, flutuará à superfície a verdade assombrada: as duas conversas parecem-nos autênticos teatros que escondem o facto de que, em Fome, nenhum dos dois quer estar ao lado do outro e, em Vergonha, o jantar não passa apenas de um preliminar e de um espaço de engate. Em consequência, acaba também por sobrevir o discurso do próprio autor: não somos mais do que corpos que participam, com a razão, em jogos patéticos e falsos. metropolis nº0.5 agosto 2012

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bilheteiras A Curva Descendente Foram divulgados os números oficiais para o primeiro semestre de 2012 e eles confirmaram que a crise também chegou em força às salas de cinema portuguesas. Janeiro trepidante No início de Janeiro, o cenário não parecia tão negro. Partilhavam-se receios em conversas informais, é verdade, mas os dias ainda eram dominados pelos sucessos de Missão Impossível: Operação Fantasma, Alvin e os Esquilos 3 e O Gato das Botas. Os sinais surgiram com o primeiro grande lançamento do ano, Sherlock Holmes: Jogo das Sombras, que levou às salas quase 114 mil pessoas, menos 37 mil do que Sucessos

BILHETEIRAS

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Resistentes

o primeiro filme conseguira pelo Natal dois anos antes. Qualquer argumento que se pudesse fazer à volta das diferentes datas de estreia foi perdendo razão de ser com o aumento da diferença entre os filmes: ao fim de quatro semanas já ia nos 86 mil e no final ficou em menos 120 mil bilhetes. Claramente o mês ressentiu-se da ausência de um título como O Turista, que apesar de tão vilipendiado, um ano antes conseguira vender uns inacreditáveis 160 mil bilhetes só na primeira semana. O Primeiro Trimestre O primeiro trimestre confirmou os piores prognósticos: apesar de todas as promoções, a crise também chegava às salas de cinema.

Surpresas

desilusões

desastres

Os Descendentes

Guerra é Guerra

Le Havre

Moneyball – Jogada de Risco

A Hora Mais Negra

Millennium 1

Detenção de Risco

Um Homem no Limite

J. Edgar

O Grande Milagre

A Dama de Ferro

Vergonha

cavalo de guerra

Star Wars –A Ameaça Fantasma

A Invenção de Hugo

Jack e Jill

Os Marretas

Lorax

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Amor e Outras Cenas

John Carter


bilheteiras A Média dos espectadores Vale a pena referir em que se baseiam estas conclusões. Apesar de envolver números, a análise das bilheteiras não é uma ciência exacta e mais do que o total de bilhetes vendidos e a respectiva receita (bruta), uma das variáveis mais importantes para perceber o sucesso ou o fracasso de um filme vai ter é a média de espectadores que consegue fazer por ecrã, principalmente na semana de estreia.

Compara vo Branca de Neve 204000 A Branca de Neve e o Caçador

1016,1 76 75 69000

Espelho Meu, Espelho Meu! Há Alguém Mais Gira do Que Eu?

391,8 27 70

Receita Acumulada

média 1ª semana

Milhares de Espectadores na 1ª semana

Salas em Estreia

Médias Vs. Inves mentos 935 31

935 58

Média de Espectadores Nº de Salas na Estreia

Amigos Improváveis Sombras na Escuridão

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bilheteiras O Segundo Trimestre A situação melhorou em Abril, muito pela grande surpresa do sucesso de American Pie: O Reencontro (o mais visto de 2012 até à chegada de A Idade do Gelo 4: Deriva Continental), mas a partir daí o agravamento das condições económicas manifestou-se cruelmente: O Ditador, Tabu, Os Jogos da Fome, Sombras da Escuridão, Os Vingadores, A Branca de Neve e o Caçador e Prometheus ainda resistiram, mesmo sem chegar aos valores de outros anos, e Amigos Improváveis, Titanic 3D e Florbela surpreenderam, mas a lista de perdas foi enorme: para além Espelho Meu, Espelho Meu! e Diário Secreto de um Caçador de Vampiros, estão incluídos Battleship, Homens de Negro 3, Fúria de Titãs (menos de metade do Confronto… há dois anos), Espera Aí… Que Já Casamos, À Segunda Não me Escapas, À Fria Luz do Dia, Lockout – Máxima Segurança, os portugueses Assim Assim e A Teia de Gelo, bem como muitos filmes cujo lucro é quase impossível dada a desproporção entre o número de ecrãs em que são lançados e o correspondente retorno económico.

Curiosidades Cosmopolis E não se pode esquecer que, com 30 mil espectadores, Cosmopolis não conseguiu traduzir em números todo o mediatismo que rodeou a sua estreia. Homens de Negro 3 Uma estreia de 28 mil bilhetes na primeira semana seria muito simpática se o título não se chamasse Homens de Negro 3 e não estreasse em 90 ecrãs. Cavalo de Guerra Nem mesmo com a desculpa de ter um animal como protagonista, é o primeiro filme de Spielberg em mais de 20 anos a não chegar aos 100 mil espectadores). metropolis nº0.5 agosto 2012

A Semana 21 a 27 de Junho - Ninguém quer saber da Demi Moore A semana de 21 a 27 de Junho foi a pior de todas: venderam-se pouco mais de 130 mil bilhetes. Desses, cerca de 10 mil foram para a estreia de Diário Secreto de um Caçador de Vampiros em 40 ecrãs. Em metade desse número, Streetdance em 3D não chegou aos 5 mil. E com menos de mil bilhetes vendidos, certamente haveria muito espaço para fazer o que se entendesse nas sete salas por onde passou Uma Bela Orgia à Moda Antiga. E a combinação de Demi Moore em LOL (considerado um dos piores de 2012) e Uma Família com Etiqueta não passou de uns paupérrimos 9 mil espectadores em escandalosos 53 ecrãs.

O que estes valores também revelam é que os portugueses continuam a ir às comédias (preferencialmente românticas), animações, grandes extravagâncias de acção e dramas dos Oscars, mas vão menos e escolhem mais. Os títulos que antes facilmente chegariam aos 90, 100 mil espectadores por via da sua enorme distribuição, ficarão pelos 70, 80 mil. E os lançados em 30 ecrãs, que são a maioria, também terão de se contentar com menos. Para todos os outros, com menos cópias, visibilidade mediática e perspectivas comerciais, a situação será ainda mais complicada. É necessário acrescentar que em Maio ocorreu o Rock in Rio em Lisboa. E em Junho as salas nacionais tiveram a concorrência do Europeu de Futebol, um evento que provocou quebras nas salas de toda a Europa. O que estes valores também revelam é que os portugueses continuam a ir às comédias (preferencialmente românticas), animações, grandes extravagâncias de acção e dramas dos Oscars, mas vão menos e escolhem mais. Os títulos que antes facilmente chegariam aos 90, 100 mil espectadores por via da sua enorme distribuição, ficarão pelos 70, 80 mil. E os lançados em 30 ecrãs, que são a maioria, também terão de se contentar com menos. Para todos os outros, com menos cópias, visibilidade mediática e perspectivas comerciais, a situação será ainda mais complicada. É necessário acrescentar que em Maio ocorreu o Rock in Rio em Lisboa. E em Junho as salas nacionais tiveram a concorrência do Europeu de Futebol, um evento que provocou quebras nas salas de toda a Europa.


bilheteiras

O Futuro Imediato A Idade do Gelo Tradicionalmente, Julho e Agosto são os meses mais fortes nas salas. Pelos 89 mil espectadores na estreia, já se percebeu que O Fantástico Homem-Aranha terá de se contentar com um bom valor de relançamento, mas, como se esperava, ficará muito longe dos mais de 400 mil conseguidos pela saga assinada por Sam Raimi. Seguem-se Madagáscar 3 e O Cavaleiro das Trevas Renasce: os filmes protagonizados pelos animais do Jardim Zoológico venderam em conjunto mais de um milhão e meio de bilhetes, enquanto Christopher Nolan tem no currículo não só os 335 mil espectadores d´ O Cavaleiro das Trevas, mas também os 408 mil de A Origem. Se estes filmes não convencerem finalmente muitos e muitos portugueses a abrir as bolsas, o ano está perdido.

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Bruno dumont

Bruno Dumont

Cineasta da civilização da barbárie Flávio Gonçalves “Não é preciso sermos civilizados quando estamos a ver um filme, apenas quando saímos da sala de cinema.” Eis como Bruno Dumont resumiu, numa entrevista e ao mesmo tempo, o seu cinema e a experiência que é ver o seu cinema. As razões são simples: ver um filme deste realizador (nascido em 1958 no Norte de França) é entrar numa zona de perigo, sem dúvida desconfortável, e da qual podemos sair arrependidos e com respostas malditas. Também podemos sair encantados: nos seus últimos filmes, como Hadewijch (2009) ou o mais recente Fora, Satanás (que chegou no mês passado a Portugal), Dumont tem aproximado o seu discurso pessimista à possibilidade de redenção quando há um contacto com o sagrado. Contacto que, no entanto, deve proceder um rompimento radical (com as convenções sociais e culturais, com as instituições políticas e religiosas, etc.) Não nos surpreende por isso que o seu nome esteja frequentemente ligado a um movimento apontado pelo crítico canadiano do Artforum James Quandt: o Novo Cinema Francês Extremista (e do qual fariam também parte os realizadores Gaspar Noé ou Catherine Breillat). É uma designação que o próprio Bruno Dumont considera desacertada, já que se encontra metropolis nº0.5 agosto 2012


Bruno dumont “no meio” do que fez “e não na extremidade de qualquer coisa” (como nos disse em entrevista para o Diário de Notícias aquando da estreia de Hadewijch). É, contudo, evidentemente cruel a premissa com que o realizador parte para concretizar a sua ideia sobre a matéria de que somos feitos: a violência é inevitável ao nosso comportamento (e os ditames da religião, sobre a qual Dumont não tem qualquer relação, é apenas uma das consequências disso mesmo). Mas não somos reduzidos a esta evidência. Dumont, que estudou e foi professor de Filosofia até os seus 38 anos (idade com que estreou o seu primeiro filme, A Vida de Jesus, Câmara de Ouro em Cannes em 1997), recusa-se a abandonar as suas personagens nos seus atos de crueldade. Mais recentemente, tem vindo a apontar como caminho uma nova demanda espiritual que passa por sinceras provas de amor. E por “sinceras” não queremos dizer moralmente aceitáveis: basta vermos o seu último Fora, Satanás para reconhecermos na proteção daquele amor um desafio aos constrangimentos sociais de hoje. Da Filosofia para o cinema (“como não conseguia passar pela porta, fui pela janela”, justifica, com bom humor, o cineasta), Dumont tem concretizado as suas ideias com coerência, apoiandose numa base realista conhecida do cinema francês (não há música, o som é diegético e o minimalismo da miseen-scène pisca o olho a Bresson). Apesar do caminho cada vez mais radical que tem traçado, o realizador confessa, provavelmente a brincar, que se renderá ao cinema mainstream: “não sou indiferente ao público. Vou acabar por ser um realizador para o grande público. Terei 70 anos nessa altura, mas chegarei lá.” Uma nota curiosa: o seu próximo filme, a ser lançado para o próximo ano e que se debruçará sobre a escultora Camille Claudel, terá como protagonista alguém que conhecemos bem do star system francês: Juliette Binoche.

Flandres (2006)

Hadewijch (2009)

Fora, Satanás (2011) metropolis nº0.5 agosto 2012

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D.w. Griffith

David Wark Griff

Rui Brazuna

A

uguste e Louis Lumiére criaram no final do século XIX a invenção que iria definir a memória do século seguinte, porém foi Thomas Edison que tirou o máximo partido da invenção do cinematógrafo lançando as fundações de toda uma indústria. Os pioneiros do cinema são muitos, há-os em praticamente todos os países, pudera há um que pelo seu talento visionário ocupa um lugar ímpar nas fundações da 7ª arte, o seu nome é David Wark Griffith. Filho de um coronel do exército confederado, Griffith foi criado com os valores do sul rural e esclavagista que viriam a ser derrotados no campo de batalha em 1865, porém as memórias e histórias de um mundo de elegância e cavalheirismo viriam a moldar a sua carreira futura. Griffith tentou vários trabalhos sem grande sucesso, entre eles o de dramaturgo e apesar de não ter particular êxito metropolis nº0.5 agosto 2012

O pai do cinem ameri


D.w. Griffith

fith

ma icano com as suas peças, foi através do teatro que tomou contacto com uma curiosidade emergente a que chamavam cinema. Em 1907, Griffith está em Nova Iorque para convencer o pioneiro Edwin S. Porter a aceitar um dos seus guiões. Porter rejeita a proposta mas gostando do aspecto e postura de Griffith convence-o a tornar-se actor no seu filme Rescued from the Eagle’s Nest. Seduzido por esta nova forma de expressão que crê ter um potencial imenso, em breve Griffith envolve-se de corpo e alma no negócio dos filmes. Em 1908 dão-lhe a oportunidade de dirigir o seu primeiro filme, The Adventures of Dollie. Nos anos que se seguem Griffith filmaria incessantemente produzindo filmes atrás de filmes e apurando a sua técnica narrativa. Esta experiência permitiu-lhe fazer um sem número de combinações narrativas, criando assim uma gramática para o cinema e elevando

A Corner in Wheat (1909)

Intolerance (1916)

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D.w. Griffith

O Nascimento de uma Nação (1915)

esta nova invenção a uma dimensão artística. Em 1914, muito influenciado pelo cinema que se fazia em Itália, Griffith assina Judith of Bethulia, uma das primeiras longas-metragens produzidas em solo americano. Porém o estúdio para que trabalha, a Biograph, não tem confiança nos filmes com muitas bobines, mas o realizador vê um potencial dramático imenso em filmes com maior metragem. Assim, em 1915, forma uma companhia de produção com o seu grupo habitual de colaboradores e actores e decide adaptar ao écran uma história sobre o velho sul, da autoria de Thomas Dixon, Jr., chamada The Clansman. O filme, O Nascimento de uma Nação, é hoje reconhecido metropolis nº0.5 agosto 2012

como o primeiro blockbuster da história do cinema tendo gerado uma verdadeira fortuna na época da sua estreia, apesar da enorme controvérsia da visão que Griffith dá do sul. O filme ainda hoje é palco de grande discussão pois equaciona a questão da escravatura de um modo completamente inadmissível mesmo para as mentalidades de 1915. No centro do filme estão duas famílias apanhadas pelo turbilhão da guerra civil e pelo traumático período de reconstrução que se seguiu. Os Stonemans são pela União enquanto os Cameron permanecem fiéis ao ideário do sul, a guerra acabará por dilacerá-los. Griffith, especialmente nas famosas sequências de batalha, cria um estilo e toda uma imagética que será recuperada por gerações consecutivas de cineastas, porém

o brilhantismo das suas imagens é de algum modo truncado pela ideologia subjacente e especialmente pelo tratamento que dá aos negros, que são retratados quase como trogloditas homicidas com desígnios pouco puros face às virginais mulheres brancas. Levando ainda mais longe a sua nostalgia de um mundo perdido, Griffith faz dos sinistros membros do Ku Klux Klan, os heróis do filme, os defensores e vingadores da honra perdida do sul. O dinheiro que ganhou com O Nascimento de uma Nação, o realizador investiu no ano seguinte na sua obra mais ambiciosa Intolerância, uma obra de grande fôlego e monumentalidade, com quatro narrativas paralelas passadas em épocas diferentes onde explora a intolerância dos homens. O filme


D.w. Griffith esteve longe de igualar o sucesso anterior mas Griffith continuou a apurar a sua técnica narrativa em longas-metragens como Broken Blossoms, a sua obra-prima de 1919, uma história trágica da relação de uma jovem pobre e de um chinês, um filme que transcende as décadas continuando tão belo e comovente quanto há 90 anos. Também em 1919, Griffith, Charlie Chaplin, e o casal real da Hollywood dos primórdios, Douglas Fairbanks e Mary Pickford formam a primeira companhia de produção gerida pelo talento criador: a United Artists. Além do clássico O Nascimento de uma Nação, esta colecção reúne ainda mais dois filmes que são peças importantes do período pós-primeira guerra mundial do autor, são eles Way Down East (1920), um melodrama muito popular na época com uma rapariga pobre enganada por um proprietário rico de quem tem um filho, e que vive um verdadeiro pesadelo até á sua eventual redenção. O filme ainda hoje é célebre pela sequência filmada no gelo, em pleno inverno, onde os actores Lillian Gish e Richard Barthelmess por um triz não perderam a vida. Naquela época os duplos ainda eram algo pouco usado e Griffith queria um realismo que só mesmo os actores lhe podiam dar. Finalmente temos Orphans of the Storm (1921), um drama histórico, passado na França do século XVIII, a derradeira interpretação da musa Lilian Gish que contracenou com a sua irmã Dorothy. O filme foi o derradeiro grande sucesso de Griffith que ainda trabalhou até aos inícios do cinema sonoro mas sem nunca reencontrar o sucesso de antes. O primeiro grande cineasta americano viria a morrer em 1948 num quase esquecimento, porém o seu legado permanece bem vivo através das imagens dos seus filmes que são um espelho vivo da memória dos inícios do século XX.

Orphans of the Storm (1921)

Way Down East (1920)

O Nascimento de Uma Nação (1915)

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música: destaque do mês Nas ruas de

Nova Iorque Reedição da banda sonora, que celebra os 50 anos da estreia de ‘West Side Story’ revela um episódio de referência entre o teatro musical e o cinema. Com a música de Leonard Bernstein como protagonista. Nuno Galopim *

A

s relações entre a tradição do teatro musical da Broadway e o cinema são tão antigas quanto a capacidade do grande ecrã em reproduzir um elemento central das produções dos palcos da mais célebre rua de Manhattan: a música. E Leonard Bernstein, (1918 - 1990) que estreara o seu primeiro musical – On The Town – a 28 de dezembro de 1944, não teve de esperar senão cinco anos para ver a sua música transportada para essa outra dimensão, num processo de adaptação que, se por um lado deixou de fora elementos musicalmente importantes, por outro teve nas presenças no elenco de Frank Sinatra ou Gene Kelley importantes contribuições para o sucesso de bilheteira em que o filme (estreado em 1949) se transformaria pouco depois. Bernstein regressaria à Broadway em 1953 com Wonderful Town e aos ecrãs em 1954 com a banda sonora de Há Lodo no Cais, de Elia Kazan. É contudo com a sua produção teatral seguinte que assinaria não apenas o mais importante episódio da sua carreira como autor de música para o teatro (e também o seu mais célebre trabalho enquanto compositor) como metropolis nº0.5 agosto 2012

o instante em que a história do cinema registaria o seu nome. Com o título West Side Story, chegou pela primeira vez aos palcos a 26 de setembro de 1957... A ideia que servia de base a este musical era, como a sugeriu Bernstein, a de repensar em contexto atual (à época) e local (Nova Iorque), a essência da narrativa do clássico Romeu e Julieta de Shakespeare. A célebre quezília entre duas grandes famílias é assim projetada num conflito de bairro entre duas populações distintas: por um lado americanos caucasianos, por outro os que há menos tempo chegaram de Porto Rico, o jogo de ódios materializando-se no corpo de dois gangues cujo dia-a-dia parece não ter sentido senão na espera de um novo eventual episódio de confronto. O “Romeu” de West Side Story é Tony, um descendente de polacos que trabalha num pequeno bar e agora já não habita o seu gangue a tempo inteiro. A “Juilieta” é Maria, porto-riquenha e irmã do líder dos Sharks, o gangue com história de confrontos com os Jets, os seus rivais. Conhecem-se um dia num baile... E contra a vontade de todos, o que sentem um pelo outro

acaba por cantar mais alto. Mas mais que a ideia de recontextualização noutro tempo e noutro lugar de uma história já tantas vezes contada e de uma soberba coreografia assinada por Jerome Robbins, era a música que dava a West Side Story uma alma única e fixava uma identidade. Entre uma série de canções (com letras que seriam todas elas assinadas por Stephen Sondheim) e peças instrumentais, a música de Bernstein revelava por um lado a herança da tradição da Broadway e a formação clássica ocidental do compositor, vincando as coordenadas de tempo, espaço e até mesmo ambiente cultural em flirts aos universos do jazz e da música latino-americana. O sucesso imediato de canções como Maria, Tonight ou Somewhere ou America sugeria desde logo o estatuto de standards em que o tempo as transformaria. Ao mesmo tempo, três das sequências instrumentais que serviam de base a algumas das mais célebres coreografias acabavam reunidas numa suite orquestral que – muitas vezes conhecida como West Side Story Symphonic Dances – que


música: destaque do mês ainda hoje habitam muitos programas de concertos de grandes orquestras (o Mambo, por exemplo, era um “encore” inevitável em concertos da Orquestra Sinfónica Juvenil Simón Bolívar em finais da década dos zeros, quando o nome do maestro Gustavo Dudamel – que gravou a peça no álbum Fiesta! – começava a encher salas pelo mundo fora). O estatuto conquistado pela música de Bernstein para West Side Story deve na verdade a sua dimensão à carreira de sucesso global da versão cinematográfica (de 1961), realizada por Robert Wise e pelo próprio coreógrafo e encenador Jerome Robbins. O próprio Bernstein contribuiria para a mitificação desta sua obra quando, em 1984, grava em disco uma versão que junta em estúdio as vozes de Kiri Te Kanawa, José Carreras e Tatiana Troyanos. Se o mundo ficara surpreendido com o milhão de unidades que a gravação com o cast original (editada pela Columbia Records) gerou em finais dos anos 50, a verdade é que a vida de West Side Story estava então ainda apenas a despontar. E agora, alguns meses depois de um lançamento em Blu-Ray (com cópia digitalmente restaurada e acompanhada por uma multidão de extras), este mês acolhe nova edição comemorativa da edição da banda sonora do filme, agora com o som remasterizado. O tempo tornou esta música um clássico do século XX. Não apenas pelo sucesso que arrebatou. Nem pelas múltiplas heranças que projetou que se escutam da Missa do próprio Bernstein (1970) ou de assimilações por um John Adams ou um Michael Daugherty à leitura de Somewhere pelos Pet Shop Boys – mas pela forma como soube ser retrato de um tempo e de um lugar. Porque desde então, a Nova Iorque de 50, onde se cruzavam culturas e vivências, conhece aqui um paradigma que o palco criou e o cinema eternizou.

‘West Side Story (Remastered For the 50th Anniversary) CD, Sony Music (2012)

Outras edições:

‘West Side Story – Original 1957 Cast Recording’ CD, Naxos Musicals (2009)CD, Sony Music (2012)

‘West Side Story – Special Edition’ Dir. Leonard Bernstein Com Kiri Te Kanawa, José Carreras, Tatiana Troyanos, Kurt Ollman, Marilyn Horne CD + DVD Deutsche Grammophon (2007) CD, Sony Music (2012)

* jornalista do DN

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Crítica

CRÍTICAS 69 Filmes | 80 DVD / BD | 94 TV | 100 Música & Livros

O Cavaleiro das Trevas Renasce

Christopher Nolan estabelece um novo paradigma para o filme de superheróis terminando em crescendo e de modo espectacular a sua trilogia do paladino de Gotham City, com O cavaleiro das Trevas Renasce. 69

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Crítica

O Cavaleiro das Trevas Renasce Rui Brazuna

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assado 8 anos depois dos acontecimentos de O Cavaleiro das Trevas, o capítulo final da trilogia de Batman segundo Christopher Nolan, revela-nos uma Gotham City estranhamente calma e pacífica onde os índices de criminalidade atingiram os níveis mais baixos de sempre graças ao legado do Morcego que foi desenvolvido pelo comissário Gordon e pelas forças policiais. É a calma antes da tormenta pois uma força irresistível e imparável prepara-se para testar as fundações da cidade e dos seus habitantes, obrigando mesmo o recluso Bruce Wayne, desaparecido há 8 anos, a voltar a envergar o manto do morcego. A ameaça à cidade tem um nome: Bane, um colosso mascarado que recrutou os mais fiéis e implacáveis membros do sub-mundo para pôr em práctica um plano ardiloso que vai virar a cidade às avessas e pôr a população à beira da extinção. O Morcego regressa mas dá-se mal pois Bane faz dele gatosapato e precipita-o para uma prisão remota de onde a fuga é impossível. Vai ser preciso ao protector de Gotham uma força sobre-humana, o apoio de alguns velhos amigos e uma parceria

improvável com uma ladra de jóias, com um fraquinho por máscaras de gato, para salvar a sua cidade e também a si próprio. No segundo capítulo da sua saga, O Cavaleiro das Trevas, Christopher Nolan elevou o filme de super-heróis a um novo patamar de sofisticação, drama e espectacularidade, mas para o filme final o seu objectivo parece ter sido outro. Na verdade neste filme Batman é quase um figurante, a sua presença é palpável mas é Bruce Wayne e os seus problemas financeiros e existenciais que tomam o protagonismo. Nolan cria um filme bastante sombrio e algo aterrador onde reflecte muitas das perturbações do mundo actual filtrando-as na sua narrativa que combina a mais alta tecnologia com o espectro da destruição maciça de uma cidade, a anarquia e a emergência de um contra-poder. Bane e as suas forças são num primeiro momento os arautos de uma transformação político-social que traz consigo o fim da corrupção e a desigualdade entre ricos e pobres. De algum modo Bane tem a aparência de um revolucionário

que vem mudar o status quo, apesar dos seus desígnios serem bem mais complexos e sinistros do que aparentam. Mas depois do abalo das fundações o herói renasce e a legalidade (?) é reestabelecida. Visualmente superlativo, o filme leva algum tempo a ganhar ímpeto mas acelera para um clímax dificilmente superado por outros heróis, de collants ou não. Mas, curiosamente, este não é um filme muito divertido – Nolan esqueceu que Batman é originalmente um comic-book, a atmosfera é pesada e algo deprimente onde a única nota contrastante é uma irreverente e ambígua Catwoman, sem dúvida a mais conseguida personagem do filme. Um blockbuster de grande fôlego e ambição que termina de forma grandiosa a mais bem conseguida saga de super-heróis no cinema.

The Dark Knight Rises Realização: Christopher Nolan. Actores: Christian Bale, Tom Hardy, Anne Hathaway, Marion Cotillard, Morgan Freeman. 164 MIN. 2012 EUA/Grã-Bretanha

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Crítica

360 Basílio Martins

A

pós ter conquistado o público e a crítica com a sua Cidade de Deus (2002) e o excelente O Fiel Jardineiro (2005), o realizador brasileiro Fernando Meirelles deu um passo em falso no Ensaio Sobre a Cegueira (2008). Esse filme, apesar de reunir um elenco estelar (Julianne Moore, Mark Ruffalo, Gael García Bernal, Danny Glover, Alice Braga e Sandra Oh) e ser baseado no conhecido trabalho de Saramago, foi recebido com alguma indiferença. 360, a sua nova longa-metragem, arrisca um futuro ainda mais encoberto. Juntando novamente um conjunto impressionante de actores – Rachel Weisz (que ganhou o Óscar de Melhor Actriz Secundária n’O Fiel Jardineiro), Anthony Hopkins, Jude Law, Ben Foster, Jamel Debbouze e a bela brasileira Maria Flor – 360 é descrito como um ‘drama psicossexual’ que nos mostra um misto de enredos ligados pelo amor e pela infidelidade, metropolis nº0.5 agosto 2012

desenrolados por várias línguas e locais (desde os EUA a Londres, Paris, Viena e Bratislava). O argumento, concebido por Peter Morgan (O Último Rei da Escócia, Frost/Nixon), foi livremente baseado na multiadaptada peça Reigen, escrita pelo austríaco Arthur Schnitzler em 1897. À semelhança de filmes como Babel (2006), Meirelles apresenta-nos grupos de personagens cujas acções acabam por afectar outras, mesmo que estejam a milhares de quilómetros de distância, numa espécie de efeito borboleta. Uma metáfora para nos relembrar que todas as acções têm consequências. Mas, apesar de muito bem interpretadas, as personagens de 360 não convidam a uma ligação emocional com o espectador. Por outro lado, o ritmo e a inspiração presentes em obras anteriores de Meirelles parecem ter desaparecido. O resultado é uma colagem de histórias com alguns pontos em comum,

mas nenhuma é particularmente memorável. E – por exemplo – uma das narrativas, que envolve dois mafiosos, embarca numa sucessão de erros de táctica pouco verosímeis, mesmo para criminosos sem escrúpulos. Este género cinematográfico assente em histórias interligadas, celebrizado por filmes como o francês La ronde (1950) – a primeira longa-metragem a adaptar a peça Reigen – e mais recentemente Crash – Colisão (2004), não é seguramente um estilo fácil de realizar, e Meirelles parece ter aqui dado um passo maior que a perna.

360 Realização: Fernando Meirelles. Actores: Rachel Weisz, Anthony Hopkins, Jude Law, Ben Foster, Jamel Debbouze. 111 MIN. 2011 Reino Unido/ Áustria/França/Brasil


Crítica

Uma Vida Melhor Rui Pedro Tendinha

C

édric Khan não anda por certo a imitar Gabriele Muccino. Dá para acreditar até que não deva ter visto Em Busca da Felicidade. Portanto, Guillaume Canet não é aqui um Will Smith a tentar endireitar uma vida azarada numa sociedade capitalista. Pode parecer mas não é. A sua personagem, um cozinheiro que tenta refazer a vida depois de se ter endividado até à ponta dos cabelos após um negócio fracassado, também tem um puto à sua ilharga. Mas nem ele está à espera do sonho americano nem o puto é seu filho. Na França de hoje não há sonhos americanos – excepto fugir para o Canadá quando já nem o sonho comanda a alma – nem finais felizes. O filme de Kahn é uma espécie de tributo aos perdedores da crise económica de hoje. Um pesadelo da época Sarkozy filmado com um sentido clássico que mistura coerentemente um realismo pujante e equilibrado. Mete muito medo pois acreditamos que o lhe acontece podia

acontecer a qualquer um de nós. Por outro lado, Uma Vida Melhor nunca cai naquela armadilha do conto de coitadinhos. Aqui, as personagens têm uma invulgar tesão pela vida. Vão à luta, magoam-se, levantamse e, melhor de tudo, nunca deixam de ser humanos. O herói perdedor continua a ter vontade de fazer amor e sorrir. Ele acredita numa utopia, está convencido que se trabalhar no duro irá ser recompensado. Kahn filma essa busca com uma vibração muito própria, nunca abdicando de nuances melodramáticas muito interessantes e de uma linha de história onde nada falta. Já no anterior Arrependimentos mostrava que está cada vez mais storyteller. Por isso, nada é piegas ou choramingas. Uma Vida Melhor consegue colocar o espectador na angústia das personagens. Essa justeza funciona sobretudo quando encena as reconversões sóciocomportamentais de uma sociedade em queda moral. São os dias da

crise captados por uma câmara que acredita nas personagens e é notável em atiçar-nos com um estandarte de utopia. Esse humanismo dilacerante é fortíssimo e polvilhado com uma honestidade que também é resolvida graças a um ator generosíssimo: Guillaume Canet, porventura o melhor leading man do cinema francês. Às vezes, o cinema francês ainda surpreende. Se calhar, Kahn esteve antes a ver algum Ken Loach do melhor… Não o julgávamos capazes de combinar tanta dureza com emotividade à flor da pele. O Verão acabará bem para os que acreditarem nestes sobreviventes da velha Europa…

Une Vie Meilleure Realização: Cédric Kahn. Actores: Guillaume Canet, Leila Bekhti. 110 MIN. 2011 França

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Crítica “Hors Satan é o resultado de Hadewijch: face a um novo mundo longe de Deus, o combate contra Satanás, nas paisagens sagradas dos nossos jardins espirituais”. Aqui está uma forma caricata de Bruno Dumont resumir Fora, Satanás (título português, que nos dá um imperativo, em vez de cair no erro do título inglês – Outside Satan –, que nos quer demonstrar que há algo fora das mãos do Diabo). Dizemos “caricato” desde logo porque não existe qualquer indício de um “combate” mas, antes, de uma estranha comunhão – aqui, bem (Deus) e mal (Satanás) estão presentes num só: o homem. Pode parecer, à partida, uma certeza que parte de uma divisão também ela um pouco maniqueísta (ou mesmo simplista), mas é com ela que encontramos um interessante trabalho de aprofundamento no olhar sobre o protagonista. É um homem pobre que sobrevive roubando e acompanhado apenas por uma rapariga da aldeia, que lhe dá comida. Ao mesmo tempo, o homem, que reza com ela e permanece aparentemente intocável, revela estranhos dons de milagreiro. São milagres que não trazem a força moral(ista) de Jesus (embora o referente da personagem seja este mesmo), quando muito porque são concretizados de um modo cru, quase grotesco (a cena em que se cura uma jovem rapariga é exemplar disto mesmo). É um aspeto já habitual no cinema de Dumont e que reforça o seu trabalho minucioso sobre o gesto. Aqui, cada movimento, extremamente teatralizado (vide a forma como a rapariga pousa, quase como um reflexo previsível, a sua cabeça no ombro do protagonista), relembra-nos toda a expectativa que depositamos na nossa relação física com o outro. Por vezes, o mais simples dos gestos (um olhar, uma oração dita com joelhos no chão e com as mãos levantadas...) traz consigo o mais cruel dos significados. Mas também o mais poderoso: lembre-se a imagem da rapariga a cruzar duas margens de um tanque de água, como se caminhasse sobre ela (alguém falou no Novo Testamento?) É um filme, pois, que vive de um combate mais interessante (sagrado versus terreno) do que a demarcação moral supracitada (bem versus mal) e que faz com que o mistério suba à superfície com um trabalho cru e realista. É um trabalho que em Dumont nunca esteve tão radicalizado: o realizador abusa da duração nas imagens colocando toda a sua fé nos planos abertos do espaço (alguns sem qualquer intensidade, e que demonstram apenas o seu interesse pelo local, Côte d’Opale), trabalhando o som partindo de uma crença no realismo também ela bem extrema (nada é pós-produzido, tudo aquilo que ouvimos foi captado na rodagem). Apesar disto e do facto de não estarmos seguramente perante um dos seus filmes mais interessantes, continuámos, com o final, a acreditar no poder quase encantatório de Bruno Dumont. metropolis nº0.5 agosto 2012

Fora, Satanás Flávio Gonçalves

Hors Satan Realização: Bruno Dumont. Actores: David Dewaele, Alexandra Lemâtre. 110 MIN. 2011 França


Crítica

Elena A

terceira longa de Zvyagintsev (a sua primeira a estrear por cá desde o já longínquo O Regresso, de 2003) é um misto de character study e de parábola moral que segue os passos da personagem que dá nome ao filme: Elena, uma mulher de meia-idade que vive num asséptico apartamento de luxo com o marido, um homem mais velho e abastado que prima pelos seus modos distantes. Pois bem: durante o primeiro terço do filme, o que temos é a metódica descrição de um quotidiano que – como o da Jeanne Dielman (1975) de Akerman – se deixa ritmar pela repetição dos mesmos gestos (acordar, comer, dormir…). Deste quadro, a psicologia é evacuada (pouco sabemos sobre as personagens) e o que cativa o nosso olhar é a duração compacta, opressiva, dos planos que a mise en scène impõe: longos planos fixos e longos planos-sequência que, pelos seus travellings, vão investindo os movimentos das personagens de uma vaga gravitas (exponenciada,

aliás, pelo coro trágico da televisão e pela banda-sonora original de Philip Glass). Este prenúncio de ruína será confirmado, de pronto, por um acontecimento narrativo que tratará de precipitar o ritmo da acção: o ataque cardíaco sofrido pelo marido de Elena, que o levará a preparar um testamento onde deixa a sua fortuna à filha que resultou do seu primeiro casamento (uma menina mimada que faz profissão de vício). Perante a frieza do marido, Elena (que deseja, também ela, assegurar a subsistência de um filho inútil que resultou de um casamento anterior) esboçará, então, um desesperado gesto de reacção que, por razões óbvias, nos dispensaremos de detalhar. Das repercussões morais e materiais desse acto se ocupará o resto do filme, que, a partir daí, nos mostrará como ele parece deixar inalterada a consciência da protagonista (vejase, por exemplo, aquele planometáfora do cavalo morto, que se limita a traduzir uma ausência de remorsos). Ora, o que nos desagrada,

aqui (embora seja esse o objectivo do filme), é a natureza ela mesma indiferente, frígida e politicamente fatalista do olhar que Zvyagintsev lança sobre as personagens – espécie de fantoches morais que, apesar das suas diferenças de classe, compõem uma galeria uniforme de escroques e/ou de inúteis que só parecem conhecer o ritmo cego (e inumano) da luta pela sobrevivência. Darwin depois de Marx? Não, muito obrigado. Vasco Baptista Marques

Elena Realização: Andrey Zvyagintsev. Actores: Nadezhda Markina, Andrey Smirnov, Elena Lyadova. 109 MIN. 2011 Rússia

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Crítica

Red Lights

Mentes Poderosas Nuno Carvalho

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ste é o tipo de filme que alguma crítica sobranceira gosta de “despachar” como “superficial”. Mas Red Lights – Mentes Poderosas, a segunda “longa” do espanhol Rodrigo Cortés (depois do inesperadamente negro Enterrado), é um filme mais estimulante do que parece à primeira vista. É certo que as personagens não primam pela densidade caracterológica, mas também não nos parece que seja essa a intenção. Porque apesar de se propor como um ‘thriller’ psicológico, Red Lights – Mentes Poderosas é mais uma obra que pretende lançar questões com base numa investigação atualizada e desafiante do seu tema (o mentalismo) e menos uma procura de perspetiva e

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‘insight’ sobre as personagens. O filme centra-se na investigação que uma psicóloga cética em relação ao paranormal (interpretada por Sigourney Weaver) e o seu assistente (Cillian Murphy) montam para tentar “desmascarar” um famoso e alegado médium cego (protagonizado por Robert De Niro) que regressa ao ativo após longo período na sombra na sequência da morte do seu mais acérrimo crítico. Não obstante a destreza “técnica” de Rodrigo Cortés, concedemos que, do ponto de vista dramático, ‘Red Lights – Mentes Perigosas’ é um filme irregular e desequilibrado. De Niro desempenha o seu papel de olhos fechados (literal e figuradamente), e tem

mesmo momentos constrangedores (a frase “citada” no ‘trailer’ em que pretende intimidar a personagem de Cillian Murphy atirando um “are you questioning my power?” trouxe-nos à memória uma passagem de péssima memória do inenarrável ‘Freddy vs. Jason’ em que Freddy Krueger diz a Jason Voorhees: “These are my children, Jason!” Ligações perigosas, sim, mas também algumas ideias curiosas em Red Lights – Mentes Poderosas… Red Lights Realização: Rodrigo Cortés. Actores: Sigourney Weaver, Robert De Niro, Cillian Murphy. 113 MIN. 2012 Espanha/EUA


Crítica

2 Dias em Nova Iorque Sérgio Dias Branco

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Dias em Nova Iorque é a sequela de 2 Dias em Paris (2007), mas é uma continuação que pretende refazer uma história em vez de simplesmente a repetir. Estas duas comédias são um projecto pessoal da realizadora, argumentista, e actriz Julie Delpy, uma francesa que se naturalizou americana. Nelas, Delpy reflecte com humor sobre a sua dupla condição de francesa e americana. 2 Dias em Paris explorava o regresso de Marion (Delpy) à sua cidade natal e à sua família e conhecidos, acompanhada pelo seu namorado Jack (Adam Goldberg). As gargalhadas nasciam sobretudo do embate de Jack com a realidade francesa e com o passado de Marion. Era um filme espirituoso que procurava um sentimento de descontracção e indeterminação — através de uma câmara liberta e de um rumo narrativo em aberto, construído ao sabor de acontecimentos inesperados. 2 Dias em Nova Iorque, pelo contrário, tem o sentido de uma fábula idiossincrática contada a uma criança. O teatro de marionetas que abre e fecha o filme dá-lhe uma forma redonda que contrasta com o anterior. Marion tem um novo companheiro, Mingus, que

Chris Rock interpreta com subtileza e inteligência. Delpy examina mais uma vez o contexto cultural, nomeadamente as mudanças nos EUA após a eleição de Barack Obama como presidente. Por exemplo, Mingus encontra em Obama um interlocutor próximo e simula conversas entre os dois — ou melhor, entre ele e uma figura de cartão. Próximo do espírito da screwball comedy, 2 Dias em Nova Iorque investe muito do seu vigor na troca de palavras, mesmo que esta energia se disperse por vezes por falta de foco. A irreverência dos clássicos deste género como A Irmã de Minha Noiva (1938) era complementado com uma aposta constante na palavra como expressão das personagens e das suas trocas. Tal como o Johnny Case (Cary Grant) dessa comédia, também Marion está à deriva, sem saber o que fazer. A presença do pai (Albert Delpy), da irmã (Alexia Landeau), e do exnamorado (Alexandre Nahon), expõe a falta de controlo que ela sente sobre a sua vida, o que a faz não conseguir escolher — não entre duas mulheres, como Johnny, mas entre possibilidades de vida. O crítico de arte que visita a exposição de fotografia dela descreve a sua obra como mundana, no sentido

pejorativo de insípida, aborrecida. A arte cinematográfica de Delpy é, no entanto, mundana porque é terrena e se interessa pelos segredos do quotidiano, rejeitando a necessidade de o suplementar com outra coisa qualquer. Num aparente gesto conceptual, Marion põe a sua alma à venda na exposição. Primeiro, ela confessa que a sua alma “é bastante complicada” e tem-lhe trazido “muitos problemas”. Depois diz que não acredita na alma e, por isso, a colocou cinicamente no mercado. São duas posições contraditórias que revelam o seu conflito, que não é com conceitos, mas com ela própria. O desenlace desta questão é precipitado, mas ao confrontá-la com a morte da mãe sugere pelo menos que a alma tem a ver com a história pessoal dela, ainda em construção. 2 Dias em Nova Iorque celebra por isso o sentimento de mundanidade da protagonista, a consciência íntima de estar finalmente à vontade no mundo.

2 Days in New York Realização: Julie Delpy. Actores: Julie Delpy, Chris Rock, Albert Delpy. 96 MIN. 2011 Bélgica/ Alemanha/ França

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BIPOLAR

“Nunca sabemos quando somos sinceros. Talvez nunca o sejamos. E mesmo que sejamos sinceros hoje, amanhã podemos sê-lo por coisa contrária.”

bruno ramos

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Fernando Pessoa, in Livro do Desassossego

Dizer hoje uma coisa e amanhã outra é predicado dos medricas. Pessoalmente prefiro dizer uma coisa e outra no mesmo dia. Sobretudo no que diz respeito a filmes. Não será bem tanto uma e o seu contrário. Será mais uma que pinta o quadro de uma maneira, e outra que o pinta de outra. No final é esperada, não só, uma grande salganhada, como uma dissertação sobre o que de melhor e pior tem um determinado título. Podemos não escolher os filmes de que gostamos. Mas podemos escolher o que não gostamos em qualquer filme. E Moonrise Kingdom tem muito que se lhe diga nesse domínio da ambivalência.


bipolar

S

obre Moonrise Kingdom, o problema é muito simples. Aliás, é demasiado fácil gostar e não gostar deste filme ao mesmo tempo. Em última instância, o que temos aqui em mãos é um caso de aparências e expectativas. No último de Wes Anderson, como em todos os anteriores, é-nos vendida uma ilusão. Um escape ao mundo real. Com Anderson nunca estamos à espera de um documentário, nem de um sci-fi, mas de um intermédio. Tudo aquilo é inventado. No entanto, se Anderson nos tem mostrado e habituado a alguma coisa, é de que tudo nos seus filmes é passível de se concretizar. Até agora. Ao pé dos elaboradíssimos diálogos destes miúdos de doze anos, um lobo falante é do mais credível que há. Contudo, também é aí que reside a maior beleza da obra. Seja lá o que isso for, ninguém filma o amor como Anderson. E aqui, por mais inverosímil que seja, o diálogo da dupla de protagonistas é a prova do coração cravado pela seta de cúpido escarrapachado no grande ecrã. Aquilo a que assistimos é ao primeiro preliminar pré-sexual retórico da história da sétima arte. Agradável à vista? Sem sombra de dúvida. Lógico e coerente? Nem por sombras. Depois, perdoem-me os mais racionais, mas o filme não pede por uma estreia no calor do verão. Se o contexto conta, este é daqueles que deve chegar às salas no mais chuvoso dos dias. Todos gostaríamos mais do resultado. Mas, Bruno, o que se passa lá fora influencia um filme a esse ponto? Só coloca a questão quem nunca assistiu aos últimos minutos de O Sexto Sentido no cinema Monumental com o metro a passar por debaixo dos pés. Do melhor do filme ainda, as interpretações de Bruce Willis e Edward Norton.

Se o primeiro nos mostra o seu lado mais camaleónico, o último relembra-nos todo um talento muitas vezes olvidado. No polo oposto, a rigidez de Tilda Swinton. No geral, a obra ganha na simplicidade da sua premissa e na objectividade da câmara de Anderson. Diga-se o que se disser, o homem cada vez mais tem o seu registo. No entanto, como qualquer especialista de uma área, convém a Anderson não se esquecer dos princípios gerais da coisa. E, nesse particular, não deixa de ser curioso ver que as obras que escreveu a quatro mãos com Owen Wilson são das melhores cotadas da sua carreira. Então, mas Anderson não é um bom guionista, Bruno? É, mas daqui por algum tempo corremos o risco de ter um cineasta que só faz filmes que agradem a quem já sabe ao que vai. Os bons realizadores não são aqueles que fazem bons filmes para a legião de fãs conquistados, mas aqueles que conquistam fãs para a legião com os bons filmes que fazem. Outro item que é impossível não gostar à brava é o guarda-roupa. Mesmo para quem aprecia o clássico sketch dos Gato Fedorento, A Minha Vida Dava um Filme Indiano. Do que já não é tão fácil gostar é da banda-sonora insistente. A espaços, a partitura de Alexandre Desplat e companhia serve os propósitos. Contudo, no final ficamos com a sensação de que espaço foi coisa que não restou, pois raro foi o momento do filme em que não se ouvisse um instrumento. E, quer se queira, quer não, não estamos na presença de O Artista. Apesar de tudo, com a devida distância, Oscar é palavra que daqui por alguns meses também deverá andar associada a esta obra. metropolis nº0.5 agosto 2012

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Crítica

TED Rui Brazuna

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m pouco mais de uma década Seth McFarlane tornou-se uma referência incontornável na comédia norte-americana, graças às suas séries animadas Family Guy, American Dad, e The Cleveland Show. Com ele o humor não tem limites, é um verdadeiro valetudo, indo da piada mais infantil, ao deliberadamente politicamente incorrecto, descambando não raras vezes no ataque pessoal e no maugosto. McFarlane explora ao máximo as potencialidades dos desenhos animados conseguindo sempre fazer rir o espectador mais sisudo com as incríveis pantominices do seu elenco de personagens. McFarlane gosta de riscos e principalmente de fazer rir, seja lá o que for preciso para isso. Assim para a sua primeira longa-metragem cinematográfica que escreveu, dirigiu e protagonizou, McFarlane atira-se de cabeça para um projecto que à partida era no mínimo problemático: um filme de imagem real onde um dos protagonistas é um urso de peluche, que bebe, pragueja, luta, usa substâncias ilegais, etc.

metropolis nº0.5 agosto 2012

Ted é o urso de peluche de John Bennet, um miúdo de 8 anos solitário e mal-amado pelos seus contemporâneos, que depois de receber o urso como presente de natal deseja que ela seja o seu melhor amigo para sempre. E o inexplicável acontece, Ted ganha vida própria e torna-se o melhor amigo de John partilhando juntos todos os momentos da sua infância. O urso torna-se durante algum tempo uma celebridade, aparecendo em programas de tv, mas a novidade depressa desaparece e Ted retoma a sua vida anónima ao lado de John. Porém, 27 anos depois de ter ganho vida, Ted ainda vive com o seu melhor amigo, e ambos continuam a partilhar um medo de trovoadas que tentam ultrapassar com uma canção especial. Quem não está muito contente com a situação é Lori, a namorada de John que há anos espera que ele abandone o seu modo de vida irresponsável e case com ela. O grande entrave é naturalmente Ted que tudo faz para continuar a sua existência de farra ao lado do seu melhor amigo. Narrativamente o filme é bastante

tradicional, mas os diálogos de McFarlane e o seu crescendo de situações ridículas e excessivas elevam a intriga para o domínio da comédia absurdista que apesar da premissa algo limitada surpreendentemente nunca perde força evoluindo de situação para situação numa espiral de irresistível hilaridade. Talvez a mais divertida comédia do ano e sem dúvida a mais irreverente. Destaque para a qualidade dos efeitos especiais – o urso, e também para as prestações de Wahlberg e Kunis e do convidado especial Sam Jones. Os papás e mamãs talvez façam bem em evitar levar as criançinhas a ver o ursinho Ted, pois talvez saiam de lá mais corados que um turista inglês trabalhando para o bronze no Algarve.

Ted Realização: Seth McFarlane. Actores: Mark Wahlberg, Mila Kunis, Giovanni Ribisi, Seth McFarlane. 106 MIN. 2012 Estados Unidos


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METROPOLIS 0.5

Basílio Martins

Bruno Ramos

Flávio Gonçalves

João Lopes

Jorge Pinto

Nuno Antunes

Nuno Carvalho

Nuno Galopim

Rui Brazuna

Rui Pedro Tendinha

Sérgio Dias Branco

Vasco Marques

4.44 Último Dia na Terra

360

2 Dias em Nova Iorque A Casa na Floresta O Cavaleiro das Trevas Renasce

Elena

Fiel Companheiro

As Flores da Guerra

Fora, Satanás

O Futuro

O Fantástico Homem-Aranha A Idade do Gelo 4...

A Idade do Rock

Madagáscar 3

Magic Mike

Mentes Poderosas

O Monge

Moonrise Kingdom Morre e Deixa-me em Paz

Ted

metropolis nº0.5 agosto 2012


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A Toupeira A

Toupeira é uma das melhores obras de espionagem dos últimos anos. É baseado no primeiro tomo da célebre trilogia literária de espionagem de John le Carré. O realizador Tomas Alfredson (Deixa-me Entrar) criou com o seu filme, e com a bênção do autor, um objecto distinto do livro e da marcante série da BBC do final dos anos 70 com Sir Alec Guinness no principal papel. A acção desenrola-se no início dos anos 70, George Smiley (Gary Oldman) é afastado dos serviços secretos britânicos por suspeitas de fugas de informação mas é encarregado de trabalhar nas sombras para descobrir (“a toupeira”), o agente infiltrado pelos russos na cúpula do MI6. O caso é baseado em factos verídicos, e recordamos que David Cornwell (John le Carré é o seu pseudónimo) foi durante anos operativo dos serviços secretos Sua Majestade. Os assuntos que escreve, e que inspiraram esta trilogia, possuem profundo conhecimento na contextualização metropolis nº0.5 agosto 2012

geopolítica e na relevância das rotinas operacionais dos agentes. Os acontecimentos desenvolvem-se em lume brando criando personagens com diferentes camadas e sequências ricas em detalhes físicos, materiais e psicológicos. O casting juntou nesta obra actores de diferentes épocas, tal como o filme que joga com gerações, legados, o passado e o futuro. Um elenco de luxo com a nata da representação britânica dá forma a um estudo no carácter de personagens, que são uma espécie de matrioskas, envolvidas num perigoso jogo de xadrez internacional em plena Guerra Fria. Destaques para Mark Strong, John Hurt, Benedict Cumberbatch, Colin Firth e Kathy Burke. A realização atmosférica com o cinzento, a chuva, a noite e o nevoeiro a serem predominantes, talvez a única luz na obra surge na sequência do affair desenrolado em Istambul, a carga visual reflecte a conspiração da trama. O silêncio torna-se uma arma poderosa especialmente

no desempenho principal de Gary Oldman que interpreta um personagem que arde por dentro face à dupla traição, passional e profissional, que o consome perante o clima de paranóia instalado. O actor surge num papel pouco habitual, é um desempenho menos físico (o personagem é manipulativo, calmo e contido), e demonstra o porquê de ser uma referência entre os seus pares. A Toupeira é uma obra tão meticulosa na execução como na trama, na estética e na sua moralidade. A premissa possui as características de thriller de espionagem mas apresenta-se igualmente como um drama pessoal e adquire uma dimensão romântica. JP

Tinker Tailor Soldier Spy Realização: Tomas Alfredson. Actores: Gary Oldman, Colin Firth, John Hurt. 127 MIN. 2011 França/Grã-Bretanha/ Alemanha


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mini-série

A Toupeira Rui Brazuna

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reconhecimento internacional do talento literário de John Le Carré começou nos anos 60 quando o seu terceiro romance O Espião que veio do Frio (1963) se tornou uma sensação e um best-seller pelo modo realista como retratava o sombrio e misterioso mundo da espionagem, que na realidade estava nos antípodas das fantasias escapistas imaginadas pelo pai de James Bond, Ian Fleming. Uma das personagens menores de O Espião que veio do Frio é um discreto funcionário dos serviços secretos britânicos, um homem chamado George Smiley, que quase 15 mais tarde irá ser o protagonista de um dos mais brilhantes e singulares romances de espionagem: A Toupeira. Para se compreender a importância de A Toupeira no imaginário do mundo fictício de espionagem de Le Carré importa talvez ter presente que o homem que o mundo conhece como John Le Carré de facto se chama David John Moore Cornwell e foi um membro activo dos serviços de segurança britânicos (MI5 e MI6) durante a década de 50 e parte da de 60. A razão porque o autor deixou os serviços secretos encontrou um

eco em A Toupeira pois Cornwell foi uma das vítimas da traição colossal perpetrada pelo espião Kim Philby, que durante décadas trabalhou nos serviços de informação britânicos ao mesmo tempo que espiava para Moscovo. O impacte desta traição e da acção do chamado grupo de Cambridge, que tinha penetrado os mais sensíveis postos da defesa britânica, fez-se sentir durante muito tempo e deixou sequelas. Em 1974 Le Carré publica A Toupeira que é a sua reformulação ficcional do trauma da traição de Philby no seio da sua versão do mundo da espionagem britânica. Cinco anos mais tarde, em 1979, a BBC faz uma assombrosa adaptação do romance tendo como protagonista a figura ímpar de Alec Guiness no papel do discreto mas tenaz George Smiley, o homem encarregado de descobrir a identidade do espião que anda a trair os segredos do ‘Circo’ para os soviéticos. A adaptação é bastante aproximativa da letra e atmosfera do romance, sendo particularmente eficaz no modo como estabelece um mundo glauco e pleno de desespero onde os indivíduos não são mais do

que meras peças num grande jogo cujos desenlace é em última análise insignificante. Adaptada por John Hopcroft e dirigida por John Irvin esta produção da BBC, que se estende por 7 episódios, resulta uma narrativa envolvente que avança em ritmo lento onde é dada uma enorme atenção aos mais pequenos detalhes, e que aos poucos revela uma realidade cinzenta, suja e algo deprimente sobre os bastidores do ‘Grande Jogo’. O resultado final marcou um ponto alto na produção televisiva britânica da época e deu a Alec Guinees a oportunidade de brilhar num desempenho que é uma obra-prima de contenção, elegância e precisão. Guiness voltaria à personagem alguns anos depois com a produção da sequela A Gente de Smiley (Smiley’s People).

Tinker Tailor Soldier Spy Realização: John Irvin. Actores: Alec Guinees, Ian Richardson, Bernard Hepton, Joss Ackland, Beryl Reid. 315 MIN. 1979 Grã-Bretanha

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Na Terra de Sangue e Mel

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urpreendente trabalho de estreia de Angelina Jolie como realizadora onde a força do argumento, de sua autoria, aliada a uma invulgar mestria na realização, resultam em duas horas marcadas pela solidez dramática e interpretações soberbas numa história de um amor proibido e ódios seculares. Um registo que foi uma paixão pessoal de Angelina Jolie financiado com 13 milhões de dólares e que conta com um conjunto de técnicos consagrados na produção, como a direcção de fotografia de Dean Semler e a música original de Gabriel Yared, ambos vencedores de Óscares. O enredo é uma vertiginosa viagem ao inferno que tem como ponto de partida poético o encontro fortuito em Sarajevo de Ajla (Zana Marjanovi), uma pintora de origem muçulmana, e Danijel (Goran Kosti), um polícia de origem sérvia, que se vai tornar uma ligação apaixonada, e contraditória, entre oprimida e opressor, perante a crueldade da limpeza étnica que ocorreu na Bósnia entre 1992 e 1995.

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Esta relação será o fio condutor da obra dura e crua que não pinta um cenário hollywoodesco do sofrimento e sadismo face aos inocentes: durante o conflito 50 mil mulheres foram violadas. No seu primeiro trabalho atrás das câmaras evidencia-se a sensibilidade de Angelina Jolie na direcção de actores: as performances são sinónimo de grandes desempenhos. Por sua vez, a natureza e a evolução dos planos, com o desenrolar da narrativa, vão-se tornando mais elaborados e sempre com uma sensualidade que roça o erotismo nas sequências de amor. Este último aspecto é um dispositivo que reforça as contradições dos sentimentos proibidos de Danijel e Ajla. A opção do filme ser falado na língua nativa permitiu trazer valores locais para a produção: Zana Marjanovi é uma excelente revelação, não fraquejando num papel de elevando grau de dificuldade. O argumento é imparcial ao mergulhar na natureza do conflito e nas relações afectivas, com momentos que discernem identidades

e o passado relacionados com ódios étnicos entre sérvios e muçulmanos. A edição em DVD da Pris tem 3 opções especiais. Em Filmagens, meia hora de imagens dos bastidores com a oportunidade de observarmos a preparação e a direcção de Angelina Jolie. As Entrevistas, a edição conta com 14 entrevistados (!) que incluem o elenco e a vários membros equipa de produção, seria simpático terse a opção de ver tudo. É pena que a realizadora fala apenas quatro minutos mas no seu todo é uma óptima opção para se percepcionar melhor esta obra a nível da produção, a carga sentimental da história e o relacionamento com Jolie. A finalizar, o trailer. JP

In the Land of Blood and Honey Realização: Angelina Jolie. Actores: Zana Marjanovic, Goran Kostic, Rade Serbedzija. 127 MIN. 2011 Estados Unidos da América


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m épico sentimental realizado por Steven Spielberg e idealizado a partir de uma perspectiva única. É baseado no romance de Michael Morpurgo e já foi adaptado ao teatro. Esta é a história de Joey um cavalo que nasce no countryside britânico. A par da sua existência observamos as vidas que toca e que irão mudar para sempre. Os acontecimentos desenrolam-se antes e durante a Primeira Guerra Mundial. Albert (Jeremy Irvine), é o mais importante dos papeis secundários, o seu crescimento fazse a par deste cavalo que possui uma força incomum e uma assaz determinação. A amizade, a sorte e o azar vai uni-los e separá-los numa jornada sem impossíveis. A obra não esconde o seu sentimentalismo, Steven Spielberg filtra como ninguém os acontecimentos durante os cinco actos num enredo carregado de esperança perante o infortúnio da maior das tragédias – uma guerra que mata, consome e dizima tudo à sua volta. Nos diferentes capítulos temos janelas para diferentes existências que formam um todo, uma história do melhor e do pior da humanidade. Em cada trecho, uma visão de um modo de vida registado de forma imparcial com Joey a ser o fio condutor da narrativa. É difícil realçar um actor de um ensemble com pequenos mas primorosos desempenhos, com cada intérprete a deixar a sua marca no registo. Este épico frui no seio de uma das melhores equipas a criar cinema na actualidade, a grandiosidade da obra remete-nos para o classicismo dos épicos de outrora. O digital é em grande parte substituído por belíssimos cenários reais, a riqueza na palete de cores, o clima e a paisagem produzem sequências que impressionam, a assinatura pertence ao mestre Janusz Kaminski, habitual director de fotografia de Steven Spielberg. A nível do guarda-roupa, o colorido e o detalhe dos trajes criados por Joanna Johnston dão vida a um tempo perdido. As próprias localizações britânicas são um dos elementos decisivos para a dimensão desta obra, a lente de Spielberg e a história deste equídeo fazem o resto em sequências, intimas e épicas, que ficam na memória, e são reminiscentes do cinema de John Ford. A forma como Cavalo de Guerra assenta no poder das imagens e na epopeia dos sentimentos faz desta obra uma produção que podia ter sido feita em qualquer era da sétima arte. A edição em DVD da ZON Lusomundo tem apenas uma pequena opção, de seis minutos, que resume as qualidades dos técnicos que rodeiam Steven Spielberg nesta produção. JP

War Horse Realização: Steven Spielberg. Actores: Jeremy Irvine, Emily Watson, David Thewlis.

Cavalo de Guerra

146 MIN. 2011 Estados Unidos

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A Dama de Ferro U

ma magnífica interpretação de Meryl Streep num filme que revive os principais momentos da vida de Margaret Thatcher (os primeiros anos da ascensão política são interpretados por Alexandra Roach). O registo peca no aspecto da comiseração na formatação estilística de várias sequências (escolha de planos e música), mas o trabalho de corpo e alma de Streep ofuscam alguns desses momentos. A realizadora Phyllida Lloyd (Mamma Mia!) optou por explorar os supostos problemas de saúde mental de exministra britânica como forma de recuperar os fantasmas íntimos da personagem, quer da sua vida amorosa quer da sua vida política, em momentos onde é difícil separar a vida pública e privada. Um aspecto semelhante ao recente biopic sobre

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J. Edgar Hoover é a narrativa que salta constantemente entre diferentes tempos. Neste caso, não sabemos se é unicamente um recurso narrativo ou se este ziguezague na acção estará relacionado com a própria memória da personagem. De qualquer forma é um aspecto que está confuso e peca pela edição. Para quem não está a par das origens à subida ao poder, passando pela influência de Margaret Thatcher junto do país e da sua família, o filme é uma apologia que pode conquistar o espectador numa versão pop da vida da "Dama de Ferro". A edição em DVD da Pris está recheada de extras. Em Programa Janela Indiscreta (7´), Mário Augusto numa reportagem sobre o filme e Meryl Streep, a opção inclui uma entrevista com a actriz. Em Apresentação ao Filme (4´) Phillip Boyd e o elenco

apresentam uma obra sobre uma grande líder. Em Meryl Streep (5´), um vulto da 7ª Arte revisitado por Mário Augusto com o percurso pessoal e artístico de Meryl Streep, e a mesma faz um pequeno balanço da sua carreira. Em Entrevistas, vários membros do elenco falam dos seus papéis, o relacionamento em cena entre os actores (especialmente com Meryl Streep), o esforço e as qualidades da realizadora e a assimilação do legado de Margaret Thatcher. Em Filmagens, dez minutos de imagens a partir dos bastidores do filme. JP

The Iron Lady Realização: Phyllida Lloyd Actores: Meryl Streep, Jim Broadbent Richard E. Grant. 105 MIN. 2011 França / Grã-Bretanha


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Crónica

filme leva o conceito da câmara subjectiva ao mundo dos super-heróis. A história de três amigos que entram em contacto com uma força que lhes confere capacidades extraordinárias. O enredo confronta o “coitadinho” do liceu que adquire os poderes especiais que lhe abrem a porta para a popularidade, mas sem os princípios morais rapidamente o jovem é consumido pelo excesso, começando a fazer estragos por onde passa (a começar pelo seu lar disfuncional). Entra em jogo a teoria darwiniana da selecção natural e surge o antagonista/ super predador. Os personagens estão limitados por uma premissa óbvia que não foge às regras de um argumento de super-heróis, mas prevalece, sempre, a sensação de descoberta e (in)adaptação às capacidades sobre-humanas. Apesar disso, o conceito não possui debilidades e está bem executado, especialmente do ponto de vista técnico, os jovens

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E Agora, Aonde Vamos ?

actriz/realizadora Nadine Labaki cria um conto melodramático desenrolado numa aldeia que representa um microcosmos libanês à beira da divisão provocada pelas diferenças sectárias. A tensão religiosa e a hegemonia do povoado vão sendo controladas pelas mulheres, que afastam por todos meios possíveis e imaginários, alguns deles bastante curiosos, a população do espectro da guerra que coloque vizinho contra vizinho devido às diferenças religiosas entre cristãos e muçulmanos. Pelo meio, somos surpreendidos por números musicais dos actores, ocasiões que normalmente descrevem amor e dor num mecanismo poético de descrição da ambiguidade destas relações humanas onde o drama partilha o mesmo espaço com a comédia de situação. As interpretações possuem algo de genuíno e são encabeçadas pelo banho de sensualidade de Nadine Labaki. É de sublinhar neste trabalho a exultação da mulher como a fonte

actores não desapontam. O objecto nunca abandona o filtro da câmara subjectiva, e não há um único plano que não seja projectado segundo este código, mudando o tratamento de imagem à medida que se visiona a acção a partir de diferentes meios de captura. E para facilitarem o truque, os argumentistas Max (filho de John) Landis e Josh Trank criaram num dos jovens o poder de controlar uma câmara de filmar que adquire um estatuto omnipresente. A edição DVD da Pris/Fox tem os seguintes extras: Pre-Viz (8´), a prévisualização das cenas conceptuais. Camera Test (3´), um teste de préprodução. E um trailer. A opção Cenas Eliminadas está referenciada na capa mas não se encontra na edição! JP

Chronicle Realização: Josh Trank. Actores: Dane DeHaan, Alex Russell, Michael B. Jordan. 84 MIN. 2011 EUA/África do Sul

da origem e equilíbrio da vida num panorama dominado pelos ódios normalmente associados aos homens. A mulher, nas suas mais diversas vertentes - mãe, amante e objecto de desejo -, não está amordaçada e constrangida pela ameaça do medo, existindo uma insurreição comum a todas as identidades femininas face ao sofrimento de quem ama e perde os seus filhos numa guerra sem quartel. Esta tensão real é traduzida de uma forma ligeira pela obra de Nadine Labaki, que a sorrir e a dançar consegue evidenciar uma interessante perspectiva social que ultrapassa as fronteiras do Líbano. A edição em DVD da Pris tem apenas um trailer. JP

Et maintenant on va où? Realização: Nadine Labaki. Actores: Claude Baz Moussawbaa, Leyla Hakim, Nadine Labaki. 110 MIN. 2011 França/Líbano/Egipto/ Itália

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A Motoreta Realizado por Marco Ferreri em 1959, A Motoreta nasce de uma colaboração com o escritor e argumentista espanhol Rafael Azcona e tem como actor principal José Isbert, um vulto do cinema espanhol da época. Produzido sob o regime franquista, a obra centra-se no capricho de um velhote de 70 anos com a fixação por uma cadeira de rodas com motor. A motoreta é um passaporte para a liberdade e o fim do sufoco: a vivência num apartamento claustrofóbico, onde vive a extensa família e está o escritório de advocacia do filho, a solidão após a morte da esposa e o fascínio pela motoreta do amigo Don Juan são as razões da obsessão a três rodas. Uma vez que ele não precisa pois caminha lindamente com as duas pernas, a única forma de comprar um veículo aerodinâmico é fazer-se passar por inválido perante a família.

Além do riso natural, observamos uma subcultura que passa ao lado da sociedade, a dos inválidos e os idosos que se (re)encontram em pequenas escapadelas por Madrid à procura de refúgio e a alegria. Isbert está autêntico na encarnação das desilusões sociais neste filme em que as discrepâncias sociais servem de pano de fundo para uma comédia negra com um fim inesperado e onde tudo vale para se escapar ao regime. A edição em DVD da Alambique não inclui extras. Jorge Pinto

El Cochecito Realização: Marco Ferreri Actores: José Isbert, Pedro Porcel, José Luis López Vázquez. 85 MIN. 1961 Espanha

48 Rever uma imagem com tudo o que isso implica (uma releitura e uma reapropriação) é um ato que a velocidade do nosso tempo vê como invulgar, talvez até ofensivo. Algum cinema contemporâneo (salvo aquele que vê no remake a salvação absoluta), contudo, tem vindo a demonstrar que ainda é possível contrariar a tendência do Alzheimer histórico, político e cinematográfico. Nesse sentido, o documentário da realizadora portuguesa Susana de Sousa Dias (autora de obras como Natureza Morta – Visages d’une Dictature) é exemplar, ao debruçarse sobre os 48 anos de ditadura em Portugal (1926-1974), número que serve mesmo o título do filme. O dispositivo é curioso: estamos perante uma série de fotografias de prisioneiros políticos da PIDE e, em off, ouvimos a voz de hoje das vítimas em questão. metropolis nº0.5 agosto 2012

Um dispositivo que não deixa de ser, com a modernidade do seu movimento, totalmente cinematográfico e, por isso, artificial: a realizadora confessa mesmo que os 93 minutos de filmes seriam apenas 7 se não fosse o slow motion. É um filme de montagem, sim, mas que não deixa de atribuir às imagens uma intensidade avassalante e assustadoramente intemporal. Flávio Gonçalves

48 Realização: Susana de Sousa Dias. 93 MIN. Portugal 2009


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Martha Marcy Mae Marlene S

ean Durkin realiza uma perspicaz obra de estreia que narra de uma forma honesta e humana a complexidade mental e a perversão das seitas e nem precisou de entrar no domínio religioso. O registo tem óptimos pormenores técnicos na sua produção e conta com uma interpretação notável de Elizabeth Olsen (irmã mais nova das gémeas Olsen). A história é um pesadelo na primeira pessoa vista pelos olhos da personagem Martha (Elizabeth Olsen) que no início do filme, após dois anos de condicionamento natural e psicológico no seio de uma seita, consegue escapar e procura refúgio na casa da sua irmã. O sonho e a realidade fundem-se na dicotomia de Martha: com a irmã, na casa à beira do lago, e os dois anos na casa de campo pertencente à seita. Sendo uma personagem desajustada esforça-se para encontrar uma identidade. O clima de confusão de Martha

transpõe-se do domínio psicológico para a estrutura visual da obra de alguém que perdeu o sentido da realidade. É subjectiva a interpretação do tempo específico na mente da personagem num lugar onde não há futuro nem passado. Uma nuance que passa para o espectador graças a transições/montagem entre as cenas e uma economia narrativa perfeita. O excelente trabalho de fotografia de Jody Lee Lipes enfatiza justamente esse ambiente. O título da obra está relacionado com a transfiguração de Martha sendo uma contextualização na retórica do culto através da diluição das identidades e os métodos de manipulação para separar e isolar as pessoas. A narrativa pessoal invoca o sentido de família e, ainda que por razões ambíguas, opera nessas fragilidades em ambos cenários. A interpretação de Elizabeth Olsen é arrepiante e arrojada no retrato fragilizado e densamente perturbado

de Martha uma personalidade estilhaçada que combina sobre si a inocência e o abuso da mesma. Outro destaque vai para John Hawkes, que interpreta o sinistro líder da seita, é um desempenho tão interessante que é difícil distinguir a realidade da ficção. A edição da Pris/Fox traz como opção especial a interessante curtametragem Mary Last Seen (2009) de Sean Durkin que serviu de rampa de lançamento para este filme. A curta narra a dinâmica de recrutamento de uma jovem de Nova Iorque, para a seita, até ao isolamento da quinta. Este cenário e o actor Brady Corbet repetem os mesmos “papéis” em Martha Marcy Mae Marlene. JP

Martha Marcy May Marlene Realização: Sean Durkin. Actores: Elizabeth Olsen, Sarah Paulson, John Hawkes. 102 MIN. 2011 Estados Unidos

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Prometo Amar-te P

rometo Amar-te é uma história sobre uma relação real e e com fundações sólidas com que qualquer casal se pode relacionar. Leo (Channing Tatum) e Paige (Rachel McAdams) formam um casal, recém-casado, que é vítima de um acidente de viação. A esposa sofre um trauma e quando desperta do coma não se lembra do marido, e nem dos últimos cinco anos da sua vida. Leo vai tentar reconquistar a sua alma gémea que se tornou um planeta distante. O enredo relata os obstáculos que se têm de ultrapassar para o renascimento do amor quando a confusão, a ansiedade e a frustração substituem uma relação apaixonada. É nesse aspecto que a se obra liberta relativamente aos clichés. No segundo acto temos um fio narrativo que envolve o passado de Paige e a sua família (partida) que a partir do acidente tem um motivo para reencontrar a filha. É um apêndice à história, e onde alguém tentou dourar a premissa verídica. A obra utiliza eficazmente os flashbacks para reforçar a relação perdida e as diferenças de carácter de Paige e Leo. Apesar dos lugares comuns, a veracidade dos factos e a componente de entretenimento atenuam as reservas face à narrativa. A química entre Channing Tatum e Rachel McAdams é palpável e cria empatia entre a história e os espectadores mais apaixonados. A edição DVD da ZON Lusomundo tem algumas opções especiais com destaque para as pequenas featurette´s, o Comentário do realizador é uma locução sem grande informação. Em Perfis de Amor (10´) o realizador aborda a escolha dos actores e as suas personalidades, cómicas e dramáticas. Em Até que a Morte (8´), a premissa real e inerentemente dramática e o toque do realizador nos personagens e na história. Em Tentar Relembrar (10´), um professor de medicina da faculdade de UCLA explica a amnésia retrógrada e o trauma causado nas funções “normais”. As Cenas Eliminadas (5´) são compostas por quatro sequências com destaque para o momento entre Tatum e Jessica Lange. A finalizar, os Gags (3´). JP

The Vow Realização: Michael Sucsy. Actores: Rachel McAdams, Channing Tatum, Sam Neill. 104 MIN. 2012 Estados Unidos/Brasil/França/Austrália/Grã-Bretanha/Alemanha

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Extremamente Alto, Incrivelmente Perto O

realizador britânico Stephen Daldry (O Leitor, As Horas) aborda o vazio na memória provocado pela perda abrupta de um ente querido. Neste caso a ferida aberta do 11 de Setembro é revista através de uma criança (especial) que vê o mundo de uma perspectiva única. Oskar (Thomas Horn) perdeu o pai nos atentados do World Trade Center (Hanks interpreta o pai de Oskar, e está igual a si mesmo). A manhã do pior dia da sua vida atormenta a existência de Oskar a cada instante, a forte relação com o pai impede-o de viver sem respostas para acções que não fazem sentido. O protagonista é uma criança com necessidades especiais que a parte das “fobias” do mundo real também possui dons de observação e inteligência que o diferem de alguém da sua idade. A descoberta de uma “pista”, um ano após a morte do pai, leva-o a palmilhar Nova Iorque à procura de um sinal. Uma expedição que o torna mais próximo do falecido

pai e cada vez mais distante da mãe (Sandra Bullock) que lida igualmente com a tragédia, e o distanciamento do filho. Uma interpretação pequena mas bem acentuada por parte de Bullock. A segunda metade do filme é marcada pela masterclass de Max Von Sydow, no desempenho paradoxal do misterioso inquilino da sua avó que é um homem mudo que representa alguém com quem Oskar pode expressar livremente os seus sentimentos. Uma nota também para o pequeno mas não menos belo papel de Viola Davis. O destaque interpretativo vai para Thomas Horn, uma criança sem experiência de representação e que teve entre mãos um papel complicado. Horn demonstrou coragem, dedicação e tenacidade, espera-se que continue a explorar a arte da representação. A realização de Stephen Daldry não se perde no enigma narrativo preferindo desenvolver a vertente profundamente humana da tragédia através de várias cenas a solo onde a observação da

dor profunda dilui-se na poesia da imagem. Mais uma vez, após Billy Elliot (2011), Daldry revela o seu dom para trabalhar com jovens actores. A edição em DVD da Warner/ZON Lusomundo contém um extra - Finding Oskar (7´), revela-nos Thomas Horn, e como ele se tornou actor após ter sido descoberto num concurso televisivo pela produção do filme. Segundo o elenco, Horn é uma fonte de informação e estimulação. O realizador recorda, “Horn sabia o que estava a fazer e tinha uma metodologia”, ele não era um actor mas tinha os instintos correctos, não ficou intimidado nem teve dificuldade em encontrar o “momento”.JP

Extremely Loud & Incredibly Close Realização: Stephen Daldry. Actores: Thomas Horn, Tom Hanks, Sandra Bullock, Max von Sydow. 129 MIN. 2011 Estados Unidos

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John Carter

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o centenário da estreia literária de John Carter, personagem criado por Edgar Rice Burroughs, chega finalmente aos ecrãs. Uma adaptação que esteve a marinar durante décadas e que a evolução tecnológica agora possibilitou. Na aurora do século XXI, a estreia de uma das grandes aventuras literárias do século passado leva-nos à presença de um extraordinário objecto artístico que utilizou realmente todos os dólares e meios técnicos e artísticos ao alcance do seu orçamento, numa prova do talento criativo de Andrew Stanton (WALL•E, À Procura de Nemo) e do imaginário de Edgar Rice Burroughs. A audácia, ingenuidade e o classicismo narrativo, trazem à memória o primeiro Star Wars e John Carter não fica a dever nada à obra de George Lucas (o mais provável é que o épico de Lucas fique a dever algo à obra de Edgar Rice Burroughs...). O filme conta-nos a história de John Carter (Taylor Kitsch), um intratável soldado americano que, em 1881, procura a fortuna na aridez do Arizona e que graças a um encontro fortuito é transportado para o planeta Vermelho. Aí, vê-se dividido entre três sociedades/cidades: uma predadora, outra que procura o equilíbrio, e uma neutral, que acaba por adoptá-lo. É uma odisseia clássica, com uma alegoria apocalíptica sobre o fascínio do Homem perante a Guerra, centrada num homem com perfil de herói que tem de se libertar da sua passividade, e enterrar o seu passado, para defender o Bem e o seu amor por uma princesa. Seria difícil recriar o esplendor deste mundo distinto, com a complexidade destes

cenários e personagens digitais, sem os efeitos computorizados, mas relembre-se que, desde das origens do cinema, a ampliação dos cenários utilizou a técnica da “matte painting”: hoje são os cenários digitais que dominam e proporcionam às audiências o vislumbre de um mundo imaginário. O filme combinou o digital com as filmagens exteriores no Utah, obtendo assim um visual de um western sci-fi com uma geografia que é muita das vezes real. Por seu lado, os actores que surgem em cena e os que dão voz aos personagens formam um excelente ensemble. Os jovens actores Taylor Kitsch e Lynn Collins não se ficam pela presença física, trazendo alma e emoções reais às suas interpretações, ocorrendo o mesmo com as personagens digitais, num interessente conflito paternal com a voz de Willem Dafoe (Tars Tarkas) e Samantha Morton (Sola). É nesse aspecto particular que o filme conquista o público, ao não ser substituído pelos efeitos e pelas sequências de acção: a vingança, a dor, o ódio e o amor estão sempre presentes. A produção é um sinónimo de coesão e o resultado é harmonioso: do referido rol de actores ao impressionante design de produção de Nathan Crowley, ao original figurino de Mayes C. Rubeo até à imponente orquestração sonora de Michael Giacchino, todos os elementos proporcionam ao espectador uma aventura sublime. As suas proporções épicas e o sentido de aventura enchem o ecrã com cenários brilhantes e criaturas fascinantes e graças a uma irrepreensível realização de Andrew Stanton, temos um filme que vai perdurar na memória dos espectadores. O filme não perde a sua magia


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nesta edição em Blu-ray da Disney/ZON Lusomundo. Podemos ficar a conhecer o filme com as seguintes opções: 100 anos para Acontecer (10´) Uma featurette sobre a paixão de Andrew Stanton pelas aventuras de John Carter, a vida de Edgar Rice Burroughs e as tentativas de adaptar A Princesa de Marte ao cinema. A capacidade de construir novos mundos e a escrita como um escape da sua existência infeliz. O sucesso de Tarzan e a inspiração no astrónomo Percival Lowell que a partir de um observatório no Arizona desenvolveu a teoria da vida em Marte. A tentativa falhada de adaptar nos anos 30, numa versão de animação elaborada por com Robert Clampett para a Warner. Jim Morris e a impossibilidade de adaptar no final dos anos 80 e o projecto aterra na Disney após a adaptação de Jon Favreau ter ficado na prateleira. Cenas Eliminadas (19´) Onze sequências com opção de Ver Tudo. As mesmas tornam-se mais interessantes com a locução de Andrew Stanton, encontramos neste conjunto de cenas, filmagens rudimentares, algumas em

storyboard, outras sem efeitos de pós-produção e também versões acabadas. O desejo de impor ritmo e maior poder de síntese foram as principais razões da eliminação das cenas. A Produção de John Carter (34´) Um dia de filmagens nos estúdios Greenford em Londres. A aventura começa no quinquagésimo segundo dia de rodagem às 5 horas da manhã. É uma apresentação dos diferentes locais da produção e acompanha em tempo real actores, cozinheiros, técnicos e os extras nos seus ritmos diários. O destaque vai para o detalhe de caracterização de seis horas de Lynn Collins, o ambiente de camaradagem entre os figurantes e o trabalho técnico das filmagens. Os Erros de Gravação (2´) Comentários com Andrew Stanton e os produtores Jim Morris e Lindsey Collins, acrescentam valor à edição, é a melhor opção dos extras. As locuções não deixam nada ao acaso desde as origens do filme, o casting, as localizações, curiosidades e até conversas sobre a componente digital e humana desta longametragem. JP

John Carter Realização: Andrew Stanton. Actores: Taylor Kitsch, Lynn Collins, Willem Dafoe. 132 MIN. 2012 Estados Unidos

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Margin Call O Dia antes do Fim

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argin Call é um thriller desenrolado na altaroda financeira, é um estudo na psicologia do big business e nas relações de trabalho numa corporação que vive para o lucro e a sobrevivência a qualquer custo. Uma obra escrita e realizada pelo estreante J.C. Chandor, uma amostra ficcional com um realismo baseado nos motivos, humanos e financeiros, que estiveram na origem da actual crise económica mundial. A linguagem utilizada permite que o espectador possa entender a trama e a visão apurada do realizador aponta a câmara à ganância, ao desespero e à impotência perante os factos. Os desempenhos estão todos nivelados por cima num elenco de óptimos intérpretes. John Tuld (Jeremy Irons) é o decisor da empresa, um homem de influência, charme e instinto. Sarah (Demi Moore) e Jared (Simon Baker) são, respectivamente, o travão e o acelerador para o precipício, um deles será o bode expiatório entre as decisões clínicas de auto preservação. Peter (Zachary metropolis nº0.5 agosto 2012

Quinto) e Seth (Penn Badgley), são dois jovens ambiciosos que revelam o óbvio. Eric (Stanley Tucci), é o coração do filme que descobre um “castelo de cartas” que está prestes a ruir. Sam (Kevin Spacey) está dividido entre a emaciação de uma máquina de lucro e o seu dever moral e Will (Paul Bettany) vive de uma forma edificante sem ter alcançado o seu potencial. Os protagonistas apresentam-se como personagens bem caracterizados e envolvidos num arriscado jogo de apostas e falsos pressupostos com consequências desastrosas para o cidadão comum. A acção desenrola-se numa torre de “marfim”, um ambiente claustrofóbico de um arranha-céus de em Manhattan, à boa maneira dos deuses do Olimpo. Para lá do vernáculo financeiro, gráficos e análises de risco Margin Call aponta baterias à natureza humana como o principal rastilho para a espiral de crise. O lançamento em DVD da Pris tem como extras um trailer, um spot televisivo e um conjunto de entrevistas com o elenco que dura cerca de uma

hora, o mesmo não é editado e temos algumas situações constrangedoras. As perguntas não variam muito e focam os perfis dos personagens, as razões pela participação no filme, o significado de estar numa produção independente, as qualidades de direcção de J.C. Chandor e as ilações que o público pode retirar desta obra. A melhor entrevista é de Jeremy Irons que fala do estado actual do cinema com os grandes estúdios a evitarem produções “de um milhão de dólares” (o ganha pão dos actores) e relembra que os actores são sobretudo atraídos por bons argumentos e bons personagens. A entrevista de Paul Bettany é desesperante para o actor e arrasta-se durante 24 minutos. Pena que não exista uma entrevista com o criador do filme. JP

Margin Call Realização: J.C. Chandor. Actores: Zachary Quinto, Stanley Tucci, Kevin Spacey, Jeremy Irons, Demi Moore. 107 MIN. 2011 Estados Unidos


dvd/bd

Amigos U Improváveis

m candidato a feel-good movie do ano. A premissa indica talvez um dramalhão de dimensões épicas, mas Amigos Improváveis consegue fazer maravilhas pelo espectador, dando um pontapé nos sentimentalismos baratos e atira-se com energia à vontade de viver perante as adversidades com uma abordagem pouco ortodoxa e carregada de humor da história de um jovem negro oriundo subúrbios de Paris, desempregado e com um passado pouco recomendável, que vai parar a uma mansão no centro da cidade onde se torna “acidentalmente” o ajudante “especial” de um milionário tetraplégico. Poderia ter sido escrita por um argumentista inspirado, mas (infelizmente) baseia-se em factos verídicos. O relato de humor e amizade entre estas duas figuras improváveis é sustentado em grande parte por Omar Sy, uma espécie de coelho Duracell com pilhas que nunca mais acabam: ele é o dínamo deste filme que exigiu vários tons em cena numa performance física e mental. Com um desempenho estóico, François Cluzet dispensa apresentações e tem o cuidado de não vitimizar, ainda mais, o seu personagem. Já a realização da dupla Olivier Nakache e Eric Toledano (que também assina o argumento) é ritmada e possui enorme versatilidade, ultrapassando sem hesitações os tempos mortos da narrativa, mesmo nos momentos mais apreensivos de mágoa e sacrifício, onde teve talento e discernimento para descobrir o plano mais subtil para os descrever. A banda sonora com sons familiares é também um convite para entrarmos no filme. A edição em DVD da ZON/ Lusomundo não tem extras. JP

Intouchables Realização: Olivier Nakache, Eric Toledano. Actores: François Cluzet, Omar Sy, Anne Le Ny. 112 MIN. 2011 França

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Piper Perabo em

Agente Dupla No final de Junho, a

propósito da estreia nos Estados Unidos da terceira temporada d´ “Agente Dupla”, Piper Perabo participou numa teleconferência. Recuperamos os melhores momentos sem desvendar muito do que vai ser possível ver no canal FOX a partir de 3 de Setembro. O seu personagem e Auggie recebem novas missões esta temporada. Pode falar-nos de que essa mudança altera toda a dinâmica? Sim, tanto Auggie como eu temos novas funções. E ambos vamos para departamentos mais secretos, mas diferentes. E o escritório para onde vou trabalhar é uma espécie de bunker numa cave e ele está a trabalhar com os grandes poderes da CIA. Agora estamos fisicamente muito distantes. E pelo que acontece nas nossas vidas pessoais, começamos a ver-nos cada vez menos. E conforme avança a temporada, isso provoca toda a espécie de problemas porque começamos a perceber que Andy e Auggie apoiam-se um ao outro de uma forma que acaba por resolver as coisas. E quando eles não estão juntos, tudo se cruza em todo o lado.


televisão Aprecia mais a parte dramática ou a acção? Aprecio ambas. Gosto da representação. É onde está verdadeiramente o meu desejo. Mas gosto da forma como se faz a acção nesta série. É um estilo verdadeiramente Doug Liman, onde corremos e disparamos a sério seguidos por câmaras de mão 5D Canon. E quando filmamos no estrangeiro, não fechamos as ruas a maioria das vezes. Não temos polícias para isso. Apenas avançamos. Todo o mundo começa a invadir a nossa rodagem. E depois estamos a pé. E os rapazes de câmara estão habituados. Ou seja, a acção tem uma grande componente de representação na série pela forma como a filmamos. Portanto, gosto de alguma acção.

Como estão ambas no mesmo canal, será que pode existir um cruzamento entre “Agente Dupla” e “Apanha-me Se Puderes”? Espero que sim. Estive a trocar mensagens com o [protagonista] Matt Bomer. E ele está em Nova Iorque. E eu vivo lá. E continuo a querer voltar a casa para o ver. Seria um cruzamento tão perfeito, embora ainda não tenha visto uma ideia de rascunho. Porque acha que “Agente Dupla” combina tão bem consigo? No início, foi sorte. Não estava a tentar fazer uma série. Mas sempre estive à procura de uma forte protagonista feminina. E quando a série apareceu,

o que realmente gostei na Annie foi ser tão fiel ao seu código moral, mesmo que isso não faça bem parte das regras do jogo. E achei que seria um conflito divertido para representar. E depois senti que partilhava origens semelhantes com os criadores e argumentistas Matt Corman e Chris Ord. E como que tínhamos um sentido de humor parecido, entusiasmávamo-nos com as mesmas coisas. Portanto, senti que os nossos mundos imaginários se cruzavam de muitas formas. Gostamos das mesmas coisas. E acho que isso de alguma forma faz engrenar a série.

Como actriz, é chamada a fazer muitas coisas diferentes. Correr, saltar, falar todo o tipo de línguas. Foi fácil chegar a isso? Não as línguas. Chegámos às 18 línguas faladas pela Annie. E disse aos argumentistas que eles têm de colocar uma espécie de limite pois está a tornar-se um pouco ridículo. Embora algumas línguas se tenham tornado mais fáceis. No início, a Annie não falava quaisquer línguas tonais [em que a mesma palavra pode assumir significados diferentes conforme o tom das suas sílabas]. E agora fala Mandarim. Portanto, as línguas tonais ainda são muito difíceis para mim. De certa forma, consigo lidar com as línguas europeias e o russo. Os argumentistas estavam a dizer que se pudéssemos encontrar uma forma de o justificar, podíamos fazer todo um segmento numa língua estrangeira. Acho isso uma ideia muito emocionante. E não sei em que língua seria. Mas espero que não seja em Mandarim.

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Sangue Fresco – A Quarta Série

Tempo de Bruxas Jorge Pinto

Esta obra carregada de charme e emoções viscerais tem mais uma série vencedora com fios narrativos que sofrem inesperados desenlaces e uma nova ameaça ganha plano central, sejam bem-vindos à temporada das bruxas. O ADN do puro sangue

A fogueira do ódio

Emo Eric

A quarta temporada de Sangue Fresco/True Blood continua a desenvolver a mitologia de uma série que fascina milhões de espectadores em todo mundo. A adaptação de Alan Ball da saga literária de Charlaine Harris alcançou uma dimensão no pequeno ecrã que ultrapassou largamente o objecto original. Enquanto os “vampiros” no grande ecrã são uma espécie em vias de extinção, fruto de uma saturação, formatação e mesmo infantilização do mito, já a série mantém-se fiel ao seu nome incutindo sangue fresco em cada episódio. Uma brilhante mistura do elemento sobrenatural com a caracterização psicológica dos personagens que está normalmente próxima a laivos de puro disfuncionalismo. O dramatismo raramente está desconectado com o humor, o absurdo, a violência e o sexo das situações em que os personagens se encontram, emocionalmente estas figuras extravagantes são “nossos” semelhantes, uma virtude que toca nos seguidores da série.

Os personagens centrais, na quarta série, encontram um importante teste à sua existência com a chegada de uma força que deseja erradicar os vampiros, e não está interessada em compromissos. No centro da contenda está Marnie (que invoca um espírito, ou melhor, uma bruxa que se prepara para libertar um ódio de 400 anos, após ter sido condenada à fogueira no período da Inquisição espanhola. A força motriz desta ameaça advém das limitações da personagem Marnie (Fiona Shaw), uma mulher de meia-idade que subitamente detém em si o poder e ganha uma amiga centenária em Antonia (Paola Turbay). Ao tornarse difícil a libertação do vício do poder e da influência, Marnie perde o controlo. Esta personagem interpretada por Fiona Shaw, é o ponto alto a nível interpretativo da temporada, as suas capacidades artísticas encarnam alguém que está em pleno crescendo patenteando emoções extremas que variam entre a sofreguidão e o terror insano.

Os acontecimentos desenrolamse cronologicamente um ano após o final da terceira temporada. Sookie (Anna Paquin), reaparece, adquire sensibilidade sobre o seu poder e volta a ser o elemento central com a sua relação com Eric (Alexander Skarsgård). Após um encontro fatídico com uma bruxa descobrimos um lado ternurento e emotivo de Eric, ao voltar ao seu estado primário. A gentileza e a vulnerabilidade são fonte de atracção para Sookie que dispõe um afecto maternal e protectivo sobre Eric, um sentimento que rapidamente se eclipsa em sementes de romance. Bill (Stephen Moyer) assume outro papel, torna-se o novo rei da Louisiana, de sedutor e protector de Sookie tornase calculista e frio distanciando-se do seu verdadeiro amor. O mundo está novamente com medo de vampiros e penetramos no mundo da política e dos publicistas graças à personagem Nan (Jessica Tuck).

Laços Familiares Outros fios narrativos vão compor metropolis nº0.5 agosto 2012


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televisão este tremendo espectro de emoções, entre outros: o drama familiar dos Bellefleur (a adição de V e os fantasmas de Terry); a sina de Jason (Ryan Kwanten) que está preso ao seu desejo sexual; a descendente (dos vampiros), Jessica (Deborah Ann Woll), no equilíbrio entre uma relação verdadeira e os seus desejos de mulher de 17 anos; Sam (Sam Trammell) tenta auxiliar o irmão Tommy (Marshall Allman) a ser um “homem” melhor mas, como diz o senso comum, os leopardos não mudam as suas pintas; o lobisomen Alcide (Joe Manganiello) junta-se novamente a Debbie (Brit Morgan) numa narrativa entre a redenção versus a dependência; e a bruxaria, a par de Marnie /Antonia, tem no casal Jesus (Kevin Alejandro) e Lafayette (Nelsan Ellis, um dos melhores actores da série) o lado menos sinistro da feitiçaria. A temporada é fértil em possessões o que implicou um esforço extra nas capacidades dos intérpretes, são vários os actores que têm de interpretar outros personagens para além dos seus.

A Produção O Mississípi é um lugar místico para esta série com as suas localizações envolventes (recriadas num estúdio de Los Angeles) que são uma evocação do mistério destas narrativas. Em termos de efeitos especiais esta foi a temporada que deu mais trabalho em pós-produção. Alan Ball e os seus argumentistas investiram profundamente nas histórias e nos detalhes num fantástico trabalho do elenco e de produção.

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televisão A Edição DVD A edição em DVD da Warner/ZON Lusomundo garante uma experiência completa aos espectadores comuns e especialmente aos fãs da série. A qualidade de imagem e som em DVD não tem qualquer tipo de reparos especialmente nas sequências mais mórbidas que têm outra definição e envolvência com o sistema de som dolby digital em 5.1. Dentro dos Episódios é uma opção presente nos doze capítulos da quarta série, é uma contextualização dos acontecimentos efectuado pelos argumentistas e realizadores, em algumas featurette´s revelam-se informações sobre as sequências mais conceptuais. Os Comentários, continua a tradição de locuções de luxo ao longo da temporada. Somos agraciados por seis comentários efectuados pelos principais elementos do elenco, produtores, criadores e realizadores. No episódio 3 Alan Ball afirma, como argumentista, que “a televisão é um melhor sitio para trabalhar do que nos filmes, é mais interessante, complexa e adulta do que os multiplex”. No episódio 4, descobrimos como foi trabalhar com a veterana de Katherine Helmond, actriz de Brazil (1985) de Terry Gilliam, que esteve um dia inteiro a filmar sem hesitações. O comentário do episódio 6 fala de um dos capítulos mais caros de sempre da série. A locução do episódio 9 traz-nos a trivialidade de como um elemento da banda The Roots, um fã da série e amigo de Janina Gavankar (Luna), que conseguiu colocar a sua foto emoldurada no set da casa de Luna; e nos aspectos técnicos, a iluminação e a vantagens de filmar sempre com duas câmaras. No episódio 10, escutamos Fiona Shaw, actriz principal em destaque na 4ª temporada e Lesli Linka Glatter (realizadora) explica o prazer de filmar 300 extras e não ter as filmagens programadas em storyboard deixando assim as cenas exprimirem-se com a naturalidade

do momento.

O retoque final Em True Blood The Final Touches (28´), o criador Alan Ball e os principais membros da sua equipa técnica conversam sobre a importância da pós-produção em TB. Os truques visuais de como expressar em imagens a possessão. O modo operandis da morte de um vampiro com os efeitos sonoros e visuais. Gary Calamar, o supervisor da música, fala sobre o exemplo óbvio do tema de Donovan - Season of the Witch. Nathan Barr, o compositor, explica a utilização de apenas elementos acústicos na série. Scott

Klein, o colorista da série, aborda a evolução visual dando exemplo do que faz com a sua máquina criando o lado assustador, “húmido” e nebulado das sequências nocturnas.

Altos e Baixos Nas menções das cenas favoritas da temporada, a mais referida é a perseguição dos vampiros. Alan Ball refere a violação de Jason pelo grupo das mulheres pantera. A outra menção vai para o erotismo e o onirismo da cena de Sookie e Eric na floresta escandinava, que figura no topo das preferências. A sequência mais complicada foi a filmagem em ecrã verde da terra das Fadas pois não havia conceito por detrás deste cenário. A finalizar dois momentos de pós-produção são explicados ao detalhe, o raio mágico de Sookie e o confronto na linha de um western de Nan, Bill e Eric no episódio 12. metropolis nº0.5 agosto 2012

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para ler

PARA LER Rui Brazuna

Luz e Sombras De Anne Bishop Saída de Emergência

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nne Bishop é uma escritora de fantasia americana que criou para si um nicho literário com as suas elaboradas aventuras plenas de emoção, horror e heroísmo onde as protagonistas são bruxas. Ao contrário do que é comum em muita literatura do género, as bruxas são aqui quase sempre figuras positivas, guardiãs de conhecimento ancestral e defensoras do equilíbrio entre a humanidade e a natureza. Anne Bishop tem o cuidado de retratar a crença Wicca, o verdadeiro nome do que conhecemos por feitiçaria branca, de um modo detalhado e bastante fiel aos ditames e prácticas desta religião. Isso é particularmente notório na trilogia dos Pilares do Mundo da qual este Luz e Sombras é o 2º volume. No mundo de Tir Allain – o mundo das fadas, os seus habitantes perderam o contacto com o mundo mortal e com as suas parentes, as bruxas que foram sistematicamente massacradas por forças malignas. Os Fae ignoraram o destino das bruxas mas ao fazê-lo e ao falharem em protegê-las acabaram também por se condenar a si mesmo a ficaram isolados pois só as bruxas conseguem dominar as forças sobrenaturais que permitem aos Fae atravessar os mundos. Mas agora com o mundo de novo mergulhado num frenesim sanguinário onde as bruxas são novamente perseguidas e assassinadas, o destino de dois mundos está nas mãos de três seres: o Bardo, a Musa e a Ceifeira. Aiden, o Bardo, está decidido a salvar o mundo mesmo que os Fae não queiram saberRui sobre os seus avisos sobre o mal que cresce. Com a Brazuna

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paixão da sua vida, Lyrra, a Musa, os dois partem em busca do único Fae capaz de convencer as suas gentes de que o perigo é real. Uma aventura envolvente e muito sensual, plena de drama, perigo, emoção e personagens e situações inesquecíveis.

John Carter De Edgar Rice Burroughs Saída de Emergência

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dgar Rice Burroughs é conhecido principalmente pela criação de Tarzan, sem dúvida uma das mais memoráveis criações da literatura popular do início do século XX. Mas antes de Tarzan houve John Carter, um ex-soldado da guerra civil que por acaso descobre uma estranha caverna algures em território apache, que de facto é um portal para o planeta vermelho. Em Marte


para ler

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S a n g u e Ardente De Charlaine Harris Saída de Emergência

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Carter descobre que a gravidade do planeta lhe permite grandes saltos e uma força proporcional, porém o planeta que os autóctones conhecem por Barsoom encontra-se dividido entre Tharks, seres verdes com mais de 2 metros e 4 braços e uma raça de humanos de pele vermelha. Aliado aos tharks, Carter vem a conhecer a bela Dejah Thoris, a princesa da cidade-estado de Helium por quem se apaixona e ao lado de quem vive elaboradas peripécias. Esta criação de Burroughs é talvez menos conhecida que Tarzan, especialmente entre nós, no entanto Carter e o mundo moribundo de Barsoom inspiraram gerações consecutivas de autores de ficção-científica e fantasia que fundaram as suas criações no modelo criado por Burroughs. Agora centenário, John Carter chega finalmente a Portugal trazendo consigo a garantia de uma aventura de plena de perigo, emoção romance e humor num mundo de fantasia onde o inesperado está ao virar de cada página.

ste é o décimo primeiro volume das aventuras de Sookie Stackhouse, a simpática e atraente empregada de mesa do mais popular restaurante da pequena cidade de Bon Temps, que além de ser meio fada consegue ler pensamentos e cujo namorado é um vampiro milenar. Nesta aventura a curiosidade e propensão para situações complicadas de Sookie volta a levá-la a viver momentos muito complicados, especialmente quando ela testemunha uma ataque à bomba ao seu lugar de trabalho. As autoridades pensam que o ataque se deve ao facto de Sam Merlotte ser um metamorfo e os seus atacantes um grupo de fundamentalistas aversos a todo o tipo de seres sobre-naturais. Porém Sam e Sookie têm outras suspeitas e decidem seguir o seu instinto. Entretanto Sookie é também confrontada com a suspeita de que o seu namorado, o vampiro Eric Northman conspira com a vampira Pam para ambos assassinarem o seu novo mestre. Para complicar as coisas Sandra Pelt parece ter umas contas para ajustar com ela e o seu tio-avô Dermot e o primo Claude parecem estar demasiado à vontade na casa de Sookie, desde que deixaram o mundo das fadas. Empolgante, imaginativa e bastante sensual a prosa de Charlaine Harris cativa o leitor do primeiro ao último capítulo mergulhando o leitor num mundo fascinante onde o horror, o romance, a acção e o humor se combinam numa fórmula irresistível. metropolis nº0.5 agosto 2012

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Música: Novos Lançamentos

Música: Novos Lançamentos Nuno Galopim*

MAURICE JARRE “Lawrence of Arabia” LP, Legacy Records David Lean procurou para a banda sonora da sua visão sobre Lawrence da Arábia alguém que conseguisse traduzir pela música toda a face enigmática da personagem, a solidão perante a grandiosidade da paisagem do deserto e a força tribal das percussões dos beduínos que com ele lutaram... A resposta chegou na partitura que o francês Maurice Jarre compôs e que lhe deu estatuto imediato entre os grandes da história da música ao serviço do grande ecrã. O tema principal ganhou estatuto de clássico, mas não é o único foco de interesse numa banda sonora que, discretamente, usa electrónicas (em concreto Ondas Martenot) para sublinhar o tom mais misterioso de olhares sobre o deserto. Nova prensagem em vinil devolve assim um clássico à sua forma original.

ALEXANDRE DESPLAT e OUTROS ‘Moonrise Kingdom’ Abkco Records Experiência sobretudo plástica (o que não significa uma diminuição das qualidades do filme), o novo ‘Moonriose Kingdom’ de Wes Anderson tem na música um dos grandes aliados. A partitura original é assinada por Alexandre Desplat, que cria a suite The Heroic Weather – Conditions of The Universe, que mostra um saber na capacidade de servir um quadro narrativo, uma cenografia (o espaço de uma ilha e da meteorologia) sem ceder na afirmação de uma voz autoral. Várias outras peças completam o disco, da música de Britten ou de Françoise Hardy (que marcam inclusivamente presença diegética em sequências determinantes) à de um Hank Williams que ajuda a vincar um tempo e um lugar. Com cereja sobre o bolo quando chegam os créditos finais, ao som de uma variação, ao estilo do Young Person’s Guide to The Orchestra, de Britten, para a suite de Desplat.

JAMES HORNER ‘The Amazing Spider Man’ CD, Sony Classical James Horner é um dos nomes mais célebres ao serviço do cinema mainstream norte-americano, a sua composição expressando sobretudo uma lógica funcional, adaptando-se mais ao filme em que trabalha que a um registo de personalidade mais vincada (como acontece por exemplo num Danny Elfman, que já assinou música para outras vidas do Homem Aranha no grande ecrã). Apesar da competência técnica que lhe devemos reconhecer – e que fica expressa em Young Peter, o momento mais rico em acontecimentos desta banda sonora – a música que apresenta para o reboot O Fantástico Homem Aranha é uma colagem de lugares-comuns (cânticos sonhadores, intensidade de metais para sequências de acção, melodismo simples sob arranjos verbo de encher) que pode agradar aos seus admiradores e entusiastas do filme mas que nada acrescenta à história da música para cinema (nem gera um disco que vibre sem as imagens que esta música serve). *jornalista do DN

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Multi Toques com Know-how Lusitano Como em Portugal se bate o pé à poderosa Microsoft metropolis nº0.5 agosto 2012

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EDIGMA é uma empresa portuguesa que desenvolve e comercializa soluções e produtos interactivos (sob a marca DISPLAX) e implementa projectos na mesma área. É uma empresa multimeios, ou seja, pensa, cria, desenvolve, faz a gestão, instalação e assistência. Recentemente, estive numa conferência (à la TedX) e ouvi atentamente a apresentação dos vários produtos que a empresa tem para oferecer, para além do que pensa vir a produzir num futuro próximo, tudo bem enquadrado com a realidade presente. Aliás, foi através de uma troca de e-mails com um dos sócios, João Fernandes, que obtive anda mais informação para poder facultar neste artigo.

A EDIGMA é uma empresa que se designa por ‘the touch company’. É tudo touchable, moderno, sofisticado, atraente, objectivo. Alguns de nós podem pensar no programa Surface da toda poderosa Microsoft e ainda lembrar o hardware e software usado em séries TV como o NCIS e demais. Estas paredes e mesas todas touch e altamente desejáveis, afinal, existem e, quem diria, até têm um fabricante (ou player) português. A tecnologia que apresentam ao mercado tem várias frentes de acção. Vou enunciar: Displax Moovit e Displax Moovit Wall são soluções ‘gesture recnognition’, ou seja, uma espécie de kinect da Microsoft em que os nossos movimentos corporais são entendidos e traduzidos no ecrã; metropolis nº0.5 agosto 2012

Displax Overlay Multitouch/ Shuttle / Pathfinder são soluções multitoque com tecnologia óptica; Displax Crayon é uma solução de toque simples, ‘single touch’; Mas naquilo que se destacam como pioneiros é na tecnologia multitouch projectada capacitiva, a que dão o nome de Displax Skin Multitouch. Não é difícil entender o conceito. Pensem numa qualquer superfície que desejam transformar em painel de projecção de imagens (não pode ser condutora/metálica) e o que a Edigma faz é uma espécie de película (para quem entende estas coisas é um polímero que contém nanofios) ligada a um controlador, um simples PC com uma simples aplicação e um projector de video. Aplicada a película, qualquer superfície como uma parede, o tampo da mesa, o móvel, o corpo humano, e tantos etc., passam a ser superfícies multitoque. Entendem agora porque fiquei tão fascinado com as potencialidades desta tecnologia portuguesa? Mas para reforçar ainda mais a explicação, imaginem a tecnologia do iPhone e iPad e elevem-na a superfícies de grandes dimensões (30 a 100”); entendem agora? As vantagens não se ficam por aqui. Ao contrário da já mencionada Surface microsoftiana, a Displax é imune à luz ambiente ou artificial. Adapta-se a qualquer forma/design estrutural, consegue criar curvas multitouch, ou seja, reactivas, e procura eliminar as bordas da imagem (moldura


gadgetpolis e cantos sem imagem e por conseguinte inestéticos), está também preparada para o confronto com elementos naturais (água, sujidade, etc) e ainda oferece outro tipo de utilização, uma não directa mas... directa. Passo a explicar. É a única tecnologia que trespassa o material, ou seja, se tivermos uma montra podemos aplicá-la ao interior desta e não ao vidro que está exposto na rua. Conseguimos criar soluções anti actos de vandalismos como as ‘pinturas urbanas’ tão em voga, etc. A própria marca explica “Com o Skin Multitouch, o utilizador nunca toca directamente na tecnologia, o que incrementa enormemente a sua fiabilidade e durabilidade, possibilitando a sua aplicação a contextos de utilização pública, intensiva e outdoor”.

Um dos factores de interesse é o software incluído, o Displax Arena – multitouch platform contém as famosas apps (Facebook, Twitter, News feeds, Imagens, Videos, jogos, web browser, PDFs, etc.) com conteúdos costumizáveis por qualquer pessoa que saiba o que é trabalhar num backoffice básico, directo e intuitivo. São perfeitas e adaptáveis a muitas situações e aplicações (até mesmo se quisermos contratar detectives muito conhecedores deste tipo de experiências na marinha americana ou mesmo no Hawaii Five-O) e perfeitas para eventos, showrooms, museus, reuniões, stands, etc.

O produto tem uma enorme margem de progressão (já oferece 12 multitoques e de forma suave bastante precisa) e apresenta outra enorme vantagem: a embalagem tem um peso total de 5kg!!!

Para além disso, outras questões mais subjectivas (design, aplicações user friendly, capacidade de resposta da assistência, acompanhamento comercial, possibilidade de aplicar em superfícies planas ou curvas, ausência de bezel/moldura à volta do ecrã, entre outras), podem entrar também na equação.

Esta tecnologia multitouch e com inúmeras vantagens, está presente num outro produto do portfólio da EDIGMA e que se denomina DISPLAX Oqtopus.

Vale bem a pena espreitar este mundo português e encontrar novas aplicações para produtos pensados e produzidos por cá.

Esta solução multitoque e multiutilizador é uma mesa com um LED LCD de 47” e um PC incluído numa estrutura com um design muito moderno e apelativo produzida com materiais nobres, resistentes e agradáveis ao toque, como são o alumínio, corian e o vidro temperado.

http://vimeo.com/edigmagroup/oqtopus João Gata www.xadas5.com

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