R.J. XAVIER | O homem que queria ser enterrado num balão
R.J. Xavier
O homem que queria ser enterrado num balão
Edições Círculo de Autores ainda desconhecidos Ano 2013
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De súbito, como se um remoinho se tivesse instalado no centro da aldeia, chegou a companhia de circo que iria armar arraial no largo descampado mesmo junto à Igreja. Era como um voejar de pássaros a pairar sobre as nossas cabeças, alvoraçados e tumultuosos. Em menos de cinco minutos, atraíram quase toda a povoação para a chamada confusa, gritada do megafone de branco escurecido e que ecoava pelas ruelas apertadas. O meu sono era disperso e perdido, como sempre, o sonho, mal distinto e longo. Tão espesso como a resina de alcatrão que lentamente insistia em se aproximar e cobrir as ruas deste ultimo paraíso onde me asilei. Foi quando despertei da confusão, precipitei-me da cama remexida, ao ritmo convulso e imprevisto da revoada que se havia instalado naquela manhã. Vou à janela e corro os estores de finas ripas de madeira. Saio titubeante para a varanda onde o sol parecia brilhar ainda mais e dei conta daquela corrente de gente, arrastados por uma estranha força barulhenta e reluzente, que os atraía, encantados, como se fossem leves aparas de metal ao encontro do seu íman. De dentro da carrinha, uma mão esbranquiçada e ressequida soltava pequenos papéis coloridos em azul, vermelho e verde, arremessados para fora e persuadidos a pairar sobre a aldeia, espalhando-se ao sabor da brisa que soprava, colando-se nas janelas, caindo no pequeno lago mudo, que estremecia quando os sentia, alguns apanhados pelas mãos calejadas dos homens mais velhos e outros pelas crianças alvoraçadas de tanta excitação. Não foi fácil chegar ali. Não foi fácil habituar-me a mim, ao meu quase novo eu. Vivi todo o meu tempo exatamente assim, de terra em terra, a anunciar um qualquer novo produto miraculoso, como um ilusionista, maravilhando as 3
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massas, escondendo nas mangas e nos bolsos toda a verdade da ilusão ou como um acrobata faz ao saltar do cimo de um fio de arame bem esticado lá no alto, sem rede, na certeza de que alguém me segurava as mãos, não me deixando cair. Por vezes, fiz rir às gargalhadas como um palhaço agitando os guizos, triste por dentro … tristíssimo. Vivi sempre com as prioridades traçadas à volta do dinheiro, com metas estabelecidas e objetivos de as alcançar, umas a seguir às outras, no alcance do sucesso, das falsas necessidades do conforto de um bom carro, de uma carreira brilhante ou de um estatuto poderoso e privilegiado. Até que um dia, num quatro de Agosto de um ano qualquer, descobri que respirar é o ato simples que me fazia viver. Reparei assim, sem querer, que o calor do verão quente era tão terno e eterno como o sol que sempre me acompanhou. Nesse dia, ao subir no luxuoso elevador que me elevava até ao sétimo andar do prédio bem situado na cidade onde vivia, naquele seu espelho senti resistência em me reconhecer de perfil. Em particular, só os olhos ainda resistiam, de resto, tudo me parecia pertencer a outro. Ali mesmo decidi retirar as lentes de contato que disfarçavam a miopia daquilo que ainda parecia ser meu e decidi abandoná-las no chão, pois resolvi ver o mundo exatamente como os meus olhos conseguiam ver. Abri a porta de casa, dirigi-me ao quarto e dei de caras com a foto dela. O seu amor deixou rasto, bem sei, mas o seu tempo já havia acabado, para mim cedo demais. Disseram-me que um dia havia de ultrapassar o luto e, quem sabe, recomeçar uma nova relação. Senti uma estúpida vaidade por já não acreditar nessa oferenda. Naquele momento só queria fazer uma mala e ir-me embora dali … para fora.
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Atravessei as províncias, naveguei sobre as águas de brilhos metálicos e só parei quando encontrei aquele clarão alaranjado que estava do outro lado. Agarrado de mãos dadas com a minha mala, caminhei contra o vento que soprava vindo de lá e senti como se estivesse a ser beijado. A minha mãe beijava-me assim … lá num passado, muito distante. Levaram-me os passos que dei até aquele sítio, onde parei junto àquele pequeno coreto. O meu olhar vagou por entre as ruas estreitas e iluminadas pelos últimos raios de sol, que despontavam solenemente por detrás do campanário da pequena Igreja. O silêncio imperava, ouvia o barulho do bater do meu coração … era o suficiente. Havia uma saudade naquilo tudo, poderia até pensar não saber bem de quê mas sei perfeitamente que ali conseguiria descansar, quem sabe encontrar o corpo que um dia pertenceu àqueles olhos mortiços, sem brilho. Naquele momento, ousei perguntar-me quando conseguiria rasgar aquela parte da vida à qual ainda estava amarrado, mas naquela aldeia tudo na vida iria ser diferente. As minhas questões não teriam resposta fácil ou rápida porque nada nada nem ninguém os haveria de responder. Nada mais seria inútil porque tudo seria aproveitado. Sim, com certeza que seria !!!
“” Embora tivesse esperado o contrário, acabei por ser um personagem estranho na aldeia. Dei por mim apático apesar de todos os evidentes esforços por parecer sociável e cordial. Vivia entre os aldeões mas continuei distanciado deles pela recordação de um passado contra o qual concluí ser inútil qualquer vã tentativa de apagar. Pensei que, tal como uma lousa, a poderia apagar para escrever outra história de vida. 5
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As pessoas olhavam para mim com curiosidade, como para um aldeão postiço, não verdadeiro, pouco autêntico, e por isso mesmo, suspeito. Todos os dias voltava do meu passeio quase ao anoitecer e fechava-me em casa. Já há algum tempo que tinha deixado de comer a ultima refeição. Decidi, como Cristo, que a última ceia seria tomada na véspera da minha morte. Deitava-me na cama fria, despojada de lençóis, cansado de não dormir, tentando no entanto passar a noite entorpecido … enfim, até ao dia seguinte. Mas não tardava muito que após o primeiro dormitar, vinha ao de cima algo de extraordinário e que se passava todas as noites. O sonho voltava como um descanso do meu desespero. Tal como os dias, passava-os a cismar, as noites corria-as a sonhar, mutilando a minha alma enquanto me mexia no quarto com uma atormentada e enlouquecedora insistência, como se nessas noites recebesse o fantasma do homem que fora. Ao chegar ali, tive de me desfazer das coisas que até então via como as mais preciosas, entre elas o sabor das recordações boas que guardei. Sim, há quem tenha dito que escolhi o caminho mais fácil: fugir para bem longe … como os cobardes. Deixei para trás a avidez transbordante com que consumia o meu tempo. Renunciei a ser o mesmo falso profeta que todos somos enquanto vivemos aquela vida, larguei as piruetas, qual acrobata que recebia aplausos para depois desaparecer nos bastidores. Abandonei esse circo cínico, próprio de cão, onde eram anunciados feitos espetaculares, quando na verdade era apenas cultura de prato vazio. Quando aqui cheguei, procurei não mais mentir, mas mesmo assim sinto não ver melhoras. Cheguei com o intento de me redefinir, não inventando tudo de novo. Mas não sei se valeu a pena. Não consigo desistir, continuo a dar
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importância a coisas que não a têm. Há dias em que aceito que o tempo passe ao largo, me ignore e esqueça, no entanto … o circo veio despertar-me do sonho. Odeio o circo, aliás, ele chegou para me lembrar que odeio tudo o que me encanta e depois vai embora. Foi assim toda a minha vida, pareceu maravilhar-me como se eu fosse o ator principal de uma peça de teatro sem sequer precisar de ensaios. Nela extasiei-me a chorar, a rir, a viver intensamente a minha existência e depois, ela partiu e a cortina cerrou, a peça terminou sem aplausos. Com isto começou o afastamento, dali para a frente despontou o oposto de tudo o que tinha sentido até então. O sonho virou um pesadelo, a luz apagou-se e tornou-se em trevas, quando antes superava, passei a desistir, se fui um rei, desci a peão, as flores dos jardins foram esmagadas pelos canhões, quando antes era, deixei de ser e, pior que tudo, quando antes ela era tudo e depois passei a ser só … eu. A partir daquele momento, só poderia partir e não valia a pena ter medo … foi o que fiz. Mas pronto, o tempo não mostrou qualquer compaixão, o homem do passado, ressequido, acabou por voltar ao encontro do homem do presente, consumido. À noite, travam batalhas surdas em que o primeiro desejo não é vencer mas sim findar e não terem mais continuação, em que o passado defende a sua bela e disfarçada solidão, o inviolável sentimento de altivez, os seus hábitos de vigor e bem-estar, enquanto o homem de hoje, sem querer ir a lado nenhum, sem querer ter saudades nem de pessoas, sítios ou coisas, tenta esquecer. Esquecer os crimes e os abusos que cometeu contra si mesmo, sem qualquer respeito pela sua existência intrínseca, com uma terrível e inalterável vontade de se libertar do seu homem 7
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interior. Por isso o sonho era um pesadelo, e as voltas eram tantas que o próprio cansaço esgotava a força do meu inimigo invisível. No entanto, veio o circo para me despertar do sono confuso e quando me levantei e vi a balbúrdia, senti que esta vida aqui, com este universo circense não me trazem dias mais claros do que os sonhos me poderiam dar. Descubro, assombrado, que o sonho e a vida são a mesma mistura de luz e sombras, indefinindo o que é ilusão e realidade. Comovi-me ao pensar que alimentei uma tardia e estéril sensação de mudança quando afinal … nada tinha mudado. Também na aldeia se devem ter apercebido que eu era alguém à procura de um outro fundamento, outro que fosse diferente e onde assentasse a minha suposta nova vida. O certo é que me deixaram sozinho no meu tormento, envolto na interminável espera do que haveria de vir, fosse lá o que fosse. No meio daquele vendaval de gente com muitas e novas caras desconhecidas, um homem a caminhar sobre umas andas acercou-se de mim, aqui no alto da minha varanda, entrecortando o zumbido do sol que se ouvia pelas ruas. Numa voz constante e única: - Lembre-se bem. Nove horas da noite. Só hoje. Sem nunca me olhar nos olhos, todo empertigado seguiu, com o casaco berrante apertado até acima por quatro grandes botões de cores diferentes. Não devia tê-lo deixado chegar a mim e entrar assim no meu espaço de conforto, não devia. Mas não pude. Entrou assim, por um assalto, como se não tivesse medo de tropeçar. Não o queria ouvir mas por descuido, a voz dele alcançou-me antes de me recolher para dentro de casa. Agora não há nada a fazer, vou regressar ao circo. 8
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Entrei para o quarto, fechei as portadas, desci os estores mas a grafonola lá fora funcionava sem parar, remota mas definida, com as pessoas emudecidas, sem nada para dizer, porque só então se deram conta de quanto tinham envelhecido desde a ultima vez que ouviram musica e agitação como aquela. Ainda espreitei por entre as ripas finas, na janela, mas só avistei o alecrim sobre o parapeito. Parecia asfixiado pela ofuscante claridade do dia e pelo arfar das pessoas que tentavam acercar-se dos saltimbancos. Por incrível que pareça, a decisão aliviou-me e foi com algum prazer que me imaginei a juntar os eus paralelos de volta ao mundo de onde vim. Como um cego a conduzir o outro, mesmo sem convicção, consegui erguer-me sobre a melancolia e vagueei pelo escasso guarda-roupa na tentativa de encontrar a melhor roupa que tinha para sair. Quando vi aquela camisa de linho amarrotado, lembrei-me dela. De longe chegou uma vontade de chorar sem que a conseguisse controlar. Amaldiçoo-o o tempo por ter-me prometido o esquecimento, traiu-me e, sem querer, dou por mim a recordar o último dia em que a vi. Sentado numa cadeira, com uma janela nas minhas costas. Não valia a pena olhar lá para fora: fazia demasiado escuro. Ela estava a pintar os olhos quase colada ao espelho, como se estivesse à procura de alguma coisa dentro dos olhos, quem sabe dentro de si, por detrás do olhar quebrado. Cada vez que abriam a porta do camarim, uma onda agitada de ruído entrava pela sala e a enchia até ao cimo. Apetecia-me tocar-lhe mas certamente que me iria afastar, a roupa não poderia ser amarrotada e a pintura não poderia borrar-se. Por um pouco quase gritei, sentia uma vontade imensa de desprender a voz e dizer-lhe que não fosse, que ficasse comigo, mesmo sem saber bem
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porquê … quem sabe não fosse apenas a necessidade de dar um grito para afastar a ansiedade com um susto. Por seu lado, ela ensaiava de improviso a voz cantada da ópera em quatro atos com música de Giuseppe Verdi. Naquela noite interpretaria Aida, uma escrava etíope, outrora uma princesa apaixonada por Radamés, um general egípcio. Seria no quarto ato que aconteceria o imponderável. No cimo do templo de Vulcano, Aida iria ao encontro do seu amado, entrando no túmulo para morrer a seu lado. Quis o destino que ao som dos cânticos dos sacerdotes, Aida escorregasse fatalmente e a morte a tivesse enlaçado e levado para longe de mim. No meio do bruaá, olhei os seus olhos desbotados e vítreos, enquadrados numa cara húmida de esforço. O seu corpo ainda estava quente, como uma botija no chão frio. O seu corpo enroscado deixou-me enternecido, vendo-a mais linda quanto mais distante ficava de mim. Apesar do barulho, sabia que a sua respiração havia cessado, que as suas luzes se tinham apagado aos poucos. Enquanto a multidão se mexia frenética e melindrada, percebi que ela iria estar indefinidamente ausente. Era tarde … muito tarde. Restoume apenas galgar a extensão do espaço que separava os nossos físicos e esperar que as nossas almas restassem ligadas. Agarrei no seu corpo como um embrulho frágil e levei-a para longe de um Radamés impressionado, um faraó intrépido, curvado num lamento silencioso. As flautas e as trompetes tinham-se calado ainda o quarto ato não tinha terminado. Ao terceiro dia após a sua partida, tinha chovido tanto que o quintal estava inundado. O céu e o mar eram uma só coisa tingida de cinzento e foi naquele cenário que pensei recompor-me e continuar o meu destino. Não pensava eu
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mais tarde abandonar a profissão, querer esquecer o meu nome e mudar de cidade. Mal imaginava eu que é possível ter estupidamente saudades de tudo, mesmo do que não é nada bom.
“” O meu problema com o regresso ao passado, é que não sabia se me apetecia voltar a encontrar todas as personagens que um dia encarnei e com quem convivi. Temia um embaraço de revisitar o que fui noutra vida. Na porta principal: um homem de aspeto suntuoso, bigode atrevidamente enrolado, gritava com pomba e circunstância: - Senhoras e senhores, crianças de todas as idades, bemvindos ao maior espetáculo da Terra! Aquelas palavras marcavam o início de um emocionante espetáculo de animais, palhaços e acrobatas. Por seu turno, o Palhaço gargalhava num riso de tormenta, desengonçado e nervoso, estrilhava para quem passava: “entrem, entrem … que não custa nada. Para pagar só no fim!” Com grande probabilidade encontraria ali um engolidor de espadas … quem nunca teve que engolir, nem que seja uma vez na vida, as palavras cruéis que deixou de dizer?!! Até uma mulher barbada havia naquele lugar, os anões, um gigante e outras pessoas com características físicas incomuns, tais como nós, que por vezes usamos, impunes, uns nomes rudes para nos referirmos a eles, uns carecas, outros marrecos, os pretos, os gordos, os trinca-espinhas. Não posso ignorar que viver com pessoas que eram diferentes foi uma boa experiencia para mim. De facto a vida é mesmo um circo, uns vivem nos bastidores, outros atuam, os restantes 11
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assistem. Rondei o arraial ponderando seriamente antes de entrar. Passaram-se tantas coisas desde a última vez. Só o tempo que precisaria para explicar a diferença entre o que é viver e o que foi viver, me fazia desistir antes de começar a pensar. Como cogumelos, o espaço era entrecortado pelos roulottes onde se escondiam os camarins dos artistas, como fossem candeeiros de desenhos coloridos a iluminarem a noite. Caminhava por entre os arreios que seguravam as cordas esticadas e presas a estacas verticais enterradas no chão. Era assim que a tenda se erguia até ao alto, preparada por todos, em suposta equipa, antecipando o espetáculo da noite, apenas para divertir as pessoas, nunca por causa do seu dinheiro. Mas hoje sei que não era bem assim, por mais espetáculo que fosse dado lá dentro, os malabarismos também seriam feitos cá fora, o mesmo para quem gostava de balançar no trapézio ou andar na corda bamba. Quem em tempo algum jamais atravessou o desfiladeiro da vida nessa corda? Quem nunca sentiu que lá em abaixo estaria o abismo que sempre nos atrai o olhar, e em cima o céu. Muitas das vezes pensei que olhando para o alto, estaria como que num sonho, e ele até podia estar belíssimo, muito azul, com um Sol radiante ou repleto de estrelas. Noutro tempo diria que não devemos olhar para o Céu, por que de tão belo ele faznos esquecer que precisamos manter o equilíbrio e os nossos pés bem firmes na corda. O único sítio para o qual devemos olhar é em frente. Hoje, bem … olhar em frente foi o que fiz, quando no horizonte procurei a inspiração que me trouxe aqui. Adorei o momento de quando cá cheguei. O sol a queimar as oliveiras, as noites maravilhosamente longas onde podia ficar oculto por altas árvores do passado. Mas o circo veio, a festa iria chegar ao auge, com aquela música intemporal, tocada bem alto, bem marcante. Os camponeses 12
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bêbados iriam dançar para não desperdiçar a música gratuita enquanto o espectáculo não começasse. Sentia uma relutante fascinação ao ver a populaça reunida, batendo palmas, assobiando, sorrindo. Via que era uma alegria genuína. Até um fotógrafo, com uma antiga máqina Kapsa “Pinta vermelha”, tirava retratos noturnos às famílias. Parecia uma caixa de abelhas que desenhavam a pose sem precisar de um flash. Enquanto isso eu ia rondando o arraial, contrastando o meu aspeto lúgubre com o brilho das luzes. Dou por mim a retornar à candura da minha infância. Ah … como sinto falta da minha avó, que me acariciava a cabeça e me ajudava a acalmar. A avó tinha mais tempo, não tinha pressa de chegar a lado nenhum. Os tempos eram outros. Acabo por sorrir ao lembrar o que me dizia depois de um tombo: - O que se passa? Anda, não chores mais, lava-te com água das malvas para te recompores. Sigo em frente, não fazia a mínima ideia para onde ia, mas sentia que não conseguia parar, que tinha de continuar a dar voltas por ali até que me decidisse a entrar.
“” Após uma batalha travada em lado nenhum, não sei bem se entre o ser e o não ser, ou naquilo que fui e agora sou. Na verdade, foi quando já voltava atrás, decidido a entrar, a brisa trouxe-me um rufar silencioso bem lá no fundo. Vislumbrei um clarão de sombras escuras, uma silhueta arredondada espelhada no horizonte breu e sumido, como um mistério a anunciar a sua presença. Acelerei o passo, não queria voltar atrás. Era uma pena não poder ver o que era aquilo. As noites que tenho passado têm sido insuportáveis, o circo
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chegou para me mostrar que provavelmente há outro caminho. Quando chego à entrada principal, as crianças pulavam impacientes, como que a exigirem que queriam o circo todo a que têm direito: sedução, fantasia, tempo. As mulheres, de olhares discretos, pediam um romance longo, queriam intimidade. Afinal, todos queriam exactamente o mesmo, qualquer coisa para aquecer o coração, com ou sem ilusão. Qualquer coisa que lhes tornasse os dias menos frios à luz do dia e as noites menos abandonadas. Não pude resistir à tentação de me deslumbrar ao passar aquela portinha arredondada no cimo e percorrer aquele túnel entrando por fim naquele recinto coberto de lonas coloridas. Mais uma vez, lá estavam os “grandes artistas” e partenaires. As atracções do circo são admiravelmente perenes: hoje como sempre, soava igual a estonteante “orquestra” com trompas de varas, saxofones, rufares e passos dobles. Uma garbosa apresentadora de sotaque irreconhecível espartilhada em rendas e cetins anunciou o primeiro número, um elefante magricela que nos fazia vénias e salamaleques vendido por dois amendoins. A seguir vieram as focas que batiam palmas com uma bola suspensa no focinho. As crianças estavam contagiadas pela magia do inevitável palhaço rico, vestido de lantejoulas e chapéu de bico, os musculados trapezistas em collants arriscando a vida sobre a rede e a mulher acrobata contorcendo-se sensual sobre um grande arco e deixando os homens a salivar. Assim se construíam as memórias dos seus filhos, assim retrocedi para de onde fugi. Por entre flashes e clarões de memória fui vendo o seu rosto, o seu olhar no fundo dos meus olhos, misturados com as lindas trapezistas que tanto me faziam lembrar dela, balançando nas cordas, fazendo malabarismos
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no trapézio. O palhaço ia fazendo piadas e punha a plateia às gargalhadas, no entanto, outro flash, uma sombra arredondada mais negra que o negro. Já não sabia se estaria a sonhar, deitado no quarto nu de emoção, a remexer-me por entre o frio noturno, no mesmo confronto de sempre, estéril, sem sentido. Mas até aos flashes, o sonho não diferia minimamente da realidade. Palavra por palavra, gesto por gesto, todos os acontecimentos pareciam reais. Senti-me dividido em dois. O circo não podia ser um sonho, não, ele era a realidade. Era o passado, ou o presente, não sei bem. Os aplausos do público ecoavam na minha cabeça, ao som dos rugidos dos leões e das cornetas sopradas sem tom. Sem concessões, os clarões iam enegrecendo a minha mente e dei por mim a vislumbrar novamente a sombra boleada, sem ângulos, a tingir a penumbra da noite. Mas que coisa mais bela seria aquela? Era silhueta misteriosa que vira lá fora. Levantei-me como se tivesse uma mola metálica que imprimiu o meu movimento para cima. As pessoas atrás desviam o olhar, de olhares incomodados, eu era um estorvo ali. Resolvi sair, estou farto desta loucura. Não sei como, mas quando dei por mim já estava lá fora, no abandono das gentes, copos de plástico e papeis a rolar pelo chão, uma brisa forte, quase ventania, fazia as árvores balouçarem mais do que o normal. Só restava eu e o meu destino. Caminhei por entre os destroços da noite, convivendo com a escuridão até quase sumir a visão do capacete de luz ténue da aldeia iluminada pelo circo. Estava quase lá. A Sombra gigante por vezes agitava-se muito ao de leve, soltando uns ruídos ásperos numa melodia de tédio. Aproximei-me devagar, sem ruído, … reconheci, surpreso, um balão, um enorme balão
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de ar quente que ser erguia e se mexia num eterno balanço lá no alto, ao sabor do vento. Descobri que o bulício que se ouvia era o ranger das cordas que o amarravam ao solo. Ao longe parecia uma cantiga triste, um balão a chorar por estar aprisionado num campo escuro, desejoso por se aventurar. Sentei-me de frente para o seu cesto, feito em vime entrelaçado e colorido, como os cestos da fruta. Era quadrado, como lo-shu, um quadrado interpretado como uma revelação da geometria secreta do universo e que está por trás de todas as coisas. Acreditei que estaria reservado para mim um mapa de quadrado mágico e que haveria de me levar ao momento que sempre procurei. Do cesto saíam dúzias de cabos de aço esticados, de onde se suspendia o balão. Por cima, ao meio, mesmo por baixo da abertura do balão, via-se uma luz em chama azulada, tremeluzente sem cessar como que a dizer que era ela a força vigorosa que alimentava o balão e o deixava lá no cimo. Um aroma adocicado provinha de lá, transportado graciosamente pela brisa até mim. Senti uma quietude inimaginável, uma cumplicidade, como se um novo tempo estivesse a chegar. Não sei bem quanto tempo ali passei, a ruminar, embrulhado na penumbra, enquanto a noite me ia enganando a memória e os delírios reprimidos que lutavam por sair. Entretanto a madrugada foi chegando, lá longe a aldeia estava adormecida, mais tarde a tenda do circo seria desfeita e depois, desaparecia, deixando nos corações das crianças a angústia de um vago carinho que não volta mais. O silêncio ensurdecedor e frio foi rompido por uma voz de Deus embriagado, grave, com uma força igual à imensa dor que tinha sentido. Parecia uma voz de consciência, mas eu não estava nem sequer a sonhar … não podia.
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- Conheço-te desde pequenino – Disse murmurando. Nisto sentou-se a meu lado, afastando de mim a solidão. Torcia as mãos uma na outra, uma e outra vez até não me fazer mais diferença. - Quem és tu? – Perguntei enquanto o via a tirar do bolso um quadrado, mais um. - Nunca ouviste falar de Téon de Esmirna? – Retorquiu na sua voz arrastada. - Não conheço. E o que é esse quadrado? - Este já tem seguramente mil e novecentos anos – dizia enquanto o rolava entre os dedos. Havia qualquer coisa nele de comum, não sei bem o quê. A pouca luminosidade da madrugada permitia que ele ficasse indefinidamente anónimo. Tinha um rosto com traços de índio, uma cor de pele opala, curtida pelo sol e por muito vento. - Conheço-te desde pequenino – repetiu – Contigo, tudo foi sempre incerto. Por isso não posso dizer que tenha ficado surpreendido. Como não me respondeu sobre o que era o quadrado, resolvi insistir: - O que significa esse quadrado com outros quadrados lá dentro? - São dezasseis quadrados ao todo dentro de um quadrado maior – Explicou - A ordem deste quadrado é definida pelo seu número de linhas ou colunas. Neste caso, serve para orientar. - Orientar? – perguntei confuso. - Sim, ajudar a reconhecer o lugar em que se está e a dirigir 17
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para um novo caminho. - Certo, um quadrado mágico – disse sorrindo. - Isso mesmo, um quadrado mágico. Olhei para ele, aflito. Certamente que o sonho prevalecia, eu não poderia estar acordado. Fiquei ofegante, enquanto sentia a minha respiração a ir e vir. Senti-me ligeiramente ridículo, ali sentado de frente para um balão de ar quente, a falar com um velho estranho a segurar um quadrado … mágico! Certamente que o meu subconsciente adotou uma transformação de ultima hora que não passava de um novo capítulo de conversação comigo mesmo. Esfreguei com força o meu cabelo revolto, com a mesma apatia silenciosa e dolorida de sempre, resolvi romper os diques da minha tolerância. - Eu sei que isto é mais um estupido sonho. Eu sei que não sou eu a falar. Não tenho vergonha nenhuma. Não está aqui ninguém. Certamente sou eu e mais eu, deitado, num quarto escuro, frio, a cheirar a suor. - Não interessa se estás a sonhar. Não deixes a emoção confundir as razões. Tens de continuar, mesmo que avistes uma ponte estreita e insegura. Este é o momento – replicou o homem. Estas palavras saíram-lhe de uma forma tão natural, revelando, muito claramente uma inquestionável vontade de me mostrar alguma coisa. - Já não consigo ter mais prazer. Estou exausto – suspirei. - Ainda bem que admites. Deus do céu – Disse ele – deste mesmo cabo de ti meu rapaz. Não foi? - Talvez sim – respondi com a cabeça reclinada para as
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estrelas – eu não sabia que iria ser assim. Fechei os olhos. Só se ouviam os barulhos do restolhar das árvores e a melancolia das cordas a ranger. As pernas tremiam-me, estava a ficar com uma crescente dificuldade em as controlar. Pedi-lhe para segurar no quadrado. Talvez assim soubesse que não era real. Ele deu-mo para a mão, sem resistência. Era de prata, não tenho a certeza. Os quadrados mais pequenos sulcados por dentro do maior, tinham cada um o seu número, diferente de todos os outros. Os números pareciam-se com os nossos mas desenhados de forma diferente. - Fiz de tudo para ultrapassar esta dor. Não consegui faze-lo. - Pois, quando penso em ti, é pensar em matérias altamente combustíveis, não? É que tens de entender, se andas por aí com uma carga explosiva no cérebro, era bem provável que, mais tarde ou mais cedo, rebentasses contigo. - O mal é que passei a existir só, comigo próprio e não tenho forma de repartir esta crueldade que me corrói. - Tenho pena. Muita pena – lamentou a figura. - Sinto-me esfarrapado. O que me vale é que no meio do sonho e da realidade, o meu presente é vivido com a convicção de que nada na minha vida deve ter acontecido, não podia acontecer, quanto mais voltar a acontecer. - Tudo aconteceu – insistiu ele. Se pudesse zangava-me. Zangava-me a sério. Enfurecia-me com aquele velho perverso que me seduziu com a sua voz e o seu quadrado mágico. Conseguisse eu, partia-o em dois. Perdia o juízo e rasgava-lhe a garganta e socava-o, pontapeava-o até fazer aparecer o amor por mim mesmo.
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- Desculpe – pedi como se lhe tivesse confessado os meus pensamentos. - Não faz mal. Sentes-te cansado – perdoou, virando-se para mim. Apesar de uma diminuta, mas perceptível perda de nitidez nos contornos do seu rosto, ao me confrontar nos seus olhos, passei ao de leve por toda a minha vida. A velocidade das visões era tão grande que mal conseguia parar. Tropecei por momentos nas imagens esparsas do meu avô que só conheci em fotografias. Não posso parar, mas ainda vislumbrei o fugaz quadrado que segurava na mão. De repente tudo começava a fazer sentido, aquele homem … alguma coisa tinha que ver com ele. Compreendia que a minha verdadeira vida tinha-se despegado da vida que antes levava e, com o tempo, a distância entre elas foi aumentando e a reconciliação se estava a tornar cada vez mais improvável. Eu sei, não fui quem quis ser, não fiz o que gostava mais do que tudo fazer, não gostava da vida que levaria comigo no dia em que decidisse partir. Talvez seja isso. O que acontece desde sempre e quase sempre a qualquer um. Salvo nos momentos de paixão que vivi com ela, em que tive a tremenda certeza de estar a ser quem realmente era. De repente, tudo ganha um novo sentido. - Há cinco anos atrás comecei a viver fechado como um animal – confessei - Deixei de viver a vida que vivia, intempestivamente. O meu almejado afastamento trouxe-me a mesma solidão que sentia até lá, só que travestida com panos de outras cores. Ontem vivia com cigarros a arder nos dedos, a ser mais um no meio dos outros, num frenesim impessoal, incógnito, ar pesado de cansaço, sem nos olharmos nos olhos, enquanto os carros buzinavam 20
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furiosamente na alucinação da cidade. Hoje, são as horas de olhos agarrados ao teto, são os combates injustos entre o passado e o presente, sem hipótese de reaprender o que quer que seja. Disse-lhe, continuando, que pensava que o passado e o presente seriam diferentes. Confessei que, com a chegada do circo, compreendi que afinal os dois tempos só não eram compatíveis, apesar de serem a continuidade um do outro. Como se excluíam entre si, dilaceravam-me lentamente e estavam a dar cabo de mim. Só depois reparei … é que não há maneira de poupar nenhum dos dois … nem passado nem presente. - Procuraste por algo pensando que sairias de ti – disse. - Descentrei-me, desequilibrei-me … perdi-me. Vivo aflito. - O que queres fazer? Diz. - Sinto-me a começar a perder, um a um, os laços que me ligam a este mundo e me mantêm vivo, me fazem continuar a arrastar por aqui, neste passo decrépito. Estou saturado de viver de supostos alentos, umas vezes estabelecer metas, outras ultrapassá-las, como se quisesse afastar-me não sei bem do quê. Ele subiu o olhar para o Balão que quase não se mexia, preso ao solo pelas cordas e pelo peso dos sacos de areia pendurados no cesto. Acompanhei o seu olhar e mirei igualmente a bola insuflada, desejosa de subir livremente num horizonte qualquer e senti uma vontade imensa de a ter ali a meu lado. Quem sabe subiríamos de mãos dadas, juntos poderíamos voar até às estrelas, naquele balão de ar quente colorido. Vendo as estrelas caírem de cima, a alegria seria tanta. A vida seria tão boa. Chorei então, mas dessa vez de 21
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felicidade, de explosão. Se Deus me ouvisse, pedia-lhe para me transformar num balão, mas ao invés de apenas cheio de ar, que me enchesse dos sentimentos que perdi. Que me transformasse em algo leve e infantil e pudesse flutuar, observando e tentando decifrar os ventos, sem ter sacos de areia que me obrigassem a descer. O que eu queria mesmo era sentir que não tenho raízes. Queria poder ficar com aquele balão e garantir-lhe o menor peso possível … assim subisse ele sem nunca mais pousar. Queria finalmente ser corajoso e encontrar a morte de uma só vez. Se nunca soube o que foi a vida, como poderia saber o que seria o seu fim? Se significasse o fim da agonia, então do que estou à espera? Nisto, o velho deu-me a mão, surpreendentemente quente, aconchegante e vigorosa. - Bom, então podes começar a acreditar. Não há razão para inquietações pois a hora está a chegar. - Que hora? De que está a falar? - A hora de partires no Balão. - Isso quer dizer que … posso morrer e ser enterrado no balão? - Nem todos o querem. Mas tu mereces, a decisão está tomada. - E quando é que vou poder partir? - Quando chegar a hora. Tens de ser paciente. - Tenho então de morrer primeiro, não é? - Pois, mas tens de me prometer que não te suicidas. Ainda vão dizer que és mais um com uma depressão grave e se mata. 22
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- Suicídio … confesso que não tenho parado de pensar nisso, mas não tive coragem. - Não é que seja existencialista – contemplou ele – mas querer morrer e fazê-lo não é a solução permanente para um problema temporário. - Então como faço? – Perguntei ansioso – Não suporto mais viver assim. - Tens que conseguir dormir, pelo menos uma vez. Sim, de facto soava-me bem, soava lindamente. Poder dormir sem o transtorno de me digladiar comigo mesmo uma noite inteira. Poder descansar, adormecer sem o remorso por tudo o que deixei de cometer. O balão balouçava promissor, enrosquei-me diante do seu cesto, de frente à chama ténue mas que, para mim, era tão quente como se fosse uma lareira. Concentrei-me nos sons que vinham das cordas, tão ritmados, como um tique-taque rasgado de emoções, depois … fechei os olhos. Aos poucos fui-me afundando no sono, mas ainda me dei conta de uma ligeira agitação das pessoas a saírem do circo lá bem ao longe, depois do espetáculo ter terminado. Saíam ainda com pipocas para comerem a caminho de casa. Chegavam cansados, mas felizes. E, nesta madrugada, quem sabe eu adormecia pela primeira vez em muitos anos e sonhava em voar naquele céu de lona. “” Quando acordei, aos primeiros raios de luz, não sentia o corpo. Não é que isso me preocupasse, ele não me merecia. Não valia a pena sequer reconhece-lo. O meu corpo era intratável e nunca fomos felizes juntos. Sei pouco sobre a morte, mas muita coisa mudara enquanto estive a dormir. 23
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Muitas e muitas coisas devem ter acontecido desde que senti fechar os olhos pois, de início, nem reparei no horizonte azul esbranquiçado onde me encontrava, sem obstáculos ou impedimentos. Tinha nevado, certamente. Nem frio, nem calor, não sentia nada. Não valia a pena fazer esforço para me levantar pois não só não tinha corpo mas preferia deixarme ficar onde estava, enterrado no cesto de vime de um balão de ar quente. E foi assim que, naquela resplandecente manhã de um dia qualquer, “Ele”, malogrado e eternamente apaixonado por “Ela”, que nunca tinha sabido nada sobre as mulheres e cada vez foi sabendo menos de si próprio, a voltou a encontrar, finalmente. Com ela, reencontrou-se, percebendo quem era a sorte da sua vida. Sem “Ela” não poderia viver. Fim Post scriptum “Ele”, é o homem sem identidade, que pode ter o nome que qualquer um lhe quiser dar, que morreu de desgosto, a provar que o Amor é o grande tema das nossas vidas. Se ele dormia pouco, garanto-vos que sonhou muito mais. Por isso ele escutou muito mais os momentos que os outros raramente escutavam. Por isso ele agonizou também a dor que muitos deixaram de sentir. “Ele”, somos todos nós e é com “Ele” que podemos aprender … a viver.
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