City Lights //
#1 Esta é a City Lights Fanzine e nós somos a Sofia e a Joana. Podiamos dizer que esta fanzine vai falar sobre isto ou aquilo, mas sinceramente não vai abranger nada em concreto, é o que for fluíndo. Não é uma fanzine Posi, Política, (apenas) Hardcore, Vegetariana ou até mesmo Straight Edge. É uma fanzine que vai contar com colaborações de amigos, conhecidos e esperamos que desconhecidos também. Era fixe conhecer opiniões novas sobre os mais diversos temas, por isso escrevam, enviem-nos reviews de concertos, álbuns, livros, exposições, textos pessoais, qualquer coisa, fica ao vosso critério. Neste primeiro número, fomos até Queluz ter uma conversa numa esplanada com o Pedro Mateus a.k.a. Mano Pedro (Sannyasin / X-Acto), nos próximos números contamos ter entrevistas com outros ‘clássicos’ da cena Hardcore. Vamos também ter uma rubrica, O Ganha-Pão, onde queremos conhecer o lado profissional das caras conhecidas dos concertos, neste caso, optámos por falar com a nossa amiga Sofia Yu que está neste momento a viver em Londres e é Fotógrafa. Queremos também dedicar um espaço a Editoras, Distribuidoras, Promotoras, Estúdios de Gravação, Designers, e não só. Tudo o que tem vindo a contribuir para a evolução da cena Hardcore. Assim, fomos conhecer o trabalho que a Juicy Records tem vindo a desenvolver. E como fanzine que é fanzine tem entrevista a uma banda, fomos falar com os No Good Reason e ver o que têm andado a fazer. Para promover o Hc nacional, temos ainda a acompanhar este 1º número, uma compilação de 20 músicas nacionais.
Até à próxima edição, Sofia & Joana citylights.fanzine@gmail.com
RUBRICA
O Ganha-Pão com Sofia Yu Nome
Sofia Yu
Idade
28
Profissão Estudante de Fotografia Full-Time Hobbies
Scuba Diving, Primitive Skills, Foraging, Animal/Human/Earth Rights, Aqua Aerobics, Hiking, Bird watching.
Olá Sofia! Sempre te interessaste por fotografia? Conta-nos como tudo começou? Olá Sofia! O meu interesse pela fotografia surgiu através do meu “estilo de vida”, desde que nasci andei de um lado para o outro, Europa-Ásia e vice-versa, eu diria que sou filha da colonização, que significa ter pai português e mãe chinesa... logo tudo se despertou com o meu vai vem contínuo que mais tarde, na idade adulta me atirou para as minhas viagens indivídualmente. Como deves imaginar tudo o que possuo não ocuparia muito espaço, o que para mim foi bom fazer esse exercício de deixar a casa dos pais e andar com tudo o que tenho comigo… a máquina fotográfica sempre foi essencial, tal como a escova de dentes e o saco-cama. Seja por que razão for, sempre quis compilar os momentos todos, épicos ou não, queria documentar algo que queria viver e que nao vinha nos manuais da escola. Assim sendo viajei uns 7/8 anos seguidos, a fazer trabalhinhos aqui e ali, até ao ano passado (este ano lectivo) em que fui “empurrada” a acreditar que seria possível viver da fotografia e que poderia concorrer a universidade aqui em Inglaterra. Concorri, entrei, consegui bolsa e mais uns empréstimos que “dão” aos estudantes e assim é no presente.
O que fazes para além do curso? Tens alguma actividade em paralelo? Tenho mil actividades em paralelo. para além de fazer Animal/Human/Earth Rights, seja campanhas para angariar fundos, seja distribuir flyers, seja manifestações ou organizar concertos, que só aconteceu uma vez. Eheh, mas a ideia é que gira à volta desses temas.
Tambem “ocupo”, mas não dispenso muito tempo, com sorte as casas que ocupamos vão durando e não tenho grandes problemas de estar sempre a saltitar, mas o tempo que dispenso na casa é somente a arranjar coisas mínimas. Aparte disso, vou acampar e faço umas ”viagenzinhas” visto que o meu curso não requer que esteja na universidade a tempo inteiro. Leio bastante, mais sobre Land Rights e povos indígenas, faço Aqua Aerobics, ando de bicicleta e cozinho vegan raw food… ah e claro, as nossas drug free house parties!
Sentes que Portugal tem falta de oportunidades na área? O que te motivou a ir para Londres? Londres sempre foi uma boa base não só para obter “housing” livre de renda como para juntar dinheiro facilmente e por pouco tempo (2 meses) que me daria uma certa liberdade por uns bons meses. Agora estou no norte de Inglaterra, mas em Portugal tudo é mais complicado. O facto de não ter um “backup” por parte da família, significa que teria de pagar renda, curso, material e ainda trabalhar full-time, o que não quero fazer de certeza eheh. Em termos de oportunidades nunca experimentei, e as vezes que tive para “entrar” nessa de encontrar algo para mim em Portugal, sempre foi numa direcção relacionada com “fashion photography” que nao é mesmo o que quero. Então a motivação de me ter mudado para aqui foi a de ter uma vida “mais fácil”. Eu passei a trabalhar 2 meses na Primavera e depois no Outono outro mês e chegava-me perfeitamente para viajar, visto que não tinha despesas tipo, contas de electricidade, água, etc.
Continuar o que faço mais, com mais fundos eheh. Gostava de dedicar-me a fazer Indigenous People Rights e Environmental Isques através da fotografia, caso não aconteça, sinceramente não me chateia porque continuo a fazer as minhas “cenas” e tirar fotos porque gosto.
O teu gosto pelo Punk/Hardcore já foi ou é aliado à fotografia? Sim, gosto de fotografar concertos “épicos” com bandas bastante influentes, tipo Shai Hulud, Trial, Fall of Efrafa, mas é sempre um dilema entre os stage-dives e a fotografia! :)
A fotografia evoluiu bastante nas últimas décadas. Quais são para ti as principais vantagens e desvantagens da fotografia digital em relação à analógica e vice-versa. Qual a tua preferida? Haha se eu tivesse uma leica a minha opinião mudaria em relação ao digital. Eu uso as duas, gosto da emoção da fotografia analógica e de ser eu a revelar as próprias fotos, tem muito mais relação e sentimento com o trabalho que faço, mas digital é muito mais fácil em termos de acertar com a “qualidade” da fotografia… e em termos práticos de guardar os ficheiros. Mas torna a fotografia de uma forma muito mais banal.
“gosto da emoção da fotografia analógica
e de ser eu a revelar as próprias fotos”
Qual o teu tema de eleição para fotografar? Sinceramente ainda não sei, gosto de fotografar insectos, concertos, mas se for a ver o meu portfólio acho que a minha cena é mesmo “people in places”.
Fala-nos de um fotógrafo que admires. Eu gosto de um fotógrafo que se chama Adrian Arbib, ele fotografou diferentes povos indígenas no Congo, Kenya, West Papua, Mongolia etc… eu vejo-o como uma pessoa super bem sucedida, teve os seus livros, trabalhou para a Survival entre outras organizações e jornais. Aprendi o que é ser humilde com ele, por exemplo o tirar fotos é um acto “agressivo” e que para conseguirmos as fotos que desejamos temos que estar envolvidos com a história e nalguns casos com as pessoas numa perspéctiva antropológica. Em termos de trabalho ele segue um estilo realista que tem vindo desaparecer, e pelo qual eu gostava de ter mais gosto, mas tenho tendência a editar com um pouco de “irreal “ as fotos.
City Lights // Rubrica o Ganha-Pão
Quais são as previsões para quando acabares o curso? O que curtias fazer?
A fotografia exige algum investimento em termos materiais. Esse investimento é compensatório? Acaba por ser recuperado? Eu como tenho bolsas e etc. tive as lentes que queria e filtros sem que directamente me saíssem do bolso, mas sim, gasto bastante dinheiro com a fotografia. Ser recuperado… às vezes dá dinheiro, mas não tenho tentado recuperar nada neste momento, visto que a “escola” ocupa bastante do meu tempo, a fazer fotos para projectos, etc.
Tencionas voltar para ficar? Não tenho muita ligação com Portugal, a minha irmã vive perto de Lisboa com os 3 pequenos dela, e alguns dos meus melhores amigos também. Faz-me falta o sol do Alentejo e o lugar onde cresci. Uma vez por ano chega para matar as saudades todas :) … o “voltar” não está nos meus planos nos próximos 3/4 anos… mas sim, se tivesse dinheiro suficiente para comprar terra voltaria com mais frequência.
“a ocupação faz parte da minha vida” Que ligação tens com Portugal? Uma mensagem a quem está por cá... Muitos gostariam de vir para fora para obterem mais qualidade de vida, mas muitas das vezes eu preferia viver com sol, e próxima da praia, porque isso para mim sim, significa qualidade de vida. Eu gosto da cultura da praia e isso faz-me falta, porque no fundo é isso que faço, juntar pounds para poder desfrutar o calor dos trópicos ;) Por isso a minha mensagem é: O pensamento que lá fora é tudo melhor, não é totalmente preto no branco. Beijinhos para vocês,obrigado pela entrevista e sobretudo obrigado por esta iniciativa! É bom saber que continuam a dedicar-se ao hc e ao punk!
http://flickr.com/minuciosidades http://sofiayu.wordpress.com
CRISE Vivemos neste cantinho esquecido da Europa, onde a economia está sub‑desenvolvida, o emprego está para os que têm cunhas, e o futuro da nossa geração à rasca está lançado à sorte. Tantas vezes penso em ir para fora, arriscar, tentar, lutar, por uma oportunidade especial, uma vida mais estável, um futuro que mais facilmente dependa de mim do que da sorte. Mas depois acordo e está este sol, e o mar aqui ao lado. Ligo a tv, e pelo meio da crise política, vemos tsunamis,
Joana Duarte // xjoanax@gmail.com
YOUTH OF TODAY - break down the walls Uma banda que para esta geração não lhes diz nada. Uma banda de velhos que se juntam de vez em quando para tocar alguns clássicos. Tudo bem, é válido, mas há bandas e bandas, Youth of Today tal como Minor Threat influênciou a vida de muitas pessoas da melhor maneira possível. Tanto com o Straight Edge, como principalmente o Vegetarianismo. Hoje em dia vais a um concerto e trazes de lá o QUÊ? Mosh? Merch? Divertimento? Uma noite bem passada? O que é que trazes de construtivo e positivo para ti? Para a tua vida e em teu redor quando vais a um concerto? O Hardcore é muito mais que mosh e merchandise que trazes dos concertos. Youth of Today foi e ainda é uma daquelas bandas que para mim é sinónimo de Hardcore. É uma das bandas que mais influênciou para melhor a vida de milhares de pessoas. Quando comecei a ir aos concertos de X-acto achava intrigante ninguém daquele pessoal beber ou fumar, e ainda mais intrigante terem X’s enormes nas costas das mãos. Um dia vi um bacano com um shirt que dizia em grande: YOUTH OF TODAY e o logotipo era o tal punho com um X que eu tanto via nos concertos. Apesar de ainda beber, fumar e consumir drogas tanto no Algarve como em Lisboa, nunca deixei de ficar fascinado com o Straight Edge e aquela banda, YOUTH OF TODAY fascinava-me! YOUTH OF TODAY – BREAK DOWN THE WALLS. Pah, aquela energia, aquelas letras, aquele som!!! Primeira música começa a esgalhar com uma energia indeterminável até que há um break e com o maior feeling do mundo se ouve o Ray Cappo: Make a Change. Eu fiquei todo arrepiado com aquilo! Depois Thinking Straight, a mesma coisa, o mesmo feeling (Estou arrepiado agora ao lembrar-me desse dia!!!) até que surge uma parte com mais flow em que há um coro: “my mind is free to think and see”. Passa a terceira música, uma energia brutal, e entra a quarta música em estilo de intro, até que entra a voz: Take a Stand! A esta altura estava totalmente enfeitiçado, a viajar lunaticamente por outro mundo, nada mais importava naquela altura. Podia ter o quarto a arder que não reparava. Aquelas músicas,
City Lights // Não há Crise
NÃO á
catástrofes naturais, crimes, guerras e miséria por esse mundo fora. O nosso canto pode estar esquecido, mas também é privilegiado em muitas coisas. Nem tudo é mau. E as desgraças que nos rodeiam, ainda estão aquém daquelas que atingem tanta gente neste planeta. Ter saúde, poder sair à rua sem medo que haja uma explosão de um momento para o outro, beber água potável, ter dias de sol entre os dias de chuva, sentir sismos 4 na escala de Richter, e continuar a ter a nossa família à nossa volta, a nossa rotina diária, mesmo privados de alguns luxos devido à crise económica… estes são alguns privilégios que devemos valorizar. Se virmos as coisas por uma perspectiva menos negativa, quem sabe nos levantamos da cama com outra vontade, e fazemos algo por nós e pela nossa vida, sem esperar que os outros o façam por nós.
aquelas letras, aquela energia deixaram me de queixo caído! Continua o disco até que chega à sétima música: Feedbacks e timbalões, uma cena diferente, até que entra a letra: Break Down The Walls! Aqui já estava em transe total! Isto era a melhor cena de todo o sempre! Tudo fazia sentido. As letras tinham tudo a ver com o que me rodeava. Nona música: Positive Outlook. Outra música e letra que me deixaram entorpecido! Para finalizar, uma música que fez de mim a pessoa que sou hoje em dia: Youth of Today. Tive uma noite inteira sem dormir sempre a ouvir o disco sem parar. Lia as letras e estudava-as melhor que quando tinha um teste importante na escola no dia seguinte. Tudo encaixava na minha vida, tudo fazia sentido e desde esta noite a minha vida mudou e posso dizer orgulhosamente: mudou para muito mas mesmo muito melhor! Demorei algum tempo a moldar a minha vida pessoal, mental e física, mas no Verão de 1999 deixei totalmente de beber e de fumar e tornei-me Straight Edge e depois mais tarde no Outono tornei-me Vegetariano! Cada vez que ouvia este disco ganhava força de vontade para mudar, ganhava coragem para dizer NÃO enquanto os meus amigos se deixavam levar. O Hardcore é um lugar mágico e tem a possibilidade de mudar a vida de uma pessoa. É impressionante como é que uma banda e um disco conseguiram fazer de mim aquilo que orgulhosamente sou hoje. Leiam as letras das bandas, tragam mais do que mosh e merch dos concertos que vão ver. O Hardcore é muito mais do que isso! Espero que tenham gostado. Rafa XXX sxeyouthcrew@gmail.com
SHAI HULUD em LISBOA. Arroios, 15 de Junho de 2011, 20h45 Destino: República da Música. Objectivo primordial da noite: ver Shai Hulud, ou uma das minhas bandas favoritas de sempre, pela primeira vez em Portugal. Transporte: o meu Peugeot 207. Pendura/Companheiro Hardcoreano: o meu grande amigo Rui Gaiola, parceiro habitual deste tipo de aventuras há já alguns anos, e, muito embora fã de Hulud com timmings ligeiramente diferentes dos meus, também “big die-hard fan” da banda (não foi por mero acaso que nos deslocámos à Corunha, há pouco mais de um ano, com as nossas respectivas, com este mesmo intuito). Como dizem os Suicidal: “Still Cyco After All These Years”!
Para além de dar comigo a pensar que “foram precisos cerca de 15 anos para poder vê-los em Portugal”, sempre que vou para a zona de Alvalade dou também por mim a pensar, de forma automática, nos míticos Censurados. Alvalade Hardcore = Clássico! Enfim, vamos ao que interessa. Chegámos à sala por volta das 21h00 e o Rui Gaiola recebe uma daquelas chamadas que nos faz ficar com um sorriso semi-sarcástico na cara: O nosso velho amigo Ludgero, actual baterista de ATW, a dizer-nos “Estou perdido!”... Ai este moço de Faro… fica logo à toa dentro da capital… ok, continuando… foi preciso aproximarmo-nos das 22h00 para que a sala começasse a ficar minimamente composta. Para quem não conhece esta sala, imaginem uma sala para umas 400/500 pessoas com apenas 100/150... sim, entre o “relativamente desolador” e o “meio-vazio”, mais ou menos isso. Primeira banda da noite: Atentado. Com um line-up composto por elementos com provas mais que dadas na cena metal, Hardcore e crust tuga (Painstruck; Twentyinchburial; For The Glory; Etacarinae, entre muitas outras…), apresentaram-nos uma sonoridade que mistura em iguais doses a pujança e a descarga dos decíbeis mais duros do crust contemporâneo e riffs mais téc-
e responsável pelos riffs mais orelhudos e pesados presentes em todos os discos”. A partir desse momento assistimos a um defilar dos principais temas presentes nos vários albúns, Ep’s e splits editados pela banda norte-america (desde o1º ep da banda, “A Profound Hatred Of Man”, passando pelo aclamado “Hearts Once Nourished With Hope And Compassion”, pelo split com Indecision, até ao último albúm, “Misanthropy Pure”). Circle-pits, stage-divese sing-a-longs foram animando a noite, sempre apoiados por uma banda sonora conhecida por agradar (nem sempre...) a gregos e troianos, onde o peso continua a alternar com a melodia de forma harmoniosa, e onde a mensagem presente, embora de teor muitas vezes negro, serve um ideal de lição de positividade, sempre numa procura de contornar as adversidades e a crueldade do mundo em que vivemos, citação essa frisada, por palavras similares, pelo jovem vocalista Mike, muito presente na fila de frente, passando o seu micro aos fãs mais dedicados da banda. De salientar a entrega e simpatia da banda, traduzidas em cerca de 1h de concerto, e que continua a mover-se por “gosto à camisola” depois de todos estes anos, e depois de variadíssimos ciclos de fans a acompanhar a banda. Fica a nota, pela positiva, para a organização, por continuar a realizar este tipo de concertos – mais pequenos, e por ter no mesmo cartaz bandas de vários locais do país (uma do Norte e uma do Sul). Fica uma ligeira nota oposta, pela negativa, pelo cartaz ficar assim, na minha opinião, relativamente pesado (5 bandas no total) para um dia de semana. O concerto terminou por volta da 1h da manhã. Se calhar sou só eu a pensar assim, não sei... Chamem-me velho... De qualquer forma o velho estava lá, para picar o ponto, 12 anos depois de ter ouvido Shai Hulud pela primeira vez. Young ‘til i die. Sempre. Raykar
City Lights // Shai Hulud em Lisboa
nicos, oriundos de terrenos mais clássicos ao metal e seus afins. Tocaram alto e tocaram bem, mas parece-me que necessitam de dar mais alguns concertos para conseguirem obter mais reacções por parte do público. De seguida subiram ao palco os algarvios A Thousand Words. Nota-se que a banda está mais madura, mais consistente mas ainda à procura de uma nova sonoridade. Se há cerca de 2 anos a banda estava próxima dos incontornáveis No Turning Back, a mesma está actualmente mais próxima de nomes como Rise And Fall (arriscaria dizer “demasiado próximos”) e Dead Swans. Saldo final positivo, a necessitar apenas de uns pequenos ajustes (notam-se, aqui e ali, algumas discrepâncias sonoras, entre temas mais antigos e temas mais recentes). Continuando… Terceira banda da noite: Death Will Come. Ok: onde há DWC, há animação e boa disposição – versão de “Fight For Your Right” dos Beastie Boys incluída. A presença do relativamente novo (ou recente) guitarrista – Jofy, dos extintos All Against The World, pareceu-me representar mais alguns solos de guitarra. Em suma, mais um concerto competente por parte desta banda do Porto, reconhecida e já estimada de norte a sul nas lides da cena Hardcore portuguesa. A banda seguinte, os For The Glory, dispensam quaisquer apresentações. Mais um bom concerto de uma das mais antigas e activas bandas da cena portuguesa. Sing-alongs, 2-steps e stage-dives serviram de alegoria visual aos principais temas presentes nos vários lançamentos assinados pela banda nestes últimos anos – e que já são muitos... creio que já lá vão 8 anos de banda Existiu ainda tempo para uma cover “surpresa” de Gorilla Biscuits, que serviu também para animar as hostes da facção core mais positiva, relativamente representada nessa mesma noite. Os Shai Hulud subiram ao palco já passava das 00h00, guiados pelo veterano e já grisalho Matt Fox, guitarrista fundador da banda, a.k.a. “alma da mesma
Olá Ema! Há quanto tempo estás envolvido no meio Hardcore? Quando e como surgiu este projecto? No meio Hardcore? Há uns 9 ou 10 anos.Engraçado como o tempo passa depressa, a primeira vez que pisei um palco tinha 14 anos, nem sabia o que estava a fazer, se calhar ainda nem hoje sei Ahah. Em relação à Juicy, surgiu algures em Maio de 2010, porque achei que estava na altura de contribuir com alguma coisa para o Hardcore e para a música “underground” em geral. As bandas são essenciais neste meio, mas as pessoas, os discos, a comunidade, o registo de memórias e de momentos é essencial também e é essencial: fazer, agir, viver o DIY para além das letras e das músicas e até dos concertos. Foi um bocado daí que veio a ideia da Juicy, e do facto de querer editar algo dos Step Back, que já mereciam.
A Juicy é uma editora acima de tudo! Mas é muito mais que isso: Newsletter, editora, distribuidora, vídeos… O que achas que melhor caracteriza este projecto? Sim acima de tudo editora, é essa a principal função da Juicy, mas não dava para ficar por aí, senão era demasiado estático. Queremos criar condições para ajudar todas as bandas ou projectos que achemos que valem a pena, mas infelizmente nem sempre essa ajuda pode ser monetária, ou seja editar algo, por isso comecei a expandir as coisas, comecei a por em prática as ideias que tinha. Sempre quis fazer algo diferente e em grande, começar desde logo com várias vertentes, com várias coisas a acontecer. Hoje há tanta cultura, tanta coisa ao mesmo tempo, a informação é tanta, que só consegues a atenção das pessoas se fizeres algo em vários planos. Portanto se não podemos editar um disco de uma determinada banda ou artista que gostamos ou achamos que merece o apoio, nacional ou internacional, pelo menos vamos distribuir discos deles, vamos gravar vídeos dos seus concertos, vamos entrevistar algum dos membros numa newsletter, o que der para fazer, e com isso criam-se conhecimentos, laços, amizades,
cria-se a tal comunidade de pessoas activas e dedicadas que queremos. É isso que caracteriza a Juicy: Pessoas que querem fazer algo construtivo.
A Juicy tem-se destacado pela disponibilização de vídeos de concertos online – Juicy TV. Como surgiu esta ideia, e qual o objectivo da mesma? A ideia surgiu fácil, inspirei-me no http://hate5six.com/, que é um projecto incansável e que basicamente veio trazer de volta a cena dos vídeos de concertos. Quando era puto sacava montes de vídeos de bandas americanas da net, ia a sites e até pelo mirc me mandavam cenas. A primeira vez que ouvi Terror foi num vídeo, a primeira vez que fiquei a perceber o abuso que era Hatebreed ou Champion em concerto foi em vídeos... porque eram coisas que só dava para perceber vendo o que se passava lá fora. A Juicy TV pretende seguir essa linha e ir um pouco mais além, registar momentos, sejam concertos, tours e gravações de discos.
no canto do olho? É isso que espero que aconteça um dia com a Juicy TV.
Porquê o slogan “music with content”? Porque é isso que queremos presente nas nossas edições. Queremos que tenham sempre conteúdo. Mas não vamos pelo conteúdo óbvio, não queremos editar bandas que falam só de política e de valores morais e bla bla bla...o conteúdo é algo abstracto, não é apenas lírico. O conteúdo pode estar nas letras, ou podes senti-lo, podes vivê-lo, pode ter uma história por detrás que só quem se dá ao trabalho de ir investigar é que entende. A música e o Hardcore são mais do que palavras, é esse o conteúdo que procuramos.
Fala-nos das bandas que tens disponíveis na distribuidora. Fazes algum tipo de selecção? É tudo “music with content”? Sendo honesto, a Distro começou como maneira de recuperar algum do buraco financeiro que provém das nossas edições. Cada vez que editamos algo é uma facada nas contas, e estamos a falar das minhas contas
City Lights // Juicy Records
É importante para mostrar aos mais novos que vão chegando, porque um dia mais tarde podemos olhar e ver como era, o que mudou, o que melhorou ou o que piorou. Quanto do pessoal mais antigo não vai ao youtube e vê vídeos de X-Acto e fica com a lágrima
Fala-nos das bandas que tens disponíveis na distribuidora. Fazes algum tipo de selecção? Mandas vir de tudo um pouco? É tudo “music with content”? Sendo honesto, a Distro começou como maneira de recuperar algum do buraco financeiro que provém das nossas edições. Cada vez que editamos algo é uma facada nas contas, e estamos a falar das minhas contas pessoais, que não são infinitas como devem calcular. Por isso pensei “espera lá, há estas editoras com discos tão bons, e não vejo isto à venda em concertos, nem em lojas, porque não tentar vender eu então?”, e foi o que fiz. Até agora tem resultado muito bem. Comecei com cenas da Deathwish e da Magic Bullet, duas editoras que têm bases e bandas de Hardcore mas que não se limitam a isso, e que foram inspirações para a Juicy, e depois fui conhecendo mais e mais editoras, fazendo mais contactos, a coisa foi-se desenvolvendo e os discos foram chegando, as pessoas reagiram melhor do que esperava. Quanto à pergunta se é tudo “music with content”, como está na própria página da Distro: “distribuímos discos de editoras e bandas com as quais nos identificamos, e cujo trabalho tem a qualidade que procuramos reflectir no nosso próprio projecto”. Nunca iremos ter na Juicy Distro discos de bandas que pessoalmente odiamos, ou que simplesmente são vazias e não nos dizem nada musicalmente nem liricamente. Claro que isto tudo acaba por ser subjectivo, até porque agora a Distro já não é só gerida por mim, é com a ajuda do João Fonseca, aka PZ, que tem gostos diferentes dos meus claro.
Sei que estás em Londres neste momento, quem colabora contigo para manter a ligação a Pt de pé? Quem é a Juicy records actualmente? Sim de momento vivo em Londres, pelo que a editora agora é multinacional ahahah. Nah, aqui em Londres ainda não faço nada com a Juicy enquanto editora, mas já comecei a gravar alguns concertos para a Juicy TV, e tenho cá em casa discos da Distro agora para seguirem para Portugal! A Juicy Records de momento é o PZ, que é quem envia as encomendas, gere o stock das cenas e dá uma ajuda mesmo crucial, é o Fábio Verduras a gravar e editar vídeos em Portugal, e são todas as pessoas que nos têm ajudado…
Por exemplo o Nuno de Step Back! ajudou a editar alguns vídeos quando eu tinha menos tempo, a Liliana dobrou zines e empacotou discos e tapes comigo, o Gaiola foi o principal responsável pela nossa segunda release, o João da Infected que foi grande parceiro da 3ª edição e sem ele as coisas não tinham corrido tão bem, os próprios Never Fail e PxHxT pagaram o nosso primeiro disco em parceria comigo...todos merecem o reconhecimento e tento que façam parte das coisas. Até o Nelson, um dos vocalistas da minha primeira banda que já nem vai a concertos me fez um contrabando de discos esta semana para Portugal! É claro que às vezes é difícil manter toda a gente interessada e a participar no projecto tão a 100% como eu, mas o importante é ver as pessoas virem falar comigo e dizerem “como posso ajudar?”.
Fala-nos agora dos vossos lançamento e o porquê dessa escolha. Vou fazer tipo lista, porque senão torna-se complicado manter a cadeia de pensamento: JR #01 - split 7” de Never Fail e PxHxT Basicamente quando comecei a anunciar a ideia, o PZ veio falar comigo e disse que Never Fail queria fazer split com PxHxT e se eu não queria editar, pareceu-me a cena ideal para começar, um disco de amigos e sem grandes pretensões. Arranjei um senhor ilustrador da Turquia para fazer a capa, eu fiz o design do resto, e a coisa começou a tomar forma aos poucos. Foi o primeiro reality check que levei sobre as dificuldades de editar vinil, muito stress perto do fim, mas saiu mesmo no ponto. JR #02 - tape de RELICS O Gaiola veio falar comigo com a ideia de editar esta banda, eu já tinha dado uma checkada no myspace e tinha curtido, e como a edição de tapes não é assim tão dispendiosa decidimos avançar os 2. JR #03 - EP 7” de Resposta Simples Esta foi engraçada…certa noite o Frodo pediu-me para ir ao MSN, que tinha uma cena importante para me falar, entretanto lá me meteu em contacto com o Paulo dos RS. O Paulo explicou-me que a banda já tinha apoio do Governo Regional para lançar o disco, e só precisava mesmo de uma ajudinha extra nas finanças e de alguém com os contactos e a cabeça para fazer acontecer. Eu na altura já estava a perder algum guito por isso não pude entrar com muito dinheiro, mas compensei sendo
JR #04 - split CD Step Back | Death Will Come Esta foi a edição que eu falava aquando do começo da Juicy. Sempre gostei muito de SB!, por serem os gajos fixes que são e por mais uma vez serem pessoas que fazem o que gostam e cagam para o resto… a atitude humilde e DIY deles chamou-me a atenção desde o início, e sempre achei que mereciam alguém editar uma cena deles. A oportunidade surgiu pouco depois da Juicy começar…só acho que fiz mal em lançar este split no mesmo mês que o EP de Resposta Simples, e logo quando já estava a começar a vida aqui em Londres, não consegui dar a devida atenção às coisas, mas mais uma vez foi uma aprendizagem sobre como gerir tudo à distância. Mais uma vez tudo acabou por resultar, com grande ajuda do PZ e do Vítor da Funhouse que foi quem fabricou os CD’s. De início não era para ser CD, porque vinil é sempre a primeira opção, mas não havia o dinheiro nem o tempo, e acho que acabou por ficar uma edição em CD mas com muitos pormenores que lhe dão outra qualidade, tipo os CD’s serem coloridos e ser capa de cartão digipack também foi uma ideia que tirei das edições CD da Deathwish e que acho que resulta para trazer uma qualidade que é reconhecida por quem compra. JR #05 - Livro “Um Delicado Sentido de Equilíbrio” de Nuno Sousa Este livro é um grande passo para a Juicy, e também um passo arriscado, mas é algo que é feito com orgulho e porque acredito no seu valor. É basicamente uma compilação cuidada e revista dos posts que o Nuno fez no seu blog pessoal aquando da sua estadia na Índia, mas ao mesmo tempo é muito mais que isso…na altura eu estava muito imerso no mundo dos blogs então
segui o dele com muita atenção e comecei a ver que estava ali material muito bom para ser editado, porque fazia sentido na minha cabeça. Em Março do ano passado falei na ideia ao Nuno, depois ficou de molho. entretanto ele decidiu aceitar a proposta, e desde aí foi trabalhar para acontecer. Passado mais de um ano está finalmente pronto a sair.
O lançamento de Relics não se tornou um pouco frustrante sabendo que a banda ía acabar? O que motivou este lançamento? E conta-nos da colaboração da best of me no mesmo. Como disse lá atrás, o Gaiola é que foi o principal impulsionador desta edição, ele fundou a Best.of.Me Records e fez todo o design das 2 capas. Eu nunca comprei tapes, mas sinceramente a coisa ficou tão profissional e tão bonita que deu mesmo gosto. A banda acabar mesmo a meio da produção das coisas foi meio frustrante sim, mas ainda assim achámos que o importante é deixar o registo para quem gostar comprar e apoiar. No fundo quem comprou foi porque percebeu a intenção e quis apoiar o projecto em si mais do que a banda, e isso para nós também conta.
Qual a tua opinião sobre a cena Hc portuguesa actual! Destaca bandas, editoras, zines, o que quiseres! Sinceramente o Hardcore tuga está bem e recomendase. As pessoas conhecem-se, organizam concertos por elas próprias, marcam tours. Claro que vão sempre haver as cenas negativas, vão sempre haver concertos que mereciam ter mais gente presente, vão sempre haver pessoas que chegam num dia e bazam no seguinte e depois se calhar voltam quando não têm mais nenhuma moda para seguir, mas isso faz parte do ser humano, não podemos estar preocupados com essas pessoas mas com as que realmente contribuem com algo para a cena, e elas em Portugal existem, acho que existe algo especial em Portugal. Quanto a destaques, pah hands down para o Rafa e a Impact Bookings, que tem feito um trabalho incansável, mesmo que com mais ou menos sucesso, mesmo que perdendo guita muitas vezes… ele faz algo que devia ser mais valorizado, porque sem haver pessoas a marcar tours para as bandas e sem tentar trazer bandas de fora à sua zona e mesmo ao país, as coisas não se desenvolvem. E é fixe ele não se limitar
City Lights // Juicy Records
o principal responsável pela produção dos discos. Nunca tinha feito uma press tão grande, com tantas cores, com deadlines tão apertados...cheguei a vir a Portugal de propósito, já depois de estar a começar a mudar-me para Londres, só para vir tratar de cenas relativas a essa edição. Na manhã em que me ia embora definitivamente para aqui ainda andei a entregar discos ao João da Infected e sei lá mais o quê…mas muito sinceramente foi um prazer, porque os Resposta Simples são dos miúdos mais dedicados e profissionais e humildes com quem já trabalhei, e terei todo o gosto em ajudá-los numa próxima vez. Gente boa como eles, que cagam nas adversidades e fazem o que gostam merece sempre o respeito e a ajuda da Juicy.
a bandas Edge, e marca cenas para bandas de fora… o Hardcore no Algarve não era o mesmo sem o Rafa, e é pena que muitos putos não vejam isso. Quando fui com Cold Blooded lá abaixo no show de No Turning Back, vi um show DIY em que ele meteu lá 150 pessoas contra todas as expectativas, um show pequeno e DIY como se quer, mas que dá banhada a muitos concertos pela Europa fora (basta ver o vídeo da Juicy desse show), mesmo havendo o obstáculo geográfico e ainda a cena do público não ser sempre fixo e por isso não haver garantias que se consegue break even. Quanto a bandas, pah há muita qualidade na tuga, desde bandas que têm tido discos muito bons e têm feito tours muito fixes que se calhar há uns anos ninguém imaginava fazer, como For The Glory, Adorno, Devil In Me, e depois há as bandas novas que surgem e surpreendem e ganham terreno a todo o vapor, como Shape, Cold Blooded, etc. E pá a cena no Norte está muito boa também! Ainda no outro dia vi um vídeo de Death Will Come fortíssimo! Tenho muito orgulho em tê-los como parte da família da Juicy também! Editoras e zines é que complica sempre, porque são coisas mais para quem tem o tempo e paciência. Mas a zine do Congas, Overpower & Overcome está com uma qualidade muito boa, mesmo a própria qualidade da impressão e design estão muito apelativas, e gostava de ver sair mais um número da Wake Up And Live. Editoras, a única que consigo destacar mesmo é a Salad Days do David, se calhar estou a ser injusto com outras que têm feito algo construtivo, mas ainda no outro dia estive a ouvir as cenas novas de Pressure e está alta jarda, só me consigo lembrar da Salad Days!
Agora que estás em Londres, fala-nos de novos projectos para a editora? Algum lançamento de bandas Inglesas? Vês isso acontecer num futuro próximo? Porquê? Londres é estranho, ainda não apanhei bem o feeling da cena Hardcore da cidade. Tens concertos de tours em que aparece muita gente mas parece tudo muito pré-fabricado e as pessoas não se conhecem, tens outros em que a cena é mais local mas depois tocam bandas estrangeiras e o pessoal não apoia. Vi Hoods há uns dias e fiquei irritado por ter sido um concerto de merda, mas há a malta da Rucktion sempre firme a fazer a cena deles e a marcar concertos com bandas locais, fazem muito pela cena de Londres mas não é a cena dos putos mais novos que vejo em outros shows. Vejo muito cenário e pouco conteúdo, muita roupa da moda e zero bancas de distros e zines…
é estranho. Gostava de editar algumas coisas em parceria com editoras daqui, há algumas que acompanho mais de perto e que têm a qualidade que procuro atingir com a Juicy…mas não sei até que ponto isso irá acontecer. O coração da Juicy mora em Portugal, isso é certo.
Que diferenças sentes entre as cenas Hc Inglesa e Portuguesa? Tens saudades dos concertos cá? No seguimento do que disse na pergunta anterior, só posso mesmo ter saudades.Não só pelo feeling mais humilde dos concertos, mas também pelas pessoas, pelo convívio. Aqui nunca vou chegar a um concerto e cumprimentar várias pessoas, dar aquele abraço aos amigos e conhecidos que quase só vejo nos shows, rir e ter aquelas conversas aleatórias e tão familiares. Isso só se consegue com os anos, com muitos concertos, com um sentimento que aqui não consigo ter.
Tens ido a muitos concertos? Destaca uma banda que tenhas visto recentemente? Não tenho ido a tantos quanto gostaria, ou porque nem sei que acontecem (não vi Daylight e Basement), ou porque o dinheiro não dá para tudo. Recentemente só consigo destacar Glassjaw, que foi um abuso e uma das melhores cenas que já vi ao vivo. Depois vi Hoods que é daquelas bandas que desde mais puto sempre curti, e fiquei muito desapontado com a reacção do público mas não com a banda, o Mike Hood foi Hardcore ao ponto de chamar as coisas pelos nomes e dizer aos londrinos que eles eram uma merda e isso para mim vale mais do que muitas bandas que vêm em tour já com o discurso ensaiado e não reagem aos bons e maus públicos também. Ah! Defeater e Terror, os primeiros shows que vi cá, cada um deles brutalíssimo, especialmente Defeater que foi intenso do início ao fim. Ah! e vi Raekwon, mas sem Ghostface não é a mesma coisa ao vivo, e está velho (Wu-Tang <3).
Que banda sentirias orgulho de ver lançada pela juicy? (mesmo que já não toquem actualmente) Acho que já respondi a esta pergunta algures noutra entrevista, mas como ainda mantenho as mesmas ideias desde aí, vou ter que repetir os nomes: Trapped Under Ice, Blacklisted, Breakdown (que soube hoje que acabaram! Merda!), Bon Iver, e já agora só para fazer
cumprir, tudo feito com um toque especial, cuidado, e em formatos e formas que desafiem as pessoas a pensar antes de consumir…se há algo que não quero é que as pessoas se habituem a “mais do mesmo”, e que a Juicy fique associada a rótulos. Ah e vamos ter merch mesmo a tempo do Verão, numa colaboração muito especial que está aí a surgir!
E que concerto de sonho gostarias de publicar em vídeo? Dá-nos 3 bandas!
Últimas palavras?
Eix esta é difícil… tendo em conta que o vídeo é muito mais sobre a performance das bandas do que propriamente os meus gostos, talvez tivesse que dizer uns Have Heart, com Cold World e uns Comeback Kid (da era do Scott), porquê? porque são 3 bandas que assim de cabeça me lembro de ver vídeos brutalíssimos deles ao vivo, mesmo do tipo cenas crazys e público a ficar louco e fazer cenas insanas…é isso que quero ver num vídeo de um concerto, banda a dar tudo, público a dar tudo, um grande feeling mesmo. Foi assim que algumas bandas me conquistaram.
Então como vês o futuro da Juicy Records? Fala-nos de planos futuros!? De momento o futuro é o Livro do Nuno, e mais 1 ou 2 discos que quero lançar este ano…resta saber se em CD ou vinil. Em 2011 prometi a mim mesmo que ia levar as coisas com mais calma, até porque tive muitas mudanças pessoais e a Juicy consome muito do meu tempo pessoal. Quero que acima de tudo as coisas mantenham o padrão de qualidade que tenho tentado
Quero agradecer pela oportunidade de mais uma vez poder expor as minhas ideias,e quero pedir que mantenham esta zine activa e regular, porque as zines são das coisas mais criativas que se podem fazer no Hardcore e na música em geral, e é onde estão as ideias, os diálogos, é uma boa forma manter as bases da comunidade, de ligar as pessoas. Eu sei que ler não está na moda (isto dito por um gajo que está prestes a editar um livro nem faz sentido ahah), mas é mesmo isso que se pretende aqui: não seguir a moda, as massas, o que a sociedade diz que é certo ou errado. “The revolution will not be televised.” E deixo mais uma vez o apelo a quem quiser dar um contributo, seja ele qual for, para a Juicy, para entrar em contacto comigo. Não pensem que é porque não sabem mexer com vídeos ou sites ou designs ou sei lá que não podem ajudar, há muitas coisas envolvidas neste projecto, e para continuarem a fluir mais e mais ideias são precisas sempre mais pessoas. Mail: info@juicyrecs.com http://www.juicyrecs.com/ http://vimeo.com/juicyrecstv
Depois do último lançamento “My Brother Evil” e de muitos concertos a encher salas de um Hardcore duro, directo e contagiante, os Reality Slap retiraram-se para estúdio, e avizinham-se novas surpresas. A banda tem estado a gravar o novo álbum “Necks and Ropes”, que conta com várias participações que vão deixar-vos com água na boca. Winston Maccall de Parkway Drive e Justice Tripp de Trapped Under Ice, nomes badalados do Hardcore internacional, são algumas das novidades do álbum. Também amigos da banda, como Mike Ghost de Men Eater e Poli de Devil in me juntaram-se à festa e contribuíram igualmente para enriquecer o tão aguardado lançamento de Reality Slap. O álbum está ainda em processo de masterização e prevê-se um lançamento para meados de Outubro, ou quem sabe para uma data mais mítica como 11/11/11. Vamos aguardar.
City Lights // Juicy Records
granda misturada acrescento Black Thought, ou vá The Roots, porque assim é uma banda e já não fujo à pergunta. Tudo isto são coisas que gosto muito, bandas que oiço bastante e que para mim reflectem muito daquilo que gosto no Hardcore. Claro que estou a fazer uma selecção limitada, mas se tivesse essas bandas no “catálogo” da editora já morria feliz.
TITLE FIGHT - shed Nos dias de hoje é perfeitamente normal qualquer banda de Hardcore surgir com produções que na minha opinião de “Hardcore” pouco ou nada têm. Baterias que soam a plástico, re-amps de guitarra, etc. Metemos os albúns a tocar e levamos com um som super alto, em que as cenas por mais bem que soem , ficam a soar sem feeling. Os Title Fight são das poucas bandas hoje em dia que fogem a estes vícios, o disco novo SHED, gravado pelo grande Walter Schreifels mostra-nos uma banda que vai buscar grandes influências a Lifetime, Jawbreaker, Hot Water Music e Texas is The Reason. Todo este disco me soa natural, as músicas não soam forçadas nem gigantes, soam como as bandas que me habituei a ouvir nos anos 90. A fasquia tinha ficado bem alta desde o lançamento de “The Last thing You Forget”, um 7inch com 3 malhas que sabiam a pouco. Foi precisamente na altura do lançamento deste EP que os vi em Londres juntamente com Shook Ones e Polar Bear Club, e foi realmente um dos melhores concertos que vi até hoje, linecheck com “Accident Prone” de Jawbreaker e intro do concerto com a malha instrumental de Texas is The Reason. Seguiu-se um festival de dives e de sing alongs. Os Shook Ones ficaram de tal maneira nervosos com o concerto dos miúdos que deram por eles a tocar músicas ao lado e para metade da sala. Voltando a SHED, produção bem late 90’s, letras super catchy que nos deixam logo agarrados, o lançamento acabou por ficar a cargo da Side One Dummy Records, por um lado penso que vai ser bom e que lhes vai abrir portas a um público mais mainstream, é claro que é normal ficarmos meio reticentes quando uma banda pequena assina por uma editora maior. Podia ficar a escrever mais sobre o disco mas o melhor é mesmo ouvirem por vocês próprios e se acharem que nunca tinham ouvido um disco assim foi porque ficaram a meio na escola dos 90´s e o “Dear You” de Jawbreaker nunca fez parte da vossa playlist. Lugero Urbano
Com ambiente acolhedor e ideal para jantaradas, o restaurante “Sopinhas”, é o restaurante Vegetariano eleito para este número da citylights fanzine. Vegetariano sim, porque continua a fazer sentido. A alimentação vegetariana além de bastante saudável e saborosa, continua a ser um estilo de vida para muitas pessoas deste meio underground que é o Hardcore. Esta é acima de tudo uma escolha que privilegia o respeito. Ser vegetariano é bom e recomenda-se. Este restaurante além de bastante acessível à carteira, apresenta-nos uma grande variedade de pratos quentes e frios, disponíveis através de um apetitoso buffet. Mal entramos no restaurante deparamo-nos com várias saladas frias, recheadas de diversos vegetais e molhos saborosos. Os pratos quentes são também eles muito tentadores e originais, incluindo ingredientes que conferem um sabor peculiar a cada prato, desde a batata doce às castanhas adicionadas ao seitan, entre as bolinhas de soja fritas, e as pizzas e tartes que vão surgindo à medidas que outros pratos se esgotam. Por fim as sobremesas fazem as delícias dos mais gulosos: serradura, frutos silvestres ou chocolate, há para todos os gostos.
RESTAURANTE o sopinhas
Situado na Rua da Madalena, nº 50. Experimentem!
PEDRO MATEUS
City Lights // Tempos de X-Acto
X-acto
SANNYASIN
O meu nome é Pedro Mateus, toquei baixo nos X-acto e Sannyasin, tenho 36 anos. Começando pelo início, o que é o Hardcore e como chegou a ti? Nós já ouviamos Metal, Anthrax, Kreator, Sepultura, Iron Maiden, e de repente eu e o meu irmão fomos estudar para Sintra onde conhecemos muita gente que também estava nessa onda. O pessoal do Cacém era mais punk mas era mais uma vivência de dia-a-dia, de estar sempre na rua e de andar de skate, não havia muito som a girar entre as pessoas. Em Sintra já havia. Mas a culpa mesmo disso foi o skate. A Thrasher magazine tinha sempre um artigo que era o Sound Bites, em que falava da música que o pessoal andava a ouvir, aquilo foi em 88 quando estava a explodir a cena de Nova Iorque e na altura o pessoal andava a ouvir Gorilla Biscuits, Youth of Today, Agnostic Front, Bad Brains, tudo o que era artigo nessa parte era sempre sobre esse género de bandas. Depois tinha por exemplo cenas sobre o pit, cenas sobre bouncers, seguranças, qual era o segurança mais bacano, o mais estúpido, até aquele segurança da música dos Gorilla Biscuits do primeiro álbum, com um dos Gorilla Biscuits de braços cruzados e o gajo bué grande com a mão em cima da cabeça dele. E foi a partir daí, depois começámos a ver aquelas bandas que na altura era impossível arranjar, o máximo que tu podias fazer era entrar em contacto com pessoal que tinha mais discos do que tu, ou que tinha mais gravações. Até havia um pessoal que tinha umas listas de gravações que eles podiam fazer e tu pagavas não sei quantos escudos cada gravação de cassetes
de 60 ou 90 minutos, mas mesmo assim esse género de bandas era impossível arranjar. E há um dia em que eu e o meu irmão vamos à Bimotor, uma discoteca no Rossio em Lisboa e fomos ver o que é que lá havia de discos num dia qualquer de verão, e encontro o Gorilla Biscuits - Start Today e Murphys Law - Back with the bong, e então esses dois discos foi mesmo do género WOW, espera ai, isto não é bem metal, nem é bem punk, e a voz é normal, porque já ouvíamos The Exploited e coisas assim. Aquilo foi uma lufada de ar fresco, com letras bue positivas, e então dissemos, WOW isto é que é o Hardcore? Então agora só oiço Hardcore, isto é muito melhor do que metal.
Na altura como é que arranjavas os Cds e as K7s das bandas? Tinhas que conhecer alguém que tivesse muito, muito dentro da cena. O Hardcore era uma música invisível, o punk tinha mais visibilidade talvez até pelos próprios punks, o Hardcore era muito sub-cultural. Por exemplo eu uma vez na Bimotor, encontrei dentro de um disco de metal que estava a ver, um flyer, e o flyer era a promover a demo tape de Atrofiados que acabei por mandar vir e que na altura me custou 500 escudos. Depois ficavamos sempre dias e dias em pulgas à espera, quando a cassete chegou fui andar de skate a ouvir aquilo, curti, e pronto basicamente tinha de ser assim se não tivesses dentro da cena, não estávamos, estávamos muito longe. Na altura não existia em Lisboa nada que nós conhecessemos, depois haviam coisas mais pequenas mais localizadas.
Nós não sabíamos que existia cena Hardcore em Lindaa-Velha, não sabíamos que existia cena em Cascais, Loures, Margem-Sul. Todos nós pensávamos que estávamos completamente isolados e éramos um grupo de 50.
Como começou X-acto? Haviam projectos anteriores? Nós tivemos um projecto punk no Cacém que eram os Caos Total, foi por aí que nós começámos a tocar, nunca gravámos nada, era uma banda punk de lá com o Anarquia e outro pessoal, depois fizemos os Posiactivos, e aí já foi depois de conhecer o pessoal Straight Edge de Benfica. Essa crew Straight Edge foi a primeira, com o João Straight, com o Pedro que depois cantou em X-acto que já não era Straight nessa altura, e com o Carolas que também já não era Straight. E depois havia mais um ou outro na altura, eram praí 6. Eu e o Xico de Subcaos aparecemos num concerto na JCP da Caixa Económica em Lisboa, era um concerto de Censurados, o primeiro de Corrosão Caótica, e aparecemos de X mão, porque alguém tinha trazido de Nova Iorque um Cd de Youth of Today, e então era a marca de Youth of Today, era como se fosse uma T-shirt da banda. Então estávamos lá nós, nem bebíamos, nem fumávamos, mas pareceu-nos que era o adequado e decidimos ir comprar uma cerveja cada um, cravámos um cigarro e estavamo-nos a tossir todos quando apareceu um gajo de X na mão, que já nos tinha entregue uns panfletos à entrada, e que se virou e disse “O que é que vocês estão a fazer?? Tão a fumar de X na mão? Vocês são malucos ou quê?” e nós “ Wow, espera lá, mas o que é que estás praí a dizer? Este X é de Youth of today”
o gajo disse “Straight Edge” e nós “Han??! O que é que é isso” e pusemo-nos a pensar e havia uma música que falava disso, entretanto sacámos do bolso o flyer que o gajo nos tinha dado á entrada e estivemos a ler. O panfleto era meio “jovem” digamos assim, tinha as maneiras de vestir, mas a mim o que mais me atraiu porque não existia na altura, era que falava de uma cena em que tinhas homens e mulheres no mesmo patamar, não a cena de engate, mais a cena de amigos, tipo uma crew, e vi que isso era possível. Quando na altura ias a um concerto de metal, tinhas lá duas metaleiras e ponto final. Tanto que quando foram aqueles concertos de Censurados no Carlos Lopes, concertos daqueles com milhares e milhares de pessoas, daqueles com assaltos de faca no meio da roda, nós decidimos fazer uma roda à parte lá atrás, com o pessoal a correr, e às tantas o pessoal da outra roda ia lá e gozava. Era aquilo mesmo que queríamos, era o que líamos nas letras das músicas e era o que eles faziam, o circle pit, e de repente, pela primeira vez, tivemos gajos a gozar connosco a dizer que aquilo era a roda das miúdas, porque ali havia bué miúdas e na outra não, na outra havia gajos com correntes e sei lá o quê. A partir dali nós vimos que era possível construir alguma coisa e fomos fazendo. Depois de Posiactivos acabar que era meio noise-core, nós decidimos fazer uma coisa mais melódica, ainda com um line-up Straight Edge, mas depois chateámo-nos com o vocalista, o João. Entretanto liguei ao Pedro, cantei-lhe as músicas pelo telefone e ele explicou que já não era Straight Edge e eu disse-lhe “não faz mal, já não é essa cena”, o gajo curtiu e ainda aprendeu um ou dois refrões pelo telefone, ainda teve a cantar comigo, aquele alto “go for it” tás a ver? E pronto, tínhamos a banda montada.
Os ensaios no Cacém fala-me disso…
“O que é que vocês estão a fazer??? Tão a fumar de X na mão? São malucos ou quê?!”
Os ensaios no Cacém era os meus vizinhos em sofrimento atroz, e nós a fazer barulho desde as 10 da manhã até às 3 da tarde de domingo. Ensaiávamos também outros dias, conforme nos apetecia, no verão costumávamos montar os amplificadores e a bateria por cima da garagem e tocávamos assim, ouvia-se ali à volta no Cacém, toda a gente que quisesse conseguia ouvir. Quando estava muito calor para andar de skate era logo garagem e às vezes íamos lá para cima apanhar um bronze, depois começou pessoal a aparecer, ligavam a perguntar se dava para ir ver,
City Lights // Tempos de X-Acto
e de repente em todos os ensaios tínhamos 10, 15, 20 pessoas. Foi assim que conheci amigos da minha irmã como o Sega e amigos dele como o Ricardo, o Rodrigo, o pessoal de Queluz, etc. Depois conforme houve pessoal que foi saindo de X-Acto (o João Pedro saiu de X-Acto porque musicalmente aquilo não lhe dizia nada), entrou o Sega, depois o Libelinha saiu, porque mesmo não sendo uma banda Straight Edge, para ele era Straight Edge de mais, e entrou o Ricardo, o Rodrigo já tinha entrado também e tivemos aí uma fase como banda Straight Edge durante uns bons anos. Entretanto éramos Vegan Straight Edge, até que pronto, depois fartámo-nos daquilo e tínhamos de fazer Sannyasin porque X-Acto já tinha “ovelhas” a mais e as expectativas das pessoas eram tão altas que nós já não conseguíamos fazer nada sem sermos censurados ou chateados. Então pensámos, vamos começar uma coisa do 0 e aí pronto, as expectativas das pessoas vão ter que descer muito, não nos vão andar a pedir para tocar esta e aquela e toca a “Uma Só Voz”, e coisas que nós já tocámos, e eu acho que foi o melhor que podíamos ter feito! Para mim Sannyasin é muito melhor do que X-Acto musicalmente, em termos de letras também é uma coisa diferente, mas dá muito mais gozo ouvir X-acto do que Sannyasin, sem dúvida.
Em 1994 saiu uma “unreleased demo” com algumas músicas que poucos conhecem, como a LSHC, Hardcore e punks da moda fora! (posiactivos) e Skarolas. De que falavam estas músicas? A LSHC, era uma cover de SSD com a letra em Português, a letra era tipo “Acabámos de chegar, a bomba vai rebentar, novas bandas, nova mensagem, linha de Sintra Hardcore, juntos vamos construir, juntos vamos conseguir, para nós não há barreiras nem editoras interesseiras que nos consigam calar, estamos aqui para ficar, juntos vamos construir, juntos vamos conseguir, linha de Sintra Hardcore”. A Skarolas, era um ska, que dedicavamos ao Carolas, que tava sempre nos nossos ensaios antes de ser tatuador e pintor, estava lá sempre a desenhar. Hardcore e Punks da Moda Fora, era uma musica de Posiactivos, que era “ A função do Hardcore que é melhor, é de lutar para o mundo mudar, se pensas que o Hardcore é uma moda, gajos como tu podem ir levar no cú, se estás aqui só para te exibir, podes-te ir embora, não precisamos de ti”, esperávamos e o pessoal gritava todo “Hardcore e Punks da Moda Fora!”, porque ao principio havia muito isso do poser.
City Lights //
Hoje em dia há mais facilidade em ser vegetariano, com todas as alternativas que começam a haver em restaurantes e supermercados. Como é que era na altura? Quando nós nos tornámos vegetarianos pensávamos que a cena fazia muita mal à saúde, e a informação da Peta e da Vegan Society ainda não tinha chegado. Na altura não havia informação nenhuma, nenhuma, nenhuma… o máximo de informação que tínhamos era uma música de Youth of Today e uma de Gorilla Biscuits que não dava para nada. Entretanto os Youth of Today no We’re not in this alone, davam a morada da Peta e nós escrevemos para lá, recebemos informação e ficámos todos malucos, do género, mais saudável??! Han?? E pronto, a partir daí nem vacilámos, foi sempre a direito. É pena que nessa altura e ainda hoje, esses produtos sejam muito caros apenas por questões de mercado, mais nada, mas eu acho que uma pessoa que se queira tornar vegetariana pode tornar-se vegetariana sem andar a consumir coisas ridículas de tão caras, que na Bélgica custam 1/3 do preço. Mas depois vai de cada um, não é por uma pessoa comer carne que vai todos os dias jantar ao Tavares Rico. Dizer que o vegetarianismo é mais caro? Não, não é, podes comer couves, arroz integral e fruta, e provavelmente vais ficar melhor do que se andares a comer junk food, seitan e leite de arroz.
“uma pessoa que se queira tornar vegetariana pode tornar-se sem andar a consumir coisas ridículas de tão caras” Em 1994 fizeram uma tour pela Europa, como é que foi o processo de arranjar contactos, carrinha, etc? Aquilo já estava tudo montado, o pessoal tinha distribuidoras, tinha editoras, tinha os contactos todos do pessoal todo pela Europa, porque naquela altura o pessoal falava pouco por e-mail, mas falava muito por carta, e tu numa carta não mandavas um e-mail, escrevias mesmo coisas da tua vida, etc.
Então os contactos estavam mais do que feitos e nós muitas vezes até íamos lá fora ver concertos de outras bandas, e de repente falaram connosco, mostraram interesse, o Bruno do Vort’n Vis, o gajo da Good Life e os gajos da MAD estavam interessados em organizar tours. Primeiro com Oi Polloi e com Inkisição e depois foi para a frente uma que era para ser com Strife, etc. Mas depois disso é igual em todas, passas um mês dentro de uma carrinha, com pessoal à pancada uns com os outros. Mas pronto, tocar com Oi Poloi pela Europa é sempre uma experiência incrível, de repente estás em Dresden, num concerto com milhares e milhares de pessoas, com zonas onde podes entrar e outras onde não podes entrar, mapas marcados com zonas a verde, amarelo e vermelho, por causa da matricula do carro, para termos muito cuidado, mas foi muita bom! Os Oi Polloi são incríveis, todas as noites era uma ganda festa. Nós Straights, eles não, quer dizer, o Libelinha já não era Straight, mas ganda festa todas as noites.
Numa entrevista feita ao Sega pela sisterhood, em 2003, ele falou de algo como “terem destruído o material todo que levaram”. O que aconteceu? Pois, aquilo foi-se estragando, era água por todo o lado e não estávamos preparados. Nós pensávamos que íamos de férias basicamente, depois as cenas começaram a falhar, concertos a falhar, stresses, stresses de comida, stresses de lixo dentro da carrinha, não dormir durante não sei quantas horas, conduzir de mais, e pronto, o material foi-se estragando, colunas estragadas, um montão de cenas estragadas, foi quase tudo ao ar.
Em que países tocaram? O pessoal conhecia as vossas músicas? Como é que foi a aceitação? Em Espanha, até fora das Tours íamos muitas vezes tocar a Espanha, à casa ocupada de Madrid, a Bilbao, Barcelona. Mas pronto, não tocámos em França, tocámos depois naqueles países todos da Europa central, Holanda, Alemanha, Alemanha de Leste quase na Polónia, aquelas cenas do costume, depois também tocámos no Vort’n Vis. Não tocámos no festival Straight Edge, nós desde que lá fomos uma vez a esse festival, achámos aquilo meio ridículo e então decidimos que nunca iríamos tocar no festival Straight Edge, porque não gostámos da cena, havia uma cena tipo milícia, centenas de gajos a gritar na rua, e a tentar bater nuns punks só porque partiram umas garrafas, aquilo para nós não fazia qualquer sentido, ridículo.
Em 95, no Harmony as One, começaram a escrever letras em Inglês. Porquê? Foi para tentar chegar mais longe. O nosso público sempre foi Portugal e Brasil, cantar em Português tem muito mais power. O Inglês por um lado cortava um bocado, a nível do público - porque o pessoal sente menos - do que se for cantado na nossa língua-mãe, mas era uma experiência que tínhamos de fazer para a mensagem não ficar tão presa aqui. No entanto, nunca fomos uma banda com muito impacto lá fora, fomos uma coisa muito, muito local. Até porque principalmente X-Acto, se tu cantares aquilo até corre bem, mas se tu ouvires não é propriamente brilhante, porque também não estávamos interessados em fazer a música perfeita, era mais o grupo de amigos. Sannyasin, já havia mais uma preocupação a nível musical, o Rodrigo já cantava no sítio que era suposto cantar, era diferente. Era mais pela mensagem como acontece cá em Portugal, por isso tentámos isso.
Como é que surgiu o Benefit (Split com Ignite)? Surgiu daqueles contactos por mail, através da Ataque Sonoro, mas que depois foi uma granda trapalhada. Tanto nós como os Ignite estávamos convencidos que aquilo era benefit, e depois não foi benefit. Portanto, o dinheiro foi reinvestido na Ataque sonoro que entretanto faliu. E quando tiveram cá os Ignite, foram pedir responsabilidades aos gajos da Ataque Sonoro, mas não sei como ficou a cena. Mas pronto foi através dum contacto, surgiu naturalmente, eles mandaram a cena e nós já tínhamos algo gravado. Não gosto muito do split, porque a gravação deles não faz jus ao som deles da altura, eram 3000 vezes melhor.
Qual o concerto mais mítico de que há memória? Mais mítico? Hmm, talvez aqueles com Skamioneta do lixo e 31 no Ritz. Talvez no Brasil, que tocámos dentro de uma piscina, vazia claro, com o pessoal todo a volta, e um bar com comida vegan/vegetariana.
Portanto foram ao Brasil… Fomos ao Brasil tocar 15 datas. Os concertos em S. Paulo eram tipo qualquer coisa! O Rodrigo tinha de se preparar fisicamente para conseguir manter o microfone, tinha de empurrar o pessoal, que o pessoal fazia pile ups e pile ups, e o amplificador do baixo pegava fogo, e aparecia um gajo e dizia: “posso fingir que estou a tocar baixo?”, e eu na boa, e ía cantar e moshar e ele ficava ali, e depois de repente ele com o baixo a moshar, já sem cabo nem nada. Grande “Go for it” o pessoal de S. Paulo, esses concertos foram míticos em S. Paulo. Em Lisboa, no café central também eram míticos. É uma cena que o pessoal não fala muito, mas era muito giro, dava para um gajo se pendurar no tecto. Os primeiros de X-acto também foram míticos, tipo naquelas festas da juventude, que juntavam tudo o que era metaleiro, xungas, dreads ali no Rossio em que aquilo estavas a ver o concerto e aconteciam muitas coisas estranhas ao mesmo tempo. Cenas da pesada, tipo na roda, com facas a escrever com cortes no peito, era uma cena muito destrutiva ao princípio. Tanto que nós, como aquilo não tinha muito a ver connosco, tínhamos que mudar um bocado a cena, e foi um bocado isso.
Na altura onde é que se tocava em Lisboa, além do Ritz? O Ritz era muito bom para tocar para mim porque podia ser eu a organizar, porque tinha um bom entendimento com quem estava a organizar a sala – o Kadafi. E então aquilo dava dinheiro para toda a gente, para mim e para eles, e sempre que dava pagava às bandas. Fizemos vários concertos de beneficência, que juntámos kilos e kilos de comida e de roupa, até uma vez juntámos umas centenas de contos para um amigo nosso que tinha sido penhorado por causa de umas cenas. Portanto íamos fazendo assim umas cenas. Havia pessoal que não tinha a mesma facilidade, ia lá tentar organizar e eles punham um preço mais alto ou assim, e então o pessoal vinha falar comigo tipo, “ah porque é que não pões a minha banda a tocar?,
City Lights // Tempos de X-Acto
Preferíamos tocar no festival punk mil vezes, do que com uns quaisquer americanos que são Straight Edge, e que isso só por si – sobre uma pessoa - não me diz nada, não sei o que é que eles têm dentro da cabeça. Uns Rattus, uns Força Macabra, uns Subcaos, uns Oi Poloi, nós sabemos o que aquilo é. Agora uma banda só por ter um nome “não sei quê Go” não quer dizer nada, e nós queríamos ter mais impacto do que isso.
não queres? Mas não queres porquê?”… e eu tipo “sei lá - Do it yourself!”. Entretanto começaram todos a chatear-me tanto a cabeça, que eu fiz uma fanzine, que ensinava como se fazia um concerto do princípio ao fim.
Isso era uma das out of step? Acho que era uma out of step, ou vontade de ferro, não sei… A partir daí sempre que vinha alguém chatear, eu dizia: “olha está aqui, faz! Isto é Do it yourself, eu faço com quem me apetece, tu fazes com quem te apetece”, e depois vinham me dizer que são sempre as mesmas, “pois são!”. Eu não sou nenhum representante da cena Hardcore. Opah o pessoal mexe-se e faz as coisas, agora virem cobrar que sou isto e que sou aquilo, não. Não sou nenhum promotor de Hardcore. Sou músico e organizava os nossos concertos.
Quantas pessoas havia nos concertos? Tendo em conta que haviam concertos todos os fins de semana mais ou menos não era? Era! Mas em média eram cerca de 300/400 pessoas por concerto. Existiam concertos que eram capazes de chegar às 900 pessoas. Skamioneta do lixo, X-acto e assim foram 800 e tal. X-acto não era uma banda pequena nem grande, estava ali no meio, batemos o record do Johny Guitar. Ao Johny Guitar foram 350 pessoas, levantavas os pés não caías, a sério parecia os santos populares.
Posters, flyers, cartas… mas muito poster, e também muito a cena do telefonema, tipo “olha vai haver isto”. Não havia facebook, mas haviam contas astronómicas de telefone!
A cena Hardcore mudou bastante nos últimos 20 anos. Para melhor ou pior? O que levou a isso? Hm, não sei. Porque eu acho que neste momento há tanta coisa, tantos milhares de bandas, que às vezes é quase sorte e azar não é? Tu estás a fazer um digging de som, e é o que descobres… Se está melhor se está pior, não faço a mínima ideia. (Risos) Não faço mesmo ideia, sempre houve a cena do stage dive como há agora, que sempre foi uma cena bué normal para nós. Se calhar agora nestes últimos tempos, vejo talvez uma cena mais extrema a nível visual. Na altura para seres do Hardcore, pensavas que tinhas de ter uma t-shirt e uns discos, e agora já tens de ter tatuagens e não sei quê, já é uma coisa mais complexa e mais extrema. É possível que muita gente entre por causa do visual também, e até da música. A nível de ideias é que está um bocadinho mais pobre. Está mais egocêntrica. Acaba por ser também um bocado uma reacção à violência do homem.
Straight Edge, o que era? o que é? O que vai ser? Eu não tenho uma noção muito clara da cena Straight Edge hoje em dia, por isso não consigo falar disso. Eu sempre tive uma visão, que era a minha, que era de autocontrolo, e não de abstinência. Claro que se houver uma pessoa que teve um problema com drogas e que vá para o Straight Edge, aí faz mais sentido a abstinência, porque em princípio se tem uma personalidade aditiva, não vai conseguir lidar com uma cerveja. É preciso não esquecer que os SSD, etc., todo esse pessoal, a cena não era de não beber álcool ponto final, era tipo, “apetece-me beber uma cerveja, bebo uma cerveja, ficar bêbado não quero”. Mas depois já sabes como são as coisas, são interpretadas por toda a gente, e acham que aquelas é que são as regras. Agente sempre levou bue na cabeça de pessoal que achava que nós não cumpríamos as regras, as deles. Nós sempre achámos que o Straight Edge, tal como diz o Ian dos Minor Threat é para interpretar de forma
pessoal, e não parecer uma cambada de ovelhas. E isso sempre foi um bocado a nossa cena, nunca foi uma cena militante. A maioria dos meus amigos, bebiam, fumavam, muitos infelizmente morreram agarrados ao cavalo. Nunca tive aquela cena de dizer o Straight Edge é bom e os outros não prestam. Mas não sei como está a cena hoje em dia… não faço ideia. Espero que esteja minimamente interessante. Agora, tal como o Ian MacKaye e os outros inventaram o Straight Edge, eu acho que o pessoal também pode inventar coisas novas. Não há nada que diga que mais nada pode ser inventado! Na nossa altura, era uma cena que surgia, quase mensalmente havia uma cena nova. Havia Straight Edge, havia o hardline, o hard Edge, havia não sei quê, o pessoal estava sempre a inventar cenas novas. Agora parece que a cena está mais estática, parece que tens de encaixar num daqueles compartimentos. Ora se eu acho que o punk é o poder da expressão, eu acho que o pessoal em vez de entrar e querer encaixar numa cena, devia ser mais criativo. Tal como os outros trouxeram coisas novas, alguém inventou o termo Hardcore, alguém inventou o termo mosh, alguém inventou o termo Straight Edge. Não quer dizer que tinhamos de ficar no Straight Edge para sempre. Alguém pode inventar uma coisa melhor, alguma coisa mais completa, mais simples, sei lá, não faço a mínima ideia… o pessoal que está na cena é que tem de puxar pela cabeça e ver o que é que faz sentido, organizar, criar.
“o pessoal em vez de entrar e querer encaixar numa cena,devia ser mais criativo” E o DIY? Eu acho que continua presente. Há muitas bandas que eu saco, e vejo que a cena continua a existir, não é? Por exemplo uma cena que eu odeio, ver um cartaz de Hardcore, em que as bandas têm referências de bandas de outros países, normalmente muito melhores. Tipo banda não sei quê, “tipo Terror e não sei que mais”,
City Lights // Tempos de X-Acto
Sem facebooks, myspaces ou twitters, como é que se divulgavam os concertos?
o que é isso? Aquilo não é um banner. Aquilo é um poster de Hardcore. Porque é que o pessoal tem de se projectar como uma cena melhor do que é? Porque é que não são mais humildes, e dizem tipo “banda da minha praceta”, porque é que tem de ser como Terror, Strife, não é! Depois vais ouvir “hmm não é bem..” (risos). Não sei porque é que o pessoal põe, para chamar público? Aquilo não chama público, aquilo ainda está a fechar mais a cena. O DIY é bué importante, era como aquilo que estava a falar há pouco do Ritz, tipo uma das cenas que mais me atrofia hoje em dia é esta nova cena das marcas fazerem concertos, TMN faz este concerto, tocam estes e aqueles. Ao Hardcore isso ainda não chegou, ou pelo menos não devia ter chegado, eventualmente alguma das bandas já tocou nessas cenas. O que eu acho é que estamos a correr o risco de daqui a 5 anos, chegamos a um ponto que um concerto só é possível, se a Vodafone estiver atrás. É que não estou a falar de cenas no pavilhão atlântico, depois vai acontecer no Santiago Alquimista e em sítios pequenos, quando podiam ser organizados pelas próprias bandas. Porque é que as bandas não fazem? Estão à espera dos gajos que vão lá explorá-los, ganhar rios de dinheiro com a imagem deles, a tenta-se colar a uma cena de rock independente ou hip hop ou disto ou daquilo, agente não precisa das marcas para nada. As marcas fazem parte deste sistema, e nós andamos a tentar encontrar soluções para as cenas. Não faz sentido ficarmos nas mãos delas, por isso é que eu acho que o DIY é super importante. Tipo as cenas que normalmente acontecem de Hardcore, casa de Lafões, parte sempre de alguém de um ou de outro, de quem organiza as cenas, portanto o Hardcore para mim é DIY sem dúvida.
O Hardcore está presente na tua vida actualmente? Eu acho que 25% da música que eu oiço é Hardcore. Gosto de ouvir as últimas cenas de Slapshot por exemplo, se bem que os considero um bocadinho ridículos (risos), mas gosto da energia. Gosto muito de 25TaLife, mesmo muito, continuam a tocar não é? Gosto de bandas que às vezes o pessoal não conhece, gosto de Sweetbelly Freakdown, gosto de Fugazi, Los Crudos, Limp Wrist, sei lá adoro Bad Brains.
O que é que tens ouvido ultimamente, mesmo sem ser de Hardcore? Eu acho que o som que oiço mais mesmo é hip hop, sem dúvida nenhuma, é 70% do som que eu oiço. Depois, muito jungle e Hardcore, em quantidades iguais, e depois gosto também muito de Jazz, adoro cenas de noise, reggae, electrónica, digital... de tudo um pouco.
Estás envolvido nalgum projecto musical? Tenho agora uma banda, um projecto, aliás, vais ser para um ou dois concertos, chamado the Nosebones com o meu irmão na bateria, o Geraldes na guitarra e o John a cantar, são só covers de músicas antigas de skate.
Diz aí uma ou duas: É Circle Jerks, é Black Flag, Descendents é aquelas músicas dos primeiros filmes da Santa Cruz. Hmm, agora temos isso, fora isso, o meu irmão toca numa banda que é os Mahamudra, que é uma banda de rock psicadélico de improviso. Eu faço as minhas misturas de hip hop e vou passando hip hop jungle por aí pela cidade. Tenho algumas músicas feitas e algumas letras feitas, para uma coisa que haveremos de arrancar a médio prazo, uma continuação de uma música de Sannyasin, chamada Zorba o BUDA. Mas pronto agora vai servir também para voltarmos à sala de ensaio, e voltarmos a estar uns com os outros, vamos ver como é que as cenas funcionam, se curtimos, se não curtimos, para depois então avançarmos para uma coisa mais séria.
Em termos de mensagem, achas que o Hip-Hop tem mais conteúdo? Sem dúvida, acho que em todas as frentes o hip hop, está a conseguir coisas incríveis não é? Quando eu falo em todas as frentes, falo nas várias frentes do hip hop, seja arte, seja os B-boys e a dança, seja o scratching, e depois a cena mesmo da música de hip hop. Ou seja pessoal que está muito metido com o desenvolvimento social, com a capacitação das comunidades, muito envolvido na política socialmente, não quer dizer que sejam todos… mas em termos intelectuais, o hip hop, já vai muitíssimo mais longe que o Hardcore… não é que o Hardcore, mas sim que a generalidade do Hardcore. Também, a generalidade do hip hop não apresenta soluções, a parte mais visível do hip hop,
No dia 16 de Maio, vai tocar Youth of Today em Lisboa. Entre outras bandas destacase Uma só Voz, tributo a X-acto. O porquê deste tributo neste concerto? Existe alguma ligação? Algum propósito, para acontecer só neste concerto? Eu vou ao tributo, claro que vou e vou ver Youth of Today. Mas, eu sei que as razões principais do tributo, claro que é uma coisa que já apetecia a muita gente, mas são razões basicamente comerciais. Não tenho problema nenhum com isso, falaram connosco várias vezes para tocarmos, nós dissemos que não. E pronto, houve essa oportunidade, essa coisa que eles montaram surgiu, e pode ser uma coisa gira. Para acabar, quanto a esse concerto, acho que vai ser um bom concerto, e espero que seja um concerto em que se olhe para o futuro e não para o passado.
“espero que seja um concerto em que se olhe para o futuro e não para o passado”
É um facto que X-acto deu uma nova perspectiva à vida de muitos miúdos ao longo dos anos. Como é que te sentes em relação a isto? A mensagem foi passada? A missão foi cumprida? Acho que sim, X-acto e Sannyasin acho que sim. Acho que vão haver outras missões de outras bandas para frente, espero que sim. Acho que tivemos o nosso papel, muitas vezes há pessoas que vêm ter connosco como se nós tivéssemos inventado tudo aquilo, como se estivéssemos sozinhos naquela altura. E nós dizemos, atenção que estas ideias não eram nossas, estas ideias eram uma corrente mundial, na qual nós encaixávamos. Nem sequer são coisas que nós inventámos, nós simplesmente achámos que aquilo era importante, e fomos passando aquilo, e por outro lado, esta banda tinha centenas de bandas à nossa volta na altura, e é ridículo, só se referir uma. Tipo X-acto sem Sub-caos e sem Alcoore, se calhar nunca tinha existido. Nós, as 3 bandas irmãs, puxávamos umas pelas outras, ainda por cima de uma maneira saudável: o pessoal picava-se, tipo “epah fizeram uma demo tape, bora lá fazer uma demo tape este fim de semana”. Portanto nós sozinhos nunca existíamos, e pensar que X-acto é o Hardcore é mesmo mentira, porque ao mesmo tempo haviam cenas tão importantes quanto nós, com propostas muito boas. Tínhamos por exemplo o pessoal de Linda-a-Velha, como os Pé de Cabra, como os 31, como todas aquelas bandas à volta, com um certo tipo de revolta muito característico daquele pessoal, mas também muito bem-vindo, muito espontâneo. Era dos único sítios onde eu sempre me senti muito bem dentro da cena Hardcore, nunca uma pessoa olhou de cima a baixo para mim, ou porque eu era Straight Edge ou porque já não sou Straight Edge, não! Cada pessoa ali valia por ela mesma, e não por ser esta ou aquela pessoa, e com isso sentia-me muito bem lá. Um concerto em Lisboa já é diferente, os putos que nunca te viram a tocar, que estão ali a babar a olhar para ti, que pensam que tu inventaste não sei quê, que pensam que tu és um semi-Deus mas não és! Inclusive até na nossa vida já aconteceu, por causa das letras, ter situações em que “pá como é que é, naquela letra parecias o oposto, e agora és assim.” Eu escrevi aquelas letras principalmente para mim, não era porque era assim, era porque precisava de ouvir aquilo, e precisava de cantar aquilo para melhorar. X-acto sem a cena Hardcore nunca deveria existir,
City Lights // Tempos de X-Acto
é o gangster, o “tu não gostas de mim, e eu gosto de ti”, que é o pop. Mas depois para apanhares pessoal que realmente está a fazer coisas, como o Chullage como outros, como o Jorginho, o Primeiro G, etc são gajos que estão mesmo a dar o litro pelo desenvolvimento social do país na verdade. Pouca gente do punk Hardcore; por exemplo vejo alguns, o Vairinhos, o meu irmão, o Guterres, etc. É pena que o pessoal do Hardcore seja tão “ele deu-me uma facada nas costas”, “ele não é Hardcore”, “nós somos Hardcore, a minha crew é melhor que a tua”, “tu já não és vegetariano”, “tu não bebes”… Epá o país está a cair, o FMI está a entrar aí e o pessoal anda tudo à procura de confusões uns com os outros. No hip hop o mesmo com os beefs... por favor vejam que há cenas que realmente são precisas debater que não são estas…, temos de deixar de olhar para o nosso umbigo. Aquela cena do benefit de X-acto, foi um bocado essa tentativa, deixar de estar aos murros contra uma parede, e pá vamos encontrar soluções, vamos andar com esta merda para a frente. Acho que isso aí é: ou somos parte da solução ou somos parte do problema, agora o pessoal é que escolhe.
acho que é extremamente injusto as pessoas pegarem em nós, e verem-nos como se formássemos uma cultura, enquanto sempre houve, até cá em Portugal, bastantes bandas, e mais de metade delas com mais qualidade que nós, musicalmente. É muito injusto o pessoal pegar numa coisa só porque é um bocadinho visível e não falar das outras cenas que estão a acontecer noutros sítios. O Hardcore não é só Lisboa, o Hardcore nem pensar que é só X-acto, ridículo. E estas ideias veganismo, não foi X-acto também, são coisas que pertencem a uma comunidade, a única coisa que fizemos foi continuar essa corrente. E acho que foi uma mensagem com grande impacto, era uma mensagem na altura extremamente nova, e ainda continua a ser nova. Parece quase que todas aquelas bandas avisaram o que iria acontecer agora, estes colapsos, de estar a acabar o peixe, de repente haver problemas gravíssimos, por exemplo esta situação do Japão. De repente parece que nunca houve um movimento contra-nuclear. Parece que isto é uma coisa completamente aceitável, que nunca houve outras hipóteses a nível energético para o Japão, ou para o mundo. Esquecem-se que nós estamos a lutar desde o fim dos anos 60 contra a energia nuclear. Era óbvio que energia nuclear seria uma ameaça, num país que abre buracos no chão, e tem ondas gigantes. E depois andarem a fingir que aquilo olha… aconteceu, não. Os seres humanos têm de ser mais responsáveis, e quem está à frente tem de ser mais responsável pela saúde e pelo caminho de todos, eu acho isto uma idiotice, estar a fingir que olha é a vida, aconteceu. E é nesse aspecto que eu digo, essas contraculturas, essas sub-culturas sempre tiveram uma mensagem que falavam dessas coisas, quando se falava de ecologia, não era propriamente não mandes o papel para o chão, eram cenas muito mais profundas, nós sempre falámos
dessas situações. Nesse sentido, acho que era importante as bandas de agora olharem um bocado à volta, ver do que é que é preciso falar, que pedras é que é preciso atirar ao charco, e mexerem-se, atirar essas pedras. Se calhar já não é haver aquela letra igual a todas, é falar das coisas que estão a acontecer agora. Claro que fica muito melhor, ter uma música que fala dos amigos que te atraiçoaram, porque toda a gente já teve um amigo assim, toda a gente se identifica. Eu nunca gostei de Propaghandi porque nunca consegui cantar as letras, aquilo era político demais, mas encontrar um meio termo, em que fazes uma cena com uma boa energia, construtiva, e que fales de coisas realmente importantes. Não há solidariedade nenhuma entre as pessoas, estão todos tão separados entre si, e cá em Portugal daqui a uns anos vai ser uma bomba. Se os não sei quantos milhões que eles usaram em blindados, se usassem para melhorar a vida de algumas comunidades que estão quase a explodir seria muito mais sensato. Mas como a sensatez nunca foi o forte dos nossos políticos, está na nossa mão. Esta é a para mim, a cena mais básica do Hardcore:
Vais ficar à espera que mudem o mundo por ti? ou tu vais participar activamente, na medida do possível? Pode ser com um quadro, com a tua atitude no teu dia-a-dia, pode ser qualquer coisa… mas vamos ficar à espera que nos resolvam os problemas? Para conseguirmos as coisas temos de nos agarrar a elas, temos de lutar por elas.
www.myspace.com/blackrainhc http://blackrainrecs.wordpress.com/
City Lights //
REBELLION TOUR2011 Nunca tive um diário, logo nunca escrevi nem relatei um dia da minha vida que fosse, a não ser em música. Dia 17 Abril, prontos para uma pequena viagem até Amesterdão, um dia antes de nos juntarmos à Rebellion Tour. Ainda nem tínhamos chegado ao aeroporto de Lisboa e já me doía a barriga de rir com os meus cambas, não dão uma pa caixa, e o Matos mesmo no último minuto de embarque lembra-se que tem que ir a uma farmácia. E lá fomos nós a voar por essa Europa fora. Chegando a Amesterdão fomos procurar o hostel no qual tínhamos reserva para essa noite, só me cheirava a erva, mas tanto, tanto que já nem sabia se não queria ou se pedia uma mortalha! Fiquei-me por uma jola, até porque tinha que aquecer, pois eu e o Matos tínhamos encontro com uncle Mitts para ir ver o Benfas, e assim foi! Fomos cedo para o hostel, pois o meeting no dia a seguir era praí as 9h! 6 da manhã estávamos na cama! E ai estava o primeiro dia: os autocarros a porta do aeroporto! Que POWER! Já lá andavam os Trapped Under Ice, e mais tarde chegaram os Madball, Wisdom in Chains, Born From Pain e All For Nothing. No nosso bus estavam os T.U.I. e os A.F.N. Trapped foi logo alte química, mais da trashalhada, todos do não bebo nem fumo, mas memo só trash! Os All for Nothing são bacanos, íam logo pa caminha cedo e tal outra onda mas boa gente!
Buuuuussss e começa a nossa primeira viagem até DenHaag, uma horinha só, nas calmas, uma venue brutal (Paard). Já lá tínhamos tocado há bué com os Bulldoze, bué bem tratados não estivéssemos nós na Rebellion Tour! Sala ao barrote, já uns putos para nos ver, nada de outro mundo, mas bom feeling. All for Nothing nunca tinha visto. Gostei, mas temos bandas em Portugal que fariam melhor! Mas boa banda. Wisdom in Chains é daquelas bandas que só me apetece é ir buscar uma jola e cantar, moshar, que power, lindo lindo lindo! Trapped Under Fucking Ice, caralho! Nunca tinha visto, e nem é bem a minha onda, mas depois de ver, meu deus, só me apetecia era dar pontapés no Tiago e no Johnny Slap a.k.a puto da escola! ahahah! Born from Pain não os via há muito e também foi poderoso. Segue-se o momento que todos esperavam: Madball! Nunca cansa, nunca farta! Hardcore no estado puro e duro, são REIS! Foi um grande dia, foi bom estar com pessoal que já conhecíamos de outras tours e começar novas amizades. Carregamos os trailers. O bus foi até à primeira estação de serviço, bebemos uns suminhos e jolas e caminha que amanhã há mais!
18 Abril: Schweinfurt - outra venue que também já nos era familiar e sim, hoje foi o nosso primeiro dia de “MÁFIA”! Máfia deve ser só o melhor jogo do mundo para quem anda em tour e não só, é lindeeee! Rapidamente o Hoya ensina as regras e estamos a jogar, mesmo muito bom! A tarde passa num instante e é hora de ir para o palco entregar o core! Vendeu-se bom merch e já tínhamos mais putos a cantarolar. O “Only god” bate e a “Push” também. Este foi também o dia em que o nosso bus começou a ter stress a nível técnico e tal. Na Áustria mais precisamente em Vienna, não estava muito contente pois o merch ficava na rua e estava um frio que não lembrava ao menino Jesus, mas a sala era boa. Este dia marcou-me e penso que aos D.I.M também, é que durante o set de Madball fui para o lado do palco numa malha antes da Get Out, a música prestes a começar e o Freddy olha à procura de algo vê-me e chama-me, pensei que fosse um stress qualquer, mas não, era para cantar com ele a malha que lhes foi dada pelos Agnostic...AAAHHH! Natal chegou mais cedo para mim. Fui, cantei a tremer, o Freddy abraça-me e diz “U my boy Poli”. Lágrimas de alegria, esta parte talvez seja um bocado difícil de entender ou não, mas quando o front man duma banda que ouves desde que te lembras do que é Hardcore te chama assim do nada, a mim...um simples puto do core: “não! é mentira!” pensei eu, é difícil explicar… enfim, a partir desse dia ele disse-me que me queria sempre lá para cantar com ele (eheheh) e assim foi. Entretanto tocámos em Wroclaw e Warsaw na Polónia. Foram bons shows, países um pouco mais pobres mas super dedicados à cena e sim salas cheias a meio da semana. REBELLION! 23 abril: Berlin - SO36, Meu deus, que sala, que cidade! Antes de fazer som fomos até à cortex ter com o david. Aquela loja não existe, é muito mesmo. Foi também um dia muito importante da tour, pois o Mitts (Madball) fazia 40 anos, pois, 40 ampolas e ainda a bombar. Então nós andávamos loucos à procura de uma prenda po “uncle”, até que vimos uma casa daquelas que imprime tudo o que quiseres nas tees e mandámos fazer uma com um 40 gigante nas costas a dizer Mitts (memo à bola) e à frente no peito
“d.m.s-f.c” (demonstrating my style - football club), claro que pedimos ao Hoya se podiamos por o d.m.s, calmo. Isto feito, chega a noite, adorei tocar. Foi intenso e já estava mesmo muita gente a ver. Todas as bandas destruíram, Madball teve alte momento com a entrada em palco para cantar os parabéns e dar a camisa ao Mitts. A seguir ao show já era de esperar com o bus call às tantas, e o aniversário do Mitts: BEBEDEIRA! E que boa noite foi esta, com pormenores que não vale a pena aprofundar…lol. Seguiram-se concertos em Hamburg (Alemanha), Drachten (Holanda), onde já tinha estado nos tempos de For the Glory (bons tempos), e chegámos a Essen (Alemanha) dia 26 abril, festival Bringing Back the Glory! Foi giro até certa hora, mas já lá vamos... O spot era uma antiga escola, o festival era indoor com o palco “principal” no rés-do-chão e o mais pequeno um piso abaixo. Muita banda do beatdown lá, deve ter sido o paraíso para muitos, para mim foi tipo purgatório. Tocámos no palco “principal”, a sala é gigante, faz parecer com que 400 pessoas sejam 40. Mas tá-se, eu adorei! Os manos do som sempre à toa, o meu cabo de mic já tava fodido então deram-me um acrescento de um metro ligado a uma extensão marada, que tinha que andar sempre a puxar ahahah só rir! Pedias guitarra, era só baixo, mandavas baixar o baixo, era só voz no prego ahahaha! Mas mesmo com este tipo de situações as bandas foram brilhando, Wisdom teve das melhores entradas da noite. Sala já mesmo ao barrote e o Joe diz: “...close that hole, we´re not a beatdown band, let’s sing along and stagedive!” Toda a gente se riu, até o pessoal que lá andava de fato de treino a mostrar que era do karaté e da ginástica artística, boa onda. Bem aqui vai disto: Trapped Under Ice sobem ao palco, ainda estavam os feedbacks a crescer já estavam praí uns 500 putos à pêra ehehehe! Tudo prometia uma ganda festa era tudo a cantar e dives à toa,
City Lights // Devil in Me Rebellion Tour
o pit parecia uma batalha! Até que o Justice quase que cai, e acreditem aquele palco tinha praí 1.70 de altura. Entre uma música e outra, ele pede educadamente para terem cuidado e não o puxarem, nem empurrarem do palco, pois aquele palco era mesmo alto. Passa mais uma música e a cena repete-se, (estamos a falar de um palco gigante e largo pa caralho) ele volta a pedir delicadamente. Uma malha começa e um jovem salta por cima do Justice e ao começar a cair agarra-se e puxa o Justice para o chão, este cai directo de cabeça, levanta-se atordoado e claro um pouco farto, é neste momento que desata à pêra com o outro, acerta apenas uma ou duas pêras, já cheio de pessoal em cima, eu, o Johnny Slap e o Joe saltamos para o público, e isto é o que nas filmagens não se vê. Para quem não sabe, o rapaz que ficou com o maxilar partido é amigo de uma crew ou pertence a essa mesma crew que já nesse dia tinha batido nuns putos e que tem por hábito estar nos shows a “patrulhar”. Isto para vos explicar que a seguir a separarem o Justice do outro puto, ainda estavam putos alemães a molhar a sopa, e bem! Bom, o puto vai para o hospital, o show continua e acreditem que foi uma festa na mesma. Madball foi bom, mas depois de Born from Pain ter tocado,o ambiente morreu um bocado. Um dia menos bom, mas como um grande senhor nesse dia disse:”it is what it is”. Encontramo-nos a meio da tour e a net fica inundada com tretas e mentiras acerca do que se passou, tudo fala que o Justice isto, e Trapped aquilo, mas ninguém se lembra de quem ficou mesmo a molhar a sopa. Enfim, de repente os putos são os piores do mundo! E num vídeo onde não se percebe nada toda a gente vê tudo em H.D! Que se lixe, a tour continua, mas o show de Paris tinha sido cancelado, mesmo assim arranjámos uma venue de um dia para o outro que ficava a uma hora de Essen. Tocámos num clube praí do tamanho do Berlim (bar no bairro alto) capacidade para 150 a 200 pessoas, foi giro! Passamos então por Lahr (Alemanha) e tivemos em Lyss (Switzerland) onde pela primeira vez provámos carne de cavalo. Digo-vos já: é muito bom! Foi daqueles concertos como às vezes ainda temos por cá, pessoal que fica meia hora no palco a saltar e a querer que o guitarrista lhe dê um high 5 enquanto toca! Dia a seguir passámos por Stuttgart na Alemanha onde tagamos tudo o que estava limpo, bah!
31 Abril - Munchen (Alemanha). Ganda venue, alta concerto mesmo! O fim da tour estava próximo e quem anda na estrada sabe bem que é triste quando chegamos àqueles últimos gigs. E assim foi, dia a seguir tocámos em Lindau também na Alemanha, e chegámos ao nosso último dia de tour: Dillingen-Antatack fest!! Nunca tinha ouvido falar mas estava mesmo com alta produção, foi mesmo alte dia de chill out. Estava calor pa caralho, tudo na rua na palhaçada, até mesmo o facto de termos feito mal as contas e afinal o nosso avião de volta ser só passado 1 dia, não afectava nada, lá nos orientámos. Os concertos foram todos da risota embora com alguma pena daquela tour estar mesmo no fim. Última vez que se carrega os trailers, última viagem no bus até ao aeroporto para deixar as bandas! Despedidas que nunca mais acabavam (ahahah) e acabámos por ficar com os Trapped até à hora deles.
Bem, nunca tínhamos feito uma tour assim de bus e é bem mais fácil, é brutal! Descansas bem todos os dias, e tens o teu quartinho sempre lá. Foram muitas noites com o bus em andamento sem dormir e só na conversa a partilhar música, conhecimentos e de tudo um pouco. Voltámos ainda com os pés mais na terra, e a querer fazer mais e dar mais à cena Hardcore nacional. Nunca pensámos ter tido o Lou (S.O.I.A.) a cantar no brothers, como nunca tínhamos pensado ir em tour para o Canadá ou sequer fazer o que temos vindo a fazer e ser acarinhados por tão boa gente. Entretanto o “The End” anda aí, é um disco que diz muito acerca dos D.I.M! Obrigado pela oportunidade de vos dar um cheirinho do que foi a Rebellion Tour, e obrigado a ti se leste isto até ao fim, pode ser que ganhe um nobel! Sempre vossos, DEVIL IN ME.
www.myspace.com/devilinmeband
Sem contar com o Use Your Ilusion II de Guns n Roses, duas cassetes de Bon Jovi e a discografia de Offspring até ao Americana, o Straight Ahead de Pennywise foi o primeiro CD que comprei que me fez mesmo ficar colado. Devo tudo à FNAC, que o tinha em destaque na secção de Punk/HC com aqueles auscultadores que nos deixavam correr o álbum de uma ponta à outra sem pagar nada por isso. Lembro-me como se fosse ontem, FNAC do Colombo, ouvi o álbum um bom par de vezes até que decidi comprá-lo, sem hesitações. Foi o Verão inteiro a ouvir aquilo, não tinha discman na altura, então gravei aquilo em cassete e foi até a fita rebentar. Andava sempre com aquilo no walkman e até me lembro de o ouvir no carro dos meus avós, contra a vontade deles, claro. Ainda hoje pertence àquele grupo de álbuns que todos temos em que mal acaba a última música já temos saudades da primeira e não resistimos à tentação de o meter a rodar de novo. Se tiver de escolher um álbum preferido de sempre, escolho esse. Que mais poderia escolher? Foi este álbum que me abriu visões para toda a comunidade punk e hc. Talvez a um nível mais mainstream, mas ainda assim, importante. Se naquele dia tivesse passado pelo corredor da FNAC sem reparar nele quase decerteza que hoje não estava a escrever um texto para uma zine, não tocava em bandas, não ia a concertos, não marcava concertos, não lançava bandas. Cheguei a Lisboa depois das férias de Verão e descobri que tinham tocado dois ou três dias antes na Praça Sony, aquela Warped Tour que lá houve com uma data de bandas e que até o Ice-T tocou. Espectáculo! Tive de esperar dois anos até poder vê-los, no mesmo local. Pennywise é a minha banda preferida de todos os tempos e por muitas bandas que goste, por muito que o meu gosto mude, nunca vai deixar de ser. Fuck Zoli.
João Fonseca - PZ
City Lights // Banda de Eleição
PENYWISE - Straight ahead
No Good Reason é uma banda dividida por Almada, Londres, Sabugal, Nova Iorque e Faro. Tocam algo entre o Punk Rock e o Hardcore.
Como é que apareceu No Good Reason? Pz: A banda começou em 2005 com Almada como núcleo, só depois é que começámos a contratar pessoal do Sabugal e do Algarve. Inicialmente a banda era eu (PZ), o Bráulio, o Diogo, o Rui e o André. Mais tarde o André saíu da banda e entretanto o Rui foi viver para Londres. Neste momento está o Ludgero na bateria e o Gaiola na guitarra.
Tinham outros projectos antes de NGR? Quais? Pz: Dos 5 membros iniciais, apenas dois já tinham tocado em bandas antes. O André era de The Lisis Journey e o Diogo tocou em Take a Hike (um clássico de Almada) e em The Great Disaster. Depois de NGR começar, o Bráulio e o Diogo formaram Adorno, o Rui tocou baixo em Decreto 77 durante uns tempos e eu toco em Never Fail. Em relação ao Gaiola e ao Ludgero, nem vou dizer as bandas em que tocam/já tocaram senão nunca mais saio daqui.
Com a alteração do line-up, o som da banda também teve alterações? Pz: Sim, acho que sim. No EP melhorou bastante a qualidade. Acho que todos temos influências
Diogo: Estou muito contente com o resultado final do EP. Desde que entrou, o Gaiola participou activamente na construção e reconstrução das musicas com muitas ideias e propostas tanto na bateria como na guitarra. Acabou por resultar muito bem.
Agora se houver um concerto por ano no Ponto de Encontro tá muito bom. Actualmente, para tocar em Almada só há o Revolver, aos preços que toda a gente sabe… enfim. Last Hope ainda tocam, embora infelizmente quase ninguém lhes ligue. São realmente uma banda que merece todo o valor porque nunca deixaram de fazer as coisas que queriam. Das bandas da Margem Sul são sem dúvida a que mais se esforçou, têm 3 albuns cá fora e acho que as pessoas lhes deviam prestar mais atenção.
Gaiola: O italiano não sabe ler português… descansem.
Diogo: Actualmente sinto que a cena MSHC já não é tão activa como antigamente, onde existiam muitas bandas e muitas bandas novas sempre a aparecer. Os concertos além de serem bastantes, estavam sempre cheios. Como o Pz disse, e bem, nem era necessário combinares com alguém porque sabias que toda a gente ia estar no Ponto de Encontro. Era brutal. Na altura aquelas bandas clássicas como os Last Hope, Newt, Human Choice, Act of Anger, entre outros enchiam a sala com toda a gente a cantar. Mas os anos foram passando e as bandas foram-se desmembrando, as pessoas ficaram mais velhas e foram deixando de ir aos concertos e tocar, possivelmente foram criando outros interesses. No entanto embora não siga tão de perto as coisas hoje em dia, julgo que ainda há bandas a aparecer. Mas as pessoas e os concertos são menos.
Bráulio: Ya, tirando o facto de que “discografia” é também a palavra italiana para discografia.
Em 2007 houve uma tour no Reino Unido? Como é que foi?
As letras quem é que as escreve? e sobre o que falam? o que é vos inspira?
Pz: Nós queriamos ir ver Gorilla Biscuits a Londres, então pensámos ir uns dias antes e voltar uns dias depois e aproveitar para fazer uma tour. Começámos a mandar mensagens pelo myspace a bandas, até que uns amigos de Nottingham, os Almost Home responderam e começaram a marcar as datas. AH! Temos de falar do outro gajo (risos) havia um gajo no Reino Unido que nos disse que ia lançar a K7 e nos ia marcar a tour e acabou por não fazer nada. Quem marcou a tour toda foram os Almost Home. Isto aconteceu em 2007. Quando o Bráulio chegou dos Estados Unidos em 2010 tinha as cassetes em casa, só demorou 3 anos a fazê-las, obrigadão Lee (risos). By the way, ainda temos essas cassetes algures na casa do Diogo.
Que lançamentos têm até agora? Pz: A Demo, um Split com Directions, o Far Away e a discografia. Bráulio: Ah! Shhhh! Isso não se pode dizer! (risos) Pz: Na realidade a discografia não pode ser descoberta por ninguém, porque o italiano da Chorus of One queria exclusividade do Far Away, mas o nosso amigo João Punker mostrou tanto interesse em lançar 50 cds com a discografia que não resistimos. Tudo o que disse neste parágrafo não pode nunca ser utilizado contra nós.
Braulio: Se bem me lembro, no ínicio fui eu e o Rui a escrever, obviamente sobre a batuta do resto da banda. Com o passar do tempo acabei por ser só eu, o que levou a ter um sentimento mais pessoal nas letras. No geral são todas apontamentos a situações com que se lida diariamente à medida que vamos crescendo e enfrentando novos marcos na nossa vida.
A cena MSHC como é que está actualmente? Pz: Meio morta. Já não é como era quando comecei a ir a concertos, havia concertos todos os fins de semana, muitas vezes dois concertos em cada fim de semana. Lembro-me de quase nem ser preciso combinar ir aos concertos porque havia sempre algo no Ponto de Encontro.
City Lights // No Good Reason
diferentes e isso influência também o que tocamos. A entrada do Gaiola (primeiro para a bateria e depois para a guitarra) veio dar uma injecção de pica em NGR e as coisas resultaram mesmo bem. Acho que posso dizer, em nome de todos, que sem ele o EP não tinha ficado com metade do poder que ficou.
E GB? Rendeu? Façam aí uma review ;) Pz: ahah, não chegámos a ir ao concerto. A Leonor foi ter connosco de propósito para ir ao concerto e tudo, mas gostámos tanto de Nottingham e do pessoal de lá que decidimos não perder tempo a ir a Londres. Bráulio: A verdade é que nos tentámos colar ao concerto de GB mas obviamente ninguém queria uma banda desconhecida de Portugal a abrir... Mas entre ver uns carcaças ou prolongar uma tour que até então estava a ser brutal, optámos pela mais óbvia...
Nessa tour, que histórias é que houve? Ouvi dizer qualquer coisa sobre os Almost Home não terem idade para conduzir, contem lá isso melhor... Pz: Ah, Ya! Não tinham idade para alugar a carrinha. Para alugar tinhamos de ter 25 anos ou não sei quantos anos de carta e nenhum de nós tinha. Então, a única hipotese foi alugar uma carrinha daquelas com caixa fechada, onde iamos 4 lá atrás no meio dos instrumentos, sem luz, sem ar e com cheiro a chulé misturado com madeira.
Mas também era ou isso ou ir no carro do Joe Almost Home a ouvir bandas de metal core, venha o diabo e escolha. Outra história fixe, foi o Rui que deu um ganda peido na boca do Bráulio, literalmente (risos). Logo pela manhã para acordar bem. Diogo: Eu acordei com o barulho e começei a ouvir conversas, quando olhei para o lado vi aquela tristeza. Foi um acordar do qual eu não me esqueço. Outra história também engraçada sobre Nottingham, foi quando demos conta da cabeça do pessoal do bar, das pessoas que lá estavam e do segurança do bar. Aquilo tinha uma espécie de Jukebox, e o bar só passava aquelas músicas dos tokyo hotel e coisas do género. Entretanto nós começamos a por grandes clássicos tipo Bon Jovi, e cenas assim e começámos a perceber que o pessoal tava a ficar lixado conosco, começou tudo a bazar (risos). Mais tarde ouvi o segurança a mandar vir, a dizer que tavam lá uns gajos a por música de merda (risos). Pouco depois eu tava lá fora a apanhar ar e só ouvia o pessoal a dizer “vamos embora, ganda merda de música”(risos). Acho que o melhor da nossa aventura inglesa foi ter conhecido a malta de Almost Home e amigos. Receberam-nos muito bem e são pessoas bem fixes. Fartámo-nos de rir com eles.
Pz: Cabrão, eu não tava de volta da gorda e não sou cá dos teus, lol. E a cena das facas foi mesmo fora, fomos para uma discoteca marada que era o Rock City (é também onde são os concertos grandes em Nottingham), uma venue bem grande. Tava a passar um som, beber uns copos, normal. Nisto, pára a música e entram dois gajos po palco, apresentam-se e começam o seu show, que envolvia cenas como espetar pregos no nariz, engolir um cordel cheio de lâminas de barbear, espetar uma faca de um lado ao outro do braço, entre outras. No fim do “espectaculo” vieram limpar o sangue do chão do palco! Ya, ia vomitando mesmo! Mas sim, sem dúvida, o melhor de toda a tour foi conhecer a malta de Quase em Casa, formaram-se daqueles laços de amizade em que parece que já conheces as pessoas há anos e anos e lembro-me que a despedida foi bué forte. Depois disso, acho que todos nós da banda já lá os fomos visitar e eles também já cá vieram. Falando por mim já lá fui umas três vezes e adoro Nottingham e a malta de lá.
Com a ida do Bráulio para NY e com o Rui em Londres, como é que a banda vai ficar? Rui: A banda segue. Para mim, esta é a melhor fase de NGR, sem dúvida. Sinto um orgulho enorme. Não serve de nada manter(mo-nos) (n)uma banda viva mas estagnada que nao cria, não toca, sem paixao. Estivémos assim durante demasiado tempo, pelas mais variadas razões.Neste momento consigo ver em NGR a mesma garra, o mesmo prazer em dar vida a uma banda que nos uniu para sempre
“Neste momento consigo ver em NGR a mesma garra, o mesmo prazer em dar vida a uma banda que nos uniu para sempre.”
O que tenho assistido nos ultimos meses, vai sem duvida continuar: ‘a consagração’, o reconhecimento, o trilhar de novos caminhos em termos de som e no proprio precurso da banda. Sangue novo. NGR, teve e terá sempre a ver com as pessoas, não digo que foi sempre para as pessoas, que estaria a ser desonesto mas o facto de já não fazer parte do line-up não implica o final de absolutamente nada, continuo a ter as pessoas e por muitas saudades que tenha das tours ou do fins-de-semana absolutamente lendários(!), dos ensaios, apenas se fechou um ciclo para que outro pudesse começar, como em tudo na vida. Pz: Quando eles vieram cá vamos tocando. Bráulio: Tão??! Não iamos gravar um álbum? (risos) Diogo: Sim, a ideia era também aproveitar pa ir fazendo músicas e gravar um álbum assim que for possível. Pz: O Bráulio quando é pa fazer músicas estraga sempre tudo, por isso vamos aproveitar que ele está nos Estados Unidos e vamos fazer uma cena fixe. Quando ele chegar põe só a voz e pode ser que não estrague assim tanto. Ou então ele põe a voz lá, grava e manda. Bráulio: (risos) sim, com participações de Ray Cappo, Freddy Madball e outros. Gaiola: Sim a ideia é mesmo continuar a ensaiar e fazer músicas, para um possível EP ou LP, mas esta segunda opção para uma banda que está fisicamente parada, é complicado! Ahh e quem sabe se um dia não fazemos um concerto com 3 guitarras mesmo à Adorno style!(risos) Bráulio: EP? Ai o caraças... LP!
E tour nos USA? Pz: Eish, não. Isso é uma ganda seca. Gostava de fazer uma tour pelos USA com eles os 5, mas preferia nem tocar concerto nenhum. Tour de viagem, só. Pelo que oiço os concertos nos USA só rendem se fores uma banda super gigante, senão ninguém vai aos concertos. Preferia passar um mês a viajar com eles pelos US do que a tocar concertos. Gaiola: Tour nos USA é o sonho de qualquer pessoa que tenha uma banda, mas há muitas coisas mais ao nosso alcance, que podemos fazer antes de pensar numa tour nos USA. E para bandas pequenas como NGR, não é muito viável, é como o Pz disse, não ia render.
City Lights // No Good Reason
Bráulio: A verdade é que estes dois não sabem o que é que eu e o Rui fizemos a eles enquanto dormiam. Para além disso, o PZ andava de volta de uma rapariga algo bastante gordinha (és cá dos meus PZ), ficou prestes a vomitar com uma fantochada qualquer que envolvia facas e lâminas e provavelmente amuou várias vezes com piadinhas inofensivas. Agora vou eu amuar.
Bráulio: Para além de que não temos uma editora lá para que tudo aconteça de uma maneira natural...
Bráulio: Por amor de deus, da ponte Vasco da gama até à Bobadela é tipo 2 minutos – é quase a chegar. Pz: ahahahahha
Com o Bráulio lá é meio caminho andado, não vão pensar nisso? Pz: Não, o Bráulio não nos orienta nada. só nos vai meter a tocar em bares que nós não queremos (risos). Bráulio: é verdade, é verdade. O mais provável de acontecer é isso. Pelo menos no “nowhere” temos que tocar, a uma terça, mas em segredo para o pessoal do core não perceber de que fala realmente a letra. Gaiola: Com o Bráulio lá é meio caminho andado para irmos ou para não irmos? É que eu não percebi a pergunta ahahahh (Brincadeirinha)
Gaiola, para finalizar o que é que tens a dizer sobre NGR? Gaiola: Estas 5 pessoas são as melhores pessoas para se ter uma banda, todos untos, seja a ensaiar, tocar, jantares e viagens é mesmo do BEST TIMES. SÓ QUE!!!! Só há um grande problema que é CUMPRIR HORÁRIOS, o pessoal de Almada, quando dizem que tão a chegar ainda tão em cima da ponte.
Gaiola: Ohhh Bráulio tu és o pior do mundo!!! Ou queres que eu conte o que se passou no dia da tua festa surpressa, relativamente ao teu atraso de 1h30 e que tu me pediste para não contar a ninguém? Bráulio: Eu não pedi nada disso. O Diogo é que me disse que ainda estava em Belém a namorar e a comer pasteis, daí o meu atraso inocente.
Alguma mensagem que queiram acrescentar? Pz: Queremos agradecer-vos a voces, Sofia e Joana, por mostrarem interesse na banda e fazerem esta conversa/entrevista. Queremos agradecer às bandas com quem partilhámos palcos e momentos ao longo destes anos de banda, especialmente os Step Back, Shape, Decreto 77, Adorno, Day of the Dead, Almost Home e Death is not Glamorous. Queremos dar uma força às novas bandas fixes que vão aparecendo por Portugal, especialmente aos The Skrotes e os PHT. Façam as coisas com o coração, toquem o que gostam e não o que os outros gostam. www.myspace.com/nogoodreasonhc http://www.facebook.com/pages/No-Good-Reason
MORE THAN LIFE - love let me go Um disco pelo qual contei os dias para o lançamento. Os More Than Life tinham acabado de lançar o EP “Brave Enough to Fail”, quando os conheci e apaixonei-me perdidamente por esta banda. Não há estilo musical que os defina e chego à conclusão que esse é um dos grandes motivos pelo meu interesse total por eles. Uns dizem que pode ser “o novo Hardcore”, eu nem isso considero, para mim é uma banda com melodias bastante melancólicas com letras pesadas que nos fazem lembrar de sofrimentos passados, de alegrias presentes. “Love Let Me Go”, o disco ideal para ouvirmos quando nos dias de Inverno, viajamos de carro, com chuva a cair a potes, enquanto pensamos na nossa vida e sofremos silenciosamente. Sou incapaz de explicar o contraste de sentimentos ao ouvir este disco, já que ao mesmo tempo que tem das vozes mais sofridas e melancólicas, tem também as mais bonitas e deliciosas melodias, que nos põem um sorriso na cara e que nos fazem sentir plenamente felizes. O início de Scarlet Skyline transmite arrepios, transporta-nos para outra realidade e deixa que nos afundemos totalmente em toda a música. The First Night of Autumn quase traz lágrimas aos nossos olhos e deixa que sejamos invadidos numa extrema bela melancolia. Numa banda tão recente como esta, conseguimos encontrar perfeição em tudo! Não há amor como o primeiro, mas este disco marca sem dúvida o ano de 2010. Vanessa Marcos
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