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além caos



além caos Ciro Marchi Moreno Dias Orientador: Luis Antonio Jorge Trabalho Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo

Dezembro de 2018

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agradecimentos

Primeiramente, gostaria de agradecer a todos que fazem desta Faculdade de Arquitetura e Urbanismo ser o que ela é. Sem a vivência cotidiana de ensino, entre professores e amigos, propiciada por este lugar, não seria quem eu sou hoje. Agradeço ao professor Luis Antonio Jorge pela orientação no trabalho e ensinamentos durante o ano. Agradeço à banca do trabalho presente, professsores Angelo Bucci e Eduardo Gurian, acredito que a presença de vocês tem muito a contribuir para a discussão do trabalho. Agradeço à minha família pelo imenso apoio e dedicação. Durante meu trajeto na FAU, tive a sorte de cruzar o caminho de pessoas incríveis. Sou imensamente grato. Agradeço aos amigos e colegas que conheci durante esses anos e que vou levar pra vida. obrigado

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índice

Agradecimentos 7

INTRODUÇÃO: IMAGINAR E PENSAR O FUTURO

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PARTE I: O CAMINHO DA SÍNTESE

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O reconhecimento do território como meio

Horizonte como oportunidade 86

Operações do imaginário

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PARTE II: O DESENHO 111

Do Programa

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Das âncoras visuais

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Dos pontos de acesso

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Além Caos

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Notas Bibliografia

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Introdução imaginar e pensar o futuro

Este trabalho parte de minhas inquietações relacionadas ao tempo do fazer na arquitetura e ao significado da sua produção com o contexto no qual está inserida. Entende-se aqui arquitetura não apenas como produto técnico, mas em seu sentido mais amplo, fruto de uma elaboração formal, que responde a uma demanda social, é reflexo de um contexto cultural e que se relaciona diretamente ao meio natural e urbano. A possibilidade de expandir a discussão sobre o assunto, principalmente quando se trata do contexto do futuro na metrópole brasileira, também me incentivou a produzir conteúdo que aborde esta temática. Define-se como objetivo discutir a relação da produção de arquitetura com a esfera do tempo. Para isso, tomamos como ponto de partida a compreensão do ato basal do ofício, o ato de projetar. Desse modo, a discussão é feita a partir da relação tempo/projeto, passando à chave projeto/futuro. A fim de que o futuro seja compreendido, situamos o presente e voltamos ao passado. Afinal, o hoje já foi o amanhã de outro tempo. A conclusão que surge é síntese de um caminho, é obra de arquitetura em previsão, é projeto.

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O trabalho tem por início o exercício basal do ofício como objeto de reflexão: o ato de projetar, atividade complexa que envolve uma série de tomada de decisões, tanto à priori, quanto durante o seu desenvolvimento e está relacionada ao fazer e ao pensar expressos em um mesmo ato. Partindo da folha em branco que tudo aceita ou da tela preta que tudo permite, projetar como ação tem por objetivo determinar informações representadas graficamente, a fim de que sejam interpretadas em um tempo que não o mesmo daquele da produção. Não nos esqueçamos que projeto não é exclusividade da prática da arquitetura e tem nos seus significados uma pluralidade de sentidos: 1.desejo, intenção de fazer ou realizar (algo) no futuro; plano. 2. descrição escrita e detalhada de um empreendimento a ser realizado; plano, delineamento, esquema. 3.esboço provisório de um texto. 4.esboço ou desenho de trabalho a se realizar; plano. 5.ARQUITETURA: plano geral para a construção de qualquer obra, com plantas, cálculos, descrições, orçamento etc.

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[1] Nuvens e o horizonte. Siena, 2015. Acervo do autor.


No que concerne à arquitetura e ao urbanismo, projetar é uma construção

Podemos fazer um exercício de comparação entre o projetar e o argumentar

que tem como partida a elaboração individual em caráter parcial, como pri-

e vice-versa: inicia-se com condições que são apresentadas, estabelece-se a

meira etapa de outras que se estendem a outros agentes. É dependente da

premissa que se quer provar , traça-se um caminho, e, se validado a partir daí,

elaboração coletiva para conclusão da obra e de que cada um desempenhe sua

tem-se, ao final, o projeto/argumento. Durante este caminho almejamos a

função dentro destre processo. Compreender e saber lidar com os diversos

certeza de modo a construir um cenário que evite riscos dos mais variados

agentes é fruto de experiência que tem início na formação plural e “aberta”

carateres: estruturais, financeiros, estéticos, entre outros. O projeto atua como

no ensino de arquitetura, tendo assim, umas das suas razões de ser. Segundo

forma de controle tanto sobre o fazer quanto sobre o futuro, com o intuito

Takya (2011): “o trabalho do arquiteto é sempre um trabalho em equipe, seja

de fornecer o máximo de informação, a fim de diminuir as incertezas e, se

ele com arquitetos, seja ele com outros profissionais, engenheiros, sociólogos,

possível anular o acaso.4 Porém aceitar as incertezas iniciais e a vulnerabilidade

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economistas, psicólogos, artistas e muitos outros, não um trabalho solitário”

a qual se é exposto a todo momento durante o processo pode ser entendido

, ao mesmo tempo que este é sempre muito difícil, pois “exige um acordo

como um grande trunfo, um fator positivo capaz de gerar “orientação mental

entre os participantes, sem submissão de profissional ou uma ideia pela do

mais importante para uma pessoa criativa [...] A sensação de certeza fecha

outro” . A necessidade em se relacionar com interlocutores de variadas áreas,

os processos de curiosidade e investigação, enquanto a incerteza os abre.”5

apresenta-se como uma das prerrogativas para que a formação do arquiteto

O ritmo da incerteza torna-se positivo e como consequência, temos o resul-

e urbanista não seja um “ensino focado”. Pelo contrário:

tado do projeto/argumentação fixado no tempo. A fixação em uma época

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“a formação humanista e geral [dos arquitetos urbanistas] tem como missão propiciar a concepção de proposições e intervenções a partir da análise, crítica e síntese da interpretação das ideias e das situações vividas pelo homem em sociedade e, particularmente, aquelas imaginadas e experimentadas pela população brasileira.”3

o aproxima da ideia de legado, entendido como objeto contendo conjunto de valores capazes de propor uma reflexão a ser transmitida ao tempo que se segue. As técnicas utilizadas e os materiais empregados funcionam como provas do esforço necessário para tornar real o projeto previsto. Trabalhamos, portanto, com estes argumentos testemunhos no tempo.

Esta formação que abarca aspectos das ciências naturais e das ciências humanas, atrelada às preocupações sociais, políticas e culturais, forma um

Partimos do ponto de vista da encomenda, estabelecemos premissas, reque-

modo de se posicionar perante ao mundo que não perde a sua atualidade na

remos o desenho e atingimos a conclusão da obra, a construção operante.

interlocução com o tempo presente. Este grande aparato de informações sobre

A partir dali, a apropriação pelo uso espaço é testemunho da confirmação

o qual a profissão foi se moldando ao longo de anos tem como alicerce criar

das premissas estabelecidas para a elaboração do projeto e das adaptações

bases de interpretação para que a tomada de decisão dos atos, e portanto, de

necessárias ao longo do percuso de execução. O objetivo em entender a

projeto seja coerente com o tempo em que se situa.

relação do ofício do arquiteto com o tempo busca compreender como se define a relação com a necessidade de previsão que temos inerente à noção

Esta construção coletiva a partir de um acordo entre indivíduos com o objetivo

da ação de projetar. Mais do que prazo, a ação do tempo é entendida como

inicial pré-determinado é também atraente de alguma maneira. É na discussão

parte essencial da formulação da arquitetura. Assumimos a noção do futuro

que as ideias crescem e se desenvolvem, sendo possível ao “pensar”, encontrar

a ser realizado dentro do contexto do projeto, partindo da definição de um

caminhos e ao “fazer”, tornar-se mais coerente.

cronograma capaz de antever os passos e estabelecer a melhor ordem de

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intervenções a fim de que o resultado pretendido seja alcançado, aliando

temos a mínima dúvida, ele não deve ter sido um grande arquiteto, um arquiteto capaz de fazer grandes obras, mas com certeza ele soube reunir o conhecimento da arquitetura de seu tempo com grande precisão, com grande rigor, por isso o seu livro permaneceu durante tanto tempo como um modelo de manual de arquitetura. Portanto, ele também define a atividade do arquiteto como uma parte da ciência, e até recomenda que os arquitetos leiam os livros dos chamados filósofos da natureza.6

fatores de recursos humanos, técnicos e de capitais disponíveis. O controle do tempo é realizado através do cronograma de execução de tarefas dentro do âmbito do projeto e dentro do canteiro de construção e é a partir desse documento que os agentes envolvidos na produção estarão alinhados de modo a não sobrepor a execução de suas funções. Com o objetivo de que sejam entendidos alguns dos caminhos da relação entre tempo e projeto são apresentados neste trabalho informações relacionadas a três abordagens: o entendimento do projetar como “ato de futuro”, as informações pertinentes ao futuro do tempo presente e como o passado imaginava o futuro, o futuro do pretérito.

A partir dessa leitura global da profissão com a comparação entre diferentes épocas, é possível inferir que o trabalho do arquiteto continua o mesmo, isto é, premissa, desenho, construção e apropriação do espaço pelo usuário são prerrogativas que fizeram parte do cotidiano do ofício em qualquer época. Paralelamente, existe uma dimensão associada ao tempo em que se situa

Voltemos às definições do termo projeto. Ao buscarmos pela etimologia, projeto vem da palavra latina projectus derivada do verbo em latim proicere, desígnio para “antes de uma ação”. Este, deriva de “pró-”, que designa precedência, algo que existe antes de qualquer outra coisa no tempo. Projeto também relacionado ao antes do “iacere” antes do “fazer”. Entendido a essa maneira, “projeto” tem significado de preceder a ação. Como aquilo que antevê, preceder garante que há uma ordem de ações que há de ocorrer. Com isso, a ordem define uma cronologia e afirma um tempo que transcorre. Esta natureza ontológica da prática de projeto traz uma perspectiva do ato desvinculada do tempo da prática do arquiteto que não muda à medida que os anos passam, conforme afirma Julio Katinsky, em entrevista concedida à publicação da FAUUSP “Nunca uma profissão permaneceu tão igual a si mesma como a profissão de arquiteto. A profissão de arquiteto há 5.000 anos não muda, é exatamente a mesma coisa.”- ao comentar como o trabalho atual do arquiteto é similar ao de Imhotep, sábio construtor que viveu no Egito a quem a construção da pirâmide do Rei Djozer é atribuída [...] Se nós passamos ao tempo de Augusto, de Otaviano, sobrinho de Júlio Cesar, vamos ver que um arquiteto vai definir a profissão como sendo uma atividade em que se conjuga e se alia a técnica à cultura do seu tempo. Isto está bem nítido no livro do Vitrúvio, nós não

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quando é colocada em destaque a necessidade de se relacionar com as ciências naturais, com a filosofia e, com quanto for possível, aos assuntos que o cerca. A formação generalista, mais uma vez, tem a sua razão em ser, devido à necessidade em apreender o presente, somos obrigados a ser contemporâneos. A todo momento tal concepção de olhar sobre o mundo é colocada à prova no contínuo esforço de junção dos saberes e experiências de variadas áreas em busca de soluções. Neste processo é constante o diálogo com o tempo, como quem a todo momento busca ter controle das variáveis, do aceite da execução da linha, à tinta riscada ou à tinta impressa como a pré-existência da materialização da arquitetura que há por vir, a obra construída. A linha simples, dupla, tracejada, há de ser concretizada em um tempo que não o mesmo do ato em si. Durante o Renascimento, a criação da nova maneira de ler e apresentar o mundo, através da representação da perspectiva, cria uma nova camada na previsão do futuro que há por vir. A perspectiva, como visão que imita o olho humano, permite a construção de uma lógica convincente perante os argumentos do mundo. A construção da perspectiva de Leonardo da Vinci é assertiva enquanto à potência da visão: “A visão se deixa iludir menos do que qualquer outro sentido”. O olho ganha proeminência, sentido como expressão da alma: “É janela do corpo humano, por onde especula e frui a beleza do

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mundo”. Beleza esta expressa nas pinturas e desenhos que, a partir, daquele momento, trazem maior correspondência com a realidade e maior controle sobre ela ao tratar no plano bidimensional os três planos do real. Outro período que é um marco na maneira de controlar a produção através do projeto foi o início da era industrial. No início do século XVIII, o arquiteto se depara com o achatamento considerável do tempo na espera para a produção da obra construída. A pré-fabricação, permitida a partir da evolução e descoberta de materiais aliados à implementação de métodos de produção capitalistas em série, faz com que o que antes demoraria meses a ser construído, fosse executado em algumas semanas. Horas e minutos passam a fazer parte do cotidiano do arquiteto-industrial que passa a se preocupar com cronogramas menores de execução e separação ostensiva de processos de acordo com a função do indivíduo e do local, da produção (fábrica) e da montagem (canteiro). Da mesma maneira que o tempo gasto diminui, a variedade de elementos e a personalização de cada um também.

[2]

“Aparentemente, os planejadores não pensaram que “desde a ideia ao plano, um longo e difícil caminho deve ser superado, mas a trajetória do plano à execução não é menos complexa e a melhor forma de superá-la com garantias é através do exercício do consenso e diálogo entre a administração e os cidadãos” Gerardo Fernández, “Santiago de Compostela, conservación y transformación” 18

A história contemporânea da arquitetura é repleta de situações no qual certezas em fase de projeto se transformaram em problemas de grande porte nas fases de obra e finalização do espaço construído, sendo um campo fértil para discussão. A constatação de Pedro Fiori Arantes em “Arquitetura na era digital-financeira” é de que na perspectiva contemporânea “os novos edifícios são desenhados para circular como se fossem logotectures”, no sentido de logo, como símbolo de identidade e marca. Ele continua e afirma: A sofisticação técnica ostensiva, a diferenciação das superfícies e a exuberância formal passaram a ser requisitos para constituir as imagens arquitetônicas exclusivas, capazes de valorizar os investimentos e, consequentemente, as cidades que os disputam.7

O surgimento e permanência deste tipo de arquitetura espetacular, que requer inovação e a complexidade para que tenha destaque no cenário dos “Star Architects” contemporâneos é fruto da exigência do mercado em criação de símbolos capazes de impulsionar dinâmicas locais ou regionais, chegando a nacionais e mundiais (símbolos-monumentos) levando essa tentativa de

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[2] Cidade da Cultura. Santiago de Compostela, Espanha. Fonte: Eisenman Architecs


controle ao limite e, muitas vezes, ao encontro das falhas. Gera também,

para os arquitetos da atualidade, é essencial que sejam capazes de se expressar

consequências a outros agentes de produção do empreendimento, como

através de símbolos novos.12

mão de obra, empreiteiras e financiadores. Este tipo de arquitetura tem como base além da sua complexidade, o descolamento da realidade, falhando em

A busca por uma nova poética traz as nuances da relação do projeto com o

firmar uma relação de honestidade com a dinâmica local. Isolam-se do meio

tempo, exigindo que entendamos também a relação do arquiteto com o seu

que está inserido e são relegados ao caráter de “ilha”. Um dos exemplos mais

tempo. Em artigo escrito para o portal de arquitetura “Gizmo”, Giocomo Pala

conhecidos é a cidade da Cultura, do arquiteto Peter Eisenman, que teve o

define que todo arquiteto é contemporâneo ao seu tempo, pois esta definição

início da sua construção no ano de 1999 – ainda em andamento, tendo como

é tautológica e “porque vive nele.”Ao assumir isso, o autor destaca o papel

cliente a Fundação da Cultura da Galícia. 8

da tecnologia como fator de influência na produção da arquitetura e como este assunto é tratado de maneira polarizada, entre aqueles que afirmam “ser

Outro edifício que pode ser utilizado como símbolo desta relação entre tempo

‘digitais’ e ‘pós-digitais’, como que divididos em gêneros de arquitetura cada

transcorrido como longa espera e percalços para a finalização das obras, além

um com seu sistema, com linhas pragmáticas e poéticas de modo que ciência

de altos custos, é caso da Cidade das Artes, Christian Portzamparc, no Rio

e tecnologia, no que tem de melhor, são motivadas para satisfazer as necessi-

de Janeiro. Nesta espetacularização da arquitetura temos

dades humanas legítimas. 13 É interessante notar como a presença de linhas de

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“A arquitetura contemporânea hoje vive uma arriscada fusão com a publicidade e a indústria do entretenimento. Tal convergência exige uma expansão da forma arquitetônica até o limite de sua materialidade. Em busca da renda informacional máxima, característica do universo das marcas mundiais, constatamos uma inversão de seus antigos fundamentos construtivos e produtivos, subvertidos por um jogo de volumes e efeitos para além de qualquer regra ou limitação. Aliado às técnicas digitais de projeto e à organização dos canteiros de obra, esse novo fetichismo da forma, análogo à autonomização do poder e da riqueza abstrata no capitalismo contemporâneo, define a nova condição da arquitetura. 10

Ao falar sobre novos caminhos para a arquitetura contemporâna, é de interesse revisitar a visão de Walter Benjamim sobre arte que traz um aspecto que é muitas vezes a afirmação do que vemos atualmente na arquitetura: não temos mais arte em frente aos nossos olhos, apenas reprodução.11 Reprodução dos mesmos procedimentos, das mesmas técnicas, dos mesmos materiais e, por vezes, dos mesmos erros. Então, podemos entender aqui a reprodução não como atividade literal de cópia, porém de repetição de valores traduzidos nas mesmas ponderações em torno de critérios formais e estéticos e soluções técnicas. São símbolos que, como versos que compõem um poema e que,

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força pragmáticas são cruciais na construção das ideias em arquitetura, sendo evidente que “neste sentido, quanto mais a chance de um produto cultural ser eleito como ‘bom’, maiores serão as chances de isso ser reconhecido como valioso ou algo que possa ser comprado ou financiado” , fazendo parte de um sistema que se auto-legitima com a repodução de vinculação de conteúdos que criem valor de significância entre si. Desse modo, o conteúdo criado pré-existente à obra de arquitetura construída a legitima de modo a garantir que as escolhas tenham sido assertivas e a obra, ao final, tenha sido a melhor resposta à demanda inicial. Garantir o sucesso faz com que sejamos reféns de artifícios e ferramentas que nós mesmos utilizamos, uma vez que a tecnologia tem papel fundamental em pautar como fazemos os projetos. Fazemo-nos a pergunta que surge: produzimos o que produzimos porque não queremos falhar, ou porque acreditamos de fato? A tecnologia usada como pretexto de desenvolvimento é um viés utilizado em projetos de reforma urbana que estão sendo construídos atualmente e utilizando a bandeira da “cidade do futuro” como aval de venda para promoção no mercado imobiliário, além de propagandeada como aquela que melhor

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se encaixa ao mundo contemporâneo. Atualmente, existem alguns exemplos de bairros inteiros que estão sendo feitos dentro destes moldes.14 Deixa em dúvida, questões essenciais como a privacidade dos dados de cada usuário e qual o destino será dado à manipulação de tais dados. Tem-se a impressão de que o urbano se mostra ocupado por interesses privados, enquanto o privado se mostra ocupado por interesses “público-privados”, privados, porém empenhados na melhora dos serviços urbanos. Esta relação entre tecnologia e construção do espaço urbano mostra-se cada vez mais uma realidade

“Hoje temos a capacidade de transformar o mundo em um inferno e estamos a caminho de fazê-lo. Mas também, temos a capacidade de fazer exatamente o contrário.” Herbert Marcuse, Cinco conferências

crescente. Acrescenta-se a isso a percepção de que a “arquitetura geralmente é vista em termos futuristas; acredita-se que prédios inovadores sondem e projetem uma realidade imprevista e a qualidade da arquitetura está diretamente associada a seu nível de inovação e singularidade.”15 Fica a sensação de que a promoção destas novas maneiras de organizar o espaço urbano tem de responder a esta demanda crescente por tecnologia. Neste sentido, contribui a noção de que cada vez mais estamos imersos em um mundo que contém tanta informação, tão acessível e racional, porém que parece cada vez mais difícil enxergarmos o que há bem à frente.

Nesta visão obliterada da realidade pelo excesso de informação nos mais variados meios, nos perguntamos, como a arquitetura responde a este contexto. Há se de levar em conta o grande potencial da arquitetura como disciplina capaz de construir narrativas e experiências de imersão no espaço, de maneira democrática, o que vai de acordo com a lógica de inserção do indivíduo na cidade, de modo a se traduzir em construções necessárias, memórias afetivas e noção de pertencimento ao espaço. Nuvens na paisagem e o futuro que se desenha: onde está a paisagem criada

[4]

pelos dados? As nuvens que nos fazem imersos não trazem chuva. Sobre a contemporaneidade, tem-se os desafios da atividade do arquiteto em criar solidez em um mundo cada vez mais volátil, onde a hiper-realidade cria situações de completa absorção, transposição do real e construção do ima=ginário com um sem número de imagens e faz frente à construção artificial da cidade. “Uma cidade é, por definição ‘lenta’, cresce homeopaticamente, e não cirurgicamente, tem tempos fisiológicos longos.”16 Como contraponto à materialialidade das nossas práticas, os objetos arquitetônicos são criados como quem apresenta a imersão no espaço real, como quem busca satisfazer a necessidade desta hiper-realidade, de sentir-se presente. Porém agora, sentir-se no espaço e apenas nele como quem está ali para se fazer reparar, criamos dependência da necessidade de se fazer notar volumes tectônicos e vazios imersivos enquanto construção do espaço. Enfatizando o senso de presença “de estar no espaço” a fim de que tal sensibilidade seja despertada, quase como

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[3] Página anterior. Edifício residencial na China. Documentário. [4] Nascer do Sol exibido em tela, Provincia de Shandong China. Fonte: Gettyimages.


que sendo a arquitetura responsável pela reconexão com o realidade. - Seria o real um “remédio” e a boa arquitetura a possibilidade de nos reconectarmos, de percebermo-nos de novo no “real”? Entendemos o projeto como previsão de um futuro tangível, mas o futuro existe de que maneira e como a arquitetura proposta se relaciona com ele? Relacionamo-nos com o futuro como quem dele precisa, porém, ao mesmo tempo, ignoramos o que ele nos apresenta. Assim, para que o futuro seja compreendido, busca-se compreender como este é apresentado no presente. A estratégia parte de algumas indagações iniciais: quais são os elementos que compõem a formação da visão de futuro? Quais e como são construídas essas visões (por quais meios e de que modo)? De que modo os caminhos que nos levam ao futuro vão de encontro à disciplina da arquitetura? De modo a responder a primeira questão, à parte de questões especulativas, estabelece-se que a composição do que vem a ser o futuro, requer como base inicial a leitura de alguns parâmetros sociais que tem impacto diretamente na produção de arquitetura, como o aumento demográfico. O crescimento populacional tem impacto diretamente no modo de operação da arquitetura, que tem de atender às solicitações de uma maior quantidade de usuários nos sistemas urbanos de infraestrutura, tanto na escala da parcela de terra, o lote, quanto na dimensão urbana, a cidade. Essas “soluções”, [5]

são baseadas, em parte, pela necessidade de responder às demandas que se apresentam devido ao crescimento das populações, gerando mudanças mais quantitativas que qualitativas17. A resposta geralmente é dada como aumento dos números sem prezar pela eficiência ou qualidade dos meios que estão colocados. Segundo informações divulgadas pela Organizações das Nações Unidas (ONU), a população do planeta atualmente é de aproximadamente 7.6 bilhões de habitantes, sendo que seremos 8.6 bilhões em 2030, 9.8 bilhões em 2050, chegando a 11.2 bilhões em 2100.18 Ao consultar dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país terá no ano de 2030 uma

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[5] Novos carros na praça. Fonte: Documentário “Entre Rios”(2011).


população total de 223.126.917 habitantes. O que significa um aumento de aproximadamente 24 milhões de pessoas em relação à população atual. A população cresce até o ano de 2042 atingindo 228,4 milhões e, a partir deste ponto começa a apresentar queda, chegando a 218,2 milhões em 2060, índice similar ao previsto para 2025.19 No caso de São Paulo,o jornalista Calliari, em artigo a respeito de como será a cidade de São Paulo daqui 50 anos, descreve o aumento e o equilíbrio da população: “A demografia diz que a população vai crescer mais um pouco – 800 mil pessoas – e depois estabilizar, em aproximadamente vinte anos. É um dado precioso. Significa que vamos precisar acomodar mais gente nos próximos anos. Depois disso, estaremos num lugar em que as construções novas deverão ser menos importantes do que as pré-existentes. 20

“Digamos que o passado é um outro lugar ou, ainda melhor, o passado é num lugar. No lugar novo o passado não está; é mister encarar o futuro: perplexidade primeiro, mas, em seguida, necessidade de orientação.” Milton Santos, Técnia Espaço tempo então, a entender o que pode ser o espaço urbano e a arquitetura do futuro

Certas projeções especulativas acabam por criar impressões que povoam o

a partir de uma estratégia de olhar para trás. Fazemos uso aqui da noção de

imaginário comum e, em certos cenários, moldar o que se acredita como coe-

“presente histórico” de Benedetto Croce e compartilhada por Lina Bo Bardi:

rente em relação às previsões. A tecnologia surge como agente que pertence

a “leitura de que o juízo histórico é determinado pelo presente, por um sujeito

e cria estas realidades, apresentando interfaces capazes de tornar as fronteiras

que para agir observa a situação contemporânea para a partir desta avaliar

entre o real e o virtual cada vez mais imperceptíveis, aproximando-as da dis-

o passado.”24 Na busca por entender 50 anos à frente, volta-se 50 anos em

solução, à medida que os anos passam. Dessa contínua aproximação entre

direção ao passado. Desse modo, assumimos a temporalidade deste trabalho.

real e virtual, entre a grande quantidade de informação presente nessas duas

O ano atual é 2018 e, portanto, voltemos a 1968, ano referencial para acon-

esferas de “realidade”, temos a impressão de que o mundo tem as distâncias

tecimentos em diversas áreas.

“encurtadas” e que a presença do indivíduo é contínua entre os dois meios. Vivemos em um tempo que está constantemente em busca do presente “ad

O ano é 1968. A década de 1960 assistiu a eventos que podem ser considerados

eternum”. Estar disponível agora é essencial, sendo verdade válida para as

essenciais na formação da cultura, política e economia da nossa atual época.

coisas ou para as pessoas. Nesse percurso, onde a rapidez das trocas é cada

Foi no de 1969 que o homem chegou à Lua. No mesmo ano, aconteceu o

vez maior, o que é passado e o que é futuro parecem se mesclar, em uma

Festival de Woodstock, símbolo da contracultura25 à época. Segundo CHAUÍ,

memória continuamente apagada pela velocidade que as coisas acontecem:

ao comentar sobre este período “Trata-se do 1968 de Paris, da Califórnia e de Nova York, da Itália e da Inglaterra. O movimento estudantil francês, cujo lema foi “é proibido proibir”, se iniciou contra a repressão sexual na Universidade de Nanterre e, ao se espalhar, ergueu-se contra toda forma de autoridade; o estadunidense, ergueu-se contra a guerra do Vietnã, a repressão sexual, a discriminação e a violência contra as mulheres e a entrada dos jovens universitários no mercado de trabalho capitalista;”26

“Há um vínculo secreto entre a vagarosidade e a memória, entre a rapidez e o esquecimento [...] o grau de lentidão é diretamente proporcional à intensidade da memória: o grau de velocidade é diretamente proporcional à intensidade do esquecimento”21

Os vínculos entre memória, velocidade e tecnologia são desafios que continuam a estar na agenda da produção de arquitetura no futuro. Começamos

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A chegada do homem à Lua em 1969, o Festival de Woodstock em 1970, o choque do petróleo em 1973. Eventos paradigmáticos na transição da década de 1960 para a década de 1970 que mudaram a maneira de pensar, agir e imaginar quais seriam os caminhos futuros. Naqueles anos ocorrerm as mudanças do entendimento dos impactos das atividades industriais no ambiente e na sociedade, fazendo surgir de pesquisas novas soluções para métodos de produção e novos materias. Os altos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento, aliado aos esforços da Guerra Fria, desenvolveram materiais específicos como os compósitos, fibra de carbono, plásticos, etc. Este processo teve reverberação no campo da arquitetura e urbanismo tanto relacionada à aplicação do que fora descoberto quanto nas preocupações voltadas às causas ambientais, como a poluição do ar e das águas, o destino dos resíduos e a de materiais nos processos de construção civil. A cidade torna-se também, ponto de interesse das discussões nesta nova perspectiva através de teorias e modelos de ocupação do espaço urbano que passavam de pequenas estratégias a grandes planos visionários que tangenciavam mais o campo do imaginário que o da realidade. Buscavam soluções através de uma ótica otimista e sonhadora alimentadas pelo espírito li bertário daqueles anos, criando teorias, conceitos elementares, representações das mais diversas maneiras (ilustrações, fotos, vídeos) a fim de demonstrar os ideias. Dentre estes grupos estavam Yona Friedman, Superstudio, Ant Farm, Archigram, Metabolistas, Archizoom Associati, Cavart, Gruppo UFO, Gruppo 999, Grupo Strum, Haus-Rucker-Co. É do grupo de arquitetos Metabolistas, formado por Fumihiko Maki, Masato Otaka, Kiyonori Kikutake, Kisho Kurokawa e Noboru Wakazoe. O edifício construído mais conhecido do grupo Metabolista, é a Torre Nakagin em Tókio. “O edifício foi construído em 1972 em apenas 30 dias. Kurokawa imaginou este prédio como o fim de uma era. Ao invés disso, Nakagin Capsule Tower tornou-se uma utopia nunca realizada. As cápsulas, planejadas para ter uma expectativa de vida de 25 anos, provaram-se muito caras para serem substituídas. A torre agora repousa com um anacronismo ‘em meio aos mais práticos edifícios que surgiram no entorno”.27

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[6] Diferentes interiores das “cásulas habitacionais” da Capsule Tower.


É interessante também compreender que o futuro está diretamente relacionado aos modos em que é representado, através de construção de imagens estáticas ou dinâmicas criadas a partir de representações visuais, que fazem uso de técnicas como a pintura, a gravura, o desenho, a colagem e a fotografia para apresentar estaticamente as visões de futuro de cada autor. Complementares ou autônomas, são as representações em movimento, como o teatro e o cinema. As produções literárias em prosa e poema, por sua vez, atuam como meio ambivalente entre as duas categorias: estáticas enquanto objeto e dinâmicas enquanto fluxo de ideias no imaginário de cada leitor, elementos que nutrem as visões de futuro amplamente difundidas no mundo contemporâneo.

“A arquitetura loteia o ar, compartimentando-o em vasos comunicantes de vida. O arquiteto procura “o ar da graça”, aquele que resiste ao esgotamento do dia a dia, que faz com que a solidez das matérias que o desenham perca sua sisudez e revela a fugidia figura humana” Gal OPPIDO

Como parte da leitura do contexto do período, defini como ação o estudo de três edifícios protagonistas em como lidar com uma componente chave: o vazio. Aparecem aqui, novos modos de expressão na arquitetura, com referências ligadas ao uso de tecnologia, tanto na concepção estrutural e composição dos materiais empregados, quanto na elaboração dos aparatos, instrumentos e máquinas exigidos para o funcionamento do edifício. São apresentados 3 edifícios, todos finalizados no ano de 1968, que abordaram a questão do vazio cada um a sua maneira: o Tunel Inflável Pneu, dos arquitetos De Pas, D’urbino e Lomazzi. o Edifício de História de Cambridge, do arquiteto James Stirling e o Edifício do Museu de Artes de São Paulo (MASP), de Lina Bo Bardi. Neste contexto, as obras de arquitetura surgem como elo que contém a coesão entre os tempos. “Somente as obras de arte e arquitetura que estabelecem um diálogo vital e respeitoso com seus antepassados possuem a força e profundidade para sobreviverem ao tempo e estimularem os observadores, leitores e usuários do futuro”.28

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Tunnel Pneu - Intervenção temporária para a XV Triennale di Milano (1968)

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[8]

[9]

Ano de conclusão: 1968 Autores: Jonathan De Pas, Donato D’Urbino and Paolo Lomazzi Localização: Milão, Itália

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Edifício da Faculdade de História de Cambridge

[10]

[12]

Ano de conclusão: 1968 Autores: James Stirling e James Gowan [11]

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Localização: Cambridge, Inglaterra.

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Museu de arte de São Paulo (MASP)

[13]

[15]

Ano de conclusão: 1968 Autores: Lina bo Bardi e José Carlos de Figueiredo [14]

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Localização: São Paulo, Brazil

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O Túnel Pneu traz o vazio para dentro da própria estrutura, de maneira que sem o ar que preenche o alvéolo da trama plástica, não há abrigo. O colchão de ar estrutura-se e conforma o espaço, desvinculando a ideia de proteção de algo tectônico e massivo. No caso de Cambridge, o edifício apresenta no grande átrio a leveza dos materiais aço e vidro aplicados nas soluções de cobertura e ventilação de modo a criar um microclima interno que atende às demandas de conforto ambiental da biblioteca. Ao mesmo tempo, o átrio é ponto focal e conflui para si os olhares de quem usa o local, criando a imagem poética de todo o prédio se organizar em volta do saber dos livros. Em São Paulo, o MASP abre o olhar de quem passa para o território. Da relação entre lote e avenida, o edifício tem o seu principal argumento: inexiste o recuo frontal, como muitos edifícios da área, mas não ocupa área alguma na cota da avenida. O único volume existente neste nível e que faz fronteira invisível com o solo é o do vazio sob a grande laje. Ao permitir que o olhar [16]

“Agora, deste passado real ou hipotético, ele está excluído; não pode parar; deve prosseguir até uma outra cidade em que outro passado aguarda por ele, ou algo que talvez fosse um possível futuro e que agora é o presente de outra pessoa.” Italo Calvino, Cidades Invisíveis.

de quem passa cruze o lote em diferentes direções e atinja diferentes planos, faz com que o vale do Saracura seja compreendido. É nítida a convivência de diferentes décadas no mesmo espaço de tempo. Opera como uma gentileza urbana e cria o vazio, de modo que o programa anterior do Belvedere e a “conversa” com o Parque Tenente Siqueira Campos, Trianon, continuem a existir. O mirante ali ainda perdura. É esse olhar para o longe de maneira reflexiva que nos leva para o próximo capítulo. Nele buscamos a síntese para o que há por vir. [16] Travessesia de Philip Petit entre as duas torres do World Trade Center, Nova Iorque, 1974.

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O caminho da síntese

“O caminhar condiciona a vista e a vista condiciona o caminhar a tal ponto que parece que apenas os pés podem ver” Robert Smithson

Na busca por uma síntese, o projeto se constrói. Distante de mim era a ideia de parecer futurista ou, de maneira generalista, utópico. As utopias para a realidade do mundo existem de variadas maneiras e se baseiam em um “não lugar’’. O motivo era claro e a busca não tanto, pois situar o futuro no presente é arriscado, é prática da arquitetura. Extrapolar o tempo previsto e avançar 50 anos, a fim de entender o que há em frente, é também. Vale o risco.

[17] Imagem do relevo e da cidade de São Paulo. Fonte:Geosampa

[17

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O reconhecimento do território como meio. Por mais que as ponderações sejam feitas no desatualizado modelo centro-periferia, é na oportunidade de resolução de problemas que o direcionamento da proposta converge a partir dos cenários apresentados e imaginados. Faz-se da dúvida, a solução: passados 50 anos, o que resta do presente é o próprio Em direção à síntese, busca-se compreender qual seria o território capaz

passado e, assim, olhemos mais uma vez para ele. As edificações mais antigas

de abarcar a conclusão-projeto. Com este objetivo, faz-se um exercício de

encontram-se no centro. É ali que os problemas estruturais dos materiais,

investigação. A partir daqui algumas possibilidades se abrem, não apenas

após décadas de cargas normais, fletoras e torsoras, irão ser acusados mais

sobre o onde, mas sobre o como: de que modo estariam os lugares possíveis

rapidamente e em maior quantidade, acrescida da falta de manutenção cor-

a receber um projeto daqui a 50 anos?

reta. É ali que os caminhos, enquanto linhas de metrô, corredores de ônibus,

Neste exercício, são elencados alguns lugares como prováveis áreas a aceit-

calçadões lotados, ou vias expressas, irão sofrer lotações e excesso de fluxo.

arem um projeto de modo que se este insira como posicionamento crítico

É ali que aquilo que nos conecta às outras cidades, as outras cidades que já

e como projeto de arquitetura, ao mesmo momento. A área elegida deveria

foram realidade, que já foram São Paulo, está presente enormemente. E a

estar localizada no centro ou na periferia? Como em reafirmar um movimento

ênfase está também na noção de pertencimento, já que é de se reconhecer

centrípeto, o centro tende a ser uma zona atrativa pois, no sentido das prop-

que o centro da cidade figura no imaginário coletivo como a área, como sig-

osições que se colocam atualmente, de utilização da infraestrutura existente

nificado de memória afetiva, como local de passagem e/ou de permanência.

e adensamento como zona de habitação, passa a ser um local interessante como escolha. Por outro lado, os mesmos motivos que fazem da zona cen-

Portanto, a direção do significado do projeto vai no sentido do “histórico”,

tral atraente a tornam também fonte de dispersão: em um cenário futuro, o

daquilo que nos faz pertencer a algo. Entretanto, a definição do que concerne

incentivo vira excesso, que pode se transformar em saturação. Desse modo,

ao conceito de histórico, enquanto bem que deve ser preservado ou não,

o funcionamento das relações de força seria centrífugo e a periferia se mostra

amostra de patrimônio significativo urbano esbarra na questão do tempo,

como área de interesse para intervenção. A resposta poderia ser sugerida por

além das questões classificativas arquitetônicas e culturais, nos limites da

uma integração e resolução de problema diretamente relacionada à natureza?

integridade dos materiais. É uma noção de identificação com o território que

Estaria a definição na zona sul, nas proximidades da Guarapiranga, com

se aproxima com a definição de Paisagem Cultural de Nascimento e Scifoni

potencialidade de sobra a entender e intervir nos ciclos da água, resolvendo

paisagem cultural traz a marca das diferentes temporalidades da relação dos grupos sociais com a natureza, aparecendo, assim, como produto de uma construção que é social e histórica e que se dá a partir de um suporte material, a natureza. A natureza é matéria-prima a partir da qual as sociedades produzem a sua realidade imediata, através de acréscimos e transformações a essa base material1

problemáticas e fornecendo soluções para o abastecimento desta? Ou então, estaria na produção de energia, de modo a compreender um tipo de solução a partir de dispositivos arquitetônicos capazes de, conectados a uma rede, alimentar prédios e residências, fornecendo energia de maneira sustentável à cidade? Por outro lado, a síntese poderia ser interna à “casca” arquitetônica, resolução de problema da vida cotidiana do futuro, relacionando tecnologia,

A questão da durabilidade de um edifício, à parte da discussão técnica a

materiais e espaços internos capazes de responder às demandas do que há

respeito dos materiais e suas condições de manutenção, reparabilidade e

por vir.

cuidados ao longo dos anos, traz à discussão um ponto de vista importante:

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a necessidade da autonomia da proposta. O edifício pode ser dependente

[18]

de outros, mas não necessariamente dependente. A relação de dependência haveria de ser com aquilo que o suporta, com aquilo que o fixa no chão. Assim, o meio, entendido aqui como natureza e como cidade, como espaço de transição, permanência e resiliência vai de acordo com a noção de que “território é que concede o caráter único a cada lugar” e por isso “o território é sempre o ponto de partida para os projetos porque é nele que a cidade surge e é do território que retira a sua singularidade.”2

Voltemos à ação do tempo na paisagem, especificamente, na cidade de São Paulo. É fato que a cidade se transformou de maneira significativa desde que foi em fundada em 25 de Janeiro de 1554. De origem jesuítica, ponto de parada dos bandeirantes, transformou-se de maneira vagarosa durante os

Para Santos (1996), esta relação com o meio que nos circunda é baseada em uma noção de “Natureza Abstrata” na qual o indivíduo que vive em um mundo global se afasta de maneira definitiva das possibilidades de se relacionar ao território que o circunda. Tem papel relevante neste cenário o avanço da técnica, caracterizado por Santos (1996) da seguinte maneira:

séculos XVI, XVII. Em algumas décadas, com maior intensidade, principalmente no século XIX se desenvolveram transformações no meio urbano de maneira estonteante: de lá pra cá a cidade se reconstruiu 2 vezes. Essas são as “3 Cidades em 1 século” de Benedito Lima de Toledo. Cidade de Taipa, de traços coloniais, com os arruamentos e traços característicos das vilas portuguesas, passa a ser cidade de tijolos, dos palacetes e da ferrovia. Com

“ é como enigma que ela comanda nossas vidas, nos impõe relações, modela nosso entorno...ontem o homem se comunicava com o seu pedaço de natureza praticamente sem mediação, hoje, a própria definição do que é esse entorno, próximo ou distante, o Local ou o

o dinheiro proveniente do comércio de café e de cana de açúcar, a cidade ganha contornos equiparáveis às metrópoles europeias. Os passeios públicos, as obras de infraestrutura que vieram a transpor córregos e vales, a iluminação pública e as linhas de bonde, sendo a primeira inaugurada em 1900,

Mundo, é cheio de mistérios”3

A ideia de que o aparato técnico é entendido como “um mistério” é cada vez mais realidade, com o incremento de uso de tecnologias complexas, as quais mesmo nas explicações basais de seu funcionamento, são requeridas noções aprofundadas de conhecimento específico. E tal mistério permeia também o cotidiano. Na busca por encontrar respostas dentro da metrópole contemporânea, o indivíduo busca um distanciamento crítico.

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apresentavam novos contornos à metrópole. Com cada vez mais interesses econômicos e um ciclo de investimentos que conferiam à cidade o tom daquela que “não pode parar”. Era uma nova cidade tomando forma. Agora, próximo dos anos de 1950, a cidade moderna é feita, do concreto e do aço que a verticaliza. A construção em altura acontecia em toda a cidade. A mão de obra migrante e imigrante

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[18] Inundação da Varzea do Carmo.Benedito Calixto, 1892. Fonte: Acervo do Museu Paulista da Universidade de São Paulo. Original em cores.


era absorvida por esta indústria da construção civil que trazia um novo ponto

incríveis de entendimento do território. Tal leitura da potência deste tipo de

de vista para o olhar do paulistano: a vista do alto arranha-céu. Vista do alto,

paisagem, que é recorrente em Portugal, é apresentada de maneira delicada

a cidade já se mostrava cada vez mais espraiada, ocupando fundos de vale

no projeto da Passarela da Ribeira da Carpinteira. A estrutura de 220 metros

e topos de morros à medida que se expandia. O conjunto heterogêneo das

de comprimento e 4,40m de largura está apoiada em 2 pilares a 52 metros do

edificações, denota as marcas e os traços dessas várias cidades. Ao comentar

leito de água, além dos apoios nas cabeceiras, em mesma cota, . Há mais no

sobre São Paulo, o geógrafo Milton Santos (1926-2001) a caracteriza como

projeto do que o interesse em conectar obcecadamente os dois pontos das

a cidade que pode ser entendida de “colina em colina”. Em cada porção da

cabeceiras. Segundo o arquiteto, a passarela conforma um “pórtico, quase

cidade, elementos que compõem o quadro das águas e do relevo urbano,

abstrato, e à distância quase materialmente indefinível — espécie de impos-

como córrego, várzea e topo são verdades existentes e poucas vezes visíveis

sibilidade ou miragem —, sobre a ribeira e sobre a paisagem, instalando um

aos olhos de quem passa. Córregos que cruzam territórios inteiros tampona-

novo quadro de relações físicas e visuais”. A esta relação entre mapeamento

dos pelas avenidas, subidas e descidas que se camuflam através de obras de

e território, dá o nome de “re-mapeamento do território”, caracterizando-a:

aplainamento e contenção escondem as colinas e os vales que subimos e

Re-mapeamento porque é, de facto, na experiência do movimento, ou melhor, na forma como proporciona a percepção da experiência do movimento na paisagem, e a percepção da própria paisagem, que a ponte revela o reconhecimento da especificidade deste território. Porque nos incita não apenas a atravessá-la, por necessidade (ou por desejo), onde antes o não poderíamos fazer, mas nos incita também a percorrer fisicamente, depois de o fazermos com o olhar, a paisagem que nos revela.4

descemos todos os dias. Ao lançarmo-nos a um exercício de cruzarmos a cidade no trecho do território entre rios tendo como ponto de partida e chegada às marginais dos rios Tietê e Pinheiros, tem-se a percepção das mudanças altimétricas e a relação às águas. Quando lemos a cota da pista expressa da marginal Tietê, na altura da ponte das Bandeiras, temos 720m. Ao caminhar em direção à Marginal do Rio Pinheiros como quem tem a intenção de cruzar a Paulista, passamos por diversos caminhos e alturas: Av. Tiradentes em frente à Pinacoteca- 737m, Túnel sob o Parque do Vale do Anhangabaú-730m, Avenida Nove de Julho sob o Viaduto Júlio de Mesquita – 745m, Rua Lateral ao Masp, esquina com a Avenida Paulista-844m, Avenida Cidade Jardim, em Frente ao Museu da Imagem e do Som- 741m e Pista da Marginal Pinheiros, canteiro central 721m. Neste percurso de pouco menos de 10 km, contato a partir de uma linha reta que une os pontos de partida e chegada, temos uma variação de nível de até 124m, que começa e termina na mesma cota. É a linguagem dos fundos de vale e dos topos de morro da nossa cidade.

Olhar de quem passa com pressa, com tempo e com partida e destino certos, ao mesmo tempo de quem olha como quem lê a paisagem, como quem percebe-se no espaço. A percepção do corpo no espaço é largamente estudada por filósofos como Focault e por Gaston Bachelard, filósofo francês preocupado com questões ligadas à ciência, relacionado com a fenomenologia da imaginação poética principalmente com a obra “A poética do espaço”. Por uma construção entre filosofia e arquitetura, Juhani Pallasmaa apresenta nas obras “Olhos da Pele”(1996) e em “Essências” (2018) noções e pensamentos relacionados a fenomenologia do espaço, relações entre tempo e arquitetura, memórias e o presente. O pensamento acerca da experiência no espaço arquitetônico encontrou terreno fértil nos trabalhos de arquitetos de práticas

Na cidade de Lisboa, o arquiteto Carrilho da Graça apresenta um panorama de como compreender estas linhas de força do território como quem compreende que os caminhos de “festo” (vale) e de “morro” (cumeeira) são oportunidades

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alinhadas aos estudos relacionados aos assuntos que tratem da sensibilidade e das sutilezas na maneira de intervir no espaço através da obra de arquitetura, como fazem os arquitetos Bernard Tschumi e Peter Zumthor.

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Percepção do espaço e da paisagem são premissas essenciais do encontro do ser no sentido de localização no espaço físico. Tal noção de encontrar-se no espaço, antes de relacionar-se ao espaço artificial das cidades, estava relacionado aos traços da percepção nômade na paisagem natural. Como o assunto “tempo”, sobre tempo futuro, é latente, faz-se o caminho inverso e volta-se aos primórdios da construção da paisagem pelo homem a fim de destilar as noções primordiais, a fim de entender estas “bases’ da localização como essencialmente descolada do que é espaço artificial construído, volta-se à experiência nômade e seus atributos. Na realidade, segundo Francesco Careri: “A capacidade de saber ver lugares no vazio e por isso de saber dar os nomes a estes lugares é uma faculdade aprendida ao longo dos milênios que precedem o nascimento do nomadismo”5. O autor afirma que a própria história das origens da humanidade é uma “história do caminhar” e que foi através das caminhadas dos primeiros homens na terra que se iniciou a operação complexa e lenta de mapeamento e apropriação do território. Essa constatação nos leva à caracterização do ato de caminhar e de suas consequências “o caminhar mesmo não sendo a construção física de um espaço, implica uma transformação do lugar e dos seus significados. A presença física do homem num espaço não mapeado – e o variar das transformações das percepções que daí ele recebe ao atravessá-lo – é uma forma de transformação da paisagem que embora não deixe sinais tangíveis, modifica culturalmente o significado do espaço e, consequentemente, o espaço em si, transformando-o em lugar. O caminhar produz lugares. Antes do neolítico, e, assim, antes dos menires, a única arquitetura simbólica capaz de modificar o ambiente era o caminhar, uma ação que, simultaneamente, é ato perceptivo e ato criativo, que ao mesmo tempo é leitura e escrita do território”6

Este ato de “leitura e escrita do território” através de um olhar simbólico para a paisagem tem lugar também na cidade contemporânea. Dentro de um território complexo, com diversas camadas de informação, onde as coisas se relacionam e se desenvolvem com rapidez, o ato de caminhar permite o distan[19] Diferença de cota | Viaduto General Carneiro. Acervo do autor, 2018

ciamento do fluxo contínuo de informação e torna possível o olhar analítico para estes processos urbanos. Através dos diversos pontos de referência da

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cidade construída, especialmente com os edifícios, é que nos localizamos e

Mapas

lemos o território. O uso das edificações como referências para nos situarmos é prática comum quando elementos naturais, quando elementos do relevo e da hidrografia não são passíveis de leitura. A perenidade destas edificações construídas, demolidas, remodeladas, adaptadas às vontades da cidade que a circundam, é um fator que o indivíduo tem de lidar no cenário urbano. No contexto de São Paulo, faz-se ainda mais necessário essa ânsia de adaptação de leitura do território, em uma constante busca em como podemos escrever como nômades 7 no espaço que é construído e transformado a todo instante.

Através dos documentos cartográficos produzidos para São Paulo, ao longo de mais de 200 anos, é que podemos notar a autonomia do território. Apesar

A complexidade do território de São Paulo e as diversas camadas de história

de alterações nos traçados urbanos, nas posições de marcos referenciais, as

presentes em sua construção, fazem dela objeto de interesse nesta análise,

linhas das cotas organizadas de maneira clara pelo relevo apresentam fundos

assim como em outras que se prezam por analisar a relação tempo e a arquite-

de vale e cumes facilmente percebidos. O primeiro registro em formato de

tura. Algumas abordagens de obras de artistas e fotógrafos que tratem da

mapa da cidade foi de 1810 pelo engenheiro Rufino José Felizardo da Costa.

temática das várias temporalidades da metrópole reafirmam a relevância da

A seguir, estão alguns dos mapas da cidade durante os séculos XIX e XX:

análise em território paulistano, acostumado a constantes “apagamentos” e

1841, 1855, 1890, 1918 e 1930.

8

à “anestesia da continuidade do presente”. 9 É próprio da expansão urbana da cidade esta linguagem do caminho, seja Propõe-se aqui redescobrir o que é o território de São Paulo, como elemento

ele rio, estrada ou ambos que levam ao novo loteamento. Atualmente,

que é chão das várias cidades sobre ela erigidas, de maneira a entender quais

a linguagem cartográfica é essencial para a organização do território e

os visuais, para onde podemos olhar, o que há para ser notado e como pode

importante instrumento de definição de políticas públicas e de ilustração

ser notado.

de decisões de diretrizes urbanas como no Plano Diretor Estratégico e na

Define-se assim, algumas premissas iniciais a fim de nortear a proposta. A

Lei de Uso e Ocupação do Solo.

vontade de trabalhar no contexto da metrópole brasileira traz São Paulo como local de inserção do projeto. Além disso, tem sentido como fértil campo a

Dentro da área da colina, é definida como orientação para análise do con-

explorar possibilidades, uma vez que a conturbada metrópole, com todas as

junto construído uma linha que conecta os dois lados da colina: Vale do

suas singularidades e idiossincrasias já engloba visões de utopia, distopia e

Anhangabaú à Várzea do Tamanduateí.

catástrofe nela própria. Mais que isso, a escolha do território parte da intenção otimista de que o habitar na cidade pode ser melhor do que é na atualidade e, mais que uma ponderação humanista, é uma proposta que dá abertura ao imaginário na construção da ideia de como será a cidade do futuro. A partir deste ponto está definido o território de intervenção: a Colina histórica de São Paulo.

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A COLINA

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1810

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1841

1890

1855

“Qualquer mapa de São Paulo de fins do Século passado ou início do presente nos dá a impressão de inacabado. Vemos a área central já tomada pelos loteamentos, dela saindo caminhos ao longo dos quais vão surgindo outros loteamento, deixando entre si largos espaços vazios. A configuração desses loteamentos é semelhante, seu perímetro exterior é irregular, formado por uma estrada, um rio, ribeirão ou outro acidente natural, como terrenos baixos e alagadiços”. Benedito Lima de Toledo, Três Cidades em um Século 58

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1918

1930

Mapa da cidade de São Paulo, por C. A. Bresser

Mapa Topográfico do Município de São Paulo, referente à área central da cidade. SARA Brasil.

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1:100000 1:50000 1:25000

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MP DO TRABALHO

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PRAÇA DAS ARTES

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EDIFÍCIO CORREIOS

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COLÉGIO SÃO BENTO

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SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

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EDIFÍCIO MARTINELLI

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TEATRO MUNICIPAL

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SECRETARIA DA JUVENT. ESPORTE E LAZER

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SHOPPING LIGHT

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ELETROPAULO

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BOLSA DE VALORES V

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MUSEU ANCHIETA

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BIBLIOTECA MARIO DE ANDRADE ESTAÇÃO ANHANGABAÚ METRO

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SOLAR MARQUESA DE SANTOS

SECRETARIA MUNICIPAL

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SECRETARIA DA JUSTIÇA

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SECRETARIA SEGURANÇA PÚBLICA

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TRIBUNAL DE CONTAS DE SP

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RED BULL STATION

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CATEDRAL DA SÉ

LARGO SÃO FRANCISCO

SECRETARIA DA FAZENDA

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PREFEITURA

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CÂMARA DOS VEREADORES

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COMANDO CORPO DE BOMBEIROS

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EDIFÍCIOS NOTÁVEIS

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EDIFÍCIO CORREIOS

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PRAÇA DAS ARTES

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TEATRO MUNICIPAL

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BANESPA

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CCBB

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MUSEU ANCHIETA BIBLIOTECA MARIO DE ANDRADE

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SOLAR MARQUESA DE SANTOS

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RED BULL STATION

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CAIXA ECONÔMICA CULTURAL

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ANCORAGEM CULTURAL

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LARGO PAISSANDU

COLÉGIO SÃO BENTO

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I. SANTO ANTÔNIO

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LARGO SÃO FRANCISCO

MAPA 03

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ANCORAGEM RELIGIOSA

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CATEDRAL DA SÉ

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SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

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EDIFÍCIO MARTINELLI

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SECRETARIA DA JUVENT. ESPORTE E LAZER

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BOLSA DE VALORES

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PREFEITURA

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SECRETARIA MUNICIPAL

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SECRETARIA SEGURANÇA PÚBLICA

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SECRETARIA DA JUSTIÇA

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TRIBUNAL DE CONTAS DE SP

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COMANDO CORPO DE BOMBEIROS

MAPA 03

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SECRETARIA ANCORAGEM DE PODER DA FAZENDA V

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CÂMARA DOS VEREADORES

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O Edificado

O trabalho se desenvolve no trecho da Colina histórica em uma área de recorte quadrado, de 500 metros x 500 metros. Esta área, apresenta em suas linhas limítrofes a Praça do Patriarca, abaixo, o Largo Antônio Prado, a norte, Vale do Anhangabaú, a oeste e o Pateo do Colégio, a leste. De modo a criar uma narrativa dos diferentes “tempos” da colina histórica, os diagramas a seguir ilustram a relação do território com o conjunto edificado em diferentes épocas e buscam identificar elementos em potencial da área. O centro de São Paulo tem, de maneira predominante, edifícios com idade próxima a 50 anos, tendo nos anos de 1970 importantes obras configurando a paisagem edificada. Ao mesmo tempo, os primeiros arranha-céus da cidade também estão situados ali, como o Edifício Guinle (1916), projeto por Hyppolito G. Pujol Jr., Sampaio Moreira (1924) projetado por Cristiano Stokler das Neves, o Edifício Martinelli (1929), projetado por William Fillinger/ Giuseppe Martinelli, o Edifício Altino Arantes (1939), projetado por Plínio Botelho do Amaral. De menor altura e com grande significado, o Edifício do Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) preserva diversas épocas em si mesmo. Construído em 1901, readaptado por Hyppolito G. Pujol Jr. em 1927 e, em 2001, readaptado novamente [21]

74

por LT Arquitetura, com o arquiteto Luiz Telles como responsável.10

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Diagramas de leitura da Colina Histórica

ANHANGABAÚ

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ANHANGABAÚ

3 | VALE DO CHÁ TRANSPOSTO

1 | A COLINA OCUPADA

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TAMANDUATEÍ ANHANGABAÚ

2 | MORRO DO CHÁ CONQUISTADO

4 | LAJE DO VALE

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Diagramas de leitura da Colina Histórica

TAMANDUATEÍ

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7 | POSSIBILIDADES

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6 | RUA VALE

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TAMANDUATEÍ


“Poucas vezes na história do urbanismo terá ocorrido um fenômeno semelhante, uma nova cidade reconstruída duas vezes sobre o mesmo assentamento.” Benedito Lima de Toledo, Três Cidades em um Século

A lógica de sobreposição do edificado anterior pelo novo, ficou evidente que, ao decorrer dos anos, a maneira que vemos o cenário da grande metrópole em desenvolvimento cada vez mais é desenhando à revelia da sua história e da sua pré-existência. A noção de “palimpsesto”11 tem sido permanentemente reproduzida de modo que “Os símbolos urbanos, a imagem da cidade, os monumentos históricos deixaram de entrar na composição das preocupações das autoridades. Mas nunca é tarde para se começar.”12 Dentro da área de trabalho, foram identificadas algumas quadras de interesse ao projeto. É de se reconhecer que a constatação de “se sabe que está em São Paulo [20] Anterior. Vista da Colina a partir do início do V.iaduto Santa Efigênia. Acervo do autor, 2018, [21] Shopping Light, entrada da R. Cel. Xavier de Toledo. Acervo do autor, 2018.

quando não se sabe onde está” é uma frase possível e verdadeira em diversos locais da cidade, afinal, busca-se a linha estável do horizonte e não se encontra. A vontade em encontrar o horizonte torna-se mais uma justificativa para a intervenção. É justamente a diferença de cotas que permite

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que o trabalho tire partido do local para buscar por elementos referenciais.

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A colina histórica acostumou-se a ver a diferença de cotas de suas áreas vencidas e o domínio do homem sobres as condições impostas pelo território. Em 1892 temos a primeira conquista da travessia áerea: o primeiro Viaduto do Chá, construído por Jules Martin, uniu o centro histório à “cidade nova” e menos de 40 anos depois, o Viaduto do Chá de Cristiano Stokler das Neves.14. Ver de cima é prática comum para quem passa nos Viadutos e para os usuários de edifícios altos, trazendo uma possibilidade de interação atraente ao olhar. Ao ver, queremos nos aproximar do limite, da beirada, da janela. O conceito de “Imediaticidade” apresentado por Cullen tem relevância neste momento: “Poderá ser mais prudente ter mil escudos no banco que na algibeira, mas tê-las no bolso é mais excitante. Água, céu e edifício não são afetados por considerações de prudência. Estão lá para serem apreciados aqui agora, ou nunca mais. Não há um Banco de Depósitos Visuais. Ao contato visual direto entre homem e ambiente chamaremos aqui de Imediaticidade [...]15

No poema “Tabacaria” de Álvaro de Campos “é relatada uma “excisão entre imagem e mundo, ver e ser contemplado, as partes e o todo” que trazem uma percepção do objeto exterior que é complacente a este trabalho.

[...] Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. [22]

Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam, Vejo os entes vivos que se cruzam, Vejo os cães que também existem. É tudo isso que me pesa como uma condenação ao degredo, E tudo isso é estrangeiro, como tudo. [...]

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[22] Vista a partir de escritório localizado no Edifício Altino Arantes. Acervo do autor, 2018.


O Horizonte como oportunidade

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Nesta etapa, escolheu-se fazer uso da fotografia como registro de campo como estratégia a evidenciar os potenciais presentes na área de projeto. A escolha tem por base uma explicação metalinguística e pessoal. Ao fotografar, a foto traz aspectos da realidade capturada expressada dentro dos limites do frame: toda a realidade possível da foto está contida nela própria. Ao mesmo tempo, a fotografia é também exercício pessoal e entendido como oportunidade em utilizá-lo como imersão no contexto de modo a demonstrar minha visão sobre a área. Por fim, a justificativa terceira é de que “a fotografia como signo que é, também se interpõe entre o homem e o mundo, não só representa como interpreta, transfigura”16 é aqui reafirmada de modo a destilar o potencial imaginado para o futuro. Acrescenta-se a isso, a constatação de que a fotografia é “instrumento para duvidar”17 e disso decorre seu uso para a investigação. As linhas de força em busca das oportunidades que se apresentaram foram elencadas através da busca por espaços servidores ociosos, como escadas, rampas, passarelas já existentes que possam ser aproveitados. Elementos de acesso e conexão que permitem que o território seja transposto. De mesmo modo, ao olhar do alto, reparou-se nas coberturas, lajes e topos dos edifícios, tão próximas umas das outras e tão distantes do olhar de quem passa na rua. A imensa área em projeção não utilizada chama a atenção em uma área densamente construída, sendo a possibilidade em explorar as cone[24]

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xões entre topos uma diretriz de interesse a subsidiar a proposta de projeto.

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[23] Anterior.Horizonte com morros Acervo do autor, 2018. [24] Planos da cidade com Viaduto Sta. Efigência ao fundo. Acervo do autor, 2018. A seguir, imagens [25] a [35].Acervo do autor, 2018.


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Operações do imaginário

refletir

bloquear

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A partir da leitura do território, operações entendidas como estratégias do léxico da arquitetura se traduzem em modos de operar. Surgem através da análise do meio e tem como aquele que a pratica, o sujeito. É a partir dele que as operações funcionam. Segundo Angelo Bucci, “as imagens poéticas são capazes de sustentar certas travessias”18. É com a intenção de gerar situações para a criação destas imagens poéticas que as operações são pensadas. emoldurar

repetir

Apresenta-se aqui, a janela entendida como elemento intermediador entre interno e externo e a própria ação de intermediar implica uma determinada forma de arbitrar tempo e espaço.19 -Refletir, como quem repensa e se identifica na projeção da cidade apresentada.

elevar

- Focar, como quem define objetivo como para onde o olhar tem a atenção

ancorar

direcionada. - Repetir, como quem revê.

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- Bloquear, como quem tem de mudar de rota. -Ancorar-se, como quem entende o entorno e tem na existência do outro a premissa da própria existência. -Elevar-se, como quem sobe a ladeira, vai ao alto e que longe enxerga fazendo uso da diferença de cotas fornecida pelo relevo, revestida pelas Ladeiras, como a General Carneiro, é construída sobre o solo. Caminhando em direção ao aéreo, a ladeira é artifício extenso e efetivo para que altura seja vencida. -Emoldurar, como quem enquadra a paisagem. -Rever, como quem já viu a cidade diversas vezes e não prestou a atenção. Para isso são previstos locais de parada, para sentar, ou deitar são itens elencados como interessantes a fim de que o processo de ver novamente não seja apressado. -Fitar, como quem percorre a janela em fita. A janela apresenta um “caráter duplo” entendida como “A janela é um signo vazado, um texto de dupla face. A sua inserção na arquitetura há que considerar, no mínimo a dupla leitura caracterizada genericamente pela posição do observador – dentro ou fora.”20

O percurso, ainda enquanto caminho, tem propriedades de edificação, com pavimento, ora aprensentando paredes, guarda-corpos e, em alguns momentos, coberturas adjacentes. Assim, lida com o externo e o interno através de um “diálogo-percurso” permanente. .

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O desenho

“a qualidade, de certo modo lírica, de algo que está mesmo tempo presente e sempre fora do nosso alcance: está Além” Gordon Cullen

O projeto assume o caminho como programa. A partir daqui, não fazia mais sentido estabelecer um programa de necessidades, pois este já está distribuído na cidade e os espaços para satisfaze-lo estão nas edificações e nos espaços urbanos adjacentes. As conexões entre edifícios e a criação de novos pontos de vista, de imagens reais da cidade, são os objetivos que fornecem suporte à criação deste caminho. Revermos a cidade como ainda não tínhamos notado, “passando a enxergar aquilo que nos cegava de tanto vermos”[39]. As colinas “escondidas” de São Paulo, as várzeas dos córregos tamponados, o horizonte que fora sobreposto. Os visuais são mais uma vez retomados e extrapolados. Remontar as mesmas perspectivas das imagens de Militão, os mesmos pontos de vista não vêm ao caso neste momento. Entender o que era e o que agora é, passou: o objetivo é o que será. Pretende-se aqui construir uma possibilidade de transposição da colina histórica, tirando partido da lógica dos desníveis, que como sentido se aproxima da noção de arte de Paul Klee de “tornar visível, não restituindo o visível.” Procura-se no projeto apresentado não continuar o processo comum à história

Em tom mais escuro: os lotes que tem interação direta com o projeto.

de São Paulo, de sobrepor mais uma cidade à existente neste ou em outro século.

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do programa

Antes mesmo de começar o desenvolvimento do trabalho, era minha preocu-

caminhos

pação entender qual o programa que caberia no projeto de TFG. Iniciado o trabalho, opções de programa capazes de acrescentar relevância na discussão sobre futuro e arquitetura foram levantados. As opções que surgiram eram decorrências diretas dos problemas a serem resolvidos no futuro. Por exemplo, quando relacionados à saúde: se a população irá crescer e terá como espaço de desenvolvimento um ambiente poluído, com alterações climáticas, questões como saneamento básico, acesso a água potável, aarquitetura relacionada à saúde, no sentido de arquitetura hospitalar, traria uma abordagem pertinente

relevo

ao tema. O tema relacionado ao cultivo de alimentos também se mostrou relevante, como a importância de cultivar alimentos e, ambientes urbanos de modo a aproximar locais de produção e de consumo. Por outro lado, a possibilidade de cultivo de alimentos em ambientes urbanos, de modo a trazer menor impacto e ser capaz de contribuir com um ciclo de pouco impacto ambiental tem pertinência dentro da qualidade do ambiente construído e da habitação. O programa é a tradução do próprio percurso de elaboração deste trabalho. Ao longo do desenvolvimento do que seria pertinente ao futuro, possiblidades foram elegidas, algumas deixadas de lado e outras (poucas) permaneceram do início ao fim. Assim, na expressão deste processo é ele próprio reflexo do que é o trabalho, um caminho.

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das âncoras visuais

O objetivo em definir âncoras visuais parte da premissa de como a cidade irá perceber o projeto, como ele será enxergado e compreendido por quem o vê, compreende e entende a partir dos níveis térreos e aéreos. Foi a partir da análise destas âncoras e de como elas se relacionam entre si que o projeto se posiciona de modo a ter autonomia. Para isso, busca-se satisfazer as perguntas: como o projeto será compreendido, quais as conexões e de quais pontos pode ser enxergado. A definição do caminho parte inicialmente da maneira mais direta de se conectar dois pontos, da linha reta. Esta construção abstrata conecta os dois pontos focais do trabalho: o Vale do Anhangabaú e a Várzea do Tamanduateí. a cidade e o seu “negativo”. Para onde olhar ?

O Vale do Anhangabaú entendida como Vale construído, é enquadrado pelo vale construído, pelo Morro do Chá ao Fundo, com o Teatro Municipal e Edifício Alexander Mackenzie, o Shopping Light, como protagonistas do primeiro plano. No horizonte, quando se busca o referencial natural, temos o Pico do Jaraguá ao longe. Do lado oposto, a Várzea do Tamanduateí é marcada pelo Terminal Dom Pedro em primeiro plano e ao longe, perde-se na continuidade dos prédios no horizonte. Estar na colina e não se notar em cota elevada é sensação que pode ocorrer de maneira fácil atualmente. O percurso tem início e fim nos pontos focais, enquadrados cada um à sua maneira. Compartilham o objetivo do enquadramento: mirantes que se buscam enxergar ao longe. À medida que o caminho acontece, as diferenças de cotas, transposições e passagens criam distâncias, recortes e enquadramentos que se alteram, de modo a destacar particularidades que permitam “enxergar novamente” a cidade que ali existe. Ora aproximado, para que se perceba os detalhes da escala das edificações vizinhas, ou quando a perspectiva é apresentada

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propositadamente ao longe, a fim de que os volumes edificados e seus diferentes planos se apresentem como conjuntos de uma mesma cena, inserida na paisagem. A construção de sentido é feita a partir do traçado de um paralelo com a fotografia. Fotografia analógica mais que digital. Os elementos-chave máquina, lente e filme são transpostos para o objetivo do projeto proposto. A máquina utilizada é a máquina de olhar, construtora da perspectiva: o olho humano. As lentes são os dispositivos de conexão que regulam a relação com a cidade existente, locais de entrada e saída, acessos inseridos de maneira consciente a permitir as visões definidas de objetos urbanos e os acasos da vida cotidiana. O filme fotográfico é o registro metal que cada um terá ao percorrer o projeto, as imagens estáticas ou contínuas dos visuais para onde o caminho aponta. O percurso é construído não apenas a partir dos pontos de vista que este permite, mas com base nos pontos de vista de quem o olha. A construção do percurso também é feita pelo olhar do outro e assim, como quem lê o negativo do filme, para que decisões em projeto fossem feitas. A partir da definição dos focos, das lentes e das imagens, são elencadas âncoras visuais que norteiam os modos que o projeto será entendido pela cidade. Para isso, são escolhidos pontos de referência que irão gerar sentido em escala, propósito e dimensão para as intervenções ao longo do percurso.

da infraestrutura O projeto se posiciona como intervenção de características urbanas que busca também compreender soluções de infraestruturas para a cidade ao mesmo tempo que permite um outro olhar para o território existente. Novas maneiras de conectar redes de transporte, pontos de interesse comerciais, regionais e urbanos, são organizadas em uma rede de caminhos aéreos que se fazem valer da lógica de trocas existente da cidade e a potencializa: ruas, largos e esquinas ganham novas maneiras de serem acessadas, visualizadas e entendidas.

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dos caminhos e dos pontos de acesso

A definição do caminho, ainda que determinado substancialmente pelas âncoras visuais, tem de dialogar com a trama existente. A partir destes pontos, o projeto é dividido em 5 partes: Ladeira, Largo, Escadaria, Torre e Mirante. Todos são elementos do caminho e da cidade ao mesmo tempo. Os extremos do caminho são o edifício “Mercantil Finasa” que faz frente à Rua Líbero

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Badaró e fundo com o Vale do Anhangabaú, e do outro, o topo do Edifício de número 41 na R General Carneiro.

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Entre o começo e o fim, foram elencados alguns critérios fundamentais quanto às áreas a ocupar e utilizar:

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_lotes vazios, como terrenos baldios, estacionamentos, e fundos de lotes, como acesso; _o espaço público das ruas de pedestres, largos e praças, como acesso;

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_topo dos edifícios, lajes e projeções, como caminhos e pontos de parada .

1

1. Rua Líbero Badaró, n.350, lote vazio ao Lado do Edifício Sampaio Moreira O mirante para o Vale cria estrutura de apoio para olhar o vale e é alcançado através de uma nova ladeira.

Isométrica com os pontos de interesse do projeto .

2. Largo do Café Do encontro das R. do Comércio e da R. Álvares Penteado, o Largo é um “respiro” que permite a quem cruza a R. São Bento, caminhar em direção ao Vale do Anhangabaú através da R. Dr. Miguel Couto. Como espaço aberto em meio à malha densa de prédios do entorno, permite a quem passa se localizar, tendo este como referência. Os fluxos que ali passam acabam por moldar a

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estrutura de acesso e a determinar a sua posição: no centro. 3. Rua S. Bento, altura do número 238. Neste trecho, os edifícios apresentam gabarito baixo, entre 2 e 3 pavimentos, denotando a possibilidade de melhor aproveitamento do espaço aéreo. Assim, a R. São Bento tem uma nova via perpendicular, de pedestres e aérea. O acesso é feito através das escadarias e dos elevadores através da coberta, que permite estruturar os acessos e apresenta a laje como abrigo. 4. Miolo de Quadra Entre a R. da Quitanda, R. Alvares Penteado e R São Bento, o projeto percorre os espaços sobre lotes e sobre edificações. Ao atingir o fundo do lote de número 177 da R. Álvares Penteado, o caminho se aglutina e vira torre. Assim, passa da cota 750 para a cota 775 e permite que o caminho continue, agora, com novos pontos de vista.

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5. Mirante da Várzea

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No topo do edifício, o mirante pousa como quem se encaixa na forma recor-

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tada do prédio.

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As 5 partes são entendidas como capítulos de um livro a ser completado.

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Ao se posicionar como obra do futuro, a proposta não tem como objetivo

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ser fechada nela mesma, hermética e completa. Pelo contrário. Das difer-

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entes interações criadas com o conjunto edificado existente, quando ora

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está apoiado, ora flutuando, ora faz divisa junto a empena, ora está a alguns

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metros, é esperado que estes elementos também se conectem ao percurso em

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algum mometo. Fazer uso das estruturas de circulação vertical e horizontal

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dos edifícios existentes, assim como nas novas construções que possam existir

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, é intenção do projeto. Através destas novas possibilidades, as operaçãoes

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do imaginário são potencializadas e o território reconhecido cada vez mais.

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Além Caos

O Além Caos é um percurso que se apresenta como um convite a entendermos a potência desta cidade, da cidade que sempre esteve ali, formada por camada sobre camada, do território camuflado que tem relevância ao abarcar os diversos usos a que se destina ao longo da existência. Se apoia no chão e no existente como quem aceita o presente e faz mirar o horizonte como quem almeja outro tempo. Faz do futuro, a justificativa da sua existência, de modo que a incerteza dos fatos é presente e, por isso, abraçada. A partir dos cenários possíveis, busca mostrar um outro caminho capaz de abarcar soluções ao invés de defini-las. Se a utopia, a distopia e a catástrofe são possibilidades permeadas por: tecnologias cada vez mais imersivas, controle de informação cada vez mais centralizados, crises anunciadas na habitação, no cultivo de alimentos e na saúde, faz-se necessária a construção daquilo que poderá fomentar resoluções a partir de um outro olhar perante a situação. Haverá possibilidades além dos muros, das segregações dos espaços e da nossa insensibilidade para com os outros. Haverá novas possibilidades de compreensão do território da cidade do futuro. Haverá mais que o caos. Além Caos.

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“Aquilo que chamamos de início frequentemente é o fim. E fazer um fim é fazer um início. [...] Não devemos deixar de explorar. E o fim de nossa exploração será chegar onde começamos. E conhecer o lugar pela primeira vez”. T.S. Eliot. “Quatro Quartetos. Lisboa, 1941”

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Notas INTRODUÇÃO 1. TAKIA em Calazans, J. José Calazans: croquis de uma vida. (pág. 13.) 2. Idem, ibidem, p. 13. 3. Plano Político Pedagógico. FAUUSP. Pág.12. Acessado em 10.10.2018. http://www.cg.fau.usp. br/Documentos/02_-_projeto_politico_pedagogico-ppp__out_revisado_fev_2014_.pdf 4. Comentário do Prof. Luis Antonio Jorge durante atendimento de desenvolvimento deste trabalho 28.11.2018 5. PALLASMAA, Juhani. “Essências”pag. 78. 6. Julio Katinsky em entrevista. No ano de 2001 foi publicado o quarto caderno do projeto de registro do pensamento e da produção dos arquitetos docentes da Faculdade de arquitetura e Urbanismo de São Paulo, nos últimos 25 anos. O objetivo da iniciativa, inicialmente proposta pela arquiteta Lucinda Prestes, continuada por Silvio Sawaya junto a Fapesp e por Miguel Pereira, foi a “promoção do debate brasileiro sobre a arquitetura brasileira nas faculdades de arquitetura e na prática profissional”[3], sendo os produtos parciais os Cadernos de Arquitetura da FAU, seminários, fóruns, de modo a gerar um banco de dados de textos e vídeos acessíveis a professores e alunos da graduação e da pós-graduação. O produto final era um livro divido em dois volumes contendo todo o material coletado, com as entrevistas de 65 professores da casa e textos fundamentais ao trabalho. O interesse do projeto, além da promoção do debate, era formalizar uma prática de estruturação da memória pertencente ao ensino e prática da arquitetura no âmbito da FAUUSP, porém que teriam consequências na abertura do diálogo para outras escolas de arquitetura. PEREIRA; SAWAYA, 2001, (p.20-21). 7. ARANTES, Pedro Fiori. Arquitetura na Era Digital Financeira: Desenhos, Canteiro e Renda da Forma. p.01 8.A cidade da Galícia, projetada por Peter Eisenman é um exemplo pertinente a respeito desta questão. Situado nas proximidades de Santiago de Compostela, o começo da construção do complexo que inclui museu, biblioteca e espaços de performance, foi no ano de 1999 e ainda hoje apresentam fases a serem concluídas. Segundo o memorial do projeto, a cobertura do edifício simula as colinas locais e os caminhos de pedestres e vias do centro histórico medieval da cidade. São seis os principais itens que conformam o programa: the Museum of Galicia and an International Art Center, the Galician Library and the Periodicals Archive, the Music Theater and the Center for Cultural Innovation.. No ano de abertura, 2011, o custo da obra

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havia atingido quatro vezes o valor inicial e era avaliado como um “grande anacronismo” pelos

60 anos comparada ao total de habitantes. Por volta de 2050 É esperado que os números para

críticos, representante da classe de edifícios símbolos contemporâneos, como o Guggenheim

esta população acima dos 60 anos, mais que dobre em 2050 e, em 2100, triplique: 2017- 962

Museum: edifícios de caro orçamento para execução e custosos para manutenção.

milhões, 2050 - 2.1 bilhões e 2100 - 3.1 bilhões. Disponível em site: https://www.un.org/

09. O complexo localizado na Barra da Tijuca com capacidade para 1.650 pessoas, uma sala

sustainabledevelopment/blog/2017/06/world-population-projected-to-reach-9-8-billion-in-

menor, com 456 lugares, e outros 21 espaços multiuso, como locais de ensaio, cinemas, restau-

2050-and-11-2-billion-in-2100-says-un/. Consultado em: 25.06.2018

rantes. A Cidade das Artes contará ainda com sistema de reaproveitamento de água de chuva,

19. Dados do IBGE.

com capacidade para 600 mil litros.

20. Mauro Calliari em artigo escrito para o jornal o Estado de São Paulo, “Se São Paulo sobre-

10. ARANTES, Pedro Fio ri. Arquitetura na Era Digital Financeira: Desenhos, Canteiro e Renda

viver, o que esperar da cidade daqui a 50 anos?‘

da Forma. p.1

21. KUNDERA, Milan. A lentidão, p.30

11. BENJAMIM, WALTER. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica.

22. GRINOVER, RUBINO, Lina por Escrito: Textos Escolhidos, p. 37

12. ARTIGAS, Vilanova. Caminhos da arquitetura.

23. O conjunto heterogêneo de posições acabou recebendo o nome de contracultura por se

13. PALA, Giocomo. Let’s Call the Whole Thing Off Disponível em http://www.gizmoweb.

erguer contra valores, normas, regras e padrões da sociedade capitalista, tendo como principal

org/2018/07/pala-postdigital. Acessado em 20.08.2018.

característica realizar-se como mudança dos costumes, dos valores e das relações sociais, sem

14. O caso que mais chama a atenção na atualidade está na cidade de Toronto, Canadá.

jamais se dirigir aos poderes institucionalmente constituídos. CHAUÍ, Marilena. As_manifes-

Encontra-se em construção o bairro chamado “Quayside”, localizado na antiga área portuária

tacoes_paulistanas_de_2013-futuro_da_invencao_democratica, p. 13. Disponível em http://

da cidade. É uma intervenção fruto da parceria entre a Waterfront[9] Toronto e a Sidewalk

nupsi.org/wp-content/uploads/2013/08/Marilena_Chaui-As_manifestacoes_paulistanas_

Labs com o objetivo de: Establish a complete community that improves quality of life for a

de_2013-futuro_da_invencao_democratica.pdf. Acessado em 10.11.2018

diverse population of residents, workers, and visitors, create a destination for people, companies,

24. Idem, p. 13

startups, and local organizations to advance solutions to the challenges facing cities, such as

25. Capsule Tower. https://www.nationalgeographic.com/photography/proof/2017/10/

energy use, housing affordability, and transportation, make Toronto the global hub of a rising

nakagin-capsule-tower/

new industry: urban innovation, serve as a model for sustainable neighborhoods throughout

26. 17. PALLASMAA, Juhani.op. cit., p.34

Toronto and cities around the world.Para isso, selecionou a empresa Sidewalk Labs em março de 2017 como parceira em inovação e financiamento do empreendimento. Está previsto o

PARTE I

desenvolvimento de um Plano de Desenvolvimento, sob o nome de “Sidewalk Toronto’s Master

1. NASCIMENTO, Flávia B.; SCIFONI, Simone. (2010) apud SCIFONI, “Paisagem Cultural”.

Innovation and Development Plan”, incluindo marco regulatório de políticas públicas e de

disponível em Simoni, http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/82/

impactos.

paisagem-cultural. Acessado em 05.05.2018

15. PALLASMAA, Juhani.op. cit., p. 13.

“A paisagem cultural como novo paradigma para a proteção do patrimônio cultural: a experiên-

16.PIANO, Renzo. A Responsabilidade do Arquiteto: Conversas com Renzo Cassigoli, p. 68

cia do Vale do Ribeira-SP.” Revista CPC, São Paulo, n. 10, p. 29-48, maio/out 2010.apud.

17. SALVADORI. Por que os edifícios ficam de pé: a força da arquitetura.

2. GRAÇA, João Luis Carrilho da Da. em entrevista a d’Afonso, Disegnare nelle città. p188

18. Dados da ONU. Em média, o acréscimo previsto a cada ano, é de 83 milhões de pessoas.

(n.3supra)

Outro dado imporante A baixa fertilidade contribui para taxas mais altas de idosos na pop-

3. SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço, p.21-22.

ulação. O assunto que já tem destaque e é esperado como a ser tema central de discussões e

4. Carrilo da Graça ao descrever o projeto e comentar sobre o conceito de “re-mapeamento”In-

eventos em âmbito mundial é o aumento significativo da proporção da população acima de

formações disponíveis em memorial do autor. Disponível em https://www.archdaily.com.br/

138

139


br/01-36454/ponte-de-pedestres-sobre-a-ribeira-da-carpinteira-carrilho-da-graca-arquitectos.

PARTE II

Consutado em 10.10.2018.

1. WISNIK, Guilherme. Estado Crítico: deriva da metrópole, p.33

5. CARERI, Walkscapes, p. 44

2. Paul Klee: “A arte não reproduz o visível; ela torna visível”. Disponível em https://pt.wiki-

6. idem, ibidem, p. 51

quote.org/wiki/Paul_Klee. Acessado em 10.09.2018.

7.Segundo Careri, o nômade escreve no território através do sulco deixado pelo ato de caminhar, deixando seus rastros no vazio e conformando a cidade nômade através das linhas sinuosoas e dos pontos subjacentes em movimento, sendo assim, a cidade nômade o próprio percurso. idem, ibidem, p. 42. 8.Termo de dá nome a exposição de Thiago Navas “Apagamentos/encobrimentos”, na qual o artista intervém sobre as fotografias de Militão de Azevedo, apagando os prédios com um processo de esfolamento do papel para sinalizar os edifícios que não aguentaram ao tempo. Caixa Econômica Federal. 2016. 9. Wisnik, Guilherme ao comentar o trabalho de Marcelo Zozzhio “Repaisagem”: “Contudo, mais do que um simples choque entre os elementos novos e antigos, eles mesmos discrepantes, o que as montagens de Zocchio realmente revelam é a presença invasiva de uma outra temporalidade em meio à São Paulo que conhecemos. Pois esses espaços vazios que de repente se abrem em meio à saturação da grande metrópole não são apenas respiros. São signos de uma vida mais lenta, que acorda do sono secular para impregnar-se na cidade atual. Acho que quem viu essas montagens fotográficas não voltará a passar por estes lugares com olhos tão anestesiados pela cotidianidade do presente.”. ZOCCHIO, M. REPAISAGEM SÃO PAULO, 2016. 10.Informações contidas no livro “Prédios de São Paulo”, Vários Autores, 2015. 11. TOLEDO, Benedito Lima de. Três Cidades em um século, p. 79. 12. idem, ibidem p. 97. 13. Dados do Portal Geosampa. 14. SEGAWA, H. “Prelúdio da Metrópole”. 15. CULLEN, Gordon. Paisagem Urbana. p. 191 16. NAVAS Adolfo Montejo. Fotografia e poesia. 17. Idem, ibidem. 18. BUCCI, Angelo. São Paulo: Razões da Arquitetura. p. 114 19. JORGE, Luis Antônio. A sintaxe da Janela. 1981. p. 43. 20. Idem, ibdem, p. 44

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[15] Show no vão do Museu de Arte de São Paulo. Acervo do autor, 2018

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[17] Relevo da Cidade de São Paulo. Fonte: Geosampa. [18] Várzea do Tamanduateí. Benedito Calixto. Acervo do Museu Paulista da

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[19] Viaduto General Carneiro. Acervo do Autor.

2. Cidade da Cultura. Santiago de Compostela, Espanha. Fonte: Eisenman

[20] a [38]. Acervo do autor.

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