Intervir no construído:
uma investigação sobre a vila de Cartmel visando instalações temporárias para corridas de cavalo
Intervir no construído:
uma investigação sobre a vila de Cartmel visando instalações temporárias para corridas de cavalo
Cintia Sayuri Sawada orientação Profª Drª Lara Leite Barbosa
Trabalho Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo Novembro 2013
tfg 2013 FAUUSP S達o Paulo, Brasil
Banca examinadora
Lara Leite Barbosa orientadora
Paulo Eduardo Fonseca de Campos fauusp
Tatiana Sakurai fauusp
“Knowledge is spread like pollen in the air, but to make a dense honey, it’s necessary to go straight to the source”
É difícil começar algo que marcará um fim. O encerramento de um ciclo iniciado há 7 anos e que me tornará arquiteta e urbanista. É inevitável fazer uma breve retrospectiva destes anos e vê-los, já, com nostalgia. Este trabalho final de graduação, não se restringe às paredes da FAUUSP, muito menos aos limites da cidade que nasci e cresci. É fruto de sonhos antigos, oportunidades criadas ou surgidas e, sobretudo, de pessoas que fizeram isto se concretizar. Assim, não poderia deixar de iniciá-lo sem primeiro expressar os meus profundos agradecimentos aqueles que, de alguma forma, tornaram o sonho possível. O meu muito obrigada... à minha orientadora, Lara Barbosa, que me trouxe de volta a esperança e o desejo pela arquitetura;
Agradecimentos
to my dear classmates and friends from CiA. Derreck, Dan, Charlie, Claudia, Jenna, Becky, Abdul, Arina, Matt, Tom, Katy, Harry, George, Lauren, and our tutors, Sally Stone, John Lee and Laura Sanderson, not only for receiving me, but also for bringing my works to another level; ao meu chefe, George Mills, por me ensinar grande parte do que hoje sei, além das incontáveis histórias de vida; to Yusuke Ando, whose talent and unconscious contributions were essential and inspiring; às valiosas ajudas inesperadas do André Ferrari e do Guilherme Serra; aos amigos que fiz na FAU, em especial, Kelly Shuhama, André Higa, Lincoln Jyo, Raquel Marechal, Natália Veras, Carol Bianchi, Livia Zaffalon, Sarah Corrêa, Lia Untem e Victor Buck, pelo companheirismo, coolaboração, apoio e incentivo ao longo da minha formação; aos amigos de uma vida: Fernanda Pasotti, Ana Teperdgian, Amanda Zeza e Flávio Isihi; e, finalmente, à minha família, Leyde, Afonso e Letícia, pelo carinho, apoio e exemplos de vida.
Sumário Apresentação 13 Metodologia 17 Parte 1. Cartmel e as corridas de cavalo
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Um pouco sobre a vila 22 Origem do esporte 28 Corridas em Cartmel 34 Parte 2. O que é o projeto
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Não é bem um edifício 40 Cidade instantânea 44 As 7 premissas 48 Partido do projeto 50 Parte 3. Proposição 53 Acesso 54
Por linhas de ônibus permanentes
Por trem Por estradas Estacionamento Aproximação Macrozoneamento 68 Peças 75 Barra 2,80m Barra 0,80m
Ponteira tipo 1
Ponteira tipo 2
Ponteira tipo 3
Ponteira tipo 4
Aplicações 97
Arco de chegada
Portal de entrada
Ponte Brinquedo infantil
Cadeira de sol
Mesas para piquenique
Cobertura para feira
Sanitários
Montagem e desmontagem 151
Armazenamento 155 Ciclo de vida 161 Considerações finais 167 Bibliografia 171
Apresentação
O presente trabalho aborda um tema e um lugar talvez pouco familiares à maioria, mas que se justificam e são reflexo não só de uma trajetória dentro da faculdade de arquitetura, mas também de experiências diversas vividas nestes últimos anos, que se confundem entre pessoal, acadêmica e profissional. A escolha do local se deve a um período de intercâmbio acadêmico para a University of Manchester, em Manchester, na Inglaterra. Lá, os alunos do masters de arquitetura, ou MArch, são divididos em estúdios temáticos, cada um abordando o tema da arquitetura sob uma óptica bem específica. O estúdio cursado, que em na sua totalidade também o chamávamos de college, era o Continuity in Architecture, ou simplesmente, CiA. Este, prezava como ideia inicial a elaboração de uma arquitetura respeitosa ao ambiente já construído partindo de uma minuciosa pesquisa do local, posteriormente resumida num livreto. Assim, busquei elaborar um enunciado que pudesse conciliar as exigências de um trabalho final de graduação às asserções do estúdio.
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Já para a escolha do tema, outro juízo já estava tomado: a escolha da orientadora. Assim, desde o seu aceite em que eu elaborasse um projeto em outro país, tive que buscar um objeto que fosse de encontro à sua área de atuação, e foi assim que se formou o tema das instalações temporárias para as corridas de cavalo de Cartmel. A experiência de projetar num lugar novo, nunca antes visitado, foi um desafio. Ter que aprender a olhar, apreender o máximo de informações possíveis num curto espaço de tempo e em ralas visitas, para então buscar incessantemente informações complementares, foi provavelmente tão interessante quanto, ao final, conhecer e compreender o próprio lugar, o contexto, a sociedade e a história que os envolvem. Assim como é difícil projetar num local onde se parte do zero, sem nenhum conhecimento prévio, em que toda e qualquer informação deve ser construída, é também prazeroso o olhar inspirado de um estranho sobre o novo, e foi isto o que tentei manter para mim ao longo deste ano, e espero que para todos que venham a folhear este trabalho.
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Metodologia
A metodologia utilizada segue basicamente três frentes. A pesquisa baseada em trabalhos acadêmicos, a baseada em vivências e observações e a baseada na prática e nas experimentações. A primeira frente teve como importante fonte de pesquisa a publicação Cartmel | A great building arose, realizada conjuntamente entre os estudantes do Conti-
nuity in Architecture College em 2012, resultado de uma coletânea de pesquisas levantadas sobre o vilarejo. Além disso, também foram de grande valia pesquisas realizadas por colegas da FAU em iniciações científicas, sobretudo associados ao grupo de pesquisa NOAH | Núcleo
Habitat sem Fronteiras, coordenado pela orientadora e que busca soluções de caráter temporário para mitigar problemas sazonais e de interesse público. Por fim, a preciosa contribuição de outros TFGs, com temas nem sempre semelhantes, mas que ajudaram a aclarar como deveria ser a organização e apresentação do trabalho. A segunda deu-se na imersão no assunto, tanto relativo à vila, em visitas de reconhecimento e obtenção de materiais de pesquisa, informações, dados e material gráfico; quanto ao tema das corridas, até então totalmente desconhecido pela autora. Filmes, seriados,
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visitas técnicas ao Jockey Club de São Paulo, participação em eventos, conversas com profissionais da área, observação minuciosa de qualquer fonte que pudesse acrescentar novas informações sobre o tema, agregando prática e familiaridade no tempo mais curto possível. Por fim, a frente relativa à prática e experimentação realizou-se sobretudo no âmbito do design, em modelagens virtuais, prototipagens em pequena escala e mock-ups quando necessário. Também foi necessária a capacitação para manuseio em softwares de modelagem tridimensional, tanto para uso com maquinário de impressão 3D, quanto para simulação da estrutura, que seria muito difícil de outra maneira, seja com cálculos estruturais, seja com modelos físicos. Os recursos empregados neste trabalho se valem basicamente das ferramentas: AutoCad, Rhiceros, RhinoMembrane, V-ray, Photoshop, Illustrator e Indesign.
MANIPULAÇÃO Elaboração concomitante de modelos físicos e virtuais em diversas escalas é importante para antever problemas e não perder as idéias principais e dimensões do projeto. 19
Parte 1 Cartmel e as corridas de cavalo
Um pouco sobre a vila
Cartmel, não diferente de todo o resto da Europa, vem observando sua população se envelhecer, devido a maiores expectativas de vida e cada vez menores índices de natalidade. Tal tendência tem se mostrado ainda mais acentuada nas áreas rurais, em função do pouco interesse despertado nos jovens pelas atividades agrícolas, assim como a escassez de oportunidades em povoados menores e da constante busca da população mais velha por retiros afastados das grandes metrópoles em busca de qualidade de vida. São evidentes as qualidades de Cartmel. A vila de 1.864 habitantes (segundo censo de 2008) possui índices de criminalidade irrelevantes, além de um núcleo histórico pequeno, porém muito bem preservado, graças à rigorosas restrições para construções e intervenções dentro da zona de conservação. O custo de vida, assim como em outras vilas é bem mais baixo se comparado às grandes cidades, e destaca-se, em Cartmel, a proximidade com a natureza. O vilarejo possui diversas trilhas para caminhadas, algumas inclusive, com destino ao parque nacional de Lake District, importante reserva natural do Reino Unido e atrativo turístico da região. O vilarejo também é reconhecido por sua produção de queijos e de
sticky toffee pudding, um tipo de bolo úmido de caramelo, ambos vendidos no comércio local. Outro destacado ponto do roteiro gastronômico da vila é o refinado res-
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LOCALIZAÇÃO Ilha da Grã-Bretanha, divisão política dos condados, as quatro maiores cidades inglesas e Cartmel.
Leeds Manchester
Birmingham
LONDRES
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taurante L’Enclume, detentor de duas estrelas pelo Guia Michelin. O calendário de eventos do povoado é diverso, com destaque para as corridas de cavalo que ocorrem anualmente no hipódromo de Cartmel, e que movimentam radicalmente a economia da região em alguns dias do ano. Por fim, eleito pelos próprios moradores, o priorato de Cartmel, dedicado a St. Mary e St. Michael, detém o papel de símbolo do lugar. Concluída em 1233 e tendo sobrevivido à Dissolução, é uma das poucas catedrais da época ainda em funcionamento, atraindo dezenas de casais interessados em trocar as alianças em frente aos seus imensos vitrais. Tamanhos atributos, inevitavelmente, atraíram diversos forasteiros para a vila. Este novo perfil de moradores constitui-se em grande parte de indivíduos de mais idade, aposentados e de alto poder aquisitivo. Este aumento na procura por habitações na região, aliado a inexorável legislação e restrição à novas construções não fizeram com que a população aumentasse (e esta, mantém-se estável nos últimos 150 anos), mas elevaram consideravelmente o preço dos imóveis, contribuindo para um quadro de gentrificação da região. Outro fator potencializador é a falta de oportunidades de emprego na área rural. Há décadas a economia agropecuária dos países europeus encontra-se em declínio, devido à forte concorrência estrangeira, inclusive GASTRONOMIA De cima para baixo: sticky toffee pudding, queijos da região na loja Cartmel Cheeses, o estrelado L’Enclume do chef Simon Rogan, e o The King’s Arms, um dos pubs da vila. 24
de países como o Brasil. Sendo assim, a principal fonte de renda para Cartmel, ademais das pensões, provém da indústria do turismo. Contudo, esta muito sazonal e predominante nos meses de Verão, quando os dias são mais longos e as temperaturas mais amenas. Não por acaso, quando se concentram a maioria dos eventos promovi-
eventos priorado feira agrícola corridas feira gastronômica feira antiguidades priory tours camping peregrinos
jan
fev
mar
abr
mai
jun
jul
ago
set
out
nov
dez
jan
EVENTOS AO LONGO DO ANO Maior potencial atrativo durante os meses de Verão.
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dos no vilarejo. Sendo assim, configura-se a latente necessidade de se criar fontes de renda mais perenes, capazes de sustentar uma população economicamente ativa no vilarejo, amenizando o processo de envelhecimento da população rural. A saída para tal certamente está na indústria turística, a qual Cartmel já possui uma inclinação, além de diversos atributos originais do local que podem ser explorados. Como resposta à esta questão, serão propostas instalações temporárias para as corridas de cavalo de Cartmel. Apesar se realizarem com sucesso todos os anos, é evidente que um evento desta magnitude deva transbordar à capacidade de acolhimento do local , e que por se realizarem apenas em alguns dias do ano, também não se justifica a construção de mega-infraestruturas para tal.
Cartmel
S. L. do Paraitinga
2 mil
2o mil
11 mil
C. do Jordão
150 mil
44 mil
Barretos
112 mil
habitantes
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visitantes
Como não foi possível visitar o vilarejo durante os dias das corridas, procurou-se levantar a maior quantidade de informações com ênfase na opinião dos próprios visitantes, a partir de comentários em sites de turismo e jornais locais, tentando identificar possíveis carências e identificando características que devam ser respeitadas e mantidas. Também tentou-se projetar possíveis problemas a partir de exemplos próximos e bem conhecidos da autora, como festivais e comemorações, que apresentem o mesmo padrão de atração sazonal de visitantes.
ALÉM DA POPULAÇÃO
250 mil
Número de habitantes versus quantidade de visitantes nos principais eventos anuais de cada cidade.
900 mil
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Origens do esporte
O surgimento das corridas de cavalo como uma atividade de lazer é incerto, mas provavelmente deve ter surgido concomitante ao adestramento dos primeiros cavalos selvagens por povos asiáticos, há cerca de 4.000 anos. Por sua força, obediência, lealdade e amigabilidade tanto com humanos, quanto com outros animais, os cavalos estiveram presentes na história de diversas civilizações, para atividades de caça, de transporte ou até mesmo de guerras. O registro mais antigo que se tem de corridas de cavalos remete à Grécia Antiga. Homero, no seu livro Ilíada, as relata em jogos funerais homenageando Patroclus, morto por Hector durante a Guerra de Tróia. Além disso, a civilização romana também possuía gosto pelo esporte, realizando corridas durante os carnavais romanos. Os mesmos foram mantidos até mesmo durante a Idade Média, onde senhores feudais promoviam disputas entre cavaleiros. Na Inglaterra, as corridas datam do século XII, paralelamente ao nascimento dos primeiros cavalos puro sangue inglês. Esta raça, resultante da miscigenação de garanhões árabes com éguas inglesesas, surge primeiramente com o retorno dos cavaleiros cruzados das batalhas no Oriente, trazendo para a Grã-Bretanha os primeiros exemplares. Ao longo dos 400 anos seguintes, 28
CORRIDAS DE CAVALO Presentes em vários momentos da História e em diversas civilizações.
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muitos cavalos árabes continuaram sendo trazidos à Inglaterra, difundindo a nova raça, reconhecida por combinar velocidade e resistência. Tão logo, o esporte se tornaria uma diversão popular entre a aristocracia local, e tão tradicional à sociedade inglesa, que mesmo tendo sido o país criador do futebol, as corridas de cavalo foram o primeiro esporte a ser regulamentado naquele país. Esta profissionalização da atividade se deu no reinado da Rainha Anne (1702-1714), quando o simples entretenimento começou a atrair muitos apostadores. Hipódromos surgiram por toda a Inglaterra, oferecendo crescentes prêmios em dinheiro no intuito de atrair os melhores cavalos. Com as recompensas cada vez mais altas, a criação e negociação de cavalos para corridas se tornou um negócio muito lucrativo, e novamente foi necessário uma maior regulamentação. Em 1750 a elite do setor formou o Jockey Club, que teria o total controle das competições na Inglaterra. Nem sempre as competições tiveram este formato. Antes, a maoria das corridas envolvia apenas dois cavalos, que disputavam longas distâncias. Gradualmente, o interesse foi migrando para corridas mais rápidas e curtas, e que exigiam mais explosão muscular e cavalos mais jovens. Durante o século XIX, melhoras no sistema de transportes e outras inovações tecnológicas tornaram-nas mais acessíveis ao público geral, sendo assitidas por milhões de pessoas ao ano. A atenção dada pelos jornais às competições também aumentou, e o volume de apostas obteve um grande salto. No século XX, as corridas continuaram com gran-
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CORRIDAS NA INGLATERRA Ao todo, existem hoje 54 corridas regulares em voga distribuídos por todo o território inglês.
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POR UNA CABEZA Seqüência de quadros do filme Seabiscuit - Alma de herói, com o cavalo cruzando a linha de chegada.
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de estima pelos ingleses, sendo um dos únicos esportes a não ser totalmente cessado durante a Segunda Guerra Mundial. No pós-guerra, contudo, as corridas se beneficiaram de muitas inovações tecnológicas, como a foto na linha de chegada (usada pela primeira vez em 1947) e baias de largada para corridas planas (em 1965). Apostas remotas, realizadas a partir de lojas de apostas fora dos hipódromos surgiram em 1961, e aumentaram dramaticamente o volume de dinheiro em transação. A chegada das transmissões de televisão em massa nas décadas de 1950 e 1960 levaram o esporte às casas de toda a nação, e tornaram uma competição regularmente televisionada. Até hoje, corridas de cavalo são o segundo esporte mais transmitido depois do futebol. No começo do século XXI, a presença de visitantes nos hipódromos tem se tornado crescentemente popular. Depois de uma queda durante as décadas de 1970 e 1980, corridas anunciaram a presença de 6 milhões de visitantes em 2004. Ainda que o número tenha voltado a decair após a crise econômica que atingiu a Europa em 2008.
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Corridas em Cartmel
A menção escrita mais antiga sobre as corridas de Cartmel remete ao ano de 1856, apesar de ser quase certa a existência prévia de corridas do tipo na região desde pelo menos meados do século XV, quando monges do priorato próximo se entretinham organizando corridas montados mulas, sem apostadores, naturalmente, mas com certas suspeitas de que houvesse algum tipo de aposta ilegal sobre as mesmas. Os primeiros encontros eram sobre pista plana, mas no começo do século XX a organização mudou as regras e passaram a ser apenas de saltos, que era mais de acordo com o perfil da população local, baseado na agricultura e na caça. Neste momento, a corrida tomou forma em um dia do ano, chamado de Whit Monday (ou Segunda-feira pentecostal), mas em 1947 foi agregado o sábado, e na década de 1960 a reunião de Agosto também foi adicionada. A quarta-feira de Maio extra e quinta-feira em Agosto foram adições recentes. Em 2013 se realizou, pela segunda vez, corridas de dois dias em Julho, no sábado dia 20 e segunda dia 22. Esta será a mais rica instalação na história das corridas de Cartmel, com um total de £125.000 de prêmio, distribuído nos dois dias. As corridas foram suspensas nos anos de guerra, e quase não foram retomadas, se não fosse o empenho de donos de terras locais e da família Pain. Eles foram LOGOTIPO DAS CORRIDAS E HIPÓDROMO DE CARTMEL 34
assistidos por indivíduos de renome no assunto, como
George Dickinson, avô do famoso Michael Dickinson, que foi o primeiro jóquei a ganhar 5 títulos no mesmo ano, em 1983. Até os anos 1960, Cartmel se mantinha como uma competição amadora, com raros jóqueis profissionais nos páreos. Tudo mudou com o esforço de Colonel Davy Pain e seu empregado das corridas, Tim Riley, que impulsionaram as corridas de uma pequena atração divertida de férias para uma respeitável corrida no calendário da National Hunt (a liga de corridas de cavalo inglesa), com participações de cavalos e jóqueis muito estimados. Com o uso da mídia e o oferecimento de instalações aos visitantes, as corridas se expandiram com parque de diversões e barracas de comércio no centro da pista.
HIPÓDROMO DE CARTMEL DURANTE O EVENTO 35
Chegada Largada Vala Poรงa de รกgua Obstรกculo
TRAJETO ATUAL Cartmel tem tradicionalmente uma corrida com obstรกculos, que exige agilidade e destreza de cavalos e jรณqueis.
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O percurso das corridas sempre esteve sobre área pertencente ao Holker Estate, partrimônio da família Cavendish. A participação do conglomerado iniciou-se em 1974, quando Hugh Cavendish se tornou diretor. Seu entusiasmo pela corrida cresceu e culminou quando o Estate comprou a equipe de gerenciamento anterior, em 1998, e desde então a corrida tem prosperado. Com o auxílio e direcionamento da equipe de gerencialmento de Aintree, Cartmel vem prosperando, além de manter as suas características únicas e charme próprio, mas assegurando que corridas de alto padrão sejam realizadas. Apesar de possuir um campo pequeno, a corrida de Cartmel se destaca por possuir 4 furlong de reta final (aproximadamente 800m), a mais longa da Grã-Bretanha. O gramado recebeu novos investimentos e um novo sistema de irrigação foi instalado, para garantir a integridade da pista. Em 2004 a antiga Grandstand (tribuna de honra) foi demolida e outra construída, que oferecendo instalações confortáveis para todos os jóqueis e oficiais, assim como um novo espaço para o restaurante e centro para os visitantes. Esta última construção tem necessitado de mais mudanças e a administração, agora, tem tido mais controle sobre o gerenciamento das corridas e o local como local de reuniões corporativas, e estão dispostos a assegurar o futuro das corridas em Cartmel, que estão na essência preservada de Cartmel. Mesmo não rivalizando com as corridas mais tradicionais como Cheltenham e Aintree, Cartmel atrai relativamente uma enorme multidão, estimada entre 20 e 25 mil visitantes. Números, contudo, que vêm declinando ano a ano devido à crise econômica européia. 37
Parte 2 O que ĂŠ o projeto?
Não é bem um edifício...
Esta foi a expressão utilizada por Sylvia Lavin, professora da UCLA, para se referir ao Metropol Parasol. Assim como este, as instalações temporárias propostas neste trabalho também não são exatamente edifícios. Tampouco objetos guiados totalmente pelo seu pragmatismo. E muito menos artigos esvaziados de sentido e utilidade. São talvez um meio-termo entre a arquitetura, a escultura e o design. Tomando emprestadas as palavras da crítica e historiadora de Arte Rosalind Krauss, se referindo a esculturas, talvez estas instalações temporárias também sejam mais facilmente compreendidas através daquilo que não são. Se para ela escultura é “aquilo em frente ao, ou, no edifício que não é o edifcío, ou inserido na paisagem sem ser a paisagem”, as seguintes instalações são um pouco disto. Tentando entender melhor estes dualismos para daí retirar-se um conceito, a historiadora se utiliza de um diagrama de Klein, originalmente um procedimento matemático, adaptado pelo psicólogo Jean Piaget para se aplicar ao campo das ciências humanas. O diagrama possui em seu núcleo quatro elementos, correlacionados através de algumas operações mentais: duas relações de pura contradição (indicados por uma seta de duplo sentido) e duas relações de contradição por involução, ou seja, pela função inversa dela própria (indicados por duas setas de duplo sentido). A partir deste núcleo,
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DIFÍCIL DE DEFINIR... Metropol Parasol, Sevilha, Espanha. Projeto de J. Mayer H e Arup, que consiste numa gigantesca cobertura de madeira sobre uma praça com um centro comercial e passeio público elevado. Sob este, há também um sítio arqueológico semienterrado.
DIAGRAMA DE KLEIN
local construção
paisagem
arquitetura
local demarcado
complexo
estrutura axionomática
não-paisagem
não-arquitetura
neutro
escultura 41
extrai-se algumas relações de implicação, representadas pelas linhas tracejadas e que são a essência da idéia desenvolvida para o trabalho. As estruturas em questão transitam entre os quatro termos resultantes. Possuem um apelo escultórico, na mesma medida em que a sua exterioridade busca se antagonizar ao local que será construído (conceito que será posteriormente elucidado). Possuem um local previamente estipulado, zoneado e delimitado; e também são estruturas axionomáticas, ou seja, estruturas francas, resultado de experimentações práticas e localizadas na fronteira do conceito de arquitetura. Sob outra perspectiva, talvez algumas das estruturas se aproximem a pavilhões. Não só pelo aspecto geral transparecido, como também pela semelhança do objeto com a etimologia do termo. O vocábulo “pavilhão” provém do francês “pavillon”, que por sua vez, origina-se do latim “papilionem” cujo significado pode tanto ser “borboleta”, quanto, se no latim tardio, “tenda”. Assim,
RECONSTRUÍDO Indo um pouco no contrasenso da idéia de pavilhão efêmero, o Pavilhão da Alemanha projetado por Mies van de Rohe para a Exposição Internacional de 1929 em Barcelona, Espanha, foi reconstruído e hoje é permanentemente exibido como um monumento arquitetônico. 42
intrínsecas nesta palavra, está contida, ainda que sutilmente, a idéia de uma instalação “transiente e inconstante de leve estrutura que transforma onde delicadamente se fixa” (TONETTI, 2012). Ainda nesta linha de pensamento, pavilhões têm sido, tradicionalmente, importantes campos de experimentação formal e tecnológica da arquitetura. Tomando proveito da liberdade de proposição e em prol da criação de uma arquitetura com uma forte carga simbólica, apartando discussões quanto a necessidade ou utilidade latentes. A contribuição destas construções para a arquitetura, no entanto, é indiscutível, bastando lembrar de alguns poucos exemplos, porém marcantes, como o Palácio de Cristal de Joseph Paxton (1851), o Pavilhão da Alemanha de Ludwig Mies van der Rohe, o Pavilhão do Brasil de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer (1939), o Pavilhão da Finlândia de Alvar Aalto (1939), entre tantos outros.
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Cidade instantânea
Outro propósito do projeto é a criação de um núcleo temporário, que traga e concentre atividades pouco usuais, tornando o local mais interessante, ativo, divertido e atraente, tanto ao público local, quanto aos visitantes, predominantemente familiares. Tal proposta pode ser comparada a alguns dos projetos do grupo Archigram, formado pelos arquitetos Warren Chalk, Peter Cook, Dennis Crompton, David Greene, Ron Herron e Michael Webb, radicados em Londres e atuantes entre as décadas de 1960 e 1970. Dentre outros projetos, considerados futuristas por envolver tecnologias nem sempre disponíveis e idéias totalmente fora do padrão, os arquitetos souberam abordar de forma bastante inovadora temas relacionados à mobilidade e à otimização de infraestruturas. Seguindo a mesma veia de projetos como o
Walking City e o Plug-in-City, o Instant City propõe a criação de um “pacote”, o IC Kit, contendo uma série de equipamentos de alta tecnologia para informação, entretenimento e cultura de massa, transportáveis por ar e capazes de levar às pequenas cidades do interior a dinâmica de uma metrópole. O projeto envolve ainda conceitos denominados pelo próprio Peter Cook como hardwa-
re e software, que dizem respeito, respectivamente, ao desenho das construções e dos espaços e, aos efeitos da informação e das programações dos equipamentos trazi44
WALKING CITY Baseia-se num mega edifício robótico, com inteligência artificial própria e estruturas móveis semelhantes às patas de um inseto, capazes de transportar o gigantesco equipamento até onde seus recursos, instalações ou aparatos presentes em seu conteúdo sejam requisitados e pelo tempo necessário.
PLUG-IN-CITY Consiste numa megaestrutura sem construções. Apenas uma armação maciça na qual habitações na forma de células ou componentes padronizados possam ser encaixados.
INSTANT CITY
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dos no ambiente original. Estes, presentes na seqüência de acontecimentos da Instant City como a fase de infiltração, ou seja, o legado deixado pela mesma, representado ao final, pela formação de uma rede de comunicação por telefone fixo ou ondas de rádio, aproximando e interconectando uma comunidade à outra. Apesar de ser desenhada para um local genérico (e com projeto de aplicações nos arredores de Londres, na Califórnia e em Kessel, na Alemanha), a IC também possui uma preocupação com a coleta de informações sobre o itinerário das comunidades em que se instalaria. Avaliando a existência e disponibilidade de equipamentos permanentes na comunidade que possam ser utilizáveis, tais como clubes, rádios locais, universidades etc. Assim, a Instant City não se configura como algo alheio e alienado da cidade, mas sim como algo complementar.
JAMAIS SERÁ A MESMA Seqüência e efeitos numa cidade típica inglesa. Efeitos permanentes. 46
POP CITY Desenho, colagem e maquete, representando a cidade temporรกria. 47
As 7 premissas
Após esta breve reflexão das ideias e conceitos formulados e desejáveis ao projeto, foram estipulados sete diretrizes que nortearam o desenvolvimento do trabalho, dando um foco claro dos objetivos e até onde estes chegariam, impedindo que este perdesse o rumo e voltasse a questionar pontos já definidos, ou então, procurasse respostas para muito além das suas capacidades.
1
Oferecer ao vilarejo instalações temporárias que possam aumentar a infraestrutura de Cartmel por um tempo determinado, a fim de acomodar mais confortavelmente os eventos já tradicionais de lá, assim como promover um uso mais contínuo e intenso nos meses de Verão.
2
A estrutura deve ser prevista para ser usada por cerca de 4 meses ao ano (de Junho a Setembro), período de férias escolares e quando as condições naturais são mais favoráveis a atividades ao ar livre. Ademais, não se pretende instalar algo permanente para não descaracterizar a vila, reconhecidamente pacata e refúgio tranqüilo de idosos.
3
O público alvo é basicamente local e regional, uma vez que Cartmel, apesar de todos os seus atributos, não possui projeção numa esfera nacional. Sendo assim, não há
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necessidade de se ampliar a oferta de alojamentos.
Propõe-se algumas estruturas isoladas, cada uma com sua determinada função, claramente estipulada.
A questão do transporte assim como agilidade na montagem e desmontagem serão secundárias, dado que a
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estrutura ficará montada por um período relativamente longo.
O limite do tamanho das peças deverá ser tal que, ao desmontadas, possam ser armazenadas até a próxima
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temporada dentro dos estábulos de Cartmel.
É desejável que as estruturas possuam certa versatilidade, podendo ser montadas em mais de uma configu-
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ração. Seja ela com o intuito de adaptá-las a demandas crescentes e minguantes, seja para dar uma característica visual que seja marcante e única de uma determinada temporada.
49
Partido do projeto
O partido pretende exaltar a vila medieval, não no sentido de criar algo que se mimetise com a vila. Mas, percebendo o quanto qualidades podem ser intensificadas quando próximas ao seu contraponto, a ideia central do projeto é fazer com que se formem duas cidades: uma, já existente, e outra, a ser criada com a intenção de ser a antítese de sua progenitora.
Vila medieval Tradicional Perene Estático Construções adensadas Ruas definidas, estreitas e tortuosas Construções formadoras de espaços Estruturas robustas Solidez Pedra
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Da mesma forma que percebemos o quanto um lugar é silencioso quando acabamos de sair de um muito barulhento, a intenção de colocar cidades tão diamentralmente opostas lado a lado é aguçar a percepção dos espaços de ambos, tanto da Cartmel consolidada, quanto da cidade fantástica que se forma para as corridas. Enquanto uma é muito antiga e está lá há centenas de anos, a outra é moderna, e em breve não mais existirá. Enquanto uma possui estruturas robustas, pesadas, apoiadas em paredes de alvenaria de pedra; a outra possui estruturas tão leves que nem ao menos se encostam; flutuam e se projetam quase que magicamente ao céu.
Cidade nova Moderno Sazonal Dinâmico Construções isoladas Liberdade de circulação Construções independentes no espaço Estruturas delgadas Fluidez
ANTAGONISMOS COMO PARTIDO DO PROJETO Idéias opostas que quando colocadas lado a lado se exaltam mutuamente.
Aço
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Parte 3 Proposição
Acesso
Tendo em vista o público alvo do evento e as possibilidades de transporte disponíveis na região, imagina-se que a maioria dos visitantes opte por alguma das opções: veículo próprio, ônibus fretados, linhas de ônibus permanentes ou transporte férreo somado a outro modal até a vila. Foram desconsiderados quaisquer possibilidades de transporte aéreo, por fugir ao perfil que se espera do evento e de seus freqüentadores, assim como quaquer alternativa de transporte fluvial, por razão da inaptidão dos cursos d’água locais em comportar navios. Também considerou-se como irrelevante a quantidade de indivíduos que poderiam vir a pé ou de bicicleta.
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55
Por linhas de ônibus permanentes
Cartmel está imersa numa área predominantemente rural. Assim, as linhas permanentes de transporte público são notavelmente escassas. Contudo, nota-se a presença de algumas linhas exclusivas durante o Verão, e que poderiam também ser complementadas se apresentado aumento considerável na demanda.
ÔNIBUS DOUBLE DECK 56
Windermere
Kendal
Millom
Cartmel
Ulverston
Kirkby Lonsdale
Grange-over Sands Cark
Kents Bank
Barrow-inFurness Morecambe Lancaster 0
5
10km
Serviço com pelo menos 1 ônibus a cada 2 horas, mínimo 6 dias/semana Serviço com pelo menos 2 ônibus por dia, 5 dias/semana Serviço com 1 ônibus por dia ou em determinados dias Serviço apenas ou predominantemente no Verão Rios
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Por trem
A vila não possui estação ferroviária própria, porém está rodeada por três bastante próximas: a de Grange-over-Sands, Kents Bank e Cark. Ainda pequeno, porém relativamente maior em relação aos demais, o vilarejo de Grange-over-Sands, é o que possui a rota de ônibus mais freqüênte em direção a Cartmel. O trajeto pode ainda ser feito a pé a partir de qualquer uma das estações, numa caminhada leve a moderada de aproximadamente 40 minutos, passando por belas paisagens ainda que tendo que dividir espaço com os automóveis nas estradas estreitas e cheias de meandros.
PLATAFORMA DA ESTAÇÃO DE GRANDE-OVER-SANDS 58
Windermere
Kendal
Millom
Cartmel
Ulverston
Kirkby Lonsdale
Grange-over Sands Cark
Kents Bank
Barrow-inFurness Morecambe Lancaster 0
5
10km
Linhas de trem e estações ferroviárias Rios
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Por estradas
O acesso rodoviário até Cartmel é simples porém confiável. Não existem rodovias largas ligando-a às cidades vizinhas. As estradas da região são de pista única, sem acostamento, por vezes tortuosas, mas ainda sim, com baixo índice de acidentes. O maior risco ocorre quando há incidência de chuvas fortes ou neve, em que a pista pode ficar escorregadia, mas as incidências são menores ou inexistentes durante o Verão.
MILESTONE Marco de milhas de Cartmel, indicando a direção e distância até os povoados mais próximos. 60
12,5 milhas até Ulverston & A590
6,5 milhas até Newby Bridge & A590
15,1 milhas até Kendal & A590
2,4 milhas até Grange-over-Sands
1,7 millhas até Cark
1,6 milhas até Allithwaite
Estradas Caminhos Trilhas Rios e córregos
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Estacionamento
Caso venham por carro ou algum tipo de veículo coletivo fretado, para evitar que todos os veículos se acumulem nas estreitas vias do vilarejo, e se observando que seria inviável restringir a circulação de veículos dentro da vila, pois não há caminhos alternativos; propõe-se que nos dias mais concorridos se proíba o estacionamento dentro do perímetro histórico, privilegiando a circulação dos pedestres e destinando algumas áreas públicas da comunidade para o estacionamento de automóveis. Seriam convertidos os terrenos das duas escolas do vilarejo, localizados a Leste e próximos dos assentamentos mais recentes e disparsos de Cartmel. Já o pátio da Village Hall, onde funciona a parte administrativa da vila, seria destinado à vagas prioritárias, para deficientes ou idosos, uma vez que é bem próximo do local do evento mas a área é reduzida.
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Áreas de estacionamento Trajeto dos locais de estacionamento até o hipódromo Parada de ônibus Marco de entrada
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Aproximação
A chegada ao hipódromo a partir da parada de ônibus ou dos locais de estacionamento das escolas foi pensada para que, no seu trajeto obrigatório, o visitante já possa se imergir na atmosfera da vila. A medida que adentra nas ruelas, o visitante será capaz de se deparar com alguns pontos marcantes da história e arquitetura do local, destacados no mapa de atrativos históricos. Além disso, é muito provável que estes se delonguem na zona antiga, seja explorando o local, seja percorrendo o comércio da cidade. O protelamento até o local do evento é intencional e desejável pois, tendo em vista o princípio dos contrapontos explicados anteriormente, quanto mais o visitante se acostumar com o ambiente da vila medieval, mais impactante e rica será a experiência da sua chegada.
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Gatehouse Fish slab
ATRATIVOS HISTÓRICOS
66
ta
l ce
Ponte
uz
Cr
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Priorado de Cartmel
Macrozoneamento
O local onde ocorrem as corridas, compreendido basicamente pelo hipódromo de Cartmel possui um terreno de aproximadamente 272.000m2, praticamente plano, gramado e cujas características do terreno se assemelham à maioria do resto do vilarejo. A organização dos usos foi determinada de forma que: Portal de entrada: fosse num ponto estratégico em relação à vila. Área de alimentação: estivesse próximo do local de ingresso. Área para piquenique: vizinha à área de alimentação, tomando vantagem de características naturais do terreno como a presença de um córrego e áreas sombreadas por árvores. Área infantil: localizada ainda na mesma percela Sul do hipódromo, com fácil acesso à área para piquenique, onde provavelmente famílias devam assentar-se num ponto fixo. Área das corridas: destinada à administração do evento e funções necessárias às corridas de cavalo, como guichês de apostas, tribunas, área de estar dos jóqueis e proprietários dos cavalos, espaço para apresentação dos cavalos competidores aos visitantes, frisas para o locutor e zona ao longo da reta de chegada para o público em 68
Esportes
Corridas
Feira
Animais
Infantil
Alimentação
Entrada
Piquenique
0
50
100m
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geral. Aproveitando edificações e infraestrutura já existentes e permanentes. Área dos animais: dedicado tanto aos cavalos de corrida (instalados nos estábulos), quanto aos animais em contato mais próximo do público, para passeios de pôneis ou feira de filhotes. Feira de produtos locais: espaço para exposição e comércio de produtos locais, artesanato, antiguidades etc. Área de esportes: voltada à atividades ao livre que demandem uma vasta área livre. Por isto, localizado na região mais distante do acesso.
70
71
72
COMO SERIA Colagem tentando expressar a din창mica de Cartmel durante o acontecimento. 73
Peรงas
Barra 2,80m
Material: aço inox, imã
Dimensões: 2800mm comprimento 100mm diâmetro externo 90mm diâmetro interno
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77
Barra 0,80m
Material: aço inox, imã
Dimensões: 800mm comprimento 60mm diâmetro externo 50mm diâmetro interno
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79
Ponteira tipo 1
Material: aço inox, imã, mola
Dimensões: vide desenho técnico
Compatível com barras 2,80m
80
81
Vista superior
1cm
Vista lateral 82
1cm
1cm 1cm
Corte
Perspectiva 83
Ponteira tipo 2
Material: aço inox, imã, mola
Dimensões: vide desenho técnico
Compatível com barras 2,80m
84
85
Vista superior
Vista lateral 86
1cm
1cm
1cm
Corte
1cm
Perspectiva 87
Ponteira tipo 3
Material: aço inox, imã, mola
Dimensões: vide desenho técnico
Compatível com barras 0,80m
88
89
Vista superior
1cm
Vista lateral 90
1cm
1cm 1cm
Corte
Perspectiva 91
Ponteira tipo 4
Material: aço inox, imã, mola
Dimensões: vide desenho técnico
Compatível com barras 0,80m
92
93
Vista superior
1cm
Vista lateral 94
1cm
1cm
Corte
1cm
Perspectiva 95
Aplicações
Arco de chegada
Peças necessárias:
98
•
75 barras 2,80m
•
150 ponteiras tipo 1
99
Vista superior
Vista frontal 100
1m 1m
1m
Vista lateral
1m
Perspectiva 101
Portal de entrada
Peças necessárias:
102
•
72 barras 2,80m
•
148 ponteiras tipo 1
•
48 ponteiras tipo 2
103
Vista superior
1m
Vista lateral 104
1m
1m 1m
Vista frontal
Perspectiva 105
Ponte
Peças necessárias:
106
•
20 barras 2,80m
•
14 ponteiras tipo 1
•
8 ponteiras tipo 2
•
2 tabuleiros de ponte
107
Vista superior
1m
Vista lateral 108
1m
1m 1m
Vista frontal
Perspectiva 109
Perspectiva do tabuleiro da ponte 110
111
Brinquedo infantil
Peças necessárias:
112
•
33 barras 2,80m
•
66 ponteiras tipo 1
113
Vista superior
1m
1m
Vista lateral 114
1m
1m
Vista frontal
Perspectiva 115
Cadeira de sol
Peças necessárias:
116
•
33 barras 2,80m
•
22 ponteiras tipo 1
•
10 ponteiras tipo 2
•
2 membranas para cadeira
117
Vista superior
118
Vista lateral
Perspectiva 119
Planificação membrada cadeira de sol 120
121
Mesas para piquenique
Peças necessárias:
122
•
7 barras 0,80m
•
10 ponteiras tipo 3
•
2 ponteiras tipo 4
•
1 tampo de mesa
123
Vista superior
1ocm
Vista lateral 124
10cm
1ocm 10cm
Vista frontal
Perspectiva 125
2820m
m
800mm
126
Tampo da mesa:
Peça única de madeira, painel OSB ou outro material apto para uso externo.
Fixação de sarrafos perimetrais na prancha tanto para diminuir a deformação causada pelos apoios nas extremidades, como também para evitar que o tampo se desloque.
CORTE ESQUEMÁTICO SAFFADOS DE BORDA 127
Cobertura para feira
Peças necessárias (para 1 módulo estrutural):
128
•
24 barras 2,80m
•
24 ponteiras tipo 1
•
12 ponteiras tipo 2
•
1 membrana cobertura
129
Vista superior
1m 1m
Vista lateral 130
1m 1m
Vista frontal
Perspectiva 131
132
Planificação da membrana de cobertura 133
Sanitários
Peças necessárias (cobertura dos sanitários):
134
•
17 barras 2,80m
•
18 ponteiras tipo 1
•
8 ponteiras tipo 2
•
7 membranas sanitário tipo 1
•
1 membrana sanitário tipo 2
135
Vista superior
1m
Vista lateral 136
1m
1m 1m
Corte
Perspectiva 137
1m 1m
Planificação membrana sanitário tipo 1 138
1m 1m
Planificação membrana sanitário tipo 2 139
Vista superior
1m 1m
Vista lateral 140
1m 1m
Corte
Perspectiva 141
Tens천es das membranas: Vista superior
Tens천es das membranas: Perspectiva 142
143
Instalações sanitárias
Para a escolha dos módulos sanitários, considerou-se que como já existe alguma infra-estrutura urbana de água, saneamento e eletricidade, foi descartada a adoção de soluções totalmente independentes destas redes, que seriam exorbitantemente mais custosas. Buscou-se uma solução semi-independente dos recursos locais, visando se aproveitar do abastecimento, mas evitando o pico no uso, o que acarretaria desabastecimento.
Reservatório de água Para o fornecimento da água, propõe-se a utilização de reservatórios de água remotos, se aproveitando do terreno com topografia mais alta presente na gleba vizinha ao hipódromo. Os reservatórios de água móveis seriam abastecidos ao longo de dias, com água da própria rede de abastecimento da vila, garantindo-se apenas de estar completamente cheios antes da maior demanda pelos usuários
Produto: Viniliq Fabricante: Sansuy Descrição: Tanque ou reservatório flexível para armazenamento de água potável ou para uso múltiplo.
144
145
Material: Laminado de PVC reforçado ou lona de PVC com tecido de fios de poliéster de alta tenacidade, material atóxico. Capacidade: de 3 mil a 200 mil litros
Cabines sanitárias Para as cabines, também buscou-se alguma solução já existente. A opção adotada consiste de módulos individuais que já têm instalados uma bacia sanitária convencional, que pode ser dobrada de forma a ov`cupar menos espaço para transporte e armazenamento. Complementares a este, existem módulos com mictórios, lavabos, bombas para ativação dos sistemas hidráulicos. Ademais, o sistema de descarga funciona a base de água e vácuo, semelhando ao usado em aviões, para economizar água e reduzir o volume de dejetos gerados e que são armazenados para posterior remoção.
Produto: Flexiloo First Fabricante: Flexiloo, Jet Materiais: Estrutura metálica, painéis de vedação, bacia sanitária ou mictório ou lavabo Observações: Necessita de fornecimento de energia
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PLANTA SANITÁRIO Cada cobertura é capaz de abrigar 15 cabines e 5 módulos de lavabos.
147
FLEXILOO
148
149
Montagem e desmontagem
A ordem de montagem pode variar caso a caso mas, genericamente, assume-se como melhor a técnica usada por Keneth Snelson que é: uma vez tendo a informação sobre cada ponteira, quais cabos devem se conectar a cada uma e com os cabos já cortados na medida correta, conectar todos às suas ponteiras fazendo uma trama sobre o chão, e então tensionar os cabos encaixando os tubos. Uma dificuldade surgida e que não encontrei solução nos estudos de Snelson foi como conseguir encaixar (sobretudo as últimas peças), uma vez que cabos de aço não são materiais muito elásticos. Assim, propus uma solução com molas internas e imãs. No bocal de cada barra e no seu equivalente das ponteiras há materiais magnéticos, que possibilitam certa estabilidade ao conjunto enquanto este ainda não esteja em sua forma final, facilitando o processo de montagem. Quanto às molas, estas serão mais importantes nas peças finais, quando seria muito difícil esticar os cabos de aço já tensionados o suficiente para encaixar as peças.
152
153
Armazenamento
O acondicionamento das peças, devidamente desmontadas, durante o restante do ano deverá ser feito nos estábulos de Cartmel, também pertencentes ao Holker State. As cocheiras, novas e em ótimo estado, estão alocadas em terreno vizinho logo em frente à pista de corridas, e são o local perfeito para a função também por só serem utilizadas durante as corridas, ficando vazias e ociosas no período necessário. Apesar de não haver medição precisa dos estábulos existentes, plantas, fotos, vistas aéreas, além de visita a outras instalações do tipo em São Paulo ajudaram a definir melhor o espaço, que não costuma ter grandes variações de dimensões e características.
RECURSOS DIVERSOS Nesta etapa, muitos recursos tiveram que ser usados para se definir uma informação simples (dimensões). Contras de se trabalhar em um terreno remoto. 156
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VISITA Fotos realizadas em visita ao local em Dezembro/2012. 158
1,30m
0,65m
1,60m
PORTA TIPO Foto e medidas referentes aos estรกbulos do Parque da ร gua Branca.
159
Ciclo de vida
Materiais
Para as barras de aço, as ponteiras das barras e os cabos tensionados, se propõe o uso de aço inoxidável. A escolha de tal matéria-prima se deve à sua boa performance tanto relativo aos esforços de tração (dos cabos), quanto de compressão (nas barras), o que possibilitou estruturas mais delgadas e leves. Ademais, são resistentes e não se alteram mesmo com a ação das intempéries. Já as membranas são materiais compósitos, constituídos por um elemento fibroso (tecido) e um revestimento polimérico (resina). O tecido é responsável por dar ao conjunto a sua resistência mecânica, que pode ser maior ou menor, dependendo da escolha das fibras e da trama, normalmente orientada em dois sentidos, mas que pode ser executada em mais. Já a resina possui o encargo de otimizar o desempenho físico protegendo a camada fibrosa dos agentes ambientais (humidade, raios ultravioleta, chuva, vento etc.) e ainda, proporcionando resistência a chama, abrasão e estabilidade dimensional ao tecido. Para o projeto, optou-se pela combinação mais largamente utilizada: a de fibras de poliéster com resina de PVC. Além do menor custo, estas membranas apresentam boa flexibilidade, alta resistência a rasgos e a tração, retardamento das chamas em caso de incêndio e durabilidade de 10 a 15 anos, adequado para uma estrutura sazonal e que poderá ser modificada a cada temporada.
162
Revestimento polimĂŠrico de PVC
Fibra do tecido a base de poliĂŠster (sentido da teia)
Fibra do tecido a base de poliĂŠster (sentido da trama)
163
Reciclagem
A reciclagem das estruturas pode ser avaliada em duas escalas: a do edifcío e a dos componentes. O edificio, tal como proposto, a partir de suas peças padronizadas pode ser reinventado, multiplicado ou simplesmente desmontado e levado a um outro sítio em que seja útil. De acordo com Barbosa (2012, p. 231) “A reciclagem no contexto dos edifícios móveis associa-se à habilidade de desmontar e remontar o edifício diversas vezes, para utilizá-lo em sua forma inicial. Um mesmo edifício, utilizado de diversas maneiras, em diferentes lugares, estende o seu tempo de vida, o que é mais eficiente, sustentável”. Ainda sobre a questão da sustentabilidade a autora descreve “A sustentabilidade é marcada pela ênfase no reuso e na flexibilidade das construções portáteis e relocáveis. Nesse contexto, destacam-se a durabilidade social e tecnológica [...]”. Desta forma, por possuir este caráter versátil a estrutura estende a sua vida útil, na medida em que será um elemento sempre atual e que corresponde exatamente às demandas existentes, não se tornando nem insuficiente nem ocioso. No referente a reciclagem dos materiais, os elementos metálicos podem ser desmontados e reciclados totalmente, uma vez que é da natureza dos metais manter as suas características mesmo após processos como estes. Já para o caso das membranas, a reciclabilidade é 164
bem mais complexa por se tratar de um material misto e intimamente atado, e tampouco biodegradável. Assim, seu destino mais indicado seria o retorno ao fabricante, que deve ser responsável por oferecer um destino adequado quando este já não cumpra mais com as suas funções.
165
Consideraçþes finais
A experiência de se debruçar sobre um lugar não usual para um trabalho de tfg foi interessante. Além das dificuldades já previstas, como a repentina necessidade de informações que eu não teria em mãos (e inclusive do desconhecimento de órgãos ou fontes úteis), a incapacidade de inferir ideias ou convenções que poderiam ser evidentes para um nativo e até mesmo pela barreira da língua, percebi um outro fator complicador: a ausência de outras pessoas com quem pudesse trocar idéias sobre o lugar ou como o projeto poderia se relacionar a este, o que tornou o trabalho de tfg, que é individual, ainda mais solitário. Mas por outro lado, e encantamento pessoal quanto a vila se manteve ao longo do trabalho, e inclusive tomou uma proporção maior do que imaginado inicialmente. Quanto às propostas de instalações temporárias, é evidente que elas possuem falhas e por vezes não estão totalmente resolvidas, mas considerei este, mais um exercício de forma x estrutura, de relacionar o novo ao antigo, de fazer associações e gerar questões menos óbvias, com a liberdade que um trabalho acadêmico permite aos alunos. Também, ao pesquisar mais afundo sobre tensegrities, percebi o quão infinita é a gama de possibilidades a partir desdes elementos tão simplórios (um elemento de tração e um de compressão). Me surpreendeu o fato de não ser uma estrutura amplamente aplicada seja na arquitetura, seja no design, pois é um sistema construtivo válido, sofisticado, versátil e eficiente; e que também não segue algumas regras tão basicas a construtores como a gravidade (é uma estrutura estável por si só, e se mantém na mesma forma, não importa a posição que 168
esteja) e a escala (pois sĂŁo sempre proporcionais), o que, do mesmo modo, nos faz lembrar de uma das premissas da Bauhaus, que nĂŁo importa a escala, a mesma linguagem poderia ser usada, seja um talher, seja um edifĂcio.
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Bibliografia
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173