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Jornal O Mossoroense
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Mossoró-R N, dom ingo 30 de m arço de 2008
Civone Medeiros Civone Medeiros é natalense, nascida na Maternidade Januário Cicco, em 1972. Civone é artista performer, produtora cultural e poeta. Sua influência é diretamente atribuída a baluartes da poesia natalense e prefere fazer performances, onde demonstra mais liberdade de expressão poética. Em 2000, Civone promoveu um intercâmbio cultural entre Natal e Viena chamado "A Arte na Esquina do Brasil", o qual surgiu a partir de um texto sobre Guaraci Gabriel. De 97 até 99 foi um período de pré-produção e escolha do elenco de artistas natalenses que iriam fazer uma turnê pela Áustria. Atualmente, Civone é produtora cultural em vários eventos e continua fazendo suas performances poéticas. Por ALEXANDRO GURGEL alex-gurgel@oi.com.br O Mossoroense - Quais as principais influências da sua forma de fazer poesia? Civone Medeiros - Minha influência é diretamente atribuída a baluartes da poesia natalense como Falves Silva, Dorian Lima, Venâncio Pinheiro, Plínio Sanderson, Dunga, Bianor Paulino e tanto outros que faziam a cultura acontecer desde os anos setenta. OM - Em 2000, você promoveu um intercâmbio cultural entre Natal e Viena chamado "A Arte na Esquina do Brasil". Como foi esse intercâmbio cultural? CM - A idéia surgiu a partir de um texto sobre Guaraci Gabriel. Durante 97 até 99 foi um período de pré-produção e escolha do elenco de artistas natalenses que iriam fazer uma turnê pela Áustria. Meu maior orgulho foi poder levar artistas como Cleudo Freire, Embola Funk, Otávio Augusto, Guaraci Gabriel, Lenilton Lima, Afonso Martins, Ceiça de Lima, Rosa Marciel, Isaías Ribeiro e tantas outras pessoas para Viena. Consegui tudo isso sem uma prata no bolso. Felizmente, conseguimos obter um sucesso enorme e as portas estão abertas até hoje. OM - Uma das suas mais importantes instalações é "Sacra Vulva", a qual você faz parte de um estudo que envolve arqueologia, antropologia e mitologia. Como surgiu a idéia para fazer essa performance? CM - A inspiração veio do encontro com uma imagem feminina antiga, datada de 35 mil anos, uma escultura da "Vênus de Willendorf", encontrada a 20 km de Viena. Nas minhas pesquisas pela Grécia, eu também encontrei uma deusa grega chamada "Baubô", cuja sensualidade é muito cultuada. Ela é cheia de ironias, exibe sua vagina para lembrar o culto de fertilização que existia. Depois, procurei em outras literaturas e descobri que na Índia, entre os esquimós, na África e em várias culturas do mundo inteiro existe uma relação sagrada com a vulva. Foi minha forma de homenagear as mulheres, uma maneira de homenagear a vida, porque todo mundo nasceu de uma vulva.
www2.uol.com.br/omossoroense/300308/conteudo/entrevista.htm
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porque todo mundo nasceu de uma vulva.
OM - Qual a mensagem que a "Sacra Vulva" passa para as pessoas? CM - Criei uma instalação, um templo onde as pessoas entram e aprendem um pouco mais sobre as mulheres através da vulva. Há uma performance dentro de um trabalho auto-referencial, que é uma junção de referências femininas de mulheres potiguares e do mundo inteiro. Já esteve na Capitania das Artes, no Fórum Social Potiguar e na instalação está na Cultura Alemã, mas pretendo levar para outras cidades, quero levar para o interior do RN também. OM - Em algumas performances você tira a roupa, usando seu corpo para expressar arte. Como as pessoas absorvem bem essa atitude poética? CM - Eu pinto, canto, danço, bordo, etc... e depois de fazer teatro moderno, aprendi a me expressar com meu corpo. Eu sou tímida, morro de vergonha de tirar a roupa, mas sinto uma necessidade de expressar minha arte dessa maneira. Acho que meu corpo é o meu templo, por isso é sagrado. Tenho uma poética corporal: falo do meu joelho, do meu ombro, do braço, pernas, etc... Enfim, trabalhar com o corpo é uma necessidade. Acho que a maioria das pessoas absorve minha poesia numa boa. OM - Qual é o teor de eroticidade na sua poesia? CM - O erotismo está na cabeça das pessoas. Eu considero que a maior parte da eroticidade está no meu trabalho, na minha obra, porque eu sou a minha obra, onde há esse teor, o qual é potencializado em cada pessoa que recebe a mensagem. Portanto, o grau de erotismo está em cada receptor. Outro dia, uma adolescente me perguntou: "Por que você provoca a libido das pessoas?" Eu não provoco o que elas já têm. OM - Você acha que a cabeça das pessoas está preparada para entender sua performance? Hoje, você se sente mais a vontade para trabalhar a nudez nas suas apresentações? CM - Eu acredito que, em pleno século XXI, as cabeças das pessoas estão mais abertas. Até porque esse tipo de trabalho é uma tendência mundial para a arte contemporânea. Existem artistas do mundo inteiro fazendo performances com nudez: da África à América do Norte, do Sul da Argentina à Austrália. Tem muita gente que trabalha com várias linguagens e, sem ter contato com nenhum grupo, sou daqueles artistas que trabalham com o corpo, com a alma e com o espírito, tentando simplificar tudo isso. Anos atrás, a nudez era considerada, extravagante ou abusada. Mas hoje, esse tipo de trabalho tem uma aceitação melhor, tem um respeito maior. Eu só tenho cuidado com certas coisas porque as pessoas passaram a me tratar melhor depois que eu morei fora do país. Confesso que tenho um pouco de medo. OM - Quais são seus planos para o futuro? CM - Eu tenho planos e sonhos. Quero continuar apresentando a "Sacra Vulva" e levar a instalação com a performance para Mossoró, Caicó, Martins, Acari, Pau dos Ferros, Macau, Assú e outras cidades do interior do Estado. Quero sentir a reação das pessoas com esse trabalho vanguardista. Também gostaria de ir para fora do Estado como Recife, João Pessoas, Fortaleza, Salvador, Tocantins, etc... Quero fazer esse intercâmbio. Tenho feito um trabalho com vídeo e quero dar continuidade. Tem também um trabalho com gastronomia que estou pesquisando, chamado "Temperos da Vida", provocando a magia de cada condimento. Quero explorar a gastronomia das feiras livres. Isso me fascina. Outra coisa que quero é poder desenvolver um "centro cultural" para criar pensadores, um trabalho solidário que envolva outras pessoas disposta a ajudar na área cultural e social.
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